GRACILIANO RAMOS
ilustrações de Hal Wildson
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Copyright das ilustrações © Hal Wildson, 2024
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ramos, Graciliano, 1892-1953
Vidas secas / Graciliano Ramos; ilustrações de Hal Wildson. — 1. ed. — São Paulo: FTD, 2024.
ISBN 978-85-96-04267-3
1. Ficção brasileira I. Wildson, Hal. II. Título. 23-184490
CDD-B869.3
Índice para catálogo sistemático:
1. Ficção: Literatura brasileira
B869.3
Cibele Maria Dias — Bibliotecária — CRB-8/9427
Nota ediTOrIAl
A presente edição tem como base a terceira edição de Vidas secas, publicada em 1952 pela editora José Olympio, do Rio de Janeiro. A primeira edição do livro é de 1938, um ano após Graciliano Ramos ter saído da prisão. A segunda edição é de 1947 e apresenta algumas correções feitas pelo autor em prova tipográfica do ano anterior. Em exemplar dessa edição, há ainda outras mudanças, que foram incorporadas na terceira edição e são as últimas alterações feitas pelo autor antes de sua morte, em 1953. Todas trazem a capa de Santa Rosa; apenas a primeira é diferente das demais.
Com a finalidade de estabelecer um texto fidedigno, o mais próximo possível do que foi fixado pelo autor em vida, cotejou-se a edição de 1952 com a anterior, de 1947, e com a posterior, de 1953. Contudo, a ortografia foi atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.
A escasSez da pAlavRA E DA realiDadE socIal
Por Rodrigo Jorge Ribeiro Neves
Doutor em estudos de literatura (literatura comparada) pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor de literatura brasileira na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
“Meu sonho é ser gente. Eu ainda não sei o que é isso”, desabafou Rosângela Sibele, às lágrimas, após deixar a prisão por furto de comida, em 2021. O motivo do delito foi a necessidade de alimentar os filhos. A declaração dolorosa dessa mulher que vive em situação de rua é reveladora de uma ferida profunda na sociedade brasileira. Quantas pessoas ainda sofrem com condições de extrema pobreza e fome, sendo forçadas a tomar decisões, muitas vezes controversas, para sobreviver ao menos por um dia? Quantas ainda se veem assim, sem se considerar gente, pois a elas são negados os direitos mais básicos para que tenham uma vida verdadeiramente digna?
Ao publicar, em 1938, Vidas secas, Graciliano Ramos nos coloca diante dessas e de outras questões fundamentais para a compreensão da sociedade brasileira. Não é impressionante o quão atual esse romance continua a se mostrar? Apesar de grandes avanços sociais em relação ao período em que o livro foi escrito, não podemos negar que muitas pessoas
sobrevivem como a mulher que furtou comida para dar aos filhos, sonhando talvez, como a cachorra Baleia, com “um mundo cheio de preás”, próspero, feliz e sem desigualdades. No entanto, ainda se veem como Fabiano: um bicho.
Em carta ao pintor Candido Portinari, de 18 de fevereiro de 1946, Graciliano comenta o impacto que o quadro Criança morta (1944) lhe havia causado desde a visita que fizera ao amigo. Nela, o escritor reflete sobre a relação entre arte e representação da realidade social, afirmando que as deformações presentes nas obras de Portinari, como apontavam os acusadores, já estavam, na verdade, na própria sociedade. Não havia como contorná-las. Era preciso exibi-las em sua brutalidade e crueza. E nisto consiste uma das concepções centrais da literatura de Graciliano Ramos: por meio de um trabalho com a própria linguagem, transpor a experiência já conhecida do autor.
Vidas secas conta a história de uma família do sertão nordestino em busca de um lugar onde con-