Ganhou um nome quando atravessou o mar - Degustação

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Ganhou um nome quando atravessou

Silviane Scliar Sasson

Copyright © Silviane Scliar Sasson, 2024

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EDITORA FTD.

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iluStraçõES Danilo Zamboni

ProjEto gráfiCo E Diagramação Bloco Gráfico

DirEtor DE oPEraçõES E ProDução gráfiCa Reginaldo Soares Damasceno

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CiP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Sasson, Silviane Scliar

Ganhou um nome quando atravessou o mar / Silviane Scliar Sasson; ilustrações de Danilo Zamboni. — 1. ed. — São Paulo: ftD, 2024.

iSBn 978-85-96-04338-0

1. Literatura infantojuvenil i Zamboni, Danilo. ii. Título.

24-202829 CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático:

1. Literatura infantil 028.5

2. Literatura infantojuvenil 028.5

Cibele Maria Dias — Bibliotecária — CrB-8/9427 São Paulo — 2024

Ganhou um nome quando atravessou

Silviane Scliar Sasson

À minha família Scliar, em memória e homenagem a todos aqueles que, fugindo dos pogroms, tiveram a coragem de atravessar o mar para reconstruir suas histórias.

A todos aqueles que ainda emigram, em tantos cantos do mundo, e que nem sempre têm a sorte de vencer os oceanos.

A coleção de palavras

93 Posfácio

Uma nova vida ao atravessar o mar por Roberta Alexandr Sundfeld

99

Agradecimentos

105

Sobre a autora

107 Sobre o ilustrador

109

Um cardápio cheio de perguntas

As minhas melhores amigas se revezavam ou tiravam no par ou ímpar para decidir quem passaria o sábado na casa dos meus avós. Elas diziam que aquela era uma casa de avós de filme, como esses da sessão da tarde, com chaminé soltando fumaça e balanço no quintal. E era mesmo.

Clara tinha uma avó que já não lembrava o nome dos netos. Era uma senhora magrinha, que ficava horas sentada na cadeira de balanço, olhando longe pela janela alguma coisa que só ela parecia enxergar.

Tinha a mania de coçar sem parar o braço em que havia uns números tatuados. A minha amiga dizia que era uma tatuagem feia, triste. O avô da Clara tinha morrido na guerra. A avó estava viva, mas havia ficado assim, um pouco estranha, distraída do mundo. Já a avó da Bianca era muito divertida! Ela não gostava de ser chamada de vovó, preferia babe e dizia que era um segredinho só dela e das netas. Mas depois a gente descobriu que esse segredo era porque nem todo mundo sabia que babe também significa vovó, só que em iídiche, e assim ela podia mentir um pouco sobre sua verdadeira idade. O cabelo da babe era vermelho vivo, da cor do fogo,

e ela tinha realmente uma alegria quente, enfeitada com bijuterias espalhafatosas que ela mesma fazia ou comprava na feira hippie. Babe inventava maquiagens, fantasias e peças de teatro com música alta. Eu adorava ser convidada para dormir na casa da Bianca quando sabia que era a noite de ficarmos com a babe, mas a verdade é que ela não tinha cara nem jeito e nem cheiro de avó.

Ruth tinha apenas dois avôs. Um deles era barrigudo, tinha uma risada de trovão e sempre levava livros para colorir quando buscava a Ruthinha na saída da escola. O outro avô ela nunca encontrava, porque a família perdeu o contato quando ele se casou com outra mulher. Nunca entendi muito isso de “perder o contato” com alguém que você sabe exatamente onde mora. Mas era assim. As avós, a Ruthinha nunca conheceu. E é por isso que ela ganhou esse nome: uma homenagem à avó que também se chamava Ruth e que já tinha morrido quando a neta nasceu.

Almoçar na casa dos meus avós era um dos meus programas preferidos! Eu sempre chegava à casa deles com fome. Tudo que eu comia por lá tinha um sabor que eu podia reconhecer pelo cheiro, de olhos fechados, antes mesmo da primeira mordida.

O único problema é que para o meu avô não existia almoço com os netos sem um papo sobre o que a gente estava aprendendo na escola, principalmente em história e geografia. Vovô gostava de topônimos! Tinha uma mania estranha de perguntar o endereço das minhas amigas. Dizia que a gente não pode morar numa rua sem

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