O gato felix

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O GATO FÉLIX



coleção reinações de narizinho


1ª. edição

São Paulo – 2019


O GATO

FÉLIX ilustrações de

Veridiana scarpelli


Copyright © Editora FTD, 2019 Todos os direitos reservados à editora ftd s.a. Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP cep 01326-010 – Tel. (0-xx-11) 3598-6000 Caixa Postal 65149 – cep da Caixa Postal 01390-970 Internet: www.ftd.com.br E-mail: projetos@ftd.com.br Diretor de conteúdo e negócios Gerente editorial Editor Editora assistente Coordenadora de produção editorial Revisoras Consultoria geral Consultoria técnica Editor de arte Projeto gráfico e diagramação Diretor de operações e produção gráfica

Ricardo Tavares de Oliveira Isabel Lopes Coelho Estevão Azevedo Camila Saraiva Letícia Mendes de Souza Elisa Martins, Aline Araújo João Luís Ceccantini Emerson Tin, Hélio Guimarães e Milena Ribeiro Martins Daniel Justi Tereza Bettinardi Reginaldo Soares Damasceno

Esta edição tem como base a obra Reinações de Narizinho, primeiro volume das Obras Completas de Monteiro Lobato, Literatura Infantil, publicada pela Editora Brasiliense, em 1947, edição essa revista pelo autor. O texto da presente edição está em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa e também com a padronização da editora.

Monteiro Lobato (1882-1948) é reconhecido como um dos mais importantes escritores de livros para crianças. No dia do seu aniversário, 18 de abril, é comemorado o Dia Nacional do Livro Infantil. Além da vasta obra infantil, tem livros para adultos, em que se destacam contos e cartas. Foi ainda um tradutor infatigável, de escritores como Rudyard Kipling a filósofos como Bertrand Russell. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Lobato, Monteiro, 1882-1948. O Gato Félix / Monteiro Lobato; ilustrações de Veridiana Scarpelli. – 1. ed. – São Paulo: FTD, 2019. ISBN 978-85-96-02240-8 1. Contos – Literatura infantojuvenil I. Scarpelli, Veridiana. II. Título. 19-24483 Índices para catálogo sistemático: 1. Contos: Literatura infantil 028.5 2. Contos: Literatura infantojuvenil 028.5 Maria Paula C. Riyuso – Bibliotecária – CRB-8/7639

CDD-028.5


i.

A história do gato  7

ii. A história da Emília  25 iii. A história do Visconde  47 glossário  57 apresentando monteiro lobato por Fernando Paixão  58

Sobre a ilustradora 63



I. A história do Gato

N

arizinho não teve o gosto de salvar o Príncipe. Quando chegou ao ribeirão do pomar, já nada viu por ali. Certa de que ele se havia salvo a si próprio voltou correndo para casa, ansiosa por conhecer as aventuras do Gato Félix. Chegou, botou o Gato no colo e disse: — Você tem que me contar a sua vida inteirinha, sabe? — Pois não — respondeu o Gato. — Mas só sei contar histórias de noite. De dia perdem a graça. — Neste caso, vá dar um passeio e quando for de noite esteja aqui. O Gato saiu, passeou pelo Sítio inteiro, caçou três ratos e de noite voltou. Tia Nastácia acendeu o lampião da sala. Depois disse: — É hora, gente!

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Todos vieram postar-se em redor do ilustre personagem; Dona Benta sentou-se na sua cadeirinha de pernas serradas; Narizinho e Pedrinho sentaram-se na rede; Emília foi para o colo da menina. Até o Visconde de Sabugosa quis ouvir as histórias. Narizinho teve dó do coitado; espanou-lhe o bolor e botou-o num canto da sala, dentro duma lata — para que não sujasse o chão com aquele pó verde. Logo que todos se acomodaram, Emília disse: — Comece, seu Félix! E o Gato Félix começou. — Houve na França um gato muitíssimo ilustre, que era escudeiro do Marquês de Carabás, tão ilustre que não há no mundo inteiro criança que o não conheça. — Até eu! — gritou Emília. — Era o tal Gato de Botas!… — Justamente, menina. Esse famoso gato era o escudeiro do Marquês de Carabás. Fez coisas do arco-da-velha, como se sabe, até que se casou com uma linda gata amarela e teve muitos filhos. Esses filhos tiveram outros filhos. Estes outros filhos tiveram novos filhos, e veio vindo aquela gataria que não acabava mais até que nasci eu. — Que bom! — exclamou Narizinho. — Então você é bisneto ou tataraneto do Gato de Botas? — Sou cinquentaneto dele — disse o Gato Félix. — Mas não nasci na Europa. Meu avô veio para a América no

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navio de Cristóvão Colombo e naturalizou-se americano. Eu ainda alcancei meu avô. Era um velhinho muito velho, que gostava de contar histórias da sua viagem. Emília bateu palmas. — Conte, conte! Conte as histórias que ele contava. Conte como foi que o tal Colombo descobriu a América. O Gato Félix tossiu e contou. — Meu avô veio justamente no navio de Cristóvão Colombo, que se chamava “Santa Maria”. Veio no porão e durante toda a viagem não viu coisa nenhuma senão ratos. Havia mais ratos no “Santa Maria” do que pulgas num cachorro pulguento, e enquanto lá em cima os marinheiros lutavam com as tempestades, meu avô lá embaixo lutava com a rataria. Caçou mais de mil. Chegou a enfarar-se de

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rato a ponto de não poder ver nem um pelinho de camundongo. Afinal o navio parou e ele saiu do porão e foi lá para cima e viu um lindo Sol e um lindo mar e bem na frente uma terra cheia de palmeiras. — Então era o Brasil! — disse Emília. — Aqui é que é a terra das palmeiras com sabiá na ponta!… — Viu a terra cheia de palmeiras, e na praia uma porção de índios nus, armados de arcos e flechas, a olharem para o navio como se estivessem vendo coisa do outro mundo. Era a primeira vez que um navio aparecia por ali. — Imaginem se eles vissem o trem de ferro!… — observou Emília. — Colombo, então — continuou o Gato —, resolveu desembarcar e saber que terra era aquela, porque estava na dúvida se seria realmente a América ou outra. Entrou num bote e foi para a praia. Pulou do bote e chamou os índios.

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Os índios não se mexeram do lugar, mas o cacique deles criou coragem e adiantou-se e chegou perto de Colombo. — Meus cumprimentos — disse Colombo, com toda a gentileza, fazendo uma cortesia com o chapéu de plumas. — Bem-vindo seja! — respondeu o índio, sem tirar o chapéu, porque não usava chapéu. Colombo então perguntou: — Poderá o cavalheiro dizer-me se isto por aqui é a tal América que eu ando procurando? — Perfeitamente! — respondeu o índio. — Isto por aqui é a tal América que o senhor anda procurando. E o senhor já sei quem é. O senhor é o tal Cristóvão Colombo, não? — Realmente, sou o tal. Mas como adivinhou? — Pelo jeito! — respondeu o índio. — Assim que o senhor botou o pé na praia, senti uma batida na pacuera e disse cá comigo: É o senhor Cristóvão que está chegando, até aposto!

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