KUPSTAS MARCO ZERO
MARCO ZERO
MARCO ZERO
Copyright © Marcia Kupstas, 2023
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Marcia Kupstas nasceu em São Paulo, em 1957. É formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP).
DaDos internacionais De catalogação na publicação (cip) (câmara brasileira Do livro, sp, brasil)
Kupstas, Marcia
Marco zero / Marcia Kupstas. – 1 ed. – São Paulo: FTD, 2023.
ISBN 978-85-96-04008-2
1. Amazônia – Literatura infantojuvenil
2. Arqueologia – Literatura infantojuvenil
3. Aventuras – Literatura infantojuvenil I. Título.
23-143077
ÍnDices para catálogo sistemático:
1. Amazônia: Literatura infantojuvenil 028.5
2. Amazônia: Literatura juvenil 028.5
Henrique Ribeiro Soares – Bibliotecário – CRB-8/9314
CDD-028.5
Para Michel Bueno Flores e Camila Saraiva, que acreditaram no projeto e se empenharam para a concretização deste livro, meus agradecimentos.
sumário
CoNVERsA CoM o LEIToR
É sempre gratificante visitar os amigos, ainda mais quando eles moram em um lugar interessante. Foi com esse ânimo que escrevi este livro, retomando a trajetória de duas personagens que também vivem aventuras intensas em outro livro meu, a ufologista Letícia e a sobrinha dela, Maurícia, que agora viajam pela região Norte do Brasil para conhecer a “Stonehenge da Amazônia”, no Amapá.
Entre várias peripécias, tia Léti engendra uma caçada aos ETs, e Maurícia, cada vez mais fascinada por arqueologia, nos ajuda a compreender melhor os primeiros habitantes de nosso país.
Para pesquisar em detalhes local e assunto, viajei a Macapá. Ao chegar lá, tive ajuda do arqueólogo Michel Bueno Flores, funcionário do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que me acompanhou a Calçoene, município onde se encontra o Parque Arqueológico do Solstício, além de dividir comigo seus amplos conhecimentos sobre outros sítios arqueológicos do estado. Por intermédio dele, conheci Alan Nazaré, que me mostrou o acervo do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado
do Amapá (Iepa), onde vi os artefatos recolhidos no sítio arqueológico AP-CA-18: Rego Grande 1, nome oficial deste sítio filiado à fase arqueológica Aristé, ou, como ficou mundialmente conhecido, a “Stonehenge da Amazônia”.
Esses pesquisadores e estudiosos passaram-me informações precisas e preciosas, que tentei registrar de maneira correta. Entretanto, se houve algum deslize, assumo totalmente as falhas, mas já adianto que me permiti algumas liberdades temporais ou geográficas, por motivos ficcionais.
Marco zero é um livro de ficção. Não fui ao extremo de Bernard Cornwell (1944), brilhante escritor inglês de romances históricos, que chegou ao ponto de mudar a data de óbito de um rei medieval para que sua história pudesse contemplar uma determinada batalha, mas passeei de maneira livre pelo território amapaense e pelos horários de voos das companhias aéreas. Afinal, esses detalhes costumam mudar sempre mesmo.
Marco zero é um romance de viagem, tem um enredo informativo sobre particularidades da Amazônia e alguns sítios arqueológicos do Amapá; porém, sua prioridade é ser um livro juvenil de entretenimento, sobre a amizade de duas mulheres de gerações e temperamentos bem diferentes, mas que aprendem a conviver e a se respeitar.
Leitor, espero que você aprenda mais sobre o tema, mas, principalmente, que se divirta!
Um abraço da Marcia Kupstas
Filosofia chinesa e Raul Seixas
Foram dois anos difíceis na vida de Maurícia. Na verdade, foi um tempo difícil para toda a gente, em todo o planeta. A pandemia da covid-19 tornou realidade o que parecia uma aposta distante, trazendo medo, ansiedade, insegurança.
Se a mãe de Maurícia, Patrícia, já era uma pessoa naturalmente ansiosa e preocupada, na quarentena ela endoidou. Obedecia criteriosamente aos procedimentos de segurança e ainda inventava os próprios: os filhos nem sequer podiam chegar à frente de casa sem o uso de máscara. No dia a dia, adotou um rigor absoluto com a rotina da família, ainda mais quando as aulas dos filhos e o trabalho do marido se tornaram remotos. Queria controlar tudo! Regulava o horário
de uso do computador, só fazia compras pela internet, com total higienização do que entrava em casa, espalhava frascos de álcool em gel por todo lado e exigia que limpassem as mãos dezenas de vezes por dia. Maurícia previa o momento em que os exageros maternos a levariam a recair nos surtos de ansiedade que sofreu quando entrou no Ensino Médio. Pensava ter deixado aquilo para trás quando começou a medicação psiquiátrica, mas aquele comportamento obsessivo da mãe a desestabilizava.
Antes que a coisa piorasse, resolveu pedir ajuda. Enviou uma mensagem à tia Léti contando sobre a loucura de Patrícia e aguardou. Como sempre, sua tia não a desapontou. Após longa conversa com a irmã, disse como se sentia solitária e propôs que a sobrinha passasse a quarentena no apartamento dela. Depois de algumas breves consultas aqui e ali, a coisa se acertou e Maurícia foi morar com a tia.
— Querida! — tia Léti abria os braços, convidativa. — Que bom que você veio, Mauri!
— O abraço vem depois, tia!
Maurícia largou a mala imensa na soleira da porta de entrada do apartamento e se afastou:
— Prometi pra mamãe que antes de tudo ia tomar um banho.
— Vou fazer uma live com você entrando no banho — disse a tia, teclando no celular. — Oi, Patrícia. Olha quem já chegou: fala “oi”.
— Oi, filha, oi. Não esquece de lavar o cabelo.
Continuou dando ordens, a distância:
— Você, Letícia, trate de passar álcool na mala e deixar os sapatos na porta!
Depois de obedecerem às ordens, veio o longo e saudoso abraço. Tia Léti ironizou:
— Bom, já trocamos nossos germes, sem medo da covid.
— Nem fala em covid, tia! — sorriu. — Mas que tempos, hem? Adoro a ideia de morar aqui com você, mas não precisava da quarentena pra isso acontecer!
— Sossega, Mauri. Vão ser tempos interessantes… Aliás, sabia que há uma praga chinesa que diz isso mesmo? — comentou, conduzindo a sobrinha para o quarto.
Então explicou:
— Quando falo praga chinesa nada tem a ver com essa bobajada de que a doença foi uma invenção do governo chinês e que veio da China pra acabar com o Ocidente e coisa e tal… Falo de praga no sentido de jogar uma praga, de mau agouro, de desejar o mal a alguém. Era algo assim: Espero que vivas em tempos interessantes.
— Ora, tia! Mas isso é desejar o mal de alguém? Viver em tempos interessantes me parece uma coisa bem legal.
— Depende. Para os antigos chineses, que prezavam a serenidade, a calma, tempos interessantes remetiam a mudanças, e nem sempre se muda para melhor.
Abriu os braços no quarto de hóspedes e falou:
— E você? Mudou pra melhor? O que acha?
— Ah, tia, com você é sempre melhor!
Letícia tinha um apartamento espaçoso, e o quarto de Maurícia era de frente para a rua. Havia uma cama macia, armários embutidos e uma escrivaninha, onde o computador já estava instalado. A tia tinha seu laptop e havia boa rede de wi-fi por todos os cantos do apartamento, o que facilitava a vida virtual delas.
— Querida, o segredo da boa convivência é respeitar as diferenças… Se não gostar de alguma coisa, você me fala, tá?
Maurícia concordava, reconhecendo a grande diferença entre a mãe e a tia: enquanto uma vivia exausta, porque na quarentena queria saber e prever tudo, em controle exagerado, a outra preferia ficar na sua, perguntar e dar sugestões, não ordens.
Letícia fora funcionária pública, recebia uma aposentadoria generosa, era mulher pragmática que sabia manter suas economias. De modo geral, suas opiniões eram ponderadas e sensatas. A exceção ficava por conta de seu hobby, paixão, exaltação e entusiasmo: os extraterrestres. Foi por causa deles que, em 2019, viveram intensos momentos de convivência, quando a tia arrastou a sobrinha numa viagem para o Acre e, depois, para Cusco, no Peru, atrás da possível presença de alienígenas na América do Sul.
Agora, na quarentena, a tia parecia mais comportada. Era assídua do Grubee, Grupo Brasileiro de Estudos sobre Extraterrestres. Nas reuniões on-line, Maurícia até participava, curiosa.
A rotina de tia Léti era tranquila, mas nunca monótona. Enquanto Maurícia assistia às aulas virtuais do segundo ano
do Ensino Médio, Letícia lia o jornal no laptop, fazia compras on-line ou adiantava o almoço. Trabalhavam juntas na cozinha; a tia readquirira o hábito de cozinhar, agora que tinha companhia nas refeições. Arriscavam receitas, temperos e sobremesas. Quando batia a preguiça, pediam uma pizza e se jogavam no sofá para maratonar filmes, muitas vezes clássicos que tia Léti enriquecia com comentários e curiosidades detalhadas sobre enredo, diretor, elenco.
—Θ—
Passaram-se alguns meses da quarentena, em tranquilo e obediente recolhimento. Por esse motivo, Maurícia levou um susto quando tia Léti sugeriu quebrar o protocolo:
— Mauri, pensei em fazer uma reunião aqui em casa. Do Grubee. O que você acha?
— Ah, tia! Presencial? Será que é uma boa ideia?
— Por que não? As duas pessoas mais velhas do Grubee, a Dagmar e a Albertina, já estão vacinadas. Minha varanda é enorme e bem ventilada. Todo mundo fica de máscara, o tempo todo. A gente não serve nem água, quanto mais um lanche! Sobe um por vez no elevador. Qual é o problema?
Mesmo que Maurícia encontrasse algum problema, não tinha jeito de impedir o encontro. Restava só esperar pelo dia em que conheceria, afinal, cara a cara, os membros do Grubee.
O primeiro a chegar foi Quirino. Vinha excitadíssimo, não parava de falar, as mãos trêmulas diante do corpo:
da covid-19, Maurícia, uma jovem de dezessete anos, passa uns dias na casa da tia Léti e conhece um grupo de amigos que cultiva um hobby: especular teorias sobre extraterrestres. Apesar de cética, Mauri se interessa por arqueologia e ouve com curiosidade uma conversa do grupo sobre a Stonehenge da Amazônia, um círculo de pedras localizado no Amapá que pode dar pistas sobre a origem dos primeiros habitantes da região. Algumas semanas depois, tia e sobrinha voam para Macapá e visitam o sítio arqueológico. Com personalidades muito diferentes, as protagonistas deste livro enfrentam conflitos de crenças e gerações, mas vivem uma incrível e divertida aventura, mostrando ao leitor como uma viagem pode ser o marco zero para descobertas pessoais. Durante a pandemia
ISBN 978-85-96-04008-2
9 788596040082