Deslocados - Degustação

Page 1


D E S L O C A D O S D E S L O C A D O S

PaTrIck ochiENg

Copyright da edição brasileira © Editora FTD, 2024

Copyright © Patrick Ochieng, 2024

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Todos os direitos reservados à

EDITORA FTD.

Rua Rui Barbosa, 156 — Bela Vista — São Paulo — SP

CEP 01326-010 — Tel. 0800 772 2300 www.ftd.com.br | central.relacionamento@ftd.com.br

diretor - geral Ricardo Tavares de Oliveira

diretor de conteúdo e negócios Cayube Galas gerente editorial Isabel Lopes Coelho

editor Estevão Azevedo

editora - assistente Carla Bettelli

analista de relações internacionais Tassia R. S. de Oliveira coordenador de produção editorial Leandro Hiroshi Kanno preparadora Marina Nogueira

revisoras Lívia Perran e Kandy Saraiva

editora de arte Camila Catto projeto gráfico Estúdio Insólito ilustração de capa Arielle Martins

diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Ochieng, Patrick Deslocados / Patrick Ochieng; tradução de nina rizzi. − 1. ed. − São Paulo: FTD, 2024.

Título original: Displaced ISBN 978-85-96-04368-7

1. Ficção juvenil I. Título. 24-206289 CDD-028.5

Índice para catálogo sistemático:

1. Ficção: Literatura juvenil 028.5

Cibele Maria Dias − Bibliotecária − CRB-8/9427

D E S L O C A D O S D E S L O C A D O S

PaTrIck ochiENg

S U M A R IO S U M A R IO

Prefácio • 8

Deslocados • 12

Sobre o autor • 191

NiNguém deixa a PróPria caSa a meNoS que Seu lar SeJa

a Boca de um tuBarão

[…] -- w A rSan S hi r e

P R E FAC IO P R E FAC IO

Histórias têm o poder mágico de nos transportar para lugares distantes e nos conectar com pessoas cujas vidas podem ser muito diferentes das nossas. Por meio das narrativas, entendemos melhor o mundo e aprendemos a importância de aceitar e valorizar cada indivíduo.

Neste livro, você encontrará histórias ao mesmo tempo conhecidas e desconhecidas. Conhecidas porque as vivências experimentadas por Kimathi e sua turma são muito parecidas com aquelas que você vive no dia a dia, no intervalo da escola, nas confusões com os amigos, nas discussões com os familiares que parecem nunca entender o que você diz. E são também desconhecidas porque se passam em um lugar muito diferente do qual você vive: um campo de deslocados internos.

“Deslocados internos”? O que significa essa expressão? Se você já ouviu falar de refugiados, saiba que são conceitos semelhantes. Refugiados são aqueles que deixam seus países por medo, para escapar de guerras, violências, perseguições ou desastres naturais. São pessoas que fogem de sua terra natal e cruzam fronteiras para proteger

a si mesmas e às suas famílias. A única diferença entre refugiados e deslocados internos é que estes não cruzam fronteiras internacionais, eles buscam abrigo e proteção dentro de seu próprio país.

Essa é, infelizmente, a realidade de muitas pessoas ao redor do mundo. Hoje, há mais de 60 milhões de deslocados internos, vivendo entre a incerteza do passado (que os assombra diariamente) e a incerteza do futuro. Muito embora sejam tantos, não podemos nos esquecer de que são pessoas singulares, indivíduos únicos, com suas histórias, sonhos e desejos.

Neste livro, você conhecerá uma parte da vida de Kimathi ou, para nós que nos tornamos íntimos dele a cada página, apenas Kim, que precisa fugir com a mãe e a irmã para outra cidade para escapar dos violentos conflitos étnicos que atingiram o Quênia após o resultado das eleições presidenciais de 2007. Nascido e crescido no subúrbio de Eldoret, uma das maiores cidades do país, Kim compartilha conosco suas aventuras, pensamentos e as situações que vive no campo de deslocados internos para onde ele e a família são levados.

A palavra “deslocar” é formada pelo prefixo “des-” (negação) e o verbo “locar” (do latim locus, lugar). Deslocados vivem, portanto, um “não lugar”, uma “não existência”, um “não ser”. Kim apresenta um duplo deslocamento: uma busca geográfica para se salvar e uma busca existencial por pertencimento e identidade, típica da adolescência. Nesta história, ambas as buscas se confundem e se misturam. Assim, sua jornada nos mostra que um

caminho incerto não é um caminho errado e que, no fundo, em algum momento da vida, somos todos deslocados, geográfica ou existencialmente. Afinal, todos buscamos pertencimento, fugir de algo que nos machuca, encontrar lugares ou pessoas que nos protejam e ofertem o aconchego daquilo que chamamos de lar. Independentemente de quem somos ou de onde viemos, todos compartilhamos o desejo fundamental de amor, segurança e pertencimento.

Por trás de cada personagem deste livro, há uma história real de pessoas que tiveram de fugir de violências e perseguições, mas há também beleza, desejos e sonhos de paz e prosperidade. Kim e sua turma nos fazem lembrar do que dizia dom Helder Câmara: “Há criaturas como a cana: mesmo postas na moenda, esmagadas de todo, reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura”. Mesmo em uma situação extrema, Kim não deixa de cuidar daqueles que estão a seu redor e de entregar doçura a eles.

As pessoas retratadas nestas páginas enfrentam situações difíceis e, mesmo assim, encontram força e esperança para seguir em frente. Elas se apoiam e nutrem sentimentos mútuos de afeto e cuidado que as ajudam a suportar o peso das violências que sofreram. Kim, com sua história, nos convida a exercitar a empatia, o cuidado mútuo e a compaixão, ressaltando como até os gestos mais simples podem gerar mudanças significativas.

Kim e sua turma nos ensinam que lar é o lugar de onde não precisamos mais fugir e onde nos sentimos protegidos e, ao mesmo tempo, pertencentes. Ele encontrou pertencimento nas amizades, na companhia da mãe e da irmã, no

apoio de Raju, nas árvores do parque e nos livros. Foi daí que reuniu forças para perseverar. Tudo isso, para Kim, se tornou seu lar, pois, no fim das contas, lar é onde cessam nossas fugas.

Vivi e trabalhei por sete anos inteiros, de 2014 a 2020, com pessoas em situações iguais ou semelhantes às retratadas neste livro. Confesso a você, minha querida leitora e meu querido leitor, que é impossível passar por essa experiência e permanecer a mesma pessoa. O que vivenciei — e o que a história de Kim nos mostra — é um lembrete de nosso potencial para criar um mundo mais solidário e fazer a diferença, mesmo diante de grandes desafios. Então, desejo que, ao fim da leitura deste livro, você também já não seja mais a mesma pessoa que agora lê este prefácio.

Gabriel Bernardo da Silva

Mestre em Relações Internacionais e Políticas Públicas pela Universidade da Carolina do Norte/Universidade Duke. É operador de Direito Humanitário da Cruz Vermelha italiana, advogado e professor.

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.