ILUSTRAÇÕES
Copyright do texto © Fernando Paixão, 2021
Copyright das ilustrações © Yara Kono, 2021
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editora assistente Camila Saraiva revisoras Lívia Perran e Marina Nogueira
Fernando Paixão nasceu em Portugal em 1955. É formado em Jornalismo pela Universidade de São Paulo e é professor da mesma universidade.
Yara Kono nasceu em São Paulo em 1972. É formada em Farmácia pela
Universidade Estadual de São Paulo e trabalha como ilustradora em Portugal.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Paixão, Fernando Dia Brinquedo/Fernando Paixão; ilustrações Yara Kono. – 1. ed. – Porto Alegre: Editora Mediação, 2021.
ISBN 978-65-5538-015-6 (aluno)
ISBN 978-65-5538-016-3 (professor)
1. Literatura infantojuvenil 2. Poesia – Literatura infantojuvenil I. Kono, Yara. II. Título.
21-86023
Índices para catálogo sistemático:
1. Poesia: Literatura infantil 028.5
2. Poesia: Literatura infantojuvenil 028.5
CDD-028.5
Maria Alice Ferreira – Bibliotecária – CRB-8/7964
DIA DE PALHAÇO 4
PASSA PASSARINHO 6
MALUQUICE 7
UMA LETRA E UM PAÍS 8
MAR 10
NÓ EM PINGO D’ÁGUA 11
DOIS TRAPEZISTAS NO AR 12
PÉ NA RODA 14
MÁQUINA DO TEMPO 15
SEM AVISO 16
O POETA ESCREVE 17
LIÇÃO PARA OS ADULTOS 18
VEM SENTAR NA MARGEM 19
SALTIMBADA 20
ENCONTRO DAS FRUTAS 22
CONVERSA NA MESA 23
PROBLEMA 24
NEM O SÁBIO SABE 25
AMOR DE POETA 26
FIM DO DIA 27
LUA NA PRAIA 28
PEQUENA GRANDEZA 29
DIA BRINQUEDO 30
INFORMAÇÕES PARATEXTUAIS 32
a perder de vista.
Depois de almoçar um punhado de nuvens bebo metade dos mares. A praia é a minha cama.
Ontem acordei elefante de circo. Semana passada fui bailarino e crocodilo amanhã quem sabe serei mosquito!
Só na hora de dormir volto a ser eu mesmo: fecho os olhos de passarinho pio quieto no meu ninho!
Pousa
pia breve
cisca
curto
bico
fome nada!
Árvore
seca o sol
convida
sai
roda
vai
voa
bate asas
embora...
Se mal de maluco é ter oco no coco eu cocoroco.
Mal sabia eu nascido em Portugal que o tão conhecido bacalhau se escreve com “U” ao final.
Na minha língua de infância a carne do peixe era com “L” tinha sabor de terra natal.
Depois mudei de país e aprendi a escrever...
Quem acreditaria que as coisas mudam tanto com uma só vogal?
tantas
águas ondas
vagas novas ondas
vagas tantas novas
águas
ondas
Abra a sua mão direita (a palma em concha) e deixe cair nela uma gota de chuva
pegue-a com cautela use o menor dos dedos até conseguir segurar as duas pontas d’água nada fácil transformar a forma do pingo num fio tão delicado que se pode amarrar
mas na verdade esse nó só pode mesmo ser visto (enfeite para os olhos) por quem acredita no poema e vai caminhar na chuva com a cabeça nas nuvens.
VOCÊ vem...
LAN ÇO
LAN ÇA tateamos
LÁ! VAMOS batutas
VOCÊ LÁ TO to al al
Pé de mesa
Pé de manga
Pé de porco
Pé de sapato
Pé de vento
Pé de moleque
Pé de meia
Pé de serra
Pé de pato
Quem sabe onde está o outro pé do Saci-Pererê?
Tempotempotempo guardado numa gota de chuva tempotempotempo sai da boca do peixe no pulo do gato corre tempotempotempo século por fora segundo por dentro.
Invisíveis (quase) as nuvens visitam o poema sem pedir licença às palavras ao papel: puro céu.
O poeta escreve poesia para ser criança todo dia.
Criança tem dias de ano inteiro. Criança gosta de pensar sem pensamento. Tem corpo de asas — salta!
Limpa as mãos na calça!
Sabe como ninguém ler a água dos rios.
Um rio não tem repouso
...mo... vi... ...men... ...to... ...das....águas...... ...mo...
...vi... ...men... ...to... pode estar de frente de lado a mesma queda acima abaixo água sempre rio.
O Sal tim ban co sal... tim... ba... va... de lá pra cá de cá pra lá
sem se preocupar se o salto — flecha sem arco — cairia em Itu ou em Jacarepaguá.
O Saltimbanco colecionava penas de aves ocos de árvores vozes de animais tinha uma vasta coleção de bancos de jardim de Antuérpia.
Quando tirava férias do circo fugia para uma ilha deserta só ele e os bichos. Sabia como ninguém contar histórias sobre a vida dos macacos.
Enamorado da bailarina exagerou no requinte de suas artes: sal... tim... bou... uma perfeita pirueta e desapareceu no ar.
Ninguém mais viu! Saltimbanco sumiu!
Na fruteira nova alta luz da tarde as laranjas têm bunda brilha o batom das maçãs.
Trinta e nove uvas de mãozinhas dadas dão boas risadas da cara feia do abacaxi.
Bem pertinho do garfo ela virou de lado e sussurrou baixinho
— Aceita-me como mulher?
— Claro! Estou muito feliz! respondeu o garfo já se acomodando na curva da colher.
Se o sono do sonâmbulo sonha de acordar quando é que ele dorme?
O pássaro é primo distante do peixe que come.
Quando os mares riem a espuma mostra os dentes.
O latido dos cães voa por entre as casas.
A tarde existe porque a manhã fechou os olhos.
Mal-me-quer! Bem-me-quer!
Divide-se o meu coração entre o sim e o não das pétalas de uma flor.
Margarida a quem pergunto diz-me logo a resposta do amor que ela me tem. Mal-bem… Bem-mal…
Fico todo embaraçado duvidando entre os lados. Metade sim, eu sou feliz. Metade não, torço o nariz.
Tenho acaso o teu amor?
Ou — para sempre — te perdi?
O sol em despedida cruza com o estrilar dos grilos
tramas de cri-cris voejam despertam uma sinuosa voz contrária
— luz nos ouvidos.
Renda de canto coro no vento em vogal os grilos griiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilam
anoitece a tarde de domingo.
Solitário Bicho-Céu sem asa nem nada olha dentro da noite curiosa do mundo mas hoje está cansada vermelha avermelhada vermelhuda parece que levou um cascudo!
Sol em moedas lua nas unhas grão de estrelas.
Gosto de abrir a janela ver o que passa na rua menina, cão e bicicleta sob a luz do meio-dia.
Gosto da vida passando esquecida dos relógios…
Tudo em movimento lá fora aqui dentro eu quieto estou: volto para a mesa e escrevo o dia novo vira brinquedo.
INFORMAÇÕES PARATEXTUAIS
Olá! Você sabia que o autor deste livro de poesia é o Fernando Paixão?! Ele nasceu em Portugal, em 1955, e veio para o Brasil quando tinha 5 anos. Hoje, além de autor, ele é professor universitário.
Sim! E a artista que nos desenhou e fez todos os cenários dos poemas é a Yara Kono. Ela nasceu na cidade de São Paulo, em 1972, e foi morar em Portugal, em 2004.
Eu adorei as cores dos desenhos. Elas combinam muito com os 23 poemas.
Eu gostei dos versos dos poemas que trazem a temática da diversão e aventura, do mundo natural e social. Você viu o garfo conversando com a colher no poema “Conversa na mesa”?
Sim, muito legal! Quando leio poemas, aprendo palavras novas. Além disso, gosto quando elas rimam, uma característica marcante do gênero poesia.
E eu gosto quando elas repetem o mesmo som nos versos, como no poema “Mar”. E quando as palavras se movimentam, como no poema “Dois trapezistas no ar”, que também são características desse gênero.
Sim, ler também é aprender! Rimou.
Boa leitura! Piu-piu!
Quem -pem não -pão gosposta -pá de -pêbrin-pin-car-par com-pom pa-pa-la-pa-vras-pás?
O Fernando gosta. Eu gosto. Pelo jeito, vocês também. E a brincadeira, aqui, vai longe. Vira até outra coisa: uma coisa sem nome, mas que tem a ver com achar o que há de bonito nas coisas mais simples de cada dia. O que mais nos comove, naquilo que mal se nota. O que mais faz sentido, em tudo o que se sente. Nem todo mundo percebe, mas as crianças sabem. “Criança gosta de pensar sem pensamento”, como diz o Fernando.
Talvez seja por isso que também diz, falando por todos nós — pais e mães e avós e filhos e filhas e netos e netas —, que ele escreve “para ser criança todo dia”.
ARTHUR NESTROVSKI