9
POR TODA PARTE
Selo do FSC
Arte_Por_toda_parte_capa_VOLUME_9_LA.indd 8
11549417CD
Desfrute da Arte que está em você, à sua volta, por toda parte! ISBN 978-85-96-00280-6
9 788596 002806
UTUARI • KATER • FISCH ER • FERRARI
Na coleção POR TODA PARTE, formada por quatro volumes, você navega por saberes sobre artes visuais e audiovisuais, teatro, dança, música e literatura, estimulado por provocações poéticas. Seus repertórios culturais são ampliados para o estudo dos conceitos abordados, que oferecem a você conteúdos desenvolvidos em núcleos temáticos por meio da proposta triangular de arte-educação: apreciar, contextualizar e fazer Arte. Cada unidade, em seus capítulos e seções, traz obras e artistas de diferentes lugares, tempos, culturas, estilos e linguagens. Algumas dessas abordagens também são ampliadas nos três cartazes de cada volume, com linhas do tempo temáticas ilustradas.
POR TODA
PARTE S O L A N GE U T U A R I C A R L O S K AT E R B R U N O F I S C HE R PA S C O A L F E R R A R I
ACOMPANHA CD EM ÁUDIO
9 5/10/16 11:58 AM
POR TODA
SOLANGE UTUAR I CARLOS KATER BR UNO FISCHER PASCOAL FERRARI
PARTE SOLANGE UTUARI
BRUNO FISCHER
Mestre em Artes (área: Artes visuais) pela Universidade
didáticos e de livros para formação em diversos níveis.
Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com Licenciatura em Educação Artística pela Faculdade Mozarteum de São Paulo (Famosp-SP). Participou do Centro de Estudos da Dança (CED). Trabalhou na equipe curricular de Arte da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Foi coordenador de Educação a Distância na Fundação Bienal de São Paulo e consultor pedagógico na Rádio e TV Cultura de São Paulo.
CARLOS KATER
PASCOAL FERRARI
Educador, musicólogo e compositor. Doutor pela
Mestre em Ciências (área de concentração: ensino de Ciências) pela Universidade Cruzeiro do Sul (UCS-SP). Especialização em Sociologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP). Licenciado em Pedagogia pela Universidade Camilo Castelo Branco (UCCB-SP). Licenciado em Psicologia pela Universidade Braz Cubas (UBC-SP). Professor universitário, ator, diretor de teatro, consultor em projetos culturais em Artes Cênicas e autor de materiais didáticos para cursos de formação de professores em ambientes virtuais.
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Licenciada em Educação Artística pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC-SP). Especialização em Antropologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP). Especialização em Arte-Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Artista plástica e ilustradora, formadora de educadores em Arte, assessora de projetos educativos e culturais, autora de materiais
Universidade de Paris IV – Sorbonne. Professor Titular pela Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (EM-UFMG). Coordenou o Centro de Pesquisas em Música Contemporânea da UFMG; foi Vice-presidente da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM) e membro do Conselho Editorial (função atual). É Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Música da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) e Curador da Fundação Koellreutter da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Autor de diversos livros e artigos.
1a edição São Paulo, 2016
9
Por Toda Parte, 9o ano Copyright © Solange dos Santos Utuari Ferrari, Bruno Fischer Dimarch, Carlos Elias Kater, Pascoal Fernando Ferrari, 2016 Diretor editorial Lauri Cericato Gerente editorial Silvana Rossi Júlio Editor Roberto Henrique Lopes da Silva Editor assistente José Alessandre S. Neto Assessoria Alice Kobayashi, Carolina Leite de Souza, Daniela Alves, Daniela de Souza, Rosemary Aparecida Santiago, Roze Pedroso, Solange de Araújo Gonçalves, Thiago Abdalla, Vera Sílvia de Oliveira Roselli Gerente de produção editorial Mariana Milani Coordenadora de arte Daniela Máximo Projeto gráfico Juliana Carvalho, Alexandre S. de Paula Capa YAN Comunicação Material complementar Alexandre S. de Paula Supervisor de arte Vinicius Fernandes Editora de arte Aparecida Pimentel Diagramação YAN Comunicação Tratamento de imagens Ana Isabela Pithan Maraschin, Eziquiel Racheti Coordenadora de ilustrações Marcia Berne Ilustrações Frosa, Marcelo Cipis, Thiago Soares Coordenadora de preparação e revisão Lilian Semenichin Supervisora de preparação e revisão Viviam Moreira Preparação Veridiana Maenaka Revisão Fernando Cardoso Coordenador de iconografia e licenciamento de textos Expedito Arantes Supervisora de licenciamento de textos Elaine Bueno Iconografia Érika Nascimento Diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Por toda parte, 9.º ano / Solange dos Santos Utuari Ferrari... [et al.]. – 1. ed. – São Paulo : FTD, 2016. Outros autores: Carlos Elias Kater, Bruno Fischer Dimarch, Pascoal Fernando Ferrari ISBN 978-85-96-00280-6 (aluno) ISBN 978-85-96-00281-3 (professor) 1. Arte (Ensino fundamental) I. Ferrari, Solange dos Santos Utuari. II. Kater, Carlos Elias. III. Dimarch, Bruno Fischer. IV. Ferrari, Pascoal Fernando. 16-00607 CDD-372.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Arte : Ensino fundamental 372.5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Envidamos nossos melhores esforços para localizar e indicar adequadamente os créditos dos textos e imagens presentes nesta obra didática. No entanto, colocamo-nos à disposição para avaliação de eventuais irregularidades ou omissões de crédito e consequente correção nas próximas edições. As imagens e os textos constantes nesta obra que, eventualmente, reproduzam algum tipo de material de publicidade ou propaganda, ou a ele façam alusão, são aplicados para fins didáticos e não representam recomendação ou incentivo ao consumo.
Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à FTD EDUCAÇÃO Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo-SP CEP 01326-010 – Tel. (11) 3598-6000 Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 www.ftd.com.br E-mail: central.atendimento@ftd.com.br
LY-ART-F2-2024-V9-INI-001-007-LA-M17.indd 2
Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD S.A. Avenida Antonio Bardella, 300 Guarulhos-SP – CEP 07220-020 Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375
4/15/16 8:31 AM
APRESENTAÇÃO Podemos encontrar arte nos mais diferentes lugares, tempos e contextos. Um olhar atento, um ouvido esperto e logo percebemos uma imagem, uma música, um gesto ou movimento, às vezes tudo junto ao mesmo tempo. Música que saiu do rádio do carro que passou pela rua agora há pouco, ou nos sons a revelar o gosto musical do seu vizinho. Bem pertinho, no fone de ouvido do seu celular, naquela música preferida, escolhida por você ou enviada por um amigo que encontra você. Somos contemporâneos do tempo das tecnologias, da cultura visual, dos sistemas de gravação de áudios e vídeos. Podemos compartilhar tudo isso com alguém, mesmo que bem distante. A arte alimenta-se de tudo o que o ser humano inventa porque ela também foi inventada por pessoas há muito tempo e agora mesmo, neste último minuto. Você já parou para pensar que alguém, em algum lugar, acabou de fazer um desenho, uma pintura, uma escultura, tirou uma fotografia, criou uma composição, um arranjo musical? Ou que há pessoas apresentando uma peça teatral ou mostrando uma coreografia, com os corpos a movimentar-se em uma dança? Quem sabe alguém por aí está fazendo uma performance, criando uma instalação, escrevendo ou lendo um livro de literatura ou de poemas, ou criando filmes, vídeos, cenários, figurinos ou imagens para ilustrar um livro? É possível que alguém também esteja organizando uma festa, e roupas de carnaval ou maracatu possam, neste exato momento, ser bordadas pelas mãos de quem faz arte do povo para o povo! A arte é assim. Está mesmo em todos os lugares e é criada e apreciada por toda a gente. Estudá-la é procurar mais maneiras para encontrá-la. As produções artísticas brasileiras e as que foram ou são feitas mundo afora nos mostram um caminho para conhecer mais sobre o ser humano e sua maneira poética e estética de viver. Somos seres culturais. Por isso, inventamos linguagens, entre as quais muitas são artísticas. Nosso estudo quer ajudá-lo a desvendar essas linguagens para compreender e fazer arte. Convidamos você para estudar Arte. Vem! Veja, cante, movimente-se, sinta a arte da gente. Os autores
Caro aluno, conheça o seu livro de estudo da Arte! VEM DESENHAR!
VEM DESENHAR E GRAVAR! J. Borges
VEM!
Observe a imagem a seguir.
Acervo Rosana Urbes
Acervo Rosana Urbes
Observe a ilustração a seguir.
Você gosta de ser convidado? Imaginamos que sim. Logo de início
Ilustração Meu dia é assim, de Rosana Urbes. Na primeira imagem, o esboço em grafite. Na segunda, a ilustração colorida.
fazemos convites: Vem olhar! Vem
Linhas. A sereia e os pássaros, de J. Borges, [19--]. Xilogravura.
Depois mais traços. Cores, formas, mais linhas, que criam texturas, movimentos, efeitos de profundidade... Um desenho, uma ilustração que compõe um livro nasce da ima-
Há cores, linhas, formas...
ginação de desenhistas ou de escritores?
cantar! Vem encenar, dançar, imaginar,
Há tradição de festas e histórias...
Quem cria o personagem?
Acompanhando tudo de perto, o artista popular cria narrativas em
Quem dá formas a esse sonho? O trabalho de um ilustrador ou uma ilustradora é assim, do texto
traços gravados com a arte da xilogravura.
ele chega ao traço e nos apresenta uma imagem.
Que história será que esse artista conta?
Dá visualidade ao personagem!
tramar, pintar... conhecer e fazer arte!
Abre a cortina do pensar e, com o autor do livro, também cria, inventa... O trabalho do escritor se faz pelas palavras, e o do ilustrador,
Cavalo-marinho, Bumba Meu Boi, forró de pé de serra, animais de várias espécies e regiões, pessoas dançando e tocando... São muitos os temas para ilustrar! Com a riqueza de sua imaginação, o artista expressa em atos de
pelas imagens. Juntos, mostram o lugar, quem está por lá, o que
desenhar, pintar e gravar a arte que o Brasil nos oferece!
acontecerá... Palavras, imagens, linguagens... todas juntas! Vem desenhar, pintar e entrar no mundo da imaginação pela arte da ilustração!
120
TEMAS
MUNDO CONECTADO „ Experiência estética
Muitos povos e muitas cores
Observe a imagem a seguir com atenção. Andrew H. Walker/Getty Images
O Brasil destaca-se por sua rica cultura popular tradicional. A exuberância de suas cores espalha-se pelas cidades por meio da diversidade de folguedos, danças e festejos, assim como nas mais diversas formas de artesanato.
João Caldas/Olhar Imagem
Na cidade de Abaetetuba, no Pará, por exemplo, o colorido firma-se na tradição do miriti. O nome faz referência a uma palmeira típica da região (também conhecida como buriti), cuja madeira é tradicionalmente utilizada pelos artesãos para a confecção de brinquedos em forma de pássaros, cobras, aranhas, tatus, barcos, entre outros. Veja a imagem a seguir. Registro fotográfico da performance The artist is present (A artista está presente), de Marina Abramovic, no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), em 2010.
Estudar Arte pode ser bem instigante e divertido, é como
Marina Abramovic (1946) é uma artista da República da Sérvia que se dedica a performances e a suas múltiplas possibilidades. A imagem é um registro fotográfico da performance The artist is present (A artista está presente) (2010), que trabalha as relações entre o performer e o público, explorando os limites do corpo e da mente humana, em momentos que podem revirar nossos sentimentos e percepções da vida. As duas pessoas, a artista e alguém do público, compartilham minutos de silêncio e contemplação, apenas se olhando.
mergulhar em um mar de saberes sem fim. Existem muitas obras de arte, feitas por milhares de artistas em diferentes lugares e tempos. Nesta seção, escolhemos alguns temas
„ Arte e ecologia
Marlene Bergamo/Folhapress
As performances, por serem uma arte conceitual, fazem-nos pensar e refletir. O músico e performer Peri Pane (1975) criou o traje Parangolixo Luxo. O artista reuniu todo o lixo que produziu em uma semana e, literalmente, vestindo a sua arte, criou a performance Homem Refluxo (2011).
e exemplos para que você conheça ideias e histórias do mundo da Arte. A arte está relacionada a outras disciplinas
„ Você pode imaginar-se na situação do público ao olhar para a artista durante alguns instantes? Como você se comportaria? Como se sentiria nessa situação?
e à vida cotidiana. Você pode descobrir como isso aconte-
„ Será que, ao olharmos para a arte, ela também olhará para nós? Peri Pane veste o seu Parangolixo Luxo, na performance Homem Refluxo, 2011.
O colorido na cultura artesanal do miriti, no Pará.
„ Na sua opinião, qual o sentido desse tipo de arte?
71
156
ce lendo a seção Mundo conectado.
MAIS DE PERTO
MAIS DE PERTO „ Arte multimídia Observe a imagem a seguir. Acervo Otávio Donasci
www.cranioartes.com. foto: Guilherme Zauith
Colorido brasileiro
Tema 1
121
Quando começamos a conhecer Arte e tudo o que, neste universo de saberes, pode nos ajudar a compreender
Como e quando se envolveu com a arte? Cranio, usando sprays, durante processo de criação de Torcida (2014), grafite sobre a Copa do Mundo no Brasil.
melhor o mundo, não queremos mais parar de conhecer!
meu estilo e me distanciando do comum encontrado nas ruas. [...]
Performance é uma forma de expressar ideias, mensagens ou sensações, entre outras propostas, por meio do corpo, de seus gestos e movimentos, ao vivo e publicamente. O corpo é o suporte para a criação artística, entre outros materiais. Videoperformance é a performance que mistura a linguagem do vídeo com a linguagem corporal.
aproximar você ainda mais da Arte, trazemos sempre uma
Henri de Toulouse-Lautrec. 1887. Museu Van Gogh, Amsterdã. Foto: De Agostini Picture Library /The Bridgeman Art Library/Keystone
No final do século XIX e início do século XX, o giz pastel era um material bem comum para desenhos. Ele pode ser seco ou oleoso e permite ao desenhista efeitos de veladuras ou grafismos. As imagens a seguir são reproduções de desenhos criados por artistas que usaram o giz pastel. Observe seus traços.
Pós-impressionismo foi um movimento artístico, sem um padrão ou uniformidade, por meio do qual os artistas privilegiavam o uso de cores vivas e retratavam temas da vida real com uma visão subjetiva do mundo. Gauguin, Toulose-Lautrec, Van Gogh e Cézanne são os principais representantes desse movimento, que aconteceu posteriormente ao movimento impressionista. Simbolismo foi um movimento que surgiu na França, no final do século XIX, e reagiu contra o materialismo, usando uma linguagem para sugerir a realidade sem retratá-la de forma óbvia e expressando-se, portanto, por meio de metáforas, símbolos ou ideias. O artista recorria à sua memória visual e não ao olhar direto diante do objeto a ser retratado.
Odilon Redon. 1900. Pastel e grafite sobre papel vergê. The J. Paul Getty Museum, Los Angeles
Retrato de Vincent van Gogh, de Henri de Toulouse-Lautrec, 1887. Giz pastel, 54 cm × 45 cm.
Baronesa de Domecy, de Odilon Redon, c. 1900. Pastel e grafite sobre papel vergê marrom, 61 cm × 42,4 cm.
124
Toulouse-Lautrec (1864-1901), artista francês de influência pós-impressionista, ficou conhecido pelos traços soltos e espontâneos que capturaram cenas da vida noturna da cidade de Paris do final do século XIX. Nessa obra, retratou seu amigo, o pintor holandês Vincent van Gogh (1853-1890). Odilon Redon (1840-1916), artista do Simbolismo francês, é conhecido por seus retratos que mostram pessoas mergulhadas em seus próprios pensamentos. Redon foi um artista que fez desenhos criando delicadas texturas em cores esfumaçadas. O giz pastel é até hoje usado por muitos artistas, principalmente em desenhos e pinturas para ilustração.
Videoteatro é o espetáculo que mistura a linguagem do vídeo com a linguagem do teatro.
Descobriu o que são? Que linguagem artística será essa? O artista Otávio Donasci (1952) é paulistano e estudou várias linguagens artísticas. Assim, podemos dizer que ele é um artista multimídia, porque, em sua obra, utiliza imagens de aparelhos de televisão com gestos e movimentos do corpo dos atores ao vivo, misturando duas linguagens, o teatro e a arte audiovisual. Nessa mistura, acaba criando outras linguagens, como a performance, a videoperformance, o videoteatro, ou seja, a videoarte. Ele estudou artes plásticas, teatro e trabalhou como cenógrafo e diretor de criação. Suas VideoCriaturas são resultados de pesquisas envolvendo como usar equipamentos eletrônicos e o corpo humano na criação artística.
Observe a primeira VideoCriatura. „„ Você„notou„que„o„ator„tem„outra„tela„de„vídeo„na„mão,„ mostrando-a„como„se„fosse„um„fantoche„(VideoFantoche)?
Seus personagens, pelo menos em maioria, têm uma crítica social. Qual a importância da arte na divulgação de opiniões e também como forma de expressão? Acredito ser importantíssimo colocar uma crítica atrás de um trabalho artístico, caso
Cranio. 2012. Grafite. coleção particular. www.cranioartes.com
AMPLIANDO
mentos sobre os temas e as linguagens estudados. E, para
AMPLIANDO
Desde pequeno adorava desenhar, tinha 15 SP na Zona Norte. Aos poucos fui criando
Família de VideoCriaturas, videoperformance de Otávio Donasci, década de 1980. Nas criações de Donasci, os atores usam tecidos ou macacões pretos para fundir melhor a imagem do vídeo com o corpo. Na época em que essas VideoCriaturas foram criadas, ainda se usavam fitas de videocassete (VHS). As imagens eram gravadas em vídeos que eram ligados aos televisores. Hoje, o artista explora as novas tecnologias com televisores de plasma, computadores, gravações em vídeos digitais, que não precisam mais de tantos fios e aparatos eletrônicos.
inicialmente na seção Vem! para aprofundar seus conheci-
Giz pastel (oleoso ou seco) é um material para pintura e desenho encontrado em lojas especializadas em materiais artísticos e vendido em pequenas barras, que podem ser diluídas com óleos ou solventes (no caso do pastel oleoso), ou passadas sobre o papel diretamente, produzindo traços em grafismos (linhas) ou fazendo veladuras (quando espalhamos o pigmento desse material para conseguir efeitos aveludados).
E com o grafite?
anos quando comecei a grafitar nas ruas de
Assim, a seção Mais de perto resgata o convite feito
entrevista ou um depoimento na seção Palavra do artista.
Fabio Oliveira, o Cranio (1982) Leia trechos de uma entrevista em que o artista paulistano Fabio Oliveira, o Cranio, fala um pouco sobre seu envolvimento com o grafite e sobre o uso dessa arte para a elaboração de críticas e denúncias sociais.
contrário seria apenas mais um desenho bonitinho nas paredes de galerias e nos muros nas cidades. E também acredito ser importante mostrar um contexto histórico, algo onde as pessoas podem se agarrar, se lembrar, [...] isso é, as pessoas têm que saber o que está acontecendo em Turista consumidor, de Cranio, 2012. Grafite em papel, 100 cm × 80 cm.
CLIQUE ARTE Cranio. Conheça mais sobre o artista e sua série de grafites de crítica social no seu site oficial. Disponível em: <http://ftd.li/q5dpx8>.
nossa sociedade e abrir os olhos para os problemas. [...]
NAVILLE, Nat. Cranio: seus personagens vibrantes e a crítica social. Mistura Urbana. Disponível em: <http://misturaurbana. com/2014/04/entrevista-cranio-seus-personagens-vibrantes-ea-critica-social/>. Acesso em: 16 mar. 2016.
50
AMPLIANDO Pode ser que algumas palavras sejam novas em seu vocabulário. Assim, preparamos um boxe em estilo de glossário para você saber mais sobre essas palavras e ajudá-lo a compreender melhor o universo da Arte e seus termos. No final do livro há um índice remissivo para você localizá-los sempre que precisar.
161
LINGUAGEM DA ARTE Para criar em cada linguagem, precisamos conhecer seus códigos e procedimentos. Toda linguagem tem seu jeito
AÇÃO E CRIAÇÃO „ Estátua viva
de ser e de se comunicar. Para se expressar por meio de
A proposta é experimentar trabalhar o corpo como suporte da arte. Vamos criar estátuas vivas? Que tal fazermos a “modelagem” de formas corporais expressivas e estáticas? Todos são artistas e suportes para a arte corporal! PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS
linguagens, é preciso aprender sobre esses jeitos e signifi-
Organize grupos com cinco participantes. Dois serão os artistas modeladores e os outros três vão compor a estátua. Os artistas deverão “modelar” o corpo dos alunos-suporte, pensando em posições dos pés à cabeça. Os três que farão a estátua deverão seguir as orientações e a modelagem do corpo atentamente. Combi-
cados. Assim, nesta seção vamos estudar como as lingua-
nome da obra, onde ficaria exposta. Indiquem em qual posição ficarão braços, pernas, como será a expressão facial da estátua. Você poderá usar objetos e acessórios em geral, desde que preste atenção na segurança de todos.
gens da arte são criadas. Na subseção Ação e criação, su-
A arte conceitual é misturada? Qual é a diferença básica entre uma performance e um happening? A arte deve nos fazer pensar? Ou ser simplesmente apreciada? Qual é a sua opinião sobre a participação do público em uma apresentação artística? O que você acha sobre a mistura de diferentes linguagens artísticas? Qual é a relação entre o corpo e a arte? A arte contemporânea, ao questionar os valores artísticos e sociais, amplia os limites das linguagens artísticas, abrindo-se a novas experiências estéticas e culturais. Faça uma pesquisa na internet para conhecer mais performances e happenings. Pesquise também se há grupos com essa proposta na sua comunidade. Use seu diário de artista para registrar suas experiências em criar performances!
você, seus colegas e professores poderem fazer arte. Nos boxes Procedimentos artísticos, damos algumas dicas sobre como fazer e usar materiais em produções artísticas.
83
MISTURANDO TUDO!
LINGUAGEM DAS ARTES VISUAIS
„ Coreografia
Um conhecimento pode ser conectado a
„ Arte naïf A cultura tradicional brasileira é repleta de cores vivas. Das Congadas às festas de Bumba meu Boi, as roupas e os acessórios trazem um rico colorido. Observe as imagens a seguir, que mostram as cores na Dança do Pau de Fitas, realizada no Rio Grande do Sul, e na Festa do Boi Garantido, no Festival Folclórico de Parintins.
outro. Uma linguagem pode ter relação
Washington Fidélis/Folhapress
Reg Innell/Toronto Star/Getty Images
Observe as imagens a seguir.
Ensaio para o balé O lago dos cisnes, na 319a montagem dessa peça por um elenco do Balé Nacional do Canadá, em 1983, sob direção de Magdalena Popa.
com outras e elas podem até estar juntas em uma produção artística. Esta seção traz questões para você pensar sobre
Sanjay Kanojia/AFP/Getty Images
Ormuzd Alves/Argosfoto
Dança do Pau de Fitas que integra a Festa dos Açores, em Palhoça, Santa Catarina, em 2009.
Estudantes indianas apresentam a dança tradicional da sua cultura, em 2013. Nas posições das mãos, chamadas hasta mudra, estão decodificados grupos de significados que variam em cada uma das onze linguagens da dança clássica indiana.
Artista trabalhando nas ruas como estátua viva.
Após a montagem... Estátua! Paralisem a cena. Quem modelou a estátua deverá falar sobre ela e contar o que planejou.
gerimos projetos de criação e experimentos artísticos para
LINGUAGEM DA DANÇA
Katoosha/Shutterstock.com
nem a temática. O que querem dizer com a estátua viva? Pensem no
isso e para perceber o que você aprendeu ao estudar cada capítulo.
Boi Garantido, representado principalmente pela cor vermelha, é uma das agremiações que competem todo ano no Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas. O Boi Caprichoso é representado pela cor azul.
Observe novamente as fotografias. A dança é a linguagem do movimento, e as linguagens visuais nos dão a possibilidade de olhar para a dança em um instante congelado. O que elas têm em comum? Como os corpos estão apresentados nessas imagens?
108
163
MAIS DE PERTO „ O autor e os atores
EXPEDIÇÃO CULTURAL
Observe a imagem a seguir.
Depois de conhecer algumas trajetórias da Arte, você e os colegas podem ter interesse em ver, ouvir ou sentir a
O que você descobriu de novo no universo da arte ao estudar esta unidade? Você conhece as vertentes das linguagens artísticas que estudamos neste capítulo ou já as viu em seu cotidiano? Estudamos aqui sobre as ilustrações. Que tal pesquisar mais sobre a profissão do ilustrador? Arte pode ser uma forma de alertar as pessoas sobre as preocupações em relação ao meio ambiente? Qual o poder das imagens em nosso tempo? Que relações podemos fazer entre as questões religiosas e a arte? Em sua cidade há artistas naïfs? Como são os grafites? O que você sabe sobre a arte brasileira? Estudamos que algumas produções artísticas são feitas em grupo e outras, individualmente. Como você vê o seu processo de criação? Gosta mais de criar com seus amigos ou prefere fazer arte individualmente? Quais linguagens estudadas aqui você considera mais interessantes de criar em grupo? Que tal chamar a turma e seu professor para criarem juntos projetos de arte com base no seu aprendizado desta unidade?
Acervo do Grupo Nadistas e Tudistas
O autor do livro Nadistas e Tudistas, Doc Comparato, lendo-o para os atores que atuam na peça de mesmo nome, adaptada por Renata Mizrahi e dirigida por Daniel Herz em 2013.
arte mais de perto. Nesta seção, há propostas de pasCLIQUE ARTE Doc Comparato. Conheça
mais a respeito desse importante dramaturgo e roteirista brasileiro visitando o seu site oficial. Disponível em: <http://ftd.li/tvdwg3>.
arte. Registre tudo em seu Diário de artista. Aprovei-
LEIA ARTE Nadistas e Tudistas, de Doc Comparato. Ilustrações de Patricia Gwinner. Brasília: Leitura, 2009. Sinopse: o universo dos Nadistas e Tudistas, dois povos sobreviventes que habitam a Terra após guerras e lutas terríveis arranjadas pelos homens, que quase destruíram o planeta e a humanidade.
te também as dicas dos boxes Clique arte, Leia arte, Ouça arte e Veja arte por todo o livro.
O carvão foi um dos primeiros materiais usados pelos povos primitivos para criar traços e desenhos na arte rupestre. Nesta imagem, desenho rupestre feito com carvão.
2010
J. Borges
Carlos Garcia Rawlins/Reuters/Latinstock
Marc Dozier/Corbis/Latinstock
Para serem desenvolvidas peças de design, moda ou trabalhos arquitetônicos, o desenho é parte desses projetos. À esquerda, projeto/desenho para figurino e, à direita, figurino feito de papel, ambos de Jum Nakao, 2004.
No Renascimento, Leonardo da Vinci produziu muitos desenhos que foram largamente utilizados em estudos científicos, pela riqueza de detalhes desenhados de modo realista. Nesta imagem, um de seus estudos de anatomia, 1510.
2010
2013
Quais usos fazemos do desenho?
2004
Sandra Bordin
15000 a.C.
1510
Ateliê Criativo Jum Nakao
Leonardo da Vinci. 1510. Tinta sobre papel. Royal Collection Trust. Foto: Science Source/Getty Images Albrecht
Juergen Richter/Look-foto/Latinstock
O desenho, seus suportes e desdobramentos
Há desenhos que expressam sentimentos religiosos. Nesta imagem, vemos o teto da Casa dos Espíritos, local pertencente ao povo tribal Iatmul, que vive às margens do rio Sepik, em Papua-Nova Guiné. As pessoas dessa comunidade decoraram todo o teto desse espaço sagrado com traços que formam padronagens de desenhos tribais e formas figurativas, exemplos de arte milenar da Oceania.
O estêncil é uma técnica amplamente usada na linguagem do grafite que também utiliza o desenho como uma das etapas do processo. Nesta imagem, vemos o artista retirando a máscara (que contém o desenho recortado) da parede, após aplicação do estêncil.
O desenho é parte do processo da criação de gravuras, independentemente do suporte utilizado (madeira, metal, linóleo, entre outros). Nesta imagem, xilogravura A sereia e os pássaros, de J. Borges.
Os primeiros seres humanos pareciam acreditar no poder mágico dos desenhos: o domínio sobre a imagem daria poder sobre a coisa real. Essa dimensão sagrada da imagem atravessa os tempos e as religiões. Muitos ramos do Islamismo não permitem o uso de desenhos figurativos. Já em outras religiões, como o Catolicismo, há um grande volume de imagens das figuras sagradas. Há religiões que trazem formas mistas de expressão, incluindo tanto composições abstratas quanto figurativas, como a do povo Iatmul, de Papua Nova-Guiné. Veja o esboço criado por Michelangelo para uma das profetisas da Capela Sistina. Ele utilizou o desenho para ensaiar os detalhes das mãos e dos dedos, a musculatura do corpo e a expressão do rosto. Os ensaios foram essenciais para a consolidação de um dos mais exuberantes trabalhos artísticos do Renascimento italiano: a pintura da Capela Sistina, na Cidade do Vaticano. Nesse mesmo período, Leonardo da Vinci fez uso de desenhos para estudar formas, movimentos e anatomia do corpo humano. Ele utilizava o desenho também em seus projetos de engenharia e arquitetura. A obra Mãos desenhando, de M. C. Escher, lembra-nos de que o desenho pode ter a si mesmo como fim. Isto é, o desenho também é capaz de ser uma linguagem final e não apenas o meio para ensaiar ou elaborar outra linguagem (como a pintura e a escultura).
2 milhões a.C.-3000 a.C.
3000 a.C.-476 d.C.
Séculos V-XV
Séculos XVI-XVIII
O desenho também pode ser usado como esboço para pinturas. Nesta imagem, vemos uma reprodução do desenho Sibila (1508-1512), de Michelangelo, feito como esboço para a pintura Sibila Líbia, que se encontra na Capela Sistina, no Vaticano, Itália.
www.cranioartes.com. Foto: Guilherme Zauith
1948
O desenho é uma linguagem usada para expressar ideias, e muitas obras de arte podem ser criadas especificamente a partir dessa linguagem, como é o caso de Mãos desenhando, de M. C. Escher, 1948, desenho a giz pastel.
Filme de Clyde Geronimi, Wilfred Jackson e Hamilton Luske. Alice no País das Maravilhas. Estados Unidos, 1951. Foto: Walt Disney Co./Courtesy Everett Collection/Keystone
M.C. Escher's "Drawing Hands" © 2015 The M.C. Escher
Michelangelo. 1508-1512. Giz vermelho sobre papel. Museu Metropolitano de Arte, Nova York. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
1508-1512
3 Você conhece outros desenhos de Leonardo da Vinci?
O grafite, linguagem artística difundida por meio do hip-hop a partir do final da década de 1970, usa como suporte os muros e tem no desenho parte de seu processo. Nesta imagem, registro fotográfico do artista Cranio produzindo Torcida (2014), grafite sobre a Copa do Mundo no Brasil que contém críticas sociopolíticas. Em 1951, Walt Disney deu movimento e cor à obra de Lewis Carroll, por meio da animação Alice no País das Maravilhas. Para esse filme, foi necessária a produção de muitas ilustrações que posteriormente foram animadas.
171
ARTE PELO TEMPO – LINHAS DO TEMPO TEMÁTICAS No estudo de Arte, estamos o tempo todo fazendo relações entre passado e presente. Essa viagem nem sempre ocorre no tempo cronológico. Precisamos estudar a arte do nosso tempo
No seu dia a dia, onde podem ser encontrados desenhos?
2 Quais materiais eram utilizados para desenhar nas paredes das cavernas?
4 Como M. C. Escher faz uso dos efeitos e ilusões de ótica em sua obra?
1951
28
Que tal continuar registrando suas experiências artísticas no seu diário de artista? Faça desenhos de observação, de memória e de imaginação, quantos e como quiser. Traga seu diário sempre com você e registre as cores e as formas do Brasil com base em seu universo particular e nas pesquisas que iniciar. Certamente, elas ampliarão o seu olhar e a sua escuta para a arte do mundo. Novas jornadas surgirão nos universos da arte, muitos mundos ainda a desvendar. O diário de artista pode acompanhá-lo sempre que você quiser, como um amigo de infância de quem nunca nos separamos. A gente se vê por aí, levados para onde os ventos poéticos da arte soprarem! Até!
porque somos contemporâneos dessas produções. Olhar para
Século XIX-hoje)
1 2014
Além de dramaturgo, o carioca Doc Comparato (1952) é autor de vários livros e roteiros para cinema e televisão. Outros textos dele já foram adaptados para o teatro. É o caso do espetáculo Nadistas e Tudistas. Um dos temas principais é a sustentabilidade, discutida por meio da história dos conflitos entre dois povos com ideologias diferentes, mas que reavaliarão as suas diferenças por causa do amor entre dois personagens, em uma referência ao tema da peça Romeu e Julieta, de Shakespeare. De modo geral, o uso original da palavra dramaturgia refere-se à produção de um autor teatral, que escreve peças ou roteiros para o teatro. Podemos também nos referir a um período da história do teatro.
Marce lo Cipis
DIÁRIO DE ARTISTA
seios culturais e dicas de como ou onde encontrar mais
5 Além da Casa dos Espíritos, em quais outros lugares podemos encontrar desenhos tribais? 6 Como é o processo de criação de uma gravura? 7
O que é um croqui de moda?
8 Antes da computação, como eram produzidos os desenhos animados? 9 Qual é a relação entre a técnica do estêncil e a do desenho?
Vem pra arte! Neste espaço, cole outros esboços ou desenhos que não foram contemplados nesta linha do tempo. Procure também por imagens de storyboards, mostrando a relação entre o cinema e o desenho no processo de criação dos filmes.
o passado e ver como a arte se transforma provoca reflexões sobre como a vida e a sociedade também mudam com o passar dos séculos. Assim, observe as linhas do tempo do material complementar e registre suas impressões e criações!
SUMÁRIO UNIDADE 1
Palavra, arte e multimídia
Andrew H. Walker/Getty Images
Capítulo 1: A PALAVRA NA CENA.................................... 10 VEM LER!.................................................................. 12 VEM ESCREVER!....................................................... 13
Tema 1 – Qual é a época da criação?.................15
Artes de todos os tempos....................................15
Tema 2 – Imagens e palavras............................ 17
Palavras em imagens..........................................17 Mundo conectado: “Palavra-imagem”...............19 A palavra também encena...................................21
Tema 3 – Adaptações e releituras..................... 23
Liberdades poéticas............................................23 Mundo conectado: Ser ou não ser... artista........25 Mais de perto: A forma e o conteúdo da poesia.. 26 Palavra do artista: Augusto de Campos.............27 Mais de perto: O autor e os atores.....................28 Palavra do artista: Doc Comparato....................29
Linguagem das artes visuais............................ 30
Arte concreta......................................................30 Ação e criação: Imagens concretas...................32
Hiroyuki Ito/Hulton Archive/Getty Images
Linguagem do teatro......................................... 34
A linguagem verbal e não verbal na dramaturgia.34 Planejar e construir.............................................35 Ação e criação: O texto escondido na linguagem do gesto........................................36
VEM LINGUAJAR!......................................................40 VEM SINTONIZAR! ................................................... 41
Tema 1 – Arte de inventos................................. 42
VEM INTERVIR! ........................................................66 VEM MISTURAR!....................................................... 67
Tema 1 – Combinando diferentes linguagens artísticas.................................. 68 Solos, duplas, grupos, artes reunidas..................68
Tema 2 – A arte da mente................................. 69
Arte – sempre para sempre.................................45 Mundo conectado: De ouvir e de ver.................48 Mais de perto: Arte multimídia...........................50 Palavra do artista: Otávio Donasci.....................51 Mais de perto: Histórias e imagens de Babel......52 Palavra do artista: Cildo Meireles......................53
Linguagem das artes visuais............................ 54
Arte e tecnologia.................................................54 Ação e criação: Criando VideoCriaturas..............56
Linguagem da música...................................... 57
Babel musical.....................................................57 Ação e criação: Percursos e identidade na diversidade...................................59
Misturando tudo!.............................................. 60 Expedição cultural......................................................... 61 Diário de artista ............................................................ 61
A língua do corpo
Capítulo 1: PERFORMANCE...... 64
Inventos para o esquecimento ou infinitos pensamentos....................................42 Mundo conectado: A “língua” eletromagnética..44
Tema 2 – Todos os tempos ao mesmo tempo.... 45
Misturando tudo!.............................................. 37
UNIDADE 2
Sandra Bordin
Capítulo 2: ARTE MULTIMÍDIA..... 38
Arte conceitual....................................................69 Mundo conectado: Experiência estética.............71 Mundo conectado: Arte e ecologia.....................71 Mais de perto: Recombinando diferentes linguagens artísticas...........................................72 Mais de perto: Intervenções...............................74
Palavra do artista: Desvio Coletivo.....................75
Tema 3 – Arte de misturas................................ 76
Palavra do artista: Guto Lacaz...........................77
Linguagem das artes – Performance ............... 78
Performance – comunicação e reflexão...............78 Ação e criação: Vestindo arte do meu jeito.........80
Linguagem das artes – Happening....................81
Happening – comunicação e reflexão..................81 Ação e criação: Estátua viva..............................83
Misturando tudo!.............................................. 83
Linguagem da dança.......................................104
VEM DANÇAR!...........................................................86 VEM COREOGRAFAR!................................................. 87
Pensamento-movimento...................................104 Ação e criação: Territórios da dança................105
Tema 1 – Que língua fala a dança?................... 88 A dança tem muito a dizer...................................88 Mundo conectado: A minha língua.....................90
Tema 2 – Saltos, passos, quedas, volteios........ 92
Coreografia.......................................................108 Ação e criação: Experiência coreográfica.........111
Misturando tudo!..............................................114
As danças e o dançar..........................................92
Tema 3 – Dança de pensamentos..................... 94
Expedição cultural....................................................... 115 Diário de artista........................................................... 115
Influências: a dança também ouve......................95 Mundo conectado: A guerra pensada no corpo..96 Mais de perto: O movimento..............................97 Palavra do artista: Marcos Abranches................99 Mais de perto: Funk Brasil...............................100 Palavra do artista: Rodrigo Pederneiras...........103
Traços e cores Capítulo 1: DESENHAR, PINTAR E GRAVAR....................118
Capítulo 2: SONS E CORES DO BRASIL..................................... 152
VEM DESENHAR!..................................................... 120 VEM DESENHAR E GRAVAR!..................................... 121
VEM CRIAR!............................................................. 154 VEM GRAFITAR!...................................................... 155
Tema 1 – No princípio era o traço....................122
Tema 1 – Colorido brasileiro............................156
O desenho pelo desenho...................................123 Desenho como processo da gravura..................125 Desenho como processo da pintura...................126 Desenhos para projetos.....................................127 Mundo conectado: Arte e religião....................128
Muitos povos e muitas cores.............................156 Mundo conectado: Floresta Amazônica............158 Mais de perto: Essa mistura dá samba!............159 Palavra do artista: Fabio Oliveira, o Cranio.......161
Tema 2 – Imagens da música brasileira..........162
Tema 2 – Ilustração – um olhar especial.........130
Enredo..............................................................162
Ilustração no tempo e do tempo........................130 Mundo conectado: Ilustração e Ciências..........132 Mais de perto: Ilustres ilustrações....................134 Palavra do artista: Rosana Urbes.....................135 Mais de perto: Ilustrações e origens.................136 Palavra do artista: J. Borges............................137
Linguagem das artes visuais...........................163
Linguagem das artes visuais...........................138
Misturando tudo!............................................. 170
Materiais, pontos, linhas, formas, superfícies e cores...............................138
Linguagem das artes visuais...........................139
Mundo colorido.................................................139 Cor luz e cor pigmento......................................140 Ação e criação: Compondo imagens................142 Ação e criação: Ler é conversar.......................142 Ação e criação: O desenho e seus materiais....143 Ação e criação: Desenhando ideias..................144 Ação e criação: Composições policromáticas...147
Linguagem das artes visuais...........................148
Imagens gravadas.............................................148 Ação e criação: As etapas da xilogravura.........150
Misturando tudo!..............................................151
UNIDADE 3 Andrew H. Walker/Getty Images
Linguagem da dança.......................................108
Arte naïf............................................................163 Ação e criação: A tradição da cor.....................166
Linguagem das artes visuais........................... 167
O grafite............................................................167 Ação e criação: O estêncil...............................169
Expedição cultural....................................................... 171 Diário de artista .......................................................... 171
Páginas finais Ampliando: Índice remissivo, 172 Referências, 173 Arte na web, 173 Livros, 176
Hiroyuki Ito/Hulton Archive/Getty Images
Sandra Bordin
Capítulo 2: DANÇA...........................84
UNIDADE 1
Palavra, arte e multimídia 1
A criação e a liberdade poética. A arte que se dirige ao longe e a arte que aponta para ela mesma. A palavra na arte, palavra poema, palavra-imagem, palavra em cena, palavra som. As mídias da arte e a arte multimídia. O corpo, o gesto, a performance e a representação e sua relação com a tecnologia. Os tempos da arte podem se misturar, somar e existir juntos. A música de hoje pode ter o som do passado e buscar o futuro. As linguagens da arte não param de se transformar em seu perpétuo movimento na cultura.
2
4
3
8
5
6
7
8
9
10
Trajetórias para a arte: ¡ Capítulo 1 / A palavra na cena ¡ Capítulo 2 / Arte multimídia Créditos das imagens: 1. Cleo Velleda/Folhapress; 2. Herve Bruhat/Gamma-Rapho/Getty Images; 3. Pier Marco Tacca/Getty Images; 4. Acervo Otávio Donasci; 5. Alf Ribeiro/Pitanga RM/Latinstock; 6. Richard T. Nowitz/Corbis/Latinstock; 7. Acervo do Grupo Nadistas e Tudistas; 8. Topic Photo Agency/Corbis/ Latinstock; 9. Daniel Canogar. 2013. Videoescultura. Foto: Polly Yassin/Bildmuseet; 10. Luli Penna
9
Capítulo 1
A PALAVRA NA CENA Arte e você em: ¡¡ Qual é a época da criação? ¡¡ Imagens e palavras ¡¡ Adaptações e releituras ¡¡ Linguagem das artes visuais ¡¡ Linguagem do teatro
10
Cleo Velleda/Folhapress
Imagem da exposição do projeto Poemóbiles, livro de Augusto de Campos e ilustrações de Julio Plaza, 1974.
11
VEM LER! Observe a imagem a seguir. Augusto de Campos e Julio Plaza
Ver ou ler?
„„ A arte fala? O que ela fala? Do que fala a arte? „„ Quais são as formas ou os assuntos da arte?
Obra Abre, de Poemóbiles, de Augusto de Campos e Julio Plaza, 1974. Peças escultóricas.
Eu leio palavras ou vejo uma forma? As letras formam palavras. As palavras formam imagens. Há artistas que optam pela arte das palavras e das imagens, o mundo verbal e o visual integrados. São linguagens, formas diferentes de falar e de comunicar-se. Ideias, sensações, revelações... E você, tem algo a dizer? Então, diga!
CLIQUE ARTE Julio Plaza. Seminário Julio
Plaza – O livro como forma de arte. Disponível em: <http://ftd.li/wj47ok>.
12
Como? Por imagens ou palavras? Tudo junto criado ao mesmo tempo... Será? As palavras ditas são efêmeras, vão-se com o vento. As palavras escritas na obra do artista vão durar mais tempo. Contudo, só terão sentido quando alguém olhá-las, lê-las, apreciá-las.
VEM ESCREVER! Leia o trecho de peça de teatro a seguir.
[...] D. Nuvem – E água tem cor? Brisa – Tem! O mar é verde, lembra? E depois o mundo é colorido demais e na terra eu arranjo uma cor pra mim. (PAUSA) – Fica descansada; antes de virar gota d’água, eu dou uma sopradinha na senhora. D. Nuvem – E amanhã? Quem vai me soprar? Brisa – Amanhã a senhora arranja um pé de vento, uma lufada, um tufão, um vento bravo ou uma brisa qualquer. Amanhã sempre se dá um jeito. Amanhã eu terei uma cor! (TEMPO) D. Nuvem – Você está enganada. Muito enganada. A felicidade não é dada pela cor que se tem! Brisa – A senhora não é feliz no seu branco? D. Nuvem – Reclamo um pouco, como todo mundo sabe. Prefiro me ver rosinha quando chego perto do sol. Mas gosto de ser nuvem, e aí está minha felicidade. E depois, ninguém é feliz todo o tempo.
Trecho da peça A viagem das sensações. COMPARATO, Doc. A viagem das sensações. 1982. Ato I. Cena I. In: Biblioteca Digital de Peças Teatrais – BDTeatro. Disponível em: <http://www.bdteatro.ufu.br/marc.php?codpeca=tt00512>. Acesso em: 16 mar. 2016.
13
Xica Lima
Será que a Dona Nuvem vai encontrar quem possa soprá-la? Repare bem! O texto foi escrito de um jeito especial. Tem diálogos e momento de pausa, em que se dá um tempo. Será que o autor quer ajudar a gente a criar na linguagem do teatro? A arte de criar textos para teatro é chamada de dramaturgia. Leia o trecho da peça e pense: É melhor ter ou ser? Eis a questão! O teatro pode começar assim, com uma peça escrita, ou apenas um roteiro. E a cena desenrola-se. Começamos a imaginar cenários, figurinos, falas, expressões corporais e tudo o que a nossa mente planejar e criar. A arte tem muitas linguagens, que podem estar uma dentro da outra, como a palavra na boca da atriz que, ao encenar, diz: “ninguém é feliz todo o tempo”. O que você pensa sobre essas palavras jogadas ao vento?
Cena de montagem da peça A viagem das sensações, de Doc Comparato, escrita em 1982.
O texto mostra a conversa entre personagens: Brisa e Dona Nuvem. „„ O que dizem uma para a outra? Que história está sendo contada? „„ Como o texto foi escrito para a gente saber quem fala? „„ Quando e como é dito cada trecho do texto? „„ Quem é a personagem mais preocupada? „„ Você já assistiu a uma cena teatral? „„ Como é chamada a arte de criar textos para teatro?
14
Qual é a época da criação?
Tema 1
Artes de todos os tempos Observe a imagem a seguir.
Registro fotográfico da instalação Lápides, de Alex Flemming, 2012. Pinacoteca do Estado de São Paulo. Fotos: Alex Flemming
A arte é expressa em linguagens. „„ E que língua é essa que a arte “fala”?
A arte, entre seus vários papéis na sociedade, é também expressividade e comunicação. Podemos dizer o que sentimos e pensamos por meio da arte. Compartilhamos sentimentos e ideias. Ao criar arte, podemos escolher por quais caminhos nos expressar. Por meio das imagens, dos gestos, dos sons, das palavras... Podemos criar mundos imaginários muito diferentes do real, ou representar ideias mais próximas do nosso cotidiano. De qualquer modo, tudo passa por nossa imaginação e interpretação sobre as coisas. A arte nasce por muitas motivações, mas é no mundo mental que ela se desenvolve.
Detalhe da instalação Lápides, de Alex Flemming, 2012.
15
Leia este trecho de letra de música.
OUÇA ARTE Palavras. Intérprete: Titãs.
Autores: Marcelo Fromer e Sérgio Britto. Disponível em: <http://ftd.li/d739en>.
Palavras não são más Palavras não são quentes Palavras são iguais Sendo diferentes Palavras não são frias Palavras não são boas Os números pra os dias E os nomes pra as pessoas Palavras eu preciso
Objetos de consumo ficam obsoletos. A arte, não. „„ Você concorda com essa afirmação?
LEIA ARTE Alex Flemming, de Angélica
de Moraes. São Paulo: Cosac & Naify, 2012. Sinopse: o livro explora as diversas técnicas do artista, como fotografia, pintura, serigrafia e gravura, destacando as influências na sua formação.
AMPLIANDO Intermídia é um termo usado desde o início dos movimentos de arte do começo do século XX para fazer referência a artistas e às suas produções que usam duas ou mais linguagens. Atualmente, o termo é usado para falar de produções que, além de várias linguagens, utilizam vários recursos, inclusive os tecnológicos.
16
Preciso com urgência [...] Trecho da letra de música Palavras. FROMER, Marcelo; BRITTO, Sérgio. Palavras. In: _____. Titãs Acústico MTV. Rio de Janeiro: WEA, 1997. CD. Faixa 10.
A resposta pode depender do contexto cultural no qual tanto o objeto quanto a arte foram criados e o quanto significam para uma sociedade. Atualmente, o uso de coisas antigas para criar arte é bem frequente, apresentando, muitas vezes, novos significados para os objetos e as ideias. Em 2012, o artista paulistano Alex Flemming (1954) fez um pedido a várias pessoas que conhecia. Solicitou a doação de computadores portáteis antigos e sem uso. Várias pessoas colaboraram com o artista, que conseguiu juntar computadores suficientes para montar uma instalação na Pinacoteca do Estado de São Paulo, como vimos na imagem da página anterior. Vamos entrar nesse mundo de imaginação? A criação artística pode acontecer usando mais de uma linguagem, misturando maneiras de criar e de expressar-se. Há artes hoje que são intermídia. São linguagens artísticas que podem estar juntas em uma mesma obra: som, imagem, palavra, gesto, movimento (música, artes visuais, literatura, teatro e dança). Cada uma dessas linguagens possui os seus códigos, a sua maneira de ser e de se comunicar com você. Alex Flemming usou imagens e palavras para nos convidar a pensar sobre as relações com as tecnologias e como nos comunicamos.
Imagens e palavras
Tema 2
Palavras em imagens Augusto de Campos
Observe o poema-imagem a seguir.
Caixa preta (capa externa), de Augusto de Campos e Julio Plaza, 1975.
A arte como forma de comunicação é uma espécie de troca entre o artista e o público. Trocamos sentimentos, pensamentos, ideias. Vamos pensar sobre isso?
Observe novamente a imagem acima. „„ São palavras? O que dizem? „„ É uma forma? Que forma você vê?
17
Augusto de Campos
Detalhe da capa externa do projeto Caixa preta, de Augusto de Campos e Julio Plaza, 1975.
AMPLIANDO O Concretismo (ou Arte Concreta) foi um movimento e estilo internacional que teve no Brasil representatividade no Grupo Ruptura. A arte concreta busca abandonar qualquer aspecto de representação da natureza, negando as correntes artísticas subjetivistas e líricas. Elementos de linguagem são articulados para expressar a forma. Na literatura, tivemos a poesia concreta dentro do movimento concretista. É representada por poemas que exploram tanto a poética da palavra quanto da imagem. A preocupação era aproximar a palavra da imagem, em íntima relação entre o verbal e o visual. Os nomes na literatura concreta são Julio Plaza (1938-2003), Augusto de Campos (1931), Haroldo de Campos (1929-2003) e Décio Pignatari (1927-2012), entre outros. O termo vanguarda vem da palavra francesa avant-garde, que significa estar na linha de frente de uma luta (exército). Nas artes, esse termo foi usado para denominar os movimentos estéticos e artísticos que estavam liderando mudanças culturais inovadoras.
18
O projeto Caixa preta foi um misto de escultura e livro, apresentando-nos dois tipos de código, um visual e outro escrito. Feito a quatro mãos, é uma parceria de dois artistas: o espanhol Julio Plaza (1938-2003), mais ligado às artes visuais, e o brasileiro Augusto de Campos (1931), paulistano ligado às artes literárias, mais especificamente à poesia concreta. A poesia concreta é considerada uma arte de vanguarda. Faz parte de um movimento denominado Concretismo (ou Arte Concreta). No Brasil, teve início na década de 1950. Na imagem da página anterior, Caixa preta, o poema traz símbolos gráficos, como a estrela, por exemplo, substituindo algumas letras. Decifre o código e leia o poema, que já foi musicado por Caetano Veloso no seu disco Uns, de 1983. Os artistas concretistas dedicaram-se a buscar uma estética mais racional, com forte influência da arte geométrica e abstrata. Nessa época, estava acontecendo no Brasil e no mundo uma revolução na forma de produzir imagens impressas e eletrônicas. A televisão, o vídeo, os sistemas de gravação de sons e a computação estavam ficando mais populares. A cada dia, inventava-se um jeito novo de criar nos meios de comunicação. Os artistas observavam tudo e incorporavam essas mudanças nas suas produções artísticas.
„„ Você acha que os meios de comunicação contemporâneos (rádio, televisão, internet e outras mídias) interferem no seu modo de falar, de escrever e de criar? „„ De que precisamos para criar imagens e poemas?
MUNDO CONECTADO „„“Palavra-imagem”
Arnaldo Antunes
Leia os poemas (e observe as imagens que eles formam) a seguir.
CLIQUE ARTE Arnaldo Antunes. No site você pode conferir os mais de vinte livros publicados pelo poeta, músico e compositor, além de canções, textos e produções artísticas. Disponível em: <http://ftd.li/7s74g8>.
Paulo Leminski
Gera, poema de Arnaldo Antunes. In: ANTUNES, Arnaldo. 2 ou + corpos no mesmo espaço. São Paulo: Perspectiva, 1997. (Coleção Signos, v. 23).
LEIA ARTE Cultura, de Arnaldo Antunes.
São Paulo: Iluminuras, 2012. Sinopse: cultura estimula a aprendizagem visual. Sem radicalizar, Arnaldo Antunes interpreta e transforma palavras e rearranja significados. As ilustrações, de Thiago Lopes, interpretam os poemas em cores e formas.
Lua na água, poema de Paulo Leminski, 1982. In: LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
„„ O que você consegue ler? Que formas são percebidas? As palavras e as formas apontam que ideias? „„ Será que artistas como o paulistano Arnaldo Antunes (1960) e o curitibano Paulo Leminski (1944-1989) escolheram as palavras que combinaram com essas formas? „„ Você imagina as intenções dos artistas ao criar esse tipo de arte em “palavras-imagens”? „„ Você já criou formas com palavras? Ou palavras com formas?
19
Décio Pignatari
Leia (e depois veja, como se fosse uma tela de pintura) o poema do artista paulista Décio Pignatari (1927-2012), uma pessoa importante na história da arte concreta brasileira. As ideias do concretismo influenciaram a poesia, a música, as artes visuais e, posteriormente, os artistas do design e da moda. As formas, o uso de figuras geométricas e cores vibrantes, o uso de letras e palavras simples e diretas marcaram esse estilo de arte.
Terra, poema de Décio Pignatari, 1956. In: PIGNATARI, Décio. Poesia pois é poesia 1950-2000. Cotia, SP: Ateliê; Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004.
20
A palavra também encena Observe a imagem a seguir. Aghueda Amaral
OUÇA ARTE Folia no meu quarto.
Intérprete: O Teatro Mágico. Autores: Fernando Anitelli e Nô Stopa. Disponível em: <http://ftd.li/qmomz5>.
Cena do espetáculo teatral O bobo do rei, da Cia. Vagalum Tum Tum, 2009. É uma livre adaptação da peça Rei Lear, de William Shakespeare (1564-1616), escrita em 1605.
Agora, leia este trecho de letra de música.
Folia no quarto [...] Todo ser seria Todo rio riria Toda flor folia Abajur pra escuridão Toda brincadeira começa com alegria Mas o sino do almoço troca o riso por feijão Quero mais careta no retrato Quero mais folia no meu quarto
Trecho da letra da música Folia no quarto. ANITELLI, Fernando; STOPA, Nô. Folia no quarto. In: O TEATRO MÁGICO. A sociedade do espetáculo – O Teatro Mágico. São Paulo: O Teatro Mágico, 2011. CD. Faixa 14. Disponível em: <http://www.oteatromagico.mus.br/ musicas/disco/3>. Acesso em: 16 mar. 2016.
Palhaços, músicos, cenários, atores em roupas engraçadas. O personagem na forma do palhaço faz rir até de coisas trágicas. Talvez porque o palhaço queira, assim como canta a turma do grupo O Teatro Mágico, que todo mundo ria, “que toda flor folia, abajur pra escuridão”. Nas imagens, vemos cenas do espetáculo teatral O bobo do rei, criado pela Cia. Vagalum Tum Tum de teatro, sediada em São Paulo. Essa companhia é formada por atores que se dedicam a pesquisar e criar arte com base na linguagem do palhaço.
21
AMPLIANDO
Ivson
Em uma montagem teatral, o diálogo desenvolve os temas por meio das conversas entre dois ou mais personagens. O monólogo identifica a cena ou espetáculo em que um ator fala em cena sozinho, sem a participação de outros atores. Ou seja, são momentos ou espetáculos com o personagem sozinho na cena, falando consigo mesmo ou com um (ou até mais de um) personagem imaginário, às vezes falando para o público, mas sem interlocução. Os dramaturgos podem incluir pequenos monólogos dentro de uma peça, ou ainda criar um texto para um personagem apenas, no qual, durante todo o espetáculo, há apenas um ator em cena (nesse caso, toda a peça é um monólogo). A palavra dramaturgo tem origem na palavra grega dramatourgós, que significa autor de peças de teatro. Os textos criados pelo dramaturgo podem destinar-se à representação teatral ou ser adaptados para vídeos no cinema, na televisão, na internet. Dramaturgia é a linguagem artística de que se ocupa o dramaturgo.
22
Para a criação de uma peça teatral, há muitos detalhes a planejar. Fazer teatro requer pensar em muitas coisas! E o detalhe que fundamenta tudo é o texto dramático, a história a ser contada e as suas ideias e mensagens. Observando os atores atuando em uma cena, há montagens com diálogos encenados ou monólogos. Essas expressões cênicas no palco resultam de um texto que foi lido, estudado, muitas vezes adaptado, para dar vida e fala aos personagens. No caso da Cia. Vagalum Tum Tum, essa trupe teatral costuma fazer pesquisas e criar adaptações de textos do inglês William Shakespeare (1564-1616). Esse escritor, um dos principais dramaturgos do teatro, conhecido por todo o mundo por seus textos e poemas, foi autor de peças que se tornaram clássicos, como Romeu e Julieta, Hamlet, Rei Lear, Macbeth, Sonho de uma noite de verão, entre outras peças que caíram no gosto popular e são representadas até hoje.
LEIA ARTE Histórias de Shakespeare,
de Charles Lamb e Mary Lamb. São Paulo: Ática, 2006. (Coleção Quero ler, v. 2). Sinopse: Adaptações em forma de contos de Hamlet, Sonho de uma noite de verão e Macbeth. Nas três histórias, seres fantásticos interferem na vida dos humanos.
Cena do espetáculo teatral O bobo do rei, da Cia. Vagalum Tum Tum, 2009.
Adaptações e releituras
Tema 3
Liberdades poéticas Luli Penna
Observe a imagem a seguir.
Ser ou não ser,
Cartum de Luli Penna sobre cena da peça Hamlet, de William Shakespeare.
eis a questão. Fala clássica e mais conhecida da peça Hamlet, de William Shakespeare.
Criar adaptações está longe de ser novidade na história da humanidade. Desde sempre tivemos de nos adaptar a viver em locais diferentes, transformar coisas e intervir na vida e na natureza. Assim, adaptar algo à nossa realidade ou adaptarmo-nos a alguma coisa faz parte da cultura humana. Os textos dramatúrgicos são criados em muitas épocas, inclusive neste exato momento alguém provavelmente está escrevendo um texto que atores poderão usar para criar na arte do teatro. Trata-se de mais um caso de parceria entre linguagens: língua da palavra (textos literários) e língua do corpo (teatro). A literatura também pode inspirar artistas de diferentes linguagens a criar ilustrações, pinturas, esculturas e até personagens de animação e videogames.
23
Corbis/Latinstock
George Hopkins/Alamy/Latinstock
Imagem do ator estado-unidense Edwin Booth (1833-1893) como Hamlet, em 1870.
João Caldas F.
Escultura em bronze de Hamlet, em memorial na cidade de Stratford-Upon-Avon, na Inglaterra, onde nasceu William Shakespeare.
Observe as imagens ao lado. São representações do personagem Hamlet, da obra de William Shakespeare, na escultura e na fotografia. Você já ouviu a frase: “Ser ou não ser, eis a questão.”? Essa frase foi criada por William Shakespeare para a peça Hamlet, escrita entre os anos 1599 e 1601. O texto conta a história do príncipe Hamlet, que enfrenta dramas depois da morte do pai. A história é repleta de dúvidas, indagações sobre a brevidade da vida, a maldade no mundo e a traição das pessoas. Assim como outras peças de Shakespeare, cuja temática central é atemporal, essa peça é montada em todo o mundo anualmente. Veja um registro fotográfico com o ator estado-unidense Edwin Booth como Hamlet, em 1870. A cada vez que um espetáculo teatral é criado com base em um texto da literatura de dramaturgia, é possível que sejam feitas adaptações. A Cia. Vagalum Tum Tum fez uma recriação para o público infantojuvenil do texto Hamlet, que se transformou no espetáculo O príncipe da Dinamarca, com adaptação e direção do paulistano Angelo Brandini (1959). Veja a imagem ao lado.
A banda de caveiras da montagem O príncipe da Dinamarca, da Cia. Vagalum Tum Tum, em 2009. Adaptação para o público infantojuvenil da tragédia Hamlet, de William Shakespeare. A linguagem divertida de palhaços, o trabalho da trupe da Cia. Vagalum Tum Tum, a adaptação do texto, os figurinos, a iluminação, os cenários contribuíram para contar essa história que fala de morte, vingança e fantasma, enfim, uma grande tragédia transformada, na versão infantojuvenil, em uma tragicomédia que faz o público rir o tempo todo das peripécias dos personagens.
24
LY-ART-F2-2024-V9-U01-018-027-LA-M17.indd 24
4/15/16 3:07 PM
MUNDO CONECTADO „„Ser ou não ser... artista Nani
Observe a tirinha a seguir.
Tirinha das Galinhas Filosóficas, de Nani, com tema inspirado na peça Hamlet, de Shakespeare.
A frase mais famosa de Shakespeare inspirou também o chargista Nani (1951) a criar essa tirinha da série Galinhas Filosóficas, explorando, como é característico dessa linguagem, o humor. Agora, leia um trecho da peça Hamlet, de Shakespeare. Trata-se do trecho de um pequeno monólogo no qual o príncipe expõe suas dúvidas e angústias, abrindo a sua fala com a mais célebre frase da peça. HAMLET: Ser ou não ser... Eis a questão. Que é mais nobre para a alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes? Morrer... dormir... mais nada... Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne é solução para almejar-se. Morrer..., dormir... dormir... Talvez sonhar... [...] SHAKESPEARE, William. A trágica história de Hamlet, príncipe da Dinamarca. Tradução de Nélson Jahr Garcia. 2000. Disponível em: <http://biblioteca-online.net/ebooks/Shakespeare-Hamlet.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2016.
„„ Que tal você e os colegas adaptarem esse trecho do texto para a turma e criar outra cena teatral? Convide a sua trupe e os professores de Arte e Língua Portuguesa e bom espetáculo!
25
MAIS DE PERTO „„A forma e o conteúdo da poesia
Fotos: Cleo Velleda/Fol
hapress
Vamos conhecer mais sobre a obra Poemóbiles? Nos Poemóbiles de Augusto de Campos e Julio Plaza, as palavras são lançadas no espaço, ocupando a tridimensionalidade. Volte às obras da abertura do capítulo e da seção Vem Ler!.
Detalhes da imagem da exposição do projeto Poemóbiles, livro de Augusto de Campos e ilustrações de Julio Plaza, 1974.
VEJA ARTE Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP). A oportunidade de visitar e conhecer de perto as obras dos artistas Julio Plaza, Nelson Leirner, entre outros artistas contemporâneos brasileiros citados nessa edição. Disponível em: <http://ftd.li/oc5ipu>.
26
O movimento de Arte Concreta no Brasil, principalmente em São Paulo, também se desenvolveu com a chegada de novas mídias, como a gravação audiovisual (naquele período, ainda o videocassete). Se hoje isso pode não parecer novidade, para a época foi um modo de usar materiais que mudaram a forma de criar arte sem precedentes na história. A publicidade também foi fonte de inspiração para os artistas da época, uma vez que muitos artistas pertencentes ao grupo de concretistas também trabalhavam em editoras de revistas, jornais e agências publicitárias. Hoje em dia, com a facilidade do acesso à tecnologia trazida pela informática e com os tipos de mídia mais recentes, como internet, tablets e celulares, os artistas que trabalham a união dessas linguagens artísticas têm ainda mais caminhos e oportunidades para desenvolver as suas obras.
Zuleika de Souza/CB/D.A Press
Augusto de Campos (1931) Augusto de Campos nasceu na cidade de São Paulo, em 1931. Foi um dos poetas fundadores do Concretismo, ao lado de seu irmão Haroldo de Campos e do amigo em comum Décio Pignatari. O poeta tem boa parte de sua obra reunida nos livros Viva vaia (Poesia, 1949-1979), Expoemas (1980-1985) e Despoesia (1979-1993). Seu livro Poemóbiles (edições em 1974, 1985, 2010) foi republicado recentemente. Veja, a seguir, trecho de entrevista de Augusto de Campos comentando sobre a tecnologia e a poesia.
Augusto de Campos. Foto de 2010.
Para o senhor, as inovações tecnológicas representam uma mudança no modo de pensar e fazer poético? Sem dúvida, parecem-me relevantes e inspiradoras, sem contar na infinitude de informações que hoje se pode recolher da internet. Mas sempre digo que só a expertise em informática não garante alta qualidade poética. Um compositor pode exprimir-se com imenso valor não utilizando linguagem tecnológica de ponta, embora necessite cada vez mais da tecnologia para materializar seu pensar e fazer poético. Não tenho nenhum problema em reconhecer boa poesia ao largo das inovações tecnológicas. O que não vale a pena é ornamentar poemas não tecnológicos com plumas tecnológicas. Mas lembro o conselho que Ezra Pound deu aos jovens: “curiosidade, curiosidade…”. Aí, vale. MASSUDA, Mayra Berto; PIRES, Antônio Donizeti. Entrevista com Augusto de Campos. Texto Poético, p. 14, 2011. Disponível em: <http://revistatextopoetico.com.br/index.php/ rtp/article/viewFile/71/68>. Acesso em: 16 mar. 2016.
27
MAIS DE PERTO „ O autor e os atores
O autor do livro Nadistas e Tudistas, Doc Comparato, lendo-o para os atores que atuam na peça de mesmo nome, adaptada por Renata Mizrahi e dirigida por Daniel Herz em 2013.
CLIQUE ARTE Doc Comparato. Conheça
mais a respeito desse importante dramaturgo e roteirista brasileiro visitando o seu site oficial. Disponível em: <http://ftd.li/tvdwg3>.
LEIA ARTE Nadistas e Tudistas, de Doc Comparato. Ilustrações de Patricia Gwinner. Brasília: Leitura, 2009. Sinopse: o universo dos Nadistas e Tudistas, dois povos sobreviventes que habitam a Terra após guerras e lutas terríveis arranjadas pelos homens, que quase destruíram o planeta e a humanidade.
28
Além de dramaturgo, o carioca Doc Comparato (1952) é autor de vários livros e roteiros para cinema e televisão. Outros textos dele já foram adaptados para o teatro. É o caso do espetáculo Nadistas e Tudistas. Um dos temas principais é a sustentabilidade, discutida por meio da história dos conflitos entre dois povos com ideologias diferentes, mas que reavaliarão as suas diferenças por causa do amor entre dois personagens, em uma referência ao tema da peça Romeu e Julieta, de Shakespeare. De modo geral, o uso original da palavra dramaturgia refere-se à produção de um autor teatral, que escreve peças ou roteiros para o teatro. Podemos também nos referir a um período da história do teatro.
Acervo do Grupo Nadistas e Tudistas
Observe a imagem a seguir.
Lili Martins/Folhapress
Doc Comparato. Foto de 1998.
Doc Comparato (1952) Um escritor de textos para teatro, cinema ou televisão, no momento em que está escrevendo, imagina e idealiza como será a estrutura e muitos outros elementos das linguagens cênicas ou audiovisuais (cinema e televisão). Ele pode pensar sobre como será a iluminação, o estilo de cenário e o figurino, na trilha sonora do espetáculo, entre outras coisas. Contudo, sabe que seu texto poderá ter interferências e adaptações de outros que produzirão o espetáculo. Assim, Doc Comparato diz que o grande momento de um escritor dramaturgo ou de um roteirista é quando ele está escrevendo, criando seu trabalho.
Tenho três facetas profissionais: uma delas é a do escritor, do autor. Eu gosto de escrever e demorei muito para descobrir isso. Outra, é a do professor, do estudioso. E tem o lado do homem de televisão, que trabalha a grade de programação, de tendências. [...] O grande momento do roteirista é quando ele está diante da folha em branco, escrevendo, trabalhando. Aí é que você sente que é um roteirista e não quando o produto está no set ou escancarado na tela. Seu momento é lá atrás. GENNARI, Alexandre; MORENO, Felipe. Doc Comparato: roteiros – entrevista – teledramaturgia. [2004]. Disponível em: <https://webwritersbrasil.wordpress.com/a-arte-do-roteiro/ entrevistas-2/doc-comparato/>. Acesso em: 16 mar. 2016.
AMPLIANDO Roteirista é o profissional que escreve as histórias e as sequências de cenas para produções audiovisuais, voltadas para o cinema, a televisão e a internet, entre outras mídias.
29
LINGUAGEM DAS ARTES VISUAIS Os artistas do movimento de Arte concreta brasileira estudavam, conversavam e escreviam sobre teorias como a gestalt, que foi apresentada ao grupo por Waldemar Cordeiro. A palavra alemã gestalt (forma) é o nome de uma teoria que estuda a percepção das imagens. Sendo um campo de investigação científica da psicologia, muitas pessoas escreveram sobre a percepção das formas e inteligência visual. Os concretistas interessavam-se em saber como suas composições feitas com linhas, pontos, formas, cores e espaços podiam ser percebidas pelo público de suas pinturas, gravuras, desenhos, esculturas e poemas visuais (concretos).
„„ Quando você olha para esta imagem, tem a impressão de que os seus olhos se movimentam? Para onde caminha seu olhar? „„ Agora que você já observou a imagem, identificou o segredo para conseguir a sensação de movimentos em uma imagem?
30
„„Arte concreta Vamos conhecer algumas obras de artistas da arte concreta? Com o elemento de linguagem visual linha, o artista ítalo-brasileiro Waldemar Cordeiro (1925-1973) criou movimentos na obra registrada na imagem a seguir, com o título Ideia visível. Observe-a. Waldemar Cordeiro. 1956. Tinta e massa sobre madeira. Coleção Adolpho Leirner, Museum Fine Arts Houston
AMPLIANDO
Ideia visível, de Waldemar Cordeiro,1956. Tinta e massa sobre madeira, 100 cm × 100 cm.
Esse artista foi um dos mais importantes do movimento concretista no Brasil. Expressou-se por meio do desenho, da pintura e foi um dos pioneiros no uso de tecnologias para criar imagens. Na arte concreta, a imagem é inteiramente construída com elementos puramente plásticos. Isso quer dizer que os artistas usam linhas, planos, cores e outros elementos visuais sem a preocupação de criar imagens figurativas, que retratem a realidade de modo facilmente reconhecível.
Geraldo de Barros/Acervo Instituto Moreira Salles
Os artistas que compartilhavam desse fazer artístico uniram-se em grupos para criar e conversar sobre as linguagens da arte. Em São Paulo, um grupo de artistas ficou conhecido como Grupo Ruptura. Waldemar Cordeiro e o paulista Geraldo de Barros eram dessa turma. Geraldo de Barros (1923-1998) nasceu em São Paulo e foi fotógrafo, pintor, gravador, artista gráfico, designer de móveis e desenhista. Como fotógrafo, inovou na composição de imagens com base no registro de cenas cotidianas. Observe a imagem a seguir.
Sem título, fotografia de Geraldo de Barros, 1948.
São linhas, esferas transparentes e tonalidades, ou apenas fios da rede elétrica, um poste e balões de ar? Um tema simples pode ser uma ideia genial para uma fotografia. Era assim que o multiartista Geraldo de Barros olhava para imagens cotidianas que aparentemente eram comuns. Contudo, o enquadramento escolhido nas suas fotografias, os elementos de linguagem como linhas, cores, formas, pontos e superfícies, que apresentavam, muitas vezes, contrastes, texturas e movimentos, podiam transformar uma cena banal em poesia visual. Esse artista também criou uma série de trabalhos com o título Fotoformas, em que explorou as formas geométricas, orgânicas, os efeitos de transparências e luminosidades, entre outros recursos.
AMPLIANDO Fotoformas é o nome de uma série de trabalhos do artista Geraldo de Barros, que ficou conhecido como um dos precursores da fotografia experimental. Nas suas imagens, explorou tanto a figuração como a abstração em fotografias, pinturas e gravuras. Fez pesquisas sobre fotografia, sobreposição de imagens, combinação de formas, efeitos de luz e transparências. O Grupo Ruptura nasceu com a proposta de criar uma arte abstrata brasileira. Os artistas Waldemar Cordeiro (1925-1973), Geraldo de Barros (1923-1998), Ivan Serpa (1923-1973) e Franz Joseph Weissmann (19112005), entre outros, realizaram exposições, reuniões, redigiram manifestos e textos para divulgar as ideias que pronunciavam uma arte que tinha como foco a exploração dos elementos visuais e o abandono à representação da realidade.
VEJA ARTE Geraldo de Barros: Sobras em obra. Documentário. Direção: Michel Favre, Fabiana de Barros e Cláudio Kahns. São Paulo: Tradam Productions e Tatu Filmes, 1999. 1 DVD (77 min). Sinopse: documentário que traça um paralelo entre o percurso artístico de Geraldo de Barros e momentos da história do Brasil.
Um tema simples pode se tornar uma ideia incomum para a arte?
31
AÇÃO E CRIAÇÃO „„Imagens concretas
Alf Ribeiro/Pitanga RM/Latinstock
O artista carioca Ivan Serpa (1923-1973) e o austríaco Franz Joseph Weissmann (1911-2005), que veio ainda jovem para o Brasil, são exemplos de representantes da linguagem das artes visuais que se ligaram aos princípios do Concretismo. Observe a imagem a seguir.
Cubo aberto, de Franz Weissmann, 1987. Aço pintado. Praça da Sé, São Paulo.
O que é criar com os elementos de linguagem no seu estado mais puro?
CLIQUE ARTE Franz Weissmann. No site
oficial você conhecerá mais sobre o artista austríaco e suas obras concretistas. Disponível em: <http://ftd.li/gwfox5>.
32
Como vimos, na arte concreta, principalmente nas linguagens do desenho, da gravura, da pintura e da escultura, os artistas estavam interessados em explorar todas as possibilidades dos elementos de linguagem visual. A arte geométrica e racional era o foco. Assim, observamos imagens criadas em formas abstratas com linhas, planos e cores. Criar usando palavras e imagens continua sendo uma proposta de muitos artistas brasileiros e mundiais, porém a arte concreta marcou nossa história nesse tipo de produção. Pesquise mais sobre esse período da história da arte.
Elementos da visualidade Vamos criar usando imagens abstratas e explorando os elementos de linguagem visual, como fizeram os artistas Ivan Serpa e Franz Joseph Weissmann? Acompanhe os procedimentos indicados a seguir.
PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS Crie livremente, em folhas de papel, imagens abstratas, inspiradas nos elementos vistos até aqui. Observe as imagens que você criou. Escolha um material para desenvolver os seus projetos. Para fazer esculturas, por exemplo, você pode usar folhas de papel encorpadas (papelão ou cartão) e fazer cortes e dobras. Na pintura, você pode criar composições usando formas geométricas. Escolha as linhas, os planos e as cores de sua preferência e boa viagem rumo à arte concreta!
Criando no coletivo Vamos fazer poesia concreta? Como Augusto de Campos e Julio Plaza, faça também uma parceria artística. Convide um colega da turma para fazer em dupla a criação de vocês. Como essa forma de fazer poesia exige a valorização da visualidade, explore a ideia de criar imagens e formas. PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS Vamos criar poesias em caixas? Serão poemas tridimensionais. Na parceria de criação, cada um pode contribuir com uma parte, na visualidade da poesia, na escolha das formas utilizadas, na escolha das palavras usadas, na temática que a poesia abordará, entre outras características. Pense no que você pode oferecer de melhor para essa criação em parceria.
Primeiro, vamos colorir todos os lados da caixa. Para facilitar a aderência da tinta, você pode passar duas demãos de base. Misture meio copo de cola branca a um copo de tinta látex branca. Cubra toda a superfície com essa base.
Ilustrações: Thiago Soares
Acompanhe as etapas descritas e ilustradas a seguir.
Use tinta guache em várias cores para pintar as caixas. Com o seu suporte preparado, é hora de criar os poemas concretos.
Você pode escrever com caneta hidrocor de várias cores ou usar letras recortadas de revistas. Nesse caso, escolha as letras por cor, tipo e tamanho e comece a criar.
Outra dica é colar materiais de tamanhos diferentes, como caixas menores ou folhas de papelão dobradas, para conseguir efeitos de alto-relevo na sua caixa. Faça isso antes de passar a base e colorir. Com esse material montado, crie os poemas sobre essa superfície tridimensional.
33
LINGUAGEM DO TEATRO „„A linguagem verbal e não verbal na dramaturgia Observe com atenção as imagens registradas a seguir. Richard Frieman/Photoresearchers/Latinstock
Marcel Marceau, França, 1958. Registro fotográfico de performance de mímica.
Como dissemos, o teatro, como as mais diversas formas de comunicação, envolve um processo de troca de informações ou mensagens entre um emissor e um receptor. Tratando-se do teatro, dizemos que existe uma troca entre o ator e o público. Sabemos que existem diferentes formas de comunicação na arte. No caso da palavra, podemos escrevê-la, como nos textos e roteiros teatrais, ou usar a palavra falada, como nas encenações de peças teatrais e produções audiovisuais que envolvem alguma tecnologia. Essas formas de comunicação podem ser definidas como comunicação verbal. Também podemos comunicar ideias e sentimentos por meio das artes visuais, como nas pinturas e nas esculturas. Gestos, movimentos e expressão também comunicam algo, como no teatro ou na dança. Essas formas de comunicação são consideradas comunicação não verbal. Nas linguagens teatrais, em propostas audiovisuais para cinema, televisão e internet ou em intervenções performáticas, os artistas podem utilizar os dois códigos de comunicação, o verbal e o não verbal. No teatro, quando se opta por não usar a palavra, um dos estilos utilizados é conhecido como mímica, em que a gestualidade corporal e as expressões faciais ampliam a ação, constroem objetos e situações utilizando matéria invisível. A mímica está presente desde as primeiras formas teatrais da Grécia antiga e desenvolveu-se de diversas formas.
34
„„Planejar e construir Observe a imagem a seguir. Isabela Kassow
Cenário do primeiro ato do espetáculo Tatyana, da Cia. Deborah Colker, de 2011. Cenografia de Gringo Cardia, em primeiro plano na foto.
AMPLIANDO Cenógrafo é o nome do profissional que cria cenários, tanto para espetáculos de teatro, dança e música quanto para cinema e televisão. Espetáculo Tatyana, de Deborah Colker. Cenografia de Gringo Cardia. 2011. Foto: Leo Aversa
O planejamento é um ponto inicial importante na criação de cenários. O cenógrafo Gringo Cardia (1957) criou o cenário da imagem acima para o espetáculo Tatyana, da Cia. Deborah Colker de dança. Com materiais comuns, como pedaços de vários tipos de papel, alfinetes, retalhos de tecidos e placas de isopor, podemos criar maquetes. O cenógrafo pode usar bonecos na maquete para indicar a dimensão dos elementos de cena. Veja, ao lado, uma imagem desse espetáculo de dança sobre o cenário criado pelo cenógrafo Gringo Cardia. „„ Como são construídos os cenários? „„ O que é preciso e por onde começar? Observe a imagem ao lado. „„ O que você percebe? Que materiais foram usados? Está em tamanho real ou é uma maquete?
Cena do espetáculo de dança Tatyana, da Cia. Deborah Colker, em 2011.
35
Herve Bruhat/Gamma-Rapho/Getty Images
Há vários artistas de palco que adotam a linguagem da mímica para se expressar, como o francês Marcel Marceau (1923-2007) fez. Com uma técnica desenvolvida durante anos, ele criou o personagem Bip, uma mistura de palhaço e comediante, vestido com uma camiseta listada e um glorioso chapéu de ópera amassado e espetado por uma flor. Marcel Marceau é considerado um dos maiores mímicos do mundo. Com o silêncio expressivo de seus personagens e todo o seu intenso trabalho corporal, encantou plateias de todas as idades e nacionalidades. Personagem Bip, criado por Marcel Marceau (1923-2007), em apresentação na Áustria, em 1997.
AÇÃO E CRIAÇÃO „„O texto escondido na linguagem do gesto Uma performance de mímica tanto pode ser feita em forma de improvisação quanto ter um texto estudado pelo ator, mas não representado em palavras, e sim por meio de gestos. Vamos criar na linguagem da mímica?
PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS
Improvisando Em um espaço livre, um pátio, por exemplo, faça uma grande roda, deixando um espaço entre os participantes, que ficarão um em frente ao outro. A proposta é que um aluno vá ao centro da roda e demonstre um sentimento apenas fazendo mímica. Alguns sons podem entrar na mímica, por exemplo, “toc, toc” para alguém batendo à porta. Só não pode usar a palavra. Você ou um colega pode começar: pense em um sentimento, vá ao centro da roda e faça uma mímica para expressá-lo. A turma deverá tentar adivinhar que sentimento é. Quando conseguirem acertar, é a vez de outro participante, e assim sucessivamente, até que todos participem. Outras coisas podem ser encenadas, como esportes, profissões...
36
PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS
A linguagem do corpo Agora, que tal criar algo com base em um texto? Escolha o trecho de um texto e estude-o. Pode ser uma história ou contos, lendas, poemas,
Richard Frieman/Photoresearchers/Latinstock
textos para peças teatrais, como as que estudamos neste capítulo.
Marcel Marceau, em apresentação na França, em 1958. Registro fotográfico de performance de mímica.
Crie movimentos e gestos corporais para expressar e comunicar a mensagem do texto, porém sem falar, apenas usando o seu corpo e a sua criatividade.
Depois de ter conhecido mais sobre a poesia concreta, qual é a sua opinião sobre essa forma de fazer poesia e arte? Qual é a forma de comunicação que você mais usa para se expressar: a comunicação verbal ou a não verbal? Pense sobre a necessidade de se comunicar não verbalmente, como é o caso das pessoas que têm alguma dificuldade de fala ou de audição, ou ambas. Você já leu algum texto ou roteiro para teatro, cinema ou televisão? Se já leu, o que achou? Conte a um colega. Converse com o professor e os colegas, peça sugestões de leitura e procure na biblioteca da sua escola ou do seu bairro, ou pesquise na internet, um texto do seu interesse para ler.
37
Capítulo 2
ARTE MULTIMÍDIA Arte e você em: ¡¡ Arte de inventos ¡¡ Todos os tempos ao mesmo tempo ¡¡ Linguagem das artes visuais ¡¡ Linguagem da música 38
Acervo Otávio Donasci
Família de VideoCriaturas, videoperformance com atores, monitores de televisão em vários formatos (polegadas), de Otávio Donasci, década de 1980.
39
VEM LINGUAJAR! ENCENAR! Acervo Otávio Donasci
Observe a imagem a seguir.
VideoCriaturas 1 e 2, videoperformance com atores, monitores de televisão em vários formatos (polegadas), de Otávio Donasci, década de 1980.
Pessoas? Máquinas? Atores ou televisores? Têm corpo de gente e tem gente na tela? De quem são esses rostos? Estão pintados? Serão palhaços? Zumbis? Alienígenas? Ou apenas televisores sintonizados? Quem fez tais criaturas? Frankensteins televisíveis? Teatro expressivo. Imagem, palavra, corpo, telecomunicação. Tudo misturado no caldeirão da arte, poética, estética da emoção. Que língua é essa que se manifesta em tantos linguajares? Será arte?
40
VEM SINTONIZAR! Pier Marco Tacca/Getty Images
Observe esta imagem.
Babel, instalação de Cildo Meireles, criada em 2001. Remontagem da instalação na Fondazione Hangar Bicocca, em Milão, Itália, em 2014.
O que é isso? Será uma torre? Feita de quê? Um monte de coisas... Madeira, ferro, plástico... Você reconhece os objetos aí colocados? Imagine que você está nesse lugar... O que se pode escutar? Será que todos estão na mesma estação? É uma escultura? Uma instalação? Tantas línguas e linguagens da arte, som e imagem. Será que vivemos numa torre de babel? Vem, vamos estudar, fazer, apreciar, sintonizar, linguajar...
41
Tema 1
Arte de inventos Inventos para o esquecimento ou infinitos pensamentos Daniel Canogar. 2013. Videoescultura. Foto: Polly Yassin/Bildmuseet
Observe a imagem a seguir.
OUÇA ARTE O silêncio. Intérprete:
Arnaldo Antunes. Autores: Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. Disponível em: <http://ftd.li/u3jzqo>.
Instalação Sikka Magnum, de Daniel Canogar, 2013. Escultura e videoinstalação com 360 DVDs usados, 210 cm × 210 cm × 25 cm. Como a superfície desse material reflete a luz, as imagens são projetadas sobre os DVDs e formam um mosaico, criando um ambiente múltiplo, facetado e todo iluminado por pontos de luzes que se movimentam. Os sons gravados dos filmes também foram utilizados, espalhando-se pela sala de exposição, caracterizando-a como uma linguagem artística audiovisual.
Agora, leia este trecho de letra de música. Antes de existir computador existia a tevê antes de existir tevê existia luz elétrica antes de existir luz elétrica existia bicicleta antes de existir bicicleta existia enciclopédia antes de existir enciclopédia existia alfabeto antes de existir alfabeto existia a voz antes de existir a voz existia o silêncio [...] Trecho de letra da música: O silêncio. ANTUNES, Arnaldo; BROWN, Carlinhos. O silêncio. Intérprete: Arnaldo Antunes. In: _____. O silêncio. Rio de Janeiro: BMG. 1997. CD. Faixa 1.
42
Lezh/Getty Images
Vivemos em meio a muitas invenções. De algumas delas nasceram novas, ou seja, uma pode ter influenciado outras, como dito na letra da canção O silêncio, de Arnaldo Antunes (1960). Antes das invenções tecnológicas, certas luzes só eram vistas na natureza. Hoje, podem ser vistas também em imagens criadas para o computador, televisão, cinema e outros inventos. Inventamos ambientes com luzes que se espalham em um espaço, como na arte do espanhol Daniel Canogar (1964) na instalação Sikka Magnum (2013), na imagem de abertura deste tema. Canogar convida-nos para uma conversa. Podemos refletir sobre como as invenções do nosso tempo são criadas, adquirem um valor momentâneo e depois são descartadas, substituídas por outras que, provavelmente, também serão superadas e, um dia, esquecidas. Observe as imagens a seguir.
Disquetes de 8 polegadas (anos 1970-1980), de 5,25 polegadas (anos 1980) e de 3,5 polegadas (anos 1980-1990). Com a evolução tecnológica, os menores (mais modernos) tinham mais capacidade de memória (armazenar conteúdo) que os maiores. Depois foram substituídos pelos CDs (graváveis e regraváveis) e, atualmente, pelos pen drives e pelos cartões de memória.
Você já ouviu falar em disquete, disco de vinil, fita cassete ou de videocassete? Ouviu música em um rádio à pilha? Conheceu televisão com tubo e válvulas? Você usa CDs, DVDs ou sistemas em MP3 para gravar e ouvir músicas? Observe ao seu redor e identifique a linguagem mais próxima de você neste momento. Visual, escrita, verbal, não verbal, sonora, corporal, linguagem binária, virtual... O que virá ainda? Quem sabe? Podemos olhar para o que já foi criado para tentar compreender o que é linguagem de modo geral e, especialmente, o que são linguagens artísticas.
AMPLIANDO Disco de vinil (ou LP – do inglês Long Play) é um tipo de mídia, criada na década de 1940, com a finalidade principal de reproduzir músicas e outros tipos de material em áudio. Feito de matéria plástica, necessita de um aparelho com agulha especial para fazer vibrar os sons e reproduzir a música, chamado de vitrola ou toca-discos e, atualmente, de pickup. Foi amplamente consumido até os anos 1990, com cerca de 5 a 7 músicas em cada lado (lado A e lado B ou lado 1 e 2) e compacto (simples, com uma música de cada lado, ou duplo, com duas músicas de cada lado), época que trouxe outras tecnologias de gravação e reprodução de músicas e sons, como os CDs e atuais MP3. Instalação é uma linguagem artística contemporânea que utiliza diversos meios e suportes – por vezes tecnológicos – e que permanece disponível ao público durante certo espaço de tempo e depois é desmontada, dela restando o registro em fotografia, vídeo, catálogos. É uma obra de arte que integra o espaço de exposição como um componente estético. Constituem-se em obras tridimensionais, criadas com diversos materiais e objetos e adaptadas ao local onde são instaladas (daí o nome). É criada na relação com o espaço. O artista entende o lugar e cria a partir dele. Também permite um conjunto de linguagens. Linguagem binária é a “gramática” dos números trazidos para a ciência da computação. Os dados são armazenados no computador em uma sequência de códigos (combinações de números). Esse processo de codificação pode ser considerado a base da linguagem de programação para a “digitalização”.
43
MUNDO CONECTADO „„A “língua” eletromagnética
conhecer mais sobre as videoartes do artista, visite seu site oficial. Disponível em: <http://ftd.li/t3rwoy>.
Topic Photo Agency/Corbis/Latinstock
Sistemas de transferência de dados, imagens e sons, hoje, são bem comuns. Cientistas de várias épocas trabalharam muito para que isso acontecesse. A começar pelos estudos sobre eletricidade e ondas eletromagnéticas. O rádio e a televisão nasceram dessas pesquisas científicas. Para criar o rádio, foi pesquisado como as ondas sonoras propagam-se em meio aos materiais existentes e descobriram que, sem materialidades (inclusive o ar), não haveria som. Nas pesquisas para propagar sons de uma música via rádio, por exemplo, cientistas estudaram como converter as ondas sonoras em ondas eletromagnéticas (radiofrequência) e depois como as reconverter em ondas sonoras novamente. Assim, criaram várias máquinas com a função de estações transmissoras e retransmissoras dessas ondas. O rádio deixou a linguagem da música mais próxima das pessoas e transformou a maneira de apreciar essa linguagem. Observe a imagem ao lado. A televisão nasceu também de processos científicos que começaram a ser criados ainda no final do século XIX. Esses experimentos eram capazes de decompor uma imagem em pontos luminosos, enviá-la via processos elétricos e depois reconstruí-la.
CLIQUE ARTE Nam June Paik. Para
Videoarte de Nam June Paik no Museu Nacional de Arte contemporânea em Gyeonggi, Coreia do Sul.
Pesquise sobre os primeiros programas veiculados no rádio e na TV. „„ Como será que essa história audiovisual começou? „„ O que a ciência tem a ver com a arte? „„ Que ideias vêm à sua mente ao observar a videoarte do artista sul-coreano Nam June Paik (1932-2006)?
44
Todos os tempos ao mesmo tempo
Tema 2
Arte – sempre para sempre Observe a imagem a seguir. Note que há duas pessoas de gerações diferentes, cada uma destacada por uma cor. As marcas do tempo estão presentes no corpo dessas pessoas (na cor do cabelo, por exemplo). Um objeto esférico transparente com linhas, pontos e formas geométricas desenhados em sua superfície ocupa o centro de sua imagem e envolve os rostos das pessoas retratadas. Essa fotografia oferece elementos para investigarmos as ideias do compositor alemão Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005), que está do lado direito na imagem. Em suas mãos e nas do pianista, intérprete e compositor Sérgio Villafranca, está a partitura de Acronon (1978-1979), palavra que remete a cronos (palavra grega que indica tempo). Com o prefixo a, a palavra ganha o sentido de suspensão do tempo medido, um tempo que está além, que transcende a medição nos parâmetros humanos (ano, mês, semana, dia, hora, minuto...). A forma circular e transparente da partitura reafirma essa ideia de um tempo que flui, que não está fixado em uma marca específica. Os símbolos na esfera estão livres das fórmulas de compasso, claves, pentagramas e demais elementos rítmicos e melódicos da partitura convencional.
Ronaldo Miranda
Sérgio Villafranca e Hans-Joachim Koellreutter segurando a partitura de Acronon.
O que você vê na fotografia? Como são as pessoas retratadas? O que está sendo segurado? Qual é a forma do objeto? Há imagens neste objeto?
45
Thomas Couture. Século XIX. Óleo sobre tela. Palácio de Versalhes, França. Foto: Fine Art Images/Heritage Images/Glow Images
Frédéric Chopin (1810-1849), um dos mais conhecidos representantes da música do Romantismo. Vincenzo Busciolano. Século XIX. Museu da História da Música, Nápoles. Foto: De Agostini Picture Library/A. Dagli Orti/The Bridgeman Art Library/Keystone
Robert Schumann (1810-1856).
Koellreutter via a música, assim como as diferentes linguagens artísticas, como algo ligado ao mundo, sem uma separação entre vida e arte. A partitura de Acronon tinha a forma esférica (lembrando o planeta Terra) e era transparente. Podemos situar no século XX o principal período no qual grandes mudanças começaram a ocorrer, cada vez mais rapidamente. Para entendê-las, vamos investigar o que estava ocorrendo no período anterior, o Romantismo. Ao ouvirmos a obra de compositores e pianistas como o francês Frédéric Chopin (1810-1849) e o alemão Robert Schumann (1810-1856), por exemplo, percebemos a importância que há, para o Romantismo de modo geral, na subjetividade, isto é, naquilo que habita o interior do indivíduo. Reside justamente nessa característica do Romantismo um dos principais pontos de ruptura em relação à criação musical do século XX, que se volta para as novas realidades do mundo (como o processo de industrialização), para o exterior do indivíduo. Emerge um novo entendimento do tempo e do espaço na vida e na música. O mundo do século XX, novo e dinâmico, impulsionou o surgimento de representações musicais mais adequadas às novas percepções da realidade. Podemos ter um breve panorama desse contexto por meio dos trabalhos de alguns dos principais compositores da música moderna.
„„ Como foi possível a Hans-Joachim Koellreutter, compositor alemão naturalizado brasileiro, ter chegado a esse pensamento musical que reúne diferentes áreas do conhecimento, como Filosofia e até mesmo Ecologia? „„ O que estava acontecendo na linguagem musical que impulsionou a ele e outros compositores e intérpretes a encontrar formas e pensamentos musicais tão diferentes?
46
„„Música moderna do século XX —
Arnold Schoenberg (18741951) operou a revolução no espaço musical, propondo um sistema de composição conhecido como atonal-dodecafônico. Nele, em vez da tonalidade (Dó maior, por exemplo), há uma série de notas predeterminadas que, em variação constante, norteará o processo criador. Foto de 1941.
O século XX foi aquele das rupturas e das invenções, ampliando as diversas possibilidades da linguagem musical como nunca havia ocorrido até então. As transformações, contudo, não anulam formas já consolidadas de fazer música. A invenção do sistema atonal-dodecafônico de Schoenberg, por exemplo, não eliminou a produção musical tonal, arraigada na música popular, das expressões tradicionais ao universo pop. Um dos aspectos mais interessantes do final do século passado e da nossa contemporaneidade é que todos os tempos da música acontecem simultaneamente, todas as músicas cabem na Música.
Heitor Villa-Lobos (1887-1959) é o compositor brasileiro que se dedica à musicalidade de nosso país e constrói uma música na qual se evidenciam as características sonoras do Brasil em diferentes representações regionais. Faz parte de um grupo de compositores nacionalistas que traz a música tradicional e popular para o meio erudito, incluindo no domínio orquestral elementos que não lhe eram próprios, até aquele momento, como o reco-reco, o agogô e o pau de chuva. Entre as suas obras destacamos o Noneto e as grandes séries dos Choros e das Bachianas Brasileiras. Foto de 1955. Fine Art Images/Keystone
Erik Satie (1866-1925) traz a ideia original de uma música mobiliária. Nela, a música é proposta com a função de criar novos ambientes e ser ouvida em espaços sociais cotidianos. Assim, ela deixa de ser elemento central, diferentemente da função principal que a música ocupa quando assistimos a um show ou concerto, por exemplo. Foto de [19--].
The Bridgeman Art Library/Keystone
Everett Collection Inc./Keystone
The Bridgeman Art Library/Keystone
novas percepções da realidade
Igor Stravinsky (1882-1971) revolucionou o tempo musical, trazendo a força de ritmos primitivos, e ao mesmo tempo inovadores, em obras de concepção moderna e inusitada. Foto entre 1920-1930.
47
MUNDO CONECTADO
48
Retrato do músico John Lennon (1940-1980) feito com fitas K7, obra de Erika Iris Simmons. Séc. XIX. Museu da Ciência, Paris. Foto: De Agostini Picture Library/The Bridgeman Art Library/Keystone
As fitas cassete (K7), usadas no passado recente para ouvir e gravar músicas, hoje podem ser materiais para criar imagens de músicos, como na obra da artista estado-unidense Erika Iris Simmons (1983), vista na imagem ao lado. Entre as décadas de 1950 e 1990, essas fitas magnéticas eram muito populares. A partir dos anos 1990, com o surgimento dos CDs, as fitas K7 foram superadas. Até então, elas eram muito importantes para a pesquisa de gravação e reprodução de sons, porque mudaram a maneira de ter acesso à linguagem da música, transformando o hábito de criar álbuns personalizados, escolhendo músicas preferidas, em uma mania. Hoje, podemos criar playlists (listas de músicas) usando programas de computadores e armazenando no celular e em pen drives, no formato MP3. Agora, observe a imagem do aparelho ao lado. Você sabe o que ele faz? Gravar sons sempre foi um desafio e uma paixão humana. As pesquisas e descobertas tecnológicas sobre a gravação de sons e, posteriormente, sua transmissão começaram no século XIX. Em 1877, o estado-unidense Thomas Alva Edison (1847-1931) desenvolveu um aparelho curioso, o fonógrafo. Depois, outros inventores aperfeiçoaram esse invento, criando discos que deram origem aos “vinis”, que foram muito populares até os anos 1980, ao lado das fitas K7. O diferencial das fitas era a autonomia de criar nossas próprias seleções de músicas.
Erika Iris Simmons
„„De ouvir e de ver
O fonógrafo, inventado por Thomas Alva Edison em 1877, era capaz de gravar sons usando uma agulha que riscava um cilindro revestido com cera. Esse sistema era ligado a um mecanismo que reconhecia a gravação e amplificava o som. Inspirado em instrumentos musicais de sopro, este inventor acoplou uma espécie de corneta, que ajudava a ampliar o som; assim todos puderam ouvir pela primeira vez sons gravados.
Hoika Mikhail/Shutterstock.com
Aparelho estilo 3 em 1 (rádio e gravador com toca-discos e toca-fitas) ou 4 em 1, no início dos CDs (rádio-gravador, toca-CDs, toca-discos, toca-fitas).
S
om
tock.c
hutters
sArt/S
oto tockPh
Tudo começou quando os cientistas fizeram experiências gravando sons sobre um fio de arame. Em 1928, um engenheiro alemão de nome Fritz Pfleumer (1881-1945) fez experiências trocando o fio de arame por uma fita de papel com aço em pó. Depois, mais experiências foram feitas até chegar a uma fita plastificada que trazia em sua composição elementos químicos magnéticos. Assim, foi possível criar um material que poderia gravar e reproduzir sons e imagens. Nascia tanto a fita para gravação de sons como a de videocassetes. Hoje, temos sistemas digitais de alta resolução de som e imagem, mas isso não seria possível sem essas pesquisas iniciais. Mesmo os sistemas de gravação eletromagnética não estão totalmente descartados.
Um dos modelos de videocassete mais recentes e uma fita de vídeo. Embora essa tecnologia esteja totalmente superada, algumas pessoas ainda mantêm o seu aparelho e a sua coleção de fitas, mesmo que tenham cópias em DVD, blu-ray ou no computador.
Que tal aproveitar toda a tecnologia disponível atualmente e criar a sua lista de músicas preferidas em homenagem aos caçadores de sons e imagens do passado? Criar linguagens sonoras também é uma forma de arte.
49
MAIS DE PERTO „„Arte multimídia Acervo Otávio Donasci
Observe a imagem a seguir.
Família de VideoCriaturas, videoperformance de Otávio Donasci, década de 1980. Nas criações de Donasci, os atores usam tecidos ou macacões pretos para fundir melhor a imagem do vídeo com o corpo. Na época em que essas VideoCriaturas foram criadas, ainda se usavam fitas de videocassete (VHS). As imagens eram gravadas em vídeos que eram ligados aos televisores. Hoje, o artista explora as novas tecnologias com televisores de plasma, computadores, gravações em vídeos digitais, que não precisam mais de tantos fios e aparatos eletrônicos.
AMPLIANDO Performance é uma forma de expressar ideias, mensagens ou sensações, entre outras propostas, por meio do corpo, de seus gestos e movimentos, ao vivo e publicamente. O corpo é o suporte para a criação artística, entre outros materiais. Videoperformance é a performance que mistura a linguagem do vídeo com a linguagem corporal. Videoteatro é o espetáculo que mistura a linguagem do vídeo com a linguagem do teatro.
50
Descobriu o que são? Que linguagem artística será essa? O artista Otávio Donasci (1952) é paulistano e estudou várias linguagens artísticas. Assim, podemos dizer que ele é um artista multimídia, porque, em sua obra, utiliza imagens de aparelhos de televisão com gestos e movimentos do corpo dos atores ao vivo, misturando duas linguagens, o teatro e a arte audiovisual. Nessa mistura, acaba criando outras linguagens, como a performance, a videoperformance, o videoteatro, ou seja, a videoarte. Ele estudou artes plásticas, teatro e trabalhou como cenógrafo e diretor de criação. Suas VideoCriaturas são resultados de pesquisas envolvendo como usar equipamentos eletrônicos e o corpo humano na criação artística.
Observe a primeira VideoCriatura. „„ Você notou que o ator tem outra tela de vídeo na mão, mostrando-a como se fosse um fantoche (VideoFantoche)?
Acervo Otávio Donasci
Otávio Donasci (1952)
O artista Otávio Donasci comenta que é apaixonado por linguagens artísticas. Por isso, pesquisou e criou tantas obras usando variadas linguagens. Desde a década de 1980, inventa linguagens e maneiras de explorar as tecnologias que estão à disposição. Se pensarmos como as linguagens artísticas mudaram desde a primeira VideoCriatura criada, como os televisores e computadores também mudaram, poderemos concluir que a arte de Donasci é testemunha de uma era de transformações na maneira de produzir e se expressar por meio das linguagens artísticas. Todo o seu interesse em criar em linguagem multimídia nasceu de linguagens bem antigas, como o desenho. E sabemos que o desenho nas paredes das cavernas foi uma das primeiras manifestações de linguagem artística.
Otávio Donasci.
[...] A VideoCriatura nasceu do meu caminho na imagem. Do desenho que migrou para a fotografia, para o cinema e para o vídeo. Fui seguindo o caminho da imagem, primeiro, desenhada, depois, representada, em movimento até chegar à imagem viva. Eu era apaixonado pelo teatro e pela imagem em movimento. Resolvi cruzar os dois. Fazer um Frankenstein. [...] CAFIERO, Carlota. A VideoCriatura é nossa! In: Canal contemporâneo, 26 out. 2011. Disponível em: <http://www.canalcontemporaneo.art.br/ arteemcirculacao/archives/004381.html>. Acesso em: 16 mar. 2016.
51
MAIS DE PERTO „„Histórias e imagens de Babel
Pieter Bruegel, o Velho. 1563. Óleo sobre painel. Museu de História da Arte em Viena. Foto: Art Media/Heritage Images/Glow Images
Raimundo Pacco/Folhapress
Observe as imagens a seguir.
Torre de Babel, de Pieter Bruegel, o Velho, c.1563. Óleo sobre painel de madeira, 114 cm × 155 cm. A história conta que, em uma cidade, as pessoas resolveram construir uma torre muito alta para conseguir chegar até os céus e falar com Marduk, um deus poderoso que podia ver e ouvir tudo. Ao construir a torre, as pessoas acreditavam que poderiam atravessar o Babel (palavra em hebraico que significa portal de Deus) para falar com Marduk. Assim, esse deus soprou um vento muito forte e derrubou a torre. Depois, fez com que cada pessoa começasse a falar em uma língua diferente e ordenou que todos se espalhassem pelo mundo e ensinassem esses diferentes idiomas às futuras gerações.
Babel, instalação de Cildo Meireles, 2001-2006, na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Estrutura metálica, c. 900 rádios, 5 m (altura) × 3 m (diâmetro). O artista elaborou um empilhamento que coloca os rádios mais antigos na base dessa torre e vai gradativamente seguindo uma linha do tempo das tecnologias desses aparelhos, até chegar aos mais recentes da data da criação da instalação, que aconteceu em 2001 (sendo reproduzida até 2006).
Você já ouviu a história sobre a Torre de Babel? Essa história é muito antiga. Nasceu na região da Mesopotâmia, onde hoje está o Iraque e outras áreas do Oriente Médio. Observe novamente alguns detalhes da obra de Cildo Meireles. Dizem que as tecnologias de comunicação, como a internet, aproximaram novamente as pessoas. Se isso é verdade, por que ainda há tantos conflitos no mundo? Talvez essas questões sejam algumas das preocupações do artista Cildo Meireles, que gosta de criar usando diferentes materialidades. „„ Olhando a instalação Babel, de Cildo Meireles, e a pintura Torre de Babel, de Pieter Bruegel, que relação você consegue estabelecer entre essas obras? „„ Na parte de baixo da obra de Cildo Meireles, há rádios de que época? São objetos atuais? E na parte de cima, de que época são esses rádios? „„ Por que será que o artista usou rádios como materialidade? Por que escolheu chamar sua obra de Babel? Será que existe alguma relação entre a instalação de Cildo Meireles e a história da Torre de Babel?
52
Cildo Meireles (1948)
Ana Carolina Fernandes/Folhapress
O artista carioca Cildo Meireles traz, em sua trajetória na criação de obras artísticas, a preocupação com questionamentos sobre as pessoas, a sociedade, seus objetos e invenções e as realidades do mundo. Costuma dizer que a arte precisa estar em sintonia com o tempo. Cildo Meireles deitado entre suas obras. Foto de 2005.
[...] Eu trabalho basicamente como eu sempre trabalhei, ou seja, na verdade você fica caçando relâmpagos. [...] É o primeiro momento de qualquer fato que te desperte a atenção, te emocione, te intrigue, que é indefinido, que não tem contornos, quer dizer, volta e meia você está se deparando com essa situação. Eu procuro sempre tomar notas que me possibilitem depois retornar e tentar ir detalhando, aprofundando, tentando encaminhar a coisa para uma formalização. Eu não consigo me inserir em um método. Agora, acho que cada peça tem uma espécie de biografia, tem uma origem, mais ou menos o que foi que deflagrou! [...] eu acho que um dos fascínios de uma obra de artes plásticas é ela te permitir assim uma empatia instantânea, em segundos você pode ser tomado, quer dizer, ela tem que te sequestrar, mesmo que seja por milionésimos de segundos, ela tem que tirar o espectador daquele lugar, daquele tempo. [...] Acho que a história da arte é cíclica mesmo [...]. No momento eu acho que a arte brasileira é sobretudo plural, o que é maravilhoso porque uma cena hegemônica é sempre pobre. A riqueza vai vir sempre das diferentes produções contemporâneas coexistindo, isso é que cria uma cena forte. [...] MONACHESI, Juliana. Artista carioca defende que a arte deve seduzir. Folha de S.Paulo, 22 dez. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com. br/folha/ilustrada/ult90u29608.shtml>. Acesso em: 16 mar. 2016.
53
LINGUAGEM DAS ARTES VISUAIS „„Arte e tecnologia
Stefano Tinti/Shutterstock.com
As artes visuais, a dança, o teatro, a música e outras linguagens da arte nascem de contextos culturais, alimentam e são alimentadas pela cultura. É como em um jogo de videogame que nunca termina, a cada momento inventam-se novas maneiras de jogar, novas regras ou possibilidades, passamos por fases e surgem outras que nos desafiam. Assim é a criação das linguagens. Observe a imagem a seguir.
Videogame dos anos 1980.
„„ Você já brincou com um videogame como o da imagem? Pergunte aos seus familiares se eles conheceram esse jogo. Como era a experiência em jogar com esses recursos?
54
Os materiais mudam e oferecem cada vez mais possibilidades de diversão e de fazer arte. São tantos materiais eletrônicos, auditivos, audiovisuais, comunicativos, interativos... Compreender esse mundo de criações que envolve a arte e as tecnologias é ir além do uso das máquinas, é observar como diferentes artistas as utilizam para humanizar as relações entre as pessoas. O artista sul-coreano Nam June Paik (1932-2006) foi um dos exemplos de artistas que, além do uso de máquinas em suas produções, souberam provocar reflexão sobre nossas relações com os meios de comunicação de massa, sobre as relações com cérebros eletrônicos que fazem quase tudo, mas não são humanos.
Richard T. Nowitz/Corbis/Latinstock
Supervia Eletrônica, instalação de Nam June Paik, 1995.
AMPLIANDO
Observe a imagem acima. Dos primeiros televisores e rádios criados até os de nossos dias, os processos de transferências de som e imagem mudaram muito. As linguagens que nasceram dessas pesquisas também. Contudo, algo ainda não mudou: a arte e a ciência andam juntas na criação de linguagens e novas formas de comunicação e expressão. O rádio, a televisão e as histórias das experiências científicas que formaram a criação desses objetos são materiais e temas nas produções dos artistas brasileiros Cildo Meireles, como já vimos, e do artista sul-coreano Nam June Paik. Veja a seguir mais uma obra do artista Nam June Paik. Observando as videoartes (videoesculturas) de Nam June Paik, percebemos que, do ponto de vista da tecnologia atual, alguns desses objetos são obsoletos. Mais pesquisas sobre a arte de Otávio Donasci também podem ajudar a pensar e a desenvolver projetos artísticos que envolvam o uso de novas tecnologias. Esse artista também tem trabalhado para humanizar nossas relações com as tecnologias por meio da arte digital e suas VideoCriaturas. Pesquise sobre as obras desses artistas. Por que será que escolheram criar arte com esses objetos?
A videoarte é uma linguagem artística que influenciou a criação de outras linguagens, como a videoinstalação, a videoescultura, a arte via satélite, a web arte e a arte com princípios robóticos, entre outras. Trata-se de uma linguagem contemporânea que nasceu a partir do acesso ao vídeo e a sistemas de televisão. Os artistas perceberam nessa tecnologia um grande potencial como linguagem. Topic Photo Agency/Corbis/Latinstock
Videoarte de Nam June Paik.
55
AÇÃO E CRIAÇÃO „„Criando VideoCriaturas Na década de 1980, quando Otávio Donasci começou a criar suas obras tecnológicas, a tecnologia que ele tinha à disposição eram televisores, aparelhos de videocassete e fitas de vídeo. Hoje, ele inovou no uso de materiais. Podemos elaborar nossos seres tecnológicos usando tablets e celulares. Vamos criar VideoCriaturas?
Fotos: Xica Lima
PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS Organize, com os colegas e o professor, a pesquisa sobre o material disponível. Você vai precisar também de tecidos para cobrir o corpo. De preferência, use tecidos pretos ou de tons escuros. Combine com a turma em gravar vídeos com o pessoal falando algum texto. Vocês podem gravar apenas a boca, os olhos ou todo o rosto. Brinque com essa ideia e crie vídeos bem expressivos para a montagem da sua VideoCriatura. Exemplo de VideoCriatura feita em casa, com tablet e celular.
Use uma tira de tecido ou elástico largo para fazer uma faixa que será amarrada na cabeça, o tamanho dependerá do aparelho que você tiver disponível para fazer este projeto artístico. É importante deixar um recorte na faixa para que o vídeo do celular ou tablet possa aparecer. Prenda a fita ao seu corpo, no rosto, na cabeça, no braço, enfim, onde você quer que a sua videocriatura mostre o rosto, uma Exemplo de VideoCriatura feita em casa, com tablet e celular.
vez que os vídeos serão a expressão facial eletrônica dela.
Depois de posicionar o vídeo, cubra o restante do corpo com tecido. Agora é só ligar o vídeo e deixar a sua videocriatura aparecer. Lembre-se de combinar com os amigos quem vai fazer o registro das performances. Você pode se expressar sozinho, em dupla ou em grupo. Crie e invente usando seus aparelhos tecnológicos.
56
LINGUAGEM DA MÚSICA „„Babel musical
Herve Gloaguen/Gamma-Rapho/Getty Images
Fabiana Beltramin/Folhapress
A partir da segunda metade do século XX, o processo inventivo na composição musical intensifica-se rapidamente. Desde os anos 1940, vemos surgir manifestações de “reinvenção” da música, quando vários compositores passaram a priorizar formas de expressão originais na concepção, na interpretação, na apresentação e na escrita de suas músicas, intenções que impactaram tanto a função do compositor quanto a do intérprete e a do próprio público. Esse movimento ocorreu tanto nos Estados Unidos como em diversos países da Europa, com compositores como John Cage (1912-1992), Karlheinz Stockhausen (1928-2007), Luciano Berio (1925-2003), Mauricio Kagel (1931-2008) e Pierre Boulez (1925-), entre muitos outros. No Brasil, os primeiros compositores que aderiram a essa tendência foram do grupo Música Nova, constituído em 1963 por Gilberto Mendes (1922-2016), Rogério Duprat (1932-2006) e Willy Corrêa de Oliveira (1938), entre outros. John Cage, em performance com música e dança na França, em 1966.
Rogério Duprat, membro do grupo Música Nova e um dos idealizadores do Tropicalismo (década de 1960) no Brasil. Foto de 2002.
57
Jack Garofalo/Paris Match via Getty Images Amy T. Zielinski/Redferns/Getty Images
Hiroyuki Ito/Hulton Archive/Getty Images
Pierre Boulez, no concerto Domaine Musical, em Paris, França, em 1962.
Atualmente, é possível ouvir (e ver) múltiplas tendências que representam interfaces inusitadas da música com a pesquisa geral, a filosofia, a arquitetura, a matemática, o teatro, a representação audiovisual (nas suas diversas plataformas – cinema, TV, internet, celular), religiosidade, sonoridade, tecnologia, cultura, raízes, ecologia, outras artes e suportes etc. Vamos ter uma noção de alguns exemplos dessas criações a seguir. Na música, o final do século XX e o início do século XXI representam o tempo de diversidade, pluralidade e surgimento de outras possibilidades de sentir, pensar, interpretar e compor música. As fronteiras entre o erudito e o popular, o novo e o antigo, o profissional e o amador cedem espaço para novas experimentações e maneiras de escutar a música no mundo de hoje. Se as linguagens foram separadas após a queda da torre de Babel, agora elas parecem estar se reaproximando e desenvolvendo formas de diálogo mais atuais.
Montagem para a apresentação da instalação sonora Poema sinfônico para 100 metrônomos, do compositor Gyorgy Ligeti, em Londres, Inglaterra, em 2012.
58
Alarm Will Sound Performing "1969", de Hiroyuki Ito, em Nova York, em 2011.
Brill/ullstein bild/Getty Images
Gezett-Gerald Zoerner/ullstein bild/Getty Images
Performance de Michaels Reise, por Karlheinz Stockhausen, em Colônia, Alemanha, em 2008.
Jack Vartoogian/Archive Photos/Getty Images
Rádio Zukunft, performance em Berlim, Alemanha, em 2013.
Contemporary Classical Music Ensemble So Percussion Perform News, performance do grupo So Percussion At Abrons Art Center, de percussão com música clássica contemporânea, com os músicos Jason Treuting, Adam Sliwinski, Eric Beach e Josh Quillen (da esquerda para a direita), em Nova York, EUA, em 2015.
AÇÃO E CRIAÇÃO „„Percursos e identidade na diversidade Nesta proposta musical, vamos trabalhar somente com as nossas vozes. Para isso, você, os colegas e o professor vão elaborar expressões vocais livres. É a oportunidade de mostrar seu lado compositor e improvisador e criar as suas próprias melodias. Esse “percurso” pode ser interpretado por um mínimo de duas pessoas. Todas podem se espalhar pelo local escolhido, em pé, de modo que possam ver uns aos outros. Vamos lá?
59
PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS Nossa proposta de música está dividida em cinco fases, conforme descritas a seguir. Experimento musical – percurso e identidade 1 Todos iniciam ao mesmo tempo com o som mais agudo que puderem emitir, sem, no entanto, se esforçar demais vocalmente (atenção: para isso é necessário antes aquecer a voz; o professor dará as dicas). Apesar de respirar vez ou outra de maneira independente, cada um deve procurar se manter na mesma nota que iniciou. Nessa fase não há quase nenhuma variação no arranjo das vozes. 2 Após alguns instantes (entre 10 a 20 segundos, por exemplo), cada um começa a realizar um “glissando”, da nota aguda que estava entoando, encaminhando-se para outra nota na região média de sua voz. “Glissando” significa, aqui, “escorregando” da nota mais aguda para uma nota média, sem saltos ou pulos, isto é, descendo de maneira contínua. Esses movimentos são independentes, cada um, de maneira livre, fazendo em seu próprio tempo. Ao chegar nessa nota média, permanecem nela alguns segundos e depois se calam. 3 Durante a pausa de todos, olham-se e respiram juntos por um instante (cerca de uns 5 segundos). Olhando-se novamente, começam todos juntos a interpretar uma melodia livre, improvisada, criada no instante, cada qual a sua maneira. Cada um respira conforme a sua necessidade, retomando, em seguida, sempre de maneira autônoma. Durante essa fase, é interessante modificar a intensidade (mesclar momentos mais fortes e mais fracos), realizar pequenos intervalos de silêncio no meio da melodia criada, aproximar sua nota daquela de um colega, experimentando assim várias possibilidades de interação vocal no conjunto das vozes (jogos vocais). Essa é a fase mais longa e pode durar o tempo que se desejar. Cada pessoa silencia ao terminar a interpretação de sua expressão melódica. 4 Quando todos estiverem já em silêncio, cada participante, a seu tempo, inicia cantando uma nota no registro médio, em glissando descendente, até atingir a nota mais grave que possa. 5 Ao chegar na nota mais grave possível, todos permanecem nela, respirando e retornando sempre à mesma nota. Em observação e troca de olhares, todos combinam o encerramento da música, juntos, de maneira súbita ou em decrescendo (cantando cada um a sua nota, cada vez mais baixinho) até se silenciarem. Essa última fase pode durar cerca de 10 a 20 segundos.
Olhando para as VideoCriaturas e para a instalação Babel, o que vem à sua mente? Como você vê a nossa relação com as tecnologias no cotidiano e na arte? As invenções do rádio e da televisão mudaram a maneira de as pessoas se comunicarem? E hoje, com a internet e os celulares? A arte também se transformou em função dessas invenções? E os computadores? São inventos que nos libertam ou nos escravizam? Qual a sua relação com as máquinas do seu tempo? É possível criar usando os seus materiais elétricos? O que as transformações na música moderna e contemporânea trouxeram de interessante para a atualidade? Qual dos artistas citados neste capítulo você gostaria de conhecer mais de perto? Qual linguagem artística estudada você gostaria de aprender mais?
60
O que você descobriu no universo da arte ao estudar esta unidade? Em quais lugares a palavra se faz presente em seu cotidiano? Quais formas de uso da palavra na arte você pôde conhecer nesta unidade? Você já havia pensado em usar a palavra como imagem artística? Já havia explorado um texto teatral? Qual(is)? Quais adaptações e releituras você conhece além daquelas abordadas nesta unidade? Como foi o processo de explorar os pares concreto e abstrato, nas artes visuais, e o verbal e não verbal, no teatro? O que mais chamou a sua atenção em relação às evoluções tecnológicas nas mídias (fitas, vídeos, CDs etc.)? E na evolução da linguagem musical? O que você achou mais interessante no uso da tecnologia nas performances e obras estudadas? Como foi seu processo de criação de VideoCriatura? Que outras ações você gostaria de fazer a partir dos temas abordados nesta unidade?
Marc
elo C
ipis
DIÁRIO DE ARTISTA Que tal registrar suas experiências no diário de artista? Você poderá escrever (ou desenhar, pintar, fotografar...) suas ideias, destacar aquilo que mais chamou a sua atenção durante os estudos, colocar dúvidas, colar imagens, fazer ilustrações e tantas outras formas de registro neste espaço que é seu. Procure relacionar seus estudos com sua vida, com o que está assistindo na televisão, acessando internet, lendo revistas, observando o entorno. Você pode também registrar os caminhos para os quais sua imaginação se dirige, seu mundo interno de arte, sempre relacionando-o aos seus estudos. Boa trajetória pelos caminhos da arte!
61
UNIDADE 2
A língua do corpo
1
1 1
2
Corpo é linguagem. Artistas em suas criações inventam performances, happenings, artes híbridas, Parangolés. Na rua, no palco, o corpo expressa e expressa-se, às vezes tem pressa no passinho, às vezes caminha lentamente. São artes do corpo e do movimento.
3
62
4
5
7
6
9 8
PERFORMANCE 10
Trajetórias para a arte: ¡ Capítulo 1 / Performance ¡ Capítulo 2 / Dança Créditos das imagens: 1. Ostill/Shutterstock.com; 2. Marco Antônio Guimarães. Grupo Corpo. 21 Missa do Orfanato Brasil. 2011; 3. Nelson Leirner. 2012. Técnica mista. Galeria Silvia Cintra, Rio de Janeiro. Foto: Jaime Acioli. 4. Craig Lovell/Alamy/Latinstock; 5. Claire Jean; 6. Andrew H. Walker/Getty Images; 7. Capa do CD Maritmo. Adriana Calcanhotto. Gravadora: Sony Music.1997; 8. Gal Oppido; 9. Marlene Bergamo/Folhapress; 10. Walter Carvalho
63