Historia soc 8

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Alfredo Boulos JĂşnior

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788520 003718

11539285

Sociedade & Cidadania

ISBN 978-85-20-00371-8

Alfredo

Boulos JĂşnior

Sociedade & Cidadania


Sociedade & Cidadania

Alfredo

Boulos

Júnior

Doutor em Educação (área de concentração: História da Educação) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mestre em Ciências (área de concentração: História Social) pela Universidade de São Paulo. Lecionou na rede pública e particular e em cursinhos pré-vestibulares. É autor de coleções paradidáticas. Assessorou a Diretoria Técnica da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – São Paulo.

São Paulo, 2015


Copyright © Alfredo Boulos Júnior, 2015 Diretor editorial Lauri Cericato Gerente editorial Silvana Rossi Júlio Editora Natalia Taccetti Editores assistentes Nubia Andrade e Silva, Gabriel Careta Assessoria Carolina Leite de Souza, Leonardo Klein, Thais Videira, Carolina Bianchini Gerente de produção editorial Mariana Milani Coordenadora de produção Marcia Berne Coordenadora de arte Daniela Máximo Projeto gráfico Juliana Carvalho Capa Alexandre Santana de Paula Foto de capa Escola Italiana. Séc. XIV. Iluminura. Biblioteca Nacional, Nápoles. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone Supervisor de arte Fabiano dos Santos Mariano Editor de arte Felipe Borba Diagramação Ponto Inicial Estúdio Gráfico Tratamento de imagens Eziquiel Racheti, Ana Isabela Pithan Maraschin Ilustrações e cartografia Ilustra Cartoon, Mozart Couto, Luís Rubio, Osnei, Pelicano, Rmatias, Alexandre Bueno, Allmaps, Renato Bassani Coordenadora de preparação e revisão Lilian Semenichin Preparação Líder: Sônia R. Cervantes. Preparadora: Lucila V. Segóvia Revisão Líder: Viviam Moreira. Revisores: Aline Araújo, Carina de Luca, Enymilia Guimarães, Fernando Cardoso, Iracema Fantaguci, Lívia Perran, Rita Lopes, Sônia Cervantes, Veridiana Maenaka Supervisora de iconografia Célia Rosa Iconografia Daniel Cymbalista, Graciela Naliati Diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Boulos Júnior, Alfredo História sociedade & cidadania, 8o ano / Alfredo Boulos Júnior. — 3. ed. — São Paulo : FTD, 2015. ISBN 978-85-20-00371-8 (aluno) ISBN 978-85-20-00372-5 (professor) 1. História (Ensino fundamental) I. Título. 15-04596 CDD-372.89 Índices para catálogo sistemático: 1. História : Ensino fundamental 372.89 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Envidamos nossos melhores esforços para localizar e indicar adequadamente os créditos dos textos e imagens presentes nesta obra didática. No entanto, colocamo-nos à disposição para avaliação de eventuais irregularidades ou omissões de crédito e consequente correção nas próximas edições. As imagens e os textos constantes nesta obra que, eventualmente, reproduzam algum tipo de material de publicidade ou propaganda, ou a ele façam alusão, são aplicados para fins didáticos e não representam recomendação ou incentivo ao consumo.

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à FTD EDUCAÇÃO. Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo-SP CEP 01326-010 – Tel. (11) 3598-6000 Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 www.ftd.com.br E-mail: ensino.fundamental2@ftd.com.br

Impresso no Parque Gráfico Editora FTD S.A. Avenida Antonio Bardella, 300 Guarulhos-SP – CEP 07220-020 Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375


APRESENTAÇÃO Caro aluno, Quero lhe dizer algo que para mim é importante e por isso gostaria que você soubesse: para que este livro chegasse às suas mãos, foi necessário o trabalho e a dedicação de muitas pessoas: os profissionais do mundo do livro. O autor é um deles. Sua tarefa é pesquisar e escrever o texto e as atividades, além de sugerir as imagens que ele gostaria que entrassem no livro. A essas páginas produzidas pelo autor damos o nome de originais. O editor e seus assistentes leem e avaliam os originais. Em seguida, solicitam ao autor que melhore ou corrija o que é preciso no texto. Por vezes, pedem que o autor refaça uma ou outra parte. Daí entram em cena outros trabalhadores do mundo do livro: os profissionais da Iconografia, da Arte, da Revisão e do Jurídico, entre outros. Os profissionais da Iconografia pesquisam, selecionam, tratam e negociam as imagens (fotografias, desenhos, gravuras, pinturas etc.) que serão aplicadas no livro. Algumas dessas imagens são os mapas, feitos por especialistas (os cartógrafos), e desenhos baseados em pesquisas históricas, feitos por profissionais denominados ilustradores. Os profissionais da Arte criam um projeto gráfico (planejamento visual da obra), preparam e tratam as imagens e diagramam o livro, isto é, distribuem textos e imagens pelas páginas para que a leitura se torne mais compreensível e agradável. Os profissionais da Preparação e Revisão corrigem palavras e frases, ajustam e padronizam o texto. A equipe do Jurídico solicita a autorização legal para o uso de textos de outros autores e das imagens que irão compor o livro. Todo esse trabalho é acompanhado pela Gerência Editorial. Em seguida, esse material todo, que é um arquivo digital, segue para a gráfica, onde é transformado em livro por técnicos especializados do setor Gráfico. Depois de pronto, o livro chega às mãos da equipe de Divulgação, que o apresenta aos professores, personagens que dão vida ao livro, objeto ao mesmo tempo material e cultural. Meu muito obrigado do fundo do coração a todos esses profissionais, sem os quais esta Coleção não existiria! E obrigado também a você, leitor. O autor


COMO ESTÁ ORGANIZADO SEU LIVRO?

Carlos Julião. Rei e Rainha negros na festa de Reis, c. 1776.

RicardoTeles/Pulsar

1

Cada unidade é iniciada com uma abertura em página dupla. Nessas aberturas são apresentados, por meio de imagens e textos, os temas que serão trabalhados.

3

Detalhe do mapa de Georg Marcgraf e Johanes Blaeus, c. 1647. O trabalho de arte é do pintor e gravurista Frans Post (1612-1680). Coleção Pedro Franco Piva, São Paulo.

Os primeiros tempos do território onde hoje é o Brasil foram tempos de dominação e de resistência.Tempos de dominação como se pode imaginar observando negros escravizados em um engenho,naartedopintorholandêsFransPost(fig.1).Masaquelestemposforamtambémtempos de resistência. E uma das formas de resistência dos escravizados que aqui viveram foi a Congada, bailado em que eles representavam, entre cantos, danças e o som ritmado de seus tambores, a coroaçãodeumreiourainhadoCongo,áreasituadanocoraçãodaÁfrica.Essasfestasdematrizafricanaimpressionaramartistasdostemposcoloniais,comoCarlosJulião(fig.2),econtinuampresentes em congadas (fig. 3), que ocorrem em várias partes do Brasil.

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UNIDADE 1 – DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

GrupodeCongadanaFestadeNossaSenhoradoRosáriodosHomensPretos.Serro(MG),2013.

11

UNIDADE 1 – DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

A SOCIEDADE MINERADORA

ABERTURA DE CAPÍTULO

MauricioSimonetti/Pulsar

3

2

FransPosteG.Marcgraf.c.1647.ColeçãoParticular

ABERTURA DE UNIDADE

DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

CarlosJulião.Séc.XVIII.Aquarela. BibliotecaNacional,RiodeJaneiro

UNIDADE

1

As aberturas dos capítulos propõem a discussão dos temas que serão trabalhados nas páginas seguintes.

Interior da igreja matriz de Nossa Senhora do Pilar, Ouro Preto (MG), 2006.

ParareprimirarevoluçãonoNordeste,D.PedroIconseguiu,juntoaosbanqueiros britânicos, um empréstimo de 1 milhão de libras e organizou poderosas forças militares,comandadaspeloalmirantebritânicoThomasCochrane(pormar)epelobrigadeiro Francisco de Lima e Silva (por terra). Emboracompoucasarmasesemnavios,osnordestinosresistiramquasedoismeses.Asforçasimperiais,principalmenteosmercenáriosbritânicos,cometerammuitas violênciasemRecife,matandopopulareseincendiandocasas,mesmodepoisdeterem vencido a guerra. Vários líderes rebeldes foram condenados à morte.

Para saber mais A execução de Frei Caneca O julgamento de Frei Caneca foi sumário; ele não teve direito à defesa e foi condenado à morte na forca. Havia, porém, um problema: na cidade de Recife ninguém queria ser o carrasco daquele homem tão querido e respeitado. Prometeram a liberdade a um escravizado se ele aceitasse ser o carrasco. Mas ele recusou a proposta. Usaram de violência. Ele resistiu. Os recifenses estavam inconformados; aglomerados, exigiam a libertação do frade. Temendo pelo desenrolar dos acontecimentos, as autoridades fiéis a D. Pedro I apressaram a execução. Frei Caneca foi fuzilado.

UNIDADE 1 – DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

As cenas acima integram a obra intitulada Revolução de 1824, do mundialmente famoso pintor e desenhista pernambucano Cícero Dias (1907-2003), 1983. Os títulos dessas cenas, da direita para a esquerda, são: Não há quem queira enforcá-lo. Frei Carlos pede silêncio. Execução de Frei Caneca. Cícero Dias trabalhou temas regionais, populares e históricos com grande sensibilidade, representando de forma criativa cenários e personagens do universo pernambucano.

O que é revolução? A palavra revolução é muito usada no nosso dia a dia: “Os celulares revolucionaram as comunicações”; “A vacina Sabin revolucionou a medicina”; “Os computadores revolucionaram o trabalho nas empresas”. O que todas essas frases possuem em comum é a ideia de uma grande mudança. Assim, toda vez que você ouvir a palavra revolução, pense sempre em mudanças que afetam a vida de milhares ou mesmo milhões de pessoas. Os computadores e os celulares, por exemplo, afetaram a vida pessoal e profissional de milhões de pessoas ao redor do mundo. As revoluções, no entanto, não ocorrem de uma hora para outra; resultam, geralmente, de processos lentos, que envolvem muitos fatores. Esse também foi o caso da Revolução Industrial.

PARA REFLETIR Uma seção que traz textos estimulantes sobre os conteúdos estudados e propõe a discussão sobre esses temas.

DIALOGANDO... Desafios propostos ao longo do texto para discutir imagens, gráficos, tabelas e textos.

Bettmann/Corbis/Latinstock

Para refletir

AlexMaloney/Corbis/Latinstock

50

Cícero Dias. Frei Caneca: Revolução de 1824. 1983. Painel. Casa de Cultura, Recife

Aimagem mostra o altar da igreja Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, cidade colonial mineira. Reparou quanto ouro? O ouro desta e de outras igrejas mineiras dá a impressão de que a sociedade mineradora foi rica e opulenta; mas será que foi isto mesmoqueaconteceu?OquesepodesabersobrearteereligiãonacapitaniadeMinas Geraisaoobservaressealtar?UmapequenapartedoouroextraídodasGeraisnoséculo XVIII está nas igrejas da região; e a maior parte do ouro mineiro, onde está? Quem o levou? Para onde?

192

PARA SABER MAIS Um quadro que apresenta informações extras sobre os conteúdos dos capítulos trabalhados.

Na foto acima, tirada em 18 de julho de 1967, no Brasil, o Dr.Albert Sabin pede ao menino Luiz Inácio Gama, de cinco anos, para que abra bem a boca a fim de ministrar-lhe a vacina oral contra a poliomielite, descoberta por ele.

Dialogando... Após uma revolução, muitas coisas mudam ou deixam de existir, mas outras se conservam.ARevolução Gloriosa, por exemplo, acabou conservando a monarquia. E no caso da Revolução Industrial, o que será que permaneceu como antes?

Jovem atuando numa central telefônica, em 2010. Exemplo de como as novas tecnologias revolucionaram o trabalho nas empresas.

CAPÍTULO 4 – REVOLUÇÕES NA INGLATERRA

UNIDADE 3 – TERRA E LIBERDADE

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ATIVIDADES I. Retomando

ATIVIDADES

II. Leitura e escrita em História

1. Leia o texto a seguir e responda ao que se pede. [...] A maioria dos filósofos do Iluminismo tinha uma crença inabalável na razão humana. Isto era algo tão evidente que muitos chamam o período do Iluminismo francês simplesmente de “racionalismo”. [...] Entre o povo, porém, imperavam a incerteza e a superstição. Por isso, dedicou-se especial atenção à educação. [...] Os filósofos iluministas diziam que [...] a humanidade faria grandes progressos. Era apenas uma questão de tempo para que desaparecessem a irracionalidade e a ignorância e surgisse uma humanidade iluminada, esclarecida. [...].

Questões variadas sobre os conteúdos dos capítulos para serem realizadas individualmente ou em grupo. Uma forma de rever aquilo que foi estudado.

a. Leitura de imagem A pintura que você vê é de John Gast (1842-1896) e se chama Progresso Americano. John Gast. c. 1873. Coleção particular. Foto: The GrangerCollection/Otherimages

Retomando

GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 338 e 340.

• O texto nos permite conhecer duas características do Iluminismo. Quais são elas?

Emma Durnford/Demotix/Corbis/Latinstock

2. A imagem é um grafite de um autor desconhecido produzida em janeiro de 2015. Observe-a com atenção.

Leitura de imagem Seção que permite o estudo de imagens relacionadas aos temas dos capítulos.

Grafite em um muro de Londres, Inglaterra, 2015. John Gast, Progresso Americano, c. 1873.

a) Com base em seus conhecimentos de inglês e/ou na consulta ao dicionário responda: a que princípio iluminista podemos associar a imagem? b) Debatam e opinem: o que se pode fazer para resguardar a prática desse princípio no Brasil de hoje?

a) O que esta mulher loira tem nas mãos? O que ela está fazendo? b) Quem ou o que essa mulher representa? c) Quem são os homens mostrados em primeiro plano?

105

CAPÍTULO 5 – O ILUMINISMO E A FORMAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS

d) O título condiz com a imagem? e) Que relação se pode estabelecer entre a imagem e a teoria do Destino Manifesto? Justifique.

295

CAPÍTULO 14 – ESTADOS UNIDOS E EUROPA NO SÉCULO XIX

II. Leitura e escrita em História

Leitura e escrita de textos

Em busca da participação das mulheres nas lutas pela independência política da América Latina Quando se fala em exército, nesse período, vemos sempre homens marchando a pé ou a cavalo, lutando. Esquecemo-nos de que as mulheres, muitas vezes com filhos, acompanhavam seus maridos/soldados; além disso, como não havia abastecimento regular das tropas, muitas trabalhavam cozinhando, lavando ou costurando, em troca de algum dinheiro. [...] Entretanto, a figura [...] de mulher/soldado é Juana Azurduy de Padilha, nascida em Chuquisaca (hoje Sucre), em 1780, que junto com o marido, homem de posses, dono de fazenda, liderava um grupo de guerrilheiros. Lutando pela independência, participou de 23 ações armadas, algumas sob seu comando, perdendo, ao longo desses embates, todos os seus bens. Ganhou fama por sua coragem e habilidade, chegando a obter a patente de tenente-coronel. [...] Outra história exemplar é a de Gertrudes Bocanegra, famosa heroína mexicana [...]. Presa com suas três filhas, foi condenada à morte, por se recusar a denunciar os companheiros. Foi fuzilada em 1817 [...]. Dessa maneira, Maria Quitéria de Jesus, a jovem baiana que “ardia de amor pela pátria” ganha uma perspectiva diversa [...] deixando de ser uma exceção absoluta, para ser pensada dentro de um quadro mais amplo de participação das mulheres nesses movimentos. [...] Em uma palavra, foi esquecido ou ocultado que as mulheres participantes dos movimentos pela independência atuaram num circuito claramente identificado como o da política, motivadas por ideias, sentimentos e crenças que as levaram a romper com os padrões sociais e religiosos vigentes. Sua notável coragem – especialmente nos momentos trágicos da prisão e condenação – indica que estavam preparadas para aceitar as consequências das escolhas efetuadas.

Seção que trabalha a leitura e a interpretação de diferentes gêneros textuais. Para completar o estudo dos temas, são propostas atividades de pesquisa ou escrita de um texto.

Entre as várias mulheres que combateram pela independência da América, está Policarpa Salavarrieta (1795-1817), mais conhecida como Pola. De família simples, Pola era costureira. Ela costurava nas casas das famílias de posses, onde colhia informações sobre os realistas (partidários do rei) e levava para os rebeldes armados. Policarpa foi fuzilada a mando do rei da Espanha, sob a acusação de ter participado intensamente das lutas pela independência no Vice-Reinado de Nova Granada.

PRADO, Maria Lígia Coelho. Em busca da participação das mulheres nas lutas pela independência política da América Latina. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 12, n. 23/24, set. 1991/ago. 1992. Disponível em: <www.anpuh.org/arquivo/download?ID_ARQUIVO=3713>. Acesso em: 4 abr. 2015.

II. Leitura e escrita em História Cruzando fontes As duas imagens representam os bandeirantes. A da esquerda é uma aquarela; a da direita, uma ilustração; ambas foram feitas por Ivan Wasth Rodrigues (1927-2007). Observe-as com atenção.

} Fonte 1

a) Descreva o bandeirante mostrado na imagem à esquerda. b) Descreva o bandeirante mostrado à direita. c) Compare as duas versões e opine: qual delas se parece mais com o bandeirante de carne e osso?

Maria Quitéria de Jesus

III. Integrando com... Ciências

Destacou-se nas lutas pela independência na Bahia.

} Fonte 1

159

CAPÍTULO 8 – INDEPENDÊNCIAS: HAITI E AMÉRICA ESPANHOLA

} Fonte 2

Ivan Wasth Rodrigues (detalhe). Séc. XX. Aquarela. Coleção particular

O texto a seguir é da historiadora Maria Lígia Prado, professora de História da América Latina, da USP. Leia-o com atenção.

Epifanio Garay Caicedo. s.d. Óleo sobre tela. Museu Nacional de Bogotá, Colômbia. Foto: Album Art/Latinstock

VOZES DO PRESENTE

Ivan Wasth Rodrigues. Séc. XX. Coleção particular

Leitura e escrita de textos

Leia o texto a seguir com atenção. De fato era comum os bandeirantes contraírem gripes, reumatismos e bronquites por terem ficado várias horas com a roupa encharcada no corpo; anemia por alimentação fraca e infecções resultantes de picadas de insetos. Os remédios para essas e outras enfermidades eram retirados da própria natureza. Para o reumatismo usavam banha de animal, geralmente da capivara; para a bronquite, fubá, que era cozido enrolado em pano e posto sobre o peito; para a anemia, limões, laranjas e agrião; para as infecções, folha de fumo cozida misturada com aguardente. Nas viagens levavam também, muitas vezes, sal e pinga para as mordidas de cobra e um instrumento cirúrgico chamado lanceta para realizar sangrias.

48

UNIDADE 1 – DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

III. Integrando com... Matemática Observe a tabela: 1o Estado

2o Estado

3o Estado

Número de pessoas por Estado

280 mil

840 mil

26 milhões e 880 mil

Número de votos de cada Estado na Assembleia dos Estados Gerais

1 voto

1 voto

1 voto

a) Transforme os dados de “número de pessoas por Estado” em porcentagem. b) Usando as porcentagens obtidas na questão anterior, monte um gráfico em forma de pizza que represente a composição da sociedade francesa às vésperas da Revolução Francesa. c) A partir da tabela é possível concluir que a sociedade francesa às vésperas da Revolução era desigual? Justifique sua resposta.

Integrando com...

IV. Você cidadão! Chris Brunskill/Corbis/Latinstock

Leia o texto a seguir com atenção. Na primeira vez que a Marselhesa foi entoada na Copa do Brasil, Karim Benzema ficou calado. O artilheiro e principal jogador da seleção francesa escolheu não cantar o hino nacional de seu país em um protesto silencioso contra a xenofobia presente na letra e na sociedade multicultural da França.

Você cidadão!

Copa do Brasil Nesse contexto significa a Copa do Mundo de 2014, no Brasil.

Seção que permite a reflexão sobre temas como meio ambiente, ética e solidariedade. As atividades visam estimular e preparar o aluno para o exercício da cidadania.

O jogador Karim Benzema, camisa 10 da seleção francesa de futebol, no Maracanã (RJ), durante a Copa do Mundo de 2014. Jogo entre França e Equador.

126

Nesta seção, a História e outras áreas do conhecimento se encontram, o que permite ampliar ou complementar o que foi visto no capítulo.

UNIDADE 2 – A LUTA PELA CIDADANIA

Cruzando fontes Uma seção que permitirá a você se aproximar do trabalho de um historiador, por meio da análise e da comparação de diferentes fontes.


OBRIGADO! Pelos momentos de reflexão e debates que tivemos sobre historiografia e ensino de História, quero agradecer os seguintes colegas: Fábio Duarte Joly [Professor Doutor]

Murilo Mello [Professor]

Cláudio Hiro [Professor Doutor]

Osmar Augusto Fick Júnior [Professor]

Márcio Delgado [Professor Doutor]

Rodolfo Augusto Bravo de Conto [Professor]

Sebastião Leal Ferreira Vargas Neto [Professor Doutor]

Udo Ingo Kunert [Professor]

Vanderlei Machado [Professor Doutor]

Valdeir da Costa [Professor]

Regina Braz da Silva Santos Rocha [Professora Doutora]

Dóris Margarete Assunção [Professora]

Ana de Sena Tavares Bezerra [Professora Mestra]

Maria Cristina Costa [Professora]

Marco Túlio Vilela [Professor Mestre]

Marlúcia Naves Lemos [Professora]

Maria Barjute Bacha [Professora Mestra]

Suzana C. Vargas [Professora]

Vanderlice de Souza Morangueira [Professora Mestra]

José Clodomir Freire [Professor]

Eduardo Góes de Castro [Professor Mestre]

José Cleber Uchoa Gomes [Professor]

Luciana P. Magalhães de Castro [Professora Mestra]

Francisco Waston Silva Souza [Professor]

Cândido Domingues Grangeiro [Professor Mestre]

Francisca Marcia Muniz Chaves [Professora]

Gláucia Borges Nunes [Professora Mestra]

Jorge Tales [Professor]

Alexandre Coelho [Professor]

Marcos Luiz Treigher [Professor]

Augusto Cesar Nery de Lima [Professor]

André Vinícius Bezerra Magalhães [Professor]

Antônio Carlos Felix [Professor]

Marcio de Sousa Gurgel [Professor]

Antônio Carlos do Prado [Professor]

Michelle Arantes Pascoal [Professora]

Augusto Bragança S. P. Rischitelil [Professor]

Silvia Helena Ferreira [Professora]

Cesar Mustafá Tanajura [Professor]

Marília Serra Holanda Pinto [Professora]

Clécio Rodrigues de Lima [Professor]

Carlos José Ferreira de Souza [Professor]

Daniel da Silva Assum [Professor]

Mardonio Cunha [Professor]

Gecionny Souza [Professora]

Joamir Souza [Professor]

Jorge Galdino [Professor]

Gabrielle Werenicz Alves [Professora]

José Augusto Carvalho Santos [Professor]

Hudson de Oliveira e Silva [Professor]

José Carvalho Rios [Professor]

Renato Dias Prado [Professor]

Matheus Targino [Professor]

Juliana Aparecida Costa Silvestre [Professora]

Agradeço também com especial carinho à gerente editorial Silvana Rossi Júlio e a outras três mulheres, cujo apoio foi decisivo para o nascimento desta coleção: Suely Regina, Isaura Feliciano de Paula e Margarete do Rosário Lúcio.

O autor


BLOG DA TURMA Professores, cientes da familiaridade que as novas gerações têm com as redes sociais, e que o uso de tecnologias educacionais pode levá­‑los a aprender mais e melhor, consideramos importante o esforço que vem sendo feito por vários atores sociais para recorrer a elas no processo de ensino­ ‑aprendizagem. Contribuindo com esses esforços e visando estimular o alunado a apresentar sua pesquisa de maneira mais atraente, solicitamos a eles, ao longo de toda a coleção, para que postassem suas reflexões e produções no blog da turma.

1. Aplicar o nome da turma, da escola e do professor responsável; o blog pertencerá, portanto, a um grupo definido e limitado de pessoas. 2. Elaborar uma proposta para o blog explicitada por um nome significativo e uma curta descrição de seus objetivos. 3. Revisar o material a ser postado no blog, a fim de garantir a compreensão e a correção da mensagem (pode-se trabalhar em parceria com o professor de Língua Portuguesa). 4. Avaliar criteriosamente as fotos, tabelas, gráficos, mapas e textos dos mais variados gêneros destinados ao blog. 5. Os alunos poderão se organizar em grupos. Cada grupo será responsável por uma área de atuação; assim sendo teremos: a) EQUIPE DE PESQUISA, responsável por alimentar o blog com novas matérias-primas, que serão transformadas em produto com a ajuda dos outros grupos. b) EQUIPE DE DESIGN, responsável pelos aspectos visuais, incluindo-se aí a diagramação, escolha das fontes de letra e cores, estilos e tamanho das imagens. c) EQUIPE DE REDAÇÃO, responsável por receber e organizar os materiais a serem postados, padronizando e melhorando os textos e as imagens (com a ajuda de programas como o photoshop). d) EQUIPE DE ICONOGRAFIA, responsável pela pesquisa e seleção de imagens (fotografias e ilustrações) e vídeos a serem postados. e) EQUIPE DE PRODUÇÃO, responsável pela integração dos demais aspectos e também pelas questões técnicas de manutenção do blog. f) EQUIPE DE JORNALISMO, responsável por entrevistas e cobertura dos assuntos abordados pelo blog, dentro e fora da escola. Sugestão: poderá haver um rodízio quinzenal ou mensal entre os grupos, de modo que todos os alunos possam vivenciar as várias funções. O blog poderá ser também uma ferramenta de comunicação permanente, em que serão informadas as datas de avaliações, atividades de estudo do meio; visitas técnicas a museus, excursões, passeios etc.

Editoria de arte

A fim de colaborar com os professores, produzimos também um pequeno texto com dicas para a montagem de um blog no ambiente escolar; propomos a seguir alguns passos para a realização desta tarefa:


SUMÁRIO Unidade 1 | DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA ..................... 10 12 13 13 21 26 26 28 29 30

Capítulo 2 | A marcha da colonização na América portuguesa .................. Os soldados ................................................. Os bandeirantes ........................................... Os jesuítas ................................................... A Revolta de Beckman .................................. A criação de gado ......................................... As novas fronteiras do Brasil colonial .............. Atividades ................................................... I. Retomando ......................................... II. Leitura e escrita em História ................. III. Integrando com... Ciências ....................

31 32 35 39 40 41 44 46 46 48 48

Capítulo 3 | A sociedade mineradora ................. A corrida do ouro ......................................... Atividades ................................................... I. Retomando ......................................... II. Leitura e escrita em História ................. III. Integrando com... Matemática ............... IV. Você cidadão! ......................................

50 51 61 61 62 64 65

Corbis/Latinstock

Capítulo 1 | Africanos no Brasil: dominação e resistência ................. Havia escravidão na África antes dos europeus? ... Guerra, escravidão e tráfico Atlântico .............. Resistência .................................................. Atividades ................................................... I. Retomando ......................................... II. Leitura e escrita em História ................. III. Integrando com... Língua Portuguesa ...... IV. Você cidadão! ......................................

Unidade 2 | A LUTA PELA CIDADANIA .... 66 Capítulo 4 | Revoluções na Inglaterra ........ 68 Política e sociedade na Inglaterra do século XVI ... 69 Do artesanato à maquinofatura ............. 76 Inventos aplicados à indústria ............ 78 Indústria e mudanças socioeconômicas .... 80 Atividades ............. 87 I. Retomando ... 87 II. Leitura e escrita em História ...... 88 III. Integrando com... Ciências (Saúde) .......... 89 IV. Você cidadão! ................ 89

Carlos Julião. c. 1776. Aquarela. Biblioteca Municipal Mario de Andrade, SP.

Capítulo 5 | O Iluminismo e a formação dos Estados Unidos ........................ 91 Progresso, otimismo e Deus ........................... 93 A enciclopédia dos iluministas ....................... 96 O Iluminismo na economia ............................ 98 Os déspotas esclarecidos ............................... 99 A Inglaterra aperta o laço ............................. 100 O processo de independência ........................ 101 A Constituição dos Estados Unidos ................. 103 Atividades .................................................. 105 I. Retomando ........................................ 105 II. Leitura e escrita em História ................ 108 III. Você cidadão! .................................... 109 Capítulo 6 | A Revolução Francesa .................... 110 O Antigo Regime ......................................... 111 O processo revolucionário ............................. 115 Atividades .................................................. 122 I. Retomando ........................................ 122 II. Leitura e escrita em História ................ 124 III. Integrando com... Matemática .............. 126 IV. Você cidadão! .................................... 126 Capítulo 7 | A Era Napoleônica ........................ 128 O Consulado ............................................... 130 O Congresso de Viena ................................... 138 Atividades .................................................. 140 I. Retomando ........................................ 140 II. Leitura e escrita em História ................ 140 III. Integrando com... Ciências ................... 141 IV. Você cidadão! .................................... 143


.........

144

Capítulo 8 | Independências: Haiti e América espanhola ............ 146 A Revolta de Túpac Amaru ............................ 147 Independência de São Domingos (atual Haiti) .. 148 O Império Espanhol em crise ......................... 150 A independência do México ........................... 155

Capítulo 12 | O reinado de D. Pedro II: modernização e imigração ..................... 220 O golpe da maioridade ...................... 221 Partidos políticos do Segundo Reinado ............................. 221

Atividades .................................................. 157

Economia do Segundo Reinado ............................. 225

Retomando ........................................ 157

Imigrantes no Brasil ......................... 232

II. Leitura e escrita em História ................ 159

A Guerra do Paraguai ........................ 236

III. Integrando com... Língua Portuguesa ..... 160

Atividades ....................................... 240

I.

IV. Você cidadão! .................................... 160

I.

iro. Jane i o de Fialdin i R , rial omulo R mpe eu I Foto: Mus

Unidade 3 | TERRA E LIBERDADE

Retomando ............................. 240

Capítulo 9 | A emancipação política do Brasil ... 162

II. Leitura e escrita em História ............................ 243

A Conjuração Mineira ................................... 163

III. Você cidadão! ......................... 245

A Conjuração Baiana .................................... 166 A família real no Brasil e a abertura dos portos 168

Capítulo 13 | Abolição e República .................. 246

Atividades .................................................. 178

A Abolição ................................................. 247

Retomando ........................................ 178

O processo que conduziu à República ............. 255

I.

II. Leitura e escrita em História ................ 182 III. Integrando com... Língua Portuguesa ..... 184 Capítulo 10 | O reinado de D. Pedro I: uma cidadania limitada ............... 185 As lutas pela independência .......................... 186 O reconhecimento e o preço da independência . 187 Uma Constituição para o Brasil ...................... 188

A consolidação da República ......................... 257 Atividades .................................................. 262 I.

Retomando ........................................ 262

II. Leitura e escrita em História ................ 265 III. Integrando com... Língua Portuguesa ..... 266 IV. Você cidadão! .................................... 267

A Confederação do Equador ........................... 190

Capítulo 14 | Estados Unidos e Europa no século XIX .................. 268

D. Pedro I, cada vez mais impopular ............... 193

A conquista do Oeste ................................... 269

Atividades .................................................. 195

A guerra civil norte-americana ....................... 272

Retomando ........................................ 195

Prosperidade e intervencionismo .................... 276

II. Leitura e escrita em História ................ 196

A Europa no século XIX ................................ 280

III. Integrando com... Arte ........................ 198

Revoluções na Europa do século XIX ............... 283

I.

Capítulo 11 | Regências: a unidade ameaçada ... 199 História política ............... 200 As rebeliões regenciais ..... 204 Antonio Miotto/Fotoarena

Atividades ...................... 215 I.

Retomando ............. 215

Atividades .................................................. 292 I.

Retomando ........................................ 292

II. Leitura e escrita em História ................ 295 III. Integrando com... Matemática .............. 296 IV. Você cidadão! .................................... 297

II. Leitura e escrita em História .. 218

Bibliografia

III. Você cidadão! ......... 219

Mapas de apoio

........................................... .....................................

298 300


Frans Post e G. Marcgraf. c. 1647. Coleção Particular

unidade

1

dominação e resistência

1

Detalhe do mapa de Georg Marcgraf e Johanes Blaeus, c. 1647. O trabalho de arte é do pintor e gravurista Frans Post (1612-1680). Coleção Pedro Franco Piva, São Paulo.

Os primeiros tempos do território onde hoje é o Brasil foram tempos de dominação e de re­ sistência. Tempos de dominação como se pode imaginar observando negros escravizados em um engenho, na arte do pintor holandês Frans Post (fig. 1). Mas aqueles tempos foram também tempos de resistência. E uma das formas de resistência dos escravizados que aqui viveram foi a Congada, bailado em que eles representavam, entre cantos, danças e o som ritmado de seus tambores, a co­ roação de um rei ou rainha do Congo, área situada no coração da África. Essas festas de matriz africa­ na impressionaram artistas dos tempos coloniais, como Carlos Julião (fig. 2), e continuam presentes em congadas (fig. 3), que ocorrem em várias partes do Brasil.

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UNIDADE 1 – DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA


Carlos Julião. Séc. XVIII. Aquarela. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro

2

Ricardo Teles/Pulsar

Carlos Julião. Rei e Rainha negros na festa de Reis, c. 1776.

3

Grupo de Congada na Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Serro (MG), 2013.

UNIDADE 1 – DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

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Luiz Carlos Santos /Agência O Globo

2

4

Ben Stansall/AFP/Otherimages

3

Mauricio Santana/LatinContent/Getty Images

Fundação Pedro Calmon. Secretaria da Cultura da Bahia/Governo do Estado da Bahia. Foto: Nerivaldo G

1

1

AFRICANOS NO BRASIL: DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

Observe as fotos dessas personalidades. O que elas têm em comum? Quais delas você conhece? Você tem acompanhado a contribuição delas à vida social brasileira? Teste seus conhecimentos; escreva no seu caderno o nome e o trabalho desenvolvido por elas.

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UNIDADE 1 – DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA


Havia escravidão na África antes dos europeus? Selo Negro Edições

Segundo historiadores especializados existiu, sim, escravidão na África antes da chegada dos europeus (século XV). Segundo a professora Leila Hernandez, nas sociedades tradicionais africanas o principal motivo que levava um indivíduo a ser escravizado era a guerra entre diferentes povos. Os vencedores faziam prisioneiros e os escravizavam ou, então, vendiam. Na África daqueles tempos, as pessoas também podiam ser escravizadas por outros motivos, entre os quais cabe citar: a) a fome: quando um indivíduo não tinha meios para se alimentar, ele oferecia a si mesmo e a sua família como escravos; b) a punição judicial: quando uma pessoa cometia um crime e, por isso, era condenada à escravidão; c) a penhora humana: quando o indivíduo oferecia a si mesmo como garantia de um empréstimo e, se não pudesse pagar, era escravizado.

Fac-símile de capa do livro A África na sala de aula, da professora Leila Leite Hernandez.

A escravidão africana, no entanto, tinha algumas características próprias. Em algumas sociedades os escravos faziam trabalhos exaustivos (agricultor, carregador, remador); já em outras, chegavam a ocupar postos importantes no exército e no governo. Havia também casos em que os escravos trabalhavam para o seu dono por um determinado tempo (de 2 a 4 anos); depois disso, integravam-se como pessoas livres ao grupo para o qual tinham trabalhado.

Guerra, escravidão e tráfico Atlântico No século XV, com a chegada dos portugueses ao litoral africano, a escravidão na África aumentou muito. E um novo tipo de guerra passou a fazer parte do dia a dia dos africanos: a guerra com o objetivo de conseguir pessoas para serem vendidas a traficantes especializados. Esta talvez tenha sido a consequência mais trágica da chegada dos europeus ao continente africano. CAPÍTULO 1 – AFRICANOS NO BRASIL: DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

Guerra Cerca de 75% dos africanos vendidos para a América foram produto de guerras feitas para obter novos escravos.

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Georg Braun e Franz Hogenberg. 1572. Coleção particular

No século XVI, com o aumento da procura por escravos no Nordeste brasileiro, devido à produção de açúcar, os mercadores portugueses, aliados a alguns chefes e reis africanos, montaram um negócio que logo mostrou ser altamente lucrativo: conseguir pessoas na África e vendê-las na América.

Fundada pelos portugueses em 1482, onde hoje é a República de Gana, na África Ocidental, a fortaleza de São Jorge da Mina foi durante muito tempo um dos principais entrepostos de venda de escravos. Ilustração de 1572.

O comércio de pessoas da África para onde hoje é o Brasil durou cerca de 350 anos e foi feito por europeus, africanos e mercadores do Rio de Janeiro e de Salvador. Por vezes, esses mercadores saíam da costa brasileira em embarcações próprias e, depois de cruzar o Atlântico, conseguiam escravos no litoral africano, em troca de produtos como tecidos, pólvora, armas de fogo, e os revendiam no Brasil. Muitos deles acumularam grandes fortunas com o comércio de gente pelo Atlântico.

Quantos eram e de onde foram trazidos os africanos? Nas estimativas do historiador David Eltis, um especialista no tema, cerca de 12,5 milhões de escravos deixaram a costa da África entre 1500 e 1867. Destes, 4,9 milhões desembarcaram em portos brasileiros. Boa parte do que hoje é a América foi construída com o trabalho desses africanos e seus descendentes.

14

UNIDADE 1 – DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA


Os povos africanos entrados no Brasil eram de diferentes lugares da África. A maioria deles saiu da região localizada ao sul do Equador, pelos portos de Benguela, Luanda e Cabinda. Outra parte considerável saiu da Costa da Mina, pelos portos de Lagos, Ajudá e São Jorge da Mina. E um número menor saiu pelo porto de Moçambique. Allmaps

Principais portos de embarque de africanos

Trópico de Câncer

CABO VERDE

Rio N olta oV Ri

Rio Gâm bia

r íge

OCEANO ATLÂNTICO

Bissau Ajudá São Jorge da Mina

Lagos São Tomé

o ng

Rio

nas mazo Rio A Belém

Co

Equador

São Luís

OCEANO ÍNDICO

Cabinda

Recife

Luanda

Salvador

Cassanje Benguela

OCEANO PACÍFICO

o

mbeze Za

Ri

Meridiano de Greenwich

Moçambique Rio de Janeiro

Trópico de Capricórnio

0 60° O

1010

No Brasil os africanos não eram chamados pelo nome de sua etnia, mas sim pelo do porto ou da região onde tinham sido embarcados. Um africano de etnia bacongo, por exemplo, era chamado aqui de cabinda, se esse fosse o nome do porto africano por onde ele tinha embarcado. Outro exemplo: os diferentes povos embarcados na Costa da Mina (África Ocidental) eram chamados simplesmente de minas.

Autoria desconhecida. 1869. Xilogravura. Coleção particular

J. M. Rugendas - Benguela. c. 1835

Fonte: MELLO E SOUZA, Marina de. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. p. 82.

À esquerda, vemos um benguela, em representação de 1835; esse era o nome do porto de embarque, e não da etnia. À direita, uma africana mina, ou seja, originária da Costa da Mina. Xilogravura de 1869.

CAPÍTULO 1 – AFRICANOS NO BRASIL: DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

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A travessia

Robert Walsh e T. Kelly. 1830. Litogravura. Coleção particular

Nas fortalezas do litoral africano, homens, mulheres e crianças eram forçados a embarcar em navios conhecidos como navios negreiros. A viagem das praias da África Ocidental para o Brasil durava de 30 a 45 dias, conforme o lugar de partida e o de chegada. As condições de viagem eram péssimas, a comida era pouca e de má qualidade. As pipas de água também eram poucas para não ocupar lugar no navio. Assim, cada escravo recebia apenas um copo a cada dois dias. Alguns bebiam água do mar e adoeciam.

Os negreiros iam superlotados: onde cabiam cem iam trezentos, e muitos morriam durante a viagem. Mesmo assim o lucro dos traficantes era grande: o preço de venda de um lote era, em média, três vezes maior que o de compra. Desenho de 1830.

Os africanos chegavam ao litoral brasileiro confusos e cansados, e sem saber onde estavam. Nos mercados do Rio de Janeiro, Salvador, Recife e São Luís eram examinados, avaliados e comprados. Um homem adulto valia o dobro de uma mulher e, geralmente, três vezes mais que uma criança ou um idoso. Como propriedade de outra pessoa, os escravizados podiam ser vendidos, alugados ou leiloados para pagar dívidas de seu dono. Não tinham nem mesmo o direito ao próprio nome.

16

UNIDADE 1 – DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA


Para refletir A perda do nome Na hora do embarque para o Brasil, o africano era “batizado”; ou seja, perdia seu nome original e passava a ter um nome português. Para certos povos africanos isso era mais doloroso, pois, em alguns lugares da África, o nome dado a uma pessoa tem um significado especial. O nome português, dado no batismo, devia ajudar a apagar da memória do africano todo o seu passado: sua família, seus amigos, sua língua e seu lugar de origem. • O que você sentiria se trocassem o seu nome e o(a) levassem para um lugar distante e diferente do seu? Como você reagiria?

O trabalho

Cenas de trabalho. À esquerda, detalhe da página 15 do Caderno de Desenho, de autoria de J. B. Debret, c. 1820. À direita, prancha intitulada Costumes do Brasil, c. 1820. Detalhe da página 39 do Caderno de Desenho, de autoria de J. B. Debret.

Jean-Baptiste Debret. Séc. XIX. Gravura. Biblioteca Nacional, Paris

Debret. Séc. XIX. Aquarela. Coleção particular

Os africanos não vieram para a América por vontade própria; foram trazidos para cá para trabalhar. Os escravizados trabalhavam de doze a quinze horas por dia: começavam entre 4 e 5 horas da manhã e iam até o anoitecer. Por vezes, as manhãs dos feriados e domingos eram usadas no conserto de cercas, estradas e em outros serviços. O homem trabalhava como agricultor, carpinteiro, ferreiro, pescador, carregador e em várias outras funções. A mulher cultivava a terra, cuidava dos doentes, colhia e moía a cana, lavava, passava, fazia partos, vendia doces e salgados etc.

Entre os trabalhadores afrodescendentes havia também libertos, nome que se dava àqueles que tinham conseguido a carta de alforria, documento de libertação obtido geralmente após longos anos de trabalho. Os africanos aqui desembarcados trouxeram consigo não apenas sua força de trabalho, mas também suas culturas. E, o que é importante dizer, essas culturas africanas marcaram profundamente nossos modos de viver, pensar e sentir. CAPÍTULO 1 – AFRICANOS NO BRASIL: DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

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Para refletir O texto a seguir é do africanista Alberto da Costa e Silva. Leia-o com atenção.

Africanista Estudioso dos assuntos africanos.

Enfadonha Cansativa.

De que a presença africana em nossa cultura é profunda, talvez o melhor testemunho esteja no português que falamos [...]. As línguas africanas, especialmente o quimbundo (ou idioma dos ambundos), o quicongo (ou língua dos congos), o umbundo (ou idioma dos ovimbundos) e o iorubá, marcaram profundamente não só o vocabulário do português do Brasil, mas também [...] a construção das frases, e [...] a maneira como pronunciamos as palavras. Poucos se dão conta de que os verbos cochichar, cochilar [...] e zangar, os substantivos bagunça [...], caçula, cafuné [...], fuxico [...], lengalenga [...], quitanda [...], os adjetivos [...], dengoso, encabulado e zonzo e numerosíssimos outros termos que usamos no dia a dia são de origem africana. E o que fazem os portugueses, quando têm de zangar com o caçula dengoso que estava cochilando durante uma lengalenga como esta? Eles [...] se aborrecem com o benjamim manhoso que dormitava durante esta conversa enfadonha. SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2012. p. 156-157.

a) Segundo o texto, quais línguas africanas influenciaram profundamente o português falado no Brasil? b) Quais são os termos que os portugueses usam para dizer caçula; dengonso; e cochilar? c) Qual a importância dos conhecimentos transmitidos nesse texto para nós brasileiros?

A alimentação Nas grandes fazendas a maioria dos escravizados recebia uma cuia de feijão e uma porção de farinha de mandioca ou de milho. Vez por outra recebia também rapadura e charque (que conforme a região tinha o nome de carne-seca, carne-do-sul, carne-de-ceará etc.). De modo geral, a alimentação dos escravizados era insuficiente e pobre em proteínas, o que acarretava sérios problemas de saúde e envelhecimento precoce. Muitos eram descritos como tendo 60 anos, quando tinham de fato entre 35 e 40.

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UNIDADE 1 – DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA


A violência

Museu Paulista da USP, SP. Foto: Alexandre Dotta

Museu Paulista da USP, SP. Foto: Alexandre Dotta

Os escravizados eram vigiados de perto por feitores, que, quase sempre, os castigavam por qualquer pequena falta, como fazer uma pausa para descanso ou se distrair no trabalho. Os castigos eram muitos; a palmatória, a gargalheira e a máscara de flandres eram alguns deles. Veja alguns instrumentos usados para punir os escravizados:

A palmatória era usada para golpear as mãos do escravizado e causar-lhe inchaço e dor.

A gargalheira era colocada em volta do pescoço do escravizado a fim de dificultar seus movimentos.

Jacques Etienne Arago. 1839. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro

Já a máscara de flandres feita de zinco ou folha de flandres era um instrumento que permitia à vítima enxergar e respirar, mas a impedia de se alimentar.

Para saber mais

A máscara no rosto da personagem é a que teria sido usada por Anastácia. Gravura de 1839.

Xando Pereira/Folhapress

A negra Anastácia: mito e religiosidade Contam que, no século XVIII, teria vivido no interior mineiro uma escrava por nome Anastácia, uma negra de olhos azuis, altiva e muito bonita. Por sua rara beleza, Anastácia teria despertado ciúmes na mulher de seu senhor que, por isso, obrigou-a a usar a máscara de flandres. Vítima de perseguição e maus-tratos, Anastácia teria morrido relativamente jovem. Muito tempo depois, em 1968, durante a comemoração dos 80 anos da abolição da escravatura, na igreja do Rosário, no Rio de Janeiro, Anastácia foi homenageada e descrita como santa pelos milagres que teria realizado. Na verdade, Anastácia é um mito da nossa História; não há provas materiais da sua existência; mas as histórias que se contam sobre ela fazem parte da memória sobre a escravidão e continuam inspirando atitudes de devoção e respeito entre as gentes de Minas Gerais. Integrantes da banda feminina Didá durante uma apresentação no Pelourinho, Salvador. Note que as percussionistas utilizam réplicas da máscara de flandres.

CAPÍTULO 1 – AFRICANOS NO BRASIL: DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

19


Para refletir O texto a seguir conta uma história ocorrida no Maranhão; leia-a com atenção.

Terra da vergonha Antônio morava no Maranhão e precisava de trabalho. Até que ficou sabendo que uma proprietária estava recrutando peões. Ele se interessou e foi com mais 41 trabalhadores para o local do serviço. Chegando lá, foi vendido por R$ 80,00 ao fazendeiro Miguel de Souza Rezende. Ele passou a trabalhar na derrubada da mata e na limpeza do pasto. Dormindo em barraco, passando fome, sem dinheiro para enviar à família e ainda devendo ao armazém da fazenda, decidiu fugir. Mas o cantineiro avisou: “Não faça isso, que eles te matam”, referindo-se aos muitos jagunços armados que rondavam a fazenda. Uma colega de Antônio fugiu e o grupo chegou a ouvir tiros à noite. As condições a que Antônio e seus companheiros foram submetidos – pressão física ou psicológica [...] comprometendo a liberdade de ir e vir – representam o que defensores dos direitos humanos [...] chamam de trabalho escravo. LIMA, Vivi Fernandes de. Trabalho indecente. Revista de História da Biblioteca Nacional. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/trabalho-indecente>. Acesso em: 24 mar. 2015.

O uso de mão de obra escrava ou semiescrava tem sido observado em várias partes do Brasil. Nesta foto de 2012, um trabalhador carrega um caminhão com cestos de carvão produzido com mão de obra escrava e madeira retirada ilegalmente da Floresta Amazônica. Rondon do Pará (PA), 2012.

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Mario Tama/Getty Images

a) Você sabia que a escravidão continua sendo praticada no Brasil? b) Que elementos na história de Antônio indicam que se tratava de trabalho escravo? c) O que poderia ser feito para pôr fim a essa prática?


Resistência

Jogo de capoeira em frente ao monumento Zumbi dos Palmares, na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro, durante a comemoração ao 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, data da morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares. Rio de Janeiro (RJ), 2013.

Capoeira Dança e luta ao mesmo tempo, a capoeira foi uma forma de diversão e defesa desenvolvida no Brasil pelos africanos e seus descendentes.

Congado Tipo de dança dramática que representa a coroação de um rei (e às vezes de uma rainha) do Congo, constituída de um cortejo com passos e cantos, onde a música acompanha a expressão dramática dos textos, e que se caracteriza pela embaixada, e por lutas simbólicas de espada.

Reisado Festa popular que se realiza na véspera e no dia de Reis. Tipo de auto natalino surgido no final do século XIX, difundindo-se no Norte e Nordeste, constituído de um figurante acompanhado por um coro cantando peças em sequência.

Fabio Motta/Estadão Conteúdo

A escravidão é uma instituição muito antiga e existiu em várias partes do mundo. Mas onde houve escravidão houve resistência. No Brasil, não foi diferente. O excesso de trabalho, a disciplina rigorosa, os castigos, o fato de o senhor não cumprir com a palavra quando um escravizado conseguia juntar dinheiro para comprar sua carta de alforria, tudo isso provocou diferentes formas de resistência entre os escravizados. Eles resistiam praticando religiões de origem africana, jogando capoeira; promovendo festejos, como o congado, o reisado, o jongo e fundando irmandades. As irmandades eram associações organizadas por leigos e que tinham sede em Igrejas Católicas. Para que uma irmandade funcionasse, era necessário que tivesse seus estatutos aprovados por uma autoridade da Igreja Católica. As irmandades promoviam: o culto aos seus santos padroeiros; a cooperação entre seus membros para construir, reformar ou ornamentar uma igreja; a assistência mútua entre seus integrantes. A assistência era de ordem material (protegendo suas famílias da pobreza) e espiritual, garantindo aos integrantes apoio na hora da morte (missa de corpo presente, sepultamento digno e orações em sua intenção).

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Dorival Moreira/Pulsar

Havia irmandades de brancos, outras de mestiços, e outras ainda de negros. Havia também irmandades de ricos e outras de pobres. Vivendo em uma época em que não podiam frequentar as irmandades nem as “igrejas dos brancos”, os negros fundaram suas próprias irmandades, sendo as mais requeridas as de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Uma delas foi a Irmandade dos Homens Pretos de Salvador, um espaço associativo de ajuda mútua e de manutenção de uma identidade negra.

Outras formas de resistência Os africanos e seus descendentes resistiam também desobedecendo, fazendo corpo mole no trabalho, quebran­ do ferramentas, incendiando plantações, suicidando-se, agredindo feitores e senhores, negociando melhores condições de vida e trabalho, fugindo sozinhos ou com companheiros e formando quilombos.

Os quilombos Uma das principais formas de luta contra a escravidão foi a formação de quilombos por toda a América escravista. Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Pelourinho, Salvador (BA), 2007. A Irmandade dos Homens Pretos de Salvador foi fundada, em 1685, por mulheres e homens originários da região onde hoje é Angola; além da assistência dada a seus associados na doença, na velhice e na morte, a irmandade se empenhava também em conseguir dinheiro para a compra de cartas de alforria. A igreja-sede da irmandade começou a ser construída por escravos e libertos em 1704 e foi reformada recentemente; situada no Largo do Pelourinho, a irmandade e sua igreja foram e continuam sendo um dos centros de apoio à população negra de Salvador.

Quilombos Agrupamentos de pessoas fugidas da escravidão.

Quimbundo Língua da matriz banto falada em Angola.

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}} O Quilombo dos Palmares O maior e o mais duradouro de todos os quilombos brasileiros foi o dos Palmares. Teve início numa noite de 1597, quando cerca de quarenta escravizados fugiram de um engenho do litoral nordestino e se refugiaram na Serra da Barriga, uma região montanhosa situada no atual estado de Alagoas. Como o lugar possuía grande quantidade de palmeiras, chamou-se Palmares. Nos primeiros tempos, a população palmarina não era tão grande. Mas, com as invasões holandesas no Nordeste (1624-1654), desorganizou-se a vida nos engenhos, a vigilância diminuiu e os escravizados aproveitaram para fugir. Segundo João José Reis, nesse período o quilombo chegou a ter cerca de quinze mil habitantes. Os africanos e seus descendentes eram maioria, mas em Palmares havia também brancos pobres e indígenas expulsos de suas terras pelos colonos. Os palmarinos viviam em liberdade e a seu modo num conjunto de povoações chamadas mocambos (de mukambo, “esconderijo” em quimbundo). UNIDADE 1 – DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA


Allmaps

Quilombos mais conhecidos (séculos XVII a XIX)

Equador do Trombetas (1866-88) Maracanã e Macajubá (século XIX)

Turiaçu (século XVIII) do Preto Cosme (1838)

Cumbe (1831) Palmares (1630-95)

Oitizeiro (1807) Buraco do Tatu (1744-65) Nossa Senhora dos Males e Cabula (1807) Urubu (1826)

Pindaituba, Moluca e Joaquim Teles (1795) da Carlota ou do Piolho (1770-95) do Kalunga (1790-1888)

Campo Grande, Isidoro, do rio das Mortes e do rio das Velhas, Ambrósio e imediações de Sabará e Ouro Preto (século XVIII)

OCEANO PACÍFICO e Trópico d

Manuel Congo (1838) Luanda (1880) Iguaçu ou Bomba, Estrela, Gabriel (século XIX)

Jabaquara (1883-88)

o Capricórni

de Jacuípe e Jaguaribe (1705-06) Magarojipe e Muritiba (1713) Campos da Cachoeira (1714) Orobó, Tupim e Andaraí (1796-97) do Camisão (1726) Taperoá, Canavieiras (1733) Nazaré e Santo Amaro (1734) Jacobina e Rio das Contas (1735-36) Jacobina e Xique-Xique (1801)

Alagoa e Enseada do Brito (sem data) Negro Lucas, do arroio Quilombo e do Rio Pardo (sem data)

Muitos dos quilombos que aparecem no mapa ainda não foram estudados. Existiram quilombos por todo o território nacional, desde o Rio Grande do Sul até a Amazônia. Uns pequenos (vinte ou trinta habitantes), outros grandes (com milhares de habitantes). O mais famoso deles foi o Quilombo dos Palmares.

OCEANO ATLÂNTICO

0

360

60º O

Fonte: SCHWARCZ, Lilia Moritz; REIS, Letícia Vidon de Souza (Orgs.). Negras imagens: ensaios sobre a cultura e escravidão no Brasil. São Paulo: Edusp, 1996. p. 26.

Para sobreviver, plantavam milho, feijão, mandioca, batata-doce; criavam porcos e galinhas; caçavam cotias, raposas, tatus; confeccionavam objetos de cerâmica, palha trançada e madeira e faziam vasos, enxadas, pás e pilões. Geralmente, a produção de cada mocambo era distribuída entre os seus membros. As sobras eram guardadas para as épocas de guerra, colheita ou festa, ou para serem trocadas nas vilas mais próximas, como Porto Calvo, Sirinhaém e Alagoas.

} A guerra Palmares sempre tirou o sono dos senhores de engenho luso-brasileiros e das autoridades portuguesas. Por abrigar fugitivos e afrontar a ordem escravista, Palmares era um mau exemplo para os que continuavam cativos. Por isso, desde cedo, os poderosos enviaram expedições contra o quilombo. As primeiras expedições oficiais contra Palmares foram derrotadas pelos quilombolas. Durante a guerra, um jovem guerreiro nascido em Palmares começou a se destacar por sua liderança e firmeza. Seu nome, Zumbi. CAPÍTULO 1 – AFRICANOS NO BRASIL: DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

Zumbi Provavelmente está associado a Nzumbi, título que os povos bantos davam a um chefe militar e religioso.

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Mercenário

Daniel Cymbalista/Pulsar

Que trabalha sem outro interesse que não o dinheiro.

A guerra se prolongou por dezenas de anos. Decididos a vencer a forte resistência palmarina, no início da década de 1 690, as autoridades contrataram o mercenário Domingos Jorge Velho, para comandar a destruição de Palmares. Jorge Velho aceitou, mas em troca exigiu um quinto do valor dos quilombolas aprisionados, quinhentos mil réis em panos e roupas, cem mil em dinheiro vivo e o perdão pelos crimes que havia cometido. Houve inúmeros ataques fracassados, mas a superioridade militar, a abertura de novos caminhos até Palmares e um maior conhecimento da Serra da Barriga desequilibraram a luta em favor dos mercenários. Jorge Velho e seus 6 500 homens derrubaram com balas de canhão a enorme muralha de madeira que os palmarinos haviam erguido em volta de sua “capital”, e o combate se transformou num massacre. Em 6 de fevereiro de 1694, a “capital” de Palmares foi incendiada. Depois, os demais mocambos também foram destruídos. Zumbi, ferido em combate, conseguiu escapar e resistiu por vários meses. Mas, depois, traído por um homem de sua confiança, foi morto em 20 de novembro de 1695. Em 1978, a comunidade negra brasileira transformou o dia 20 de novembro – aniversário da morte de Zumbi – em Dia Nacional da Consciência Negra. Ou seja, um dia para refletir com profundidade sobre o racismo no Brasil e buscar formas para superá-lo.

O racismo é um problema a ser enfrentado por todos os brasileiros, independentemente da cor ou da origem. Manifestações como esta, ocorrida em Brasília, em 1995, em comemoração dos trezentos anos da morte de Zumbi, fazem parte da luta contra o racismo.

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Remanescentes de quilombos No Brasil de hoje ainda existem povoações habitadas pelos descendentes dos antigos quilombolas. Espalhadas por todo o território na­cional, essas comunidades são chamadas de remanescentes de quilombos. São mais de oitenta mil pessoas vivendo de um jeito parecido com o de seus antepassados. Em algumas dessas comunidades, a língua falada conserva termos africanos. A Constituição brasileira de 1988 reconheceu a propriedade definitiva das terras ocupadas por comunidades quilombolas. O artigo 68 diz: Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo os estados emitir-lhes os títulos respectivos. PALÁCIO do Planalto. Art.68. Título X. Ato das disposições constitucionais transitórias. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 24 mar. 2015.

Comunidade quilombola Mimbo, em Amarante (PI), 2014. Candido Neto/Olhar Imagem

Até agora foram concedidos poucos títulos de propriedade, pois há grande dificuldade em documentar a posse da área de forma juridicamente aceita. Além disso, muitas dessas terras são cobiçadas por fazendeiros e, por vezes, estão localizadas em áreas de mananciais e de reservas de extração vegetal e mineral. Muitos habitantes das atuais comunidades quilombolas vêm travando uma luta árdua para reunir provas de que são descendentes de escravizados e de que as terras em que vivem lhes pertencem.

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