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POR TODA PARTE

Selo do FSC

Arte_Por_toda_parte_capa_VOLUME_8_LA.indd 8

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Desfrute da Arte que está em você, à sua volta, por toda parte! ISBN 978-85-96-00278-3

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UTUARI • KATER • FISCH ER • FERRARI

Na coleção POR TODA PARTE, formada por quatro volumes, você navega por saberes sobre artes visuais e audiovisuais, teatro, dança, música e literatura, estimulado por provocações poéticas. Seus repertórios culturais são ampliados para o estudo dos conceitos abordados, que oferecem a você conteúdos desenvolvidos em núcleos temáticos por meio da proposta triangular de arte-educação: apreciar, contextualizar e fazer Arte. Cada unidade, em seus capítulos e seções, traz obras e artistas de diferentes lugares, tempos, culturas, estilos e linguagens. Algumas dessas abordagens também são ampliadas nos três cartazes de cada volume, com linhas do tempo temáticas ilustradas.

POR TODA

PARTE S O L A N GE U T U A R I C A R L O S K AT E R B R U N O F I S C HE R PA S C O A L F E R R A R I

ACOMPANHA CD EM ÁUDIO

8 5/10/16 11:49 AM



POR TODA

SOLANGE UTUARI CARLOS KATER BRUNO FISCHER PASCOAL FERRARI

PARTE SOLANGE UTUARI

BRUNO FISCHER

Mestre em Artes (área: Artes visuais) pela Universidade

didáticos e de livros para formação em diversos níveis.

Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com Licenciatura em Educação Artística pela Faculdade Mozarteum de São Paulo (Famosp-SP). Participou do Centro de Estudos da Dança (CED). Trabalhou na equipe curricular de Arte da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Foi coordenador de Educação a Distância na Fundação Bienal de São Paulo e consultor pedagógico na Rádio e TV Cultura de São Paulo.

CARLOS KATER

PASCOAL FERRARI

Educador, musicólogo e compositor. Doutor pela

Mestre em Ciências (área de concentração: ensino de Ciências) pela Universidade Cruzeiro do Sul (UCS-SP). Especialização em Sociologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP). Licenciado em Pedagogia pela Universidade Camilo Castelo Branco (UCCB-SP). Licenciado em Psicologia pela Universidade Braz Cubas (UBC-SP). Professor universitário, ator, diretor de teatro, consultor em projetos culturais em Artes Cênicas e autor de materiais didáticos para cursos de formação de professores em ambientes virtuais.

Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Licenciada em Educação Artística pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC-SP). Especialização em Antropologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP). Especialização em Arte-Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Artista plástica e ilustradora, formadora de educadores em Arte, assessora de projetos educativos e culturais, autora de materiais

Universidade de Paris IV – Sorbonne. Professor Titular pela Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (EM-UFMG). Coordenou o Centro de Pesquisas em Música Contemporânea da UFMG; foi Vice-presidente da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM) e membro do Conselho Editorial (função atual). É Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Música da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) e Curador da Fundação Koellreutter da Universidade

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Federal de São João del-Rei (UFSJ). Autor de diversos livros e artigos. 1a edição São Paulo, 2016

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Por Toda Parte, 8o ano Copyright © Solange dos Santos Utuari Ferrari, Bruno Fischer Dimarch, Carlos Elias Kater, Pascoal Fernando Ferrari, 2016 Diretor editorial Lauri Cericato Gerente editorial Silvana Rossi Júlio Editor Roberto Henrique Lopes da Silva Editor assistente José Alessandre S. Neto Assessoria Alice Kobayashi, Carolina Leite de Souza, Daniela Alves, Daniela de Souza, Rosemary Aparecida Santiago, Roze Pedroso, Solange de Araújo Gonçalves, Thiago Abdalla, Vera Sílvia de Oliveira Roselli Gerente de produção editorial Mariana Milani Coordenadora de arte Daniela Máximo Projeto gráfico Juliana Carvalho, Alexandre S. de Paula Capa YAN Comunicação Material complementar Alexandre S. de Paula Editor de arte Aparecida Pimentel Diagramação YAN Comunicação Tratamento de imagens Ana Isabela Pithan Maraschin, Eziquiel Racheti Coordenadora de ilustrações Marcia Berne Assistentes de arte Talita T. Tardone, Gislene Aparecida Benedito Ilustrações Frosa, Marcelo Cipis, Mariana Waechter Coordenadora de preparação e revisão Lilian Semenichin Supervisora de preparação e revisão Viviam Moreira Preparação Veridiana Maenaka Revisão Caline Devèze, Fernando Cardoso Coordenador de iconografia e licenciamento de textos Expedito Arantes Iconografia Izilda Monte Alto da Silva Canosa Diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Por toda parte, 8.º ano / Solange dos Santos Utuari Ferrari... [et al.]. – 1. ed. – São Paulo : FTD, 2016. Outros autores: Carlos Elias Kater, Bruno Fischer Dimarch, Pascoal Fernando Ferrari ISBN 978-85-96-00278-3 (aluno) ISBN 978-85-96-00279-0 (professor) 1. Arte (Ensino fundamental) I. Ferrari, Solange dos Santos Utuari. II. Kater, Carlos Elias. III. Dimarch, Bruno Fischer. IV. Ferrari, Pascoal Fernando. 16-00606 372.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Arte : Ensino fundamental 372.5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Envidamos nossos melhores esforços para localizar e indicar adequadamente os créditos dos textos e imagens presentes nesta obra didática. No entanto, colocamo-nos à disposição para avaliação de eventuais irregularidades ou omissões de crédito e consequente correção nas próximas edições. As imagens e os textos constantes nesta obra que, eventualmente, reproduzam algum tipo de material de publicidade ou propaganda, ou a ele façam alusão, são aplicados para fins didáticos e não representam recomendação ou incentivo ao consumo.

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à FTD EDUCAÇÃO Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo-SP CEP 01326-010 – Tel. (11) 3598-6000 Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 www.ftd.com.br E-mail: central.atendimento@ftd.com.br

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Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD S.A. Avenida Antonio Bardella, 300 Guarulhos-SP – CEP 07220-020 Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375

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APRESENTAÇÃO Podemos encontrar arte nos mais diferentes lugares, tempos e contextos. Um olhar atento, um ouvido esperto e logo percebemos uma imagem, uma música, um gesto ou movimento, às vezes tudo junto ao mesmo tempo. Música que saiu do rádio do carro que passou pela rua agora há pouco, ou nos sons a revelar o gosto musical do seu vizinho. Bem pertinho, no fone de ouvido do seu celular, naquela música preferida, escolhida por você ou enviada por um amigo que encontra você. Somos contemporâneos do tempo das tecnologias, da cultura visual, dos sistemas de gravação de áudios e vídeos. Podemos compartilhar tudo isso com alguém, mesmo que bem distante. A arte alimenta-se de tudo que o ser humano inventa porque ela também foi inventada por pessoas há muito tempo e agora mesmo, neste último minuto. Você já parou para pensar que alguém, em algum lugar, acabou de fazer um desenho, uma pintura, uma escultura, tirou uma fotografia, criou uma composição, um arranjo musical? Ou que há pessoas apresentando uma peça teatral ou mostrando uma coreografia, com os corpos a movimentar-se em uma dança? Quem sabe alguém por aí está fazendo uma performance, criando uma instalação, escrevendo ou lendo um livro de literatura ou de poemas, ou criando filmes, vídeos, cenários, figurinos ou imagens para ilustrar um livro? É possível que alguém também esteja organizando uma festa, e roupas de carnaval ou maracatu possam, neste exato momento, ser bordadas pelas mãos de quem faz arte do povo para o povo! A arte é assim. Está mesmo em todos os lugares e é criada e apreciada por toda a gente. Estudá-la é procurar mais maneiras para encontrá-la. As produções artísticas brasileiras e as que foram ou são feitas mundo afora nos mostram um caminho para conhecer mais sobre o ser humano e sua maneira poética e estética de viver. Somos seres culturais. Por isso inventamos linguagens, entre as quais muitas são artísticas. Nosso estudo quer ajudá-lo a desvendar essas linguagens para compreender e fazer arte. Convidamos você para estudar Arte. Vem! Veja, cante, movimente-se, sinta a arte da gente. Os autores


Caro aluno, conheça o seu livro de estudo da Arte! VEM ANIMAR! CANTAR!

VEM TOCAR!

Observe a imagem a seguir.

Observe a imagem a seguir. Ana Paula Costa

Filme de Céu D´Ellia. Pauliceia CANTA, TY-ETÊ!. Brasil, 2013

VEM! Você gosta de ser convidado? Imaginamos que sim. Logo de início fazemos convites: Vem olhar! Vem

Cena da animação Pauliceia CANTA, TY-ETÊ!, direção de Céu D’Ellia. Brasil, NUPA, 2012.

Cores e formas mostram para nós um lugar e indicam que algo ali Meninos do Morumbi, projeto social de inclusão por meio da música que envolve crianças e jovens de bairros como Paraisópolis, Campo Limpo e parte dos municípios de Embu das Artes e Taboão da Serra, em São Paulo. Apresentação no Parque do Ibirapuera, em São Paulo (SP), em 2009.

Cantar! Vem encenar, dançar, imaginar,

O desenhista tem algo a dizer, cria imagens, personagens. São pessoas a transitar pela cidade em uma noite chuvosa. De repente, algo se modifica, imagens em movimento e com cores

CLIQUE ARTE

Canta

Meninos do Morumbi. Site oficial do projeto com toda a sua trajetória e os programas que envolvem crianças e jovens com a inclusão social por meio da linguagem da música. Disponível em: <http://ftd.li/ykiobb>.

tramar, pintar... conhecer e fazer arte!

vai começar.

OUÇA ARTE Traje de princesa. Intérprete: Alcione. Autores: São Beto e Beto Scala. Disponível em: <http://ftd.li/kdvo22>.

tomam vida. Olhares atentos na narrativa.

Que hoje estou para alegria

O que será que vai acontecer?

Qualquer canção, qualquer poesia Vou transformar em batucada Hoje quero ficar de bem com a vida

Uma enorme forma colorida toma conta da tela do cinema, salta no ar e mergulha no rio. Rio, que antes era poluído, fica agora colorido.

[...]

A mágica das imagens dos desenhos de animação tem algo a dizer Trecho da letra da música Traje de princesa. SÃO BETO; SCALA, Beto. Traje de princesa. Intérprete: Alcione. In: _____. Morte de um poeta. Rio de Janeiro: Universal Music, 1976. [LP relançado em CD]. Faixa 10.

sobre a poluição. E essa história é contada no curta de animação Pauliceia CANTA, TY-ETÊ!. A arte é crítica, mas mostra suas ideias pela poética. Venha desenhar e animar essas imagens, e com elas expressar mensagens.

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TEMAS

MUNDO CONECTADO „ Celular, um aparelho multimídia Observe a imagem a seguir. Caia Image/Glow Images

By permission of Gary Varvel and Creators Syndicate, Inc

Observe a imagem a seguir.

Cartum de Gary Varvel.

Esse cartum é do artista estado-unidense Gary Varvel (1957). O acesso às tecnologias mais baratas, como as câmeras fotográficas e os celulares que contêm esse recurso, deixou o ato de fotografar mais comum. Tornou-se um ato tão corriqueiro que as pessoas estão fotografando cada vez mais e quase tudo o que veem! No entanto, para que a imagem produzida por esses meios seja arte, é necessário ter a intenção de fazer arte, além de explorar esses materiais e o entorno de forma pessoal e poética. „ Olhando para essa imagem, o que vem à sua cabeça? „ Você lembra de alguma situação que presenciou em que pessoas estavam fotografando algo? „ Como você se relaciona com o ato de fotografar? „ É bem comum ver pessoas fotografando em nossos dias, não é mesmo? Será que essa atitude torna todas essas pessoas fotógrafas?

Estudar Arte pode ser bem instigante e divertido, é como

Das invenções tecnológicas que sobrevivem até os dias de hoje, o celular tem conquistado lugar de destaque. Houve uma época em que somente era possível se comunicar a distância e em tempo real por meio de uma linha telefônica (conectada por fios). Aparelhos fixos podiam fazer ligações para outros aparelhos fixos. Após a invenção do telégrafo sem fio, por Guglielmo Marconi (1874-1937), no final do século XIX, a busca por Atualmente, o público dos grandes shows e eventos tecnologias de comunicação sem costumam fotografar e filmar partes das apresentações com seus celulares. Foto de 2014. fio foi intensificada. O celular surgiu como forma de fazer ligações telefônicas sem que uma conexão entre fios fosse necessária. Foi inventado nos Estados Unidos, em 1947, mas demorou algumas décadas até se tornar uma tecnologia acessível. Com sua popularização, intensificou-se a era da mobilidade na comunicação. Se antes, para falarmos a distância com determinada pessoa, precisávamos saber onde ela estava e qual era o número de telefone daquele local (casa, escola, clube etc.), na era da mobilidade a comunicação pode ser realizada em qualquer lugar em que o aparelho consiga conectar-se a uma rede remota, ou seja, onde o aparelho consiga captar o sinal de conexão com a rede. Atualmente, o celular tornou-se muito mais do que um aparelho telefônico com capacidade de deslocamento e de comunicação sem fio. Cada vez mais ele se aproxima de um computador portátil, com recursos tão variados que a função básica de telefone muitas vezes fica em segundo plano (até mesmo dublagem já pode ser feita por meio de aplicativos digitais desenvolvidos para os celulares mais modernos).

„ A fotografia é uma linguagem artística?

mergulhar em um mar de saberes sem fim. Existem muitas obras de arte, feitas por milhares de artistas em diferentes lugares e tempos. Nesta seção, escolhemos alguns temas e exemplos para que você conheça ideias e histórias do mundo da Arte. A arte está relacionada a outras disciplinas e à vida cotidiana. Você pode descobrir como isso aconte-

E qual será o destino do celular? Ele poderia substituir totalmente computadores e até mesmo o rádio e a televisão? Como ele poderia afetar o universo da arte?

„ Será que ao fotografar estamos fazendo arte? „ Diante do que você já estudou sobre as linguagens artísticas, pense e responda: O que é arte?

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ce lendo a seção Mundo conectado.

MAIS DE PERTO

MAIS DE PERTO „„Uakti„–„a„lenda„e„o„grupo Sylvio Coutinho

O ato fotográfico

Observe a imagem a seguir. Bruno Leão

Quando começamos a conhecer Arte e tudo que, neste universo de saberes, pode nos ajudar a compreender melhor o mundo, não queremos mais parar de conhecer! Assim, a seção Mais de perto resgata o convite feito inicialmente na seção Vem! para aprofundar seus conhecimentos sobre os temas e as linguagens estudados. E, para aproximar você ainda mais da Arte, trazemos sempre uma

Rembrant Van Rijn.1627. Óleo sobre tela. Coleção particular

Georges de la Tour. Séc. XVII. Óleo sobre tela. Museu do Louvre, Paris. Foto: Peter Willi/Getty Images

entrevista ou um depoimento na seção Palavra do artista.

A parábola do homem rico, de Rembrandt, 1627. Painel (carvalho), pintura a óleo, 31,9 cm × 42,5 cm

Mel Curtis/Fotosearch/Latinstock

São José, o carpinteiro, de Georges de La Tour, c. 1640. Óleo sobre tela.

Paleta em tons de terra, laranja e amarelo.

AMPLIANDO Paleta é um acessório utilizado pelos pintores, um recipiente em que se coloca a tinta. Geralmente, é de madeira ou cerâmica, possui um orifício em que o artista coloca o polegar para apoiar e uma base para pôr as tintas e fazer as misturas. Pinturas barrocas são obras produzidas entre os séculos XVI e XVIII no estilo barroco, caracterizadas por contrastes de luz e sombra e composição assimétrica. As pinturas geralmente são compostas de tons em escala que vai de terra escura aos tons de laranja e amarelo intenso. Esse estilo também apresenta dramaticidade na composição e na escolha dos temas.

Como são as cores nessas pinturas? Você percebe as tonalidades que os artistas usaram em suas paletas? Que tal fazer uma lista das cores que você percebe nas imagens? Quantas tonalidades de uma mesma cor podemos ver? Na história da pintura, temos registro da luz natural (Sol, Lua, estrelas, trovão) e da luz artificial (fogo). Os artistas barrocos aproveitaram a iluminação de ambientes a partir de luzes de velas para criar tonalidades amareladas, capturando a luz da vela e suas cores misteriosas. Percebemos isso em pinturas barrocas criadas entre os séculos XVI e XVIII

„ Em relação aos espaços de luz e sombra, como os artistas escolheram iluminar uma área da composição? Há um motivo para isso? „ Que sensações essas imagens causam a você? „ Você considera a luz das velas um bom recurso para explorar tonalidades de cores em pinturas? „ Na fotografia também podemos criar imagens com essas tonalidades? „ E no cinema, você se lembra de uma cena com essas nuances?

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Os músicos Marco Antônio Guimarães (primeiro à esquerda), Artur Andrés e Paulo Santos, do grupo instrumental Uakti, do qual também faz parte Décio Ramos.

Grupo Uakti durante apresentação.

Frosa

Tema 1

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Ilustração de um Uakti, conforme lenda indígena.

Ninguém sabe com certeza como as pessoas começaram a criar instrumentos. Há lendas indígenas que contam histórias que podem nos dar algumas pistas. Entre essas lendas está a história do Uakti, nome que inspirou um grupo musical. O povo Tukano conta que existiu, muito tempo atrás, um ser com o corpo cheio de furos, por onde o vento passava e ressonava um som que encantava as mulheres e as levava embora. Os homens resolveram capturar esse monstro. Houve luta e o Uakti morreu. Ele foi sepultado em um local em que, anos depois, nasceram palmeiras. São dessas plantas que a comunidade Tukano faz seus instrumentos de sopro. Assim, uma lenda brasileira de uma cultura indígena explica a origem do material usado para fazer instrumentos. Relações entre timbres, materialidades, mundos imaginários. Hoje, os músicos exploram os instrumentos já inventados há muito tempo, ao mesmo passo que criam novos. O grupo mineiro Uakti é composto de artistas inventores, criadores na arte da música e na arte de fazer instrumentos.

„ Será que histórias como essa explicam o desejo das pessoas em construir instrumentos?

Marco Antônio Guimarães (1948) e Uakti (1978) Marco Antônio Guimarães (1948), integrante e luthier do grupo de música instrumental Uakti (1978), é compositor, arranjador, violoncelista brasileiro e sempre foi um inventor de coisas. Desde criança inventava seus brinquedos e objetos sonoros. No Uakti, todos dedicam-se a estudar o som, a música e os materiais que podem potencializar as expressões culturais da nossa arte musical. Já fizeram arranjos para músicas de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e The Beatles, entre outros, e tocaram ao lado de grandes músicos brasileiros e estrangeiros. Marco teve contato com um músico que marcou a sua vida de inventor e compositor, o educador e músico Walter Smetak (1913-1984).

Em Salvador eu descobri que, no porão da Escola de Música, tinha um cara construindo instrumentos e fui lá saber o que era. Fiquei atordoado: era o violoncelista Walter Smetak, cercado por centenas de instrumentos esquisitos, extremamente coloridos. A minha vida mudou quando entrei naquele porão. [...] Quando se lida com materiais que nunca foram usados em instrumentos musicais, não se tem parâmetros nem referências; é preciso experimentar até atingir o resultado procurado... De repente, os timbres graves soam bem mas os agudos não, ou vice-versa. Então, você tem que encurtar ou esticar um pouco mais a corda, ou ainda fazer modificações na caixa, até obter uma boa extensão de afinação. RIBEIRO, Artur Andrés. Grupo Uakti. Estudos Avançados, São Paulo, v. 14, n. 39, maio/ago. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid= S0103-40142000000200016&script=sci_arttext>. Acesso em: 26 fev. 2016.

„ Será que todas as escolhas de materiais estão associadas a elementos da natureza? „ O que pode inspirar a criação de novos sons?

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AMPLIANDO Pode ser que algumas palavras sejam novas em seu vocabulário. Assim, preparamos um boxe em estilo de glossário para você saber mais sobre essas palavras e ajudá-lo a compreender melhor o universo da Arte e seus termos. No final do livro há um índice remissivo para você localizá-los sempre que precisar.

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LINGUAGEM DA ARTE Para criar em cada linguagem, precisamos conhecer seus códigos e procedimentos. Toda linguagem tem seu jeito de

PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS Matthias Oesterle/Corbis/Latinstock

Cortina de sensações Escolha um local na escola para fazer uma

ser e de se comunicar. Para se expressar por meio de lingua-

instalação e ao mesmo tempo uma intervenção no espaço por onde as pessoas passam todos os dias. Corte várias tiras de revista e cole uma na outra, criando fios compridos. Monte uma espécie de cortina ou cachoei-

gens é preciso aprender sobre esses jeitos e significados.

ra e aplique no espaço escolhido, de modo

Assim, nesta seção vamos estudar como as linguagens da

nados, porém, nesse caso, coloque-os den-

que as pessoas passem por ela. A proposta é cada um ter a sua própria interpretação ou sensação dessa “passagem” pela instalação. O mesmo pode ser feito com papéis lamitro de salas de aula e ilumine o lugar com lanternas, abajures e outros materiais. Crie quantos projetos quiser com os colegas e o professor porque a arte também é

arte são criadas. Na subseção Ação e criação, sugerimos

uma invenção!

projetos de criação e experimentos artísticos para você,

Exploração de sensações em instalação no Festival de Luzes em Barcelona, Espanha, em 2015.

Olhando para as pinturas com luz e as instalações, como você percebe o mundo da arte atualmente? Que relações você faz entre Arte e Ciências? Inventos criados pela ciência têm influenciado a criação e invenção de obras artísticas? Como isso acontece? Que tal investigar mais sobre esses artistas e suas máquinas maravilhosas? Lembre-se de anotar suas pesquisas e descobertas em seu diário de artista. Invente as suas próprias maneiras de registro das suas aventuras pelas linguagens das artes!

seus colegas e professores poderem fazer arte. Nos boxes Procedimentos artísticos, damos algumas dicas sobre como fazer e usar materiais em produções artísticas.

MISTURANDO TUDO!

Julio Le Parc (1928), artista argentino, foi um dos fundadores do movimento de Arte Cinética, criando imagens que exploram objetos brilhantes e efeitos de luz. Veja uma de suas obras abaixo. No Brasil, artistas como Abraham Palatnik, Mary Vieira (1927-2001), Waldemar Cordeiro (1925-1973), entre outros, desenvolveram a Arte Cinética. Observe as imagens a seguir.

Observe as imagens a seguir. Pensar sobre os melhores ângulos, a posição da luz, o zoom nos detalhes... Enfim, como suas escolhas podem ajudar a ampliar seu conhecimento sobre a arte da fotografia? Para Emídio Contente, entrevistado na seção Palavra„do„artista, o fotógrafo deve ser um eterno estudioso. Portanto, vamos estudar algumas possibilidades de composição de imagens na linguagem da fotografia? Para isso, contamos com a colaboração da fotógrafa Rita Demarchi. Rita é uma artista viajante. Pelos lugares que passeia, captura imagens, que são sensações e Eus, Série Autorretrato, de Rita Demarchi, 2014. lembranças de experiências. Ela nos enviou um Rita Demarchi trecho de seu diário de artista, que mostraremos a seguir. Por meio dele, vamos entrar mais em contato com a experiência da arte da fotografia.

© Le Parc, Julio/AUTVIS, Brasil, 2016. Foto: Pierre Verdy/AFP/Getty Images

Rita Demarchi

O Beijo, de Waldemar Cordeiro, 1967. Objeto eletromecânico e fotografia P&B sobre papel, 50 cm × 45,2 cm.

„„Experiências„fotográficas„–„„

Continuel mobile - Sphère rouge, obra de Julio Le Parc, exposta em Paris, França, em 2013.

em„busca„do„interessante„„ e„do„enquadramento

Um conhecimento pode ser conectado a outro. Uma linguagem pode ter

Waldemar Cordeiro. 1967. Fotografia P&B sobre papel, sobre madeira. Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo

„„Impressões„e„composição„em„fotografias

relação com outras e até estarem juntas em uma produção artística. Esta

Mary Vieira. 1953/62. Disco plástico e alumínio anodizado. Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo

LINGUAGEM DAS ARTES VISUAIS

seção traz questões para você pensar sobre isso e para perceber o que você

Polivolume, de Mary Vieira, 1953. Disco plástico, ideia para uma progressão serial, e alumínio anodizado, 36,7 cm × 36,7 cm.

Rita Demarchi estava passeando em Arcos, uma pequena cidade da região do Alentejo, interior de Portugal, quando registrou essas impressões por meio de texto e imagens. Acompanhe nas páginas a seguir.

Eu/Helena/Eu, Série Autorretrato, de Rita Demarchi, 2013.

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aprendeu ao estudar cada capítulo.

AÇÃO E CRIAÇÃO „ Arte em movimento

„ Você costuma fotografar?

Vimos que o movimento pode ser representado por meio de desenhos, pinturas e outras linguagens, mas na Arte Cinética o movimento faz parte da obra, ou seja, é preciso criar um mecanismo, alguma forma de produzir movimento. Vamos fazer experiências e criar arte?

„ Como você fotografa? „ Será que sempre haverá uma fotografia para falar de nós? Um retrato tirado por alguém? Uma selfie? Uma cena que queremos guardar para lembrar coisas que vivemos? „ Será que imagens podem falar sobre nós?

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Em outras épocas, encontramos imagens que mostram movimentos de pássaros e outros temas. Como nos desenhos renascentistas de Leonardo da Vinci (1452-1519) em criações contemporâneas. Na música de Chico Buarque (1944), ele canta que “o tempo rodou num instante”, mensagem que mostra a relação entre tempo e movimento que influencia a nossa vida. Assim, temos registrado o movimento na arte de muitas maneiras. Entretanto, representar é diferente de colocar o movimento como parte da VEJA ARTE obra de arte, que é um passo além, e assim nasce a Arte Cinética. Alexandre Calder. Confira os vídeos das esculturas do Observe esta imagem. artista em imagens 3D que A Arte Cinética aparece como estética na história da Arte simulam o movimento de suas criações. Disponível em: em 1955, quando um grupo de artistas reuniu-se para realizar <https://ftd.li/3ititp>. a exposição Le Mouvement (O movimento), em uma galeria Ukartpics/Alamy/Latinstock de Paris, na França. Entre esses artistas, o francês Marcel Duchamp (1887-1968) apresentou obras que pareciam engenhocas, mas que criavam imagens com efeitos visuais quando colocadas em movimento. Esse tipo de arte rompeu a tradição de imagens estáticas na pintura. O interesse de Duchamp pelos experimentos com máquinas para produzir efeitos ópticos o motivou a criar vários experimentos. Pelo mundo, a proposta de arte do movimento espalhou-se. O escultor estado-unidense Alexander Calder (1898-1976) usava, em suas obras artísticas, objetos como latas de sardinha, caixas de fósforos e pedaços de vidro coloridos. Calder criaRotor rings (Rotor de anéis), de va esculturas com movimento, algumas acionadas Gavin Turk, 2012. A obra fez parte de uma exposição em Londres, em 2014, à manivela, além de inventar móbiles. AMPLIANDO

Desenhos renascentistas privilegiam as proporções dos seres humanos e da natureza fazendo uso dos princípios geométricos e matemáticos e a partir da aplicação de luz e sombra.

seios culturais e dicas de como ou onde encontrar mais arte. Registre tudo em seu Diário de artista. Aprovei-

chamada O que Marcel Duchamp ensinou-me, na qual diversos artistas expuseram suas obras inspiradas na arte de Duchamp, com depoimentos sobre essas influências. Na imagem, vemos um tipo de estrutura mecânica com círculos.

te também as dicas dos boxes Clique arte, Leia arte, Ouça arte e Veja arte por todo o livro.

Escultura de Alexander Calder, 1962. Folha de metal e haste pintada.

Cipis

arte mais de perto. Nesta seção, há propostas de pas-

celo

os colegas podem ter interesse em ver, ouvir ou sentir a

Você já viu alguma dessas linguagens artísticas que estudamos em seu cotidiano? Como são as linguagens que usam cor luz? O que é arte propositora? Como são as instalações descritas nesta unidade? O que você descobriu de novo? A Arte e as Ciências estão sempre juntas? Por quê? E em relação à música, o que aprendemos sobre Arte e Ciências? Pesquise mais sobre os luthiers brasileiros. Na sua cidade há alguma oficina desse tipo de atividade? Como é possível criar linguagens e expressar-se pela arte na sua escola? Como podemos criar instalações com luzes e sons no ambiente da sua sala? Estudamos que algumas produções artísticas são em grupo e outras individuais. Como você vê o seu processo de criação? Qual das linguagens estudadas aqui você considera mais interessante para a criação de arte em grupo? Que tal chamar a turma e os professores e criar projetos de arte com base no aprendizado desta unidade?

Mar

Depois de conhecer algumas trajetórias da Arte, você e

© 2016 Calder Foundation, New York/AUTVIS, Brasil, 2016. Foto: Christie's Images/Superstock/Glow Images

EXPEDIÇÃO CULTURAL

DIÁRIO DE ARTISTA Vamos registrar suas experiências artísticas em caderno criado especialmente por você e para você, um tipo de diário de artista? Pesquise mais sobre a cor luz, as instalações e criações na arte contemporânea. Analise também as características dos instrumentos musicais, como foram criados no passado e como são hoje. Registre suas percepções no seu diário de artista de muitas formas possíveis, escrevendo, desenhando, por meio de pinturas, colagens... O diário é o seu suporte e o artista é você!

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Instrumentos que o tempo traz

Yoshi0511/Shutterstock.com

Museu de Persépolis, Irã

Sauletas/Shutterstock.com

James Gillray. 1805. Gravura. Coleção particular. Foto: Everett Historical/Shutterstock.com

Quanto mais o mundo se conecta, maior é o intercâmbio de sonoridades e de instrumentos musicais. O xilofone, por exemplo, parte integrante das orquestras e muito usado por músicos de jazz, é um instrumento de tradição afro-asiática que no século XIX foi incorporado à cultura ocidental.

O xilofone, cuja origem remete a várias culturas de regiões da África e da Ásia, teria sido introduzido em orquestras no século XIX.

Corneta persa primitiva, da dinastia Aquemênida (séc. VI a.C.), fabricada em bronze. Museu de Persépolis, Irã.

O saxofone, criado em 1840 pelo belga Adolphe Sax, é o único entre os instrumentos de sopro de metal que possui palheta.

Séc. XVIII. Château de Thoiry, Yvelines. Foto: Gianni Dagli Orti/AFP/Otherimages

1300 Acredita-se que o cravo tenha sido criado por volta de 1300. A principal diferença entre o cravo e o piano é que no cravo as cordas são pinçadas e no piano, percutidas com martelos. Nesta imagem, cravo do século XVIII.

Vamos ver essa história mais de perto? A música é uma linguagem que impeliu o ser humano a buscar fora de seu corpo mais recursos sonoros. O corpo produz sons por meio da voz, de palmas, pisadas e batidas em partes do próprio corpo, como pernas e peito. Os seres humanos também buscaram nos elementos da natureza a matéria-prima para a criação de novas fontes sonoras. Troncos de árvores, ossos, peles de animais e rochas foram utilizados para a criação de instrumentos de percussão e de sopro.

Em 1949, John Cage fazia experimentos com instrumentos, por exemplo, alterando a afinação de seu piano com moedas e parafusos entre as cordas.

2013 Grupo Experimental de Música. 2013. SESC, Santos. Foto: Jefferson Fernandes

A harpa, um dos mais antigos instrumentos criados, originou-se dos arcos de caça que faziam barulho ao roçarem na corda. Nesta gravura de 1805, o instrumento aparece em destaque.

1949 New York Times Co/Getty Images

Século XIX

Século VI a.C.

2009 a.C. Os antigos tambores eram feitos com pedaços de troncos de árvores ocos e recobertos com pele de animal. Nesta imagem, um tambor africano de couro de confecção bem rústica, feito nos dias de hoje, traz inspirações dos artefatos antigos.

Holbox/Shutterstock.com

1840 6000 a.C.

Anos 2000: grupos musicais como o GEM fazem experimentos com instrumentos já existentes ou criados com materiais não convencionais, desenvolvendo novas sonoridades.

Pré-História

Detalhe da obra Concerto dos anjos, afresco de Gaudenzio Ferrari, mostra o alaúde, instrumento de origem árabe que teria sido introduzido na Península Ibérica por volta do século XII.

1815 Duzan Zidar/Shutterstock.com

Gaudenzio Ferrari. Séc. XVII. Afresco. Santuário Madona dos Milagres, Saronno. Foto: The Bridgeman Art Library/Easypix

Berents/Shutterstock.com Aliaksandr Shatny/Shutterstock.com

Século XV

Os europeus encontraram registros de maracas em praticamente toda a América Latina no período das navegações, iniciadas no século XV.

Idade Moderna

O aspecto tecnológico é particularmente relevante ao observarmos a história dos instrumentos musicais, assim como o trabalho dos luthiers. A criação do piano, por exemplo, consolidou tão fortemente este instrumento que seu antecessor, o cravo, quase caiu no esquecimento. Atualmente, instrumentos musicais muito antigos, como os atabaques, usados na capoeira, convivem junto a aplicativos digitais musicais em aparelhos celulares.

Idade Contemporânea

1

Qual foi o primeiro instrumento musical que você teve contato?

2

Que instrumentos musicais você conhece?

3

Que instrumentos são mais populares na região onde você mora?

4

Qual(is) instrumento(s) musical(is) desta linha do tempo você ainda não conhecia?

Século XVI (registro oficial do afresco)

O triângulo, conhecido na Europa no século XIV, só foi empregado na orquestra a partir do século XVIII, por Mozart.

A lira, instrumento amplamente usado na Antiguidade, acompanhava as récitas poéticas gregas. Há registros em outras culturas de até 3 mil a.C.

Idade Média

Século XIV

Classic statue/Shutterstock.com

3000 a.C.

Idade Antiga

Desde os primeiros tambores e flautas, os instrumentos musicais não pararam de evoluir. Do arco, utilizado na caça, surge o ancestral dos instrumentos de corda. A cada avanço intelectual e tecnológico, surgiam inovações e novos instrumentos. Uma variedade incrível de sons era irradiada do Oriente e do Ocidente, das primeiras civilizações e dos primeiros povos da humanidade.

Trompete de pistão, idealizado por Heinrich Stölzel, em 1815.

5

Qual(is) você já conhecia, mas nunca teve contato próximo?

6

O xilofone foi introduzido nas orquestras ocidentais no século XIX, mas quando teria sido ele criado?

7

Você já brincou de transformar objetos domésticos (baldes, panelas, talheres, cabos de vassoura etc.) em instrumentos musicais? É possível fazer música só com esse tipo de objeto?

8

Em uma das imagens desta linha do tempo, um músico toca um instrumento de modo diferente do usual. Você já imaginou algo assim? Localize essa imagem e pesquise sobre essas possibilidades.

Vem pra arte! Agora é a sua arte que completa a linha do tempo. Faça uma colagem com imagens de instrumentos musicais característicos de países como Índia, China, Japão, Austrália, entre outros que despertarem sua curiosidade. Cole também instrumentos musicais eletroacústicos, eletrônicos e digitais. Adicione, ainda, imagens de outros instrumentos musicais que gostaria de ver nesta linha do tempo.

ARTE PELO TEMPO – LINHAS DO TEMPO TEMÁTICAS No estudo de Arte, estamos o tempo todo fazendo relações entre passado e presente. Essa viagem nem sempre ocorre no tempo cronológico. Precisamos estudar a arte do nosso tempo porque somos contemporâneos dessas produções. Olhar para o passado e ver como a arte se transforma provoca reflexões sobre como a vida e a sociedade também mudam com o passar dos séculos. Assim, observe as linhas do tempo do material complementar e registre suas impressões e criações!

65


SUMÁRIO Olafur Eliasson. 2003. Tate Modern, London. Foto: Gustoimages/SPL/Latinstock

UNIDADE 1

A arte e suas invenções maravilhosas

Capítulo 1 – COR, ESPAÇO E TEMPO............................................ 10

Capítulo 2 – SOM E INVENÇÃO.........36 VEM TOCAR!..............................................................38 VEM INVENTAR! .......................................................39

VEM PINTAR!............................................................ 12 VEM PARTICIPAR!..................................................... 13

Tema 1 – Invenção e som.................................. 40 Sons, silêncios e invenções.................................40 Mundo conectado: A ciência dos instrumentos musicais.............................................................43

Tema 1 – A linguagem da luz.............................14

Criações iluminadas e luminosas........................15 Mundo conectado: Magos da luz e da cor..........19

Tema 2 – O luthier e suas criações maravilhosas.............................................. 46

Tema 2 – Entre as artes e as propostas............ 20

Espaços luminosos..............................................21 Mais de perto: Cor luz e a poética do espaço tempo.....................................................22 Palavra do artista: Abraham Palatnik.................24 Mais de perto: Multicores, multimídia................25 Palavra do artista: Luiz Zerbini..........................26

Linguagem das artes visuais............................ 27 Arte Cinética.......................................................27

Linguagem da música...................................... 54

Ação e criação: Arte em movimento...................29

Linguagem das artes visuais............................ 33

Mergulhe nessa cor.............................................33 Ação e criação: Intervenções.............................34

Famílias musicais................................................54 Ação e criação: Escutar e criar..........................58

Linguagem da música...................................... 60

Misturando tudo!.............................................. 35

Ontem e hoje, o som em invenção.......................60 Ação e criação: Criando uma ocarina.................62 Ação e criação: instalação sonora......................63

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Misturando tudo!.............................................. 64 Expedição cultural......................................................... 65 Diário de artista ............................................................ 65

UNIDADE 2

Olhando pela lente

Capítulo 1 – IMAGEM: CAPTURA E CRIAÇÃO..............................................68 VEM FOTOGRAFAR E DESENHAR! ............................. 70 VEM CAPTURAR!........................................................71

Tema 1 – O ato fotográfico................................ 72 Tema 2 – Fotografias artísticas........................ 73

apiguide/Shutterstock.com

Artesanato musical.............................................46 Mundo conectado: Som, natureza e cultura.......48 Mais de perto: Uakti – a lenda e o grupo............50 Palavra do artista: Marco Antônio Guimarães e Uakti................................................................51 Mais de perto: Grupo Experimental de Música (GEM).................................................52 Palavra do artista: Fernando Sardo e GEM.........53

Mundo conectado: A imagem como denúncia....74 Mais de perto: Formas e fotoformas ..................75 Palavra do artista: Geraldo de Barros................76 Mais de perto: A arte do artista e a arte do outro....................................................77 Palavra do artista: Emidio Luisi.........................78

Linguagem das artes visuais............................ 79 Mesclando fotografias e desenhos......................79 Cor......................................................................80

Textura................................................................80 Forma.................................................................81 Pontos e linhas....................................................81 Ação e criação: Experimentando linguagens . com a arte de fotografar.....................................82 Ação e criação: Grupo Ruptura e a Arte Concreta................................................83

Linguagem das artes visuais............................ 85

Para onde olhar?.................................................85 Será verdade ou mentira?...................................86 Criando o inusitado.............................................87 Registrando pessoas...........................................87 Foto-ação e a captura do tempo..........................88 Ação e criação: Experimentando linguagens com a arte de fotografar......................................89

Misturando tudo!.............................................. 89


Linguagem das artes visuais...........................108 Impressões e composição em fotografias..........108

VEM FOTOGRAFAR!...................................................92 VEM FILMAR!............................................................93

Tema 1 – Olhar pela lente................................. 94 A história da luz e da escuridão...........................96 Uma máquina gigante.........................................97 Mundo conectado: Processos físico-químicos...................................................99

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Capítulo 2 – IMAGEM FIXA E EM MOVIMENTO..............................90

Ação e criação: Escolhendo temas e composições de cenas...................................110 Ação e criação: Criação de pinhole..................111

Linguagem das artes audiovisuais....................112

A visão em zoom...............................................112 Ação e criação: Fazendo um filme...................113

Misturando tudo!..............................................114

Tema 2 – Em um segundo, 24 quadros que transformaram o mundo............................100 Mundo conectado: Memória da retina.............102 Mais de perto: Gêneros e estilos......................104 Palavra do artista: Wagner Moura....................105 Mais de perto: Olhando por dentro...................106 Palavra do artista: Emídio Contente.................107

Expedição cultural....................................................... 115 Diário de artista .......................................................... 115

Capítulo 1: BATUCADAS E BATIDAS.................................118 VEM TOCAR!............................................................ 120 VEM COMPOR!.......................................................... 121

Tema 1 – O toque do tambor............................122

Batuque de bambas..........................................122

Tema 2 – Ritmo marcado.................................124 A fala dos tambores..........................................124

Mundo conectado: Tambores sagrados............125 Mais de perto: Rrookadoong kadoong kadokadokadoongdoong...................................126

Tema 3 – Experimentos concretos................... 127

É abstrata, é concreta, é música........................127 Música eletrônica popular.................................129 Palavra do artista: Sílvio Ferraz.......................131

Linguagem da música.....................................132 Tambores..........................................................132

Ação e criação: Batucada................................135

Linguagem da música.....................................138 Composição......................................................138 Ação e criação: Concretizando uma música... concreta!.............139

Misturando tudo!..............................................141

UNIDADE 3

Capítulo 2: OLHO E VOZ.......... 142 VEM DUBLAR!......................................................... 144 VEM ANIMAR!.......................................................... 145

Tema 1 – Impressionar os sentidos..................146

Arte para todos.................................................146

Arte que anima.................................................149

Das páginas para as telas.................................152 Mundo conectado: A invenção do rádio...........153 As radionovelas.................................................154 Mundo conectado: Celular, um aparelho multimídia....................................155 Mais de perto: Versão brasileira.......................156 Palavra do artista: Gabi Porto..........................157 Mais de perto: A animação no Brasil................158 Palavra do artista: Céu D’Ellia e NUPA.............160

Tema 2 – Imagens animadas...........................148 Tema 3 – Cenas sonoras..................................152

Linguagem das artes audiovisuais....................161

Dublagem.........................................................161 Ação e criação: Dublando................................162 Ação e criação: Ilustrações..............................164 Ação e criação: No ar!.....................................165

Linguagem das artes audiovisuais...................166

As técnicas de animação...................................166 Festival de cinema de animação........................167 Ação e criação: Processos de animação..........168

Misturando tudo!............................................. 170

Expedição cultural....................................................... 171 Diário de artista........................................................... 171

Páginas finais Ampliando: Índice remissivo, 172

Referências, 173 Arte na web, 173 Livros, 176

Olafur Eliasson. 2003. Tate Modern, London. Foto: Gustoimages/SPL/Latinstock

Tecnologia, corpo e voz

Holbox/Shutterstock.com


UNIDADE 1

1

A arte e suas invenções maravilhosas 2

3

8

As cores de tintas e luz nas artes. A luz retratada nas pinturas. As cores projetando-se pela luz. Nas telas, objetos e instalações, os artistas manipulam as cores e exploram a luz. No corpo e na tecnologia, o som e a música transformam-se. Objetos de arte sonoros, instrumentos e performances musicais, a música em metamorfose permanente.


10

8

9

6

7

5

4

Trajetórias para a arte: ¡¡ Capítulo¡1¡/¡Cor, espaço e tempo ¡¡ Capítulo¡2¡/¡Som e invenção Créditos das imagens: 1. PianOrquestra. Foto: Márcia Moreira; 2. Lowefoto /Alamy/Latinstock; 3. New York Times Co/Getty Images; 4. Abraham Palatnik. 1969. Motor engrenagens e lâmpadas. Art Unlimited, São Paulo. Foto: Vicente de Mello; 5. Marka /Alamy/Latinstock; 6. Van Gogh. 1888. Museu D'Orsay, Paris; 7. Eduardo Ortega Estudio Foto; 8. Abraham Palatnik. 1966/2005. Tinta, madeira, fórmica, metal, motor e engrenagens. Art Unlimited, São Paulo. Foto: Vicente de Mello; 9. Gijsbert Hanekroot/Alamy/Latinstock; 10. © Cruz Diez, Carlos/AUTVIS, Brasil, 2016. Foto: Rune Hellestad/Corbis/Latinstock

9


Capítulo 1

COR, ESPAÇO E TEMPO Arte e você em: ¡¡ A linguagem da luz ¡¡ Entre as artes e as propostas ¡¡ Linguagem das artes visuais

10


O Projeto Tempo, de Olafur Eliasson, 2003.

11

Olafur Eliasson. 2003. Tate Modern, London. Foto: Gustoimages/SPL/Latinstock


VEM PINTAR! Abraham Palatnik. 1969. Motor engrenagens e lâmpadas. Art Unlimited, São Paulo. Foto: Vicente de Mello

Observe a imagem a seguir.

Aparelho cinecromático, de Abraham Palatnik, 1969. Madeira, metal, plástico, tecido sintético, lâmpadas e motor, 112 cm × 70 cm × 20 cm.

Que cores parecem saltar quando você olha para essa obra? Que formas podemos, em um instante, encontrar, perceber? Espaço em cores... será um lugar? Formas, tons, luminosidade que acende a curiosidade: será uma pintura ou tela iluminada? Paisagem ou composição abstrata? A maioria dos artistas pinta com cores presentes em tintas, são cores químicas. E há, também, quem pinte com luzes. Então, são cores físicas. Olhe mais uma vez. Tons claros embaixo. Em cima, um tom mais escuro desponta. Azul profundo convida a mergulhar, cores claras e rosas intensos parecem saltar. Essa imagem será sempre assim? Ou a cada instante as cores vão mudar? O artista é um pintor ou um inventor de máquinas de criar imagens coloridas? Um mistério para você descobrir. Vem pintar com cor química ou cor luz, vem ser inventor de novos jeitos de ver e fazer arte.

12


VEM PARTICIPAR! Eduardo Ortega Estudio Foto

Observe a imagem a seguir.

Eu tenho uma proposta. Entre e participe dessa obra. Este é um convite que alguns artistas fazem sempre.

Instalação Inferninho, de Luiz Zerbini, para a 29a Bienal de São Paulo, 2010.

São artistas que têm propostas. São artistas propositores. O que você percebe na imagem? Luzes convidam a participação de alguém. Será que participar dessa obra é um convite a uma viagem? Viagem a um universo de sensações sonoras, visuais e táteis? Será que podemos entrar e mergulhar em luzes, sonoridades e ser parte da obra também? Quem é o artista a criar? Será ele dono dessa criação? Ou você também o ajuda a inventar essa instalação? Vamos aceitar o convite? A arte propositora chama para participar. Vamos lá?

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Tema 1

A linguagem da luz Shintaro Ohata Sparklers. 2010. Courtesy of the artist and YUKARI ART

Observe a imagem a seguir.

Brilhantes, de Shintaro Ohata, 2010. Pintura, escultura de poliestireno.

Agora, leia este trecho de letra de música.

OUÇA ARTE Canto do povo de um lugar. Intérprete e autor: Caetano Veloso. Disponível em: <http://ftd.li/n9fq45>.

Todo dia o Sol se levanta E a gente canta Ao Sol de todo dia [...] Trecho da letra de música Canto do povo de um lugar. VELOSO, Caetano. Canto do povo de um lugar.¡ Intérprete: Caetano Veloso. In: _____. Joia.¡ Rio de Janeiro: Philips, 1975. LP. Faixa 6.

Houve um tempo em que a escuridão era iluminada apenas pela luz da Lua, das estrelas e de outros eventos da natureza. As pessoas desse tempo observaram o fogo, que era produzido por raios que caíam do céu, por rochas incandescentes saindo de vulcões, e pensaram: “Como será que se captura essa luz?”. E foi com esse desejo de possuir a luz que muitas pessoas tentaram obtê-la.

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Criações iluminadas e luminosas

Xinhua News Agency/Eyevine/Glow Images

O fogo foi a primeira conquista. Imagine, você, que conseguir recriar uma fagulha, a luz do fogo, mudou profundamente o destino da humanidade. Contudo, as pessoas queriam mais luzes, queriam brilho e beleza. Na China antiga, inventaram os fogos de artifício. Agora o mundo podia ver muitas luzes a explodir em cores e formas nos céus.

Performance de dança do dragão com fogos de artifício feita por atores na província de Yunnan, na China, em 2013.

Na Idade Média, alquimistas desenvolveram vários materiais que tinham aromas mais agradáveis ao queimar. Os alquimistas não eram bem-vistos pela Igreja Católica em função de suas atividades (eram considerados feiticeiros). Assim, para sobreviver, criavam velas e as comercializavam nas cidades. No início as velas eram caras e apenas alguns podiam adquiri-las. Com o tempo, a luz das velas ficaram mais populares e mudaram a forma de todos olharem a noite e lidarem com a escuridão. Também mudaram o universo da arte. Pinturas, iluminação de teatro, cenas e lugares foram vistos pelo filtro da luz da vela. Essas imagens foram registradas pelos artistas e podemos apreciá-las até hoje. Veja alguns exemplos a seguir.

AMPLIANDO Alquimistas eram pesquisadores que misturavam vários materiais na busca por conhecimento e riqueza. Foram importantes para a Química porque pesquisaram e descobriram muitas propriedades de materiais e suas reações. Contudo, durante a Idade Média foram perseguidos pela Igreja católica por suas pesquisas para transformar materiais em ouro, acusados de bruxaria. Para sobreviver, viviam da venda de velas e perfumes.

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Rembrant Van Rijn.1627. Óleo sobre tela. Coleção particular

Georges de la Tour. Séc. XVII. Óleo sobre tela. Museu do Louvre, Paris. Foto: Peter Willi/Getty Images

A parábola do homem rico, de Rembrandt, 1627. Painel (carvalho), pintura a óleo, 31,9 cm × 42,5 cm

Mel Curtis/Fotosearch/Latinstock

São José, o carpinteiro, de Georges de La Tour, c. 1640. Óleo sobre tela.

Paleta em tons de terra, laranja e amarelo.

AMPLIANDO Paleta é um acessório utilizado pelos pintores, um recipiente em que se coloca a tinta. Geralmente, é de madeira ou cerâmica, possui um orifício em que o artista coloca o polegar para apoiar e uma base para pôr as tintas e fazer as misturas. Pinturas barrocas são obras produzidas entre os séculos XVI e XVIII no estilo barroco, caracterizadas por contrastes de luz e sombra e composição assimétrica. As pinturas geralmente são compostas de tons em escala que vai de terra escura aos tons de laranja e amarelo intenso. Esse estilo também apresenta dramaticidade na composição e na escolha dos temas.

Como são as cores nessas pinturas? Você percebe as tonalidades que os artistas usaram em suas paletas? Que tal fazer uma lista das cores que você percebe nas imagens? Quantas tonalidades de uma mesma cor podemos ver? Na história da pintura, temos registro da luz natural (Sol, Lua, estrelas, trovão) e da luz artificial (fogo). Os artistas barrocos aproveitaram a iluminação de ambientes a partir de luzes de velas para criar tonalidades amareladas, capturando a luz da vela e suas cores misteriosas. Percebemos isso em pinturas barrocas criadas entre os séculos XVI e XVIII

„„ Em relação aos espaços de luz e sombra, como os artistas escolheram iluminar uma área da composição? Há um motivo para isso? „„ Que sensações essas imagens causam a você? „„ Você considera a luz das velas um bom recurso para explorar tonalidades de cores em pinturas? „„ Na fotografia também podemos criar imagens com essas tonalidades? „„ E no cinema, você se lembra de uma cena com essas nuances?

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A explosão de cores luminosas nas pinturas desses artistas barrocos tornou possível retratar o nascimento das trevas da noite em uma atmosfera dramática causada pela poesia dos contrastes. Agora, observe as imagens a seguir. Vincent Van Gogh. 1888. Museu Kröller-Müller. Holanda. Foto: World History Archive /Alamy/ Latinstock

Van Gogh. 1888. Museu D'Orsay, Paris

LEIA ARTE Rembrandt. São Paulo: Folha de São Paulo, 2007. (Coleção Folha Grandes Mestres da Pintura, v. 17). Sinopse: Rembrandt, em muitos de seus quadros, faz uso de uma forte iluminação frontal, com o objetivo de fazer que o observador preste atenção no aspecto mais importante da obra. Assim, desviava o foco do público para onde quisesse. Van Gogh. São Paulo: Folha de São Paulo, 2007. (Coleção Folha Grandes Mestres da Pintura, v. 1). Sinopse: Detalhes dos hábitos, das técnicas e da vida conturbada do grande pintor Van Gogh, que já foi tema de inúmeros filmes.

Noite estrelada sobre o Ródano, de Van Gogh, 1888. Óleo sobre tela, 72,5 cm × 92 cm.

Terraço do café à noite, de Van Gogh, 1888. Óleo sobre tela, 81 cm × 65,5 cm.

Outros artistas também fascinados pela luz criaram imagens para capturar reflexos de luz em águas de um rio – Noite estrelada sobre o Ródano (1888) –, a vida noturna que podia conhecer ao frequentar um café – Terraço do café à noite (1888) –, ou os brilhos de estrelas – Noite estrelada (1889) –, em cidades do sul da França, todas obras do holandês Vincent Willem Van Gogh (1853-1890) vistas na página anterior. Essa é a época dos artistas pós-impressionistas. Van Gogh olhou para a luz em contrastes com as sombras da noite e criou pinturas repletas de tonalidades azuis, amarelas, laranja e violeta, formando uma verdadeira sinfonia cromática.

AMPLIANDO

„„ Que cores são percebidas nessas paisagens noturnas?

Pós-impressionistas são os artistas considerados a segunda geração do Impressionismo ou os artistas que seguiram caminhos artísticos independentes. A arte dos impressionistas, movimento artístico do final do século XIX e início do século XX, tinha como foco o estudo da luz. Em seus processos, estava a criação de pinturas feitas ao ar livre, a partir de pesquisas sobre as mudanças da atmosfera e da luz. O termo impressionismo foi inicialmente usado para definir pinturas inacabadas. Os artistas pós-impressionistas inovaram na cor e na forma e abriram caminhos para outros estilos como o expressionismo e o cubismo.

„„ Os contrastes em setores escuros e claros das pinturas são provocados por quais cores?

Sinfonia cromática significa uma composição de cores.

„„ Observe novamente essas imagens. „„ A paleta do artista mudou de cor? „„ A paleta de cores usadas por Van Gogh é diferente da utilizada por Rembrandt e Georges de La Tour?

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Shintaro Ohata.“2”. 2011. Courtesy of the artist and YUKARI ART

Shintaro Ohata. In the rain. 2012. Courtesy of the artist and YUKARI ART

Na época que Van Gogh pintou suas cenas noturnas mais famosas, entre meados dos anos de 1888 e 1889, a lâmpada elétrica já tinha sido inventada por Thomas Alva Edison (1847-1931) desde 1879. Esses objetos para iluminar a noite começavam a mudar a vida noturna das cidades que antes eram iluminadas por velas, depois lampiões a gás e, finalmente, pelas lâmpadas incandescentes. Pouco a pouco, a vida urbana ficava mais clara e luminosa até chegar à visão contemporânea do artista japonês Shintaro Ohata (1975). Em suas pinturas, vemos o cotidiano das cidades grandes hoje, repletas de luzes que explodem em cores, brilhos e reflexos. Na sua paleta podemos encontrar os tons azuis de Van Gogh, assim como os tons amarelados dos artistas barrocos Rembrandt e La Tour. Agora, vamos apreciar as pinturas de Shintaro Ohata. Observe as imagens em vários ângulos. É uma pintura ou escultura?

Registro fotográfico da obra tridimensional In the rain (Na chuva), de Shintaro Ohata, 2012. Pintura em poliestireno e escultura.

Registro fotográfico da obra tridimensional 2, de Shintaro Ohata, 2011. Pintura em poliestireno e escultura.

E você, se fosse representar a luz na linguagem da pintura, que cores estariam em sua paleta? Saia por aí, observe a noite e pense em suas escolhas.

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MUNDO CONECTADO „„Magos da luz e da cor Na história das invenções, cientistas e artistas trilham caminhos semelhantes. Van Gogh foi obstinado por sua arte, sua maneira de ver o mundo. Um estudioso da cor, fazia várias anotações em diários que transformava em cartas para amigos e para o irmão Théo. Era um homem simples que gostava da natureza. Hoje, suas obras são exibidas em todo o mundo. Muitas imagens desse artista vistas em exposições podem ser reproduções usando altas tecnologias, como no caso da Mostra de arte digital em São Paulo de 2012, que permitia ao público interagir com obras de Van Gogh ao toque em uma tela. O artista multimídia que projetou a obra Noite estrelada animação interativa (2012), o grego Petros Vrellis (1974), explica em site oficial (<http://ftd.li/t769pz>) que existem componentes instalados com sensores ao lado da tela que usam tecnologia semelhante à de videogames. Esses sensores enviam informações para um computador, que transforma os movimentos feitos com a mão do espectador em uma animação projetada em uma grande tela. Quem visita esse tipo de exposição pode se sentir também um pintor. Só que, no lugar de tintas, cores e pigmentos, esse pintor multimídia utiliza luzes da tecnologia. Veja um exemplo na imagem a seguir. Na sua investigação sobre como são as cores e formas dos céus noturnos, Van Gogh criou imagens que fascinam até hoje os astrônomos e artistas multimídias. Na sua criação e poética pessoal, ele observou intensamente a vida e a interpretou em cores. Rita Demarchi

Thomas Edison foi um criador de vários inventos. Como Van Gogh, ele também era obstinado por suas criações, e conhecia a história daqueles que já tinham percorrido caminhos para elaborar muitos dos seus inventos. As ciências e as artes são assim. Há processos iniciados por alguns que são continuados por outros. O que faz diferença é encontrar ideias, materiais, saberes que combinem e, assim, conceber uma obra artística ou científica em sua plenitude. AMPLIANDO Artistas multimídias são aqueles que produzem arte explorando várias linguagens e tecnologias. Astrônomos são cientistas que pesquisam os astros e o universo em sua história, dinâmica, física e química. Visitante interage com reprodução da obra Noite estrelada, de Van Gogh, na exposição Mostra de arte digital, em São Paulo, em 2012.

O que a história do pintor Van Gogh tem a ver com a história do inventor Thomas Edison?

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Tema 2

Entre as artes e as propostas

Pavel Nemecek/AP/Glow Images

Graças à invenção de Thomas Edison que artistas como os canadenses Caitlind R. C. Brown e Wayne Garrett puderam fazer o convite para o público participar da sua obra Nuvem (2012). Para criar essa escultura foi preciso juntar 6 mil lâmpadas incandescentes queimadas. Os artistas reutilizaram as lâmpadas e usaram também luzes fluorescentes, estrutura de metal e cordões que dão a ilusão de gotas de chuva, além de convidar o público a puxá-los para acender ou apagar essas luzes. Uma obra de arte propositora, pois convidava as pessoas a participarem da escultura, que só fica concluída quando o público participa. A proposta é convidar as pessoas a viver a sensação de estar debaixo de uma nuvem e ver efeitos luminosos de raios.

Instalação Nuvem, de Caitlind R. C. Brown e Wayne Garrett, 2012. Na foto, instalação da escultura interativa no Festival de Luzes em Pilsen, na República Tcheca, em 2015.

A invenção da lâmpada provocou mudanças importantes na história da humanidade. No universo da arte, isso se intensificou a partir do século XX, estimulando também as criações que solicitavam a participação do público. Na obra Nuvem, a proposta é convidar as pessoas a viver sensações e também a pensar sobre o efeito da luz artificial em nossa vida.

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Rita Demarchi

Espaços luminosos A luz elétrica fez nascer a linguagem dos espaços luminosos. São instalações que exploram a expressividade e o simbolismo da luz. A artista japonesa Yayoi Kusama (1929), é autora da obra Cheia de brilho da vida (2014). Trata-se de uma sala composta com espelhos e luzes coloridas que acendem e apagam criando espaços infinitos em múltiplos reflexos. Observe a imagem ao lado.

Outra obra que nos convida a participar é a instalação do artista dinamarquês Olafur Eliasson (1967), que já esteve no Brasil apresentando suas instalações interativas. Geralmente, ele usa materiais que refletem imagens e luzes, além de trabalhar com efeitos luminosos e transparências. Veja a imagem ao lado. A linguagem artística é a instalação. Olafur Eliasson convida as pessoas a sentir sensações como ver um pôr do sol em meio uma neblina suave. Bela imagem, mas é uma ilusão! Essas cenas acontecem dentro de um museu na Inglaterra, o Tate Modern.

Gijsbert Hanekroot/Alamy/Latinstock

Imagem da instalação Cheia de brilho da vida, de Yayoi Kusama, 2014.

AMPLIANDO Tate Modern é um museu britânico de arte moderna e contemporânea.

Instalação visual O Projeto Tempo, de Olafur Eliasson.

Onde você acha que essas pessoas estão? Que hora do dia parece ser? Esse lugar é quente ou frio? O que você imagina que as pessoas sentem ao entrar nesse lugar? Essas imagens lembram-lhe algo? O quê? Que tipo de linguagem artística é essa?

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MAIS DE PERTO  „„Cor luz e a poética do espaço tempo Observe a imagem a seguir. Abraham Palatnik. 1969. Motor, engrenagens e lâmpadas. Art Unlimited, São Paulo. Foto: Vicente de Mello

VEJA ARTE Abraham Palatnik. Confira vídeo com um relato das experiências do artista com Arte Cinética e como foi todo o seu processo criativo e a produção para a 1a Bienal de São Paulo. Disponível em: <http://ftd.li/xspmfe>.

É uma pintura? É uma escultura? Que linguagem é essa? Como vamos classificá-la? Onde colocá-la em uma exposição?

AMPLIANDO Bienal de São Paulo é uma exposição que acontece a cada dois anos. Teve uma exposição em 1951 e acontece desde 1962, no Parque do Ibirapuera, na cidade de São Paulo. Cinecromático é uma máquina composta de uma caixa com lâmpadas no seu interior e telas coloridas que se movimentam acionadas por motores, gerando imagens de luz e cor em uma superfície semitransparente.

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Aparelho cinecromático, de Abraham Palatnik, 1969. Madeira, metal, plástico, tecido sintético e lâmpadas e motor, 112 cm × 70 cm × 20 cm.

Essas dúvidas fizeram a comissão do júri da Bienal de São Paulo de 1951 quase recusar a exposição da obra do artista potiguar Abraham Palatnik (1928). Sua obra era algo diferente, pegara o júri de surpresa com tanta novidade para aquela época. Percebeu logo, porém, que se tratava de uma arte inovadora que marcaria a história da arte brasileira. O crítico e historiador de arte Mario Pedrosa (1900-1981) chamou a obra de Palatnik de Cinecromático, uma máquina de pintar.


Abraham Palatnik. 2004. Caixa em madeira e lâmpadas. Art Unlimited, São Paulo. Fotos: Vicente de Mello

Abraham Palatnik. 1969. Motor engrenagens e lâmpadas. Art Unlimited, São Paulo. Foto: Vicente de Mello

Palatnik tem participado de exposições importantes de arte no Brasil e pelo mundo. Sua obra está entre as primeiras no cenário da arte em que se empregou o uso de tecnologias e os princípios físicos do movimento. Trata-se de uma arte que acontece por meio de movimentos. Uma linguagem que associa a pintura com “cor luz” ao espaço e ao tempo. A tela de pintura, feita geralmente com tecidos sintéticos, é colorida por fontes luminosas que mudam de lugar a cada instante. E como isso funciona? Vamos ver.

Aparelho cinecromático, de Abraham Palatnik, 1969. Madeira, metal, tecido sintético, lâmpadas e motor, 112 cm × 70 cm × 20 cm.

Imagem do interior do Aparelho cinecromático, de Abraham Palatnik, 1969. Madeira, metal, lâmpadas e motor, 112 cm × 70 cm × 20 cm.

Palatnik foi um dos pioneiros do movimento Arte Cinética. Em sua formação estudou mecânica de motores a explosão e aliou os conhecimentos de Física com os saberes em Arte. Para criar seus aparelhos cinecromáticos, Palatnik usou caixas de madeiras com lâmpadas ligadas a um mecanismo de movimento (pequenos motores). À medida que esse mecanismo move as lâmpadas coloridas, vemos a cada instante uma nova imagem formar-se.

AMPLIANDO Arte Cinética é uma vertente artística que rompe a condição estática da pintura e da escultura, apresentando a obra como um objeto em movimento.

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Vicente de Mello

Abraham Palatnik em seu ateliê, no Rio de Janeiro. Foto de 2004.

Abraham Palatnik (1928) Nascido em Natal (RN), em 1928, e vivendo no Rio de Janeiro, o artista Palatnik vê na arte um espaço para invenção. Como ter um pensamento que leve à invenção? Como isso acontece? Muitas vezes precisamos estar abertos para a intuição sobre as coisas, assim como também nos permitir fazer pesquisas, usar cálculos para resolver problemas. Criar, seja em que atividade for, é sempre um processo que envolve observar, conhecer, imaginar, sonhar... Quando planejamos, inventamos o futuro. O artista desenvolve uma percepção sobre o mundo de modo peculiar, aprende a resolver problemas, faz experiências, exercícios fundamentais ao processo criador. Em uma de suas entrevistas, Palatnik diz:

Fiz estudos no campo da cibernética, mas meu foco ficou totalmente dirigido a testar materiais, formas e cores. Foram experiências bem práticas. [...] Começo com uma ideia vaga do que quero obter, e o próprio processo de fazer o trabalho vai ditando as escolhas e o resultado final. [...] Para inventar alguma coisa é preciso ter um comportamento anticonvencional. Eu acho que as indústrias deveriam contratar artistas porque eles possuem um potencial perceptivo que pode resolver inúmeros problemas. CORDEIRO, Tiago. Arte feita de Física. Galileu. Disponível em: <http:// revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI338453-18538,00ARTE+FEITA+DE+FISICA.html>. Acesso em: 26 fev. 2016.

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MAIS DE PERTO  „„Multicores, multimídias Observe as imagens a seguir. Eduardo Ortega Estudio Foto

Eduardo Ortega Estudio Foto

Vista da parte interna da obra Inferninho, de Luiz Zerbini, 2010. Instalação na 29a Bienal de São Paulo. Zerbini fez parte de uma geração de artistas que ficou conhecida por Geração 80.

Uma caixa preta. Ao entrar, há cores, formas, texturas, luzes... Em um momento, são raios luminosos em formas multicoloridas. No outro instante, a cena já muda e a visão é monocromática. Que lugar é esse? Trata-se da instalação Inferninho (2010), do artista paulista Luiz Pierre Zerbini (1959), que foi apresentada na 29a Bienal de Arte de São Paulo. Esse artista multimídia trabalha criando instalações, colagens, pinturas e outras linguagens usando os materiais mais diversos. Nessa instalação, Zerbini convida o público a experimentar a sensação de estar dentro de uma caixa acústica. Ao mesmo tempo que o público vê as luzes, cores e formas, também escuta um som de altíssimos decibéis.

Vista da parte externa da obra Inferninho, de Luiz Zerbini, 2010. Instalação na 29a Bienal de São Paulo.

AMPLIANDO Artista multimídia é aquele que produz sua arte (happening, performance, instalação etc.) fazendo uso de novas tecnologias, criando uma nova linguagem. Decibel é a unidade de medida usada para registrar a intensidade de um som. Geração 80 é o termo para identificar um grupo de jovens artistas brasileiros no início da década de 1980, caracterizados pela recuperação da pintura como linguagem. Uma pintura gestual, solta, carregada por uma explosão de cores e sem engajamento político. Monocromática é a radiação produzida por apenas uma cor. Não deve ser empregada para a cor branca (soma de todas as cores) ou preta (ausência de cor/luz). É uma harmonia conseguida por apenas uma cor e seus tons diferentes.

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Eduardo Ortega Estudio Foto

Luiz Zerbini (1959) Artistas contemporâneos expressam-se em muitas linguagens. Há casos de artistas, como Luiz Zerbini, que criam esculturas, instalações, vídeos, fotografias, cenários, ilustrações, textos e composições sonoras. São artistas multimídias. Luiz Zerbini, que começou a ter aulas de arte aos 4 anos de idade, conta como iniciou a criação de instalações, porém afirma ser principalmente um pintor, mesmo se expressando em várias linguagens.

A Ilha, de Luiz Zerbini. Autorretrato.

[...] Sou um pintor, penso como um pintor, mas não estou limitado a pintar telas. Não houve um momento de transição. Sempre fui assim. Para mim a maior característica dessa geração, se é que existe uma, é a construção e expressão de um pensamento não linear. Desde a minha primeira exposição individual, no Subdistrito em São Paulo, expus instalações. Continuei fazendo isso nas minhas exposições seguintes. Participei da Bienal de SP de 87 com uma instalação e faço instalações até hoje, mas continuo sendo lembrado sempre como um pintor. [...] TRIGO, Luciano. Pintar após a morte da pintura. In: Máquina de Escrever, G1, 27 maio 2010. Disponível em: <http://g1.globo.com/platb/ maquinadeescrever/2010/05/27/830/>. Acesso em: 26 fev. 2016.

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LINGUAGEM DAS ARTES VISUAIS „„Arte Cinética

Paulo Daniel Farah/Folhapress

Leonardo Da Vinci. Desenho. Séc. XVI. Turin Biblioteca Reale. Italia

Observe as imagens a seguir.

Pintura rupestre de até 11 mil anos atrás, em sítio arqueológico do Parque Nacional das Emas, em Serranópolis, Goiás. Foto de 2003.

Desenhos de Leonardo da Vinci (1452-1519) com pássaros em movimento.

Roda mundo, roda-gigante Rodamoinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração Trecho da letra de música Roda Viva, para a peça teatral de mesmo nome, de 1967. BUARQUE, Chico. Roda viva. Intérprete: Chico Buarque e MPB-4. In: _____. Chico Buarque de Hollanda − volume 3. Rio de Janeiro: RGE, 1968. LP. Faixa 6.

A Arte Cinética é a arte do movimento. O ser humano sempre foi fascinado por imagens e movimento. Você já notou que em imagens de pinturas rupestres há representação de pássaros em pleno voo? Algumas dessas imagens estão aqui no Brasil e fazem parte do acervo no Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade, são pinturas de quase 11 mil anos atrás, no Parque Nacional das Emas, em Goiás.

OUÇA ARTE Roda-viva. Intérprete e autor: Chico Buarque. Disponível em: <http://ftd.li/bajfs7>.

AMPLIANDO Pinturas rupestres são desenhos, pinturas e registros pré-históricos feitos a partir de pigmentos ou gravações em paredes de cavernas.

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Em outras épocas, encontramos imagens que mostram movimentos de pássaros e outros temas. Como nos desenhos Desenhos renascentistas renascentistas de Leonardo da Vinci (1452-1519) em criações privilegiam as proporções dos seres humanos e da natureza contemporâneas. fazendo uso dos princípios Na música de Chico Buarque (1944), ele canta que “o temgeométricos e matemáticos e po rodou num instante”, mensagem que mostra a relação entre a partir da aplicação de luz e tempo e movimento que influencia a nossa vida. Assim, temos sombra. registrado o movimento na arte de muitas maneiras. Entretanto, representar é diferente de colocar o movimento como parte da VEJA ARTE obra de arte, que é um passo além, e assim nasce a Arte Cinética. Alexandre Calder. Confira os vídeos das esculturas do Observe esta imagem. artista em imagens 3D que A Arte Cinética aparece como estética na história da Arte simulam o movimento de suas criações. Disponível em: em 1955, quando um grupo de artistas reuniu-se para realizar <https://ftd.li/3ititp>. a exposição Le Mouvement (O movimento), em uma galeria Ukartpics/Alamy/Latinstock de Paris, na França. Entre esses artistas, o francês Marcel Duchamp (1887-1968) apresentou obras que pareciam engenhocas, mas que criavam imagens com efeitos visuais quando colocadas em movimento. Esse tipo de arte rompeu a tradição de imagens estáticas na pintura. O interesse de Duchamp pelos experimentos com máquinas para produzir efeitos ópticos o motivou a criar vários experimentos. Pelo mundo, a proposta de arte do movimento espalhou-se. O escultor estado-unidense Alexander Calder (1898-1976) usava, em suas obras artísticas, objetos como latas de sardinha, caixas de fósforos e pedaços de vidro coloridos. Calder cria Rotor rings (Rotor de anéis), de va esculturas com movimento, algumas acionadas Gavin Turk, 2012. A obra fez parte de uma exposição em Londres, em 2014, à manivela, além de inventar móbiles. chamada O que Marcel Duchamp ensinou-me, na qual diversos artistas expuseram suas obras inspiradas na arte de Duchamp, com depoimentos sobre essas influências. Na imagem, vemos um tipo de estrutura mecânica com círculos.

Escultura de Alexander Calder, 1962. Folha de metal e haste pintada.

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© 2016 Calder Foundation, New York/AUTVIS, Brasil, 2016. Foto: Christie's Images/Superstock/Glow Images

AMPLIANDO


Continuel mobile - Sphère rouge, obra de Julio Le Parc, exposta em Paris, França, em 2013.

Waldemar Cordeiro. 1967. Fotografia P&B sobre papel, sobre madeira. Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo

O Beijo, de Waldemar Cordeiro, 1967. Objeto eletromecânico e fotografia P&B sobre papel, 50 cm × 45,2 cm.

Mary Vieira. 1953/62. Disco plástico e alumínio anodizado. Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo

© Le Parc, Julio/AUTVIS, Brasil, 2016. Foto: Pierre Verdy/AFP/Getty Images

Julio Le Parc (1928), artista argentino, foi um dos fundadores do movimento de Arte Cinética, criando imagens que exploram objetos brilhantes e efeitos de luz. Veja uma de suas obras abaixo. No Brasil, artistas como Abraham Palatnik, Mary Vieira (1927-2001), Waldemar Cordeiro (1925-1973), entre outros, desenvolveram a Arte Cinética. Observe as imagens a seguir.

Polivolume, de Mary Vieira, 1953. Disco plástico, ideia para uma progressão serial, e alumínio anodizado, 36,7 cm × 36,7 cm.

AÇÃO E CRIAÇÃO „„Arte em movimento Vimos que o movimento pode ser representado por meio de desenhos, pinturas e outras linguagens, mas na Arte Cinética o movimento faz parte da obra, ou seja, é preciso criar um mecanismo, alguma forma de produzir movimento. Vamos fazer experiências e criar arte?

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PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS

Fotos: Xica Lima

Criando os desenhos

1 Recorte um círculo de 30 cm de diâmetro, aproximadamente, em uma folha de papel-cartão branca. Recorte mais um círculo de 30 cm de diâmetro, aproximadamente, em uma folha de papelão (pode ser reciclado, como os de embalagens de pizza).

AMPLIANDO Composições monocromáticas usam uma única cor e suas diferentes tonalidades. Composições policromáticas usam combinações de duas ou mais cores.

2 Na folha de cor branca trace círculos de vários tamanhos, um dentro do outro. Você pode usar um compasso para fazer esses desenhos. Não há regras, invente seus desenhos.

3 Pinte estas formas e linhas usando canetas ou lápis de cor.

Você pode fazer composições monocromáticas ou policromáticas. Crie vários desenhos, explore as possibilidades de padrões e composições usando os círculos. Com os desenhos propostos, agora é hora de colar os dois círculos (o papelão e a folha desenhada).

Colocando em movimento Vamos precisar de um mecanismo que coloque os desenhos em movimento. Como uma roda de bicicleta, por exemplo. Você pode usar um ventilador pequeno em potência baixa ou o motor de uma batedeira em baixa velocidade. Para isso, basta prender o disco nesse mecanismo. Veja as imagens. Caso não queira ou não possa usar um mecanismo elétrico, utilize um recurso manual, Fotos: Xica Lima

criando um pião.

1 Faça um tambor de rodar usando uma parte de uma embalagem de pizza e um parafuso pequeno.

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2 Para montar o tambor, faça um furo no centro e encaixe o parafuso com a parte da ponta para fora da embalagem.

3 Prenda os seus desenhos dentro da embalagem.


Criando cinecromáticos Para criar pinturas com a cor luz, podemos fazer várias experiências. Combine com os colegas para que tragam lanternas e folhas de papel-celofane. Com fita adesiva, cubra a parte

Fotos: Xica Lima

luminosa da lanterna com os papéis coloridos. Cada lanterna terá uma cor.

1 Estique um tecido grande (pode ser um lençol branco) em um espaço com pouca ou nenhuma luz. Para criar efeitos com cores luz, cada amigo pode segurar uma lanterna acesa coberta com as cores dos papéis-celofane.

2 Aproxime a lanterna do tecido e faça movimentos lentos percorrendo esse espaço. Quem está na parte oposta do tecido verá uma pintura acontecendo a partir dos movimentos criados por você e pelos colegas. Vocês podem revezar entre quem está fazendo a obra e quem a aprecia. Movimentos corporais e coreografias podem ser criados misturando linguagens.

Outra ideia é prender as lanternas em duas rodas de bicicleta. Para isso, basta colocar uma bicicleta de ponta-cabeça, prender as lanternas aos aros da roda usando arames maleáveis para que fiquem bem presas. Depois, coloque o tecido próximo a esse mecanismo e movimente as rodas com um impulso manual. Que efeitos isso dará? Vamos experimentar? Como essa arte é efêmera, que tal combinar com a turma para fazer os registros dos experimentos?

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Objeto de pintar cinético (movimento do pêndulo) Esta proposta explora o movimento de um pêndulo. É a união entre arte e ciência. Um pêndulo produz movimentos dentro de certos padrões por determinado tempo. Assim, podemos usar essa ideia para criar pinturas. Vamos experimentar? Fotos: Xica Lima

Fotos: Xica Lima

Atenção: as etapas a seguir devem ser feitas com o acompanhamento e apoio do professor. 1 Comece cortando a parte de baixo de uma garrafa PET de 600 mL. 2 Depois faça três furos na parte onde foi cortada. 3 Faça mais um furo na tampa da garrafa. 4 Coloque um pedaço de madeira ou haste de metal ou plástico não flexível preso com fitas adesivas entre duas mesas (prenda bem), mas deixe um bom espaço entre elas. 5 Use os cordões para prender o pêndulo de garrafa na haste. Verifique se os cordões são do mesmo tamanho para que o movimento seja uniforme.

6 Vamos começar com um teste: coloque um pedaço de fita adesiva no furo da tampa para que o líquido não saia. Coloque água dentro da garrafa. Cubra o chão com folhas de papel (pode ser de qualquer tipo). Retire a fita que veda a saída de líquido e solte a garrafa de modo que comece a balançar como um pêndulo. 7 Feito o teste, se o desenho formado com água está de acordo com a sua intenção, agora é hora de colocar a tinta. Antes, dissolva a tinta na proporção de um copo de tinta guache para meio copo de água, misture bem e coloque na garrafa (ela é o nosso pêndulo, o objeto cinético de pintar). Faça o mesmo procedimento do teste com a água. Forre o chão com folhas grandes de papel (você pode fazer um painel unindo quatro folhas de cartolina branca com fita adesiva). Solte o pêndulo e crie sua arte com esse objeto cinético.

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LINGUAGEM DAS ARTES VISUAIS Observe a imagem ao lado. A arte da instalação é uma linguagem feita em espaço, em algum lugar. As matérias podem ser as mais variadas. São ambientes preparados para que o público, além de ver a obra de arte, também possa participar dela, caminhar no espaço e, assim, dependendo da proposta do artista, completar a obra. Em algumas propostas, a obra artística só existe com a participação do público. Os artistas que criam com essa linguagem preparam um lugar para o público entrar e de algum modo também se expressar. Esse tipo de linguagem da arte começou a ser explorada no início do século XX, mas foi na década de 1960 que aumentaram as produções, cada vez mais diversificadas em relação aos materiais e às propostas. É uma manifestação que acontece no mundo inteiro e tem marcado a arte do nosso tempo. Assim, nas instalações, somos convidados a entrar em ambiente especialmente criado para a experimentação de uma obra artística. Nos ambientes cromáticos das instalações criadas pelo pintor venezuelano Carlos Cruz-Diez (1923), como na sua obra Chromosaturation (2009), um ambiente artificial composto de salas coloridas com luzes, quem visita essa instalação é convidado a mergulhar nessa pintura luz e deixar-se “tingir” por ela. Observe na imagem ao lado.

Yaniv Nadav/Demotix/Corbis/Latinstock

Jovens exploram as sensações provocadas por instalação durante o Festival de Luzes em Jerusalém, Israel, em 2014.

CLIQUE ARTE Carlos Cruz-Diez. Confira os espaços projetados pelo artista que cria um espetáculo de cores. Disponível em: <http://ftd.li/c6x85y>. © Cruz Diez, Carlos/AUTVIS, Brasil, 2016. Foto: Rune Hellestad/Corbis/Latinstock

„„Mergulhe nessa cor

Chromosaturation, de Carlos Cruz-Diez, em 2013.

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Lucia Koch. 1999. Coleção da artista. Foto: Elaine Tedesco.

No Brasil, a gaúcha Lucia Koch (1966) trabalha com a luz natural do Sol na obra Gabinete (1999). O tempo e o espaço são tomados pela luz que passa pelas janelas revestidas com material transparente e colorido.

O gabinete, de Lucia Koch, 1999. Chapas de acrílico em janelas e frestas da oficina de reparos do antigo cais do porto de Porto Alegre. Instalação apresentada na II Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, RS.

AÇÃO E CRIAÇÃO „„Intervenções Neste capítulo, vimos que luz, cor, som, texturas, reflexos, movimento e muitos outros recursos podem ser explorados para criar sensações, provocar reações ou reflexões sobre a arte e a vida. A linguagem da instalação explora a criação de um lugar, um ambiente. Às vezes, podemos fazer intervenções nos espaços ou criar um. Vamos inventar instalações, som, imagens, cores, formas, movimentos, reflexos? O que você vai querer explorar? PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS Olafur Eliasson. Séc. XX. Museu de Arte Moderna, Dinamarca. Foto: Hugo Ortuño Suárez/Corbis/Latinstock

Pintando somente com cores Vamos mudar a cor de um lugar dentro da escola? Observe a imagem ao lado. Vamos pintar as paredes, mas em vez de tintas vamos usar cores! Para fazer esse experimento precisamos de folhas de papel celofane em várias cores e fitas adesivas transparentes. Combine com o professor, chame os colegas e cubra todas as janelas da sala de aula com os papéis coloridos e transparentes. Que efeito terá?

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Vista externa da obra Your Rainbow Panorama (Seu panorama do arco-íris), de Olafur Eliasson, 2006-2011.


PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS Matthias Oesterle/Corbis/Latinstock

Cortina de sensações Escolha um local na escola para fazer uma instalação e ao mesmo tempo uma intervenção no espaço por onde as pessoas passam todos os dias. Corte várias tiras de revista e cole uma na outra, criando fios compridos. Monte uma espécie de cortina ou cachoeira e aplique no espaço escolhido, de modo que as pessoas passem por ela. A proposta é cada um ter a sua própria interpretação ou sensação dessa “passagem” pela instalação. O mesmo pode ser feito com papéis laminados, porém, nesse caso, coloque-os dentro de salas de aula e ilumine o lugar com lanternas, abajures e outros materiais. Crie quantos projetos quiser com os colegas e o professor porque a arte também é uma invenção!

Exploração de sensações em instalação no Festival de Luzes em Barcelona, Espanha, em 2015.

Olhando para as pinturas com luz e as instalações, como você percebe o mundo da arte atualmente? Que relações você faz entre Arte e Ciências? Inventos criados pela ciência têm influenciado a criação e invenção de obras artísticas? Como isso acontece? Que tal investigar mais sobre esses artistas e suas máquinas maravilhosas? Lembre-se de anotar suas pesquisas e descobertas em seu diário de artista. Invente as suas próprias maneiras de registro das suas aventuras pelas linguagens das artes!

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Capítulo 2

SOM E INVENÇÃO Arte e você em: ¡¡ Invenção e som ¡¡ O luthier e suas criações maravilhosas ¡¡ Linguagem da música

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Lowefoto/Alamy/Latinstock

Aeolus, escultura sonora de Luke Jerram, 2012. Instalada em Manchester, na Inglaterra, a obra de arte também é um instrumento musical gigante, um tipo de harpa eólica.

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VEM TOCAR! Bruno Leão

Observe a imagem a seguir.

Grupo Uakti.

Olhe, imagine e escute. São músicos a se apresentar. E o que tem mais nesse lugar? No palco tem cano de PVC, pandeiro, violão, tamborim e água. Água no cano, na bacia? Será que sai som? Dá para tocar? São muitos instrumentos, alguns há tempos conhecidos, já outros, recém-inventados. E esses artistas que se apresentam são músicos ou inventores? Gira manivela, sopra no tubo, toca tampa de panela... É o Uakti! A música desse grupo é assim, cheia de invenção, de pesquisa, de som. Arte em plena criação!

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VEM INVENTAR! Observe a imagem a seguir. Grupo Experimental de Música. 2013. SESC, Santos. Foto: Jefferson Fernandes

Instrumentos criados pelo Grupo Experimental de Música (GEM), feitos com materiais alternativos. Foto de 2013.

Que parafernália será essa? É para ver ou tocar? São instrumentos reunidos? Será uma grande escultura ou instalação sonora? Olhando bem para esses objetos, o que provoca o seu olhar? São feitos de vários materiais, cada um tem o seu som. Cada coisa tem o seu timbre. Cada objeto está em um lugar. Panela, roda de bicicleta, canos, tambores... Metal, madeira, plástico. Som, imagem em uma só arte, música inventada com coisas também inventadas, mas para usar no dia a dia. São os instrumentos do Grupo Experimental de Música, o GEM. Música brasileira, coisas da nossa gente que gosta de inventar novos jeitos de criar. Vamos conhecer o som que esse grupo tem? Música e visual para juntar o pessoal.

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Tema 1

Invenção e som Sons, silêncios e invenções Herve Gloaguen/Getty Images

Observe a imagem a seguir.

Apresentação em estúdio de TV do balé Variations V (Variações V), coreografado por Merce Cunningham, com performance sonora de John Cage, em 1966.

„„ Por que o estranhamento? „„ Como você imagina essa cena? „„ Quanto ao som, como você o imagina? „„ Misturar todos esses objetos pode resultar em música?

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Agora, imagine essa outra cena... Um músico conhecido por suas invenções de sons participa de um programa de televisão na década de 1960. É um programa de auditório, ou seja, além de ser transmitido para a casa das pessoas, há também o público que assiste à cena no estúdio de gravação. O músico é o estado-unidense John Cage (1912-1992) que, ao se apresentar, diz que vai tocar uma torradeira, um liquidificador, quatro rádios, uma banheira, um regador com água, um pato de borracha, chaleiras e baldes, além do piano. Imagine a reação das pessoas ao ver que um músico iria fazer um som assim, ou melhor, uma música com objetos e coisas do cotidiano! Risos espalham-se pela plateia que assiste à performance do artista achando aquilo tudo muito estranho e engraçado.


Jens Wolf/Picture Alliance/Other Images

Segundo Cage, compositor estudioso da música, desenhista, pintor e escritor, o mundo é sonoro e todo artista deve se alimentar desses sons para criar. Essas ideias tiveram influência do movimento artístico Fluxus, que surgiu na Europa na década de 1960 e inspirou artistas do mundo todo. Cage, além de inovar em suas composições musicais, também criou performances musicais para espetáculos de dança. John Cage desenvolveu sua arte influenciado pelas novidades tecnológicas do século XX. Ele inventou sons usando os mais diferentes materiais, objetos do cotidiano, instrumentos musicais e sons mixados com programas de computadores. Embora o som, a música, fosse seu interesse de estudo e criação artística, ele também pesquisou sobre o silêncio. Cage fez-se a pergunta: Há silêncio em nosso mundo? Se o som é uma onda longitudinal que se propaga por onde há matéria e se o nosso mundo é feito de matérias, podemos concluir que sempre está acontecendo um som. Em um de seus experimentos, Cage entrou em uma câmara anecoica, uma cabine à prova de som, e observou que ainda podia ouvir algo, porque ele levou consigo o seu corpo, que é matéria. Assim, as batidas do coração, o respirar, a circulação do sangue em suas veias eram sons acontecendo dentro da cabine. Desse modo, Cage concluiu que não há lugar no mundo em que não haja som. Somente a audição humana é que não consegue percebê-los. Por isso ele criou composições musicais em que o “silêncio” aparece, ou seja, em que os instrumentos ou o canto da voz calam por alguns instantes, mais precisamente 4’33” (4 minutos e 33 segundos), nome de uma de suas obras mais famosas, composta em 1952.

AMPLIANDO Câmara anecoica é uma sala com isolamento acústico que serve para conter ondas sonoras e eletromagnéticas. Fluxus foi um movimento de arte. Seus integrantes tinham uma postura inovadora perante a arte e diante do mundo. Seu nascimento oficial está ligado ao Festival Internacional de Música Nova, em Wiesbaden (Alemanha), em 1962, e ao artista lituano George Maciunas (1931-1978), radicado nos Estados Unidos, que batiza o movimento com uma palavra de origem latina, fluxus, que significa fluxo, movimento, escoamento.

Performances musicais são ações artísticas que envolvem expressão corporal e musical. Como exemplo podemos citar a percussão corporal ou o modo tocar de instrumentos ou fazer sons com objetos.

Você concorda com essa ideia? Como Cage pesquisou sobre o silêncio?

Recorte de trecho de partitura de composição do projeto As slow as possible (O mais lento possível), criada por John Cage. Conforme o artista, a peça musical levaria 639 anos para ser apresentada por inteiro.

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New York Times Co/Getty Images

Nas pesquisas de artistas do passado ou contemporâneos, percebemos o interesse deles em ampliar o conhecimento acerca dos sons e como podem ser utilizados para criar música. O registro e as formas de notação da música permitem que as criações sejam interpretadas por outros artistas, além de seu compositor. As partituras e os registros de criações musicais proporcionam acesso a obras compostas em qualquer época, bem como a criação de novos arranjos e improvisações para elas. Observe as imagens a seguir.

John Cage (1912-1992) alterando a afinação de seu piano ao colocar moedas e parafusos entre as cordas, no auditório Gaveau, em Paris, França, em 1949. PianOrquestra. Foto: Márcia Moreira

Grupo musical PianOrquestra em apresentação vista de cima.

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Aqui no Brasil, o grupo musical PianOrquestra cria composições e faz arranjos de obras já conhecidas da música brasileira e também da mundial, modificando instrumentos para serem tocados a muitas mãos. Em suas apresentações, costumamos ver pianistas, uma percussionista e um piano preparado. Esses artistas usam luvas, baquetas, palhetas de violão, fios de náilon, sandálias de borracha, peças de metal, madeira, tecido e plástico para inventar novos sons e timbres em suas criações musicais. Ao ouvir a música, temos a impressão de estar diante de uma orquestra, tamanha a riqueza de sonoridades. Artistas como John Cage inovaram a forma de criar música e na sequência da história outros artistas trilham o caminho da invenção do som na arte da música.


MUNDO CONECTADO „„A ciência dos instrumentos musicais Alex Silva

Observe a charge a seguir. „„ Você já ouviu falar de Organologia? „„ E o que é um etnomusicólogo?

Charge de Alex Silva que brinca com a ligação entre a Arte (no caso, a música) e as Ciências.

Será que tantas palavras podem complicar? Vamos esclarecer! A palavra etnografia é a junção de dois termos, etnia e grafia. Etnia é uma palavra usada para fazer referência a um grupo de pessoas de uma mesma matriz biológica e cultural. Grafia é o registro da escrita. Geografia é a ciência que estuda a descrição de como são os lugares da Terra em seus aspectos físicos e as relações que temos com esse planeta sob muitos aspectos, incluindo a arte e a cultura. A Antropologia estuda as culturas e os grupos que as criam. Assim, um etnomusicólogo é uma pessoa que leva em consideração em seus estudos vários aspectos: as manifestações culturais de cada etnia, o lugar geográfico em que essas manifestações musicais aparecem, como permanecem e a cultura que as criou. É preciso conhecer muitas áreas além da música para ser um etnomusicólogo.

AMPLIANDO Antropologia é a ciência que estuda as culturas humanas. Etnomusicólogo é a pessoa que estuda a música em sua concepção sociocultural, analisando sua origem etnográfica, a manifestação em determinados povos, na língua, religião, hábitos etc. A etnografia pode ser considerada um ramo da Antropologia. Organologia é um ramo da ciência que estuda os instrumentos musicais, a partir da sua materialidade, ou seja, a forma, a qualidade de som produzido, o timbre, o modo de execução, entre outros. Faz parte dessa ciência estudar os instrumentos e suas características, como os aerofones, os cordofones, os idiofones e os membranofones (veja detalhes no quadro da próxima página).

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CONECTADO MUNDO Um etnomusicólogo austríaco chamado Hornbostel (1877-1935) foi quem, em 1933, indicou que qualquer objeto com o qual se pudesse produzir um som intencionalmente poderia ser classificado como instrumento musical. Basicamente, a classificação de um instrumento depende de dois fatores: aspectos musicais e contexto sociocultural. Veja no quadro a seguir. Classificação de um instrumento musical segundo aspectos etnográficos Como o instrumento é construído em seus aspectos técnicos e musicais e qual a Aspectos musicais

sua utilização em função dos timbres, estilos e tendências artísticas. Os materiais escolhidos, os mestres construtores dos instrumentos, chamados de luthiers, também podem chamar a atenção dos estudiosos.

Os instrumentos são construídos em meio a contextos sociais, históricos, religiosos Contexto sociocultural

e tradições culturais, entre outras situações, que podem determinar o uso e o não uso de um instrumento. Assim, ocorre a valorização de uns e a desvalorização de outros, como os instrumentos de percussão, por exemplo, que foram vistos como música pagã em muitos momentos da história. Elaborado pelos autores.

Editoria de arte

Veja o esquema a seguir, que mostra como funciona a classificação de estudos dos instrumentos na Organologia.

Descrição da ciência da Organologia

Contexto sociocultural

Instrumento musical

Aspectos musicais

Classificação organológica

Elaborado pelos autores.

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CONECTADO MUNDO É muito interessante perceber que existem somente quatro grupos originais de instrumentos nessa ciência. Observe a descrição no quadro a seguir. Grupos de instrumentos segundo a Organologia Aerofones (ou aerófonos)

Instrumentos em que os sons são resultantes da vibração do ar, sem passar por tubos (gaita de boca e acordeom) ou passando dentro de tubos (flautas, didgeridoo, saxofone e outros). Conjunto de instrumentos cujos sons são resultantes de cordas

Cordofones (ou cordófonos)

esticadas. Existem dois subgrupos: os simples (piano ou cravo), em que existe uma corda para cada nota; e os compostos (violão ou violino, entre outros), em que uma corda pode gerar diferentes sons dependendo do local em que o músico a prende.

Instrumentos em que o som é resultado das vibrações no próprio Idiofones (ou idiófonos)

instrumento, por meio de percussão em batidas, fricção, agitação ou sopro. Nessa categoria temos diferentes instrumentos sem altura definida (como agogô, caxixi, triângulo, clave) e, instrumentos com altura definida (como o xilofone e o metalofone).

Membranofones (ou membranófonos)

Instrumentos de membranas que são percutidas (tambores, congas, atabaques, tímpano etc.), friccionadas (cuíca), que ressoam no ar (kazoo) ou são pulsadas (ektara). Elaborado pelos autores.

Cada conjunto desses tem grupos de instrumentos que são estudados dentro da ciência da Organologia. Um dos aspectos de estudo é a questão física do som, como, por exemplo, a frequência em que certos instrumentos ou tipos de vozes variam dentro de determinadas alturas. Esse é um estudo que envolve música e outros saberes das Ciências que você e os colegas vão aprender nos próximos anos.

AMPLIANDO

Didgeridoo (ou Didjeridu) é um instrumento de sopro provocado pela vibração de ar, que lembra uma flauta. O que diferencia esse instrumento dos demais aerofones é o som produzido pela vibração dos lábios do instrumentista.

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Tema Tema 21

O luthier e suas criações maravilhosas Artesanato musical Marka/Alamy/Latinstock

Observe a imagem a seguir.

Gravura retratando o luthier italiano Antonio Stradivari (1644?-1737), cujo nome deu origem aos violinos Stradivarius, os mais valiosos do mundo. Reprodução da obra original em cores do belga Edouard Jean Conrad Hammann (1819-1888).

Você sabe o que é um luthier? É a pessoa que inventa ou constrói instrumentos musicais. Originalmente, a palavra luthier era utilizada apenas para se referir a quem construía e consertava instrumentos de cordas. Hoje em dia, quem constrói, conserta e inventa todo tipo de instrumento é considerado um luthier. Alguns constroem instrumentos estranhos, muito criativos, utilizando todo tipo de material: sucata, elementos da natureza, brinquedos, utensílios de cozinha...

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No passado, luthiers ficaram famosos por criar instrumentos personalizados. A família Stradivari ficou muito conhecida durante os séculos XVII e XVIII. Dessa família de mestres do artesanato da música, o luthier Antonio Stradivari (1644?-1737) marcou história. Os violinos que ele construiu são muito valiosos porque, conforme os músicos especializados, possuem um som perfeito. Veja a imagem a seguir. Antonio Stradivari foi representado por vários pintores ao longo da história porque se tornou um mito da construção de instrumentos. Suas peças estão hoje em coleções particulares ou em museus espalhados pelo mundo. A profissão de luthier ainda é bastante valorizada. Existem mestres que se especializam em determinados instrumentos, outros constroem instrumentos de várias modalidades e alguns são construtores de instrumentos populares, como o mestre Aurimar Monteiro de Araújo (1937-2015), conhecido como Mestre Ari. Mestre Ari é um dos mais importantes artesãos da construção dos instrumentos populares, como a rabeca da marujada, instrumento típico nas festas populares brasileiras, como a registrada na imagem ao lado. Ele viveu na região amazônica e usava materiais da floresta para criar seus instrumentos. Madeiras e fibras vegetais nas mãos desse mestre luthier brasileiro viravam poesia na arte de criar música.

Steve Parsons/ Press Association/Other Images

Violinos Stradivarius em exposição em museu de Oxford, Inglaterra, em 2013. Fábio Cortez/DN/D. Apress

Apresentação de rabeca durante o Encontro Rabeca e Rabequeiros, promovido pelo Projeto Conexão Felipe Camarão, em Natal (RN), em 2011.

AMPLIANDO Rabeca da marujada é um instrumento de cordas característico das festas populares da região de Bragança, no Pará. A Marujada de Bragança é uma manifestação cultural de tradição religiosa católica do Norte e acontece há mais de 200 anos, de 18 a 26 de dezembro.

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MUNDO CONECTADO „ Será que um dia as pessoas ouviram o som do vento e desejaram reproduzi-lo? „ Será que foi por isso que criaram flautas e outros instrumentos de sopro?

„ Som, natureza e cultura Existem apitos que imitam o canto dos pássaros. São instrumentos de sopro conhecidos também como pios de passarinhos. Esses instrumentos apresentam múltiplos usos, servindo tanto a ecologistas que pesquisam pássaros quanto a caçadores que buscam atrair as presas (infelizmente) ou a músicos que criam novos imaginários sonoros em gravações e shows. Observe um apito pio de madeira uru e o pássaro que ele “imita” nas imagens a seguir. Fabio Colombini

LEIA ARTE Aves musicais, de Thomaz

Lucas Trevelin

Meanda. São Paulo: Leya, 2011. Sinopse: Um exercício de observação encontrando semelhanças entre diversos instrumentos musicais e aves que existem na natureza.

Apito pio de madeira uru.

„ Será que o som do trovão inspirou a criação de instrumentos de percussão?

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Pássaro uru (Odontophorus capueira). Foto de 2011.

Tambores, maracas, reco-reco... Sons feitos por meio dos atritos, no sacudir, friccionar ou bater de matérias. Dos instrumentos de corda são emitidos sons que podemos relacionar com algumas “vozes” da natureza, como a água que corre entre as pedras de um rio. São possibilidades imaginativas de como os sons naturais podem ter inspirado as pessoas a criar instrumentos.


O som do vento, o cantar das cigarras, os berros da arara, o som do andar sossegado do jabuti e de outro bicho qualquer sobre as folhas secas que caem no solo da mata misturam-se aos sons que nascem dos instrumentos, dos cantos e da percussão corporal em danças e músicas criadas pelos povos indígenas. É a paisagem sonora da floresta, o som da mata, a materialidade da cabaça e de sementes para fazer chocalhos, do bambu para fazer pau de chuva e flautas, das fibras de plantas e os gravetos para fazer o iridinam. Veja nas imagens a seguir. Ilustrações: Frosa

AMPLIANDO Iridinam é um instrumento musical de cordas com dois pequenos arcos, criado e tocado pelas mulheres da comunidade indígena Ikolen Gavião, de Rondônia, no Norte do Brasil. Paisagem sonora refere-se ao ambiente e aos sons de cada lugar. Podemos perceber paisagem sonora urbana, do campo (campestre), da floresta, da praia, entre outras. Hoje, essas sonoridades específicas são exploradas na música, no cinema, na televisão, nas rádios, na internet e em outras mídias.

Ilustração de pau de chuva feito por indígenas.

Ilustração de uma indígena com um iridinam.

Iridinam é um instrumento musical feito apenas por uma comunidade indígena brasileira, o povo Ikolen Gavião, de Rondônia, que se comunica em uma língua própria, nascida do tronco linguístico tupi. Instrumentos de sopro, percussão e cordas divulgam e mantém viva a música dos indígenas brasileiros. Cada aldeia ou comunidade sabe fazer seus instrumentos e entoar seus cânticos. Para cada povo, um instrumento pode ter uma função específica. É o caso do iridinam, tocado exclusivamente pelas mulheres dessa comunidade (povo Ikolen Gavião). O som do iridinam é considerado um som de namoro. As mulheres fazem e tocam esse instrumento para expressar que amam seus amados que foram caçar. É feito com gravetos e fibra de plantas. Para tocá-lo, as mulheres do povo Ikolen Gavião friccionam as cordas dos dois pequenos arcos e também usam os dedos para apoiar o instrumento na boca e criar ressonâncias, sons que se espalham pela floresta e chegam até os ouvidos de suas paixões.

„„ O que é um iridinam? „„ Para que serve um instrumento dentro de uma cultura indígena?

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MAIS DE PERTO  „„Uakti – a lenda e o grupo Bruno Leão

Observe a imagem a seguir.

Frosa

Grupo Uakti durante apresentação.

Ilustração de um Uakti, conforme lenda indígena.

Ninguém sabe com certeza como as pessoas começaram a criar instrumentos. Há lendas indígenas que contam histórias que podem nos dar algumas pistas. Entre essas lendas está a história do Uakti, nome que inspirou um grupo musical. O povo Tukano conta que existiu, muito tempo atrás, um ser com o corpo cheio de furos, por onde o vento passava e ressonava um som que encantava as mulheres e as levava embora. Os homens resolveram capturar esse monstro. Houve luta e o Uakti morreu. Ele foi sepultado em um local em que, anos depois, nasceram palmeiras. São dessas plantas que a comunidade Tukano faz seus instrumentos de sopro. Assim, uma lenda brasileira de uma cultura indígena explica a origem do material usado para fazer instrumentos. Relações entre timbres, materialidades, mundos imaginários. Hoje, os músicos exploram os instrumentos já inventados há muito tempo, ao mesmo passo que criam novos. O grupo mineiro Uakti é composto de artistas inventores, criadores na arte da música e na arte de fazer instrumentos.

„„ Será que histórias como essa explicam o desejo das pessoas em construir instrumentos? „„ Será que todas as escolhas de materiais estão associadas a elementos da natureza? „„ O que pode inspirar a criação de novos sons?

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Sylvio Coutinho

Os músicos Marco Antônio Guimarães (primeiro à esquerda), Artur Andrés e Paulo Santos, do grupo instrumental Uakti, do qual também faz parte Décio Ramos.

Marco Antônio Guimarães (1948) e Uakti (1978) Marco Antônio Guimarães (1948), integrante e luthier do grupo de música instrumental Uakti (1978), é compositor, arranjador, violoncelista brasileiro e sempre foi um inventor de coisas. Desde criança inventava seus brinquedos e objetos sonoros. No Uakti, todos dedicam-se a estudar o som, a música e os materiais que podem potencializar as expressões culturais da nossa arte musical. Já fizeram arranjos para músicas de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e The Beatles, entre outros, e tocaram ao lado de grandes músicos brasileiros e estrangeiros. Marco teve contato com um músico que marcou a sua vida de inventor e compositor, o educador e músico Walter Smetak (1913-1984).

Em Salvador eu descobri que, no porão da Escola de Música, tinha um cara construindo instrumentos e fui lá saber o que era. Fiquei atordoado: era o violoncelista Walter Smetak, cercado por centenas de instrumentos esquisitos, extremamente coloridos. A minha vida mudou quando entrei naquele porão. [...] Quando se lida com materiais que nunca foram usados em instrumentos musicais, não se tem parâmetros nem referências; é preciso experimentar até atingir o resultado procurado... De repente, os timbres graves soam bem mas os agudos não, ou vice-versa. Então, você tem que encurtar ou esticar um pouco mais a corda, ou ainda fazer modificações na caixa, até obter uma boa extensão de afinação. RIBEIRO, Artur Andrés. Grupo Uakti. Estudos Avançados, São Paulo, v. 14, n. 39, maio/ago. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid= S0103-40142000000200016&script=sci_arttext>. Acesso em: 26 fev. 2016.

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MAIS DE PERTO  „„Grupo Experimental de Música (GEM) Grupo Experimental de Música. 2013. SESC, Santos. Foto: Jefferson Fernandes

Observe a imagem a seguir.

Apresentação do Grupo Experimental de Música (GEM), em Santos (SP), 2013.

O que é uma instalação sonora?

LEIA ARTE Como fazíamos sem..., de Bárbara Soalheiro. São Paulo: Panda Books, 2006. Sinopse: Como era a vida nos tempos em que certos objetos (que hoje podem ser até banais) não haviam sido inventados ainda.

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Uma instalação sonora pode ser um ambiente em que os músicos vão mexendo aqui e ali. Assim, nessa ação de criação musical, fazem seu som, sua música contemporânea. O Grupo Experimental de Música (GEM) associa a linguagem da música com a linguagem visual. Harmonizam-se nessa criação os luthiers, que criam instrumentos e objetos sonoros, e artistas plásticos, que criam o visual. Os materiais são os mais inusitados, criando sons orgânicos e sintéticos. Na instalação, na ação de tocar, os músicos desse grupo extraem sons, timbres e ritmos diversos, enfim, fazem música instrumental contemporânea. O GEM surgiu em 2003 e desde então vem criando instrumentos, instalações sonoras e realizando shows e cursos para socializar essa arte com outras pessoas. Em suas apresentações criam performances com outros artistas e inventam linguagens, como fizeram com o músico Naná Vasconcelos (1944) e também com bailarinos, como a turma do coreógrafo Ivaldo Bertazzo (1949).


Edna Matsuda

Fernando Sardo e GEM (2003) Fernando Sardo é idealizador e membro do grupo GEM (2003), com Bira Azevedo, Luciano Sallun, Fábio Marques, Flávio Cruz e Rodrigo Olivério. Como músico, luthier, artista plástico e arte-educador, ele vem unindo seus conhecimentos sobre música e artes visuais. Assim, cria instrumentos musicais, esculturas e instalações sonoras com os mais diversos materiais, tendo como consequência o registro de uma enorme variedade sonora e objetos incríveis. Trabalha formas e sons constituídos de materialidades.

Fernando Sardo em seu ateliê, entre alguns de seus instrumentos musicais.

Esculturas sonoras são obras plásticas-musicais construídas artesanalmente que proporcionam ao público a apreciação visual, aliada à interação artística e lúdica, por meio de fontes sonoras timbrísticas e melódicas. Quando invento instrumentos, por outro lado, minha busca é explorar novas sonoridades e descobrir diferentes timbres, e para isso é natural experimentar diversos materiais. Quando construo um tipo de violino com a caixa acústica feita de cabaça, ele fornece uma sonoridade bem diferente da de um instrumento similar com a caixa acústica feita de lata, ou plástico ou papel, como também da de um violino tradicional; cada um terá uma identidade sonora própria. Para mim, o resultado dessa pesquisa na área da luthieria amplia o universo sonoro com que posso fazer música. Entrevista concedida aos autores.

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LINGUAGEM DA MÚSICA „„Famílias„musicais

M D C B

A N E J F

G I K

H

L

O

Ilustração de instrumentos de uma orquestra atual de tamanho médio. Temos: (A) 24 violinos, (B) 8 violas, (C) 8 violoncelos, (D) 4 contrabaixos, (E) 3 flautas transversais, (F) 3 oboés, (G) 3 clarinetes, (H) 3 fagotes, (I) 4 trompas, (J) 4 trompetes, (K) 4 trombones, (L) 2 tubas, (M) 1 piano, (N) 1 harpa e (O) vários instrumentos de percussão (caixas, repinique, xilofone, carrilhão, cajón, atabaques, gongo, pratos, triângulo, entre outros).

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Leonardo Conceição

Conhecemos a classificação dos instrumentos musicais em aerofones, cordofones, idiofones e membrafones, mas há ainda outras categorias. Por exemplo, na Grécia helênica havia duas categorias: os instrumentos„animados, como a voz humana, e os instrumentos„inanimados, aqueles de cordas e de sopro e, posteriormente, os de percussão. Em relação aos instrumentos utilizados na orquestra clássica, romântica e moderna – na qual figuram compositores como Haydn, Mozart, Beethoven, Schubert, Brahms, Wagner e Mahler, entre outros – classificamos e denominamos as seguintes famílias ou naipes de instrumentos: cordas, madeiras, metais e percussão. Observe a ilustração a seguir.


Cordas

Gaudenzio Ferrari. Séc. XVII. Afresco. Santuário Madona dos Milagres, Saronno. Foto: Bridgeman Images/Easypix

Observe a imagem a seguir.

O afresco do italiano Gaudenzio Ferrari (1475-1546) mostra-nos alguns dos principais instrumentos musicais europeus do período conhecido como Renascimento. Na parte inferior da imagem, vemos os instrumentos da família das cordas. À direita, de verde, vermelho e branco, percebemos um anjo tocando um violino... isso no começo do século XVI! Portanto, percebemos quanto tempo faz que esse instrumento e outros dessa família estão presentes em nossa cultura. Nesse mesmo período, o violino foi amplamente adotado para acompanhamento de danças. Os construtores de instrumentos musicais mais famosos da época são da família Amati, de Cremona (período de 1505 a 1684, aproximadamente). Um dos membros dessa família foi professor de outros dois grandes luthiers, Stradivari (1644-1737) e Guarnieri (1626-1698). Os instrumentos por eles produzidos atingem atualmente valores superiores a 3 milhões de reais. Os instrumentos de cordas friccionadas (em uma orquestra são os violinos, violas, violoncelos e contrabaixos) são tocados prioritariamente pela ação do arco, cujos principais materiais são madeira de pau-brasil (a árvore que deu nome ao nosso país) e crina de cavalo. Existe um tipo de orquestra composta exclusivamente por essa família: orquestra de cordas. A Bachiana no 9, de Heitor Villa-Lobos, foi composta originalmente para essa formação.

Detalhe da obra Concerto dos anjos, afresco de Gaudenzio Ferrari, 15341536, no Santuário da Madona dos Milagres, Saronno, Itália.

O que vemos nessa pintura? Quem são os personagens retratados? O que estão fazendo?

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Patrick Hertzog/Getty Images

Metais

Percussão Observe a imagem abaixo. Há vários tipos de instrumentos. Você sabe identificar os instrumentos de percussão? Vemos o vibrafone e a bateria. A percussão é o naipe mais variado da orquestra, sendo explorado pelos compositores para: sonoridades que comportam melodias e harmonias, com os instrumentos de altura definida, como tímpanos, carrilhão, glockenspiel, vibrafone (em primeiro plano na imagem ao lado), xilofone e marimba; e diferentes ritmos e texturas com os instrumentos de alturas indefinidas, como triângulo, gongo, castanhola, chicote, maraca, bigorna, bongo, pandeiro, tambor e pratos. Iraê Garcia

Miles Davis (1926-1991), jazzista estado-unidense, tocando trompete com surdina em 1991.

Observe a imagem ao lado. Miles Davis (1926-1991), grande músico de jazz nascido nos Estados Unidos, foi um dos mestres do trompete, um dos instrumentos da família dos metais. Fazem parte dessa família todos os instrumentos de sopro feitos prioritariamente de metal, menos aqueles cuja embocadura contém algum elemento de madeira, como o saxofone. Trompete, trombone, trompa, tuba e eufônio são os principais instrumentos do grupo dos metais. A embocadura dos instrumentos de metal exige uma pressão dos lábios contra o bocal. O som é produzido pela boca e ressoa dentro do tubo. Quanto maior a pressão, a sonoridade é mais aguda, de acordo com a série harmônica do respectivo chaveamento. Para conseguir outras notas, deve-se pressionar as chaves, alterando o caminho do ar dentro do instrumento. A sonoridade do instrumento pode ser diferente dependendo da forma da campana, se é cônica ou cilíndrica, ou ainda se há algum dispositivo encaixado, como a surdina.

Apresentação de Ricardo Valverde, um dos músicos que pesquisa o vibrafone e a inserção dos sons desse instrumento na música, especialmente no choro (ou chorinho), popular gênero musical brasileiro, de grande exigência musical. Foto de 2014.

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Outros instrumentos Eryck Machado/Latinstock

Observe a imagem ao lado. Entre os diversos instrumentos existentes, é fundamental citar o piano e o violão. Ambos são da família das cordas, mas não constituem o grupo das cordas friccionadas citado anteriormente. O piano é um instrumento de corda percutida e o violão de corda dedilhada, assim como a vihuela, a viola caipira e o alaúde (tocado pelo anjo na parte inferior esquerda da pintura de Gaudenzio Ferrari, vista no item sobre cordas). O compositor e um dos maiores orquestradores da história, Hector Berlioz (1803-1869), em seu livro Grande tratado de instrumentação e orquestração, de 1855, citou que as possibilidades musicais do piano são equiparadas a uma grande orquestra, pois ele é capaz de soar polifonias (combinação de sons simultâneos) intrincadas, melodias, harmonias complexas, ritmos diferentes... mesmo quando tocado por uma pessoa apenas. Já o violão pode soar como uma pequena orquestra nas mãos de um violonista habilidoso, como Fernando Sor (1778-1839). Lisbeth Kovacic

Novos instrumentos

Nelson Freire ao piano no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ), em 2007.

Observe a imagem ao lado. A arte é uma constante recriação da realidade. Sendo assim, podemos utilizar os instrumentos tradicionais ou pesquisar novas formas e novas sonoridades que possam exprimir nossas ideias musicais. Pode-se variar desde a utilização de nosso próprio corpo como percussão corporal, como Keith Terry ou o grupo Barbatuques, até mesmo construindo instrumentos feitos de vegetais! Isso mesmo, abóboras, cenouras, pimentões, berinjelas... Um importante grupo brasileiro é responsável por uma das mais significativas contribuições musicais na confecção e exploração musical dessas sonoridades inovadoras, o já citado Uakti.

Apresentação do grupo The Vegetable Orchestra (A Orquestra de Vegetais), em Viena, Áustria, 2013.

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AÇÃO E CRIAÇÃO „„Escutar e criar

Séc. XVII. Château de Thoiry, Yvelines. Foto: Gianni Dagli Orti/AFP/Otherimages

Agora que você conheceu diversos instrumentos musicais, que tal escutá-los em composições de diferentes épocas e estilos? O alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), por exemplo, foi um exímio compositor e tocava um instrumento que foi o precursor do piano, o cravo. Uma das mais famosas composições de Bach leva o nome desse instrumento, é a Cravo bem temperado. Há vídeos de diversas apresentações com todos os instrumentos citados até aqui na internet. Você pode perceber a sonoridade de cada um e observar suas características com o trabalho e talento dos músicos. Pesquise e aproveite! Veja a imagem de um cravo a seguir.

Cravo, instrumento de cordas pinçadas com um ou dois teclados, precursor do piano. Na foto, um modelo francês do séc. XVIII.

Agora, que tal criar seu próprio instrumento musical? Você já ouviu falar nesse instrumento? Conhece a sua sonoridade?

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Dario Sabljak/Shutterstock.com

PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS

Batateria O que é uma batateria? Antes, veja a imagem de uma bateria ao lado. Você vai precisar de: • 5 potes de mesmo material e diâmetro (um pote de batatas fritas, por exemplo – daí o nome batateria); • hastes de madeira ou plástico, para fazer a base que prenderá os potes (cabo de vassoura, caixa de frutas ou tubos de PVC finos); • elásticos (1 por pote) ou barbante para prender cada pote nas hastes. Uma maneira fácil de conseguir um bom conjunto de notas em seu instrumento é realizando marcações que dividam os 5 tubos em duas, três e

Bateria padrão, conjunto de instrumentos de percussão composto de bumbo, caixa, tons e pratos, tocados por um só músico, o baterista. Há variações com mais e menos instrumentos e também a versão eletrônica.

quatro partes iguais. Obteremos intervalos musicais ao cortar os tubos de modo que o primeiro esteja inteiro e os demais em algum ponto de igual divisão, como: 1/2, 1/3, 2/3, 1/4 e 3/4. Lembre-se de que você necessita do fundo do pote para servir como a “membrana” de um tambor. Para cortar os potes, muito cuidado, peça ajuda a um adulto, pois necessitará de instrumentos de corte afiados ou uma serra. Após os cortes, prenda tudo com o barbante ou os elásticos na ordem em que preferir (normalmente em ordem decrescente – do grave para o DOTTA2

agudo, que é do maior pote até o menor). Pronto, use os dedos ou diferentes tipos de materiais para servir de baqueta. Caso você utilize outro tipo de material para substituir o pote de batata frita, como tubos de PVC ou rolos de papel alumínio, você precisará acrescentar uma membrana ao tubo. Deve ser um material resistente, como papelão, plástico grosso ou até mesmo couro. Quanto mais esticado você conseguir prender esse material, mais preciso será o som. Contudo, você terá mais dificuldade em afinar seus tubos, já que a afinação muda de acordo com a pressão da membrana.

Exemplo de uma batateria. Ou o nome que você quiser dar, dependendo dos potes que utilizar.

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LINGUAGEM DA MÚSICA „„Ontem e hoje, o som em invenção

Bruno Liberati

Veja a charge a seguir.

Charge sobre a origem da música, de Bruno Liberati.

A origem dos instrumentos musicais remete à Pré-História e sua evolução acompanha todas as civilizações até hoje. A música é uma linguagem espontânea e pode ter surgido antes mesmo da linguagem verbal. Inicialmente, as pessoas desse período fizeram uso de materiais da natureza para produzir sons. Com o tempo, técnicas foram desenvolvidas e aplicadas na geração de novos corpos sonoros. Os instrumentos modificaram-se e transformaram-se gradualmente no decorrer dos séculos. Hoje, temos a produção artesanal de peças da cultura popular, como a rabeca, construída pelos mestres Brasil afora (veja imagem da página ao lado), e de instrumentos compostos de tecnologias.

„„ Como as pessoas começaram a construir instrumentos? „„ Será que os sons da natureza, como o canto dos pássaros, foram a primeira inspiração?

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Monique Renne/CB/D. Apress

Ddp Images/AFP/Otherimages

Sabe-se que os povos muito antigos também utilizavam a música de forma sagrada diante dos fenômenos da natureza. Cantavam para pedir proteção, chuva, ter sorte na caça, agradecer aos alimentos conseguidos, mas também para entoar cantos de guerra, de funeral e protegerem-se dos maus espíritos. Foram encontrados vestígios de exemplares, como a flauta de osso de urso, de cerca de 40 mil a.C., considerada um dos exemplares mais antigos do mundo. Também foram encontradas flautas de ossos de pássaros, como registrado na imagem acima.

Flautas de cerâmica Alguns tipos de flauta também foram instrumentos forjados pelo barro e fogo e datam de mais de 12 mil anos a.C. Conhecidas como ocarinas, são instrumentos de sopro muito antigos feitos de cerâmica. Registradas em diversas culturas, são ainda produzidas na contemporaneidade. Na China, uma espécie de flauta de cerâmica tem o nome de xun. Tem o formato de um ovo com um orifício no centro, para que o músico o sopre, e geralmente oito furos para colocar os dedos. É feita em vários tamanhos, o que proporciona timbres diferentes. No Japão, existe um instrumento bem parecido com a xun, que tem o nome de tsuchibue. Veja um modelo de xun na imagem ao lado. Em vários povos do mundo vemos tipos de ocarinas, feitos de porcelana, de terracota, madeira ou pedra. Em alguns povos indígenas também encontramos ocarinas de diversos formatos e tamanhos, como pode ser visto na ilustração ao lado.

Svilen Georgiev/Shutterstock.com

Rabeca, instrumento da cultura popular brasileira produzido artesanalmente.

Espécie de flauta de cerâmica chinesa chamada xun. Esse instrumento influenciou a dança e a música oriental e especula-se que foi criado ainda no tempo do Neolítico, na região da China, mas também foi encontrado em várias partes da Ásia. Frosa

Flauta de osso de abutre descoberta em uma caverna da Alemanha, entalhada há mais de 35 mil anos. Foto de 2009.

Ilustração de uma ocarina indígena.

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Peter Still/Getty Images

Sintetizadores, instrumentos elétricos e digitais A partir do século XX, cresceram as pesquisas e os acréscimos de timbres, devido à inovação constante da tecnologia. No começo da década de 1920, por exemplo, começavam os experimentos com guitarras amplificadas, que décadas mais tarde assumiriam presença marcante no rock e na música pop, principalmente. Na mesma década, o cientista russo Leon Theremin (1896-1993) inventou um instrumento que leva seu nome, em que duas antenas controlam o volume pelos movimentos de mãos do intérprete; tudo sem a necessidade de se encostar ao instrumento. Ainda no início do século passado foram criados os primeiros teclados elétricos que, com os avanços tecnológicos, deram origem aos teclados sintetizadores e aos teclados digitais. Em 1980, surge a tecnologia MIDI (Musical Instrument Digital Interface ou instrumento musical de interface digital), que possibilita a interação do músico com o computador. Com isso, o teclado digital pôde ser programado pelo computador para tocar diferentes timbres, melodias, harmonias, entre outras funções para uma performance de palco, como a sincronia de show de luzes, por exemplo.

Joe Perry, da banda estado-unidense Aerosmith, coloca a guitarra de lado para "tocar" o theremim.

AÇÃO E CRIAÇÃO Thirteen/Shutterstock.com

„„Criando uma ocarina

Exemplo de ocarina de cerâmica.

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Observe a imagem ao lado. Vamos criar um instrumento de sopro muito antigo, a ocarina, mas com materiais atuais, como uma garrafa PET pequena (600 mL). Agora você também poderá ser um luthier. Vamos lá?


PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS Você vai precisar de: 1 garrafa PET de 600 mL; 1 rolo de fita adesiva; 1 régua; 1 caneta hidrográfica ou de marcação permanente (de escrever em CDs ou em acetato, por exemplo); 1 tesoura; 1 pedaço de plástico de outra garrafa PET. Instruções:„ • marque o local onde será o bocal da ocarina (um quadrado de cerca de 2 cm x 2 cm na parte de baixo da garrafa); • recorte a garrafa em três partes, deixando uma “língua” presa à garrafa; • meça onde seus dedos alcançam, para poder tocar o instrumento soprando o local; serão quatro marcações de cada lado feitas com a caneta; • peça ao professor que fure a garrafa nos locais das marcações usando um material com a ponta aquecida no fogo, como uma chave de fenda, por exemplo (esse procedimento deve ser feito apenas por adulto experiente); • com outro pedaço de garrafa (de 3 cm x 4 cm) faça o bocal; dobre em três partes, envolva com fita adesiva transparente e depois encaixe na parte que ficou solta no bocal da garrafa (a “língua” que deixamos reservada).

Adilson Marques

Está pronta a sua ocarina de garrafa PET. Agora é só tocar!

Ilustrações da montagem da ocarina de garrafa PET.

„„Instalação„sonora DOTTA 2

Observe a imagem a seguir. Pesquise sons de objetos do cotidiano para você tocar, como fez John Cage, ou crie instalações sonoras, como faz o grupo GEM. Ou, ainda, invente instrumentos novos, como os músicos do Uakti. Para começar, que tal fazer uma instalação sonora?

Instrumentos feitos de materiais caseiros e reciclados.

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PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS Você vai precisar de um emissor de som. Os mais comuns são os rádios. Caixas acústicas proporcionam boas possibilidades de instalação e podem ser ligadas a diferentes fontes sonoras, como computadores, tablets, celulares etc. Geralmente, o processo de criação de uma instalação é inverso ao proposto aqui (o artista elabora as ideias e intenções de sua obra e, então, procura os recursos técnicos necessários para concretizá-la). Vamos partir dos recursos disponíveis e investigar quais possibilidades eles oferecem. Sua instalação será uma fusão entre proposta artística (suas ideias, intenções, escolhas, tema) e os recursos tecnológicos que permitirão materializá-la. Por exemplo, você poderá gravar sons, utilizar músicas e sons disponíveis ou até criar dispositivos mecânicos de som – sinos, guizos, chocalhos acionados por cordas (assim, seria uma instalação sonora sem dispositivos elétricos). Para instalar o dispositivo sonoro, veja quais espaços estão disponíveis e como inserir sua proposta. Se for preciso, solicite ajuda ao professor para auxiliá-lo com questões técnicas. Você pode convidar os colegas para criar grupos de arte musical como o Uakti e o GEM. Lembre-se de que uma instalação interessante depende da sua intenção artística. Solte a criatividade e instale sua obra de arte sonora!

O que você acha de produções como as dos grupos de música brasileiros Uakti e GEM? O que você aprendeu sobre a profissão de um luthier? Como podemos produzir sons usando objetos? O que você sabe sobre timbre? Quais artistas citados neste capítulo chamaram mais a sua atenção? Que tal criar instrumentos e projetos de músicas? Sobre a relação entre Arte e Ciências, o que você aprendeu neste capítulo? E sobre a cultura indígena e a paisagem sonora? Anote em seu diário de artista suas descobertas.

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Mar

celo

Cipis

Você já viu alguma dessas linguagens artísticas que estudamos em seu cotidiano? Como são as linguagens que usam cor luz? O que é arte propositora? Como são as instalações descritas nesta unidade? O que você descobriu de novo? A Arte e as Ciências estão sempre juntas? Por quê? E em relação à música, o que aprendemos sobre Arte e Ciências? Pesquise mais sobre os luthiers brasileiros. Na sua cidade há alguma oficina desse tipo de atividade? Como é possível criar linguagens e expressar-se pela arte na sua escola? Como podemos criar instalações com luzes e sons no ambiente da sua sala? Estudamos que algumas produções artísticas são em grupo e outras individuais. Como você vê o seu processo de criação? Qual das linguagens estudadas aqui você considera mais interessante para a criação de arte em grupo? Que tal chamar a turma e os professores e criar projetos de arte com base no aprendizado desta unidade?

DIÁRIO DE ARTISTA Vamos registrar suas experiências artísticas em caderno criado especialmente por você e para você, um tipo de diário de artista? Pesquise mais sobre a cor luz, as instalações e criações na arte contemporânea. Analise também as características dos instrumentos musicais, como foram criados no passado e como são hoje. Registre suas percepções no seu diário de artista de muitas formas possíveis, escrevendo, desenhando, por meio de pinturas, colagens... O diário é o seu suporte e o artista é você!

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UNIDADE 2

Olhando pela lente 1

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O mundo das imagens reveladas em processos físico-químicos. Máquinas maravilhosas de criar imagens fixas, na arte da fotografia, e em movimento, na linguagem artística cinematográfica. Mundo visual em transformação. E você faz parte dessa história.

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Trajetórias para a arte: ¡¡ Capítulo¡1¡/¡Imagem: captura e criação ¡¡ Capítulo¡2¡/¡Imagem fixa e em movimento Créditos das imagens: 1. Emidio Luisi; 2. Emidio Luisi; 3. Image by Ben Heine © 2015 - www.benheine.com; 4. Rita Demarchi; 5. Emídio Contente; 6. Elvis Barukcic/AFP/Otheirmages; 7. Edweard James Muybridge. Séc XIX. Coleção particular. Foto: SPL/Getty Images; 8. Chris Howes/Wild Places Photography/Alamy/Latinstock; 9. Geraldo de Barros/ Acervo Instituto Moreira Salles; 10. Brígida Baltar. 1999. Galeria Nara Roesler, São Paulo

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