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Casino. Por Ney Figueiredo
ELEGANTE, SOFISTICADO,
DEMOCRÁTICO
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Defendendo a ideia de que o bom design é para todos, a francesa Charlotte Perriand ocupou um lugar de destaque, sobretudo na concepção da “nova casa modernista”, e se tornou uma referência que permanece presente até hoje
POR ANA ELISA MEYER
Charlotte Perriand fotografada por Pierre Jeanneret na Chaise Longue Basculante, 1929 A rquiteta de formação e responsável por consagradas obras de design mobiliário, Charlotte Perriand foi algumas vezes ofuscada, ao longo de sua produtiva carreira, por seus companheiros de trabalho, sobretudo pelo renomado Le Corbusier.
Nascida em 1903, em Paris, filha de um alfaiate e uma modista, aos 17 anos Charlotte ingressou como bolsista na École de l’Union Centrale des Arts Décoratifs, onde estudou desenho de mobiliário por quatro anos. Para complementar a formação, teve aulas nos ateliês de pintura de Bernard Boulet de Montvel e de André Lhote, e frequentou os cursos de Maurice Dufrêne nas Galeries Lafayette e de Paul Follot no Le Bon Marché – duas grandes lojas de departamento francesas que instituíram seus próprios estúdios de design após a Primeira Guerra Mundial. Ali eram oferecidas atividades mais práticas do que nas escolas de perfil acadêmico. Em 1926, financiada por seus pais, apresentou a composição intitulada Coin de Salon no Salão Anual da Societé des Artistes Décorateurs de Paris.
Sua ousadia ao mesclar na obra elementos de madeira e vidro foi vista como uma atitude pueril. Por outro lado, o trabalho agradou o comerciante de tecidos Percy Scholefield, um inglês amigo da família, que adquiriu a peça para mobiliar seu próprio apartamento. Mais tarde, enfrentando a opinião familiar contrária, Charlotte casou-se com Percy, 20 anos mais velho do que ela.
AFINIDADE COM LE CORBUSIER
Charlotte Perriand acreditava que a arquitetura deveria atender às necessidades humanas e desde o início projetou espaços interiores amplos, de plano aberto, buscando garantir que as mulheres não se sentissem presas ou excluídas do convívio em suas casas. Essas ideias estão bem representadas no projeto Bar sous le Toit, uma recriação de uma dependência de seu próprio apartamento, que ela apresentou no Salon d’Automne em 1927. A composição chamou a atenção do já então prestigiado arquiteto naturalizado francês Le Corbusier. Ele precisou rever sua opinião diante do desempenho excepcional da jovem que meses antes, ao buscar uma vaga em seu escritório, tinha sido rejeitada com um grosseiro “nós não bordamos almofadas aqui”. A obra Bar sous le Toit o obrigou a rever seu julgamento e convidar Charlotte para trabalhar em seu ateliê com o status de associada e como designer de mobiliário de seus projetos, que até então eram mobiliados com objetos que não eram de autoria de seu próprio ateliê.
Com a necessidade de dispor diferentes produtos na cozinha, o armazenamento tornou-se uma das grandes preocupações para o design de interiores do pós-guerra. Charlotte Perriand foi pioneira nessa questão; desenhou e concebeu a “cozinha aberta” para os apartamentos da Unité d’Habitation, projeto de Le Corbusier edificado em Marselha entre 1947 e 1952 e que representou uma revolução na concepção da vida familiar. Para criar tal conceito, Charlotte basicamente dispôs os armários de forma a auxiliar a organização do próprio espaço arquitetônico. Para ela, a dona de casa precisava ganhar liberdade, se mover e alcançar os produtos e utensílios com facilidade. E com a nova cozinha, a família e os amigos penetravam o espaço do trabalho doméstico. Foi assim que nasceu a cozinha funcional como um espaço de convivência.
Acima a estação de ski Les Arcs, em Savoie, França, 1967, e abaixo a reprodução da casa de chá encomendada pela Unesco, 1993
Nos anos que se seguiram, a estreita colaboração entre Charlotte, Corbusier e Pierre Jeanneret, primo do arquiteto, fez com que os espaços internos dos projetos se qualificassem e se tornassem ainda mais nitidamente funcionais. A combinação entre as claras funções do espaço interno e o mobiliário desenhado dentro da mesma concepção arquitetônica radicalizaram de forma ainda mais precisa o conceito da “casa como máquina de morar”. As peças, sempre marcadas com a designação LC Collection, passaram a refletir o caráter de seu tempo, tomando emprestadas as ideias da indústria automobilística e aeronáutica, resultando em objetos icônicos do século 20. A poltrona Grand Confort, em forma de cubo, a Chaise Longue Basculante e a cadeira giratória de couro entraram para a galeria dos móveis representativos do pensamento modernista.
Os dois tiveram uma relação profissional intensa, porém um tanto quanto eclipsada pela notoriedade de Corbusier. Em 1937, Charlotte deixou o ateliê do mestre e, numa reviravolta interessante, passou a observar de forma intensa a natureza em busca de inspiração. Focou seu trabalho em interesses sociais, em projetos igualitários e populares. No fundo o funcionalismo, no caso de Charlotte, sempre almejou a democratização da organização dos espaços domésticos.
CARREIRA SOLO
Comunista entusiasmada e influenciada pelos anos que passou no Japão, Charlotte voltou a França em 1940
determinada a projetar móveis de baixo custo para produção em massa. Revolucionou o ambiente doméstico por acreditar que uma casa deveria ser bela, mas funcionar bem. Propôs substituir o velho conceito de “decoração de interiores” por um outro, novo e baseado em uma organização da casa e da vida cotidiana que conjugasse função e beleza. Passou a substituir o cromo, material caro na época, por materiais tais como madeira e bambu, matérias-primas inovadoras e que havia aprendido a manusear no Japão. Fez uso de técnicas de construção manufaturada tendo em vista móveis e objetos arquitetônicos acessíveis e atraentes para a crescente presença da classe trabalhadora. Para ela, não havia método ou estilo prescrito: “Nem metal nem madeira, indústria nem artesanato devem dominar”, disse ela, porque “usamos cada um em seu lugar ideal”.
Adepta prematura da reciclagem, Charlotte Perriand sempre que possível utilizava os restos de madeira e pedras como esculturas a serem exibidas em uma casa. Outra convicção da arquiteta e designer era a de que obras de arte eram elementos essenciais e que deveriam fazer parte da vida cotidiana – outro importante aprendizado da cultura japonesa. Das suas colaborações com artistas, se destacou uma obra de Fernand Léger encomendada para um espaço criado em 1935, e impressões de desenhos de Pablo Picasso, que foram usadas em um projeto de habitação popular.
PROJETOS ARQUITETÔNICOS
Em uma época na qual era ainda incomum a presença feminina na arquitetura e no design, a carreira de Charlotte inclui trabalhos icônicos dos quais participou enquanto atuava no escritório de Le Corbusier. Da sua parceria com o arquiteto, vale ressaltar as residências modernistas Villa Savoye e a Villa Church, e a Cité de Refuge de l’Armée du Salut, que hoje abriga a Fundação Le Corbusier. Porém, realizou outros projetos igualmente representativos e elaborados exclusivamente por ela e, dentre eles, a extensa estação de esqui de Les Arcs, na França de 1967, onde ao dispor os edifícios acompanhando a topografia da montanha, organizou os blocos de apartamentos em uma série de terraços escalonados descendo a encosta, garantindo assim que as vistas da montanha fossem preservadas e usufruídas. Posteriormente, foi adicionada a esse conjunto de obras uma casa de chá japonesa encomendada pela Unesco em 1993.
Charlotte Perriand morreu em 1999, aos 96 anos, mas sua influência nos rumos do design, da arquitetura e da arte, sempre baseada nas suas ideias modernistas, permanece na maneira como vivemos ainda hoje, desde a presença de materiais como alumínio, aço e madeira, até sua crença de que bom design é para todos. n
De cima para baixo: Charlotte em seu estúdio, 1991; biblioteca modular para a La Maison du Mexique na Cité Internationale Universitaire de Paris, 1952; projeto Bar Sous le Toit, 1927
PODER VIAJA
POR ADRIANA NAZARIAN
GUARDASOL
São apenas cinco suítes espalhadas por um coqueiral com vista para o mar paradisíaco de Alagoas. Localizado em Japaratinga, pertinho de São Miguel dos Milagres, o Pé na Areia é um novo hotel butique para quem anda sonhando com uma temporada de sombra e água fresca. Além de passar o dia na piscina embalada pela brisa, os hóspedes aproveitam passeios mágicos pela região – bicicletas, standups e caiaques estão à disposição –, que inclui piscinas naturais e praias absolutamente únicas.
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ERA UMA VEZ
Brigitte Bardot, Audrey Hepburn e outros tantos da mesma importância não visitavam Capri sem garantir seu quarto no lendário La Palma. Pois eis que um dos hotéis mais antigos do destino, pertinho da famosa Piazzetta, será reaberto pelo grupo Oetker Collection – a.k.a Le Bristol Paris, e Eden Roc – St. Barths, Palácio Tangará e outros. Entre os destaques do projeto italiano estão o restaurante comandado por Gennaro Esposito, duas estrelas Michelin, a piscina deliciosa, o rooftop com vista para a cidade e o beach club do hotel, localizado na Marina Piccola. Com previsão de abertura para abril do próximo ano, o endereço promete se tornar ponto de encontro dos viajantes experientes, mas também dos locais.
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Clima colonial, ruelas de paralelepípido, construções históricas e cantinhos cheios de bossa escondidos por toda parte: Barichara é um destino imperdível para os viajantes interessados em experiências nada óbvias na Colômbia. A boa notícia é que o vilarejo ganhou recentemente uma hospedagem à altura: a Yahri é uma coleção de villas privativas no charmoso bairro de La Loma. Além de uma curadoria de experiências especiais, como jantar na casa de um chef local, o grupo oferece guias e motoristas tarimbados para desbravar as inúmeras trilhas e raftings que marcam a região.
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COBERTURA EXTRA
São novos tempos e nada como tomar um cuidado extra nos próximos voos. Pensando nisso, a Lady and Butler lançou uma linha que promete virar hit entre os viajantes – a marca já assinou uniformes para uma série de empresas como Four Seasons, Equinox e Soho House. Batizada de Better off Alone, a coleção foi desenvolvida com uma tecnologia antimicróbio, que reduz a contaminação das superfícies com micro-organismos. Há desde kits viagem com máscara, cobertor, travesseiro e proteção de poltrona, mas também roupas feitas para encarar aviões, trens e afins.
+BETTEROFFALONENEWYORK.COM
EXCELÊNCIA NAS ALTURAS
Se fosse apenas pela sensação de flutuar em meio ao mar de montanhas verdes do Vale do Quilombo, a ida ao CASTELO SAINT ANDREWS já valeria a pena. Mas a experiência de chegar ao mirante cercado pela natureza de Gramado, na Serra Gaúcha, é só o começo de uma estadia que se torna inesquecível pelos diferenciais e serviços personalizados que o hotel dispõe. A começar pela excelência gastronômica do restaurante Primrose, de clima intimista, cozinha contemporânea e dono de uma das melhores cartas de vinhos do mundo. Os festivais com safras raras de vinhos e champanhes acontecem ao longo do ano em parceria com as melhores marcas internacionais. A charmosa biblioteca, o cigar lounge, os gazebos, a sauna e a piscina coberta estão entre os atrativos dessa construção arquitetônica inspirada nos castelos escoceses – sem falar que o Saint Andrews é o único hotel de montanha do país membro da Relais & Châteaux, associação que reúne os melhores hotéis e restaurantes do mundo.
+SAINTANDREWS.COM.BR
POR FERNANDA GRILO
NELSON MOTTA
Jornalista, escritor, roteirista, compositor, produtor musical, teatrólogo e letrista. Todas funções exercidas com maestria ao longo dos mais de 50 anos de carreira. A autobiografia De Cu pra Lua: Dramas, Comédias e Mistérios de um Rapaz de Sorte (ed. Estação Brasil) nem bem saiu do prelo e este frenético assumido já está imerso em outro livro.
NÃO PODE FALTAR NO CAFÉ DA
MANHÃ: Café Nespresso.
O QUE NUNCA FALTA NA SUA CASA:
Comida boa feita pela Mari há 30 anos. Ela é uma cozinheira genial. UMA INQUIETUDE: A finitude. NAMORADA DOS SONHOS: A atual, Drica. PESSOA QUE TE INSPIRA: Meu pai (Nelson Cândido Motta). FRASE: “Quem recebeu mais tem que dar mais”, do meu pai. SONHO DE INFÂNCIA: Crescer rápido. ÍDOLO: Não tenho mais idade para ter ídolos... (risos). VÍCIO: Tabagismo eletrônico. MANIA: Viver intensamente cada momento. SER BEM-SUCEDIDO É: Ser feliz. ONDE E QUANDO É MAIS FELIZ: Nas viagens. Seria aqui e agora se não fosse a pandemia. MEDO: Não de morrer, mas de sofrer. COM O QUE SE PREOCUPA: Com minha família, prioridade total.
O QUE FARIA SE FICASSE INVISÍVEL
POR UM MINUTO: Dava um susto nos meus netos.
COMO SOBREVIVER À PANDEMIA?
Em casa.
ESTADO MENTAL NESTE MOMENTO?
Apreensivo naturalmente, mas sempre otimista.
O FIM DO MUNDO ESTÁ PERTO?
Estamos vivendo uma versão reduzida do fim do mundo. O mundo acabou para milhões e milhões de pessoas. DESEJO PARA O FUTURO: Sobreviver com saúde e lucidez.
PESSOA QUE TODOS DEVERIAM CONHECER:
O escritor Zuenir Ventura.
PECADO GASTRONÔMICO:
Tudo que é doce.
OCUPAÇÃO PREFERIDA:
Escrever.
O DISCO DOS DISCOS:
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles.
LIVRO: Gabriela, Cravo e Canela (1958), de Jorge Amado.
MELHOR HORA DO DIA:
Dez da manhã.
UM SOM: Das ondas do mar. Com gaivotas.
O QUE FALTA REALIZAR:
Viver 100 anos.
MELHOR FILME:
O Grande Lebowski (1998), dos irmãos Coen [Joel e Ethan].
UM ARTISTA: João Gilberto.
MOMENTO DE MAU HUMOR:
Às vezes depois de dormir mal. Mas é raro.
PEÇA DE ROUPA: Camiseta.
LUGAR PREFERIDO NO MUNDO:
Minha casa em Ipanema.
HIGH-TECH
POR FERNANDA BOTTONI
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CULTURA INC.
POR LUÍS COSTA
A VIDA COMO ELA É
Com primeiro longa de ficção previsto para este ano, o jornalista João Wainer quer contar no cinema histórias que viveu em mais de duas décadas de jornalismo diário
João Wainer tinha apenas 19 anos quando, já repórter da Folha de S.Paulo, ouviu do cineasta Cacá Diegues um conselho. “Queria fazer cinema e ele me recomendou ficar no jornalismo mais tempo, para ver o mundo como ele é de verdade”, lembra Wainer, hoje com 44. O rapaz seguiu a ideia e, mais de duas décadas após uma sólida carreira na imprensa, assina enfim o primeiro longa de ficção.
Wainer acaba de entrar para o time da produtora TX, ao lado de Camila Villas Boas e do irmão Roberto T. Oliveira, com quem
já fez dobradinha em documentários. O drama 4x4, filmado em 2018 e previsto para sair no segundo semestre, é também a primeira ficção da produtora.
O filme é uma adaptação do roteiro do argentino Mariano Cohn, que rodou o longa no país vizinho em 2019. A premissa é a mesma: um ladrão (no Brasil, vivido por Chay Suede) arromba um carro, tenta levar o que encontra, mas quando vai sair percebe que está preso. Ele é pego por uma armadilha do dono do veículo (Alexandre Nero), que inicia um jogo de tortura psicológica.
“O filme é sobre esse momento de ódio. Um cara cansado de ser roubado e que decide fazer justiça com as próprias mãos. Ele escolhe aleatoriamente um ladrão e resolve pôr para fora o ódio que sente de muitas coisas”, explica Wainer.
O diretor trouxe das ruas para a ficção o olhar de duas décadas de jornalismo diário. “Eu viajei o mundo, vi tragédias, vitórias, pessoas morrendo, nascendo. Na hora de filmar, isso me serviu para construir os personagens”, diz.
Wainer começou aos 16 anos no Jornal da Tarde, foi assistente do fotógrafo Bob Wolfenson, passou pelo sensacionalista Notícias Populares. Na Folha de S.Paulo, foi repórter fotográfico, editor de imagem e criador do projeto TV Folha. Ainda no jornal, começou a tocar os projetos pessoais, como o documentário Pixo (2009), que mostra o cotidiano de pichadores em São Paulo. Wainer deixou o jornal em 2015 e trabalhou com séries documentais, videoclipes e publicidade.
Agora, com a bagagem de uma vida nas ruas, projeta novas ideias na ficção. “Há muita história que vivi e quero contar daqui pra frente”, diz o diretor. Entre elas, a da facção criminosa PCC (sobre a qual já filmou série documental para o UOL), histórias que conheceu no Carandiru e do extinto Notícias Populares. “Quero transformar em ficção uma parte considerável de experiências que vivi na linha de frente da notícia”, revela. n
TEATRO EM FÚRIA
Uma personalidade destemida e uma audácia de fazer teatro no Brasil estão nas páginas de Ruth Escobar – Metade É Verdade (Sesc), biografia escrita pelo dramaturgo e pesquisador Alvaro Machado. No Brasil, Ruth Escobar (1935-2017) montou peças com escândalos morais e apostou em montagens de vanguarda e libertárias em meio à ditadura. “Ela captou dinheiro da burguesia, mas produziu ataques frontais tanto à moralidade católica quanto à censura”, conta o autor. Para Machado, ela contribuiu para arejar o ambiente teatral com a chegada de autores, diretores e a produção de festivais. “Ruth trouxe esse adubo cultural e intelectual ao teatro”, diz.
AS RUAS POR ELAS
Gulnara Samoilova, fotógrafa russa radicada em Nova York, publicou em livro um dos projetos a que mais tem se dedicado. Women Street Photographers (Prestel, US$ 35) reúne o trabalho autoral de 100 fotógrafas de rua de diversas partes do mundo. A publicação é um desdobramento do projeto homônimo que Gulnara criou em 2017 para fomentar a maior participação de mulheres na fotografia – sobretudo no chamado street photography, gênero em que a câmera capta pessoas, espaços e cenas das ruas. No Instagram @WomenStreetPhotographers, trabalhos são expostos diariamente. A iniciativa tem ainda um programa de residência artística em Nova York e exibição anual de fotografias.
DOCUMENTÁRIO
COMIDA NA MESA
Série documental recupera clássico da alimentação no Brasil e investiga ingredientes, modos de preparo e hábitos que formaram a mesa cotidiana do brasileiro
Um clássico da literatura brasileira chega às telas. Escrito em 1967, História da Alimentação no Brasil, do antropólogo potiguar Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), virou uma série documental homônima, disponível na Amazon Prime Video. A equipe, comandada pelo diretor Eugenio Puppo, rodou por Brasil e Portugal para decifrar a mesa do brasileiro. Na pesquisa, centenas de documentos, entre cartas, anotações e fotografias do acervo de Cascudo, o mais importante folclorista brasileiro. “Não se trata apenas de um apanhado aleatório de visões sobre a alimentação, há sempre o fio condutor da narrativa desenvolvida pelo próprio Cascudo”, diz o diretor.
O antropólogo via a alimentação brasileira como resultado da triangulação das influências de Portugal, da diáspora africana e da herança indígena. A história da alimentação é, portanto, também a história da sociedade brasileira. Na série, ao lado dos cozinheiros, dos mestres artesãos, dos feirantes, antropólogos e sociólogos discutem os significados sociais e políticos da comida no Brasil. “Não é possível conceber a vida em sociedade sem olhar para a alimentação”, diz Puppo.
A série registra técnicas que estão desaparecendo, hoje apenas mantidas pelas mãos de poucos, como a preparação artesanal do azeite de dendê. “Cascudo defende que a sabedoria dos preparos tradicionais seja preservada, no sentido de valorização de uma memória cultural coletiva”, afirma o diretor, que considera ainda mais importante garantir a variedade dos ingredientes e a preservação dos nutrientes e dos sabores naturais. “Isso passa por toda uma mudança de mentalidades, que só pode ser obtida com profundo conhecimento da própria história.”
SUL DA FRONTEIRA, OESTE DO SOL
Haruki Murakami (Tradução: Rita Kohl)
Alfaguara
Este romance curto de 1992 narra a educação sentimental, amorosa e principalmente sexual de um protagonista que tem tudo para ser alter-ego do escritor.
BAIXO ESPLENDOR
Marçal Aquino
Companhia das Letras
O grande Marçal Aquino retorna ao romance numa trama sobre uma quadrilha de roubo de cargas tendo a ditadura brasileira como pano de fundo. Uma grande história para se deixar levar. As escolhas literárias do mês pelo editor Paulo Werneck
CABEÇA BRANCA
Allan de Abreu
Record
O repórter da Piauí escreve sobre um dos maiores traficantes de cocaína do planeta, que herdou do pai rotas de contrabando de café no Paraná e passou décadas nas sombras, despistando a polícia e fornecendo drogas e logística para máfias internacionais.
SOB UM CÉU BRANCO
Elizabeth Kolbert (Tradução: Maria de Fátima Oliva Do Coutto)
Intrínseca
Não é de hoje que alteramos as feições do planeta, com danos graves para a vida e o clima. Mas como a geoengenharia e a ciência podem transformar a terra, as águas e a atmosfera para reverter a crise ambiental? Uma reportagem incrível de uma ganhadora do Pulitzer.
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GESTÃO ORGANIZAÇÃO LIDERANÇA
POR AMIR SOMOGGI
Oesporte de alto rendimento exige a profissionalização de sua administração. As grandes ligas dos Estados Unidos como NFL e NBA e as europeias, como Premier League e LaLiga, tiveram há tempos um marco regulatório para a gestão dos times enquanto o Brasil, até hoje, não encontrou uma legislação que acelere a transformação dos clubes de futebol em companhias – desde 1993, e com mais intensidade a partir de 1998, já se fala sobre isso por aqui, mas sem nenhuma bola dentro.
Na Europa, o início da década de 1990 mudou para sempre a gestão dos clubes. Se hoje as ligas e seus times são gigantescos economicamente, tudo se deve ao modelo empresarial da sua gestão no qual praticamente todos os clubes são empresas – é comum times terem ações negociadas em bolsa, como o Manchester United e a Juventus.
A visão de um modelo empresarial foi colocada em prática com a profunda reestruturação vivida pelo futebol inglês e trouxe consequências diretas nos principais mercados europeus. Cada país criou leis adequadas ao que de mais moderno estava sendo vivido no mundo empresarial. As mudanças visaram adequar o esporte, que vivia uma gestão amadora, em algo profissional, nos moldes das grandes empresas. Raríssimas são as exceções, como os casos de Real Madrid e Barcelona, que se mantiveram como associações sem fins lucrativos e mesmo assim seguem em alta.
Holdings multinacionais também fazem parte. Segundo dados da Uefa, a associação europeia de futebol, 46% dos times são de proprietários de fora do continente, especialmente EUA, Ásia e Oriente Médio. O Fenway Sports Group, dos EUA, por exemplo, dono do Liverpool e do Boston Red Sox de beisebol da MLB, apresentou valuation de US$ 7,5 bilhões. Já o City Football Group, holding do Manchester City e mais nove times pelo mundo, foi avaliado recentemente em US$ 5 bilhões.
Enquanto isso no Brasil os clubes são entidades sem fins lucrativos, com baixa capacidade de atrair investimento, especialmente recursos de investidores internacionais. Atualmente há dois projetos de lei que tratam dos clubes empresa no país. Nos dois casos as leis cometem as falhas de suas antecessoras (Timemania e Profut) e não resolvem a péssima gestão onde clubes devem quase R$ 10 bilhões – 40% para o governo federal. Devem também para jogadores, treinadores, bancos, fornecedores e uma lista gigantesca de credores.
Mesmo assim é possível fazer seu valuation. Segundo estudo publicado pela Sports Value em dezembro de 2020, os Top 30 times do Brasil somados valiam R$ 25 bilhões, cerca de US$ 5 bilhões – Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Internacional encabeçam a lista dos mais bem avaliados economicamente. Os números modestos mostram claramente como a má gestão, falta de boas práticas de administração, ausência de compliance e ESG foram preponderantes para nosso fracasso administrativo.
O marco regulatório do clube empresa no Brasil deve seguir pelo caminho do modelo de gestão saudável e eficiente, obrigando que as novas companhias sigam regras rígidas para não sofrerem punição esportiva severa, como rebaixamentos por má administração. E junto com o projeto de clube empresa, a criação da Liga Brasileira, com os 20 times da Série A e 20 times da Série B, independentes da CBF e federações estaduais. Uma potência empresarial, com 40 companhias bem geridas. A NBA é assim, a NFL e Premier League também. Por que não no país do futebol? n
Amir Somoggi é administrador de empresas pós-graduado em marketing esportivo, sócio da Sports Value e profundo estudioso da Football Industry da Europa
Quando a convenção do Partido Democrata americano começou a decidir quem iria enfrentar Donald Trump em 2020, muitos jovens e progressistas se entusiasmaram com a plataforma da deputada Alexandria Ocasio-Cortez, que propôs um novo “New Deal”, que, muito diferentemente daquele de Roosevelt no pós-guerra, mirava na agenda ambiental. O “Green New Deal” de AOC prevê a substituição do combustível fóssil como matriz energética e a neutralidade das emissões de carbono pelos Estados Unidos já em 2030. Poucos imaginariam é que Joe Biden, uma vez eleito presidente, iria levar esses objetivos à frente, e mais, fazer deles um instrumento importante de liderança mundial. A cúpula dos líderes que ele convocou em abril foi uma demonstração de força – e a ela não faltaram Xi Jinping e Vladimir Putin, presidentes da China e da Rússia, com quem Biden vem antagonizando. Estados Unidos e China são os maiores emissores de carbono do mundo, e, sem o esforço concentrado desses países, as ações de outros países não revertem o aumento de temperatura da Terra. Só que a meta americana do carbono zero de AOC para 2030 ganhou mais 20 anos de lambuja. Assim, talvez até mesmo o Brasil consiga controlar o desmatamento ilegal, de fato, antes. Na cúpula, Bolsonaro comprometeu-se com esse objetivo para 2030. Colocado entre os últimos de uma longa fila de chefes de Estado, falou sem ser ouvido por Biden, que precisou se retirar por algumas horas durante o evento.