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FEVEREIRO | 2019  EDIÇÃO No 1

N A T U R E Z A

O que é a técnica CRISPR que promete revolucionar a engenharia genética.


Assim serão as próximas crianças geneticamente modificadas O QUE FALAM SOBRE O ASSUNTO DESTA EDIÇÃO?

O congresso mundial de edição genética termina com um sinal verde para futuros ensaios clínicos e com sugestões de genes nos quais interferir Manuel Ansede

J

á há dois tipos de pessoas: as geneticamente modificadas e as naturais. O polêmico experimento do cientista chinês He Jiankui mudou a humanidade para sempre. Desde segunda-feira passada (26 nov. 2018), quando anunciou o nascimento de duas gêmeas com seu DNA modificado, a pergunta já não é quem se atreverá a dar o primeiro passo, e sim quais serão os limites para transformar a próxima geração de seres humanos. “Será impossível evitar a existência de um mercado clandestino de edição genética. As pessoas vão querer uma criança perfeita e estarão dispostas a pagar muito para ter uma. Podemos estar apenas diante do começo de um mercado clandestino da perfeição”, alerta o filósofo Julian Savulescu, diretor do Centro Uehiro para a Ética Prática da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Em cada minúscula célula humana há dois metros de moléculas de DNA dobradas de maneira quase inconcebível. Nesses dois metros há 22 000 genes, com a informação necessária para construir e fazer funcionar uma pessoa. Um desses genes, o CCR5, contém as instruções, escritas com 6 000 letras, para fabricar uma proteína que o vírus da aids utiliza como porta de entrada para os glóbulos brancos do sangue. No entanto, em algumas pessoas faltam 32 letras nesse gene, e isso as torna imunes ao vírus da aids. É uma mutação natural que ocorre apenas em uma pequena porcentagem de pessoas (1% no caso dos europeus).

Se comprovado que He Jiankui manipulou os genes das gêmeas, então vivemos na era em que há dois tipos de seres humanos, os naturais e os geneticamente modificados.

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No interior de cada célula humana há dois metros de DNA.

O experimento de He Jiankui consistiu em tentar imitar essa mutação natural. O pesquisador chinês injetou em embriões de algumas células o CRISPR, uma espécie de tesoura molecular capaz de cortar o DNA onde se deseje. O problema é que a técnica experimental, criada em 2013 e ainda em aperfeiçoamento, comete erros. Os resultados, se não forem uma gigantesca fraude, mostram que só uma das meninas apresenta a mudança desejada − e que as duas irmãs exibem mutações indesejadas e de efeitos desconhecidos, que seriam herdadas por seus filhos. É um estrago sem nenhuma vantagem médica: os embriões estavam saudáveis antes de He Jiankui decidir interferir neles. “O fato de que o primeiro exemplo de edição da linhagem germinativa humana [uma mudança que pode ser transmitida para a geração seguinte] tenha sido um passo em falso não deveria nos levar, de forma nenhuma, a enfiar a cabeça na areia e a não considerar os aspectos muito positivos de um caminho mais responsável para um uso clínico”, expôs na quarta-feira George Daley, reitor da Escola Médica de Harvard. 3


Daley interveio no mesmo congresso mundial de Hong Kong no qual He Jiankui detalhou, minutos depois, seu experimento. O reitor de Harvard mostrou ao público uma espécie de roteiro, com “uma série de potenciais aplicações [da edição genética em embriões], algumas das quais provocarão mais entusiasmo que outras”. No extremo menos necessário, ele colocou as “melhorias” genéticas, um eufemismo para se referir à eugenia pura e simples, como a atuação sobre o gene MSTN para aumentar a massa muscular. O procedimento já foi feito em animais de criação para produzir mais carne. “Eu ficarei surpreso se as primeiras indicações que considerarmos mais viáveis não forem aquelas contra doenças muito devastadoras”, disse Daley. A primeira de sua lista é a doença de Huntington, uma patologia causada por um defeito hereditário em um único gene que desencadeia o desgaste progressivo dos neurônios do cérebro. Não tem cura. Os afetados morrem, em média, 13 anos antes que o restante da população.

Doença de Huntington

gene HD/HTT (4p16.3)

gene HD mutante com 35 repetições CAG

p

huntingtina

q poliglutamina

cromossomo 4

gânglio basal

normal

afetado

normal

normal

afetado

50%

afetado 50%

herança autossômica dominante A doença de Huntington é uma doença neurodegenerativa que afeta o gânglio basal do cérebro, causada por um gene dominante que produz uma proteína mutante, a huntingtina (HTT), que interage com outras proteínas nas células alterando suas atividades. O mecanismo de ação da HTT ainda não é bem conhecido.

A segunda na classificação é a doença de Tay-Sachs, outro transtorno hereditário raro e assustador. Uma mutação em um gene, frequente entre os judeus asquenazes europeus, gera o acúmulo de uma substância gordurosa no cérebro. As crianças morrem antes dos quatro anos. Daley acrescentou em sua lista outras duas doenças causadas por um único gene defeituoso: a fibrose cística, caracterizada pela formação de um muco espesso potencialmente letal nos pulmões, e a anemia falciforme, que deforma os glóbulos vermelhos em pessoas de origem africana. 4


“A cúpula de Hong Kong é a primeira na qual já se fala abertamente em modificar a linhagem germinativa humana. Não vamos poder parar isto. O CRISPR é uma técnica barata que não precisa de muito pessoal”, afirma Íñigo de Miguel, especialista em bioética da Universidade do País Basco. “Temos de enfrentar o debate já, porque vai marcar nosso futuro. Dentro de 20 anos podem nos dar a escolher entre ter um filho com a loteria genética da reprodução sexual ou tê-lo por fertilização in vitro com opções para editá-lo geneticamente”, acrescenta. Ele considera que não se deve frear as pesquisas, e sim acelerá-las, para dominar a tecnologia e poder reverter qualquer ação inaceitável. O reitor de Harvard apresentou uma opção mais polêmica: modificar genes não vinculados a um distúrbio catastrófico, mas simplesmente a um risco maior ou menor de ter uma doença, como o CCR5 manipulado por He Jiankui. São hipotéticas vacinas genéticas. Para Daley, os principais candidatos são o gene PCSK9, associado a doenças cardiovasculares; o A673T, que tem um papel de proteção contra o Alzheimer; e os genes BRCA1 e BRCA2, cujas alterações podem resultar em câncer de mama ou de ovário. Em seu livro A Crack in Creation: Gene Editing and the Unthinkable Power to Control Evolution (“Uma quebra na criação: edição de genes e o poder impensável de controlar a evolução”), publicado em 2017, a geneticista norte-americana Jennifer Doudna confessou seus pesadelos. Doudna, uma das mães da técnica CRISPR, narrou que certa noite sonhou que Adolf Hitler, disfarçado com uma máscara de porco, perguntou-lhe sobre sua revolucionária tecnologia. Na quinta-feira, Doudna assinou a declaração final do congresso mundial de Hong Kong: “Os riscos são grandes demais para permitir ensaios clínicos de edição da linhagem germinativa humana neste momento. No entanto, o progresso nos últimos três anos e as discussões na cúpula atual sugerem que chegou a hora de traçar um caminho rigoroso em direção a esses ensaios”. […] ANSEDE, Manuel. Assim serão as próximas crianças geneticamente modificadas. El País, 2 dez. 2018. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/11/30/ ciencia/1543575899_503636.html>. Acesso em: 9 jan. 2019.

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O que é CRISPR-Cas9 Luiz Gustavo de Almeida

CONHEÇA A OPINIÃO DE QUEM ESTUDA O ASSUNTO.

Imagine que você sairá para acampar com um grupo de amigos e precisa levar o máximo de bagagem que puder sem ocupar muito espaço na mochila. No acampamento é sempre bom ter algumas ferramentas como tesoura, chave de fenda, alicate e canivete para poder resolver qualquer imprevisto. Em vez de levar todos esses materiais separados, podemos levar simplesmente um canivete suíço, que possui todas essas ferramentas e muitas outras. A técnica de edição do genoma conhecida como CRISPR-Cas9 é exatamente como um canivete suíço. CRISPR-Cas9 é uma nuclease (enzima que digere ácidos nucleicos) que não apenas corta o DNA, mas também reconhece com precisão a sequência a ser cortada e pode ter diversas tesouras, uma para cada tipo de corte possível na edição do material genético. Com essa técnica podemos cortar apenas um par de bases do DNA (formada pelas bases ATCG) ou inserir mais DNA na sequência que já existe. É assim que cientistas conseguem manipular geneticamente diversos organismos, desde bactérias até embriões humanos. CRISPR é o acrônimo, em inglês, de Repetições palindrômicas curtas, interespaçadas e regularmente agrupadas. Trata-se de sequências de DNA encontradas no genoma de organismos procarióticos, como as bactérias, e derivadas de fragmentos de DNA viral que infectaram essas células no passado.

Modelo molecular da enzima Cas9 (em vermelho) associada ao RNAg (em laranja) e a um trecho de uma molécula de DNA (em verde).

A partir dessas sequências, a célula bacteriana transcreve um tipo de RNA conhecido como RNA guia (RNAg), que se associa à Cas9. Quando ocorre uma infecção viral, o RNAg direciona a Cas9 para o alvo e reconhece sequências CRISPR complementares a ele no DNA viral. Em seguida, a nuclease age, quebrando a fita dupla e inativando o material genético viral. Esse mecanismo é uma forma de imunização presente nas bactérias contra as infecções virais, similar às enzimas de restrição, e, como elas, está se tornando uma ferramenta importante de manipulação genética.

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A “edição” do DNA em humanos Pesquisadores chineses editaram pela primeira vez os genes de um embrião humano em um laboratório, em 2015. Isso despertou protestos e pedidos dos cientistas para que não fizessem um bebê usando a tecnologia, pelo menos até a técnica ser mais precisa – existem inúmeros estudos que mostraram erros não intencionais de edição do DNA utilizando CRISPR-Cas9. Esse pedido aparentemente foi respeitado por aproximadamente 3 anos e, em 25 de novembro de 2018, o jovem pesquisador chinês He Jiankui supostamente fez os primeiros bebês editados por CRISPR, as garotas gêmeas chamadas Lulu e Nana. O próprio pesquisador descreveu o experimento em uma cúpula internacional de edição de genes em Hong Kong e foi além: depois de sua palestra, He Jiankui revelou que outra gravidez de bebês com o genoma editado já estava em andamento. No caso das gêmeas, a edição do genoma foi feita em um gene chamado CCR5. Esse gene é o manual de instrução para a síntese de uma proteína presente na superfície de células do sistema imunitário dos humanos. O vírus HIV (causador da aids) usa essa proteína como porta de entrada para se infiltrar nas células. O pesquisador chinês pretendia utilizar o “canivete suíço” CRISPR com a intenção de deletar 32 pares de bases desse gene e imitar uma mutação natural chamada delta 32, encontrada em cerca de 10% dos europeus. A mutação torna essas pessoas imunes ao HIV, pois não possuem o receptor CCR5 na membrana dos linfócitos, onde os receptores CD4 do envelope viral se ligam para invadir a célula. Entretanto, dos diversos debates gerados em torno da questão, um foi exatamente a precisão da mutação realizada com essa técnica.

vírus HIV

receptor CD4 receptor CCR5

O mecanismo de entrada da maioria das linhagens de HIV nos linfócitos T depende da presença do receptor CCR5 na membrana da célula.

linfócito T

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He Jiankui ainda não publicou seus dados para a comunidade científica. Todos os anúncios foram feitos por vídeo na internet ou na cúpula em Hong Kong. Nessa apresentação, ele mostrou slides com os resultados do sequenciamento do genoma das gêmeas. O problema é que em nenhum dos dois casos a mutação delta 32 estava lá, o que chamou a atenção de diversos pesquisadores e levantou ainda mais dúvidas em relação à veracidade de a edição ter sido feita com sucesso. Além disso, não há como saber se as mutações inseridas podem causar algum problema para as meninas no futuro.

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Sequência de nucleotídios do gene normal de CCR5. ---AGATCTCAAAAAGAAGGTCTTCATTACACCTGCAGCTCTCATTTTCCATACA································TTAAAGATAGTCATC-----||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

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Sequência de nucleotídios do gene de CCR5 com mutação delta 32 (deleção de 32 nucleotídios). ---AGATCTCAAAAAGAAGGTCTTCATTACACCTGCAGCTC···············TCAGTATCAATTCTGGAAGAATTTCCAGACATTAAAGATAGTCATC-----||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

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Sequência de nucleotídios em um dos alelos de CCR5 em “Lulu” (deleção de 15 nucleotídios). ---AGATCTCAAAAAGAAGGTCTTCATTACACCTGCAGCTCTCATTTTCCATA····CAGTATCAATTCTGGAAGAATTTCCAGACATTAAAGATAGTCATC-----||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

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Sequência de nucleotídios em um dos alelos de CCR5 em “Nana” (deleção de 4 nucleotídios). ---AGATCTCAAAAAGAAGGTCTTCATTACACCTGCAGCTCTCATTTTCCATACAaGTCAGTATCAATTCTGGAAGAATTTCCAGACATTAAAGATAGTCATC-----||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||-----TCTAGAGTTTTTCTTCCAGAAGTAATGTGGACGTCGAGAGTAAAAGGTATGTtCAGTCATAGTTAAGACCTTCTTAAAGGTCTGTAATTTCTATCAGTAG---

Sequência de nucleotídios em um dos alelos de CCR5 em “Nana” (inserção de 1 nucleotídio).

A desativação do gene CCR5 também não confere imunidade completa ao HIV, já que algumas variações do vírus HIV podem entrar nas células por meio de uma proteína diferente. E, embora as pessoas com deficiências naturais no gene pareçam saudáveis, elas podem ser mais suscetíveis ao vírus do Oeste do Nilo e mais propensas a morrer ao contraírem gripe, como foi demonstrado por outros estudos. He Jiankui ainda violou uma série de normas disciplinares da própria instituição de pesquisa em que ele trabalha. Ele não contou à sua instituição, a Southern University of Science and Technology (China), sobre o experimento, e tirou licença não remunerada em fevereiro para começar a trabalhar em segredo. A universidade planeja lançar uma investigação sobre o projeto, que chamou de “grave violação da ética acadêmica e dos padrões” em um comunicado. 8


Sequenciar o DNA já foi caro um dia A pesquisa de He Jiankui, além de ser contestada, também nos faz refletir sobre o futuro da edição gênica em embriões. Era inevitável que acontecesse, e agora precisamos refletir sobre que tipo de mudança isso pode trazer para a nossa sociedade. Apesar do CRISPR sempre aparecer nos noticiários como uma técnica de baixo custo, suas aplicações em humanos não são tão baratas. Ainda. Antes de nos aprofundarmos nas aplicações possíveis do CRISPR e suas implicações, vamos fazer uma breve comparação com uma outra tecnologia que também envolve o DNA e que, há pouco mais de 15 anos, custava 2,7 bilhões de dólares. Sequenciar um genoma significa descobrir a sequência de pares de bases de todos os cromossomos. O genoma humano contém aproximadamente 3 bilhões de pares de base. Isso significa que foi gasto US$ 0,90 para cada par de base sequenciado. Três anos mais tarde, em 2006, já era possível sequenciar o genoma de uma pessoa por US$ 300 000,00 e, em 2014, o custo caiu para US$ 1 000,00; hoje, custa US$ 100,00. E a parte ainda mais incrível: qualquer um pode fazer. Até mesmo você. Basta um pouco de saliva e algumas semanas. Existem diversas empresas que fazem todo o trabalho de sequenciamento para você e mandam os resultados pela internet. Basta você comprar um kit, geralmente via internet, que é enviado para sua casa. No kit, em geral, temos apenas um tubo que contém uma solução para preservar a amostra e um adaptador para que a pessoa consiga coletar a saliva mais eficientemente. Ao cuspir, células da mucosa da boca acabam indo junto com o fluido. Essas poucas células são o suficiente para extrair o DNA e sequenciá-lo. Os resultados do sequenciamento são comparados com uma base de dados enorme, que fornece informações sobre seus ancestrais – até mesmo ancestrais neandertais – e predisposição a doenças como o câncer de mama.

Tubo para coleta de material genético para sequenciamento, comercializado por empresas especializadas.

Todos os dados são sigilosos e só serão utilizados para estudos se o usuário concordar. Porém, vale lembrar que se trata de empresas privadas. E se um dia ela resolver vender todos os seus serviços e dados? E se o comprador for uma empresa de seguro de vida, por exemplo? Eles poderiam cobrar um seguro mais caro para pessoas com predisposições genéticas a doenças. 9


Que direção seguir na edição de embriões? Qual é o limite aceitável para a edição dos genes? Estamos perto de alterar a hereditariedade humana e precisamos decidir, como sociedade, como vamos usar essa capacidade. Esse tipo de terapia é muito mais impactante do que outras terapias gênicas já existentes, como a edição de células do sistema imunitário de uma única pessoa. Modificar embriões não afetará apenas uma pessoa, mas também os seus descendentes. Por esse motivo, em 2015, a U. S. National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine (que produz relatórios inovadores que ajudam a moldar políticas sólidas, informar a população e avançar na busca da ciência, engenharia e medicina) convocou uma cúpula internacional de cientistas, especialistas em ética e outros para discutir o assunto. Esse foi o ponto de partida para que, em 2017, fosse lançado um relatório histórico publicado pelo grupo, o Human Genome Editing: Science, Ethics and Governance. O relatório não clamava por uma proibição total da edição de genes germinativos – isto é, alterando o DNA de espermatozoides, óvulos ou embriões –, mas relatou que “há necessidade de cautela”. Segundo o relatório, essa prática só deve ocorrer em ensaios clínicos com supervisão rigorosa, máxima transparência; também deve ser realizada somente após mais pesquisas, de maneira a atender aos padrões apropriados de risco/ benefício, além de contar com ampla participação e contribuição do público.

Para quais pessoas esse tipo de terapia estará acessível? Embora a técnica CRISPR-Cas9 seja realmente barata, a edição de embriões envolve também a fertilização assistida, ou fertilização in vitro, que é feita em laboratório. Esse procedimento não é tão simples e barato. E, para garantir a chance de sucesso, os médicos podem rastrear os embriões resultantes utilizando a técnica de Diagnóstico Genético Pré-Implantação, identificando, assim, aqueles embriões que não carregam o genoma modificado.

O nascimento de seres humanos com genoma editado pela técnica CRISPR se inicia no laboratório. Gametas editados são fecundados (1), em seguida verifica-se se a “edição” está presente no genoma do embrião (2 e 3), somente então ele é transferido para o útero da mãe (4).

1 fertilização in vitro

2 biópsia embrionária

3 diagnóstico genético

4 transferência embrionária

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Como tudo isso tem um alto custo, dificilmente estará acessível à maioria da população em um curto prazo. Pode ser que alguns governos subsidiem esse tratamento para casos extremamente raros, mas, assim como as empresas de sequenciamento genético, outras podem começar a prestar esse tipo de serviço, aumentando a diferença no tratamento de doenças entre pessoas e países com recursos financeiros distintos.

E se eu quiser uma filha atleta com 1,85 de altura? Será que criaremos um futuro onde conviveremos com super-humanos modificados geneticamente, imunes a doenças, mais fortes, mais ágeis e mais inteligentes do que nós? Essa pergunta está muito mais próxima de um filme de ficção científica do que da realidade. Certas características, como a cor dos olhos, não são regidas apenas por um gene, mas, sim, por uma rede de interações entre DNA e proteínas. Assim, pequenas alterações podem ter consequências inesperadas, como no caso da mutação delta 32 no gene CCR5, com a qual a pessoa apresenta imunidade a algumas linhagens do vírus HIV, mas fica mais propensa a morrer de gripe. Podem até mesmo existir outras consequências dessa mutação que ainda não conhecemos. O mapeamento recente de doenças genéticas conhecidas mostra que frequentemente um único gene pode causar mais de uma dessas doenças. Rede de doenças humanas

Rede de doenças humanas. Cada círculo representa uma doença, e, quanto maior o círculo, maior o número de genes associados a ela. As doenças conectadas por linhas compartilham pelo menos um gene no qual as mutações estão associadas a ambos os distúrbios.

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O mesmo vale para atributos como inteligência, altura, capacidade esportiva ou traços de personalidade, que envolvem pequenas contribuições de milhares de genes aliados à influência ambiental. Então, não importa com que precisão possamos editar os genes, no momento sabemos muito pouco sobre o nosso “manual de instruções” molecular. Para editá-lo corretamente, precisamos entender muito mais a relação entre os genes e as consequências de cada mutação. A evolução fez (e continua fazendo) muito bem o papel de selecionar genes. Reflitam sobre como duas células, um espermatozoide e um óvulo, dão origem a um humano com braços, pernas, olhos, consciente de si mesmo e do seu ambiente. A cada divisão celular alguma coisa pode dar errado, mas temos diversos sistemas de reparo de DNA que evitam os erros. Todo esse processo levou milhões de anos. Para cada modificação que deu certo e passou para os descendentes, milhares de outras modificações falharam.

Luiz Gustavo de Almeida possui graduação em Ciências Biológicas (Bacharelado e Licenciatura) pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2004-2007), mestre em Microbiologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (2011-2013) e doutor em Microbiologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP, com experiência na área de Fisiologia de Microrganismos. É também editor assistente da revista Questão de Ciência, do Instituto Questão de Ciência, e escreve para o blog “Cientistas Explicam”, da revista Saúde, Editora Abril.

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1.  O experimento de He Jiankui modificou dois embriões que geraram dois bebês imunes ao vírus HIV. De quais maneiras poderíamos saber se a técnica realmente funcionou? Discuta sobre os dilemas éticos dessas situações. HORA DE ARTICULAR SUAS IDEIAS

2.  Argumente sobre os aspectos positivos e negativos do uso de biotecnologia na busca por melhorar a qualidade de vida do ser humano.

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Entenda como funciona a técnica CRISPR 1. Um RNA guia (RNAg) e a enzima CAS9 juntam-se formando o complexo RNA-CAS9, que reconhece trechos específicos no DNA a ser modificado.

RNA 2. O RNAg liga-se ao trecho de DNA complementar a ele, alinhando-o com a enzima CAS9

DNA CAS9

Sítio ativo da enzima CAS9 (“tesoura” molecular).

3. A “tesoura” CAS9 corta o DNA naquele ponto exato.

4a. Agora o DNA pode ser modificado. Por exemplo, um gene causador de uma doença pode ser silenciado, prevenindo a ocorrência da doença.

4b. ... ou um gene defeituoso pode ser corrigido ao ser adicionado um trecho de DNA que o corrija.

5. APLICAÇÕES 5a. Indústria de alimentos. Criação de linhagens de bactérias e leveduras, utilizadas na indústria de álcool e laticínios, imunes a infecções virais.

5b. Alterações ecológicas. Desenvolvimento de linhagens de insetos resistentes a doenças que podem ser transmitidas a seres humanos.

5c. Pesquisas em biotecnologia. É possível modificar embriões de camundongos e macacos para prevenção de doenças em animais adultos, abrindo margem para eventual aplicação em humanos.

5d. Tratamento médico. A terapia usando a técnica CRISPR poderia permitir o silenciamento de genes relacionados a doenças congênitas e a personalização de tratamentos de câncer. 5e. Edição genética de embriões. Cientistas chineses demonstraram a viabilidade de editar geneticamente embriões, mas a técnica ainda não é precisa o suficiente para ser feita com segurança, além de ter implicações éticas.

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SUGESTÕES DE RESPOSTAS DO EDITORIAL

1.  Cada variedade de vírus HIV é transmitida de modo muito específico. Uma das formas de constatar se a técnica funcionou seria colhendo amostras de linfócitos das gêmeas e verificando quais linhagens do vírus HIV são capazes de penetrar a célula. Esse tipo de experimento teria pouco dilema ético. Outra forma de verificar essa resistência seria expor as gêmeas ao vírus HIV, o que consistiria em violação ética extremamente grave. 2.  Positivo: Prevenir doenças genéticas que não têm cura, como a fibrose cística. Essa doença ainda não tem nenhum tipo de tratamento. A doença pode ser mortal caso a pessoa tenha uma infecção bacteriana nos pulmões. A fibrose cística é crônica, pode durar muitos anos ou até mesmo a vida inteira. Negativo: Aumentar a expectativa de vida dos humanos significa ter uma população muito maior no futuro. Hoje somos aproximadamente 7,3 bilhões de pessoas. Em 2050, poderemos chegar a 9,7 bilhões. Vamos consumir cada vez mais recursos e gerar mais rejeitos.

Conteúdos abordados: • Bioética; • Biotecnologia; • CRISPR; • Melhoria genética; • Doenças genéticas.

O Articulação CNT tem como objetivo discutir temas relevantes com base nas Ciências da Natureza e suas Tecnologias. No entanto, embora o conteúdo dessa área do conhecimento seja utilizado para analisar os temas selecionados, ele não se configura como pré-requisito para o uso dessa ferramenta pedagógica em sala de aula. O Articulação CNT visa estimular a alfabetização científica, permitindo que os estudantes compreendam o que está além do que é noticiado, despertando, assim, o gosto pela ciência e pela aquisição de novos conhecimentos.

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FEVEREIRO | 2019  EDIÇÃO No 1

N A T U R E Z A

Diretor de conteúdo e negócios Ricardo Tavares de Oliveira Diretor editorial adjunto Cayube Galas Gerente editorial Júlio César D. da Silva Ibrahim Editora Aloana Oliveira Publio Editores assistentes Gustavo da Silva Beolchi Samuel Quinaud Rossi Gerente de produção editorial Mariana Milani Coordenador de produção editorial Marcelo Henrique Ferreira Fontes

Coordenadora de preparação e revisão Lilian Semenichin Supervisora de preparação e revisão Adriana Soares Preparadora Lucia Passafaro Peres Revisoras Marcella Arruda Isaura Kimie Imai Rozner Solange Guerra Supervisora de iconografia e licenciamento de textos Elaine Bueno Pesquisa Ana Olívia Ramos Pires Justo Coordenadora de ilustrações e cartografia Marcia Berne Gerente de arte Ricardo Borges Coordenadora de arte Daniela Máximo Projeto gráfico Bruno Attilli Supervisor de arte Fabiano dos Santos Mariano Editora de arte Natália L. B. Ferrari

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FEVEREIRO | 2019  EDIÇÃO No 1

H U M A N A S

Nascido nos guetos dos EUA nos anos 1980, o hip-hop se tornou a expressão da juventude negra das periferias do Brasil. Nos 31 anos do grupo Racionais MC’s, a universidade reconhece a importância do rap para a cultura brasileira ao incluir Sobrevivendo no inferno na lista de obras exigidas para o vestibular.


O QUE FALAM SOBRE O ASSUNTO DESTA EDIÇÃO?

Nos anos 90, o rap se popularizou ao refletir a brutalidade das ruas; hoje, as novas gerações fazem rimas diferentes Amanda Massuela, Bianca Castanho e Edoardo Ghirotto​

O rapper americano Tupac Shakur, em foto de 1993.

T

upac Shakur, célebre rapper estadunidense, disse certa vez que as pessoas não podiam se sentir mais ofendidas com a agressividade de suas rimas do que com a realidade das ruas. Por muitos anos, o rap brasileiro se alinhou a tal posicionamento e tratou das questões sociais com a mesma brutalidade que fazia parte do cotidiano das periferias. O estilo era calcado no gangsta rap, uma vertente que ganhou o mundo com o grupo NWA (Niggaz Wit Attitudes). No Brasil, a temática do gangsta rap marcou as primeiras rimas dos Racionais MC’s e foi perpetuada por grupos como Sistema Negro, Câmbio Negro, Facção Central, entre outros. Sinônimo de resistência perante um sistema opressor, a fórmula foi copiada e explorada de diferentes maneiras por todo o país. Com o passar dos anos, no entanto, novas influências musicais provocaram mudanças que alteraram a crueza das batidas e dos versos. Embora o estilo ainda seja forte no Brasil, os rappers que se encontram em evidência no cenário musical trazem letras com tom mais moderado em seus trabalhos.

Para Renan Inquérito, a transformação lírica está ligada à mudança de uma geração para outra na sociedade. “Se muito moleque não gosta do rap tradicional, eles não têm culpa. Na nossa época, você tinha que ler Malcolm X e saber quem era o Marighella para cantar rap. Esses moleques cresceram numa outra época, com internet, funk, YouTube e Facebook. Não adianta ficar brigando e dizendo que eles são ingratos. Cabe a nós, que bebemos dessa fonte, reverberarmos e reproduzirmos”, aponta. A sociologia também segue essa linha de raciocínio. Em 1952, o húngaro Karl Mannheim determinou que uma geração não é definida por meio da proximidade das datas de nascimento das pessoas, mas pela influência que acontecimentos históricos exercem sobre elas. Neste sentido, uma mesma geração pode durar décadas ou até mesmo séculos. 2


Se muito moleque não gosta do rap tradicional, eles não têm culpa. Na nossa época, você tinha que ler Malcolm X e saber quem era o Marighella para cantar rap. Esses moleques cresceram numa outra época, com internet, funk, YouTube e Facebook. Não adianta ficar brigando e dizendo que eles são ingratos. Cabe a nós, que bebemos dessa fonte, reverberarmos e reproduzirmos. Renan Inquérito

Se a lógica for aplicada ao rap nacional, não é difícil constatar que hoje se encontra em atividade no país uma terceira geração de MCs. A primeira é formada pelos pioneiros que deram início ao movimento hip-hop no centro de São Paulo, na década de 1980, enquanto a segunda surgiu a partir do lançamento da música Pânico na Zona Sul (1988), do grupo Racionais MC’s, que revolucionou a forma de se fazer rap no Brasil. “Eu não me lembro de as ideias me chamarem tanto a atenção quanto Pânico na Zona Sul. O Brown falava sobre os problemas que existiam no Capão  – e que não eram diferentes dos problemas existentes lá em Diadema, onde eu estava na época. Aquilo acontecia na minha quebrada todo dia e toda hora. Eu falei que queria conhecer aqueles caras. Pânico na Zona Sul foi, para mim, uma convocação para ser mais um elo dessa corrente”, conta Dexter. “Foi um momento em que os caras deram uma sacudida nos pretos no Brasil, dizendo que a nossa história é linda e o que lemos nos livros de história é mentira. Começaram a surgir coisas que a escola não ensinava.”

Capa do disco Roteiro para Aïnouz, vol. 3, do rapper pernambucano Don L, um dos primeiros representantes nordestinos do gênero a ganhar repercussão nacional e quebrar a hegemonia do Sudeste.

Já a terceira contempla rappers que, após atuarem durante anos na cena underground  –  fazendo freestyle ou se apresentando em batalhas e rinhas de MCs –, ascenderam na cena musical com uma poesia diferente daquela que se popularizou ao longo da década de 1990 e no início dos anos 2000. Embora tenha ficado conhecido como “novo rap”, o estilo predominante entre nomes como Emicida, Projota, Rashid e Cone Crew Diretoria não é recente: o disco O Lado B do Hip-Hop, lançado em 2001 pelo grupo SP Funk, foi fundamental para moldar a forma de rimar desta terceira geração. “A maioria dos grupos no Brasil era de protesto e seguia a ideologia dos Racionais MC’s. Só que sentimos a necessidade de fazer algo diferente. Ouvíamos Redman, Wu-Tang Clan e Lords of Underground, que faziam um estilo em que as batidas eram mais aceleradas e, na forma de rimar, havia muita metáfora. A gente achou que poderia fazer isso bem-feito, 3


com a cara do Brasil e com as situações que aconteciam aqui, usando uma linguagem mais divertida, desencanada e ousada”, explica Tio Fresh, um dos integrantes do SP Funk. O pioneirismo contribuiu para que outros rappers contemporâneos ao grupo paulistano também explorassem o seu potencial criativo em cima do freestyle. Entre eles estavam SNJ, Z’África Brasil e Quinto Andar. “Costumamos dizer que aprendemos a todo o momento, até quando estamos dentro do estúdio. O rap vai mudando conforme a sua necessidade e caras da nova geração e de dez anos atrás resolveram atribuir isso ao seu cotidiano. Se antes éramos muito radicais e só tratávamos de violência, preconceito e questões raciais, hoje conseguimos abordar isso de formas diferentes, às vezes mais irônicas, ou com mais conteúdo. É um jeito de falar do nosso estilo de vida para as pessoas”, destaca o rapper Sombra, do grupo SNJ. Os rappers da terceira geração aproveitaram este espaço e o respeito conquistado por seus antecessores para impulsionar a vertente underground entre os jovens que começaram a acompanhar o rap brasileiro somente nos últimos anos. […]

Os grupos novaiorquinos de hiphop Beastie Boys e Run-DMC posam juntos em 1987, ano de uma de suas turnês conjuntas

MASSUELA Amanda; CASTANHO, Bianca; GHIROTTO, Edoardo. Outras palavras. Revista Poleiro, 16 abr. 2015. Disponível em: <https://revistapoleiro.com.br/ outras-palavras-64faef5d4b10>. Acesso em: 22 jan. 2019.

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CONHEÇA A OPINIÃO DE QUEM ESTUDA O ASSUNTO.

Rap: prática musical urbana negra Daniela Vieira

O

A cantora paulistana Karol Conka, em show de 2019 em São Paulo.

rap – sigla de origem inglesa que condensa as palavras rhythm and poetry (ritmo e poesia) – surgiu em Nova York, no bairro do Bronx, nos anos 1970, e, apesar de ser frequentemente lembrado pela sua manifestação musical, vincula-se a outras práticas culturais urbanas associadas à juventude, em sua maioria negra e moradora dos subúrbios e periferias. Ele se constitui como o gênero musical do chamado movimento hip-hop, que reúne quatro elementos: o MC (mestre de cerimônia); o DJ (disc jockey); o grafite (artes plásticas); e o break (dança). A importância que o hip-hop viria a ter na cena cultural contemporânea contrasta com o seu início, quando essas quatro manifestações ocorriam separadas e ao mesmo tempo sem que os seus participantes se reconhecessem como um “movimento”.

Foi o DJ Afrika Bambaataa quem juntou essas práticas culturais e as “oficializou”, denominando-as de “Movimento hip-hop”, onomatopeia cujo significado é “mexa os quadris”. Além de Bambaataa, os nomes de Kool Herc (MC) e Grandmaster Flash (MC) também ganharam destaque como pioneiros do movimento hip-hop nos Estados Unidos, sendo considerados os precursores do rap. A importância de Bambaataa ainda vai além, ao inserir no hip-hop o chamado “quinto elemento”, isto é, o conhecimento. Em entrevista a Marcio Brown, o MC estadunidense afirma: “Quando criamos a cultura hip-hop, só elegemos cinco elementos: MC, DJ, B. boy, grafite e por último o conhecimento. Na verdade, gostaria de fazer uma errata […] o conhecimento foi de fato o primeiro elemento da cultura, pois ele nos deu base para criar e desenvolver a Universal Zulu Nation e os outros quatro elementos”.1 A importância do conhecimento como uma das bases do hip-hop é que ele possibilita a seus integrantes as condições precisas para denunciar e reconhecer as muitas injustiças sociais e o racismo. No caso brasileiro, as canções de grupos como Racionais MCs, do rapper Sabotage (morto em 2003) e, recentemente, de artistas como Emicida, Rincon Sapiência, Baco Exu do Blues, Don L, entre outros, são exemplos de crítica ao racismo e às 1. Entrevista disponível em: <http://nossacarapreta.blogspot.com/2009/02/afrika-bambaataa-o-arquiteto-da-cultura.html>. Acesso em: 7 jan. 2019. A Universal Zulu Nation é uma entidade cultural criada em 1973 por Bambaataa. Um dos princípios da organização é Paz, Amor, União e Diversão. Isso se difundiu entre os hip-hoppers de todo o mundo. Em nosso país há a Zulu Nation Brasil. Cf. <https://www.enraizados.com.br/index. php/zulu-nation-rio-e-lub-comemoram-o-aniversario-do-hip-hop/>. Acesso em: 7 jan. 2019.

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desigualdades sociais. Ao mesmo tempo, as canções exaltam a importância do negro e da negritude, conferindo a esses sujeitos um sentimento de orgulho, dignidade social e perspectiva de luta contra as muitas opressões a que são submetidos. Também devemos lembrar da atuação das rappers como a falecida Dina Di, Negra Li, Luana Hansen, Karol Conka, Preta Rara, Drik Barbosa e MC Sofia, que assumem inclusive uma postura crítica contra o machismo que permeia a cultura hip-hop.

O grupo estadunidense NWA, precursor do rap na costa oeste dos EUA, em show em 1989.

Sem o conhecimento, que deve ser traduzido como um senso crítico diante da realidade que cerca esses indivíduos e coletivos, seria impossível traduzir em ritmo e poesia as suas experiências e as experiências das suas “quebradas”. Pois, com base no seu cotidiano, os rappers e as rappers narram o contexto onde vivem. De acordo com a pesquisadora Cintia Camargo Vianna, “o rapper-narrador construído pelo grupo vai colocar a necessidade de aceitação da condição de negro, a exaltação da cultura negra e, finalmente, a consciência da alteridade constitutiva entre brancos e negros […], e vai também tornar pública a vivência cotidiana de toda a comunidade negra periférica que representa”2. Não por acaso, é comum ouvir de rappers e adeptos do movimento hip-hop a frase “o rap salvou a minha vida”. Mais ainda do que representa para a juventude da “quebrada”, é importante destacar também quanto o movimento hip-hop se constituiu como uma das principais expressões culturais da globalização. Originado nessa nova ordem do mundo, o rap pode se difundir para culturas diferentes, exemplificando as relações que o fenômeno da globalização estabelece entre o local e o global3. Além das mudanças político-ideológicas características da globalização, as grandes inovações tecnológicas proporcionaram, igualmente, as peculiaridades técnicas do gênero musical, as quais foram basilares para a sua caracterização estética.

2. VIANNA, C. C. Movimento Hip Hop paulistano: a produção artística dos Racionais MC’s. 2008. 137 f. Tese (Doutorado em Letras – Teoria da Literatura) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2008. p. 17. 3. GUIMARÃES, Maria Eduarda. A globalização e as novas identidades: o exemplo do rap. Perspectivas, São Paulo, v. 31, jan./jun. 2007. p. 169-186.

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O surgimento do rap no Brasil No Brasil, o movimento hip-hop aparece no contexto que colocou lado a lado a redemocratização e o neoliberalismo, em fins da década de 1980. Como destacou o historiador Roberto Camargos, “o rap tem sua produção assentada no tempo em que o Brasil sofreu acentuadas transformações que culminaram, em última instância, na consolidação da hegemonia das ideias e práticas culturais de cunho neoliberal […]”4. Como resultado da abertura política e reação à desigualdade que se acentuava ainda mais nessa nova etapa do capitalismo, os debates sobre a expansão da cidadania, a emergência dos movimentos sociais e das organizações não governamentais começam a ganhar destaque. O movimento hip-hop não fica alheio e já em 1989, em São Paulo, tem-se a criação do Movimento Organizado de Hip Hop no Brasil, o MH2O, que posteriormente se tornaria uma organização não governamental. Esse movimento organizou a cultura hip-hop, sendo responsável por promover as primeiras oficinas culturais relacionadas com essa prática cultural, além de investir em novas temáticas para o rap. Ao contrário dos primeiros raps que surgiram no país, que se restringiam a expressões humorísticas, começou-se a abordar temas relacionados com a desigualdade social e a violência derivada, ainda que não somente, do racismo. Se o rap norte-americano apresenta uma postura de “enfrentamento” e, até mesmo, a “exaltação O rapper paulistano Sabotage, da violência como forma de solução para a em foto de 2002. discriminação”, há no rap brasileiro o desejo particular de “soluções para os problemas vivenciados pelos jovens negros da periferia”5. Persiste assim, ao contrário de uma luta universalizante, um forte sentimento de “comunidade” – para usar a expressão da psicanalista Maria Rita Kehl. Conforme a autora, a relação social dos rappers com os negros (“manos”) da periferia pressupõe igualdade6. Assim como nos EUA, esse gênero musical encontrou adesão imediata nas periferias dos grandes centros urbanos, em particular na cidade de São Paulo. Contudo, ao contrário do que ocorria no Bronx, aqui os grupos saíam da periferia para ocupar espaços públicos do centro da capital paulista. Em fins da década de 1980, grupos de break se reuniam em São Paulo em localidades como a estação São Bento do metrô e a rua 24 de Maio, em frente ao Teatro Municipal e na praça Roosevelt. Os primeiros dançarinos de hip-hop estiveram ligados aos bailes blacks dos anos 1970, importantes espaços de sociabilidade para a juventude negra. Entre os dançarinos, destaca-se o pernambucano Nelson Triunfo, um dos integrantes do grupo de dança “Funk & Cia”. Os rappers (MC’s e DJ’s) surgiram dessas equipes de break, e, na mesma época, também se desenvolve o grafite. No ano de 1988, Hip-Hop: Cultura de Rua é, lançado pela gravadora Eldorado. Produzido por Nasi e André Jung, integrantes da banda de rock Ira!, o primeiro álbum exclusivo de rap brasileiro trouxe artistas paulistanos como Thaíde e DJ Hum, MC Jack e Código 13 a um público mais amplo. Também durante a década de 1980 surgiram outras produções do gênero, com 4. CAMARGOS, Roberto. Rap e Política: percepções da vida social brasileira. São Paulo: Boitempo, 2014. p. 18. 5. GUIMARÃES, Maria Eduarda. Do samba ao rap: a música negra no Brasil. Tese 277 f. Universidade Estadual Campinas, Campinas: São Paulo, 1998. 6. KEHL, Maria Rita. A Frátria Órfã: o esforço civilizatório do Rap na Periferia de São Paulo. In: KEHL, M.R. (Org.). Função Fraterna. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000. p. 209-244.

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destaque para Ousadia do Rap (Kaskata’s Records, 1987) que, embora tenha sido produzido um ano antes de Hip-Hop Cultura de Rua, contou apenas com três músicas de rap, diferentemente do LP de 1988. O Som das Ruas, divulgado igualmente em 1988 pela equipe Chic Show e assinado pela gravadora Epic/Sony, lançou o grupo Sampa Crew. Ao contrário dos raps mais “engajados”, presentes no mercado brasileiro a partir da década de 1990, este apresenta temáticas leves e dançantes. E os LPs Situation RAP, produzido pela FAT Records, e Consciência Black, vol. 1.

Vila Fundão, bairro da Zona Sul de São Paulo onde surgiu o grupo Racionais MC’s.

Mas será a partir dos anos 1990 que o rap ganha maior projeção no Brasil, expressando um campo de luta daqueles que vivem à margem. Ao mesmo tempo que a década de 1990 foi marcada pela consolidação do neoliberalismo no país, bem como pela crise social e o enfraquecimento do movimento operário, ocorreu a efetivação da cena cultural da periferia. Tal “floração cultural”, apontada pelo sociólogo Celso Frederico, também representou mudanças consideráveis no rap brasileiro7. Segundo nos conta MC Jack, um dos precursores do gênero no país, “em [19]91,92, o rap deu uma guinada, o negócio começou a ficar mais engajado, politizado, pesado […]”8. No Brasil, atualmente, há dezenas de grupos de rap com temáticas e perspectivas diferentes: rap “engajado”, “religioso”, “ostentação”, “gangster”, “queer rap”, “rap indígena”, entre outras vertentes. De modo geral, esses 7. FREDERICO, Celso. Da periferia ao centro: cultura e política em tempos pós-modernos. Estudos Avançados, v. 27, n. 79, 2013, p. 239-255. 8. VALETTA, Marcelo. Pioneiro do hip hop, MC Jack, volta com “Meu Lugar”. Folha de S.Paulo, 5 out. 2001. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com. br/fsp/ilustrad/fq0510200120.htm>. Acesso em: 5 fev. 2019..

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grupos vêm ocupando novos espaços no mercado musical brasileiro, modificando tanto o modo de produção do rap quanto a sua circulação e difusão. Ampliando o significado do que é o rap, Renan Inquérito, líder do grupo de rap Inquérito, na canção “Lição de Casa” diz O Rap é a comunidade enchendo a laje É ir no cinema ver um filme e tá lá o Sabotage É quando um moleque da Fundação contraria (quem diria) E ganha um concurso de poesia […] Um pivetinho ouvindo Racionais com 11 anos A força de uma senhora se alfabetizando Era tão Rap subir no telhado e conseguir Virar a antena até pegar Yo MTV Dina Di, Carolina de Jesus, Jorge Ben Bezerra da Silva e Mussum, foram Rap também E quando uma palavra salva um moleque Uns chamam de conselho, eu chamo de RAP Inquérito. Lição de casa. In: Tungstênio. São Paulo: 2018.

Racionais MC’s: Sobrevivendo no Inferno como obra poético-literária Foi justamente nos anos 1990 que um dos grupos de rap mais proeminentes no país até hoje, os Racionais MC’s, lançou o EP Holocausto Urbano pela gravadora independente, Zimbabwe Records, hoje extinta. Dois anos depois, o grupo formado por Mano Brown, KL Jay, Ice Blue e Edi Rock, lançaria Escolha seu Caminho, mas é com Raio X do Brasil, lançado em 1993, que se tornou um marco da propagação do rap na música brasileira. Depois dele, os Racionais passaram a atrair públicos cada vez maiores, com mais de 10 mil pessoas por show. As músicas “Fim de Semana no Parque” e “Homem na Estrada” foram as primeiras músicas de rap “alternativo” a serem executadas nas rádios. Mas o brilho maior dos Racionais ainda não havia chegado. Produzido pelo do selo independente Cosa Nostra, dos próprios rappers, e inspirado pelo massacre do Carandiru, o grupo lançaria em 1997 o disco Sobrevivendo no inferno, trabalho que traz os maiores sucessos dos Racionais e que completou 21 anos em 2018. Eleito pela revista Rolling Stone como o 14º melhor disco brasileiro de todos os tempos, vendeu mais de 1,5 milhão de 9


cópias, puxado pelas emblemáticas “Capítulo 4, Versículo 3” e “Diário de um Detento”, que passaram a integrar a programação da MTV, principal canal televisivo de música da época. O impacto de Sobrevivendo no inferno na cultura brasileira foi imenso. Além de colocar o rap e a periferia no centro do debate, mostrou para todo o país a realidade social das “quebradas”, marcadas pela desigualdade e pela violência. O disco é uma denúncia do país da “democracia racial” e narrativa pungente e representativa de um país em que direitos humanos e cidadania se restringem a poucos. Sobrevivendo no inferno foi inserido na lista de leituras do vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) a partir de 2020, na categoria poesia, ao lado de clássicos da literatura como Luís de Camões.

Em 2016, Mano Brown lançou seu primeiro disco solo, Boogie Naipe com partipação da cantora Ellen Oléria.

Trata-se da primeira vez que um disco é incluído como obra literária num dos principais vestibulares do país. E qual o significado dessa inclusão? De acordo com nota divulgada pelos próprios Racionais em sua página no Instagram, tomar o álbum Sobrevivendo no Inferno como obra poético-literária é expressão da “periferia ocupando a academia”. Desse modo, ainda que o gênero seja considerado violento e esteticamente “inferior” segundo os “cânones” da cultura, ele é reconhecido como sinônimo de cultura popular, de identidade negra, e visto como possibilidade de expressão cultural dos marginalizados. Em outros termos, a afirmação de que a periferia passa a ocupar a academia revela a ampliação do rap como conhecimento (“o quinto elemento”), além de romper o estigma da violência. Significa reconhecer o rap como prática cultural e intelectual que narra as vivências de pretos e pobres cuja inserção social é restrita e/ou marginalizada. Um chamado ao conhecimento sobre a vida de sujeitos periféricos que convivem com o mundo do crime, da exclusão, das drogas, mas que conseguiram sobreviver e seguem “sobrevivendo no inferno”. Pois a cultura hip-hop, como modo de vida, deve ser compreendida e respeitada.

Daniela Vieira é doutora em Sociologia pela Unicamp. Especialista em Sociologia da cultura, com ênfase no estudo da canção popular urbana e sociedade. Autora de Não vá se perder por aí: a trajetória dos Mutantes.

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1.  Quais elementos formam o movimento hip-hop? Por que o conhecimento é importante para o movimento?

HORA DE ARTICULAR SUAS IDEIAS

2.  Em que medida o rap no Brasil pode ser considerado um movimento político? 3.  Qual a importância da inserção de Sobrevivendo no inferno, dos Racionais MC’s, como obra poético-literária no vestibular da Unicamp?

Festa tradicional de hip-hop, o 100% Favela teve em 2017 a sua décima sétima edição na Vila Fundão, na zona sul de São Paulo.

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1 É lançado Sobrevivendo no inferno, disco mais importante do rap brasileiro e responsável por nacionalizar os Racionais MC’s, vendendo mais de um milhão de cópias.

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o bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, surge a Batalha do Real, primeiro duelo de rimas em estilo hiphop Feito no Brasil. Marcelo D2 Lança “À procura da batida perfeita”, fundindo rap e samba.

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São lançados o LP Tiro Inicial, coletânea de MC’s do Rio de Janeiro, entre eles MV Bill, e “Gabriel O Pensador”, do rapper carioca homônimo.

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Egresso das batalhas de MC’s de São Paulo, Emicida lança sua primeira mixtape, “Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que cheguei longe...”.

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Os Racionais MC’s lançam , Cores e valores seu primeiro disco de inéditas depois de 12 anos.

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Sobrevivendo no inferno é incluído como leitura obrigatório para o vestibular da Unicamp. O rapper baiano Baco Exu do Blues vence o prêmio Multishow pela canção “Te amo Disgraça”, do disco Esú.

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Hip-Hop: Cultura de Rua, é lançado pela gravadora Eldorado. Produzido por Nasi e André Jung, é o primeiro álbum exclusivo de rap brasileiro, trazendo artistas paulistanos como Thaíde e DJ Hum, MC Jack e Código 13.

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A banda de rap-rock Planet Hemp lança seu primeiro disco, Usuário.

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Os Racionais MC’s fazem sua estreia com o EP Holocausto Urbano. A MTV inaugura suas atividades no Brasil, dedicando ao rap o programa Yo!

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O clipe de “Diário de um detento”, dos Racionais MC’s, vence o principal prêmio do MTV Music Brasil, o de votação do público.

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Dançarinos de break começam a se reunir na estação São Bento do metrô, no centro de São Paulo. Ponto de encontro também de punks da cidade, o local começa a abrigar as primeiras manifestações ligadas à música e a cultura do rap no Brasil.

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RITMO E POESIA: A EVOLUÇÃO DO RAP NO BRASIL

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SUGESTÕES DE RESPOSTAS DO EDITORIAL

1.  O movimento hip-hop engloba cinco elementos: MC (mestre de cerimônia); DJ (disc-jockey); break (dança); grafite (artes plásticas) e o conhecimento. Este último é de extrema importância para a base político-filosófica do movimento, pois possibilita aos seus integrantes senso crítico para lutarem contra as opressões que vivem em seu cotidiano. 2.  O rap pode ser considerado um movimento político, uma vez que surge no contexto de redemocratização da sociedade brasileira e, de certa maneira, como um modo de combate ao neoliberalismo. Mais do que isso, as rimas e a poesia que constituem o rap trazem consciência social aos seus ouvintes, contribuindo para a autoestima da população negra e pobre. É uma potente expressão artística de combate e denúncia do racismo e das desigualdades sociais. 3.  Inserir um disco de rap como Sobrevivendo no inferno na lista de um dos mais importantes vestibulares do país coloca a possibilidade de ampliar a discussão a respeito da realidade social de indivíduos que vivem à margem da sociedade. Além disso, promove a possibilidade de desestigmatizar o rap como um ritmo esteticamente inferior e violento.

Conteúdos abordados: • Cultura popular; • Periferias urbanas; • Racismo; • Luta por direitos.

O Articulação CHT tem como objetivo discutir temas relevantes com base nas Ciências Humanas e suas Tecnologias. Os conteúdos abordados auxiliam na análise do objeto proposto; contudo, não são pré-requisitos para o uso desta ferramenta pedagógica em sala de aula. O Articulação CHT almeja estimular os estudantes a analisar os eventos cotidianos à luz das Ciências Humanas e contribuir com elementos para debates e reflexões críticas.

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FEVEREIRO | 2019  EDIÇÃO No 1

H U M A N A S

Diretor de conteúdo e negócios Ricardo Tavares de Oliveira Diretor editorial adjunto Cayube Galas Gerente editorial Júlio César D. da Silva Ibrahim Editora Claudia Pedro Winterstein Editores assistentes Georges Nicolau Kormikiaris Henrique Bosso da Costa Gerente de produção editorial Mariana Milani Coordenador de produção editorial Marcelo Henrique Ferreira Fontes Coordenadora de preparação e revisão Lilian Semenichin

Supervisora de preparação e revisão Adriana Soares de Souza Preparador Daniel Haberli Silva Revisoras Lilian Garrafa Simone Keiko Shimabukuro Supervisora de iconografia e licenciamento de textos Elaine Bueno Pesquisa Ana Paula de Jesus Gonçalves Cruz Coordenadora de ilustrações e cartografia Márcia Berne Gerente de arte Ricardo Borges Coordenadora de arte Daniela Máximo Supervisor de arte Fabiano dos Santos Mariano Projeto gráfico Bruno Attilli Editores de arte Adriana Maria Nery de Souza Francisco Lavorini

Créditos das imagens: p1. Nelson Antoine/Fotoarena, p2. COLUMBIA PICTURES/Album/Fotoarena, p3. Capa de disco, p4. Laura Levine/Corbis/Getty Images, p5. Mauricio Santana/Getty Images, p6. Raymond Boyd/Getty Images, p7. Fabiano Cerchiari/Folhapress, p8. Tom Vieira Freitas/Fotoarena, p9. Racionais MC’s. Cosa Nostra. Brasil. 1997, p10. Paulo Lopes/Futura Press, Daniela Vieira, p11. Tom Vieira Freitas/Fotoarena, p12. shutterstock.com, p13. Jefferson Coppola/Folhapress, Holocausto Urbano. Racionais MC’s. Boogie Naipe. 1990, Planet Hemp – Usuário. Sony Music Entertainment. 1995, Diário de um Detento. Racionais MC’s. Chroma Filmes, Pra Quem Já Mordeu Um Cachorro Por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe. Emicida. Laboratório Fantasma. 2009, Van Campos/Fotoarena, Hip Hop Cultura de Rua Coletânea. Eldorado. Brasil. 1988 , Coletânea Tiro Inicial. Mv Bill. Radical Records. 1993, Racionais MC’s. Cosa Nostra. Brasil. 1997, À Procura Da Batida Perfeita. Marcelo D2. Sony Music. Brasil. 2003, Avener Prado/Folhapress, Paulo Lopes/Futura Press

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FEVEREIRO | 2019  EDIÇÃO No 1

M AT E M ÁT I C A

O que faz um matemático? Em quais campos ele pode atuar? Nesta edição vamos explorar algumas profissões que matemáticos podem exercer.


O QUE FALAM SOBRE O ASSUNTO DESTA EDIÇÃO?

Novas perspectivas de carreira na área de matemática Darcianne Diogo

Q

uem gosta de números e cálculos, às vezes, não cogita cursar matemática por pensar que as opções de carreira se limitam à docência e à pesquisa. No entanto, as possibilidades vão além das salas de aula de escolas e universidades. Matemáticos são procurados por empresas de áreas como mercado financeiro, logística, marketing, tratamento de dados, gestão de informação, pesquisa, processamento de dados, química, física, ciências computacionais, gerenciamento ambiental, produção e muitas outras. Embora existam diversas possibilidades de atuação, falta conhecimento por parte dos alunos sobre esse leque de opções. É a percepção de Heglehyschynton Valério, matemático e diretor de Aquisição e Alienação de Participações da Caixa Econômica Federal. “Isso ocorre, primeiro, porque somos poucos e, segundo, porque a maioria dos cursos de graduação em matemática são licenciaturas. Isso ocasiona um ciclo que privilegia a docência, que é importante, mas não é a única possibilidade”, ressalta. [...] A formação em matemática dispõe de dois caminhos: licenciatura e bacharelado. O primeiro é para lecionar para alunos de ensinos fundamental e médio. O segundo é ideal para os que se encantam com as soluções da matemática para problemas concretos da humanidade. Durante o bacharelado, o profissional se aprofunda nos temas da disciplina, estudando equações diferenciais, inteligência artificial e algoritmos. Ambos os caminhos possibilitam tornar-se pesquisador ou professor do ensino superior, caso dê continuidade aos estudos com pós-graduações. Coordenador de graduação em matemática na Universidade de Brasília (UnB), Yuri Dumaresq afirma que, independentemente da área, o profissional deve estar apto às soluções matemáticas. “Isso é o que ele, de fato, fará dentro de uma organização. Ao se deparar com a questão, a pessoa deve encontrar a melhor forma de resolvê-la.” 2


Pouca procura A falta de conhecimento sobre as possibilidades da área tem acarretado em diminuição na procura por cursos superiores na procura pelo curso de graduação. [...] Outra preocupação é a migração de curso. Janete Gamboa, professora de matemática da UnB e mestre em matemática pura, explica que, durante a graduação, é comum haver desistência e trancamento tanto em disciplinas quanto no curso em si. “Tiro conclusões pelos meus ex-alunos. Muitos ficam desmotivados”, ressalta. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), há mais de 95 mil matrículas em cursos de licenciatura em matemática. [...] Entre 2010 e 2015, a taxa de permanência no curso caiu de 85,1% para 12,6%, enquanto a de desistência subiu de 12,6% para 55,8%. A taxa de conclusão foi a única com resultados positivos, passando de 2,3% para 31,7%. Isso tudo num cenário de carência: metade dos professores do ensino básico ministra aulas sem formação específica.

Desconhecimento Os empregadores também ignoram o potencial dessa mão de obra. “Muitas empresas simplesmente não sabem onde encaixar um matemático, justamente por não saber no que ele pode contribuir”, destaca Dumaresq. Trata-se de um desconhecimento histórico, avalia ele. “Já está consumado na cabeça das pessoas quais são as possíveis funções desse profissional. Não passa pela cabeça dele que ele poderia atuar numa indústria.” [...]

Competências exigidas pelo mercado De professor [a] presidente A especialização em matemática foi um dos fatores primordiais para José Raimundo Braga, 75 anos, chegar à presidência da Agência Espacial Brasileira (AEB). Na instituição, ele coordena, supervisiona e administra todas as ações. “Utilizo muito o argumento da lógica, pois, para construir qualquer coisa, é preciso utilizar a razão. Para tomar decisões, não posso dispensar a matemática”, destaca. Embora a graduação seja em física pela Universidade Federal do Ceará (UFC), o mestrado em matemática foi um complemento essencial. “Sem saber matemática, eu não progrediria na física. Então acabei descobrindo que os números não são necessários apenas para os físicos, mas para tudo na vida”, diz. “Por exemplo, se você quer ser administrador, precisa saber calcular”, completa. Antes de trabalhar na AEB, José foi professor de matemática na Universidade de Brasília (UnB), de 1967 a 1985. Entre outras experiências, foi membro do comitê que criou o Instituto Politécnico do Rio de Janeiro (IPRJ), gerente sênior no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e diretor de planejamento da Agência Reguladora de Água e Saneamento do Distrito Federal (Adasa). Segundo ele, tudo graças à matemática. “Em todos os lugares, trabalhei com argumentos e números. Atuei em áreas distintas e com sucesso utilizando a matemática”, comenta.

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Para ser pesquisadora Aluna do quarto semestre do bacharelado em matemática da UnB, Bárbara Guena, 19 anos, deseja trabalhar como pesquisadora em economia matemática. A atuação como docente é algo que a jovem não cogita [...]. “Há diferentes perspectivas de carreira, e a que eu quero me possibilitará a chance de me aprofundar no conteúdo, entender o porquê das coisas”, diz. A estudante participa do Programa de Educação Tutorial (PET/UnB), que incentiva os alunos a compreender a área de estudos com densidade, estimulando a interdisciplinaridade, a atuação coletiva, o planejamento e a execução, por meio de uma variedade de atividades. Para ela, o PET foi um dos incentivos para seguir carreira matemática fora da docência. “Você passa a ter outro olhar para a graduação. Acho que o programa contribui e dá a oportunidade de você ter experiência com todos os lados do campo”, destaca. Na visão de Bárbara, os matemáticos que atuam em áreas não convencionais podem contribuir positivamente para que uma organização tenha mais lucros. “O avanço tecnológico proporciona maior produtividade, pois minimiza o tempo que se leva para fazer as coisas, e os matemáticos são muito úteis para aplicação dessas inovações”, defende. [...]

De assistente a analista de inteligência de mercado Foi em 1993 que Esmeralda Alves, hoje com 44 anos, tornou-se assistente administrativa em aluguel de veículos na empresa Brasal Refrigerantes. Em 1998, ela se formou em administração [...] e garantiu a vaga de secretária executiva na mesma empresa, no qual permaneceu por 10 anos. Mas o receio do comodismo na carreira fez com que a administradora mudasse completamente de área. “Sempre gostei de trabalhar como secretária, mas chegou um momento em que precisei abrir meus horizontes e buscar outras formas de trabalho.” Foi com essa expectativa que Esmeralda ingressou em uma graduação em matemática. “Costumo dizer que me formei nesse curso por hobby. Percebi que gostava de números ainda no curso de administração e já sabia que queria atuar nisso”, diz. Seis meses após sua formatura, a Brasal Refrigerantes abriu processo seletivo para funcionários formados em matemática. O programa Trilha do Conhecimento envolvia etapas como testes práticos, entrevistas e resolução de problemas, buscando um profissional para preencher a vaga de analista de inteligência de mercado. “Vimos que a Esmeralda estava em busca de alternativas na carreira profissional. Pelo fato do potencial, a escolhemos”, esclarece a coordenadora de inteligência de mercado da empresa. No setor em que atua, ela é responsável por definir metas para a previsão de vendas, acompanhar o desempenho dos produtos no mercado e gerenciar contratos. “Lido com algoritmos 24 horas por dia, mas também faço o raciocínio lógico. Vejo que o papel do matemático em uma empresa é fundamental [...]. Hoje em dia, toda instituição precisa de um profissional assim”, explica. [...] DIOGO, Darcianne. Novas perspectivas de carreira na área de matemática. Correio Braziliense, Brasília, 2 dez. 2018. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ eu-estudante/tf_carreira/2018/12/02/tf_carreira_interna,722799/matematico-fora-desala-de-aula.shtml>. Acesso em: 4 fev. 2019.

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CONHEÇA A OPINIÃO DE QUEM ESTUDA O ASSUNTO.

Matemática profissional Maria Fernanda Martini

A

O período de escolha de qual caminho seguir após o Ensino Médio pode ser muito estressante.

o chegar o momento de escolher um curso universitário e, por consequência, uma profissão, é raro conhecermos alguém que se decida por uma faculdade de Matemática. Um pensamento comum é o de que não há um futuro diferente do que se tornar professor de Matemática. Contudo, esse pensamento é totalmente equivocado. É certo que existe grande demanda por professores dessa área, mas simultaneamente o mercado de trabalho tem buscado profissionais de Matemática para atuarem em várias profissões. Nas palavras da professora Katia Smole, autora da Editora FTD, “o professor de Matemática que reflete constantemente a respeito de sua prática e da aprendizagem dos seus alunos pode achar respostas mais interessantes para ajudar seus alunos a saberem mais matemática porque está sempre olhando para sua aula como um campo aberto a novas propostas, à busca de soluções para problemas diversos”.

O matemático que se dedica à docência deve planejar e executar aulas para os estudantes, participando do processo ensino-aprendizagem. Esse profissional tem o papel de transmitir conhecimento em uma linguagem simples, além de avaliar as dificuldades e êxitos dos estudantes.

Os caminhos que os matemáticos podem percorrer são diversos: eles podem ser pesquisadores ou especialistas em uma área. Há até profissionais que se dedicam ao estudo para a resolução de um dos sete “problemas do milênio”, famosas proposições matemáticas de difícil resolução. Pensando nisso, um empresário estadunidense, Landon T. Clay (1926-2017) criou uma organização sem fins lucrativos “dedicada a aumentar e disseminar o conhecimento matemático” que, em 2000, lançou a campanha para premiar com US$ 1 milhão a resolução de cada um dos problemas. Dos sete problemas do milênio, um deles – a conjectura de Poincaré – foi resolvido 5


pelo matemático russo Grigori Perelman (1966- ) que se recusou a receber o prêmio duas vezes em 2010 e também se recusou receber a medalha Fields, em 2006, pela resolução do mesmo problema (essa medalha é considerada o prêmio Nobel da Matemática). Entre as áreas de atuação do matemático, estão a economia, a TI, a medicina, as engenharias, a administração de empresas, o agronegócio e a produção industrial. Um exemplo de atuação na área industrial é como designer de produtos, em que se pode realizar estudos para otimizar forma e funcionalidade de embalagens, por exemplo. O matemático pode atuar em áreas ligadas à Tecnologia da Informação (TI), como no desenvolvimento de softwares, criação de algoritmos, games, inteligência artificial e realidade virtual, entre outras subáreas da TI. Na produção de bens de consumo, o matemático pode cuidar do gerenciamento de cadeias de suprimentos e modelar sistemas de produção. 6Uma das funções do designer de produtos é a execução de testes e simulações da funcionalidade dos produtos, otimizando-os.

O profissional da Matemática que se dedica a ciências computacionais cria algoritmos para softwares e também traduz modelos matemáticos para a linguagem computacional.

Otimizar os processos de produção para evitar desperdícios e gerenciar a cadeia de suprimentos também são soluções que os matemáticos devem apontar na área de produção.

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O matemático pode atuar, também, na biomatemática, aplicando os conceitos matemáticos à Biologia, com uma tradução dos fenômenos biológicos para a linguagem matemática ou uma modelagem matemática que auxilie a desenvolver padrões, estatísticas de população, dados de controle ambiental e análise de exames por imagem. Pode, ainda, atuar no gerenciamento ambiental, criando modelagens matemáticas para minimizar danos ao ambiente causados por produtos ou pelos processos industriais. Outra área que pode ser explorada profissionalmente pelos formados em Matemática é a do mercado financeiro, afinal fazer projeção de riscos, cálculo de probabilidades, juros percentuais e demais tratos com os números é a ocupação principal de um matemático. O profissional de Matemática pode atuar em áreas relacionadas à Biologia, como análise de exames por imagens.

O gerenciamento ambiental pode ser outra frente de trabalho de um matemático. Nele, esse profissional cria modelagens com o intuito de auxiliar decisões a respeito de produtos ou processos que causam danos ao ambiente.

Quando voltado para a área da economia, o matemático otimiza o gerenciamento de investimentos e faz modelagem de produtos financeiros.

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A área editorial está sempre à procura de bons profissionais da Matemática que podem se dedicar à autoria e à edição, entre outras etapas da produção editorial. Nessa área, além dos conhecimentos específicos de Matemática e Didática, os conhecimentos de escrita e formas de comunicação são essenciais para que o matemático tenha sucesso e seja reconhecido.

Vida de autor Um dos profissionais mais requisitados no mercado é o autor de livros didáticos. No Sistema de Ensino da Editora FTD, contamos com excelentes parceiros que, antes de serem autores, são professores muito competentes. Leia no destaque o depoimento de Lafayette Spósito Goyano Jota, um desses nossos colaboradores.

Em uma editora, o matemático pode participar de todas as etapas de elaboração dos originais de um livro: autoria, edição, revisão e leitura técnica e crítica de textos matemáticos.

Antes de receber o convite para escrever pela primeira vez para o FTD Sistema de Ensino, eu era exclusivamente professor. De repente, tornei-me um professor-autor. Com o ato de “escrever matemática”, percebi que sala de aula e autoria se complementam perfeitamente. Um bom material nasce de uma boa experiência didática. Levo para os livros que escrevo as vivências que tenho em sala de aula − as dificuldades que sinto estampadas no rosto dos estudantes, a forma com que aprendem e, principalmente, como ser um facilitador do aprendizado. Em cada tópico que escrevo, esforço-me sempre para ter consciência do que os estudantes precisam, de fato, aprender, e também quais atividades são necessárias para que eles se sintam seguros quanto ao conteúdo aprendido. O mercado editorial é uma excelente carreira por si só, mas para mim é mais que isso: é o complemento perfeito para a profissão de professor. Escrever possibilita-me ser um professor melhor, e ser um bom professor permite-me escrever melhor.

Prof. Lafayette Jota é engenheiro eletrônico com especialização em computação pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e é também licenciado em Matemática pela Universidade Católica de Brasília (UCB).

Pensar no educador trabalhando os conhecimentos que estão na obra e os alunos aprendendo com o apoio do material é algo indescritível. Contudo, a atenção à produção de materiais didáticos, livros ou quaisquer outros tipos de publicação deve ser enorme; afinal, assim como o docente que vai usar o material e auxiliar os estudantes durante o processo de ensino-aprendizagem, imprecisões ou erros podem prejudicar o processo como um todo. Maria Fernanda Martini é graduada e especialista em Matemática pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com curso de extensão na Cord Headquarters, Waco, Texas. Docente há mais de 20 anos, escreveu e editou diversos materiais didáticos destinados à Educação Infantil, ao Ensino Fundamental e ao Ensino Médio. 8


1.  Você já tinha o conhecimento de que o profissional de Matemática poderia atuar em tantas áreas distintas? Como você recebeu essa informação? HORA DE ARTICULAR SUAS IDEIAS

2.  Matemática aplicada à Biologia, a Biomatemática está nas reações bioquímicas, interações entre espécies, enfim, na natureza.

Uma das aplicações da Matemática na Biologia, ou seja, a Biomatemática, é descrever como acontece a relação entre variáveis, sejam elas controláveis ou não. Um exemplo de aplicação é o cálculo da dosagem de antibiótico na corrente sanguínea de um paciente, por quanto tempo esse medicamento atua no corpo e qual deve ser o intervalo entre as doses. Baseando-se nessa informação, que aplicações práticas na área biológica você acredita que possam ser feitas utilizando a Matemática como ferramenta? 3.  Para autoria, edição ou leitura crítica de materiais didáticos, livros ou textos quaisquer, o gosto pela leitura deve ser entendido como principal requisito para se trabalhar nessas áreas. Além dessa característica, quais outras observações você pode fazer a respeito desses trabalhos? O que mais lhe chamou atenção sobre a profissão de editor e autor de materiais didáticos?

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Os números da Matemática no Ensino Superior pal inci tura O pr icencia res. o da l ucad foco mar e d r é fo

O bacharelado é um curso superior de caráter generalis ta.

Ingressantes do curso de bacharelado em Matemática

Ingressantes do curso de licenciatura em Matemática 47 594

2017 29 622

2010

2010

Concluintes do curso de licenciatura em Matemática 2017 2010

3 724

2017

10 730 9 056

Instituições brasileiras que oferecem curso de licenciatura em Matemática Particulares 157 Públicas 146

2 220 Concluintes do curso de bacharelado em Matemática

2017

748

2010

516 Instituições brasileiras que oferecem curso de bacharelado em Matemática

Particulares 10

Públicas 88

Elaborado com base no Censo da Educação Superior. Inep/MEC 2017. Disponível em: <http://inep.gov.br/censo-daeducacao-superior>. Acesso em: 4 fev. 2019.


SUGESTÕES DE RESPOSTAS DO EDITORIAL

1.  Resposta pessoal. É provável que os alunos já tenham alguma informação, mas certamente não sabiam que eram tantas as áreas de atuação de um matemático. Espera-se que essas informações esclareçam os alunos na escolha dessa profissão, pois o texto mostra como pode ser empolgante e gratificante trabalhar nessa área. 2.  Possível resposta: Relação ecológica organismo-clima. Para subsidiar a resposta, acesse: LOULA, Angelo C. et. al. Modelagem ambiental em um jogo eletrônico educativo. Rio de Janeiro, 2009. Texto apresentado no VIII Brazilian Symposium on Games and Digital Entertainment. Disponível em: <https://www. sbgames.org/~sbgameso/papers/sbgames09/culture/full/cult20_09.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2019. 3.  Independentemente da área de atuação, quer seja como autor, editor ou leitor técnico, é importante que esse profissional tenha o domínio da língua portuguesa. Um diferencial que se espera é que também seja conectado com pesquisas recentes na área da Matemática e que consiga relacionar o saber acadêmico com as situações do dia a dia.

Conteúdos abordados: • Bacharelado; • Licenciatura; • Ramos da Matemática.

O Articulação MT tem como objetivo discutir temas relevantes com base na Matemática e suas Tecnologias. Os conteúdos abordados são analisados à luz dessa ciência, contudo ela não é condição prévia indispensável para a compreensão dos temas. O Articulação MT visa estimular o interesse pela Matemática, a fim de que os estudantes a percebam nos fatos noticiados, despertando, assim, o gosto pela aquisição de novos conhecimentos.

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FEVEREIRO | 2019  EDIÇÃO NO 1

M AT E M ÁT I C A

Diretor de conteúdo e negócios Ricardo Tavares de Oliveira Diretor editorial adjunto Cayube Galas Gerente editorial Júlio César D. da Silva Ibrahim Editora Denise Favaretto Editores assistentes Alterson Cação Ana Olívia Ramos Pires Justo Fernando Manenti Santos Gerente de produção editorial Mariana Milani Coordenador de produção editorial Marcelo Henrique Ferreira Fontes

Coordenadora de preparação e revisão Lilian Semenichin Supervisora de preparação e revisão Adriana Soares Preparadora Ana Lúcia P. Horn Revisora Simone Keiko Shimabukuro Supervisora de iconografia e licenciamento de textos Elaine Bueno Pesquisa Marcia Trindade Coordenadora de ilustrações e cartografia Marcia Berne Gerente de arte Ricardo Borges Coordenadora de arte Daniela Máximo Supervisor de arte Fabiano dos Santos Mariano Projeto gráfico Bruno Attilli Editor de arte Francisco Lavorini

Créditos das imagens: p1. PR Image Factory/Shutterstock.com, p2. rassco/Shutterstock.com, p5. LStockStudio/Shutterstock.com, Monkey Business Images/Shutterstock.com, p6. Stock-Asso/Shutterstock.com, Mr.Whiskey/Shutterstock.com, industryviews/Shutterstock.com, p7. Fancy Studio/Shutterstock.com, Wanna Thongpao/Shutterstock.com, PR Image Factory/Shutterstock.com, p8. Acervo da Editora, Acervo pessoal, Acervo pessoal, p9. ldutko/Shutterstock.com, p10. STILLFX/Shutterstock.com.

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FEVEREIRO | 2019  EDIÇÃO No 1

LINGUAGENS

Realizar atividades físicas é necessário para se ter uma boa saúde e qualidade de vida. No entanto, falta tempo para a prática, principalmente nas grandes cidades, e o fator socioeconômico está diretamente ligado a esse índice.


Menos de 40% dos brasileiros praticam esporte ou atividade física O QUE FALAM SOBRE O ASSUNTO DESTA EDIÇÃO?

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enos de 40% dos brasileiros costumam praticar algum tipo de esporte ou atividade física. É o que revela a pesquisa Práticas de Esporte e Atividade Física, da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2015, do IBGE. […] A pesquisa observou que pessoas com mais renda e mais escolarizadas praticam mais esportes e outras atividades físicas. Enquanto 17,3% das pessoas que não tinham instrução faziam exercício, entre as que possuíam ensino superior completo o percentual chegava a 56,7%. Entre as pessoas […] na classe de sem rendimento, 31,1% praticavam atividades físicas ou esportes, enquanto que na classe de 5 salários mínimos ou mais o percentual era de 65,2%. “Isso reflete o cenário social e econômico do Brasil. A maior parte da população demora para ir e voltar do trabalho, e de fato tem pouco tempo livre. As mulheres ainda têm que trabalhar dentro de casa”, diz Luciana Lopes, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. […] FRANCO, Luiza. Menos de 40% dos brasileiros praticam esporte ou atividade física. Folha de S.Paulo, 17 maio 2017. Equilíbrio e Saúde. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ equilibrioesaude/2017/05/1884820-menos-de-40dos-brasileiros-praticam-esporte-ou-atividade-fisica. shtml>. Acesso em: 29 jan. 2019.

A educação física escolar na adoção de um estilo de vida ativo

M

uito tem sido dito a respeito dos benefícios que atividade física poderia provocar sobre a saúde. Um grande número de estudos mostra que é possível reduzir a incidência de doenças ou aumentar a expectativa de vida em populações que praticam regularmente exercícios físicos (PALMA, 2001). Com base nessa relação positiva entre exercício e saúde surge, em meados da década de [19]80, o movimento da “Aptidão Física Relacionada à Saúde” (AFRS) para a educação física escolar. Esse movimento, que advoga a ideia de aptidão física para toda a vida e a construção de estilos de vida nas pessoas, visa contribuir para a melhoria da saúde e da qualidade de vida da população. Embora esse movimento possa ser considerado um avanço em relação ao que vem sendo ensinado na educação física escolar, existem alguns pontos a serem melhorados, como a abordagem de aspectos de fundamental importância para a adesão ao exercício físico, como os socioeconômicos e os conteúdos ensinados na educação física escolar (FERREIRA, 2001). […] 2


O fator socioeconômico também é muito importante nesta marcha para adoção de um estilo de vida ativo (FERREIRA, 2001). Imaginemos um cidadão ou uma cidadã, residente na periferia de um grande centro urbano, que diariamente acorda às 5 horas para trabalhar, enfrenta em média 2 horas de transporte público, em geral lotado, para chegar às 8 horas ao trabalho. Termina o expediente às 17 horas e chega em casa às 19 horas para, aí sim, cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos, do marido ou da esposa, do jantar e etc. Como dizer a essa pessoa que ela deve praticar exercícios, pois é importante para sua saúde? Como ela irá entender a mensagem da importância do exercício físico? A probabilidade de esta pessoa praticar exercícios físicos regularmente é significativamente menor que a de pessoas com níveis econômicos e culturais mais elevados (FERREIRA, 2001). Os defensores da AFRS entendem que, se as pessoas que se encontram nesta situação tivessem tido acesso a uma educação física escolar de boa qualidade, entenderiam a importância de se praticar atividade física regularmente, com o objetivo de prevenir doenças relacionadas ao sedentarismo como: diabetes mellitus tipo II, hipertensão, obesidade, sem falar na melhoria da qualidade de vida (FERREIRA, 2001). Ferreira acredita que, se os alunos de educação física tivessem em seu conteúdo programático temas como fisiologia, biomecânica, anatomia e nutrição, eles teriam autonomia para buscar alternativas para mudar este quadro. […] TELLES, Silvio. A educação física escolar na adoção de um estilo de vida ativo. Centro Esportivo Virtual. Disponível em: <http://cev.org.br/biblioteca/a-educacaofisica-escolar-adocao-um-estilo-vida-ativo>. Acesso em: 29 jan. 2019.

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CONHEÇA A OPINIÃO DE QUEM ESTUDA O ASSUNTO.

A consciência corporal com recorte social

Luis Gustavo Santana Portugal

Prática de dança em parque a céu aberto.

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otidianamente, observamos que os ideais acerca do corpo humano estão presentes nos espaços públicos, nos discursos e na publicidade. Além disso, empresas e pessoas que comercializam a saúde vendem suas ideias e seus produtos baseadas em informações muitas vezes conflitantes. Alguns comportamentos são incorporados ao repertório das ações e das conversas em cada comunidade, o que induz grande parcela da sociedade a acompanhar o comportamento “da moda” resultante de um efeito manada – seguir atitude ou comportamento, única e exclusivamente porque a maioria o faz. Para além da estética, a saúde tem lugar central nessa discussão. A prática de uma modalidade esportiva, assim como realizar exercícios, fazer dieta e emagrecer, nem sempre tem como motivos a busca de uma saúde melhor, lazer ou prazer. Mas praticar atividades físicas é mesmo tão importante? Sem muitas voltas: sim. Fazer uma atividade física é diferente de praticar esporte. Basicamente, ao praticar uma modalidade, com regras definidas (sem poder modificá-las), estamos fazendo esporte. Em contrapartida, a atividade física não requer um regulamento; é livre, pode ser realizada na rua, no parque, com ou sem equipamentos esportivos e até mesmo dentro de casa. A Organização Mundial da Saúde (OMS) realizou, em 2015, um levantamento das dez doenças que causam mais mortes no mundo, sendo três delas – acidente vascular cerebral, hipertensão arterial e diabetes – diretamente relacionadas com a obesidade. Segundo o Ministério da Saúde, 56,9% dos brasileiros com 18 anos ou mais estão obesos. Na maioria dos casos, resultado do sedentarismo e de maus hábitos alimentares. 4


PRATICANTE DE ATIVIDADE FÍSICA SEDENTÁRIOS 28,5% 45,9% 25,6% PRATICANTE DE ESPORTES

Sedentarismo por faixa etária de 15 a 19 anos

28,5%

de 20 a 24 anos

38,1%

de 25 a 34 anos

40,7%

de 35 a 44 anos

46,4%

de 45 a 54 anos

53,5%

de 55 a 64 anos

56,5%

de 65 a 74 anos

64,4%

Você recebeu a orientação de algum instrutor? ESPORTES SIM

9,7%

Atividades físicas NÃO

SIM

90,3%

NÃO 28,3%

71,7%

O Ministério do Esporte, por meio do último Diagnóstico Nacional do Esporte – Diesporte, pesquisa que coletou informações sobre práticas esportivas e atividades físicas relativas a 2013, identificou que, quanto maior a idade, maior o sedentarismo. No Brasil, 45,9% da população está sedentária. Nesse mesmo estudo, os pesquisadores também analisaram se os sedentários tinham consciência dos riscos da condição sedentária e constataram que 16,9% não tinham essa noção e, por isso, não praticavam atividade física/esportes; 35,7% tinham consciência, mas não demonstravam esforço para a prática. Em relação à prática realizada com orientação de um profissional, apenas 9,7% (esportes) e 28,3% (atividades físicas) dos entrevistados responderam positivamente. Outro ponto que deve ser discutido é se a diferença socioeconômica tem influência sobre os níveis de prática de atividades físicas. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Pnad, estudo realizado pelo IBGE em 2015, analisou os dados percentuais de pessoas com 15 anos ou mais que praticaram alguma atividade física ou esporte no período. Os resultados evidenciam que, quanto maior o grau de instrução, maior o percentual de praticantes de atividade física/ esportes. Além disso, quanto maior a renda, maior o percentual de praticantes. Ora, mas então quem não tem dinheiro não pratica exercícios? Não é bem assim. O acesso à informação foi ampliado consideravelmente nas duas últimas décadas. Com isso, o apelo publicitário e as tendências estéticas levaram uma grande massa, com ou sem dinheiro, a querer ter um corpo considerado “ideal”. Porém, a saúde – o que verdadeiramente deve importar – fica em segundo plano. Em 2017, uma empresa chamada Le Fil realizou um estudo constatando que a preocupação com o corpo ideal (perspectiva estética) supera a preocupação com a saúde. O trabalho avaliou 495 menções a termos como “dieta”, “vida saudável”, “atividade física” em redes sociais. Do total de menções selecionadas pelo estudo, 56% tinham relação com o corpo. As menções à saúde totalizaram 32%. 5


Levando em consideração esses dados estatísticos sobre o perfil brasileiro, por que as classes sociais menos abastadas aparecem com resultados menos expressivos considerando aspectos estéticos e a saúde como motivo da prática, se, de forma geral, o fator financeiro representa pouco mais de 30% de um total? Algumas possibilidades podem ser apontadas. O jovem de classe social menos favorecida geralmente precisa começar a trabalhar cedo e, muitas vezes, em situações desfavoráveis (acúmulo de dois empregos, informais, na maior parte dos casos). O tempo disponível fica realmente comprometido, o que dificulta destinar uma hora do seu dia para praticar exercícios. Considerando o tempo de deslocamento de casa para o trabalho (que, geralmente, são locais distantes para quem mora na periferia), o tempo de sono e ócio e o tempo para manutenção do lar, na melhor das hipóteses, sobrariam em torno de 10 horas para trabalhar. Será possível encontrar tempo para a prática de atividade física? Enquanto o trabalhador mais pobre precisa tentar transformar uma ação diária em atividade física, as classes sociais mais altas têm espaço em sua agenda para praticar exercícios físicos, sejam eles orientados ou não, pagos ou gratuitos. De toda forma, não podemos nos esquecer de que a locomoção, as ações no trabalho e manutenção da residência podem ser consideradas atividades físicas e nem sempre são incluídas nas pesquisas sobre o tema. Sabendo que toda história contada tem sempre mais de um ponto de vista, parece-nos evidente que existe uma série de fatores que podem levar à prática de atividade física em nosso cotidiano, porém, ao mesmo tempo, diversos motivos situacionais podem representar o contraditório, impedindo-nos de ter acesso à saúde e, consequentemente, qualidade de vida.

Luis Gustavo Santana Portugal é bacharel e licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de Juiz de Fora e especialista em Esporte e Atividade Física Inclusiva para Pessoas com Deficiência. Atualmente, é docente do programa de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Atua desde 1998 com desenvolvimento de projetos, capacitações e treinamentos de atletas paralímpicos em diversas instituições, entre as quais: Comitê Paralímpico Brasileiro, PUC Minas, Centro de Treinamento Esportivo da Universidade Federal de Minas Gerais, Sociedade de Amigos do Deficiente Visual de Minas Gerais e University of Illinois Urbana-Champaign (EUA).

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HORA DE ARTICULAR SUAS IDEIAS

1. Proponha estratégias possíveis para que uma pessoa em condições situacionais semelhantes às do sujeito mencionado no texto “A educação física escolar na adoção de um estilo de vida ativo” possa realizar atividade física/esporte durante a semana. 2. Considerando os textos lidos, existe alguma relação direta entre renda e prática de esportes e atividades físicas? E em relação à escolaridade? Por que isso ocorre? Justifique.

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nal IBGE. Pesquisa Nacio por Amostra de Domicílios (2015). s:// Disponível em: <http n/ r/e v.b .go ge .ib ae cn estrutura/natjurosestrutura/10-vam arnt co os m va ar/ cont recursos/9851ainformacoes-sobreesrte po es e-d pratica no satividades-fisica em: brasil.html>. Acesso . 19 20 11 fev.

Tem consciê ncia dos ris cos de uma vida se dentária?

27,7%

NÃO RESPO

NDEU

16,9%

N Ã O, NÃO TÊM CONSCIÊNCI AE POR ISSO N ÃO PRATICAM

35,7%

SIM, MAS NÃO DEMONSTRA M ESFORÇO PA RA PRÁTICA

12%

SIM, MAS NÃO GOSTAM D E PRATICAR ESPORTES E/ OU ATIVIDA DES FÍSICAS

27,2%

5,5%

SIM, MAS DIZEM QUE NÃO TE M CONDIÇÕES FINANCEIR AS PARA A PRÁ TICA

MINISTÉRIO DO ES Disponível em PORTE. Diagnóstico Nac ional do Esp : <www.espor orte (Diespor te.gov.br/die te). Prática sporte/2.htm de Esporte l>. Acesso em no Brasil. : 29 jan. 2019 .

SIM, MAS AFIRM AM QUE NÃO TÊ M TEMPO PARA A PRÁTICA


1. Estratégias como fazer o percurso para o trabalho/escola parcial ou totalmente a pé; descer um ou dois pontos de ônibus antes de chegar à residência; planejar a limpeza de casa para dias alternados; planejar atividades físicas em seu dia de descanso semanal, entre outras possibilidades. SUGESTÕES DE RESPOSTAS DO EDITORIAL

Conteúdos abordados: • Consciência corporal; • Prática de atividades físicas; • Recorte socioeconômico;

2. Há relação direta entre renda e prática esportiva. Quanto maior a classe social e, também, quanto maior a escolarização, maior a prática de atividades físicas. Esse é um paradigma lógico, pois a tendência é que maior escolarização reverta em maior renda. Sem recursos ou com recursos reduzidos, o cidadão depende de boas políticas públicas para que o trabalho produtivo esteja vinculado ao esporte ou que o tempo laboral lhe permita praticar atividades físicas incentivadas pelo empregador. O Articulação LCT tem como objetivo discutir temas relevantes com base em Linguagens, códigos e suas Tecnologias. Os conteúdos são abordados com base nas diversas linguagens corporais e artísticas, contudo o conhecimento prévio não é indispensável para a compreensão dos temas. O Articulação LCT almeja estimular nos estudantes o interesse pelas Linguagens através da ampliação do mundo que os cerca, despertando, assim, o gosto pela aquisição de novos conhecimentos.

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FEVEREIRO | 2019  EDIÇÃO No 1

LINGUAGENS

Diretor de conteúdo e negócios Ricardo Tavares de Oliveira Diretor editorial adjunto Cayube Galas Gerente editorial Júlio César D. da Silva Ibrahim Editora Vivian Kaori Ehara Editores assistentes Danielle Benfica Thiago Costa de Oliveira Gerente de produção editorial Mariana Milani Coordenador de produção editorial Marcelo Henrique Ferreira Fontes

Coordenadora de preparação e revisão Lilian Semenichin Supervisora de preparação e revisão Adriana Soares Preparadora Luciana Baraldi Revisora Carina de Luca Supervisora de iconografia e licenciamento de textos Elaine Bueno Pesquisa Márcia Trindade Coordenadora de ilustrações e cartografia Marcia Berne Gerente de arte Ricardo Borges Coordenadora de arte Daniela Máximo Projeto gráfico Bruno Attili Supervisor de arte Fabiano dos Santos Mariano Editor de arte Francisco Lavorini

Créditos das imagens: p1. Mauricio Simonetti/Pulsar Imagens, p2. oneinchpunch/Shutterstock.com, p3. Robert Kneschke/Shutterstock.com p4. Tramp57/Shutterstock.com, p5. Ministério do Esporte , Editoria de Arte, MAHATHIR MOHD YASIN/Shutterstock.com, p6. Luis Gustavo Santana Portugal, p7. MIKHAIL GRACHIKOV/Shutterstock.com, p8. Peter Hermes Furian/Shutterstock.com, Lyudmyla Kharlamova/Shutterstock.com, dastagir/Shutterstock.com, Ministério do Esporte, Editoria de Arte, IBGE/CDDI

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