JUNHO 2019 N.128
ARITMÉTICA RODRIGO GALVÃO, o jovem
presidente da Oracle Brasil, e o desafio de provar que trabalho é lugar de gente legal – e autêntica DESCENDO A LADEIRA
Como a ex-bilionária ELIZABETH HOLMES enganou boa parte do Vale do Silício para fazer de sua startup Theranos a maior fraude da economia digital
QUE RODA É ESSA?
O X DO PROBLEMA
Esporte demais pode ser libido de menos?
946006
00128
R$ 14,90
ISSN 1982-9469
Alavancada pelo potencial de render US$ 1 trilhão por ano até 2025, a economia circular é mais do que fazer dinheiro
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Com muita visibilidade e ganhos milionários, jovens youtubers dividem mansão e mostram por que a indústria do game é a nova força do entretenimento
E MAIS
As novas loucuras de FÁBIO PORCHAT, Jericoacoara 100% relax e SEU JORGE passado em revista
9
JOGO ALTO
50
30
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SUMÁRIO EDITORIAL COLUNA DA JOYCE O NOVO PADRÃO
O mantra simples de Rodrigo Galvão, aos 37 anos presidente da Oracle Brasil 20
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FAZ-ME RIR
Empatia, o segredo do humor do incansável Fábio Porchat 36
DENTRO DO JOGO
Os brasileiros que estão mostrando por que a indústria do game é a nova força do entretenimento
SOB MEDIDA
As predileções de Seu Jorge 46
AQUI É TRABALHO
Home offices projetados para inspirar 50
VIBE ESPECIALÍSSIMA
Jericoacoara: o paraíso roots do Ceará
RESPIRO
Lina Wertmüller: a primeira diretora a concorrer ao Oscar 30
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RODA-VIVA
Com potencial de render US$ 1 trilhão/ano até 2025, economia circular vai além da grana
SANGUE NADA BOM
A farsa de Elizabeth Holmes, a ex-bilionária que enganou boa parte dos investidores do Vale do Silício
VICIADOS EM SUOR
O que dizem os especialistas sobre a relação entre endorfina e libido 24
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RODRIGO GALVÃO POR JOÃO LEOCI
NA REDE: /Poder.JoycePascowitch @revistapoder @revista_poder
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W W W . PA J E R O S P O R T. C O M . B R
PODER EDITORIAL
A
té outro dia palavras como empatia, propósito e pertencimento não faziam falta a executivos, políticos e empresários. Hoje, ignorar seus significados é impensável caso esses mesmos indivíduos queiram manter o status quo. E quanto mais as gerações mais jovens chegam aos cargos de comando, mais essas palavras se identificam com os valores praticados pelas empresas e entidades que chefiam. O millennial Rodrigo Galvão, por exemplo, 37 anos completados agora em junho, presidente há dois da Oracle Brasil, tem mais uma dessas palavras-valor a acrescentar à lista: autenticidade. “Seja quem você é de verdade”, costuma dizer a quem o procura pedindo conselhos de carreira. Ter sido autêntico foi a razão, segundo ele, para atingir o topo nestes 17 anos de Oracle, a única empresa em que trabalhou na vida. É claro que Rodrigo também precisou entender as profundas mudanças pelas quais passou o mercado de tecnologia, e saber se adaptar a elas. Mas não é todo mundo que tem na autenticidade seu norte. No Vale do Silício, também berço da Oracle, a empresária Elizabeth Holmes um dia já foi conhecida como “próxima Steve Jobs”. Mas a startup Theranos, que fundou aos 19 anos e que prometia revolucionar o mercado de exames diagnósticos, jamais conseguiu cumprir o que prometeu e o valor de mercado da empresa se liquefez. Contamos a sua história, assim como a de cinco youtubers que, reunidos numa casa no Rio, estão jogando um jogo cada vez mais alto – o dos games, indústria que no mundo já movimenta mais dinheiro que a música e o cinema. Não sei quanta endorfina um gamer pode produzir durante um desafio, mas triatletas, corredores e ciclistas, tão comuns nas cidades brasileiras, se viciam cada vez mais nesse hormônio, uma morfina do bem que os deixa mais dispostos e até concentrados. Só não dá para saber se a disposição dura até a hora da cama. Vale conferir. No mais temos aqui bons exemplos da roda-viva da economia circular – com potencial de render US$ 1 trilhão por ano até 2025 –, uma viagem roots para Jericoacoara – que paraíso! – e as loucuras de Fábio Porchat. E tem muito mais. Venha junto.
G L A M U RA M A . C O M
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OLHO VIVO
Não é vista com bons olhos pela inteligência do governo brasileiro a relação entre EDUARDO BOLSONARO e o ex-assessor de Donald Trump STEVE BANNON. O motivo é que o estrategista americano, que anunciou o deputado federal como líder na América do Sul do The Movement, articulação de direita populista que ele comanda no mundo, não tem mais nenhuma influência no governo dos Estados Unidos e, inclusive, passou a ser detestado por Trump – o que poderia implicar na relação Brasil-EUA e a entrada do país na OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).
TERCEIRIZADO
DAY AFTER
O empresariado brasileiro está dividido: enquanto alguns depositam confiança no governo e na aprovação da reforma da Previdência, boa parte está preocupada com as incertezas causadas pela instabilidade política. E mais: temem uma eventual debandada do ministro Paulo Guedes em caso de desidratação de sua proposta, o que seria, unanimemente na visão dos empresários, um desastre. Neste cenário, como seria o day after no Ministério da Economia, quem Bolsonaro teria como substituto? Fala-se em MARCOS CINTRA, hoje secretário da Receita Federal. Cintra goza de boa relação com o presidente, de quem foi colega na Câmara, a ala militar do governo e, mais importante, com os filhos de Bolsonaro.
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O STF decidiu mudar de tática no enfrentamento das fake news. Sem desistir do inquérito criado para investigar a produção de notícias fraudulentas que, supostamente, pretendem constranger os ministros e forçá-los a aderir ao chamado populismo judicial, o presidente da Casa, DIAS TOFFOLI, criou um painel de checagem de notícias sobre ministros e sobre o Tribunal. O trabalho será feito por sites jurídicos que aceitaram a missão. Da “banca examinadora” farão parte o Consultor Jurídico (Conjur), Migalhas, Jota, Jus Navigandi e Jusbrasil. Ou seja, terceirizou-se o embate. O lançamento será dia 11, no Supremo.
NO PONTO
Famoso por circular por São Paulo no comando de um Camaro branco de época, SILVIO SANTOS agora só chega para trabalhar conduzido por um motorista. Dirigir sempre foi um dos grandes orgulhos do empresário, mas suas filhas acharam por bem mudar o esquema. Silvio está com 88 anos e todo pimpão.
CREME AZEDO
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Não foi exatamente positivo o balanço do prêmio Personalidade do Ano, realizado mês passado, em Nova York. Não bastasse o Museu de História Natural se recusar a sediar a premiação e três patrocinadores baterem em retirada semanas antes do evento, empresários que estiveram presentes classificaram o encontro como “caído” – mesas ficaram vazias e a reunião acabou restrita a brasileiros. O hotel Marriott, na Times Square, única opção viável depois de muitas outras tentativas, também não agradou por ser muito movimentado. Outra reclamação dos presentes foi com relação à falta de diversidade dos palestrantes – Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre e Dias Toffoli, presidentes da Câmara, Senado e STF, respectivamente, participaram de quase todas as mesas de debate.
LINHA DIRETA
Pelo menos um dos muitos netos do empresário ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES, morto em 2014, seguiu os passos do avô – mas não exatamente no mercado. Flávio, que é filho de Antônio Ermírio de Moraes Filho, conhecido como Nico, escreveu uma peça de teatro que estreia no dia 27, no Sesc Pinheiros. Fábula e Roda dos Três Amigos tem como base o encontro entre Federico García Lorca, Salvador Dalí e Luis Buñuel. Vale lembrar que o avô Antônio Ermírio também foi dramaturgo e escreveu três peças: Brasil S.A., Acorda Brasil! e S.O.S. Brasil. Todas acabaram virando livro.
PORTA-RETRATO
Embora concorde que startups são essenciais para a economia, a geração millennial está mais receosa em abrir seu próprio negócio. E isso nos Estados Unidos, onde 40% dos novos empregos são gerados exatamente por essas empresas. Entre 2016 e 2018, a vontade de empreender dos millennials caiu quatro pontos percentuais, para 58%. Essa é uma das conclusões da EY, que regularmente mapeia, em pesquisa, o universo millennial. Equidade é a principal preocupação. A herança cultural protestante, pode-se dizer, aparece também com força nos resultados. Para ter sucesso no trabalho, 86% creem que é preciso “trabalhar duro” contra 71% que veem na rede de contatos o fator chave. Curiosamente, um terço dos respondentes acha que o negócio é mais embaixo: basta ter sorte.
NA ONDA
A brasileira BARBARA MINUZZI tem contrariado as estatísticas no Vale do Silício. Mulher e latina, ela tem 30 anos e é fundadora e gestora da Babel Ventures, fundo de investimento focado em startups de biotecnologia. Com dois anos de operação e um capital de US$ 30 milhões, o grupo aposta alto no mercado de cannabis e está por trás de alguns negócios hypados, como os refrigerantes California Dreamin’ e os marshmallows da Mellows. “Percebi que empreendedores de tecnologia são movidos por propósito e escolhi atuar nesse ramo”, conta Barbara. Em 2018, o mercado global de cannabis movimentou US$ 18 bilhões e, segundo levantamento do Banco de Montreal, chegará a US$ 194 bi até 2026.
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Eu nunca fui capaz de descobrir precisamente o que é o feminismo. Só sei que as pessoas me chamam de feminista toda vez que eu expresso sentimentos que me diferem de um capacho. REBECCA WEST
3 PERGUNTAS PARA...
NINA SILVA, escritora, mentora, gestora de negócios em tecnologia e reconhecida como uma das 100 afrodescendentes mais influentes do mundo abaixo de 40 anos. É CEO do Movimento Black Money O QUE É MOVIMENTO BLACK MONEY?
É um hub de inovação em que a principal atividade é trazer autonomia para a população negra a partir do mindset tecnológico, finanças e inserção do olhar de startup focado em empreendedorismo. Na prática, consiste em sermos nossos próprios investidores, uma vez que o negro tem o crédito três vezes mais negado nas instituições financeiras. O objetivo é que pelo menos 30% do que for consumido pelos afrodescendentes se mantenha na comunidade, já que negros somam 2/3 dos desempregados. COMO PODE SER VIABILIZADO?
Dentro da minha percepção de quem nunca teve pares nas instituições, pensei como essa mudança poderia
ser acelerada. Ela deve acontecer através da inclusão nas empresas. Mas existe outro caminho da autonomia junto ao consumo intencional, que é o investimento na própria comunidade. Por meio da educação financeira esses negócios podem prosperar. Se o consumo da população negra vem aumentando, para onde vai esse dinheiro? De acordo com dados do instituto Locomotiva, nós consumimos R$ 1,7 tri em 2017, mas não conseguimos que esse dinheiro retorne aos empreendedores negros. E QUEM PODE COLABORAR?
A questão é que não são apenas pessoas negras que podem praticar o black money, mas todos os aliados que querem ajudar a melhorar as discrepâncias raciais. É possível investir ou consumir de
empreendedores negros. As empresas podem ter fornecedores negros, contratar mais negros e, assim, contribuir para que a cadeia de suprimentos fique cada vez mais enegrecida. Um sistema empresarial com maior diversidade étnico-racial é mais ágil e transformador e ainda possui sua lucratividade aumentada em 33% – segundo estudos da McKinsey. A ideia é que a gente possa ser nosso próprio agente de transformação e que não precise pedir por inclusão e igualdade, porque isso demoraria muito para corrigir a situação atual de desigualdade social no país.
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edição brasileira do Montreux Jazz Festival, no Píer Mauá, Rio de Janeiro, entre os dias 6 e 9 de junho. O guitarrista Al Di Meola e o contrabaixista Stanley Clarke são destaques do line-up REVER alguns dos filmes de amor
do francês François Truffaut, um cineasta apaixonado
OUVIR Western
Stars, o novo álbum de Bruce Springsteen SEGUIR o fotógrafo americano David Behar no Instagram – atenção para o ensaio dos quiosques das praias de Miami. A série foi finalista do concurso Sony World Photography Awards de 2019 na categoria arquitetura
TORCER por Marta, Formiga e companhia na Copa do Mundo de Futebol Feminino da França. O primeiro jogo do Brasil acontece no dia 9, em Valenciennes, contra as jamaicanas; o segundo, em Montpellier, será contra as australianas no dia 13; e o terceiro, em Valenciennes, contra a Itália, dia 18 CRIAR uma conta no CuriosityStream, plataforma exclusivamente dedicada a documentários, com mais de 1.700 títulos sobre temas como ciência, tecnologia, história e natureza
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ADOTAR o Ecosia como buscador
na internet – a diferença para os demais é que o lucro gerado a partir das pesquisas feita pelos usuários
CELEBRAR o centenário do cantor Nelson Gonçalves
RELER 1984, de George Orwell,
romance distópico, icônico e extremamente atual que completa 70 anos ASSISTIR à
palestra do escritor Paul Auster no Fronteiras do Pensamento (por vídeoconferência). Dia 17, em Porto Alegre, e 19 em São Paulo CONHECER o The Shed, o novo point cultural de Nova York. O prédio, que fica ao lado do High Line e foi projetado pela arquiteta Elizabeth Diller, tem oito andares e 19 mil m2 de espaço público. Junho reserva a estreia de Dragon Spring Phoenix Rise, um musical kung fu futurista do diretor Chen Shi-Zheng LER Mulheres
Difíceis, a nova obra de Roxane Gay, uma das principais vozes do feminismo atual e da literatura contemporânea COMPLETAR a adega de casa com
vinhos do Luberon, o pedaço mais agradável da Provence, enquanto o frio não vem ADOÇAR a vida com
ingredientes 100% orgânicos na Violet Cakes, Londres, a confeitaria escolhida por Meghan e Harry para preparar o bolo do casamento real – de limão-siciliano com flor de sabugueiro
com reportagem de aline vessoni, dado abreu e fábio dutra PODER JOYCE PASCOWITCH 13
RELACIONAMENTO
O
NOVO PADRÃO Rodrigo Galvão, 37 anos, jovem presidente da operação brasileira da Oracle, a companhia de tecnologia cujo fundador possui a sétima fortuna do mundo, quebra uma regra cara aos millennials ao fazer toda sua carreira nessa única empresa – e ali a autenticidade é sua principal moeda por paulo vieira fotos joão leoci
O
cânone da nova liderança corporativa prega que o profissional erre frequentemente para que o acerto surja retumbante, lindão e inexorável, desde que a necessária correção de rota se faça sem demora. Também roga que o executivo ganhe rodagem em empresas de setores diferentes antes de assumir posições de comando. Este último postulado não é respeitado na sucursal brasileira de uma das maiores companhias de tecnologia do mundo, a Oracle. Desde junho de 2017 como presidente da filial tapuia, o paulistano Rodrigo Galvão, hoje com 37 anos, jamais teve qualquer experiência profissional fora de lá. Formado em administração de empresas pela PUC-SP, filho (e irmão) de jornalistas – informação que nunca deixa de surpreender seus entrevistadores –, ele ingressou na Oracle da
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“Seja a transformação”: a escada transformada em pista de corrida no prédio principal da Oracle Brasil em São Paulo e seu jovem presidente, Rodrigo Galvão
PODER JOYCE PASCOWITCH 15
maneira mais trivial possível, em resposta a um classificado lacônico que viu no mural da faculdade. A posição era para a área financeira, e ele tinha 19 anos e nenhuma ilusão de que o nível apenas competitivo de seu tênis faria dele um sucessor do Guga ou mesmo do Meligeni. Parece a mais genuína conversa para boi dormir, mas em 17 anos de Oracle – 100% de sua vida profissional –, Rodrigo diz jamais ter precisado fazer muito mais do que ser quem ele é para galgar posições. “Eu sou prova de que não é necessário seguir padrões para chegar a uma posição de destaque. Dezessete anos numa mesma empresa não é [algo] comum, especialmente para um millennial. Diziam que eu tinha de sair da Oracle para ganhar musculatura, que precisaria estudar fora do Brasil, mas cada um tem sua história, cada um tem sua jornada. É possível chegar a uma posição destacada desde que você seja quem você é de verdade”, disse Rodrigo a PODER no prédio principal da Oracle, na zona sul de São Paulo. Com efeito, é exatamente a frase “seja quem você é de verdade” que Rodrigo costuma ofertar aos muitos que o procuram em busca de conselhos profissionais. A formulação pode soar simplória ou pueril, como também soam, não por acaso, alguns enigmáticos koan budistas e certas parábolas bíblicas. Caso preferisse reproduzir a frase preferida do fundador da Oracle, o americano Larry Ellison, sétima maior fortuna do mundo segundo a revista Forbes (veja box), Rodrigo diria o seguinte: “Eu tive todas as desvantagens necessárias requeridas para o sucesso”. Por aqui a filosofia da autenticidade de Rodrigo ensina que para navegar no mundo corporativo, além de conhecer-se muito bem, é preciso estar muito atento aos sinais. Rodrigo passou sem vacilação pelo lugar certo – a área comercial – quando a Oracle viu seu negócio tomar outro rumo. Se depositasse muita energia em desenvolvimento de softwares, como o Java (criado na verdade pela Sun, uma das muitas aquisições da Oracle), estaria a ver navios hoje, já que o mercado anda mais pegado que jogo do Gaúchão. E muito mais variado. O negócio agora é gerenciar dados de clientes na nuvem, e para isso é crítico investir pesadamente em datacenters, especialmente quando se tem como maior concorrente no segmento a Amazon; é fundamental também potencializar o uso da inteligência artificial para reduzir ou eliminar decisões humanas no manejo de montanhas de informações; seguir no aprimoramento de soluções de gestão (ERP), aqui batendo contra gigantes como a SAP e até a brasileira Totvs; e ainda ampliar a carteira de clientes mais
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‘‘Sou prova de que não é necessário seguir padrões para chegar a uma posição de destaque. É possível desde que você seja quem é de verdade” modestos, oferecendo-lhes soluções cada vez mais simplificadas e seguras, mas sem abrir mão de toda a tecnologia disponível, como o blockchain. Em suma, por mais agradável que seja o prédio da Oracle, ali não parece ser o melhor lugar do mundo para passar uma tarde descompromissada. YIN E YANG Quem ouve Rodrigo falar que “o papel do líder é despertar nas pessoas o ‘algo a mais’ que as faz acordar para vir exercer suas funções com brilho no olhar”, como ele disse a PODER, certamente fica esperando a hora em que a infalível conjunção adversativa irá conduzir ao “no pain, no gain” do velho discurso do realismo corporativo. O número 1 da Oracle Brasil de fato acredita que “não existe empresa apenas feliz, é preciso ter resultado”, mas não subordina o “gain” ao “pain”. Seu pensamento está mais para a complementaridade dos pares yin e yang do taoísmo chinês, em que uma coisa, mais do que levar à outra, é a outra. Para Ricardo Belo, sócio e consultor da EY, a principal vantagem de ter um executivo jovem como Rodrigo no comando de uma operação é a “energia” que ele possui para “mover o negócio e contaminar as pessoas”. Por outro lado, a falta de vivência própria da idade pode fazer com que o profissional tenha a “necessidade de se provar”, o que demanda carga extra de inteligência emocional. O que aprendemos com o jovem executivo até aqui? Que é preciso ser sincero (consigo mesmo, sobretudo) e que felicidade se confunde com as demandas próprias do trabalho.
O TYCOON
Acresça-se ainda a isso um outro princípio: o trampo tem de ser legal – no sentido de “maneiro”. “Passamos de 60% a 70% do tempo de nossa vida no trabalho, então ele tem de ser legal”, diz. Para que a mágica aconteça, ou seja, para que a esmagadora maioria da tigrada que não trabalha por diletantismo goste do que faz, o executivo dá uma pista: é preciso ter certo sentimento de pertencimento. Algo do tipo “não espere que o bebedouro verta água sozinho, coloque o galão nele em caso de necessidade”. Rodrigo vem fazendo ações para conectar seus liderados com a empresa (e vice-versa) com vistas a aprimorar esse vínculo de pertencimento. Sua primeira medida ao se tornar presidente foi mandar colocar abaixo as divisórias da sala que passava então a fazer jus com a nova posição e pôr-se à disposição dos liderados a “qualquer momento”. Depois, instou a rapaziada a dar, anonimamente, sugestões para a melhoria do ambiente. A ideia era filtrar e levar a debate 11 pro-
Aos 74 anos, o americano Larry Ellison, cofundador da Oracle, é listado como o sétimo bilionário do mundo pela revista Forbes, com patrimônio de US$ 64,2 bi. Inteiramente responsável por erigir sua fortuna, diz haver tido “todas as condições necessárias requeridas para o sucesso”. Dentre elas, crescer em South Shore, subúrbio de classe média de Chicago, onde viveu com sua mãe adotiva e o padrasto decaído, e não ter concluído a faculdade. Ellison deu o passo inicial de sua carreira ao desenvolver tecnologia de database para a CIA – o “projeto Oracle” de que mais tarde tomaria o nome. A empresa cresceu um pouquinho e hoje atende 430 mil clientes em 175 países. Em 2014, ao abdicar do posto de CEO, o executivo não deixou o dia a dia do negócio, já que à posição de chairman agregou a função de CTO, tornando-se o principal executivo de tecnologia da Oracle. Em 2018, o tycoon também comprou um lote considerável de papéis da Tesla, adquirindo junto com eles uma cadeira no board da famosa montadora de Elon Musk.
postas. No final entraram coisas díspares, do estímulo às mentorias à importância de se dizer bom-dia e boa-tarde ao colega de trabalho. A última regra não parece particularmente difícil de implantar, mas obrigar alguém a fazer algo, mesmo que emitir um cumprimento, não faz a cabeça do gestor: sua liderança é do tipo inspiracional. Rodrigo posiciona-se contra as cotas, mesmo concedendo que equidade não é a especialidade das empresas brasileiras. Para ele, a propósito, a Oracle não é uma empresa de cultura inclusiva, mas, muito ao contrário, excludente. “Quem não se sentir parte dos nossos valores – respeito, integridade, agilidade e inovação na veia – não tem de estar aqui.” Equidade é um tema candente, e passos foram dados por Rodrigo para que o assunto ganhe força e concretude na Oracle. Como incentivar, inclusive financeiramente, um campeonato interno de futebol feminino. O curioso é PODER JOYCE PASCOWITCH 17
que a matriz no Vale do Silício responde a uma rumorosa ação justamente por não fazer o “walk the talk”, expressão muito usada por Rodrigo e que significa, basicamente, cumprir o que é prometido ou professado. Em 2017, a Procuradoria do Trabalho americana abriu processo contra a Oracle por “sistematicamente” remunerar pior suas funcionárias e por dar preferência de vaga a estudantes e recém-formados asiáticos, que, por serem estrangeiros, aceitariam proventos mais baixos. Rodrigo não achou que fosse o caso de discutir o tema com seus liderados. “Cada país tem sua autonomia gerencial.” PISTA Um “case” da gestão Rodrigo está relatado no site brasileiro da organização Great Place to Work, que lista as melhores empresas para trabalhar. A Oracle figura há 12 anos seguidos na prestigiosa seleção. Para estimular hábitos saudáveis e economia de energia elétrica, um adesivo contínuo foi aplicado sobre os degraus dos 12 lances de escada do prédio principal, fazendo-a parecer com uma pista de corrida; além disso, Rodrigo, um adepto da bicicleta (elétrica), liderou a implantação de um vestiário com chuveiros e de um estacionamento apropriado para as magrelas. A
Ambientes e detalhes do prédio principal da Oracle em São Paulo, como o concorrido bicicletário e o porta-celulares disposto em algumas mesas. Abaixo, o lembrete de que pertencimento é um dos grandes valores praticados na empresa
18 PODER JOYCE PASCOWITCH
‘‘Passamos de 60% a 70% do tempo de nossa vida no trabalho, então ele tem de ser legal” PODER disse que tempos atrás só ele e mais um ou outro funcionário iam ao trabalho de bicicleta. Hoje são algumas dezenas. Para o executivo, de qualquer forma, esse tipo de ação nem sempre encontra correspondência real no dia a dia dos liderados – seriam eles, neste
caso, que não cumprem o walk the talk. “Não adianta dar capacitação se o cara não quiser”, diz. Rodrigo dá como exemplo o “pizza & beer” organizado pela Oracle. Uma vez por mês, pizza e cerveja são servidos gratuitamente após encontro com um convidado – os ex-atletas Gustavo Borges e Belletti, por exemplo, já falaram lá sobre motivação e liderança. “Mesmo com espaço para 100 pessoas, às vezes não tem 30. O ‘walk the talk’ tem de ser nos dois sentidos. Digo às pessoas: eu preciso muito que vocês me motivem, é uma via de duas mãos, quero troca.” É exigindo que seus liderados sejam fiéis a suas próprias ideias, convicções e, talvez mais importante, palavras, que Rodrigo comanda uma empresa que está no cerne da tal transformação digital, expressão, aliás, com a qual não comunga, por considerar o momento atual muito mais “treta”: para ele, vivemos uma transformação “cultural” em que “o digital é apenas ferramenta” das mudanças radicais nas relações comerciais, de consumo e de comunicação. Com isso, em pleno século da transformação, a ênfase de Rodrigo no walk the talk tem um quê passadista. Para caminhar junto com o executivo é preciso ser ponta firme, afinal, com ele, é tudo no fio do bigode. n PODER JOYCE PASCOWITCH 19
ESTICA E PUXA
VICIADOS EM SUOR
Penetração crescente de esportes que demandam tempo e esforço como a corrida e o ciclismo cria novas legiões de viciados em endorfina. Mas e a libido, como fica? POR PAULO VIEIRA
E
m sua coluna digital sobre ciclismo e cicloativismo na Folha de S.Paulo, Erika Sallum chamou atenção para um fenômeno à primeira vista bastante conhecido, a objetificação da mulher – neste caso, na versão sobre o selim. Mas os exemplos que a jornalista deu em seu texto lançaram outras luzes sobre o tema, pois eram as próprias mulheres que, deliberadamente, se exibiam sensuais para seus seguidores nas redes sociais. Como a triatleta colombiana Tatiana Girardi, com 1,5 milhão de fãs no Instagram. Uma estratégia, ponderou Erika, de empoderamento. O que a jornalista não tematizou foi um as-
sunto correlato, a possível falta de tempo – e disposição – dessas musas da endorfina para o sexo. Muitos outros esportistas, amadores, talvez também sofram de inapetência para o mambo horizontal. É que atividades como ciclismo, corrida e natação e a modalidade que une os três, o triatlo, demandam algum tempo de treinamento, quase sempre em horários caprichosos, até mesmo antes do amanhecer. E essas práticas estão em alta
ILUSTRAÇÃO FREEPIK
no Brasil, especialmente entre gente (muito) acima dos 30 anos, como se pode ver em qualquer parque das grandes cidades. Se a edição brasileira do Ironman, realizada mês passado em Florianópolis, teve considerável diminuição de procura, isso se deveu, segundo Carlos Galvão, seu organizador, “ao grande número de provas do Iron pelo mundo”, além, ele concede, de um “reflexo da crise”, pois “preparar-se para esse desafio é caro”. “Brincamos entre nós de que o cara que treina muito não pode estar transando”, diz José Carlos Fernando, o carismático professor Zeca da assessoria esportiva ZTrack, uma das pioneiras de São Paulo, hoje com cerca de mil alunos, quase todos corredores amadores. Mas Fernando faz questão de dizer que seu comentário é 100% brincadeira, pois não dispõe de estudos científicos ou observações empíricas para fazer tal inferência. Mas reconhece que algumas pessoas treinam demais “para ficar mais tempo longe de casa”. Para a psicóloga do esporte Wania Rennó, que diz jamais ter atendido em sua clínica quem se queixasse de perda de libido por conta dos excessos do esporte, é preciso ter “equilíbrio”. “Falo sempre para os pacientes não deixarem de viver a própria vida, pois muitos passam a gostar tanto de correr que param de frequentar eventos familiares e de amigos, alegam que não podem beber e têm de acordar cedo”, diz. Wania concorda que a corrida “vicia” por conta da liberação da endorfina e outros hormônios na corrente sanguínea do praticante, o que provoca enorme sensação de bem-estar. A atividade física, segundo ela, ainda auxilia muito no “emocional” das pessoas, embora haja o risco de fazer seu adepto tornar-se um sujeito “recluso”. “Equilíbrio” é também a palavra preferida do educador físico Marcos Paulo Reis, ex-treinador da delegação brasileira de triatlo nas olimpíadas de Sydney e de Atenas, e, com sua MPR, mais um pioneiro da corrida entre amadores. Para ele, “se o cara não é xiita”, vai encontrar tranquila-
“Brincamos entre nós de que o cara que treina muito não pode estar transando” JOSÉ CARLOS FERNANDO, EDUCADOR FÍSICO E SÓCIO DA ASSESSORIA ESPORTIVA ZTRACK
mente espaço na agenda para o esporte e para as demandas da vida pessoal e profissional. Segundo ele, baixa libido por conta do esporte é “mito”. “Se o cara não está disposto, pode ser por um milhão de razões, mas não por isso.” O consultor financeiro uberlandense Nilson Lima, 66 anos, encontrou uma maneira, digamos, conservadora de contornar o problema. Provavelmente o homem que mais praticou maratonas e ultramaratonas do Brasil, com, até aqui, 250 dessas provas de mais de 42 quilômetros no currículo – 55 delas apenas em 2018 –, ele é casado com uma triatleta, a administradora Silvana Vieira. Nas viagens “maraturísticas”, o casal tenta manter uma agenda comum. No giro europeu de 17 dias que irão empreender em setembro, o par só se separa em três. É que no mesPODER JOYCE PASCOWITCH 21
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No alto, trecho inicial da maratona de Nova York, desejo de consumo dos corredores brasileiros; acima, triatletas no começo do Ironman em Jurerê, em Florianópolis, e, abaixo, um treino de corrida ao pôr do sol
FOTOS DIVULGAÇÃO
mo dia em que Lima corre a maratona de Varsóvia, sua mulher ataca as ruas rápidas de Berlim. Nas provas de Londres, Oslo e Moscou vão estar juntos, assim como nos dias de São Petersburgo, cidade escolhida para a “folga” entre as maratonas. Quando estão em Uberlândia, outras exigências paralelas da corrida, como a prática de musculação, é resolvida conjuntamente. “Isso nos ajuda a ter uma vida social e sexual ativa”, diz. Lima conta ainda que vários amigos e amigas seus acabaram por se separar por conta de uma certa discrepância esportiva em suas agendas. Um aspecto normalmente pouco salientado na vida desses atletas amadores é justamente a habilidade na administração de tempo. Para o treinador Zeca Fernando, maratonistas, triatletas e assemelhados são competentes nisso, o que os credenciam a alcançar posições de destaque no mundo corporativo. E ao contrário do que se costuma supor, triatletas, que normalmente treinam suas três modalidades em dois períodos distintos do dia, não passam (tantas) horas suando, mesmo quando no pico da atividade. “Duas horas diárias, de duas a quatro horas no sábado e descanso no domingo, com isso eles já conseguem se preparar”, diz Marcos Paulo Reis, da MPR. Se a corrida não derruba a libido, não dá para dizer o mesmo do bom humor – ou, mais especificamente, daquela seção do humor que permite que as pessoas possam rir de si mesmas. Ao publicar um texto no portal R7 em que dizia que “gente que corre trepa menos para correr mais”, a jornalista Marcella Franco, hoje colunista da Folha de S.Paulo, passou a ser hostilizada por corredores amadores nas redes sociais com fúria digna de caminhoneiro falando dos ministros do STF. Alguns ameaçaram-na de morte. n
PODER INDICA
DESIGN PARA EXPORTAÇÃO
À frente do estúdio de design Sette7, a arquiteta VIVIAN trabalha com pedras brasileiras por razões óbvias: são lindas e o país tem enorme oferta desse material. Do uso de cores vivas de mármores, granitos, quartzos e quartzitos surgiu a força necessária para criar as mesas Botanique, que evocam os jardins de Burle Marx e podem ser encontradas nas principais lojas de design do país. Topo de linha, a Botanique demonstra ainda um uso sofisticado das matérias-primas e chegou a abrilhantar a instalação Brazi-
FOTOS DIVULGAÇÃO
COSER
lian Stone Scape, criada especialmente para o Salão do Móvel de Milão 2019. No que diz respeito à inovação, o processo de criação de Vivian se apoia em conceitos da arte cinética. A única coisa que não existe no estúdio Sette7 é marasmo, e a arquiteta acaba de voltar de sua terceira exposição em Milão com muitas encomendas de clientes no Velho Continente. Se depender do estúdio Sette7 vai ter arte, design e muita pedra brasileira mundo afora. SETTE7.COM.BR | @STUDIOSETTE7
PLANETA
RODA VIVA
Com potencial de render US$ 1 trilhão por ano até 2025, a economia circular não é só uma nova forma de fazer dinheiro, mas a única maneira possível de seguirmos consumindo em um mundo que caminha para 10 bilhões de pessoas. Mas, afinal, que roda é essa? POR CAROLINE MENDES
A
té 2050, seremos 10 bilhões de seres humanos no planeta. Mais gente demanda mais infraestrutura sendo construída e mais produtos e serviços sendo criados e distribuídos, o que deve fazer a economia mundial quase que triplicar no mesmo período. Ótimo, né? Mercados aquecidos, bilhões alcançando o status de classe média, cidades crescendo... ah o progresso! Mas não é bem por aí. Cerca de 40% de toda a terra cultivável do mundo já está seriamente degradada, em três décadas teremos mais plástico do que peixe nos oceanos e 2018 foi o ano em que mais se lançou gases de efeito estufa na atmosfera em toda a nossa história. Os dados vêm de autoridades como o Fórum Econômico Mundial, a consultoria McKinsey & Company e a Ellen MacArthur Foundation, uma entidade sem fins lucrativos que ajuda negócios, governos e cidadãos a (re)pensarem a produção e o consumo em formatos mais sustentáveis – e até mais lucrativos! Mais de US$ 1 trilhão pode ser gerado globalmente todos os anos até 2025 se as empresas focarem no desenvolvimento de cadeias produtivas circulares, aumentando as taxas de reciclagem, reutilização e remanufatura, dentro da chamada economia circular. Definida como um sistema econômico destinado a minimizar o desperdício e aproveitar ao máximo os recursos, a economia circular é uma alternativa ao insustentável atual sistema econômico linear, em que algo é produzido (a partir de recursos naturais escassos, como sabemos), usado (na maioria das vezes por pouquíssimo tempo) e descartado (sem nem passar perto da reciclagem – 91% de todo o plástico, por exemplo, vai diretamente para o lixo). Ok, mas como essa roda gira na prática?
ILUSTRAÇÕES DAVID NEFUSSI
42,4
BILHÕES De toneladas de materiais são usados a cada ano na construção civil
62%
Das emissões globais de gases de efeito estufa são liberadas durante a extração, processamento e fabricação de mercadorias para atender às necessidades da sociedade NADA SE PERDE, TUDO SE TRANSFORMA
Há bilhões de anos a Terra vem dando conta de se retroalimentar, transformando restos mortais de um ser vivo em insumos para o nascimento de outro. De forma semelhante, um dos modelos de negócio da economia circular é aquele em que uma fábrica reutiliza os descartes de sua produção para gerar energia ou fabricar novos produtos – seja para si mesma ou para outras empresas, lucrando com a reutilização ou a venda desses descartes. Esse processo, principalmente quando os descartes viram novos produtos, é conhecido como upcycling e é bastante comum nas indústrias de alimentos e têxtil, por exemplo – desde 2017, a cada mudança de coleção, a Farm, marca carioca de moda feminina, recolhe sobras de tecidos das grifes de todo o grupo Soma (que engloba também Animale, A.Brand, FYI, Foxton, Cris Barros e Fábula) e cria linhas de peças limitadas e únicas.
A FAMOSA RECICLAGEM
Depois de comprado, usado e descartado, um produto pode ser reciclado, certo? Isso depende fundamentalmente do que ele é feito. Um modelo de negócio circular eficiente pressupõe o design de produtos e embalagens que sejam facilmente recicláveis e, tão importante quanto, cria condições para que eles sejam de fato reciclados. O plástico, por exemplo, em teoria é facilmente reciclável, mas apenas 14% das embalagens plásticas são coletadas para reciclagem em todo o mundo – e apenas 2% são reutilizadas como embalagem. Nessa brincadeiPODER JOYCE PASCOWITCH 25
2030 ra, entre US$ 80 bilhões e US$ 120 bilhões em valor são perdidos anualmente. Aplicando-se a chamada logística reversa, as empresas poderiam coletar seus produtos no fim de sua vida útil para garantir a reciclagem e lucrar, seja colocando esses produtos de volta na cadeia de produção da própria empresa ou integrando outras. No ano passado, a Coca-Cola anunciou a meta de coletar e reciclar o equivalente a cada garrafa ou lata que vende globalmente até 2030 – não importando ser da própria companhia ou de seus concorrentes.
VIDA LONGA
Quem nunca ouviu: “Ah, mas não se fazem eletrodomésticos como antigamente!”? No sistema econômico atual, em que compra-se, usa-se e descarta-se para lucrar, lucrar e lucrar, as empresas têm que vender, vender e vender. Na economia circular, um modelo de negócio não tão explorado, mas cheio de potencial, é aquele em que a empresa fornece produtos com peças de baixo preço e fácil manuseio para que o próprio consumidor faça os reparos necessários ao longo do tempo, aumentando significativamente a vida útil de um produto. Em países como os Estados Unidos, onde tudo vai para o lixo antes que se cogite a possibilidade de conserto porque a mão de obra é caríssima, esse tipo de modelo de negócio tem mercado. Outra faceta do mesmo conceito são os brechós, por exemplo, onde a vida útil de uma peça de roupa é estendida na passagem de um consumidor para o próximo.
9
%
Percentual reutilizado dos 92,8 bilhões de toneladas de minerais, combustíveis fósseis, metais e biomassa que entram na economia anualmente
26 PODER JOYCE PASCOWITCH
Ano em que o governo holandês pretende tornar-se 50% circular. Em 2050 a meta é ser 100%
O SEU, O MEU, O NOSSO
14 %
Tão em voga hoje em dia, a chamada economia compartilhada é um dos braços da economia circular e acontece quando um produto ou serviço que pertence a uma pessoa física ou jurídica é colocado à disposição de outras pessoas “for free or for a fee”. O conceito é na verdade mais velho que andar para frente – antes de Uber e Airbnb, existiam as bibliotecas, as locadoras de carros e as videolocadoras, por exemplo, que dispensam apresentações – mas as possibilidades são numerosas. A Turo (antiga RelayRides), por exemplo, oferece automóveis para alugar nos Estados Unidos, mesmo sem ter veículos próprios – a plataforma que coloca proprietários em contato com locatários é chamada de Airbnb dos carros (incluindo máquinas luxuosas e até motor-homes para os aventureiros) e já ameaça as grandes locadoras.
Das embalagens plásticas são coletadas para reciclagem em todo o mundo
ALUGA-SE TUDO
E se as empresas de bens duráveis deixassem de vender os seus produtos? No modelo de negócio circular em que se aplica o conceito de produto como serviço, em vez de comprar uma geladeira, o consumidor paga por uma licença para ter uma geladeira da marca xis em sua cozinha, a ser mantida funcionando, reparada quando necessário, e recolhida no fim do contrato pela própria marca xis para ser licenciada a outro consumidor. A diferença entre esse modelo e a mera locação de bens duráveis (como locação de carro) é o tipo de contrato, bem mais longo e completo, com casos como o Schiphol Airport de Amsterdã licenciando todo o seu sistema de iluminação da empresa Signify, que é dona de cada uma das lâmpadas. n
RESPIRO
SETE BELEZAS Cineasta italiana com origem na nobreza suíça, Arcangela Felice Assunta Wertmüller von Elgg Spañol von Braucich, ou Lina Wertmüller, foi a primeira mulher indicada ao Oscar de melhor direção. A academia, conservadora desde sempre, se rendeu aos quadros de Pasqualino Sete Belezas (1975), uma combinação perfeita entre drama e comédia que aborda o típico macho italiano que Lina, comunista, anárquica e feminista, adorava desconstruir em seus filmes. Muito amiga de Jorge Amado, ela veio várias vezes ao Brasil para acertar a produção de Tieta do Agreste com Sophia Loren. Só faltou combinar com Cacá Diegues, que filmou o longa primeiro com Sonia Braga como protagonista.
CONSUMO POR ANA ELISA MEYER
GIANCARLO GIANNINI E MARIANGELA MELATO
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Os atores Mariangela Melato e Giancarlo Giannini, 76 anos, protagonizaram um dos filmes mais tórridos do cinema italiano, Por um Destino Insólito, 1974, da diretora Lina Wertmüller. A química entre os dois, que ficou só nas telonas, era indiscutível. Atuaram juntos em diversos filmes, incluindo Amor e Anarquia, 1973, e Mimi, o Metalúrgico, 1972, ambos de Lina. Mariangela morreu em 2013, aos 71 anos.
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ENSAIO
FAZ-ME
RIR
TV, série, cinema, o celebrado Porta dos Fundos e três filmes no gatilho para Netflix. Onde quer que esteja Fábio Porchat, o comediante mais famoso do país, vai te fazer dar risada. O segredo? Liberdade autoral, crítica ácida e boas doses de empatia por dado abreu fotos maurício nahas styling cuca ellias (od mgt)
Look total Ricardo Almeida
É
preciso estar atento e forte. A citação de “Divino Maravilhoso”, de Caetano Veloso, serve de norte para Fábio Porchat explicar a liberdade do humor. Longe da TV aberta desde que deixou a Record, no fim do ano passado, o comediante mais famoso do país tem se vigiado para não passar da conta, algo que, é bom que se diga, não costuma fazer. A propósito, é um dos poucos humoristas da sua geração que não coleciona polêmicas e piadas de mau gosto. “A sociedade está mudando e o humor, obviamente, também. Por que então eu vou querer fazer uma piada que os Trapalhões faziam em 1970?”, questiona. Respeitar a fronteira da liberdade cômica, mas sem perder a acidez política, tem sido o sucesso do Porta dos Fundos, canal que Porchat ajudou a fundar em 2011 e hoje, com quase 16 milhões de inscritos no YouTube e em fase de internacionalização, é referência no gênero – e no mercado publicitário – com esquetes impensáveis em outra mídia. “É bom poder falar o que quer. Temos pontos de vista diferentes entre os roteiristas, o que é ótimo porque conseguimos mexer com questões que, supostamente, seriam mais delicadas.” Por questões delicadas entenda-se, entre outras coisas, o momento político e social do Brasil. Há quem diga que tais tempos esquisitos seriam, para um comediante antenado como Porchat, um prato cheio, algo que, com bom humor, ele contradiz. “Um prato cheio para o desespero, para a tristeza, para a depressão”, brinca, antes de lembrar um encontro com um de seus mestres. “Certa vez perguntei para o Chico Anysio se o politicamente correto atrapalharia a criatividade. Ele disse: ‘Meu filho, difícil era fazer piada na ditadura, quando precisava aprovar o texto com quatro censores’.” Atento e forte, Porchat está ligado em tudo. No Twitter, onde dialoga com mais de 8 milhões de seguidores, segue a família Bolsonaro, Olavo de Carvalho, mas também Marcelo Freixo. Refuta qualquer direção política, ainda que se diga inclinado para a esquerda. “Enquanto eu estiver sendo processado por [Marco] Feliciano, [Silas] Malafaia e [Anthony] Garotinho significa que estou no caminho certo.” Seu lugar de fala, gosta de repetir, é o do homem branco e hétero. Foi com ele que protagonizou Homens?, o mais recente campeão de audiência de Fábio Porchat. A interrogação no título, explica, é uma provocação. “É uma série que fala sobre o machismo e como ele repercute para o homem”, conta. “Até outro dia eu não tinha ouvido falar de manterrupting, mansplaining [termos criados para sinalizar o machismo nas relações]. Se as mulheres estão dizendo que é assim, elas têm razão. Agora é o momento de ouvir o outro.” Com empatia Fábio Porchat vai ganhando cada vez mais espaço. TV, série, cinema, Porta dos Fundos e três filmes engatilhados para a Netflix – um por ano até 2022. Sinal de que ouvir e se colocar no lugar do outro faz rir. E muito. “Todo tipo de piada é permitido. O segredo é parar pra pensar se ela é boa, o que quer dizer e onde está atingindo. Vale tudo, mas tem limite.” n
Costume Ricardo Almeida, camisa, gravata e lenรงo Brunello Cucinelli, รณculos Yves Saint Laurent, relรณgio Rolex
“Enquanto estiver sendo processado por Feliciano, Malafaia e Garotinho estou no caminho certo”
Look total Hugo Boss. Na pág. anterior, terno, camisa e gravata Hugo Boss, pin Saks Fifth Avenue Beleza: Alê Fagundes (Capa MGT) Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Produção de moda: Jaqueline Cimadon Assistentes de fotografia: Bruno Guimarães e Deborah Freitas
PLAYCENTER
DENTRO DO JOGO Habitada por youtubers especializados em games, mansão Gameland, no Rio, joga luz sobre um mercado que hoje já vale mais que as indústrias da música e do cinema somadas POR DENISE MEIRA DO AMARAL
“J
á deixei muita gente lá. A casa é conhecida por aqui”, disse o motorista de táxi ao saber do destino final da minha corrida, a Gameland. Construída em um terreno de 1.500 metros quadrados, a mansão em um condomínio da Barra da Tijuca, no Rio, impressiona: são seis suítes customizadas, piscina, academia de ginástica privativa, mesas de bilhar, pingue-pongue e pebolim e jogos eletrônicos em todos os cômodos. Típico sonho de consumo de muitos jovens, a casa é realidade concreta para cinco youtubers especializados em games, todos de idade entre 20 e 30 anos. Gabriel Araújo, Bruno Bittencourt, Carolina Azeredo, Pedro Gelli e Douglas Mesquita e os cachorrinhos Benji, Milk e Tantam são os atuais integrantes da Gameland, casa originalmente montada para um reality show da Final Level, a maior plataforma de entretenimento gamer do país, gerenciada por empresas que têm no comando, entre outros, um ex-executivo da TV Globo e os irmãos Felipe e Luccas Neto – celebridades incontestes do YouTube. “A ideia era criar um ambiente que fosse aspiracional e inspiracional para os fãs de games. Reunir os maiores influenciadores do mercado em uma mansão temática com os gostos de cada um deles”, explica Fernanda Lobão, CEO da Final Level. A casa foi também pensada para servir como cenário para os vídeos dos moradores. “É quase como um Projac vivo. Até a cozinha pode servir de ambiente para uma live”, diz Gabriela Clayton, head de marketing da plataforma. Os gamers gra-
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vam conteúdos para os próprios canais, e, de duas a três vezes por semana, para a Final Level. Apesar de tudo parecer uma grande brincadeira, a Gameland é um negócio e tanto. Por trás dos vídeos engraçadinhos vistos mais de 200 milhões de vezes, a casa conta com uma equipe de mais de 30 pessoas, entre cozinheira, produtores, roteiristas e diretores. “É um projeto pro YouTube, mas com estafe e estrutura de TV ou cinema. Isso é muito novo”, diz Gabriela. Na casa, todos os moradores recebem um salário fixo, além de poderem comercializar publicidade para seus canais, desde que as marcas não concorram com os patrocinadores da Gameland, casos da Subway, da Smart Fit, que montou a academia de ginástica, da Oi e da Reserva, que recheou os closets das estrelas da casa. Estima-se que o setor de games no mundo já movimente US$ 150 bilhões, mais do que as indústrias da música e do cinema juntos. A América Latina é o segundo mercado que mais cresce, ficando atrás apenas do Sudeste Asiático. Aqui, um em cada três brasileiros é um gamer em potencial. Basta ter um Candy Crush no smartphone. “A indústria de games tem muitas vertentes, há as competições de e-sport envolvendo marcas e paPODER JOYCE PASCOWITCH 37
Os youtubers especializados em games que habitam hoje a Gameland e, nesta página e nas anteriores, os diversos ambientes da casa
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NOTRE-DAME
Um dos games mais populares entre pré-adolescentes e crianças, o Minecraft, hoje ajuda a espalhar – e resgatar – conhecimento. A Unesco e a Microsoft lançaram juntos o projeto History Blocks, que usa o jogo Minecraft: Education Edition para resgatar imagens de diversos monumentos destruídos por guerras no Oriente Médio. O jogo já foi usado em escolas de mais de 30 países, Brasil incluído. Já o jogo Assassin’s Creed Unity ganhou certa notoriedade recentemente, com o incêndio da Catedral de Notre-Dame, em Paris. É que a Notre-Dame virtual do jogo é tão fiel à original que chegou a ser cogitada como modelo para a reconstrução do que se perdeu no acidente. n
FOTOS DENISE MEIRA DO AMARAL; DIVULGAÇÃO
trocínios, as transações milionárias como a venda da plataforma de streaming Twitch para a Amazon. Os games conseguem se expandir de uma forma muito rápida, sempre tem novos formatos aparecendo”, diz Bruno Bittencourt, 24 anos, primeiro morador da casa e dono do canal PlayHard, que é também seu apelido, com mais de 8 milhões de inscritos. Seu quarto na Gameland hoje é maior que o apartamento inteiro em que ele vivia na época de faculdade, quando estudava ciências da computação na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. A atual ocupação da casa reflete de alguma forma o universo gamer, em que o predomínio masculino é notório. Entre os moradores da Gameland há apenas uma mulher, Carolina Azeredo, 25 anos, a funBABE. Para ela, é difícil ser mulher nesse mercado. “Nos chats sempre vem alguém dando um ‘oi, meu amor’, que é um machismo mais leve, mas também aparece gente que diz ‘vai lavar uma louça’. Muitos homens não aceitam que uma mulher seja líder. É uma batalha diária”, diz.
A percepção de que o jogo cria uma legião de viciados e não gera qualquer benefício físico ou cognitivo para o praticante vai ficando no passado. A própria presença da Smart Fit na Gameland ajuda a quebrar o estereótipo de que gamers são pessoas sedentárias e isoladas. Todos os cinco integrantes da casa se exercitam regularmente. “Quando eu jogava League of Legends, minha mãe dizia que tudo que eu fazia era perder tempo. Hoje o jogo tem uma das maiores premiações do mundo. É preciso entender os games como um entretenimento como qualquer outro. Antes ser nerd era ruim, hoje dá orgulho”, diz Gabriel.
ESPELHO
QUER COMER? PERGUNTE-ME COMO
Esqueça tudo o que você sabe – ou pensa saber – sobre comida. Pizza não é a campeã de vendas do delivery, a escolha de um restaurante não está ligada ao sabor, o ingrediente da vez é experiência e quem conhece esse universo não veste dólmã. Como o consultor ANDRÉ RODRIGUES, da Loudtt, responsável pelo projeto e conceito de alguns dos restaurantes mais hypados de SP, entre eles o Nino e as casas da Cia. Tradicional. “Comer é um evento cultural, um jogo de experiências. O que as pessoas levam em conta primeiro ao decidir o restaurante são o tipo de público que frequenta o local, a ambientação e a região. Só depois pensam na comida”, explica Rodrigues, que entrou no mercado com a Loudtt há pouco mais de quatro anos e desde então realizou 58 projetos para grandes players do mercado, incluindo shoppings centers da brMalls e do Grupo Iguatemi – “food is a new fashion”. Antes, o consultor viajou e pesquisou o comportamento dos consumidores para concluir que a relação com a comida mudou. A indústria alimentícia é a nova indústria tabagista. “Mas não significa que o fast-food vai acabar”, ressalta. “No entanto, o consumidor agora tem propósito. De onde vem esta carne?” Nesse cenário surge a fast casualização, casas sem o formal serviço de mesa, porém com praticidade e, claro, qualidade. Vide a explosão de hamburguerias ou as pizzarias onde se come com as mãos – Rodrigues está por trás da Bráz Elettrica, filhote despojado da Bráz. “Há ainda uma questão geracional. Nossos avós não saíam de casa para comer. Nossos pais sim, mas em eventos especiais. Já esta geração frequenta restaurantes três vezes por semana.” Com insights como esse, a Loudtt vem desbravando um mercado ainda incipiente, ajudando bares e restaurantes no desenvolvimento de novos negócios. E o grupo já prepara o próximo passo: a Loudtt Venture, fundo de investimento focado em alimentos e bebidas. Nada de aplicativos disruptivos ou serviços inovadores de delivery. O foco é restaurante, o verdadeiro prato da casa da Loudtt. Ah! Em tempo: açaí é o campeão do delivery. n
por dado abreu foto beatriz chicca
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SANGUE NADA BOM
F
por anderson antunes oi numa quinta-feira quente de julho de 2015 que a empreendedora americana Elizabeth Holmes, já descrita como uma “nova Steve Jobs”, teve a certeza de que a startup que havia fundado aos 19, a Theranos, se tornaria, como muitos diziam, a Apple de sua geração. E ela chegou a essa conclusão após ouvir um discurso da ex-presidente brasileira Dilma Rousseff. Recebida com pompa no Ames Research Center, o centro de pesquisas da Nasa que fica em Mountain View, na Califórnia, Dilma disse para uma pequena plateia formada por poderosos como o bilionário Tom Siebel (da empresa C3) e o investidor Tom Stephenson (da Sequoia Capital), conforme a própria Elizabeth relatou mais tarde, que um dos pontos que unia duas das maiores economias do mundo, Brasil e Estados Unidos, era justamente encontrar uma solução tecnológica para resolver os vários problemas da saúde pública. Bingo! Para a jovem empresária e CEO da Theranos, uma startup que surgiu em 2003, mas que só teve seu momento de virada dez anos depois, tal declaração vindo da presidente do Brasil era música para os ouvidos. Isso porque a empresa que prometia revolucionar o segmento de exames de sangue vivia sua melhor fase justamente naquele momento, com direito a um interesse cada vez maior da mídia por sua fundadora.
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Porém não demorou muito para a casa cair. Em outubro daquele mesmo 2015 uma reportagem publicada no The Wall Street Journal trouxe à tona detalhes jamais imaginados sobre a rotina de um negócio totalmente desorganizado e fundamentado em uma ideia que era, no fim das contas, uma grande mentira. Talvez a maior farsa já contada no Vale do Silício. Não por acaso, Elizabeth viu sua lua de mel com a imprensa especializada terminar mal, com o prego no caixão se tornando a inclusão de seu nome em uma lista com os 19 líderes globais mais decepcionantes daquele ano – ranking que, ironicamente, também contou com a presença de Dilma Rousseff. O que se deu a partir daí foi uma das maiores quedas do mundo corporativo de que se tem notícia – antes avaliado em US$ 9 bilhões, o valor da Theranos despencou.
MÁQUINA DO TEMPO Nascida em Washington, filha de um executivo que chegou a ser vice-presidente da extinta Enron e de uma assessora parlamentar, Elizabeth Holmes é bisneta de Christian Rasmus Holmes, um médico dinamarquês que emigrou no século passado para os Estados Unidos, onde fez carreira como cirurgião e chegou a participar da criação do Cincinnati General Hospital, um dos centros médicos mais renomados da América. Os Holmes se mudaram para Houston, no Texas, quando a futura garota prodígio tinha apenas 7 anos. Nerd, Elizabeth foi matriculada em uma das melhores escolas preparatórias para o ensino superior, e aí conheceu bem o universo da programação. Em casa, estudava mandarim e, quando tinha tempo livre, trabalhava em sua primeira invenção: uma máquina do tempo. Aos 9 anos, a garotinha já ganhava dinheiro vendendo para entidades educacionais da China softwares que traduziam códigos de computador, e o sucesso da primeira empreitada empresarial a fez prometer aos pais que se tornaria bilionária na vida adulta. Admitida na disputada faculdade de engenharia química da Universidade Stanford, ela largou os estudos em 2004, um ano depois de fundar a Theranos, para se dedicar inteiramente ao que realmente acreditava ser sua melhor contribuição para o mundo.
FOTO GETTY IMAGES
Como Elizabeth Holmes, a jovem empresária que seduziu poderosos e atraiu investimentos com a Theranos, startup bilionária que prometia revolucionar a medicina mundial, construiu uma das maiores farsas já contadas no Vale do Silício
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“Talvez vocês não tenham nascido para vingar no Vale do Silício” Elizabeth Holmes, falando a seus críticos
A sede da Theranos e o tubinho para captação de sangue dos clientes
multimilionárias. Dos US$ 900 milhões levantados, pelo menos um terço foi para advogados, outros US$ 200 milhões foram usados para reembolsar clientes da Theranos e o restante foi torrado para manter a empresa, que acabou por fechar as portas em setembro. A fatídica história empresarial de Elizabeth Holmes já foi tema de livro (Bad Blood, de John Carreyrou, o jornalista do Wall Street Journal), rendeu um documentário de duas horas da HBO e em breve vai ganhar a telona, com Jennifer Lawrence no papel principal. No Vale do Silício, a lição que ficou é a de que a necessidade de “fingir até conseguir” (“Fake until you make it”), outra frase comum lá, foi levada a sério demais pela empresária. n
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Como qualquer companhia, a Theranos passou anos sem quaisquer feitos de nota. Até que Elizabeth Holmes descobriu que poderia fazer amizade com poderosos para conseguir contratos para a empresa, e foi graças a uma dessas conexões, com o ex-secretário de Estado dos EUA George Shultz, que ela conquistou seu primeiro grande contrato. Por meio de uma parceria de US$ 350 milhões fechada com a varejista Safeway, os exames de sangue de baixo custo oferecidos pela Theranos ficaram acessíveis à população de muitas cidades americanas. Com isso, a empresa chamou a atenção de investidores. Entre 2013 e 2014, a Theranos levantou US$ 900 milhões com muitos investidores, incluindo aí os Walton, donos da gigante varejista Walmart, e o barão da mídia Rupert Murdoch, atingindo um valor de mercado de US$ 9 bilhões. Proprietária de 50% da empresa, Elizabeth fez história ao ser apontada pela Forbes como a mais jovem bilionária self-made dos EUA, cumprindo a promessa que fez aos pais na infância. A Theranos chegou a ter em seu conselho Henry Kissinger, além do próprio Shultz, mas uma sucessão de erros de sua CEO e seu fiel escudeiro e ex-namorado, Ramesh Balwani, colocou tudo por água abaixo. O casal curtia o auge sem se separar. Talvez embriagados pelo poder, os dois passavam muito tempo discutindo questões mundanas. Uma conversa sobre o nome que dariam para o sistema de armazenamento em nuvem da empresa, por exemplo, se estendeu por duas horas (Elizabeth acabou por escolher “Yoda”, seu personagem favorito de Guerra nas Estrelas). Ao mesmo tempo, os engenheiros de produto da Theranos a alertavam que a máquina de exames que ela decidiu chamar de Edison em homenagem a Thomas Edison, provavelmente o maior inventor de todos os tempos, era incapaz de apresentar resultados satisfatórios. “Talvez vocês não tenham nascido para ‘vingar’ no Vale do Silício”, a chefe dizia sempre depois de discussões do tipo, repetindo um dos mantras do mundinho high tech. Críticas à empresa eram sempre tratadas algo belicamente por seus diretores. Liderado pelo advogado David Boies, que em 2001 derrotou a Microsoft em um caso de monopólio que entrou para a história dos tribunais, o time jurídico da Theranos ameaçava processar ex-funcionários que pediam o chapéu por se decepcionar completamente com o ambiente de trabalho e chegou a pressionar o jornalista do Wall Street Journal quando este pediu mais dados sobre os métodos laboratoriais que Elizabeth dizia ser “revolucionários”. “Você quer que a gente mostre a receita da Coca-Cola só para ver que não tem arsênio”, argumentou um dos advogados que o interpelou. No começo de 2018 a Theranos entrou na mira do órgão regulador do mercado de capitais americano, e tanto Elizabeth como Balwani se tornaram réus em uma ação ainda em curso que pode custar a ambos anos de liberdade e multas
CONSUMO
ALINHADOS
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A
A elegância do linho somada ao conforto do algodão pontua a primeira coleção assinada por Arthur Casas para Trousseau
rthur Casas carrega o ofício no nome. O renomado arquiteto, com mais de três décadas de carreira e diversos prêmios nacionais e internacionais, gradativamente foi diminuindo as escalas de suas criações: de prédios, passando por casas, chegando a objetos, Arthur agora imergiu no mundo têxtil e desenvolveu uma linha para cama e produtos que compõe o everywear da Trousseau. “Sempre tive uma visão holística do meu trabalho. Não vejo diferença em criar um edifício, uma cadeira ou lençóis. Todas as escalas são importantes e complementares e não haveria outra empresa têxtil no Brasil com a qualidade que aprendi a exigir”, pontua Arthur. Contemporâneas e produzidas em linho, as criações flertam com a arquitetura do criador cuja ideia da coleção partiu com base na premissa de que o mundo e as pessoas mudaram. Existe outro ritmo e aqueles modelos de camas decorativos, com dezenas de travesseiros, colchas e almofadas, não são funcionais, pois requerem uma organização insustentável atualmente. As moradias, assim como seus objetos, precisam estar integrados à vida urbana. Por isso, o arquiteto pensou no linho. E, para oferecer o conforto da Trousseau, as peças trazem dupla-face em algodão, que proporciona a suavidade e maciez necessárias para a hora de relaxar. “O linho foi o ponto de partida, até porque os lençóis ficam naturalmen-
“O linho foi o ponto de partida, até porque os lençóis ficam naturalmente amassados depois de uma noite de sono” te amassados depois de uma noite de sono. Só que não acho agradável o toque do linho, então decidimos criar um duvet e travesseiros com faces e materiais distintos; linho e algodão de alta qualidade.” Tons leves como o branco e o bege, além de um tom de cinza, mais próximo ao grafite, marcam a linha de cama e, para o everywear prevaleceu apenas o bege natural para mulheres e o grafite para homens. “As cores foram escolhidas de acordo com o que normalmente
especificamos no escritório para nossos clientes, que dialogam com o nosso trabalho”, explica Arthur. São propostas para o bem-estar em casa com um everywear ideal também para receber amigos e sair por aí com o máximo conforto e praticidade. Desse modo, Arthur Casas elevou ao máximo a valorização do minimalismo criando uma coleção atemporal e consolidando a parceria e o futuro entre a tradição e o luxo com a beleza, a elegância e a praticidade. n PODER JOYCE PASCOWITCH 43
SOB MEDIDA POR FERNANDA GRILO
SEU JORGE Um dos artistas brasileiros mais respeitados no exterior, Seu Jorge mostra versatilidade nos palcos e nas telas. Cheio de projetos, estreia em breve na Netflix a série A Irmandade e se prepara para mais uma turnê NOME COMPLETO: Jorge Mário
da Silva. pelo meu amigo Marcelo Yuka [1965-2019, baterista e fundador d’O Rappa]. Achávamos que o meu nome não serviria para bandleader. Nos conhecemos quando eu estava no começo do meu grupo, Farofa Carioca. FAZER CINEMA NO BRASIL: Privilégio. STREAMING OU CINEMA: Estamos em rota. O QUE FALTA ENTENDER: Que o cinema brasileiro tem muito prestígio no mundo. UM LUGAR NO MUNDO: O túmulo da minha mãe. UMA FRASE: “Quem não sabe criar filho cria neto.” SHOW NO BRASIL OU NO EXTERIOR:
Música é música em qualquer lugar do mundo. O papel do artista é fazer as pessoas ficarem encantadas e emocionadas, seja onde for. QUEM DESCOBRIU O SEU JORGE:
O clarinetista Paulo Moura. UM VÍCIO: Tabaco. UMA MANIA: Ouvir música alta enquanto tomo banho. CANTAR OU ATUAR: Ambos CONTRADIÇÃO: O momento do Brasil. Em que nós vemos muita gente contra a diversidade em um país tão diverso. UM PEDIDO: Temos que nos unir. Nunca vi o brasileiro tão dividido, todas as vezes que o povo está junto, o Brasil tem um caminho melhor.
FOTOS RAPHAEL DIAS/TV GLOBO; BOB WOLFENSON/DIVULGAÇÃO; FREEPIK; REPRODUÇÃO INSTAGRAM; DIVULGAÇÃO
POR QUE SEU JORGE? Apelido dado
TIME DO CORAÇÃO:
Flamengo.
SE FICASSE INVISÍVEL POR UM MINUTO...
Invadiria a Casa Branca.
UMA MÚSICA: “Peter Gast”,
do Caetano Veloso.
QUEM VOCÊ GOSTARIA DE SER?
Um vendedor de flores.
O QUE FALTA NA SUA CASA: Nesse
momento, as minhas filhas.
UM FILME: Cinema Paradiso, do
Giuseppe Tornatore.
UM SHOW IMPERDÍVEL:
UM LIVRO:
O Povo Brasileiro, do Darcy Ribeiro.
Seu Jorge, em Nova York, em outubro.
UM EXERCÍCIO:
Corrida. UM DESTAQUE RECENTE: Ter participado
de Marighella [filme de Wagner Moura].
PERSONALIDADE QUE MARCOU SUA VIDA: John
Abercrombie, ídolo do jazz.
O QUE VOCÊ ACHA DA SITUAÇÃO ATUAL DO BRASIL:
Falência.
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TRAMPO
AQUI É TRABALHO Com as mudanças no mercado, a possibilidade de levar o expediente pra casa, o home office, aumentou muito e até virou tendência. Conheça peças de mobiliário adequadas que podem impactar positivamente na produtividade “doméstica”
Cadeira Aeron Lançada em 1994, a Aeron foi “remasterizada” pela Herman Miller em 2016. As pesquisas das últimas décadas levaram a um modelo com dezenas de melhorias tecnológicas e ergonômicas que, além de se provarem benéficas para a saúde, proporcionam mais produtividade. Nesta versão, o mecanismo de inclinação ajustável aparece mais refinado.
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por aline vessoni
Odorizante de ambiente Bouquet – Trousseau A fragrância L’Air du Printemps, marca registrada da Trousseau, é inspirada no frescor da primavera.
“As profissões mudaram, o mercado mudou e o home office segue isso. Antes, ele era adaptado, a mesa vinha da sala, a cadeira, da cozinha...”
Cadeira Sayl O designer Yves Béhar inspirou-se nas pontes suspensas para criar a Sayl, com apoio especial para a coluna. Com o mesmo conceito das obras da engenharia, Béhar criou a série comercializada pela Herman Miller com uso parcimonioso de materiais. A logística também prioriza a economia, com a produção sempre muito próxima do mercado consumidor.
Vanity Box – Ornare - Design by Ricardo Bello Dias As caixas servem para arquivar documentos e organizar o escritório. Nas prateleiras, elas dão um toque de elegância.
MARCELA DEL GUERRA, COORDENADORA DE MARKETING E VAREJO DA HERMAN MILLER
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Cadeira Cosm Com um design altamente ergonômico e sofisticado, a Cosm se adapta imediatamente ao corpo e à postura do usuário. A ideia é que o objeto se confunda com aquele que o utiliza. Em parceria com a Herman Miller, o famoso grupo alemão Studio 7.5 criou os braços Leaf da Cosm, de estrutura macia e, ao mesmo tempo, firme.
MeetUp – Logitech Câmera de conferência com amplo campo de visão e áudio integrado. Vídeochamadas em alta resolução (4K Ultra HD).
LOUNGE CHAIR E OTOMANA EAMES Estas duas peças icônicas não são feitas originalmente para o escritório, mas que bom seria se todo trabalhador pudesse curtir uma folga com conforto e dignidade. Quando o casal de designers Charles e Ray Eames lançou o conjunto, em 1956, não existia nada parecido. E, até hoje, a chaise inspirada em uma cadeira club do século 19 continua sendo um marco.
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“As pessoas que se preocupam com bemestar e saúde fazem questão de ter uma cadeira confortável e bonita. Sabem que o preço a pagar pelo descaso pode ser alto, os problemas de coluna” CARLA BARBOSA, HEAD DE MARKETING PARA AMÉRICA LATINA DA HERMAN MILLER
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Vaso Spin by Marla Rabelo - dpot objeto Todo o charme do vaso Spin e suas variações de cores e texturas da madeira, exclusividade da dpot objeto.
Mirra 2 Após dez anos da primeira edição da cadeira Mirra e mais de 1,5 milhão de unidades vendidas, os designers do Studio 7.5 repensaram alguns aspectos dessa estrela do design. A nova versão, leve e harmônica, tem ajustes simples e intuitivos, sem prejuízo ao porte atlético. Como em outras peças da Herman Miller, a fabricação da Mirra 2 também privilegia parâmetros elevados de responsabilidade ambiental.
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VIAGEM
VIBE
ESPECIALÍSSIMA
Paisagem de sonho, com ares de deserto e muito sol: isso é o melhor de Jericoacoara
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Madeira, sa precisa m pé e aquele marzão ais? :
Se tem um lugar do Brasil que merece e muito ser visitado é Jericoacoara, um paraíso perdido no Ceará, cercado de dunas por todos os lados e também por um marzão imenso. Já foi eleita uma das praias mais bonitas do mundo e faz a alegria de quem ama esportes como kitesurfe mas também de quem apenas quer sol, mar, bons restaurantes e uma vida meio hippie, bem relax, onde sofisticação passa ao largo. Por lá, o chão é de areia – portanto, apenas sandálias, rasteiras, alpargatas ou tênis – e o português nem sempre é a língua mais ouvida nas pequenas ruazinhas do vilarejo. A vibe é única e mesmo nos dias de hoje ainda surpreende quem está acostumado a viajar pelos mares e pelas cidades de praia mais incríveis do planeta. De dia, muitos passeios de caminhonetes pelas praias, mergulhos em mares e lagoas, uma rede na sombra. No fim da tarde, um pôr do sol que pode ser incluído entre os mais impactantes do mundo mobiliza todo e qualquer viajante. Pausa para contemplação. No começo da noite, um passeio pelas ruas do vilarejo, com butiques e lojinhas cheias de charme. Um drinque em algum dos bares lotados de esportistas estrangeiros e um jantar nos restaurantes locais – tem alguns muito bons. Resumindo: Jeri é sim um paraíso. Ainda meio selvagem, cheio de personalidade e charme. Uma pérola ainda muito bem preservada. Ah: e quem vai uma vez, com certeza não vê a hora de voltar. Mais e mais. texto e fotos joyce pascowitch PODER JOYCE PASCOWITCH 51
Andar de buggy ou 4x4 pelos trechos permitidos nas praias é uma experiência única – viva a liberdade!
O restaurante Komaki, uma das delícias da região
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pinta nas o ã d e t s e r o ag e certa O sertão e is: charme na dos oca lojinhas l
O pôr do sol: ah, fascínios de Jeri
esse é um dos
Um mar, uma canoa, muito vento: e por favor, jamais esquecer do protetor solar e do chapéu – jamais
E quem não gostaria de estar no lugar de Delfim Fujiwara, que deixou o Rio de Janeiro e um emprego de 30 anos na TV Globo para se instalar em um pedaço selvagem de Jericoacoara? Um novo casamento, um novo filho – bebezinho – e o B&B, um bed and breakfast , são a sua nova vida. O restaurante é a estrela, com pescados e ingredientes locais preparados por ele mesmo com toques japoneses. A localização? Perto da Lagoa do Paraíso, um dos lugares mais bonitos do pedaço. Um pequeno segredo. Para poucos.
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PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN
PARAÍSO PARTICULAR
Guy Laliberté, o bilionário cofundador do Cirque du Soleil, passou anos procurando uma ilha perfeita no Taiti. A boa notícia é que, hoje, seu paraíso particular pode ser alugado por grupos de até 50 pessoas. Batizado de Nukutepipi, o local abriga 18 bangalôs com vista para o mar – um deles tem até sala de cinema e obras do inglês Damien Hirst –, opções gastronômicas que vão do piquenique à alta cozinha e até uma lagoa. Entre os programas, há spa com direito a banho nórdico, sala de jogos, biblioteca, observatório de estrelas, quadra de tênis, aulas de ioga e muitos esportes aquáticos. Para coroar, o afiado estafe inclui novidades como instrutor de mergulho, capitão e especialista em fitness. +SUNSETLUXURYVILLAS.COM/NUKUTEPIPI
VERSÃO 2.O
A pequena cidade italiana de Castelrotto, aos pés das Dolomitas, tem chamado atenção dos viajantes. Isso porque o hotel Schgaguler, construído em 1986, ganhou um novo e elegante projeto pelas mãos do escritório Peter Pichler. Com estética minimalista, o local é a base perfeita para caminhadas ou pedaladas pelas montanhas no verão e para o esqui no inverno. Na volta, um restaurante com o melhor da cozinha alpina e um spa que agora tem diversos tipos de sauna, banho de argila, sala de gelo e piscina com diferentes jatos de massagem. +SCHGAGULER.COM
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À DERIVA
Verão europeu à vista, é hora de desbravar a Borgonha de maneira diferente. Com apenas quatro cabines e estilo de sobra, o Lilas é o novo barco da Belmond, que recebe grupos privados em um roteiro que parte de Dijon e vai até Saint-Léger. No caminho, a pequenina embarcação propõe paradas nas vinícolas de Clos de Vougeot, na cidadezinha medieval de Rully, feirinhas gastronômicas e ateliês de mestres queijeiros. Uma vez a bordo, os viajantes aproveitam a piscina e o melhor da gastronomia francesa em refeições servidas ao ar livre. +BELMOND.COM
FORA DA CURVA
O grupo The Standard escolheu Londres para inaugurar sua primeira unidade fora dos EUA. Será em King’s Cross, em um prédio dos anos 1970, que ganhou um anexo com janelões de vidro e muitas cores no décor para contrastar com o cinza da cidade. São 226 quartos de estilos variados – as suítes com banheira no terraço prometem ser as favoritas. Em tempo: a rede pretende lançar mais 20 hotéis nos próximos cinco anos. +STANDARDHOTELS.COM
CHADI NAMMOUR
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CEO DA L’ESPACE TOURS
“Nasci e cresci no Líbano, país que sempre será a minha primeira casa. Beirute é o perfeito encontro entre o Oriente e o Ocidente, sendo uma capital muito moderna e agitada. Um dos pontos altos do destino é a gastronomia e a vida noturna. Há muitas opções de bares e casas de shows excelentes, e a que eu mais gosto é o MusicHall, pois há sempre apresentações impecáveis e dos mais variados tipos. Outra boa sugestão é o bar Capitole, que tem uma vista panorâmica privilegiada de Beirute, drinques criativos e ambiente autêntico.”
HIGH END
Um dos segredos mais bem guardados do Caribe, a pequena ilha de Bequia, nas Granadinas, ganhou novo motivo para garantir a visita. Com vista para o mar turquesa da região, o hotel The Liming é um convite para dias do mais absoluto dolce far niente. São apenas nove vilas, algumas com piscina infinita, uma casa com cinco suítes e um restaurante focado em ingredientes locais – frutos do mar pescados diariamente estão incluídos na receita. No mais, a dica é explorar praias como a Lower Bay e fazer boas caminhadas até o pico conhecido como Mount Peggy. +THELIMINGBEQUIA.COM
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HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI
PARA VIAGEM
Você pode curtir as férias ou viajar a trabalho com mais conforto e tranquilidade. Quer ver?
AYO
Quer acabar com o jet lag? O wearable Ayo promete ajudar. O aparelho é uma espécie de solução compacta de terapia de luz que auxilia você a se adaptar ao novo fuso horário de duas a três vezes mais rápido. Seus algoritmos utilizam dados do itinerário de voo e perfil de usuário para dizer quando você deve colocar os “óculos” e por quanto tempo precisa permanecer com eles. Além de companheiro de viagem, o Ayo ajuda a recarregar sua energia e melhorar o sono em dias comuns. Ele se conecta ao celular via bluetooth. GOAYO.COM PREÇO: R$ 1.206
SAMSARA SMART ALUMINUM
SAMSARALUGGAGE.COM PREÇO: R$ 2.785
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FERNANDO JULIANELLI,
diretor de marketing da HPE Automotores do Brasil “Fui usuário de iPhone, mas me rendi à performance do Android. Como corro de rali, gosto de registrar as provas na GoPro 7. Uma novidade que estou curtindo é o Google Home. Você pergunta sobre tempo, toca músicas do Spotify, comanda automação etc. Também uso o BlueJeans, app de videoconferência que facilita muito minha comunicação com os escritórios do mundo, e o WeChat – único jeito de alguém se comunicar com a China. Eles não usam WhatsApp.”
* PREÇOS PESQUISADOS EM MAIO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES FOTOS DIVULGAÇÃO; PAULO FREITAS
A Samsara é uma mala de alumínio toda tech que pode ser conectada ao smartphone. Com isso, envia alertas quando se afastar de você e ou for aberta fora do alcance dos seus olhos. Além disso, tem luzes LED que auxiliam o caminho no escuro, uma bateria capaz de recarregar o celular (até dez vezes) e também o notebook. Para completar, o design ergonômico permite que a mala seja utilizada como apoio para o computador nos momentos de trabalho entre um voo e outro. Pesa 4 quilos e suporta 35 litros de bagagem. Disponível em prata e preto.
THERMA CELL HEATED INSOLES
HOMEDICS MOBILE COMFORT PORTABLE BACK
Para os pés frios, o arcondicionado das aeronaves costuma ser um problemão, principalmente em viagens longas. Por isso estas palmilhas aquecidas são uma ótima e prática solução. Basta colocá-las dentro do calçado e ajustar a temperatura por controle remoto. Elas não possuem fio, são recarregáveis e possuem uma tecnologia que acionada regula a temperatura de acordo com o calor do corpo e do ambiente.
Para evitar desconforto e dores durante a viagem, você pode contar com este apoio portátil e ergonômico para as costas. Ele oferece vários programas de massagem por compressão rítmica e vibração para liberar tensão e revigorar músculos cansados. Além disso, tem uma função de aquecimento para proporcionar maior conforto e que você pode usar combinada com a massagem ou de forma independente.
PREÇO: R$ 400
HOMEDICS.COM PREÇO: R$ 322
OAXIS AIRSCALE
ILI TRANSLATOR
Se você pretende viajar para a Ásia e não quer passar apuros tentando se comunicar apenas em inglês, este aparelhinho pode ser seu melhor companheiro. O ili é um pequeno tradutor que trabalha off-line para traduzir frases do inglês para japonês, mandarim e coreano. A utilização é muito simples. Basta ligar o aparelho e apertar o botão central para ele captar a fala. Em seguida, é só soltar o botão para ouvir a tradução no idioma selecionado em apenas 0,2 segundo. Pequenino, o ili pesa 42 gramas. IAMILI.COM PREÇO: R$ 805
O AirScale tem dupla função. Além de ser um recarregador portátil de smartphone, ele é uma balança super prática para conferir o peso da bagagem antes do check-in e evitar custos extras (desde que não ultrapasse 40 quilos, ok?). O aparelhinho pesa apenas 156 gramas. Tem portaS USB e micro USB. OAXIS.COM PREÇO: R$ 157
LOW-TECH
REVISTEIRO NHII
Assinada pela designer e estilista mineira Regina Misk, as peças, disponíveis em dois tamanhos na dpot objeto, são crochetados à mão, com cadarço de algodão sobre estrutura armada – para cada unidade são necessárias aproximadamente 10 horas de trabalho manual. Por meio de suas peças, a artista promove um diálogo entre o contemporâneo e o artesanal, dando nova luz e significados ao tear, o crochê, o tricô e o bordado. INSTAGRAM - @DPOTOBJETO
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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA
A REBELDE DAS GERAIS
Em romance premiado que costura história e imaginação, Ana Luisa Escorel revisita história de Dona Josefa, oligarca que liderou revolta em Minas Gerais contra Pedro 2º
J
osefa Carneiro era um nome presente na infância de Ana Luisa Escorel. Na entrada de casa de Ana pendia a imagem de um daguerreótipo (precursor da câmera fotográfica) de 1840 em que se via a líder rebelde mineira entre seus contemporâneos. As roupas antigas e a dignidade das faces do século 19 impressionavam a menina, que também ouvia o nome de Josefa nas conversas dos adultos. O tempo passou e a imagem daquela senhora resistiu na memória de Ana, não mais por conta do traje que usava, mas por seus
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feitos incomuns. Mulher e oligarca, ela liderou, na mineira Araxá, em 1842, uma revolta contra o governo conservador de apoio a dom Pedro 2º no que ficaria conhecido como Revolução Liberal. A obra Dona Josefa (Ed. Ouro Sobre Azul) é o desaguadouro literário dessa fascinação da hoje escritora Ana por seu personagem histórico de eleição. Em 2014, a autora venceu o prêmio São Paulo de Literatura com o romance Anel de Vidro. Dona Josefa, a personagem, precisou ser em boa parte imaginada, pois havia pouco
material de pesquisa disponível. É a coleta de dados possível somada às reminiscências de infância da autora que entram na construção do perfil da mineira. “É uma trama em parte verdadeira, em parte fictícia, que se utilizou de lembranças ora familiares, ora vindas de relatos colhidos na bibliografia consultada. Relatos usados livremente, sem o menor compromisso de fidelidade às respectivas origens”, diz a autora. O que se tem de certo sobre Josefa é que em uma sociedade marcada pela submissão da mulher, ela era uma existência improvável. “O pouco que se tem da Josefa real aponta, de fato, para uma mulher decidida, com grande capacidade de liderança. A partir desses dados, a imaginação fez o resto, criando um tipo feminino dotado de traços incomuns, diferentes dos traços característicos de contemporâneas com a mesma inserção social.” Parte do “fazer literário” de Ana são as memórias do cárcere da personagem já aos 60 anos. E jogada numa cela solitária com os pés presos a correntes de ferro. O tom, a voz da escrita, é fruto da experiência de Ana com a prosódia do interior, em Minas e São Paulo, e com um vocabulário já em desuso, não exatamente aquele praticado no século 19. “A graça foi justamente tentar uma forma de expressão inventada, mas que conferisse verossimilhança àquela realidade a partir de um texto pouco reverente às normas da língua tanto daquele tempo quanto do nosso.”
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FOTOS DANIEL MELLO/DIVULGAÇÃO; PRISCILA PRADE/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
1 - TINTAS E COSTURAS Cerca de 30 telas de Sandra Antunes Ramos compõem a mostra Costuras, na Mul.ti.plo Espaço Arte, no Rio de Janeiro. Conhecida pelos pequenos formatos, Sandra, que é irmã do músico Arnaldo Antunes, expõe formas geométricas pintadas a óleo e costura sobre papel. Nas obras, Sandra – que pinta com os dedos e dispensa pincéis – trabalha tanto a questão pictórica, com blocos de cor, sua marca registrada, como rompe com isso, utilizando de linhas fluidas costuradas, que remetem ao corpo feminino. A exposição segue até 11 de julho. 2 - DIÁRIO DE AMOR E RESISTÊNCIA Diagnosticado com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), o jornalista Nirlando Beirão revisita o passado familiar e narra o desafio de viver com uma doença degenerativa sem cura, que impõe lentamente a perda dos movimentos do corpo. Em Meus Começos e Meu Fim (Companhia das Letras, 192 pág. R$ 49,90), Beirão, um dos mais importantes jornalistas brasileiros, investiga a história do avô, um padre que deixou a batina para viver um grande e secreto amor, e conta o cotidiano de limitações com a ELA. 3 - ANTROPOLOGIA DE BAR Mais recente filme da produtora de cinema cearense Alumbramento, Inferninho (Guto Parente e Pedro Diógenes) chega aos cinemas depois do sucesso no festival de Roterdã, na Holanda, no começo do ano. O filme se passa num boteco decadente, com uma miríade de personagens, alguns verossímeis, outros não. Ali, a transexual Deusimar (Yuri Yamamoto) vive paixões fugidias e desencantos, tendo a companhia da cantora Luizianne (Samya de Lavor), da faxineira
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Caixa-Preta (Tatiana Amorim) e do garçom Coelho (Rafael Martins), que se veste como um coelho rosa.
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4 - PIANO FRANCÊS O celebrado pianista parisiense Alexandre Tharaud se apresenta no Rio e em São Paulo, em curtíssima temporada. Com um repertório que passeia pelo barroco e pelo contemporâneo, Tharaud – que interpretou a si mesmo no filme vencedor do Oscar Amor (2012), de Michael Haneke – tem agenda marcada em junho na Sala São Paulo (25 e 26) e no Theatro Municipal do Rio (27). No programa, Debussy, Beethoven e Ravel, entre outros compositores. PODER JOYCE PASCOWITCH 59
CABECEIRA
SOB O SOL DE SATÃ – GEORGES BERNANOS
Livro em que um personagem padre recebe como missão lidar com o mal. Me fascina a ideia de alguém que tem como missão divina conviver com o mal, ou o demônio, no caso, e as transformações e as confusões cognitivas e afetivas que essa relação pode causar.
ESTANTE
POR ALINE VESSONI
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O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO – SIGMUND FREUD
Considero um dos textos fundamentais para se entender a modernidade, e uma reflexão essencial para romper qualquer chave utópica que está tão na moda e é uma das razões que faz com que tanta gente política seja, digamos assim, gente chata.
A NEGAÇÃO DA MORTE – ERNEST BECKER
Becker descreve com ferramental psicanalítico o gasto psíquico que nós temos para não entrar em pânico, o tempo todo, por conta da morte.
NÊMESIS – PHILIP ROTH
RESSURREIÇÃO – LIEV TOLSTÓI
Aqui, o personagem passa por um processo de redenção quando tem a chance de ajudar uma mulher, uma menina, de quem ele destruiu a vida engravidando-a. Ela acabou virando prostituta, ladra, e ele a reencontra no julgamento e resolve ajudá-la de alguma forma.
Há muitos livros de Roth que eu gosto e poderia citar. Mas cito este, sua última obra, em que ele narra a história de um personagem que acaba levando um grupo de jovens a contrair poliomielite, o que o faz pensar que Deus é mau.
A IDEIA PERIGOSA DE DARWIN – DANIEL DENNETT
Uma obra que apresenta o darwinismo de forma filosófica e elegante. Me marcou muito.
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Do pai, que era médico, humanista e extremamente apaixonado por ciências humanas, o filósofo LUIZ FELIPE PONDÉ herdou o gosto pela leitura. “Ele sempre dizia que quando duas pessoas educadas se encontram a primeira pergunta a se fazer é: ‘Que livro você está lendo?’.” Seu Joaquim, que emendava uma obra na outra, também passou ao filho o hábito de sempre carregar um livro consigo. Em qualquer ocasião. Afinal, nunca se sabe quando a oportunidade de ler chegará e ela jamais deve ser desperdiçada: pode ser na sala de espera do consultório médico, ou durante um voo. Já por influência materna, Pondé tornou-se grande apreciador de música erudita e ópera. Lê vários livros ao mesmo tempo, mas está longe de se considerar um leitor eclético – sua preferência está nos grandes clássicos da literatura, desde Franz Kafka a tragédias gregas, autores russos e franceses do século 19. Porém, um contemporâneo queridinho também o emociona e faz o coração bater mais forte: o americano Philip Roth (1933-2018). Ao exercer a polivalência de professor, pesquisador e escritor, muitas horas são dedicadas também à leitura de trabalhos ensaísticos e pesquisas, mas Pondé não considera uns mais interessantes do que outros: “Eu não faço separação. Fiz carreira em filosofia, sou professor, pesquisador, então nada do que eu leio é hobby, tudo o que leio é profissional, e gosto. Normalmente, quando se gosta do que se faz, não se tem hobbies”, conta. “Eu gosto de fumar charutos cubanos, mas isso não é um hobby, é um vício e muito gostoso.”
DOWNLOAD
CONSUMO
MARCIO ATALLA Professor de educação física, com especialização em treinamento de alto rendimento, e pós-graduação em nutrição pela USP. É autor de Sua Vida em Movimento e coautor de A Dieta Ideal – Sem Mitos, Sem Milagres, Sem Terrorismo
COLAR Raphael Falci R$ 1.180 @raphaelfalci_ store
POR ALINE VESSONI Strava: app de monitoramento de atividades físicas. Permite registrar corridas, caminhadas, pedaladas e outros tipos de exercícios, inclusive off-line.
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FOTOS ARQUIVO PESSOAL; DIVULGAÇÃO
MyFitnessPal: funciona como um diário alimentar digital. Conta calorias e monitora refeições e ingestão de água, entre outras variáveis
Bons apps para auxiliar nos treinos? Isso é bastante pessoal. Tem para ciclistas e corredores outdoor, como o Strava, por exemplo, ou o Zwift, que é mais para corredores indoor. Depende do gosto e do estilo de cada um. Quais você utiliza? Eu uso o Apple Watch e o app Saúde do iPhone. Ele monitora minha movimentação durante o dia, sono etc. Para mim funciona bem. E o MyFitnessPal também é ótimo para quem quer fazer um balanço calórico. Você acredita que esses apps podem melhorar a performance? Certamente ajuda aos que já são praticantes, porque monitora a atividade, o que dá a possibilidade de perceber a melhora na performance. Para iniciantes, todo cuidado é pouco. Ir na onda de um app sem saber exatamente o que está fazendo pode ser roubada. O primeiro app que você checa ao acordar? WhatsApp. E antes de dormir? Na verdade, tento não mexer no telefone depois de certa hora. Para ajudar a ter um sono mais tranquilo, me desconectar um pouco. Prefiro ler ou assistir a algum filme ou esporte.
Você acredita que a forma como as pessoas se relacionam com o corpo mudou muito em tempos de redes sociais? Sim, as pessoas postam as “verdades” que querem, as fotos “perfeitas”, e isso cria um desejo e frustração nas pessoas “normais”, que ficam tentando achar no outro o segredo da sua própria felicidade. O que piorou e o que melhorou? Há mais informação sobre todos os assuntos e mais discussão em torno deles. Mas, ao mesmo tempo, há muito mito, “achismo”, informação sem credibilidade. O que te preocupa em tempos de youtuber “fitness” e influenciadores “nutricionistas”? Há muita informação sem embasamento científico, muito palpite, informação comprada, afinal, virou fonte de renda também. Um estudo realizado no Reino Unido comprovou que 90% dos posts feitos em prol da melhora da saúde, com dicas e conselhos, não têm embasamento científico algum. Qual é o app que você mais usa? WhatsApp, porque prefiro resolver as coisas por mensagem do que telefonar. Mas ainda ligo bastante para minha parceira de trabalho, meu braço direito ... e esquerdo (risos).
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PODER JOYCE PASCOWITCH 61
ESPELHO
Jornalista pós-graduada em comunicação com o mercado, ROBERTA TILKIAN trabalhou como gestora de grandes times. E mesmo à frente de 50 pessoas exercia uma gestão participativa, criando “equipes horizontais”. “Gerenciei pessoas de forma que tivessem autonomia. As decisões tomadas em conjunto são mais assertivas”, explica Roberta, que fundou a Umanas, empresa focada em gestão e desenvolvimento a fim de “melhorar a comunicação das pessoas com elas mesmas e entre colaboradores e empresa”. Segundo Roberta, quando os colaboradores trabalham com liberdade criativa, os ganhos em resultado aumentam. A fórmula é simples: funcionário feliz é igual a eficiência nos negócios, porém, mesmo assim, algumas empresas demoram para entender a matemática. “Vi muito investimento da porta para fora, o que também é importante, mas não soluciona o problema. As empresas focam na comunicação com o cliente, na qualidade do produto ou de campanhas, mas se esquecem de cuidar dos funcionários”, conta Roberta, antes de ressaltar que as pessoas querem trabalhar com propósito, por isso as marcas devem sempre destacar a importância do trabalho para além do salário, baseados em uma causa. A pedido de PODER, a diretora da Umanas apontou algumas situações que podem ser indícios de que é preciso “olhar para dentro”: clima organizacional desfavorável e com muitos problemas internos; crescimento estagnado; alta rotação de funcionários; dificuldade para atrair o público-alvo e alto grau de dependência dos gestores. “Quanto mais as equipes participam do dia a dia das tomadas de decisões, maior a chance de atingirem altas performances.” n por aline vessoni
FOTO DIVULGAÇÃO
OLHAR PARA DENTRO
CARTAS cartas@glamurama.com
ARTISTA TOTAL
Luís Miranda no Ensaio: adoramos (PODER 127)! Gérson Silva, São Paulo (SP)
FOTO MAURÍCIO NAHAS
EXCÊNTRICO, EU?
Descobri com a reportagem sobre os CEOs esquisitões da última PODER (edição 127) que esses superexecutivos são gente como a gente até mesmo no direito de ser esquisitos. Roberta Senner, Sorocaba (SP)
/poder.joycepascowitch
CASHLESS
ESQUERDA
Posso parecer um velho saudosista, mas é muito recente o tempo em que as pessoas mal utilizavam os serviços bancários com medo de confisco de dinheiro da conta (“Pague aqui”, PODER 127). Tenho saudades dessa época em que dava tempo de bater um papo ao vivo, sem aplicativos. E olha que me considero adepto das novas tecnologias. Paulo Ribeiro, São Paulo (SP)
@revistapoder
Foi legal vocês falarem dos novos políticos americanos, muitos deles querendo concorrer à Presidência (PODER 127). É bom saber que há gente que luta pelo que interessa. Martha Nunes, Rio de Janeiro (RJ)
AGENDA PODER
COMETA +sapatariacometa.com.br BRUNELLO CUCINELLI +brunellocucinelli.com HUGO BOSS +hugoboss.com RICARDO ALMEIDA +ricardoalmeida.com.br YVES SAINT LAURENT +ysl.com
@revistapoder
O conteúdo da PODER na versão digital está disponível no SITE +joycepascowitch.com
PODER JOYCE PASCOWITCH 63
O Brasil possuir um herói literário como Chico Buarque (aqui na linda foto de João Wainer), o mais recente ganhador do prêmio Camões, chega a ser um problema em tempos de crispação política. Pois é de se supor que mesmo aqueles que têm de odiar Chico por conta da simpatia-quase-amor do artista pelo PT sabem que sua obra é monumental. E defender Chico, algo que chega a ser um exercício de tautologia, pode soar um tanto elitista perante os estratos mais ignaros e belicosos que apoiam as novas forças. É sempre o conjunto da obra que o Camões, criado em 1988, celebra. Dalton Trevisan, Ferreira Gullar, João Ubaldo Ribeiro, entre outros brasileiros, antecederam Chico na plêiade de vencedores do prêmio. Chico foi lacônico no agradecimento, dizendo-se “feliz e honrado por seguir os passos de Raduan Nassar”. Alguns admiradores foram bem mais eloquentes, ponderando que se Chico escrevesse em inglês, o Nobel não teria ficado com Bob Dylan.
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FOTO JOÃO WAINER
SAMBA E AMOR
É com muito orgulho que o Grupo Glamurama apresenta seu caçulinha, o berinjela.com, onde selecionamos produtos de várias marcas pra lá de especiais – e, viva!, para comprar na hora. Com esmero, tentamos separar o joio do trigo, e elegemos o que cremos ser a cara de nossas leitoras. E vamos além do estilo: aqui só entra o que é feito de forma ética e sustentável. Clique e fique à vontade!
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