O manual da menina equilibrista

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Tânia Alexandre Martinelli

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O MANUAL DA MENINA EQUILIBRISTA

espeitável público! Já imaginou se a vida viesse com manual de instruções? João Miguel nem precisou imaginar. Sua mãe, Laura, inventou um manual para guiá-lo em toda e qualquer situação. O menino segue à risca as instruções do curioso livro até a chegada de Juliana, menina nova na cidade, que vem para bagunçar tantas certezas. Ela convida João Miguel para ir ao circo, e esse passeio divertido guarda algumas surpresas... Com uma história delicada, Tânia Alexandre Martinelli nos faz pensar no quanto a vida é imprevisível e nos encantos que pode haver no mistério.

Tânia Alexandre Martinelli ISBN 978-85-96-02155-5

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Sandra Jávera

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Tânia Alexandre Martinelli

ilustração

Sandra Jávera

1ª edição

São Paulo — 2019

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Copyright © Tânia Alexandre Martinelli, 2019 Todos os direitos reservados à EDITORA FTD S.A. Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 — Bela Vista — São Paulo — SP CEP 01326-010 — Tel. (0-XX-11) 3598-6000 Caixa Postal 65149 — CEP da Caixa Postal 01390-970 Internet: www.ftd.com.br E-mail: projetos@ftd.com.br Diretor de conteúdo e negócios Gerente editorial Editor Editora assistente Preparadora Revisoras Coordenadora de produção editorial Editor de arte Projeto gráfico Diagramação eletrônica Diretor de operações e produção gráfica

Ricardo Tavares de Oliveira Isabel Lopes Coelho Estevão Azevedo Bruna Perrella Brito Aline Araújo Jane Pessoa e Fernanda Simões Lopes Letícia Mendes de Souza Daniel Justi Bárbara Abbês e Tereza Bettinardi Camila Catto Reginaldo Soares Damasceno

Tânia Alexandre Martinelli nasceu em Americana, São Paulo, em 19 de julho de 1964. É formada em Letras — Português e Espanhol — e foi professora de Língua Portuguesa durante muitos anos. Antes de escrever para crianças e jovens, produziu várias crônicas e poemas, alguns premiados e publicados em coletâneas. Seu primeiro livro foi lançado em 1998, e atualmente já tem publicadas quase quarenta obras para o público infantojuvenil. Nos últimos anos, vem se dedicando integralmente à literatura, escrevendo e participando de encontros com leitores em escolas e feiras de livros em todo o país. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Martinelli, Tânia Alexandre O manual da menina equilibrista / Tânia Alexandre Martinelli; ilustração Sandra Jávera. – 1. ed. – São Paulo: FTD, 2019. ISBN 978-85-96-02155-5 1. Contos – Literatura infantojuvenil 2. Literatura infantojuvenil I. Jávera, Sandra. II. Título. 19-23323

CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Contos: Literatura infantil 028.5 2. Contos: Literatura infantojuvenil 028.5 Maria Alice Ferreira – Bibliotecária – CRB-8/7964

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Para minhas meninas, Fer e Gi.

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o nascer, João Miguel ganhou um manual de instruções. Era um manual colorido, delicadamente ilustrado, rico em detalhes. Não havia nenhuma palavra, somente desenhos, uma vez que João Miguel ainda não sabia ler. Uma das instruções que, naturalmente, não poderiam deixar de aparecer ali era a de como não levar um choque nas tomadas da casa. O desenho era claríssimo: o dedo indicador, uma tomada e um enorme xis nas duas figuras. Fácil.

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Virando a página, outro clássico exemplo. Um alerta para o menino não fechar a gaveta do armário caso a mão ainda estivesse lá dentro: mão, gaveta, xis. Página seguinte: cadeira, João Miguel sambando em cima, xis. Próxima: escada, João Miguel, xis. E por aí afora. Com João Miguel já alfabetizado, o manual ganhou muitas palavras e ficou mais rico em detalhes. Agora, toda vez que tinha alguma dúvida, era só ler as instruções com atenção. Simples.

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O manual crescia com o menino. João Miguel acabava demorando um pouco para conseguir a resposta que desejava, pois nem sempre as instruções apareciam em ordem alfabética. Dava trabalho. Era bom quando a dúvida já tinha sido consultada antes, aí era só uma questão de recordar o que fazer. João Miguel tinha boa memória. Também não havia problema se o que procurava fosse uma novidade. Bastava chamar a mãe, que, então, pesquisava e acrescentava a instrução ao manual depois. Assim, viver ia ficando mais fácil.

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aura, a mãe de João Miguel, sempre foi bastante criativa. Quando era criança, costumava receber muitos elogios por causa disso. Quanto mais criava, mais elogios. E, assim, mais inventava. Uma coisa atrás da outra, sem parar. — Que menina inventadeira — as pessoas diziam. — Que graça. Inventou uma história, certa vez, que foi o maior sucesso na escola. Falava de uma menina equilibrista, da idade dela, mais ou menos uns oito anos, que andava direitinho em cima da corda, tão direitinho que dava gosto de ver.

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Acontece que, naquela semana, Laura tinha ido ao circo com seus pais, os avós de João Miguel, e ficara muito impressionada com os artistas, com o que faziam no palco e, sobretudo, com o trapézio. Mas também com um moço que andava em cima da corda, pé ante pé, vestido numa malha branca colada ao corpo, uns bordados brilhantes na lateral. Com uma das mãos, ele segurava uma sombrinha aberta toda colorida, que ora pendia para a direita, ora para a esquerda. Achou bonito. Queria fazer igual. Quando crescesse, ia ser equilibrista, já estava resolvido. — Laura, minha filha — disse seu pai, pacientemente, tão logo a menina lhe contou essa história —, você ficou maluca? — Por quê? — Olha que negócio mais perigoso. E Laura buscou lá no fundo da memória o tal negócio perigoso. Só se lembrou da sombrinha aberta e colorida, dos pés descalços do moço sobre a corda. — Não acho, não — disse, convicta. — Não?! Vem cá.

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O pai levou a filha para o fundo do quintal, onde havia um quartinho com mil e um cacarecos. Ficou revirando uma caixa de papelão até encontrar o que procurava: uma corda. Ele esticou a corda na grama, arrumando-a direitinho, numa linha reta. Depois arrancou os sapatos e as meias e subiu em cima. Fez igual ao moço da corda bamba, menos com a sombrinha, que não tinha, e foi andando pé ante pé, os braços abertos, parecia voar. A menina não entendeu nada. A corda não tinha de estar lá no alto? De repente, o pai deu um salto, os braços ainda abertos, mas agora como se esperasse por aplausos. — Vai, filha. Faz igual. — Igual a quê? — perguntou Laura. — Sobe em cima da corda e anda. Lembra do moço do circo? Então... Você não disse que queria ser equilibrista? — Mas não é a mesma coisa. — Eu sei que não é. Por isso mesmo. Vai, Laura! A menina finalmente concordou. Tirou a sandália e subiu na corda. Para ser sincera, achou bem desconfortável.

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— Coloca um pé na frente do outro, Laura — ele pediu. — Agora anda. A sola dos pés doía um pouco, e nem sempre seus pés ficavam no meio da corda. Às vezes, iam mais para um lado; às vezes, mais para o outro. Mas Laura andou assim mesmo até o fim, até alcançar a grama. Sentiu os pés fresquinhos nessa hora, um alívio. — Você viu, Laura? — Vi o quê? — Assim você não cai, é mais seguro. Olha que beleza. A filha fez uma cara contrariada. O pai continuou: — Toda vez que quiser brincar de equilibrista, você pega a corda lá no quartinho, naquela caixa, sabe? Estica aqui na grama e anda em cima. Não é legal? Passado algum tempo, Laura escreveu outra história que também fez muito sucesso, todo mundo na escola elogiou novamente. O tema era o circo, como na primeira, mas agora contava sobre um malabarista que apareceu no picadeiro logo depois que o palhaço saiu. Esse moço trazia com ele uma pilha de pratos. Ao chegar ao meio do picadeiro, deixou tudo arrumado sobre uma bancada. Aí pegou um bastão, colocou um prato em

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