Juan Pablo Villalobos
Uma viagem cósmica a
ilustrações
Raysa Fontana
Uma viagem cósmica a
ilustrações
Raysa Fontana
tradução
Miguel Del Castillo
Juan Pablo Villalobos
1ª E D I ÇÃ O
S Ã O PAU LO — 2 0 2 1
Copyright da edição brasileira © Editora FTD, 2021 Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à EDITORA FTD S.A. Rua Rui Barbosa, 156 — Bela Vista — São Paulo — SP CEP 01326-010 — Tel. 0800 772 2300 www.ftd.com.br | central.relacionamento@ftd.com.br Un viaje cósmico a Puerto Ficción by Juan Pablo Villalobos © (2018) Fondo de Cultura Económica Carretera Picacho Ajusto, 227; 14378 Ciudad de México diretor-geral Ricardo Tavares de Oliveira diretor adjunto Cayube Galas gerente editorial Isabel Lopes Coelho editor Estevão Azevedo editora assistente Bruna Perrella Brito assistente de relações internacionais Tassia Regiane Silvestre de Oliveira coordenador de produção editorial Leandro Hiroshi Kanno assistente de conteúdo Gabriela de Avila Cardoso líder de preparação e revisão Aline Araújo preparador Huendel Viana revisoras Fernanda Simões Lopes e Lívia Perran editores de arte Daniel Justi e Camila Catto projeto gráfico Daniel Justi diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Villalobos, Juan Pablo Uma viagem cósmica a Porto Ficção / Juan Pablo Villalobos; ilustrações Raysa Fontana ; tradução Miguel Del Castillo. — 1. ed. — São Paulo : FTD, 2021. Título original: Un viaje cósmico a Puerto Ficción ISBN 978-65-5742-223-6 ISBN 978-607-16-5829-6 (ed. original) 1. Ficção - Literatura infantojuvenil I. Fontana, Raysa. II. Título. 21-57082 CDD-028.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura infantil 028.5 2. Ficção : Literatura infantojuvenil 028.5 Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964
Para Ana Sofía, Mateo, Alice e Leonardo J. P. V.
CONGELADOS, FAMINTOS E SOZINHOS Nellie voltou a aprontar uma das suas, 11
O truque da cenoura, 19 Sei que foi você, 23 Crianças Heroicas, 27 O que é isso?!, 31
ERA UMA LUZ NO CÉU Bilhete grátis para a Problemalândia, 39
O que eu ganharia inventando uma coisa tão absurda?, 47 O amigo aqui tem umas informações importantes, 51 Não é por cachorritarismo, 59 Vamos programar o baile para a uma e meia, 63
VAMOS CHAMÁ-LO DE WILLY Quais são os seus superpoderes?, 73 Estou moguendo de fome, 81 Quatro mil e seiscentos amanheceres, 87 Evacuação iminente, 95 O coentro é a erva mágica, 101 O Profeta do Sargaço, 109
O COVIL DOS SECRETOS
Aqui nós o chamamos de Boboídeo, 119 O segredo dos Secretos, 125 Uma rêmora sem casa, 129 O truque do coentro, 135 Canção de despedida, 141
EPÍLOGO
Um bom ponto de partida, 149
POSFÁCIO
Os Sagrados Tacos do dia, 155
PARTE
CONGELADOS, FAMINTOS E SOZINHOS
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NELLIE VOLTOU A APRONTAR UMA DAS SUAS Tudo começou numa tarde em que estávamos do lado de fora de uma taquería do centro e nossos estômagos rugiam feito leões-marinhos. Ou feito morsas, ou focas. Acho que dá para captar a ideia sem que precisemos recorrer aqui a uma lista interminável de animais rugidores ou rosnadores. Os rugidos ecoavam: não tínhamos comido nada desde a tarde anterior e nossas barrigas estavam mais vazias que a caverna da Enseada. Eu observava, com água na boca, os movimentos do taqueiro, que se escondia atrás do vapor quentinho do suadero, da língua, da cabeça e da carne assada. Ah, a carne do suadero. Eu adorava os tacos de suadero, até hoje são os meus favoritos. Já Nellie, que se achava a líder da gangue e que agia como se de fato fosse, estava observando os clientes havia um tempo, analisando todos eles, até que de repente nos disse:
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— Me sigam. Entrou na taquería, decidida, virou-se um instante e disse para Sabino: — Vai fazer o que você sabe e vê se não falha. Esse “o que você sabe” de Sabino era uma cara que ele fazia e que às vezes conseguia o milagre de nos darem, de graça, os Sagrados Tacos do dia. Não era uma cara triste — não se tratava de sentirem pena de nós. Era uma cara estranha. Chamávamos de “cara de cenoura”. Mais para a frente vou tentar explicar isso. Quanto a mim, “o que eu sabia” era marcar presença, distrair, provocar confusão. Eu era
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muito boa nisso. A enorme semelhança física que Sabino e eu tínhamos ajudava, as pessoas ficavam desconcertadas com o fato de um menino e uma menina serem iguaizinhos. O contraste entre a cara de cenoura de Sabino e a minha, idêntica, porém sem os trejeitos que a deformavam, fazia com que todos se sentissem desconfortáveis e nos dessem qualquer coisa para que desaparecêssemos logo do campo de visão deles. E de sua vida. Não preciso dizer que Sabino é meu irmão gêmeo, certo?
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