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DE CONVERSA EM CONVERSA

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NOVA YORK

NOVA YORK

POR ANTONIO BIVAR

MÊS DO DESGOSTO. QUE É ISSO?! Mergulhar na leitura é a dica para passar o mês. A obra perfeita? O livro de cabeceira de Madonna a Vladimir Putin

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Antigamente alguém, só para rimar, soltou que agosto é o mês do desgosto. Todo mundo acreditou. Hoje se acredita menos nessa bobagem, mas de algum modo o bordão ainda é lembrado, e muitos até se preparam psicologicamente para os desgostos de agosto. E quando coincide de sexta-feira 13 cair em agosto, então, aí é que o temor se estabelece. Felizmente, para aliviar um pouco, 13 de agosto de 2018 cai numa segunda-feira. Menos mal. Mesmo que qualquer segunda-feira, seja que mês for, não é dia dos mais fáceis. Julho é que foi aquele estresse, com a

Copa russa. Não saiu nada do que esperávamos, e mesmo pra quem, como nós, nem é lá de futebol, na falta de melhor opção a gente até que entrou no espírito e torceu. O Brasil chegou na quarta, mas ficou por ali. Agora só nos resta Catar, em 2022. Brasileiro é muito galhofeiro e os trocadilhos infames começaram até antes da final da Copa russa. “Vai te Catar” caiu logo nas redes, assim como “Até lá a gente vai catando coquinho, catando piolho, catando o que der pra levar pra Catar”.

Enfim, é assim que o mundo gira. E nós, mesmo de natureza otimista, sabemos que a barra não está pra Chanel. Por conta das vicissitudes, brasileiro anda um tanto cético. Ainda assim, graças ao espírito tupiniquim, mesmo chafurdado no chinfrim o povo nasceu para torcer. E a torcida agora está toda voltada para as eleições. Ainda que aparentemente não se tenha em quem votar. Porque o voto é obrigatório. Daí que surgem as torcidas e o antigo clima de guerra é guerra. Só para irritar, já que ninguém se dá por convencido, torce-se para um ou para outro. Sentir-se-á vencedor o eleitor cujo votado ganhar. Brasileiro é muito assim.

Ainda que por dentro, a gen

FOTOS GETTY IMAGES; ISTOCKPHOTO.COM; DIVULGAÇÃO

te vê a coisa mais do lado de fora. Assim sendo, o melhor que se tem a fazer é ler. Eu não li, mas me contaram que Catarina, a Grande & Potemkin é o livro da hora. O autor é Simon Sebag Montefiore, historiador inglês. Mesmo Fernanda Montenegro, Jocy de Oliveira e Iara Jamra defendendo a prata de casa, a escritora Hilda Hilst – a grande homenageada da Flip 2018 – a atração maior foi o autor de Catarina e Potemkin. Com o tema O Poder na Alcova, em sua mesa, com dois entrevistadores, Montefiore falou de seu livro. A tradução é de Berilo Vargas, para a Companhia das Letras. O calhamaço, mais de 800 páginas, lá fora lançado há 14 anos, só agora foi traduzido e publicado no Brasil. No marketing da obra consta que, em 2000, quando saiu, Vladimir Putin, nesse ano em que assumiu a Presidência da Rússia, a teve como livro de cabeceira. Putin o de vorou. Não só ele, mas também Madonna,

Mick Jagger e Elton John.

Catarina foi imperatriz desde 1762 (quando, em uma conspiração forjad a , depôs o próprio marido, Pedro 3º) até sua morte, em 1796. Era polonesa, nobre, nascida em 1729, com o nome Ekatarina. Ainda adolescente foi mandada para a Rússia. Espertíssima, não demorou e tornou-se Catarina 2ª. Mais tarde, por seus feitos, “a Grande” foi acrescido ao nome.

O livro evoca a ardente relação entre a monarca do império russo e seu amante, o estadista Grigóri Potemkin (1739-1791). Marechal de campo, devasso, mas inteligente e sério, Potemkin foi no seu tempo equivalente ao que é hoje uma estrela do rock. Lendário, foi nome de navio e do filme de Eisenstein, O Encouraçado Potemkin, de 1925.

O romance vai fundo na ligação política e sexual entre a czarina e o marechal. Casal amante em ação, o império russo se expandiu, se modernizou, transformando-se em uma das maiores potências europeias.

Conhecida como déspota esclarecida, Catarina era fogosa, ninfomaníaca, colecionadora de amantes, sendo Grigóri Potemkin, da série, o mais famoso e o caso mais duradouro. Ele era ruivo, longa cabeleira, insa

ciável disposição para o sexo, as cartas picantes trocadas entre a dupla contribuem para a delícia desse livro repleto de histórias, metade delas passadas na cama. Sexo era a mola mestra, mas sobretudo alavancava o casal apaixonado ao poder, porque a energia sexual os tornava ambiciosos, atuantes, extravagantes, tolerantes, epicuristas e magnânimos. Esperto em estratégias e com total aprovação de Catarina, o estadista conquistou a Ucrânia, o Mar Negro e a Crimeia, ampliando as fronteiras para além das estepes da Bessarábia. n

ANTONIO BIVAR, escritor e dramaturgo, acredita que devagar e sempre, nesse passo, vai até honolulu

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