Esperança no morro azul

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Fernando Carraro

esperança no morro azul Ilustrações de Guilherme Lira



esperança no morro azul


Copyright © Fernando Carraro, 2021 Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à EDITORA FTD Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01326-010 – Tel. 0800 772 2300 www.ftd.com.br | central.relacionamento@ftd.com.br Diretor-geral Ricardo Tavares de Oliveira Diretor adjunto Cayube Galas Gerente editorial Isabel Lopes Coelho Editores assistentes Bruna Perrella Brito e Bruno Salerno Rodrigues Colaborador de conteúdo Luiz Gonzaga de Almeida Coordenador de produção editorial Leandro Hiroshi Kanno Assistente de conteúdo Gabriela de Avila Líder de preparação e revisão Aline Araújo Preparadora Marina Nogueira Revisoras Giovanna Maria Navarro Liberal e Arali Lobo Gomes Editores de arte Camila Catto e Daniel Justi Projeto gráfico Camila Catto Diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Carraro, Fernando Esperança no Morro Azul / Fernando Carraro ; ilustrações de Guilherme Lira. — 1. ed. — São Paulo : FTD, 2021. ISBN 978-65-5742-305-9 1. Ficção - Literatura infantojuvenil I. Lira, Guilherme. II. Título. 21-62521

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura infantil 028.5 2. Ficção : Literatura infantojuvenil 028.5 Cibele Maria Dias — Bibliotecária — CRB-8/9427

CDD-028.5


Fernando Carraro

esperança no morro azul Ilustrações de Guilherme Lira

1a. edição

São Paulo – 2021


“Educar é fazer uma aposta e infundir no presente a esperança…” Papa Francisco Conferência do Pacto Educativo Global, 15 de outubro de 2020


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o engraxate o empresário

12 convite 16 o dia seguinte 19 conversa com a mãe 22 escola e crescimento 24 hora de retribuir 26 mãos à obra 28 aula inaugural

30 com a palavra, vinícius



o engraxate Vinícius é um garoto muito esperto e inteligente que sempre fala o que pensa. Morador da comunidade do Morro Azul, ganha uns trocados engraxando sapatos na praça perto de sua casa. O esforço de Vinícius para ajudar a mãe a pagar as contas da casa merece aplausos. Desde que o pai dele morreu, a família enfrenta problemas financeiros. Dona Eugênia, sua mãe, se divide entre cuidar dos três filhos e procurar “bicos” aqui e ali para pagar as contas. Alguns meses são mais fáceis, já outros… O problema é que Vinícius, com apenas 10 anos, deveria estar na escola, e não trabalhando. Mas o garoto insiste em ajudar a família fazendo o que sabe: engraxar sapatos. Tudo o que ganha, entrega à mãe.

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o empresário Antônio é um empresário bem-sucedido do ramo de roupas. Tem várias confecções no Brasil e, pouco tempo atrás, também passou a explorar o mercado estadunidense. Sua empresa instalou uma fábrica nos Estados Unidos, onde Antônio pensa em abrir outras unidades, porque os negócios estão indo muito bem por lá. O sucesso de Antônio se deve, em grande parte, à ótima formação acadêmica que recebeu. Além de oferecer um bom currículo, a escola em que estudou pensa na formação integral dos alunos, mostra a importância da solidariedade, da fraternidade, do respeito, da gentileza, da tolerância e do combate ao preconceito. É uma escola que ensina a pensar e a resolver problemas. Antônio sempre foi grato ao seu pai por ter escolhido uma escola tão boa para ele. E, como não poderia deixar de ser, é nela que seu filho, Tomás, também estuda. Um dia de manhã, Antônio acordou bem-disposto e foi até a padaria da praça buscar pão e leite, aproveitando para se exercitar um pouco. Ao atravessar a praça, foi surpreendido por um garoto carregando nas costas uma caixa de engraxate. — Senhor, vai uma graxa aí? — perguntou o simpático garoto, com um sorriso no rosto. — Hum… Estou com um pouquinho de pressa. Mas, se você for rápido, tudo bem! — falou o empresário. — É bem rápido, sim, e no capricho! — Então vamos lá! — respondeu Antônio, dando uma olhadinha de relance para o relógio. — E quanto é a graxa? — perguntou, procurando puxar conversa.

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— Dez reais — respondeu o garoto, contente por ter conquistado o primeiro cliente do dia. O menino se ajeitou com a caixa de engraxate e pediu ao cliente que colocasse o primeiro pé. Admirando a habilidade do garoto, que engraxava com gosto o sapato, Antônio perguntou: — Qual é o seu nome? — Vinícius. — O meu é Antônio. — Prazer, seu Antônio. — E quantos anos você tem? — Dez.


— Que coincidência. É a idade do meu filho, Tomás. Onde você mora? — Na comunidade do Morro Azul, com minha mãe e meus dois irmãos, menores do que eu. — Você não deveria estar na escola agora? — Sim, mas acontece que eu falto bastante. — Ah, é? Por quê? — Porque preciso trabalhar pra ajudar minha mãe… E também porque não gosto muito de estudar. — E por que você não gosta de estudar? — perguntou Antônio, com mais interesse. — Porque é muito chato e não me serve pra nada — foi falando Vinícius enquanto lustrava com um pedaço de flanela o primeiro sapato. — Escola só é boa pra filhinho de papai. Pra mim, é melhor trabalhar. — Vinícius, não é bem assim… — Olha, o senhor me desculpe, mas pra mim é, sim. Eu só preciso ganhar o meu dinheiro, ajudar minha mãe e meus irmãos, e nada mais.


— Você poderia tentar ver os estudos de outra maneira, Vinícius… Olha, eu estudei e tenho uma boa profissão. O estudo fez diferença na minha vida, me ajudou muito. Foram a escola e o estudo que me ajudaram a ser uma pessoa melhor, a tratar todos bem e até a ser um empresário bem-sucedido. Estudar pode ajudá-lo de muitas maneiras… — Mas prefiro continuar engraxando sapatos mesmo… — disse Vinícius, dando uma batidinha na caixa com a escova para o cliente mudar o pé. — Vinícius, frequentando a escola, você poderá escolher uma profissão e ajudar muito mais sua mãe. Quem sabe não pode até comprar uma casa bem grande para ela?! — Desculpe, seu Antônio, mas isso que você tá falando pode ser útil pra muita gente, mas não pra mim.

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convite — Você parece ser um menino muito inteligente, Vinícius. É uma pena que não goste de frequentar a escola e de estudar. Você deveria pensar melhor sobre isso, deveria estudar, sim. Olha, tive uma ideia! A escola em que eu estudei e onde meu filho estuda hoje é bem legal e muito bonita. E se eu conseguisse uma vaga lá para você? O que acha? Você aceitaria? — Não posso deixar de ajudar minha mãe… Dou o dinheiro pra ela fazer a feira e comprar o leite pros meus irmãos. — Sua atitude é muito bonita, Vinícius! Mas você está na idade de estudar. Se aceitar minha proposta, posso ajudar sua mãe enquanto você estuda. Pense bem, garoto. Se quiser, amanhã volto para falar com sua mãe… Quanto é mesmo a graxa? — Dez reais, mas pode me dar só cinco. Eu fui com a sua cara! — Tá bom. Tome aqui.

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Antônio deu ao garoto uma nota de cinquenta reais e virou as costas para ir embora. Vendo a nota, Vinícius falou: — Eu falei cinco, moço. Você me deu cinquenta. — É que eu também fui com a sua cara! — Antônio respondeu, sorrindo. — Então, obrigado! Esse dinheiro vai me ajudar muito. Os dois se despediram. Depois de horas sem conseguir mais nenhum cliente, Vinícius resolveu voltar para casa. — Por que voltou mais cedo, filho? Não conseguiu cliente hoje? — perguntou a mãe, passando um café. — Mãe, deixa eu contar uma coisa pra você… — falou todo afobado. — Pelo ar de felicidade estampado no seu rosto, só pode ser coisa boa! — É coisa boa, sim! Engraxei o sapato de um homem hoje e ele me pagou cinquenta reais pelo serviço.

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