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ANOS DOURADOS

MEMÓRIA ANOS DOURADOS

Nos anos 1960, um concurso era o sonho das meninas bemnascidas do Rio de Janeiro: o Senhorita Rio. De lá surgiam ícones da beleza carioca, como Angela Catramby e Martha Surerus, e moças que conseguiam um bom casamento – teve até a que se desviou para a pornochanchada

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por renato fernandes

Volta e meia o concurso Senhorita Rio não põe a mesa. A eleita revelará uma série de dos anos 1960 é saudado na dramaturpredicados como culinária, comportamento e gia brasileira. Na peça Estúpido Cupido, cultura geral, que a farão a esposa almejada peem cartaz no Rio, o papel da atriz Franlos solteiros”, dizia o texto do jornalista José çoise Forton foi inspirado em uma vencedora. Rodolfo Câmara na revista Manchete, em 1961. Já na novela Aquele Beijo, de 2011, de Miguel O que hoje soa como horror às feministas, Falabella, Bruna Marquezine viveu Belezinha e naqueles anos não importava, ao contrário, levou a faixa, provando que o concurso vive até não faltavam candidatas repletas de sonhos, hoje na memória afetiva dos cariocas. O evenilusões e gotas de vaidade. Tanto é que muito, criado em 1961 no Clube Monte Líbano, titas festas giravam em torno do concurso. “A nha patrocínio do jornal O Globo e o objetivo alta sociedade abria os salões para o Senhoride enaltecer a beleza das meninas-moças do ta Rio, fui a muitos cocktails promovidos na Rio. Tudo com muito glamour, sofisticação e avenida Rui Barbosa”, conta para a J.P Pedro sem torcidas organizadas. Nele, as mocinhas, Aguinaga, que chegou a ter um romance com por volta dos seus 16 anos, tinham sua noite Maggy Tocantins, a vencedora de 1967. de princesa, desfilando na passarela dois trajes, O júri era composto por nomes de peso como um de gala e outro esporte. Maiô, nem pensar. os jornalistas Zózimo Barrozo do Amaral, JusUm perfil diferente dos concursos de miss. “No tino Martins, estrelas da Globo, como Yoná nome do concurso vai toda sua sutileza: não se Magalhães e Regina Duarte, e Maria Augusta, trata de eleger uma miss, mas uma senhorita fundadora da Socila, escola de boas maneiras, Rio. Para a candidata obter o título só a beleza desfile e postura – ela batia cartão lá, todos os

FOTO ARQUIVO PESSOAL RENATO FERNANDES

Martha Surerus e Angela Catramby: o sucesso do Senhorita Rio era tanto que elas ganhavam as revistas de moda da época

anos. Não por acaso, Maria Augusta era uma das maiores caçadoras de talentos para o Senhorita Rio. Realizado no fim do ano, ele vive seu apogeu no Canecão em 1968 e 1969, os anos que lançaram Angela Catramby e Martha Surerus. Tom Jobin era fã das garotas. Já nos anos 1970, começa o declínio, mudando o perfil do concurso. A santista Jane Macambira, eleita em 1970, percorreu os concursos de miss, se elegendo Miss Guanabara, em 1972, e terceiro lugar no Miss Brasil e ainda tinha no currículo o “rainha das praias de Santa Catarina”. O objetivo do Senhorita Rio não era por aí.

Em 1971, a gaúcha Rogéria Gomes é eleita a derradeira Senhorita Rio. “Ela foi a última, o certame se acabou, deixando enorme saudade”, diz o missólogo Daslan Melo Lima. Na realidade, os tempos tinham mudado: no início dos anos 1970, a modelo Rose Di Primo veste uma tanga, sobe numa moto e arranca para novos tempos da mulher carioca. Senhorita? Coisa do passado.

Mas algumas beldades marcaram o concurso e alcançaram o status de “ser a encarnação do próprio Rio”. Aqui, um pouco da história de Angela Catramby, Martha Surerus e Betty Saddy.

ANGELA CATRAMBY: SORRISO DO RIO

“Senhora Claudia.” Assim era conhecida a modelo Angela Catramby, 17 vezes capa da revista Claudia, da editora Abril. “Nós a chamávamos assim por causa das capas. Fora isso, ela era toda correta, direita, bem o perfil da mulher da revista na época”, diz o fotógrafo Antonio Guerreiro, autor de um dos cliques.

O QUE HOJE SOA COMO HORROR ÀS FEMINISTAS, NAQUELES ANOS NÃO IMPORTAVA, AO CONTRÁRIO, NÃO FALTAVAM CANDIDATAS

À esq., Angela Catramby recebe a faixa de Senhorita Rio, aos 16 anos. À dir., em uma das dezenas de capas de revistas femininas que fez nos anos 1970

Angela concorreu aos 16 anos, em 1968, com outras 40 candidatas. “A graça da sua idade, e um certo ar de Claudia Cardinale, a fez terminar a noite como a vencedora”, dizia a Manchete, para a qual ela fez seu primeiro ensaio e capa. O prêmio? Uma viagem a Tóquio com acompanhante e mais um cheque em dinheiro: 5 mil cruzeiros novos.

Angela nasceu e cresceu em Copacabana e estudou no tradicional Colégio Andrews. “Nessa fase, ela já era elegante, educada, simpática, parecendo bem mais madura que nós”, relembra o autor Flavio Marinho. Ambos foram colegas no Andrews e ela foi a musa inspiradora de Flavio para a peça Estúpido Cupido. Antenada, mesmo adolescente, já gostava da atriz Anouk Aimée, John Kennedy, Walt Disney e do filme Um Homem, uma Mulher, de Claude Lelouch. Também era muito educada, segundo os mais próximos. “Ela era uma princesa, uma doce princesa”, diz Pedro Aguinaga, o homem mais bonito do Brasil nos anos 1970.

Do concurso, ela nunca mais parou de fotografar: tudo por causa de seu sorriso perfeito e olhar cativante. Do primeiro casamento, teve quatro filhos. E mesmo na separação ganhou uma capa da revista Claudia, que mostrava que exemplar de mulher perfeita, agora também podia ser separada. Angela e a revista evoluíram juntas. Aos 40 anos, madura e bela, sempre, resolveu abrir um brechó descolado, só de marcas boas. Nunca teve o nome envolvido em

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“NUNCA FOI O MEU SONHO, MAS A INSISTÊNCIA PARA QUE PARTICIPASSE FOI MUITO GRANDE” – MARTHA SURERUS

rimônias, cantava para 47 candidatas. Porém, uma se destacava desde a inscrição: a loira Martha Surerus, representando o Fazenda Clube Marapendi, na Barra. Ela, da Tijuca, era filha de atleta. “Nunca foi o meu sonho, mas a insistência que eu participasse foi muito grande”, conta ela para a J.P, durante um bate-papo em um restaurante natural de Ipanema. O fato é que Maria Augusta, a caçadora de talentos e júri, insistiu tanto

que ela concorreu e venceu. Desde o momento que recebeu a faixa, a vida da doce normalista mudou. A Senhorita Rio era requisitada para tudo, até mesmo para surgir ao lado do Papai Noel em pleno Maracanã. Entregar a taça de campeão ao Flamengo? Convide a Senhorita Rio. Chegaram a inventar outro título: “A Namorada do Rio”. Era 1970, e lá se foi Martha entregar a faixa para Monique Lafond. E não é que Martha começa a figurar em editoriais de moda ao lado de Angela Catramby? Vieram também muitos comerciais para a televisão. Capas? Ao todo 57, que transbordam do seu book, que ela mostra com exclusividade para a gente. barracos e sempre foi querida na sociedade cavista que ela não tenha feito, ou melhor, muito rioca. Família toda vida. Em 2001, montou um mais de uma. Só de Desfile são cinco, ou mais. Fiestúdio fotográfico com a filha Shalimar. Decou conhecida na Argentina e no Uruguai como a pois de lutar contra um câncer durante anos, “niña da L’Oréal”, e seu rosto estampava todas as Angela Catramby faleceu, em fevereiro de 2016, lojas de cosméticos e drogarias. deixando no Rio eterna saudade. Até que um príncipe de 1,93 metro aparece MARTHA SURERUS: HIGH SOCIETY Acima, Martha e Angela estrelando editorial de moda juntas. Abaixo, à esq., Monique Lafond recebe faixa em sua vida: o empresário charmosão Eric Waechter. Apareciam nas colunas so

Em novembro de 1969, o conde Namorada do Rio de Martha ciais e nos salões do grand curso é apresentado por Regina Duarte e Arlete Salles no Canecão. Surerus. À dir., Martha em uma das 57 capas que estrelou monde. Martha passa a ser musa de colunistas: ZóziWilson Simonal, o mestre de cemo não vivia sem ela, Car- Desfile, Claudia, Nova, Mais. Não tem uma só re

los Swann também. Foram nos anos de badalações que Martha quase rodopia, em dias de doidivana. Passado. Com Waechter teve sua única filha. Hoje é completamente natural, adepta da medicina ortomolecular, estudou biochip, na PUC-Rio, e terrapia, na Fiocruz. Todas as manhãs faz aulas de unibiótica na praia de Ipanema e ainda é reconhecida pelos fãs. “Posso tirar uma foto com a Senhorita Rio?”, diz um desconhecido quando saímos do restaurante.

BETTY SADDY: A PIN-UP

Em 1969, uma outra candidata no ano em que Martha Surerus foi campeã chamava a atenção: Maria Elizabety Saddy, a representante do clube Monte Líbano. Moradora de Copacabana, pai comerciante, Betty trilhou outros rumos e se tornou um símbolo sexual nos anos 1970. Os convites para fotos com pouca roupa eram muitos, mas ela não cedia, queria se firmar como atriz. Fez novelas na Globo como O Bofe e A Patota, de 1972, e Corrida do Ouro, em 1974. Seu romance com o ator Fausto Rocha, da TV Tupi, ganhou as colunas de fofoca e suas curvas foram exploradas nas pornochanchadas da época.

Saddy estrelou filmes como Ninguém Segura Essas Mulheres, em que estrelava a esposa de Milton Moraes, e Com as Calças nas Mãos, ao lado de Carlo Mossy e Adele Fatima, de 1975. Sua capa da revista Ele & Ela, na mesma época, foi emblemática: aparecia nua, apenas com um grande laço vermelho, como se fosse um presente. Em janeiro de 1978, Betty é eleita, pela Manchete, uma das sex symbol de então, ao lado de Sandra Bréa, Kate Lyra e Vera Gimenez: “Não me arrependo [de posar nua]. Há algo mais bonito que o corpo de uma mulher?”, dizia ela na matéria.

“NÃO ME ARREPENDO [DE POSAR NUA]. HÁ ALGO MAIS BONITO QUE O CORPO DE UMA MULHER?” – BETTY SADDY

Betty Saddy, terceira colocada no Senhorita Rio, em 1969, nem precisou do título: ganhou a TV, virou símbolo sexual e surgiu quase nua na revista Ele & Ela

Depois de atuar na novela Cara a Cara, da Rede Bandeirantes, ela sai aos poucos de cena. Casa-se com Ricardo Clementino, com quem tem dois filhos, Marcelo e Eduarda. Hoje, com os cabelos loiros platinados, continua uma senhora bonita e pode ser vista no Facebook ao lado das netas, suas grandes paixões. n

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