CuMaRIm, a PIMEnTA dO rEiNO
Cumarim,
a pimenta do reino
coleção BrinCanTE apReSenta…
Cumarim, a pimenta do reino
roSane almeida
ilustrações
Willian Santiago
Copyright © Rosane Almeida, 2019
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EDITORA FTD S.A.
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Diretor de conteúdo e negócios Ricardo Tavares de Oliveira
Gerente editorial Isabel Lopes Coelho
Editor Estevão Azevedo
Editora assistente Camila Saraiva
Coordenadora de produção editorial Letícia Mendes de Souza
Preparadora Elisa Martins
Revisoras Aline Araújo e Célia R. Arruda
Editores de arte Daniel Justi e Camila Catto
Projeto gráfico e diagramação Flávia Castanheira
Diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno
Rosane Almeida nasceu em Curitiba (PR), em 1964. É formada em Artes Circenses pela Escola Picadeiro de São Paulo e pela Scuola Teatro Dimitri da Suíça.
Willian Santiago nasceu em Cornélio Procópio (PR), em 1990. É formado em Design Gráfico pela Universidade Estadual de Londrina.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Almeida, Rosane Cumarim, a pimenta do reino / Rosane Almeida; ilustrações Willian Santiago. – 1 . ed. – São Paulo: FTD, 2019.
ISBN 978-85-96-02269-9
1. Literatura infantojuvenil. I. Santiago, Willian. II. Título.
19-25162
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura infantil 028.5
2. Literatura infantojuvenil 028.5
Maria Alice Ferreira — Bibliotecária — CRB-8/7964
CDD-028.5
Os adultos que aparecem nos vídeos dos QR codes são Antônio Meira, Ariã Santana, Eugênia Nobrega, Flora Barcellos, Flora Poppovic, Marina Siqueira, Maria Eugênia Almeida, Mika Rodrigues e Rosane Almeida; e as crianças, Alice Aragon Coelho, Eleonora Fontes Moraes, Joana Kitamoto Tambelli, Julieta Doretto Lenza, Laís Ziolkowski Donnabella e Martina Ribeiro dos Santos.
SUmÁRio
6 Cumarim, a pimenta do reino
42 BRINCANTE, por Maria Amália Camargo
47 Quem é Rosane almeida
47 Quem é Willian santiago
Cumarim é uma menina que já nasceu com a boca e os olhos bem abertos. Parecia tão travessa que logo ganhou o nome de uma pimenta.
Ainda na barriga da mãe, Cumarim dançava ao som de qualquer barulhinho: rodopiava com o motor da batedeira de bolo, pulava quando ouvia o apito da chaleira no fogo, farfalhava ao ouvir o chacoalhar das ferramentas na caixa de metal, embalava-se com os acordes do violão…
Cumarim tinha uma família especial. Sua casa despertava a curiosidade e a admiração de todos que moravam por perto — ou dos que vinham de longe só para ter a mesma sensação que todo mundo dizia experimentar. Quem passava em frente à casa de Cumarim ouvia e sentia uma mistura de sons, gostos, cheiros, texturas, cores e formas que não conseguia perceber em nenhum outro lugar. Algumas pessoas ficavam tão maravilhadas que murmuravam: “Estou sem palavras”.
Quando o pai da menina preparava o almoço, os aromas se espalhavam pelos arredores e o paladar da vizinhança se assanhava. Quando a mãe descobria o defeito de um carro só pelo barulho de uma peça ou pelo cheiro do motor, era um buzinaço.
Cumarim acompanhava atenta o vaivém de gente e de sensações. Era dona de uma curiosidade que só aumentou depois que ela aprendeu a falar. E como Cumarim falava. Falava com estranhos, falava sozinha, falava dormindo, falava até pelos cotovelos. Diz a lenda que Cumarim ficou ainda mais tagarela porque, logo depois de começar a engatinhar, foi parar embaixo de um pé de pimenta. Os frutos eram tão redondos, pequeninos e vermelhos que ela se deixou levar pela beleza deles. Encheu as mãozinhas com todos que ali cabiam, colocou tudo de uma vez na boca e, pasmem, algo incrível aconteceu: ela gostou da ardência! Então, sempre que podia, Cumarim voltava para apanhar um punhado daqueles frutinhos ardidos.
Muitas vezes Cumarim parecia só ter língua. Dizem que ela nunca usou chupeta porque não conseguia ficar de boca fechada. Era danada de boa em perguntar e em responder. Se não soubesse alguma resposta, inventava. Soltava-se em palavras e, se deixassem, ia longe com os seus “mas como?” e “por quê?”:
— Pai, se tudo morre,
porquenasce?
— Como criamos a fome se não lhe damos de comer?
— Chove na terra porque no céu os rios fcam de ponta-cabeça?
— Mãe, o fm da picada é quando o mosquito vai embora?
— Se a gente chama laranja de laranja, por que não chamamos de verde o limão?
—Ospeixes têm sede?
—Mãe,por que se chama “meia” se eu calço duas inteiras?
Cumarim foi crescendo e, quando aprendeu a andar, seus primeiros passos foram em direção aos sons: as batidas de bombo na casa do vizinho, o violão no quarto do irmão, a cantoria da mãe no chuveiro, a batedeira de bolo, a buzina do carro, a panela no fogo. Não demorou muito para Cumarim começar a fazer sua própria música, e, assim, a danadinha encontrava novas maneiras de se fazer ouvir: a colher batendo no prato, os pés no chão molhado do chuveiro. As palmas saíam tão engraçadas no encontro das mãos, bem diferentes de quando suas mãozinhas batiam nas pernas ou no peito. E, quando a mão batia, a boca cantava, os pés pulavam, o coraçãozinho de Cumarim batia junto com tudo.
Tum-tum
Tá tum-tum
Tá tum-tum
Quero ver queimar carvão, quero ver carvão queimar. Quero ver levantar poeira, quero ver poeira voar.
Menina, se queres vamos, não se ponha a imaginar. Quem imagina cria medo, quem tem medo não vai lá.
A folha do lírio vira, eu também quero virar. Não precisa ficar triste, basta mudar de lugar.
Clap-clap (palmas)
Toc-toc (peito)
Clap-clap
Toc-toc
Clap-clap
Tum-tum-tum-tum (pés)
Clap-clap
veJa aQui uma foRma de bRincaR de peRcussão coRpoRal.
Batuque balanceado lá em casa também tem. Quando chega a madrugada é que o povo canta bem.
As rosas é que são belas.
São os espinhos que picam.
Mas são as rosas que caem.
São os espinhos que ficam.
Muito nos alegra a possibilidade de abrir mais uma “frente de trabalho” para aprimoramento do sensível por meio de uma coleção de livros nesta parceria entre Instituto Brincante e FTD Educação. Uma coleção que, esperamos, possa colaborar na vivência e no entendimento de um mundo que carece de uma relação mais harmoniosa entre o passado e o presente, a técnica e a natureza, a tradição e a modernidade.
Foi em 1992, com a apresentação do espetáculo Brincante, que nasceu o Teatro e Escola Brincante. É com essa última palavra que os artistas que integram as trupes de Bois, Reisados, Guerreiros, Fandangos etc. do Brasil quase sempre se autonomeiam.
Tomamos a riqueza semântica do nome para marcar as atividades e o espírito do hoje Instituto Brincante. É lá onde, por meio de cursos, espetáculos, ciclos de palestras e ações culturais diversas, procuramos promover e difundir aspectos da cultura brasileira ainda pouco conhecidos e valorizados, contudo de grande riqueza lúdica e, por isso, de significativo potencial educativo.
Em 2012, a peça A pimenta do reino foi encenada no Instituto Brincante, e dela veio a inspiração para a história da menina tagarela e curiosa que você vai ler neste livro. Boa leitura!
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coleção BRiNCAntE apReSenTa…