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AGOSTO 2018 N.119
TROCA DE GUARDA O que esperar do novo presidente do STF, JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI: antes mesmo de assumir, ele já é contestado por suas ligações históricas com o PT S.O.S.
Denise Santos, da Beneficência Portuguesa, mostra que lugar de mulher é no hospital – no comando
EXÍLIO DOURADO
O cotidiano de Adriana Ancelmo, a ex-primeira-dama do Rio, em sua prisão domiciliar numa cobertura da Lagoa
BEAT ACELERADO
David Solomon, o próximo CEO do Goldman Sachs, é DJ e iogue – novos tempos?
E MAIS
PEDRO CARDOSO sincerão; a realeza de JOHNNY MASSARO; IATES para cruzar o Mediterrâneo; a nobreza do queijo EMMENTHAL; GADGETS para bombar na pista e no escritório; e a JAMAICA que excita todos os sentidos
poder
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PODER JOYCE PASCOWITCH
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NESTE DIA DOS PAIS, ACERTE NO PRESENTE.
PODER EDITORIAL
L
idar com a opinião pública: esse é hoje um dos principais desafios, senão o principal, que aguardam o homem e a mulher de poder. O ministro do STF Dias Toffoli nem assumiu a presidência rotativa da corte, prevista para começar em setembro, e já é atacado por todos os lados. Saber como lidar com a eterna investigação, como se portar, ter claro o que dizer e o que não – Toffoli, aliás, tem preferido o silêncio –, como se deixar fotografar, tudo isso é cada vez mais complicado. Que o diga o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, cuja mulher, Adriana Ancelmo, condenada como ele, vem enfrentando os infortúnios da prisão. Ela não apareceu em fotos com um guardanapo amarrado na cabeça, como o marido, mas os dias na cobertura de 300 m2 na Lagoa, onde cumpre prisão domiciliar, não são exatamente glamourosos. É o que conta o repórter Chico Felitti, que revela, por exemplo, que Adriana corre do wi-fi como o diabo da cruz, já que o mero uso da internet pode levá-la de volta para a cadeia – aquela “old school”. Ser cuidadoso com a imagem não significa abdicar da atitude. Ao contrário. Caso de David Solomon, próximo chefão do Goldman Sachs, um tipo de predador financeiro que não perde a ternura: pratica ioga e até se arrisca como DJ. Por sua vez, a engenheira Denise Santos, CEO da Beneficência Portuguesa, instituição que atende 1,5 milhão de pacientes por ano e que ela dirige desde 2013 após ter se tornado a primeira mulher a comandar uma rede de hospitais do Brasil – a do São Luiz –, tem de equilibrar a vida de gestora de um gigante que nasceu filantrópico (mas que precisa “performar”) com a vida de mãe de primeira viagem. Tarefa nada simples, diga-se de passagem. Agora tarefa simples e deliciosa? Que tal desembarcar conosco na Jamaica? Aromas, sons… mas PODER também mostra que há muito a se ver por lá. Aqui também: iates para o verão mediterrâneo – quem não ama? –, a pinta do talentoso ator Johnny Massaro, os buracos perfeitos – e deliciosos – do queijo emmenthal e o cavalo indomável dos superesportivos de luxo. Todos a bordo: esta edição da PODER está apenas começando.
G L A M URAM A . C O M
ÚNICO Um novo paradigma está para decolar. Concebido para os viajantes mais exigentes, o G500™ é capaz de voar a mais de 90 por cento da velocidade do som, enquanto você desfruta de uma cabine espaçosa e extremamente confortável. Maximize seu tempo. Em um Gulfstream. GULFSTREAM.COM FABIO REBELLO | +1 407 454 1201 | fabio.rebello@gulfstream.com
MARESIA
A vida na prisão domiciliar à beira-mar está realmente transformando o casal MÔNICA MOURA e JOÃO SANTANA. Longe de Salvador, os publicitários, condenados em duas ações penais da Lava Jato vivem com suas tornozeleiras eletrônicas no condomínio de Interlagos, em Camaçari. Ela se dedica a uma pequena horta que criou na casa cinematográfica. Ele, como os demais companheiros também condenados, aplica-se à malhação – mas nada que se compare às seis horas diárias de exercício que Marcelo Odebrecht praticava em seus tempos de Curitiba.
Diferentemente do que ocorreu há quatro anos, quando também disputou o governo de São Paulo, PAULO SKAF (MDB) recebeu um comunicado avisando que, desta vez, não poderá usar as vitrines da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Serviço Social da Indústria (Sesi) em sua campanha. Se fizer isso, poderá ter a candidatura impugnada. A notícia é mais um desafio para ele, que já tem de driblar o obstáculo de sua proximidade política com Michel Temer, o cabo eleitoral que qualquer candidato quer bem próximo – do inimigo. A rejeição de 82% do presidente, segundo o Datafolha, é histórica.
Ventos Cearenses
O bom momento do Ceará segue forte como seus ventos. Sozinho, o estado gerou mais empregos no setor de turismo do que a soma de todos os outros estados que contrataram em junho deste ano. Os dados são da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O retrato cearense não reflete, no entanto, a realidade do setor em todo o país, que eliminou 7.743 postos de trabalho. De janeiro de 2013 a maio de 2018, somente Pernambuco (1,5%) e Ceará (0,9%) registraram crescimento no setor.
DOMINÓ
Com a disputa presidencial embolada, a escolha dos nomes para vice das chapas dominou a pauta semanas antes da data-limite para registro das candidaturas. O motivo é simples: em um período de 57 anos, o Brasil já foi comandado por quatro vices – JOÃO GOULART, JOSÉ SARNEY, ITAMAR FRANCO e MICHEL TEMER. Segundo a Constituição, o vicepresidente tem a atribuição de auxiliar o presidente “sempre que por ele convocado para missões especiais”. Nos bastidores, há quem defenda a exclusão do cargo, como fizeram México e Chile.
FOTOS CASSIANO ROSÁRIO/FOLHAPRESS; AGÊNCIA BRASIL; JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL; LULA MARQUES/AGPT; ISTOCKPHOTO.COM; PAULO FREITAS; REPRODUÇÃO FACEBOOK; DIVULGAÇÃO
COSTAS QUENTES
O AMOR
“Esquisitinho do sul”. Essa é a maneira carinhosa como ADRIENNE SENNA, ex-presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), se refere ao seu marido, o exministro da Justiça, da Defesa e do Supremo Tribunal Federal NELSON JOBIM. O jurista e político é de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
ROUPA VELHA
CINCO-ESTRELAS
Tem executivo querendo viver no hall L do Terminal 2E do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. A razão é simples: o novo Business Lounge da Air France, com capacidade para 540 pessoas, a maior sala de bem-estar entre os salões da companhia. O espaço possui bar com assentos em forma de camarote, área de refeição com ares de brasserie, chefs estrelados e menu de cocktails criado pelo Hotel Lancaster. Spa, sauna e chuveiros privativos são outros cuidados para os passageiros que não andam mais tão preocupados com os voos atrasados por lá…
Quem estiver esperando renovação política irá se decepcionar. Com a verba de campanha toda na mão dos partidos e sem a possibilidade de financiamento privado, os líderes das grandes legendas têm distribuído o dinheiro para os mesmos velhos nomes de sempre. Alagoas é um bom exemplo da não renovação: RENAN CALHEIROS e RENAN FILHO, ambos do MDB, lideram as disputas para reeleição ao Senado e ao governo do estado, respectivamente.
VIÚVA NEGRA
O Ministério Público arquivou o inquérito que apurava a participação de um terceiro envolvido no rumoroso crime conhecido como caso Yoki. Para Luciano Santoro, advogado da assassina confessa ELIZE MATSUNAGA, o que houve foi um grande desperdício de dinheiro público, já que no inquérito, que durou cinco anos, foram ouvidas 35 testemunhas e feitas diversas perícias para se chegar à mesma conclusão que o delegado do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) havia chegado em 2012. Confirmou-se que Elize sempre disse a verdade: não havia terceira pessoa, ela matou e esquartejou sozinha o ex-marido Marcos Kitano Matsunaga, herdeiro e na época presidente da empresa alimentícia Yoki. Vale lembrar que o Brasil registrou, em 2017, quase 60 mil assassinatos e o índice de impunidade nesses casos é de 90%.
ÁFRICA BRASIL
O tecelão e designer RENATO IMBROISI tem feito as vezes de guia em Moçambique para um seleto grupo de brasileiros. Em uma das últimas aterrissagens por lá, desembarcou com possíveis apoiadores de seus projetos culturais, entre eles a presidente da Fundação Bradesco, Denise Aguiar, para apresentar alguns trabalhos em comunidades de artesãos. Desde 2004, Imbroisi realiza uma série de obras na África – além de Moçambique, São Tomé e Príncipe é outro ponto de parada. “O objetivo dessas viagens, que acontecem uma vez por ano, é criar experiências e colocar em contato apoiadores e artesãos. Os grupos são de no máximo 12 pessoas, com educadores, designers, estilistas”", conta Imbroisi, que já começou a desenhar o cronograma de 2019. PODER JOYCE PASCOWITCH 11
3 PERGUNTAS PARA... JOSÉ SALIBI NETO, expert em gestão contemporânea, que trabalhou com gurus como Peter Drucker, Jack Welch e Philip Kotler. É coautor do livro Gestão do Amanhã
É AQUELA QUE ESTÁ EM PLATAFORMAS. AS QUE NÃO ESTÃO TENDEM A DESAPARECER?
Com certeza. A Nokia é um exemplo, viu o celular simplesmente como um instrumento de comunicação. Não entendeu que o mundo estava evoluindo em plataformas, como foi o caso da Apple. E a Nokia foi praticamente extinta desse mercado, que era quase 90% do negócio deles. Ou a Kodak, que não entendeu a tecnologia digital, apesar de eles mesmos a terem inventado, ou a Blockbuster, que não viu a evolução e a rapidez da tecnologia streaming e achou que as pessoas iam alugar vídeos em lojas. Por isso, as empresas que não se movimentam em função dessas plataformas, hoje estão fadadas a desaparecer. EMPRESAS COMO UBER, NUBANK E NETFLIX, ALÉM DE SER PLATAFORMAS CRIAM UM NOVO LIFESTYLE?
Veja o caso da Netflix, as pessoas estão indo menos ao cinema. Então, realmente, essas plataformas mudam a maneira como nós vivemos, mudam o
PARA MENINOS
comportamento do consumidor, mudam seus desejos. E as empresas vitoriosas são essas que conseguem ler as mudanças da tecnologia. Acredito que a principal função de uma escola de negócios não deveria ser simplesmente ensinar economia, nem contabilidade. Deveria, na minha opinião, ensinar os alunos a entender o ambiente tecnológico para poderem arquitetar seus negócios. Hoje, bons líderes precisam entender esses ambientes para poder criar serviços e produtos adequados ao momento. É o que chamamos de “líder conector”. Depois temos o que chamamos de “pense grande x pense bold”, que é uma nova maneira de pensar. Construir fábricas, construir lojas já não é a solução. O Facebook, por exemplo, é a maior empresa de mídia do mundo, na qual os jornalistas não são eles, somos nós. Ou a Airbnb, que é a maior empresa de hospedagem, mesmo sem possuir imóveis. Essa é a grande sacada, qualquer líder precisa entender de tecnologia. A grande questão é que ele não precisa apenas saber liderar pessoas, mas precisa ter a capacidade de entender as mudanças de ambiente.
FAZER PARA CONSTRUIR UMA EMPRESA QUE DURE?
As escolas de gestão vivem no passado e não estão tendo capacidade de ensinar esse mundo novo da tecnologia, com novas maneiras de pensar e estratégias. Eu falo das escolas em geral, mas principalmente as voltadas para gestão. As instituições de ensino ainda estão desenhadas para ensinar em um mundo que não existe mais. E se as escolas não entenderam, você mesmo tem de ser dono do seu conhecimento, o curador do que aprende. Você tem que ir para o mundo, visitar mais, aprender mais, buscar mais informações, entender as empresas modernas, porque a escola não ensina. Buscar o seu próprio conhecimento é fundaNO LIVRO VOCÊ FALA DE UMA SOCIE- mental para você vencer na nova economia, porque a velocidade não para DADE EXTREMAMENTE VELOZ. NESnunca, ela só aumenta. SA VELOCIDADE, O QUE É PRECISO
Alô, rapazes! Ótima notícia para vocês: uma engenhoca que tem feito a alegria das mulheres em consultórios dermatológicos, tratando do assoalho pélvico por meio de lasers e de forma simples – não requer nada além de sentar, com roupas, sobre uma máquina durante 28 minutos – acaba de ser aprovado também para homens. Na Europa, já começa a se ver tal engenhoca sendo usada para tratar questões ligadas à próstata.
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FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO
EM SEU MAIS RECENTE LIVRO VOCÊ DIZ QUE UMA EMPRESA MODERNA
“A grandeza de um homem não está na quantidade de riqueza que ele adquire, mas em sua integridade e habilidade de afetar positivamente as pessoas ao redor” BOB MARLEY
EM AGOSTO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO...
• Dar uma volta pelo centro antigo de Frankfurt, restaurado após anos em obras na região de DomRömer. Diversos quarteirões arrasados durante a Segunda Guerra Mundial foram reconstruídos em uma grande área de 7 mil metros quadrados
• Assistir no Now ao documentário A Vida Extraordinária de Tarso de Castro. Não dá para perder a história desse jornalista único, bon-vivant e conquistador • Passar pelo menos um fim de semana em Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, Goiás, hospedado na pousada Inácia, que tem uma adega tipo gente grande. Uma experiência realmente única • Tomar um cocktail no balcão do La Libreria, bar do remodelado Hotel Eden, no coração de Roma. Os drinques
são elaborados pela expert em fragrâncias da Campomarzio 70, Lisa Bertoni. Vale a visita
• Mudar – para melhor, é claro –
o astral de casa com um pet do Canil Salatino, que fica no Embu das Artes, em São Paulo, e é um dos melhores do Brasil. Que tal um teckel pelo longo ou um italian greyhound? • Assistir a Querido Embaixador, filme dirigido por Luiz Fernando Goulart, e que destaca a vida e a ação humanitária do embaixador do Brasil na França Luiz Martins de Souza Dantas, responsável por conceder mais de mil vistos aos judeus para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Nos cinemas • Escolher um dia da semana para provar o prato vegetariano do restaurante Jamile, um endereço supercool no Bixiga,
região das tradicionais cantinas italianas em São Paulo • Aguardar ansiosamente a chegada dos perfumes Le Labo ao Brasil – trata-se de uma pequena perfumaria descolada criada em Grasse, na França, mas com ares,
aromas e a cara de Nova York. A marca deverá desembarcar no país no próximo ano • Tentar participar do disputado e exclusivo jantar da Bienal Internacional de São Paulo: hora de comprar o convite, caro, mas fazer parte desse restrito “clube” dos colecionadores não tem preço… • Ver a segunda temporada do programa Poesia e Prosa, com Maria Bethânia, no qual a voz mais poderosa da MPB discute entre amigos as obras de Vinicius de Moraes, Ariano Suassuna, Carlos Drummond de Andrade e Waly Salomão. No canal Arte 1
com reportagem de aline vessoni e dado abreu PODER JOYCE PASCOWITCH 13
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DATA VENIA
O NOVO CHEFE
SUPREMO
Ainda por começar, a presidência rotativa de Dias Toffoli no STF já é contestada. As ligações históricas do ministro com o PT e a possibilidade de revisão do entendimento de que penas já devem ser cumpridas em segunda instância – o que levou Lula à cadeia – fazem dele o novo terror de Brasília
FOTO VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL
por paulo vieira
PODER JOYCE PASCOWITCH 15
A
aliteração tem até seu humor, mas, mais do que fazer rir, dá ideia do clima que aguarda a chegada do novo líder do Supremo Tribunal Federal. O “#Toffoli, #Toffora”, título de um abaixo-assinado que busca impedir que o jovem ministro Dias Toffoli, de 50 anos, assuma em setembro a próxima presidência rotativa do STF, mobilizou até o fechamento desta edição cerca de 310 mil signatários. O uso pela sociedade de um instrumento desse tipo contra um titular do STF não é novidade. Gilmar Mendes é um alvo preferencial, mas as gestões para que se veja constrangido a julgar pessoas de sua relação, como o senador Aécio Neves, não têm sido bem-sucedidas. A novidade com o paulista de Marília José Antonio Dias Toffoli é quererem tirar-lhe de uma só cajadada os dois anos da presidência rotativa a que fará jus pela praxe do tempo de casa.
sim, a possibilidade de decidir o que vai ser colocado em pauta – e, talvez mais importante, o que deixar de fora. O líder ainda deve encabeçar outras tarefas, como dar celeridade à justiça de modo geral e exigir providências em relação ao tratamento ignóbil prestado aos desgraçados atrás das grades. O ponto crucial que agita observadores do mundo político e jurídico e as cassandras nacionais é saber se Toffoli vai fazer o que não fez sua antecessora imediata na presidência do STF, Cármen Lúcia: colocar em votação as ADCs 43 e 44, ações diretas de constitucionalidade que pedem a revisão da decisão tomada pela corte em 2016 de possibilitar o cumprimento de penas já a partir da segunda instância. E se isso acontecer, e caso se forme a maioria pela revisão do entendimento, o detento mais célebre do país no momento, o ex-presidente Lula, deixa Curitiba. Com as intenções de voto
“Toffoli já demonstrou ter pulso firme, boa condução administrativa e técnica, além de uma visão de futuro muito interessante” Kakay, advogado
A razão apresentada para o afastamento de Toffoli pelos “tofforas”, ao menos aqueles engajados no manifesto criado pelo jurista Modesto Carvalhosa, é vaga. Fala em “razões conhecidas por todos”, eufemismo para “ligações históricas do ministro com o PT”. Carvalhosa propõe que a presidência seja decidida por eleição interna entre os 11 ministros, rompendo a sistemática hoje adotada, para que assim surja um nome digno de ter a “confiança plena da sociedade” e seja capaz de “pacificar” a corte. Mas Carvalhosa não está sozinho. Há dois pedidos de impedimento do ministro no Senado, e o grupo de advogados que assina a peça se assanhou ainda mais com as revelações sobre o ministro publicadas no fim de julho pela revista Crusoé (veja boxe). É curioso, pois o presidente do STF não é dotado de superpoderes, como se sob sua gestão todos os julgamentos pudessem ganhar determinado viés. Ele tem,
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que Lula tem, esteja ele encarcerado ou não, sua liberdade pode gerar cenas de verdadeira comoção nacional, um espetáculo com toques sebastiano-varguistas capaz de mexer profundamente com o cenário eleitoral. Como diriam os personagens de Nelson Rodrigues: espeto. A preocupação com Toffoli, portanto, vem muito mais de suas afinidades eletivas do que, como seria mais justo reclamar, de sua formação jurídica: no STF, o olimpo do direito, títulos acadêmicos contam como galardões e patentes, e seu futuro presidente é praticamente um ágrafo, um Sócrates togado. Às afinidades eletivas então: Toffoli exerceu muitos papéis em diversas instâncias do PT, governos e partido. Foi, para ser sucinto, advogado das campanhas presidenciais de Lula, chefe de gabinete da Secretaria de Implementação das Subprefeituras da prefeita Marta Suplicy em São Paulo, subchefe para Assuntos Jurídi-
FOTOS CARLOS HUMBERTO/STO/STF; ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL; JANE DE ARAÚJO/AG SENADO; ELZA FIÚZA/AGÊNCIA BRASIL
Dias de Toffoli: com Renan Calheiros em conversas sobre a administração pública e, no sentido horário, entronizado como vice-presidente do STF, com seu parça Gilmar Mendes e mostrando a convidados o sistema de votação brasileiro
cos da Casa Civil da presidência Lula sob José Dirceu e, por fim, advogado-geral da União entre 2007 e 2009, último degrau antes de chegar ao Supremo. O ministro, contudo, já acumula quase nove anos de STF, tempo suficiente para mostrar que as suspeitas que recaem sobre ele podem ser exageradas – e quem sabe até infundadas. Se ele seguiu mesmo algum comportamento ditado por viés ideológico, este não parece ser oriundo da inclinação esperada. Toffoli, que preferiu não conceder entrevista para esta reportagem, ao longo dos anos de STF mostrou proximidade com Gilmar Mendes, o ministro mais identificado na casa com o PSDB, a ponto de o jornalista Luis Nassif, crítico severo dos partidos à direita do PT (e às vezes também dos à esquerda), tê-lo desancado num texto de 2015. Um dos parágrafos mais brandos dizia: [Toffoli] “Seguiu então o caminho usual dos fracos. No melhor estilo República Velha, tratou de
encontrar abrigo no colega que melhor encarnasse a figura do velho coronel político. Gilmar Mendes, claro”. Pedir o impedimento de um juiz sem examinar o histórico de suas decisões é manifestar um comportamento que roça o arrivismo. Mas é difícil discordar de quem afirma que os ministros do STF não deixam de ter lá culpa no cartório. Nos últimos anos, suas decisões vêm mostrando sobejamente que a autodeclaração de suspeição, quando um magistrado se vê impossibilitado de julgar um “paciente”, está longe de ser um hit na corte. Enfim, se a prática fosse levada ao paroxismo, o STF teria de refazer seu elenco. São numerosos os casos em que os ministros não viram problemas em julgar réus ou acolher pedidos de habeas corpus de gente com quem mantinham vínculos. Gilmar Mendes é o grande modelo, não só por suas ligações com Aécio Neves, como também com o empresário do setor roPODER JOYCE PASCOWITCH 17
doviário do Rio de Janeiro Jacob Barata Filho. Mendes é padrinho de casamento de uma filha de Barata, e já o livrou três vezes da prisão. “Toffoli deveria se declarar suspeito de casos mais próximos do partido [o PT] e de causas que envolvem pessoas historicamente próximas a ele. Se ele toma decisões nesses casos, a desconfiança de má aplicação do direito sempre haverá: quando decidir contra os interesses dos amigos, o terá feito para provar independência; quando decidir em favor, será por amizade. Num caso ou noutro, perguntaremos se o que contou foi sua interpretação do direito ou a administração de sua imagem”, disse a PODER o professor de direito constitucional da USP Conrado Hübner, que completa: “Ninguém tem acesso ao cérebro dos juízes para saber o que causa o quê. Mas podemos saber que as ligações históricas de Toffoli vão dificultar a percepção de imparcialidade de suas decisões”. Sobre os temas que Toffoli irá abraçar – ou não –, o professor acredita que é difícil prever o “estilo” do ministro. Para o especialista, de todo modo, “saber se a pauta vai ser mais ou menos politizada é menos importante do que saber se ele vai corrigir certas patologias procedimentais”. Hübner enumera algumas dessas patologias: a) falta de critério e justificação pública para pautar ou tirar da pauta; b) antecedência razoável para ministros e esfera pública acompanharem a pauta; c)
MESADÃO
Uma longa reportagem da revista Crusoé colocou Dias Toffoli em maus lençóis. Na matéria, o magistrado é tido como beneficiário de uma mesada de R$ 100 mil, depositada regiamente, desde 2015, por sua própria mulher, a advogada Roberta Rangel, numa conta do Banco Mercantil do Brasil, e movimentada por um assessor do ministro no Supremo. O montante total chegaria a R$ 4,5 milhões. Suspeitas de lavagem de dinheiro – não relatadas aos órgãos responsáveis por fiscalizar essas movimentações – e de ligações de Toffoli com a instituição financeira foram apontadas. O ministro não teria se sentido impedido de relatar 13 ações que chegaram ao STF envolvendo o Mercantil, de quem teria obtido condições amplamente vantajosas num empréstimo de R$ 900 mil, solicitado em 2011. Os autores da reportagem também revelam que Roberta Rangel ascendeu profissionalmente em Brasília representando, principalmente, políticos em ações que tramitaram no TSE, que já foi presidido por Toffoli, e no STJ. Em e-mail, Daiane Nogueira de Lira, chefe de gabinete de Toffoli, disse que o ministro não iria se pronunciar sobre o caso.
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disciplinamento dos voto-vista e das decisões monocráticas do relator que não voltam para plenário. Um dos advogados mais íntimos dos ritos, métodos e idiossincrasias do Supremo, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, é do time que não vê fundamento nas críticas a Toffoli. “Ele já exibiu maturidade não só no Supremo como no Tribunal Superior Eleitoral e à frente da Advocacia-Geral da União. Penso que no STF demonstrou ter pulso firme, boa condução administrativa e técnica, além de uma visão de futuro muito interessante. Quem acompanha o Judiciário sabe que essa reação passional ao ministro é superada. Tenho a melhor expectativa em sua condução do STF”, disse a PODER. Kakay chega a ver em Toffoli alguém que poderia ter a “grandeza” de tirar da presidência do Supremo a prerrogativa, própria do cargo, de centralizar a pauta. Mas acha esse movimento improvável, pois isso significaria “abrir mão do poder”. O advogado diz que em “35 anos acompanhando o STF” nunca viu momento de tal e “extrema tensão” como agora – e isso se deve, segundo ele, ao fato de Cármen Lúcia não ter colocado em pauta as ADCs 43 e 44, que chegaram à corte muito antes do TRF4 de Porto Alegre referendar e aumentar a pena de Lula. Sem essa decisão, o Supremo teve de inverter a lógica natural dos processos, julgando os pedidos de habeas corpus do ex-presidente antes mesmo de ter uma visão soberana de que sua prisão – e todas as demais no Brasil ocorridas antes do trânsito em julgado dos respectivos processos penais – feriam ou não o princípio da presunção da inocência. Sua opinião é compartilhada por Hübner, que ressalva que não é simples fazer uma avaliação em “poucas palavras” da gestão Cármen Lúcia. “Considero-a de pouca sensibilidade política para moderar conflitos agudos da sociedade brasileira. Em vez disso, sua gestão ajudou a tensioná-los, levando a uma desagregação ainda maior do STF.”
PRODUTIVIDADE Dias Toffoli é elogiado no meio jurídico pela técnica e velocidade com que dá curso aos processos que acolhe. Seu “scout” de 2018 dá conta de ter baixado 3.141 deles até o fim de julho, mais do que os que lhe foram distribuídos este ano - havia um passivo em seu “acervo”, que vem diminuindo. Kakay é otimista da gestão Toffoli nesse ponto. “É uma característica dele enten-
FOTO LULA MARQUES/AGPT
O ministro Toffoli e Cármen Lúcia, a quem sucederá na presidência do Supremo, recebem o presidente Michel Temer na cerimônia de posse do STF
“A desconfiança de má aplicação do direito sempre haverá. Quando decidir contra o interesse dos amigos, o terá feito para provar independência; se em favor, será por amizade” Conrado Hübner, constitucionalista
der melhor o jurisdicionado [sobre quem é exercida a jurisdição], fez isso no Tribunal Superior Eleitoral com altivez e isenção.” Ao fim e ao cabo, a possibilidade de qualquer membro da sociedade civil como Carvalhosa mostrar seu descontentamento com assuntos internos do Supremo e eventualmente exigir providências duras em relação a eles mostra a força das “instituições” do Brasil. É curioso notar, por outro lado, que toldar e manietar a corte máxima é uma prática comum e emblemática dos regimes ditatoriais. Na hora infame é comum que ministros sejam compulsoriamente aposentados para dar lugar a outros mais afinados com o chefe do Executivo. Pode acontecer também, como se deu em 1965 em decorrência da publicação AI-2, que sejam criadas diversas novas cadeiras, impondo-se numa única canetada uma nova e bovina maioria. A ideia de repovoar o Supremo foi colocada em circulação recentemente, registre-se, pelo candidato presidencial Jair Bolsonaro. Diante desses pensamentos, resta talvez se alegrar em ver as instituições “funcionando”, como se diz. Nesse sentido, a troca de guarda no Supremo pode vir a ser o menor dos problemas nacionais. É que, por mais improvável que pareça, sempre dá para piorar. n PODER JOYCE PASCOWITCH 19
CARTAZ
PEDRO CARDOSO
O ator e roteirista Pedro Cardoso é um dos mais eloquentes contestadores de sua geração. Se não teve a formação acadêmica clássica, como o primo e ex-presidente Fernando Henrique, usou o fracasso no vestibular para se jogar de cabeça no teatro. Em entrevista a PODER, debateu sobre tudo o que lhe foi perguntado, mas fez uma ressalva: pagar sua conta. Avalia ser essencial para sua livre expressão POR FÁBIO DUTRA FOTOS PAULO FREITAS
“E
spero que suas perguntas constem na matéria e com o mesmo peso de minhas falas: é uma questão sobre ética e verdades jornalísticas, pois o que digo é mesmo uma resposta à sua pergunta. Tento ampliar o horizonte do que você me perguntou, não é um pensamento espontâneo. É necessário deixar claro ao leitor que aqui se passou, antes de tudo, uma conversa, muito mais do que um discurso.” Sempre analítico, crítico, perspicaz, prenhe de teoria – que nega conhecer –, e um tanto ácido sem perder a elegância nem a animação dignas de um adolescente debochado, Pedro Cardoso respondeu a cada uma das perguntas de PODER sem fugir, jamais, de nenhum tabu. Ao contrário: buscava sempre puxar o assunto para o indizível que merece reflexão a seu ver – mormente se houvesse a chance de pincelar suas opiniões sobre o significado e a distribuição do dinheiro, os privilégios de berço, o serviço doméstico sem dig-
nidade nem direitos que ainda existe país afora e outras violências que a sociedade brasileira é mestre em produzir e em evitar discutir. Como este parágrafo deixa claro, não fomos capazes de reproduzir as perguntas da reportagem, talvez por falta de espaço – foram quase três horas de reflexões complexas e cheias de ilustrações por parte do gajo –, ou talvez por falta de vontade de obedecer suas diretrizes editoriais – o que, paradoxalmente, se fia em seu exemplo de rebeldia elegante. Nos restringimos, pela praxe da ética, sempre patente nestas páginas, e em homenagem ao convidado, um dos personagens mais ricos a ser retratado por aqui, a mantermos o sentido do que ele disse e a narrar sinceramente o clima e os acontecimentos do convescote. É o que dá, Cardoso. Pedro Cardoso nasceu em berço de ouro. Se o desenvolvimento do Brasil republicano estabeleceu que a pujança econômica vinha de São Paulo e a supremacia cultural e o centro político caberiam ao Rio de Janeiro, apeliPODER JOYCE PASCOWITCH 21
dado de corte em referência à vinda da família real portuguesa em 1808, Cardoso teria morado em um palácio na infância se a Cidade Maravilhosa fosse de fato um reino. Primo de Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República, neto de Carlos Cardoso, que foi presidente do Banco do Brasil e bem-sucedido no mercado financeiro privado após deixar o cargo, além de bisneto de marechal e de parente em diversos graus de várias figuras importantes da vida pública brasileira do século 19 para cá, chama a atenção o apurado senso crítico que mantém ao olhar para a sociedade brasileira e a seus aspectos injustos. Isso haveria de irritar a família, não? “Eu fui criado com liberdade e para a liberdade. Diante de qualquer sistema
geram qualquer conflito ou atrapalham nossa relação afetuosa”, pontua civilizadamente. Se não teve uma educação acadêmica clássica, Pedro Cardoso definitivamente foi muito bem formado – ainda que insista que é disléxico e que tem dificuldade para ler “industrialmente”. Extremamente reconhecido como roteirista desde o extinto TV Pirata, ele revela ter problemas homéricos com a ortografia e diz que seu diálogo com a teoria se deu meio que por osmose, discípulo do teatrólogo Amir Haddad que é, e na convivência com sua mulher, Graziella Moretto – a quem ele se refere a todo tempo, seja para falar das diversas parcerias profissionais que tiveram ao longo da vida, seja para prestar reverência à in-
lhor escolha: “Sou muito amigo do Hermano Vianna e do Marcelo Tas e lembro que os dois liam 20 revistas por semana, eles sabiam – e sabem – muita coisa. A vida do jornalista exige um tipo de curiosidade dispersa e eu fico aflito de pensar a quantidade de coisas que eu precisaria saber para ser jornalista”, divaga humildemente. Pedro Cardoso é ator celebradíssimo, consagrado pelo público por diversas atuações e carimbado pelo personagem Agostinho Carrara, o genro todo enrolado do seriado A Grande Família, da TV Globo, sucesso de audiência e crítica que foi ao ar semanalmente por mais de dez anos. Talvez por isso tenha atraído olhares e gerado torcicolos quando atravessou o salão d’A Figueira Rubaiyat para
opressivo, seja de esquerda, de direita, eu me sinto muito desconfortável. Meus pais, cada um a seu modo, eram defensores do livre-arbítrio e incutiram em mim desde cedo essa noção”, explica. Cardoso conta, por exemplo, que não ter passado no vestibular para jornalismo não foi nenhuma crise. “A conversa foi racional e me foi explicado que quem não vai à universidade entra no mercado de trabalho mais cedo e, portanto, eu deveria trabalhar”, exemplifica. Tampouco haveria de haver rusgas com outros familiares, nem mesmo com o primo mais famoso: “Eu e o Fernando Henrique nos damos muito bem, ele é cultíssimo, tem apurado senso de humor, e eventuais divergências de opinião não
fluência intelectual dela sobre si. Paradoxalmente, ele escreveu O Livro dos Títulos, romance em que de certa forma explica a relação heterodoxa com os clássicos e com a academia. “Tenho três livros do Walter Benjamin olhando para mim, que eu nunca li além da contracapa e do prefácio, mas converso com minha mulher, que é muito bem formada intelectualmente e me contou algo, de modo que se você fala de Benjamin eu sei, mais ou menos, o que você está falando”, elucida, sobre a ausência em sua formação de uma educação formal e sistemática. Foi o fracasso na admissão na faculdade, aliás, que permitiu que Cardoso pudesse se jogar de cabeça no teatro. E ele acredita ter sido mesmo a me-
encontrar a reportagem de PODER. Meio rouco, logo afastou a hipótese da mesa escolhida e foi por conta própria procurar outra numa área do restaurante que sequer estava sendo usada aquele dia. Mas nada de mau humor, que fique claro. O ator está em cartaz com três peças simultâneas no Morumbi Shopping, em São Paulo – um monólogo, um espetáculo adulto e outro infantil, esses em dobradinha com Graziella –, e no dia sofria com uma faringite, fato corriqueiro toda vez que vem à capital paulista. O ambiente silencioso, portanto, era exigência profissional de um ator que leva seu ofício com disciplina de soldado. Ele atende um fã com atenção aqui, come uma bela picanha acolá, entre-
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“Eu e o FHC nos damos muito bem, ele é cultíssimo, tem apurado senso de humor e eventuais divergências não atrapalham nossa relação afetuosa”
vista de volta o repórter, se espanta com o pedido de uma massa com molho de tomate bem simples com tantas opções mais “sensuais” no cardápio, discute o viés comercial que há por trás de toda e qualquer profissão – algo que segundo ele deveria ser explicitado e debatido abertamente –, critica a deficiência de serviços públicos no Brasil e elogia Portugal, onde vive atualmente, e refuta a ideia de que só tenha se colocado com mais ênfase no debate público e passado a criticar o showbiz após não ter tido o contrato renovado na televisão. “Eu ganhei um bom dinheiro porque participei de atividades nas quais há muito dinheiro dentro de uma empresa bem organizada, e essa estabilidade econômica leva, sim, à conquista de alguma liberdade, ainda que eu esteja longe de poder parar de trabalhar, tenho quatro filhas. Mas acredito, e eu me autoelogio aqui, que nunca ocultei o que eu pensava.”
Sobre a televisão em si, ele não compra aquela ideia de deformação moral e intelectual de um meio alienante: “O ser humano é um animal gregário que evoluiu em grupos em que a experiência comum, seja a chuva na aldeia, seja a morte de alguém da comunidade, era o fio que embasava a ideia de sociedade. De modo que a tevê é um meio poderoso de comunicação por gerar uma experiência comum a todos num país de milhões de habitantes separados por grandes distâncias”. E sobre a emissora para a qual trabalhava tampouco tem críticas específicas: “Não tenho inclinação para pensamentos paranoicos. Não quiseram renovar o contrato por uma decisão administrativa que possibilitou o corte do grande custo que eu representava, algo correto. Há uma perplexidade em relação aos rumos da publicidade, ainda mais com a entrada de Google e Facebook, e a Globo traça suas estratégias. Não creio que
tenham nenhuma ressalva comigo, como eu não tenho com a empresa. Apenas fiquei magoado com os diretores artísticos que ignoraram bons projetos que apresentei”, raciocina, antes de parar bruscamente: “Mas a sua revista é do Grupo Globo? Porque eu não me sinto confortável para criticar a empresa em um veículo externo sem que seja publicada a minha opinião sobre esse outro órgão de comunicação. Perguntei a um repórter da Folha de S.Paulo se ele teria liberdade editorial para escrever o que eu penso sobre o jornal, já que ele queria tanto que eu falasse sobre a minha antiga empregadora”, conta, para em seguida avançar: “Quanto a PODER eu nunca li... Aliás, você tem liberdade para falar que eu nunca li? Põe na manchete: ‘Pedro Cardoso nunca leu a PODER’. É honesto com o leitor!”, ri. Já estamos nos finalmente. Cardoso conta que acredita que é tão magro aos 50 e poucos por não bePODER JOYCE PASCOWITCH 23
ber, não fumar e por se exercitar regularmente, enquanto encara uma respeitável fatia de torta de maçã com sorvete. Ele joga futebol e até prometeu aparecer para a pelada da redação, o que não ocorreu. Diz que o Rio de Janeiro e Salvador, além do interior de Minas, são os lugares que mais o emocionam no país atualmente, justamente pela brasilidade que exalam. Sempre agitado, pausa o que está falando quando vê o garçom perto de si para indagar se os pratos do cardápio são os mesmos que são servidos na refeição dos funcionários e não fica nada alegre com a ne-
gativa. Ele conta como a questão do trabalho doméstico no Brasil, com seus resquícios de escravidão, é talvez a maior questão da sua vida, mais uma vez por influência de Graziella: “Ela me fez perceber que sem abolirmos o trabalho doméstico integral as pessoas não terão que ir de encontro à realidade de suas vidas. Isso cria uma ilusão de tempo livre ao beneficiário”. Cafezinho e amenidades na ordem do dia e eis que chega a dolorosa, que Pedro Cardoso faz questão de pagar, apesar de termos insistido que estava tudo acertado. Ele nem quer conversa e lembra que também é interesse dele divulgar sua peça. A relação entre entrevistado e imprensa, nesse caso, é
isonômica e nada mais justo que a divisão. Contamos ao ator que ele é o segundo personagem dessa seção a pôr a mão no bolso – o outro foi Paulo Maluf. “Mas eu estou dividindo, ele pagou para todos para demonstrar poder, é diferente. O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, de quem eu tenho boa impressão, pagou sua conta em entrevista à Folha de S.Paulo outro dia e eu achei que ele tem toda razão, devo essa a ele: como eu vou, eventualmente, falar mal do restaurante ou de vocês se eu fui convidado? É essencial à minha livre expressão conferir minha parte”, problematiza. Com liberdade para a liberdade. Tivesse avisado antes e também teríamos ido de picanha. n
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“Sem abolirmos o trabalho doméstico integral as pessoas não terão que ir de encontro à realidade de suas vidas. Isso cria uma ilusão”
PODER INDICA
FOTO BRUNA GUERRA
Acolher para atender No escritório do doutor George Schahin a reputação costuma entrar primeiro e chega com meia hora de antecedência. É essa a metáfora que o diretor-presidente do Hospital Santa Paula usa para justificar o prestígio alcançado pela instituição médica que completa 60 anos. Fundado em 1958 como pronto-socorro, o HSP tem hoje uma área física de 18 mil m2, com 200 leitos, nove salas de cirurgia e 50 leitos de terapia intensiva. O complexo é considerado um centro de excelência na zona sul da cidade de São Paulo e chega a atender cerca de 100 mil pacientes por ano e realiza mais de 8.500 cirurgias. O segredo do sucesso e do reconhecimento está em uma palavra: “acolhimento”, resume Schahin. “Algo que passa por todos os nossos colaboradores. Desde o manobrista e o porteiro, que recebem o paciente na porta, passando por médicos, cirurgiões, diretores, acionistas. Acolher é olhar no olho, é dar um sorriso, bom-dia, boa-tarde, boa-noite, deixar o paciente à vontade e tranquilo. Quem estiver lidando com ele, seja quem for, naquele momento é a pessoa mais importante do Santa Paula.” Uma das marcas desse acolhimento está no terceiro an-
dar do hospital, na recepção do Instituto de Oncologia, onde há um sino dourado com uma placa: “Toque este sino três vezes bem alto, assim todos vão saber: Meu tratamento foi concluído, esta fase acabou, vou seguir o meu caminho”. As badaladas, diárias, servem para celebrar o obstáculo superado por quem vai e, mais do que isso, incentivar aqueles que chegam em busca de tratamento. “É um momento emocionante, muitos pacientes trazem a família para comemorar. Nós já recebemos cartas de pessoas que concluíram o tratamento em outros locais, mas mesmo assim pediram para que nós tocássemos o sino”, lembra Schahin. Recentemente, o HSP recebeu a reacreditação conferida pela Joint Commission International (JCI), considerada o programa de acreditação mais conceituado em todo o mundo. Para o doutor George Schahin, o selo de qualidade é resultado de um processo contínuo e permanente. “Buscamos sempre oferecer o melhor aos nossos pacientes, com tratamentos integrados e individuais, com o cuidado e a segurança que marcam o Hospital Santa Paula. Esta é nossa cultura e ela estará conosco pelos próximos 60 anos.” + SANTAPAULA.COM.BR
ESPECIAL PAIS Dos colecionadores de relógios aos ligados em moda e decoração. PODER preparou uma lista de consumo seleta e luxuosa para presenteá-los e comemorar o mês inteiro com eles
* PREÇOS PESQUISADOS EM JULHO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES FOTOS DIVULGAÇÃO
CONSUMO
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JEITO DE CASA, PRATICIDADE DE CINCO-ESTRELAS
Boa localização, conforto de residência e serviços exclusivos de hotelaria estão entre os principais atrativos das unidades de long stay, novo jeito de morar que tem atraído cada vez mais adeptos nas grandes cidades. A tendência começou em Nova York e chegou agora a São Paulo com a sofisticação da KZA, plataforma expert em gestão de imóveis de alto padrão que apresentou recentemente o elegante VHouse. Com valor do pacote de locação a partir de R$ 6 mil, os moradores do VHouse, em Pinheiros, aproveitam de unidades já mobiliadas e equipadas com eletrodomésticos, com todas as taxas inclusas – condomínio, IPTU, água, luz, internet, TV a cabo e arrumação diária. Além disso, dispõem de facilidades como concierge e recepcionistas bilíngues, manobristas, locação de bicicletas, academia,
piscinas e restaurantes com café da manhã. “É o formato ideal para os tempos atuais, nos quais as pessoas demonstram menos vontade de ter propriedades, buscam flexibilidade e praticidade”, explica Carolina Burg, diretora da KZA. São apartamentos de 36 m2 a 142 2 m , com um, dois ou três dormitórios, perfeitos para empresários, jovens casais e executivos estrangeiros que precisam se estabelecer no país. As unidades contam com armários assinados pela Ornare e móveis da Breton, enxoval de cama e toalhas da Trousseau, além de linha completa de eletrodomésticos e louças. O VHouse é o primeiro residencial de luxo com o conceito long stay da KZA, que prevê inaugurar nos próximos anos outro empreendimento do tipo na região da avenida Faria Lima. + KZAHOME.COM.BR
PODER INDICA
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De amigos, para amigos
PODER INDICA
FOTOS FRED OTHERO
STYLING CUCA ELIAS
Coleção verão: Expedição Camboja
A ideia despretensiosa de produzir roupas descoladas e confortáveis para amigos e parceiros deu vida a Just Another Brand – JAB – grife masculina que, diferentemente do que o nome em inglês sugere, vai muito além de “apenas outra marca”. Dos empresários Everton Souza (ex-Ellus), Paulo Tavares (ex-Yachtsman) e Zaira Porta (ex-Crawford e VR), três amigos com vasta experiência no universo da moda masculina, a JAB nasceu, em 2017, com uma proposta linear entre marca e consumidor: dessa for-
ma, ouvem e atendem às demandas do homem moderno que busca por conforto sem abrir mão do estilo. “A primeira coleção foi um sucesso, afinal, enquanto no mercado há quem escolha ser apenas mais uma etiqueta, a JAB opta por ser amiga e ouvinte de seus clientes”, destaca Paulo Tavares. Hoje, além do e-commerce, a Just Another Brand possui três franquias no Estado de São Paulo e está presente em 220 multimarcas espalhadas pelo país. Vale conferir. USEJAB.COM • @USEJAB
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FOTO FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL
Adriana Ancelmo com o rosto cerrado de quem acabara de prestar depoimento à Justiça Federal
QUARENTENA
DAMA
EM XEQUE Solidão, antidepressivos, Sessão da Tarde e livros de autoajuda: a vida de Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, na prisão domiciliar
A
POR CHICO FELITTI
avenida Alexandre Ferreira fica a um quarteirão da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Ninguém por ali se refere a ela como avenida, os moradores usam a palavra “rua” para falar do trecho pacato de três quarteirões no Jardim Botânico, um dos bairros cariocas mais ricos. A tranquilidade do lugar não foi afetada pela mudança de uma figura de poder para um prédio de alto padrão, onde um apartamento não sai por menos de R$ 2 milhões. É na cobertura de um edifício portentoso que Adriana Ancelmo, ex-primeira-dama do Rio, cumpre prisão domiciliar. Adriana, que é mulher de Sérgio Cabral e ocupou a cadeira de primeira-dama do estado de 2007 a 2014, foi condenada a 18 anos de reclusão por associação criminosa e lavagem de dinheiro na Operação Calicute, um dos desdobramentos da Lava Jato. O esquema de corrupção, afirma a Justiça, desviou R$ 224 milhões (descobertos até o momento) em contratos com empreiteiras.
SESSÃO DA TARDE
Faz cinco meses que Adriana se mudou para a cobertura de 300 m² de um afilhado. Dois meses antes, ela havia recebido do STF a autorização para cumprir prisão domiciliar, direito reservado a presidiárias com filhos menores de idade. Sua vida social virou uma morte social. “É nessas horas que você descobre quem é amigo, e ela descobriu... Que quase ninguém era amigo”, diz uma empresária do setor alimentício, que faz mea-culpa: “Eu mesma nunca mais falei com ela. Nada contra a pessoa, mas não pega bem, sabe?”. A única forma de contato entre as duas, que se viam toda semana, foi uma remessa literária. A empresária mandou livros de autoajuda para Adriana, entre eles alguns do guru brasileiro Prem Baba. “Achei que ela estava precisando de paz.” A empresária não sabe dizer se Adriana leu os presentes: “E ia falar com ela como? Por carta? Telex?”. É que apenas advogados e parentes (até terceiro grau) podem entrar na prisão domiciliar PODER JOYCE PASCOWITCH 33
drasta hoje em dia. “Ela foi transformada em um monstro”, afirmou à revista Época. Marco Antônio revelou que o processo de aprendizagem do irmão mais novo, de 13 anos, foi influenciado pelos infortúnios da família. “[Ele] sabe até nome de ministro do STJ.” O garoto perguntou à mãe o que é um habeas corpus, disse o irmão.
– visitas têm de deixar o celular fora de casa. Ela também está vetada de entrar na internet. Pode parecer pataquada, mas quem a acompanha garante que ela foge do wi-fi como o diabo da cruz. Como diz um das dúzias de advogados que trabalharam para a família: “Se a Polícia Federal descobre que ela está usando internet, sabe para onde ela volta? Pra Benfica [a Cadeia Pública José Frederico Marques, no bairro de Benfica]. Você acha que alguém quer voltar pra Benfica?”. Os dias são silenciosos na cobertura. E também escuros. Um dos poucos funcionários do prédio que admite ter passado pela casa para fazer um reparo diz que o apartamento estava com as persianas fechadas. “Era de dia, mas lá dentro tava escuro.” E a TV da sala ligada na Sessão da Tarde. “Entrei, fiz o que tinha pra fazer e saí. Nem falei com ninguém.” PODER passou dois dias na porta do imóvel na Ale-
Enquanto Adriana está presa na Lagoa, o escritório Ancelmo Advogados continua existindo na avenida Rio Branco, sob a fachada de mármore de um prédio que foi construído para ser a sede do banco Bozano, Simonsen, cujas operações foram encerradas na virada dos anos 2000. O prédio, com seu lobby revestido de madeira, ainda é o endereço comercial do escritório, ostentado em uma placa perto do elevador. Mas os negócios rarearam, e os funcionários também.
xandre Ferreira. E não viu um fio dos cabelos que a ex-primeira-dama pintava de castanho em salões do Leblon e agora são tingidos em casa. Adriana não pode sair de casa, a não ser em caso de emergência médica – também precisa atender a todas as comunicações da Justiça e, acostumada a duas idas à Europa por ano, entregou o passaporte à Justiça. Mesmo dentro de casa, não é possível ficar em paz. Ao menos não durante o dia. A Polícia Federal pode entrar no imóvel entre 6 e 18 horas, sem precisar de autorização judicial para isso. As visitas, entretanto, são raras. “Olha, se vieram, vieram de carro civil”, diz o porteiro do prédio em frente, que afirma nunca ter visto a PF. O filho mais velho de Cabral, o deputado federal Marco Antônio Cabral, de 27 anos, contou nas últimas semanas que a situação em casa se inverteu: é ele quem ajuda a ma-
Por ordem da Justiça, Adriana Ancelmo não faz mais parte do dia a dia da Ancelmo Advogados. Ela teve de se afastar da administração de todas as empresas investigadas – dos dez maiores contratos, sete eram de empresas que receberam benefício fiscal do governo. A equipe foi enxugada no momento de crise. Os cortes foram de rececepcionista a estagiário. PODER esteve duas vezes por lá e tentou uma dúzia de ligações telefônicas. A reportagem nunca foi atendida porque não havia ninguém. Antes da proibição, Adriana trabalhava à frente de uma equipe que chegou a ter duas dúzias de pessoas – ainda que enfrentasse períodos prostrados. Funcionários do seu escritório narram que era comum ela intercalar jornadas de 12 horas de trabalho com dias sem aparecer no escritório, por mais que a família estivesse no Brasil. “É uma equipe pronta para não ter chefe. A gente dizia que é um carro que
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MAU NEGÓCIO
Em Paris, festiva exibindo o solado autêntico de um Christian Louboutin; no Rio, a temporada no Leblon durou pouco: imóvel do casal foi alvo diuturno de protestos
roda com o estepe sempre na mão”, diz um advogado que trabalhou para a firma anos atrás e se desligou antes da eclosão dos escândalos.
FOTOS VLADIMIR PLATONOW/AGÊNCIA BRASIL; REPRODUÇÃO
ALIANÇA DEVOLVIDA
Antes da tempestade, veio a bonança. Adriana Ancelmo e Sérgio Cabral se conheceram em 2001 na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando ela era assessora e ele era presidente da Alerj. Ambos estavam casados, mas não tardaram a desfazer os laços para formarem uma dupla que subiu junta. Quando se casaram, em 2004, ele já era senador da República. Cinco anos depois, Cabral já era governador e, em uma viagem a Mônaco, Adriana receberia do marido a mãe de todas as alianças. Um anel de ouro branco e brilhantes da joalheria holandesa Van Cleef & Arpels. O preço do mimo: 220 mil euros (cerca de R$ 800 mil, na cotação da época). Quem pagou pelo regalo foi o empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta. Mas o anel foi devolvido a Cavendish quando, em meio à explosão de escândalos, o governante e o empresário dissolveram a parceria. Pouco depois, veio de Curitiba a notícia: em meio à papelada da Lava Jato, o Ministério Público Federal havia descoberto gastos peculiares de Adriana: R$ 57.038 pagos em sete parcelas de dinheiro vivo por seis vestidos de festa. As remessas eram depositadas em cash na conta do estilista Fred & Le. Em outra compra, de eletrodomésticos para co-
zinha na Celdom, ela pediu que fosse gerado um boleto de R$ 9.925. Sérgio Moro afirmou em despacho ter recebido com “certa estranheza” as “aquisições vultuosas” feitas pela ex-primeira-dama no período. Foi o começo do fim. Mas vão-se os anéis e ficam os dedos. Nus. Das últimas vezes que apareceu em público, saindo da prisão e fazendo a sua mudança, a ex-primeira dama não ostentava um grama de ouro – as joias foram entregues à Justiça.
CARTÃO-POSTAL ÀS AVESSAS
Antes de ir para a Lagoa morar de favor, Adriana passou meses no imóvel do casal, no Leblon. Porém não havia clima. O apartamento no quarto andar da Aristides Espínola virou um cartão-postal às avessas. Depois de meses com carros buzinando a cada vez que passavam pela fachada do prédio, como forma de protesto, Adriana saiu de lá e foi morar na cobertura que ocupa. O apartamento do Leblon foi alugado menos de dois meses depois. Foi entregue vazio, a não ser por uma TV de plasma que havia sido deixada para trás, para um operador do mercado financeiro que paga o aluguel direto para uma conta da 7ª Vara Federal Criminal na Caixa Econômica Federal. O novo ocupante chegou a ter seus cinco minutos de fama. Deu entrevista em anonimato para O Globo, mas hoje avisa a quem tenta puxar papo com ele sobre o imóvel: “Preciso trabalhar. Não sou político”. n PODER JOYCE PASCOWITCH 35
MERCADO FUTURO
DESCONSTRUINDO WALL STREET
David Solomon, o próximo CEO do Goldman Sachs, nas horas vagas vai de ioga a DJ hypado no Spotify. E isso, no mercado, é uma revolução POR ANDERSON ANTUNES
N
o feriado de 4 de julho, data em que é celebrada a independência dos Estados Unidos, uma turma de mais ou menos 12 pessoas aterrissou de helicóptero no resort Gurney’s, localizado em Montauk, no litoral de Nova York. O local é um dos favoritos dos ricos e famosos que baixam nos Hamptons nessa época do ano e é frequentado por Steven Spielberg e Mick Jagger. Depois de fazer o check-in, o grupo seguiu para a piscina e
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logo foi surpreendido por uma chuva torrencial, daquelas que começam a cair sem aviso prévio, mas a mudança climática repentina não fez seu “líder” perder o bom humor. Acostumado a tirar o melhor proveito das piores situações, David Solomon convidou a todos para lhe acompanhar até uma das pistas de dança do hotspot, onde logo assumiu a mesa de som e começou a tocar hits da música eletrônica e clássicos do hip-hop. A diversão foi garantida em poucos mi-
FOTO SIMON DAWSON/GETTY IMAGES
nutos, com outros hóspedes do resort se rendendo a setlist dele, a maioria sem saber que estava diante de um homem que em breve será descrito como um dos mais poderosos do mundo. Solomon é o atual vice-presidente de operações do Goldman Sachs e só fica atrás do CEO Lloyd Blankfein na hierarquia do tradicional banco de investimentos americano. E por pouco tempo, já que a partir de 1º de outubro ele substituirá o chefe na função de número 1 do Goldman, uma instituição cujos tentáculos e influência vão muito além das finanças e podem ser medidos pelos seus mais de US$ 916 bilhões em ativos. Essa dança de cadeiras é muito mais simbólica do que pode parecer à primeira vista, a começar pelas claras diferenças que existem entre os dois. Formado em ciências políticas pelo Hamilton College de Clinton, em Nova York, David Solomon fez sua estreia no mundo corporativo como vendedor de títulos podres, aqueles emitidos por empresas em situação financeira muito difícil. Ele logo se destacou na área e, em seguida, conseguiu um emprego no Bear Stearns, outro dos gigantes entre os bancos de investimentos dos Estados Unidos. Mas seu ápice foi mesmo ter entrado no Goldman, o que conseguiu em meados dos anos 1990, eventualmente assumindo a concorrida divisão de investimentos do banco, em 2006. Lloyd, por sua vez, é um “trader”. No jargão bancário, isso quer dizer que o executivo, que em breve se aposentará, é expert em negócios firmados em pouco tempo, nos quais um aperto de mão pode valer mais do que uma canetada. Porém a maior diferença entre os traders e os “investment bankers”, o clube do qual Solomon faz parte, está no estilo de vida que levam. No caso dos primeiros, o expediente se encerra a cada fechamento de pregão e a partir daí é só alegria, enquanto os segundos só sobem na carreira se estiverem dispostos a levar muito trabalho para casa, inclusive nos fins de semana. Isso deverá ser refletido na maneira como o Gold-
man será tocado a partir do primeiro dia de outubro, quando Solomon assume as rédeas. “Se você não conseguir encontrar uma maneira de ter paixões, de perseguir essas paixões e de tê-las sempre presentes tanto no âmbito pessoal quanto no profissional, será praticamente impossível seguir em frente tendo sucesso em qualquer coisa que seja”, disse Solomon no ano passado durante um podcast com investidores do qual participou. Fundado em 1869, o Goldman Sachs enfrentou um de seus piores momentos não faz muito tempo. Apontado como um dos culpados pelo estouro da bolha imobiliária de 2008, o banco por pouco não sucumbiu ao maior desastre econômico da última década. No fim quem o salvou foi Lloyd Blankfein, que fez uso de sua experiência de trader desde o começo da crise, orquestrando vários grandes negócios, para colocá-lo nos trilhos – não por acaso, o banqueiro, que se tornou bilionário em 2015 apenas com os bônus generosos que leva pra casa, escolheu anunciar que vai pendurar as chuteiras exatamente um dia depois que o Goldman revelou um lucro de US$ 2,6 bilhões no segundo trimestre de 2018, o melhor resultado desde 2009. A entrada em cena de Solomon deverá representar um foco maior do banco no mercado de títulos e ações, mas ele também está sendo visto como um novo player, quase que um outsider, do tipo capaz de mudar uma coisa ou outra em Wall Street. Nunca houve alguém como ele na meca do capitalismo, ao menos não com tanto poder nas mãos, praticante de ioga e repetidor de mantras como “jamais perca de vista aquilo que realmente te interessa”. E ligado em e-music, com direito a nome artístico (DJ D-Sol) e single de sucesso no Spotify (um remix de “Don’t Stop”, da banda britânica Fleetwood Mac, que já superou 1,2 milhão de audições no aplicativo). Resta saber se a tempestade que o aguarda em sua “nova batida” como um dos futuros controladores da economia global será tão bem enfrentada por ele como a dos Hamptons. n PODER JOYCE PASCOWITCH 37
ENSAIO
Que rei
sou eu?
Sedutor como o Rodolfo da novela global Deus Salve o Rei, Johnny Massaro é homem gentil e um ator batalhador, que escolheu a profissão quando ainda era criança e via Chiquititas. Mas agora ele não quer saber de trabalho – isso só depois das férias pela América do Sul por aline vessoni fotos maurício nahas styling juliano pessoa e zuel ferreira
J
ohnny Massaro tinha 8 anos – ou algo assim – quando alguma coisa aconteceu no seu coração. “Eu assistia à Chiquititas e falei para minha mãe que queria participar da novela”, diz. Só que a mãe trabalhava como secretaria de escola e não conhecia o caminho das pedras. “Mas ela foi atrás, por isso muito do que veio a seguir eu devo a ela”, completa. E lá foi Massaro: do curso de teatro para a primeira novela – Floribella; e daí para Malhação, o cinema e as novelas globais do horário nobre. Apesar das passadas compridas, Johnny Massaro pisa leve. É o que PODER constata ao vê-lo chegar ao estúdio para estrelar este ensaio. Ele entrou vestindo calça jeans e camiseta e foi embora trajando o mesmo sorriso sereno da chegada. Quem acompanhou a última novela das 7 da Globo, Deus Salve o Rei, talvez se espante ao saber que por trás do hedonista personagem Rodolfo há um sujeito gentilíssimo. “Toda vez que me perguntam o que eu tenho do Rodolfo fico com medo de ser mal interpretado. Mas sou eu em cena, eu só preciso buscar as coisas que tenho dentro de mim”, diz.
Blazer e camisa Gucci
Blazer e camisa Gucci. Na pĂĄg. seguinte, terno Merino, tricĂ´ Ricardo Almeida e sapato Gucci
“Não é só do personagem que você se despede, é do cotidiano, das palavras que deixa de falar” Atuar, portanto, tem muito de autoconhecimento, é de alguma forma empreender um “estudo profundo de si mesmo”, nas palavras do ator. Gravar novela é uma atividade intensa, exige dedicação quase exclusiva dos protagonistas. Foram dez meses de trabalho de segunda a sábado, e, em cada um desses dias de estúdio, Massaro gravou de 15 a 20 cenas. Por isso, despedir-se de um personagem nem sempre é fácil. “É muito louco. Não é só do personagem [que você se despede], é do cotidiano, das pessoas com quem convive e trabalha, das palavras que deixa de falar. Vivo tudo isso de forma muito intensa.” Mas, por outro lado, terminar um trabalho tem suas vantagens: “É sempre bom, eu curto ver o resultado. Isso ajuda a valorizar, entender o que foi bom e que vai deixar saudades”. Com a gradativa desincorporação do pesonagem da novela global chegam as férias – vem aí um mês inteiro pela América do Sul. E depois disso, quais os projetos? “Ah, por enquanto estou focado na viagem”, despista. n
Blazer Camargo Alfaiataria, calรงa e gravata Ricardo Almeida, camisa Lacoste
Casaco Emporio Armani, tricô Ricardo Almeida Beleza: Marci Freitas Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Assistente de styling: Guilherme Klein Produção de moda: Juliana Consentino e Renata Bonvino Assistente de moda: Carolina Albuquerque Assistentes de fotografia: Debora Freitas e Charles Willy
CANTO DE PODER por aline vessoni fotos beatriz chicca
RELAX DO PACIENTE
Vista privilegiada de São Paulo e muita luz natural são atributos do espaço de trabalho do oncologista Sergio Simon. Mas o que possivelmente mais chama a atenção de quem o visita é a coleção de frascos de farmácia – botica, melhor dizendo –, já que são do tempo do onça. “O paciente tem de se sentir à vontade quando chega aqui. A minha ideia é conseguir gerar uma sensação de privacidade e segurança”, explica. A voz suave do anfitrião e a música clássica contribuem para tirar o peso de uma consulta com um... oncologista. “Ouço música clássica desde a infância, quando fazia aulas de piano”, conta, justificando a preferência musical. Para o médico, o dia começa cedo e termina tarde. É praxe recomendar exercício físico para os pacientes, e ele também o prescreve para si: e o tempo para isso é antes de chegar ao trabalho, por volta das 7h30. Com 38 anos de carreira, o ritmo continua intenso. Seu tempo é dividido entre os atendimentos feitos em seu consultório e no
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1. Mesa do médico, ladeada pela estante com a famosa [2] coleção de antigos frascos de farmácia; 3. Trabalhos do artista francês Alfred Darjou; 4. Balança antiga; 5. Gravura de Manabu Mabe; 6. Sala de exame
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Hospital Israelita Albert Einstein. Simon também se desdobra nas atividades da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), entidade que preside. Sua jornada é longa, mas não se encerra no consultório. Antes de voltar para casa, o oncologista costuma se dedicar aos preparativos para o lançamento do Museu Judaico – previsto para 2019 – e aos estudos de aprofundamento de sua especialidade. “A oncologia tem se modernizado num ritmo impressionante”, diz ele, indicando que a melhor maneira de manter-se atualizado é por meio de bibliotecas virtuais e revistas médicas. Aliás, esta é uma das frentes de trabalho em sua gestão da Sboc: manter governo e médicos a par do que há de mais moderno no tratamento de câncer. “Cerca de 150 milhões de brasileiros têm o SUS [Sistema Único de Saúde] como única forma de acesso à saúde. Então nosso trabalho está voltado para aumentar o acesso de pacientes do sistema público a tratamentos de qualidade. E também para oferecer uma educação continuada aos oncologistas, não importa se eles estão no interior do Acre ou no sertão do país.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 45
RESPIRO
O SAMURAI DA FOTO MARC GANTIER/GETTY IMAGES
MODERNIDADE Foram 80 peças e 25 romances, um filme, muitas atuações (como a de Black Lizard, na foto) e a condução de uma orquestra. Uma tentativa malsucedida de sequestro com vistas a um golpe de estado e um haraquiri – bem executado. O japonês Yukio Mishima viveu 45 anos intensos e se despediu deles em novembro de 1970 num suicídio cerimonial samurai. Uma escolha coerente com quem havia dito que a literatura “é impotente, ao final você tem de agir”. Mas a posteridade não parece concordar. Sua obra monumental o desmentiu.
MOTOR
JOIAS DO
MEDITERRÂNEO E não só dele. Mas, no grande mar europeu, com o verão chegando, é hora de tirar os iates das marinas e curtir o far niente al mare. Estes modelos, que conjugam elegância com tecnologia e que chegam a comportar até dez pessoas, fazem a diferença
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por aline vessoni
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PERSHING 9X
Com casco de 28, 1 metros de comprimento, mesma extensão da edição anterior, mas agora com mais fibra de carbono na composição, o Pershing 9X desfila incrementos. O cockpit e o solário estão mais espaçosos e os dois motores MTU 16V 2000 M96L atingem velocidade máxima de 42 nós (cerca de 78 km/h). Em velocidade de cruzeiro (38 nós) permite autonomia de 380 milhas náuticas. A sofisticação e as soluções de design, tanto do interior como das áreas externas, chamam a atenção – esteja a embarcação atracada ou não. Comporta oito convidados . A PARTIR DE R$ 35 milhões PERSHING-YACHT.COM
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SOLARIS 47
Um veleiro de grande beleza, com altíssima densidade de soluções de design por metro quadrado. Comseus 14,35 metros de comprimento, mas muito funcional, é ótima opção para passar o verão – na Europa e fora dela. Tem três cabines e dois banheiros, algo que pode surpreender à primeira vista, e é facilmente navegável com tripulação pequena. A PARTIR DE R$ 3,4 milhões SOLARISYACHTS.COM
FERRETTI 670
A marca italiana se distingue por seus modelos muito confortáveis e de linhas elegantes. E essa tradição não está ausente no 670. A embarcação tem 20,24 metros de comprimento, estrutura robusta e, aparelhada com motor MAN V8-1000 que entrega velocidade máxima de 28 nós – para 25 nós de velocidade de cruzeiro, proporciona uma experência distintiva de navegabilidade. PREÇO SOB CONSULTA FERRETTI-YACHTS.COM
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AZIMUT GRANDE 30 METRI
Gigante dos mares europeus, combina a excelência do design italiano com conforto, tecnologia e funcionalidade. Juntos, os três pavimentos do iate somam 350 metros quadrados de área em que brilham cinco suítes – a maior delas com 34 metros quadrados –, cozinha, salas de estar e jantar, uma jacuzzi na área externa e espaços próprios para banhos de sol e relaxamento. O modelo recebe confortavelmente até dez pessoas. PREÇO SOB CONSULTA AZIMUT-YACHTS.COM
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ÍCONE
CAVALO INDOMÁVEL Foram mais de cinco décadas desde a apresentação no Salão do Automóvel de Nova York até o Mustang estacionar no Brasil. O lendário modelo do cavalo prateado chegou ao país na sua versão mais completa em 2018 e, roncando alto, já corresponde a mais de 90% das vendas no segmento de esportivos premium. A PODER, Rogelio Golfarb, vicepresidente da Ford América do Sul, explicou as razões para o lançamento tardio, avaliou o momento da indústria automotiva e analisou o Rota 2030, o novo programa do governo federal para estimular o setor por dado abreu
foto paulo freitas
PODER: Por que demorou tanto para o consumidor brasileiro conhecer o Mustang? ROGELIO GOLFARB: Estamos falando de um esportivo caro, para um segmento muito limitado. Mas não é apenas uma questão financeira, de lucro, envolve também a marca e o serviço que o Mustang presta nesse sentido. Outro aspecto diz respeito à dirigibilidade, porque o brasileiro tem o gosto europeu de dirigir, principalmente quando se fala em esportivos, e o Mustang virou global apenas recentemente. É um carro com características tipicamente americanas, que se transformou em global aos poucos. Então, quando essas pontas se encontraram, chegou o momento certo para trazer um produto mais adequado ao brasileiro e que também estivesse dentro da estratégia de marca da Ford no Brasil. PODER: É o mesmo produto vendido nos Estados Unidos? RG: O Mustang é produzido nos Estados Unidos e vem completo. Porém, precisou se adaptar para as condições brasileiras, entre elas a questão do etanol na gasolina. Nosso combustível tem um percentual de etanol maior, quase 27%, e nós precisamos calibrar o motor para isso. Mas é o mesmo produto feito lá fora. Só tivemos que reprogramar o computador que gerencia o motor para que ele possa ser eficiente da mesma forma. PODER: Sobre eficiência, esse é um dos pontos do Rota 2030 [novo plano do governo federal para estimular o setor automotivo]. Qual a sua avaliação sobre o programa? RG: É fundamental porque traz um horizonte de planejamento. O setor automotivo tem uma cadeia muito gran-
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de, que começa na produção do aço e vai até o distribuidor, e os investimentos são a longo prazo. Por isso, você não pode ter todo esse setor da economia trabalhando sem um horizonte para planejar, principalmente quando temos uma economia que não está robusta, como esteve no passado. Para sermos eficientes precisamos planejar melhor, e é isso que o Rota 2030 faz. PODER: Quais lacunas você apontaria no programa? RG: Existe incertezas porque ele define os mecanismos, não as metas. Quanto de eficiência energética as empresas têm que melhorar, por exemplo? Ainda não se sabe. O bom é que o programa estrutura o setor e cria um planejamento fundamental. PODER: Tecnologia é outro tema do Rota 2030. Por que estamos tão distantes dos carros elétricos? RG: Custo e infraestrutura. Embora as pessoas queiram mais conforto e menos poluição, é uma tecnologia cara. E no Brasil, por conta da infraestrutura, talvez demore ainda mais porque é preciso energia limpa para abastecer. Não adianta ter motor elétrico e queimar óleo na termoelétrica para gerar energia porque estaríamos apenas mudando o escapamento de lugar. Mas, dentro do bojo do Rota 2030, o governo aprovou um decreto importante que reduz não só a taxa de importação, como também o IPI para esses veículos dependendo do tamanho. São medidas importantes para, gradativamente, eletrificarmos a nossa cultura. Hoje temos os híbridos, como o Fusion, que são o primeiro passo. Mas ainda são produtos caros e com uma participação muito pequena no mercado.
PODER: Com relação ao mercado, podemos dizer que 2018 é o ano de retomada para a indústria? RG: Saímos da crise, mas não entramos no crescimento sustentável. Houve uma melhoria de vendas, um crescimento, mas uma série de questões ainda preocupa. Logo após a greve dos caminhoneiros os indicativos de confiança, principalmente com relação ao consumidor, caíram significativamente. As projeções do
PIB também. Podemos dizer que a taxa de crescimento está em ascensão, mas o que nós vimos no primeiro semestre não está se repetindo neste segundo. Veja o caso da Argentina, um mercado extremamente importante para o Brasil, já que exportamos muito para eles, e que vem sofrendo com a desvalorização cambial. O crescimento de vendas por lá, que era previsto no início do ano, já está sendo questionado. n PODER JOYCE PASCOWITCH 53
VIAGEM
A JAMAICA DE
IAN FLEMING Na ilha em que o escritor inglês criou, nos anos 1950, o agente Bond, James Bond, o QG criativo do autor transformou-se no GoldenEye Hotel & Resort, local dos mais elegantes e exclusivos do Caribe texto e fotos paula barros*
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oderia ser uma cena de um filme de James Bond, mas é realidade. O GoldenEye Hotel & Resort, na cidade de Oracabessa, costa norte da Jamaica, se tornou um destino muito interessante, afinal, foi ali, nos anos 1950, que Ian Fleming montou seu QG criativo e escreveu os romances do espião 007. Anos depois a propriedade foi adquirida por Chris Blackwell, fundador da Island Records e que levou Bob Marley ao estrelato. Não à toa que a boa música faz parte da estadia. Acostumados a receber poderosos, foi por lá que PODER, em visita ao local, presenciou o jantar de
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aniversário da icônica e andrógina Grace Jones – estrela da new wave, musa de Jean-Paul Goude e intérprete do disco hit “I’ve Seen That Face Before (Libertango)” – que reuniu celebridades e o próprio Blackwell em uma grande mesa ao ar livre. Nada que falarmos será compatível com a experiência local que inclui, entre opções, se hospedar na luxuosa Fleming Villa, antiga casa do escritor. Estar ali é vivenciar a sensação de esquecer a chave de um dos cinco quartos e se sentir completamente em casa. “Quero que sintam e identifiquem a sensibilidade e a identidade deste lugar”, nos ordenou Blackwell. n
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SPA
FOTOS ISTOCKPHOTO.COM
A casa de campo à beira da GoldenEye Lagoon, que hoje abriga o relaxante Field Spa, já pertenceu à top Naomi Campbell. Se surpreenda com receitas tradicionais jamaicanas que misturam raízes, folhas e ervas cultivadas na fazenda do hotel, a Pantrepant.
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FIREFLY HOUSE
Não deixe de conferir este anexo do resort. É possível agendar uma visitar à antiga casa do dramaturgo Noël Coward e tomar um drinque no gramado da residência com vista para a costa e que já recebeu a rainha Elizabeth 2ª.
PARA OBSERVAR
O jardim tem diversas árvores plantadas por celebridades como Johnny Depp, Sean Connery e Bill Clinton, que já foram hóspedes do GoldenEye.
lotado de E histórias é DIVIRTA-S m lugar recheado de tivas, piscinas de água va ru Além de se olha entre praias pri com fundo Esc e em barco atividades. io pelo mar do Carib delicie nos três resse se salgada, pas eling para crianças e ork sn , ro d vi e d o resort. taurantes d
NÃO DEIXE DE PR OVAR Callaloo (cozido de folhas de espinafre ), ma cana, cozido de acke e (fruta da família do çã jamaios famosos fried du guaraná ) e mplings (pãezinho s fritos ).
*A jornalista viajou a convite da NovaSafari by Carla Palermo e TL Portfolio
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PODER VIA JA POR ADRIANA NAZARIAN
SALA DE LEITURA
Para os fãs de arquitetura, vale incluir uma parada na pequena Aalst na próxima visita à Bélgica. Batizado de Utopia, o novo endereço localizado, no coração da cidade, reúne biblioteca e centro de artes performáticas. Com assinatura do escritório Kaan, o projeto aposta na modernidade, mas respeita o legado da construção – uma antiga escola para filhos de soldados, que data de 1880. Do lado de dentro das fachadas de tijolo, salas de aula, auditório, café e estantes de 11 metros repletas de livros doados pelos moradores. Para coroar, o Utopia ainda inclui iniciativas sustentáveis como painéis solares, água da chuva reutilizada e aquecimento geotérmico. UTOPIA-AALST.BE
ASSINATURA TOSCANA
Depois de uma ampla reforma o hotel Savoy, clássico de Florença desde 1893, ganhou cara nova e um toque fashion – Laudomia Pucci, diretora de imagem da grife italiana que leva seu sobrenome, participou do projeto. A colaboração aparece nos detalhes, como no lenço de seda com imagens da propriedade e da Piazza della Repubblica, que reveste as mesas do restaurante; e às estampas usada nas almofadas, tapete e poltronas do lobby. Entre os quartos, destaque para a nova suíte presidencial com vista para a cúpula de Brunelleschi. Em tempo: quem gostar do décor pode comprar o lenço by Pucci e levar um pedacinho de Florença para casa. ROCCOFORTEHOTELS.COM/HOTELSAND-RESORTS/HOTEL-SAVOY
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INSPIRA, RESPIRA
Nem só de praias paradisíacas e boas festas vive o verão na Grécia. Aos poucos, é um centro de bem-estar holístico na península do Peloponeso que tem caído nas graças dos viajantes. Para oferecer o equilíbrio entre corpo, mente e alma, o Euphoria Retreat mistura saberes das filosofias grega e chinesa. Por meio de tratamentos, dietas, práticas de cura e coach personalizados, o programa pretende oferecer um processo de limpeza profundo. Tudo isso, claro, somado a instalações de luxo que incluem quartos com vista para os castelos de Mystras, spa com hammam e restaurante focado na nutrição funcional. EUPHORIARETREAT.COM
LOGO ALI
Milão não é o único atrativo dos viajantes que se hospedam no Four Seasons da cidade. A partir deste mês, os hóspedes podem viver um day off em uma vila privada às margens do Lago de Como. Depois de um voo de helicóptero de 15 minutos, chega-se ao endereço recém-reformado que inclui piscina infinita, jardim, adega e spa. A experiência ainda oferece passeio de barco com direito a champanhe e refeição harmonizada com vinhos no terraço da propriedade. FOURSEASONS.COM MARLY PARRA
FOTOS DIVULGAÇÃO; PAULO FREITAS
DIRETORA DE MARKETING DA EY
“Minha filha mora em Milão, o que me fez conhecer mais de perto essa cidade apaixonante e charmosa. Aberto em 1957, o restaurante Il Salumaio di Montenapoleone tem uma arquitetura clássica com mesas no pátio, além de um salão interno muito elegante. A cozinha é italiana e você ainda pode comprar tartufo branco ou nero, queijos e presunto de Parma. Outro restaurante para curtir no verão é o Ceresio 7, que fica no topo de um palácio histórico. Tem duas piscinas magníficas e vista de 360 graus para a cidade – é possível alugar uma das cabanas da piscina para passar o dia. O chef Elio Sironi moderniza a clássica cozinha italiana tendo como base o forno a lenha e a grelha de carvão vegetal. E o bar fica aberto até a madrugada com DJ. Para se hospedar, minha sugestão é o Palazzo Moscova: um hotel construído no lugar da primeira estação de trem de Milão. Seu restaurante, o Savini Tartufi, é divino e tem degustações de oliva crocante com aroma de trufa, nhoque com trufas negras e espumante com trufa branca.”
PARA FICAR DE OLHO
Uma vez em Portugal, a ordem é sair do óbvio e seguir para a ilha de São Miguel, nos Açores, que reúne florestas, vulcões, cachoeiras e piscinas de águas termais. Tanto é que, nos últimos anos, três propriedades familiares foram transformadas em hotéis com o mesmo clima. O Pico do Refúgio é uma quinta com mais de 300 anos que já serviu de casa de campo para artistas portugueses e fábrica de chá. Hoje, são cinco lofts e três apartamentos que, vez ou outra, recebem residências artísticas. Já a Pink House é obra de dois arquitetos que transformaram a fazenda da família, cercada por jardins de orquídeas, em duas casas para alugar. E no alto de uma falésia no vilarejo de Lagoa fica o White, hotel instalado em uma casa do século 18. PICODOREFUGIO.
COM, PINKHOUSEAZORES.PT, WHITEAZORES.COM
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LUXO
BAL HARBOUR: UMA MIAMI PARA POUCOS Miami está entre as cidades mais visitadas nos Estados Unidos, mas um pequeno trecho de 2 quilômetros é diferente de tudo: Bal Harbour, a joia da coroa da Flórida, é o destino de quem busca exclusividade
A
etiqueta jamais permitiria placas do tipo “welcome to Bal Harbour”, mas, ao cruzar a fronteira imaginária e arborizada da Collins Avenue, ao norte de Miami Beach, fica evidente ao visitante que ele está adentrando a zona mais chic do condado – e a indicação não vem pelo superesportivo Koenigsegg, o carro de US$ 2 milhões parado ao lado no semáforo vermelho. É que nada pode ser mais sofisticado do que Bal Harbour, um pequeno oásis de tranquilidade, tido como a Riviera americana e local preferido de Frank Sinatra quando The Voice desembarcava na Flórida – aí, sim, está um forte indício do refinamento local. Embora tenha prefeito e o staff completo de um município, a cidade (ou “village”, pela definição do Estado da Flórida) não possui mais do que 2 km de extensão – pouco mais de 1 milha pelas medidas ianques. Como em um filme futurista, 3 mil residentes discutem amigavelmente os “problemas” da vizinhança em reuniões de condomínio e desfru-
tam o paraíso ao lado de hóspedes cinco-estrelas que aproveitam aprazíveis temperaturas – entre 15 e 32 graus ao ano – em praias de areia branca e água cristalina. Chega a parecer fantasia. “A mágica de Bal Harbour está nessa união, no convívio entre moradores e turistas. Tudo o que fazemos, e nós temos recursos para realizar nossas ideias, é pensado para ambos”, explica o prefeito Gabriel Groisman, um simpático jovem descendente de argentinos. “Se você escolher jantar no Carpaccio, ou sentar para comer um sushi no balcão do St. Regis, com certeza estará ao lado de um residente local.” De fato, em Bal Harbour o visitante nunca se sentirá excluído. Exclusivo é a melhor definição. A começar pelo Bal Harbour Shops, o primeiro centro comercial dos Estados Unidos dedicado ao mercado de luxo. Inaugurado em 1965, por Stanley Whitman, reúne, ao ar livre e céu azul, mais de 100 grifes da alta moda que fizeram do shopping o que mais fatura no pla-
FOTOS DIVULGAÇÃO
POR DADO ABREU*
Pérez Art Museum
Bal Harbour Shops
Gabriel Groisman, prefeito
neta com base nas vendas por metro quadrado. E o cofre tende a engordar nos próximos anos: o mall planeja uma expansão de US$ 400 milhões que dobrará seu tamanho até 2023, ancorado pela chegada da gigante Barneys New York, loja de departamentos especializada em luxo. Como já existe no local uma filial da Saks, outra referência do mercado, o Bal
Jorge Gonzalez, village manager
Harbour Shops será o único do mundo a agregar essas duas marcas em um mesmo espaço. De acordo com Jorge Gonzalez, village manager da cidade, é nessa meca do luxo que um seleto grupo de consumidores tem se destacado. “Muitos brasileiros fazem parte da comunidade, sendo alguns residentes. Mas é no Bal Harbour Shops
onde mais vemos os brasileiros, que são, de longe, os que mais consomem. Gerentes e vários funcionários falam português porque eles representam uma clientela importante para o negócio.” Quando PODER visitou o local, encontrou pelos corredores o ex-prefeito de São Paulo João Doria, o apresentador Fausto Silva e a jornalista Fabiana Scaranzi. O consumo de luxo é um dos atrativos do village, mas a experiência de estar na milha mais fina de Miami não é completa sem arte. Por isso, todos os hóspedes e moradores recebem um cartão pessoal com acesso gratuito a alguns dos mais aclamados museus e galerias da região, como o Pérez Art Museum (Pamm), o Museum of Contemporary Art (Moca) e o novíssimo e magnífico Phillip and Patricia Frost Museum of Science, que retrata passado, presente e futuro de forma interativa, onde a arquitetura encerra a experiência completa. “Bal Harbour é tudo isso. Se você estiver procurando exclusividade aqui é o lugar. Costumamos dizer que é uma cidade excelente para visitar, mas melhor ainda para viver”, gaba-se o prefeito Groisman. PODER, com toda a exclusividade local, comprovou. n * O jornalista viajou à convite de Bal Harbour Village e do Ritz-Carlton
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É DE PODER POR ANA ELISA MEYER
ANJELICA E JOHN HUSTON
Atriz, modelo, produtora, diretora e escritora, Anjelica Huston, 67 anos, é, sobretudo, filha de um homem indômito. Fruto do quarto casamento do aclamado diretor americano John Huston (19061987) com a bailarina nova-iorquina de origem italiana Enrica “Ricki” Soma, Anjelica teve uma infância mágica e cheia de privilégios, mas também carente de carinho por conta da constante ausência do pai que rodava o mundo fazendo filmes. Mas mesmo assim tinham forte ligação e ele foi uma grande influência em sua vida. Inclusive nos relacionamentos que teve, que foram com homens maiores que o comum, fortes e fugidios. Como o pai.
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GRAVATA Ricardo Almeida R$ 179 ricardoalmeida. com.br
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VAI COM FÉ
Os homens podem comemorar: a collab da designer Paula Ferber com a artista Mana Bernardes agora também é feita para eles. Juntas, elas criaram a Bota Fé, de neoprene e couro, com cano mais curto e uma pegada fun com as letras “F” e “É” estampadas. Nas cores marrom, dourado e preto. O item caiu no gosto masculino e a designer já mandou avisar que vai oferecer cada vez mais produtos masculinos e unissex dentro do mix de suas coleções. PAULAFERBER.COM
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WELCOME
Chega este mês ao Brasil o inédito carré masculino de cashmere e seda, medindo 1,40 x 1,40 cm da Hermès. Denominado Brazilian Horses, o primeiro carré criado pela ilustradora Anne-Margot Ramstein, artista por trás da identidade visual da competição de salto Saut Hermès 2018, traz, com traços gráficos, uma narrativa da cena equestre, que estará disponível na loja do Shopping Cidade Jardim. PT.STORES.HERMES.COM
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COZINHA DE PODER POR FERNANDA GRILO
O QUEIJO DOS QUEIJOS Chama-se emmenthal. Maravilha popularizada no século 19, é a epítome do queijo suíço por conta de seu sabor e de seus buracos, ou, melhor dizendo, de suas olhaduras – que precisam ser redondas, brilhantes e imaculadas
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sburacado e cheio de sabor. Pode parecer estranho, mas essa é a melhor definição do emmenthal, queijo dos mais celebrados do mundo e que tem origem no Vale do Emme, na região de Berna, na Suíça. Fabricado há tempos na cidade de Affoltern, ganhou o mundo em 1815 quando foi fundada a primeira cooperativa dedicada a ele, que possibilitou a fabricação em outras regiões do país e a consequente exportação. Apesar da ajuda da tecnologia, a produção dessa especialidade hoje ainda é feita como no passado. São observadas as mesmas cinco fases, que vão da coagulação do leite até a fermentação e a maturação. Com cor amarelada e casca dura, a principal característica do emmenthal é o aspecto com olhaduras – os famosos buracos. “A responsável por essa aparência é a bactéria propiônica, encontrada no leite de vaca, que libera um gás que estufa o queijo, formando as olhaduras redondas”, explica Geraldo Lima dos Santos, especialista em laticínios da Casa Santa Luzia. Na hora de servir, nada supera a versão original, que ganha toques gourmet na preparação dos clássicos fondues, gratinados, suflês e massas. Quem quiser ousar, como sugere o chef Paulo Neves, da Ghee Banqueteria, de São Paulo, pode ainda se aventurar na preparação de um tempurá de emmenthal ou acrescentar algumas fatias na lasanha para gratinar. n
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FOTO ISTOCKPHOTO.COM
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SOPA DE CEBOLA GRATINADA
MARCELO TANUS, CHEF DA ICI BRASSERIE INGREDIENTES • 100 g de manteiga sem sal • 2 kg de cebola laminada • 50 ml de vinho do Porto • 20 ml de licor Pernod • 1 litro de caldo de carne caseiro (feito
com ossos) • 4 fatias de pão de campanha • 350 g de queijo emmenthal ralado • sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto MODO DE PREPARO Em uma panela de fundo grosso, derreta a manteiga e adicione as lâminas de cebola. Cozinhe em fogo baixo por
CAFETEIRA ITALIANA COM 6 XÍCARAS Hercules R$ 75 HERCULES.IND.BR
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aproximadamente uma hora até elas ficarem bem douradas e adocicadas. Adicione o vinho do Porto e o licor Pernod e cozinhe por cinco minutos. Junte o caldo de carne e cozinhe por mais 20 minutos até os sabores se fundirem. Corrija o sal e a pimenta-do-reino. Coloque a sopa numa sopeira, apoie as fatias de pão sobre ela e cubra com o queijo. Volte ao forno e deixe lá até gratinar.
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TORTA DE CENOURA E EMMENTHAL
MADDALENA STASI, RESTAURATRICE DO MERCEARIA DO CONDE
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FOTOS ANGELO DAL BÓ/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
INGREDIENTES MASSA • 80 g de farinha de trigo integral • 250 g de farinha de trigo • 150 g de manteiga sem sal • 50 ml de água gelada RECHEIO • 3 colheres de sopa de azeite • 3 dentes de alho bem picados • 5 cenouras médias (cerca de 700 g) descascadas e raladas • 2 colheres de sopa de salsinha picada • 4 ovos e 4 gemas • 1 litro de creme de leite fresco • 3 colheres de sopa de farinha de trigo • 200 g de emmenthal ralado MODO DE PREPARO MASSA Preaqueça o forno a 150 graus. Numa tigela misture com as mãos as farinhas de trigo e integral, manteiga e água. Sove a massa numa superfície lisa até obter mistura homogênea. Abra parte da massa com um rolo sobre um filme plástico. Transporte-a e forre o fundo de uma assadeira com 27 cm de diâmetro. Forre as laterais com o resto da massa e leve ao forno por 20 minutos. RECHEIO Doure o alho no azeite, adicione a cenoura e refogue por cinco minutos. Misture sal e salsinha. Reserve. Liquidifique os ovos, as gemas, o creme de leite e a farinha. Polvilhe a massa preassada com emmenthal, coloque a cenoura refogada e despeje o creme batido. Leve ao forno por 45 minutos. ou até o creme ganhar consistência.
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HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI
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Quer luxo em forma de fones de ouvido? Seu nome é P9 Signature. Grandes, bonitos, potentes de alto desempenho, eles foram criados para refletir os 50 anos de inovação acústica da Bowers & Wilkins. Confeccionados de couro italiano Saffiano, com braços de alumínio dobráveis, garantem mais conforto e durabilidade. BWGROUPUSA.COM R$ 3.450
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CLAUDIA COHN,
* PREÇOS PESQUISADOS EM JULHO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES FOTOS DIVULGAÇÃO
diretora médica do Alta Excelência Diagnóstica “Utilizo muito o smartphone, que hoje é como uma continuidade das minhas mãos. Facilita grande parte do meu dia a dia, não só no trabalho, mas também para viajar, estudar, fotografar bons momentos com minha família e amigos. Com tantas atividades simultâneas, para mim os melhores aplicativos são os que mudam atitudes do cotidiano. Para comunicação considero o WhatsApp o melhor e para compartilhar e acessar pessoas LinkedIn e Instagram. Já na empresa estou apaixonada pela revolução que o Workplace faz. Para estudar gosto do Coursera e do TED Talks e para comer doTheFork e do Zagat. Como também adoro fotos, uso muitos apps de edição de imagens.”
BEATS SOLO3 WIRELESS
Com este fone você pode ouvir suas músicas quantas vezes quiser e ficar longe dos cabos graças à nova tecnologia W1 da Apple, que traz 40 horas de bateria. Além disso, quando a carga estiver fraca, cinco minutos na tomada garantem até três horas de reprodução. O aparelho promete uma acústica perfeitamente afinada, que maximiza a nitidez, a amplitude e o equilíbrio do som. Os fones são acolchoados e abafam os ruídos do ambiente. Disponível em várias cores. BEATSBYDRE.COM R$ 1.799
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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA
TUDO A DECLARAR
Em seu primeiro monólogo em 50 anos de carreira, Tonico Pereira vive Sócrates, e com esse personagem histórico discute justiça e liberdade – ou o avesso disso
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“O que aconteceu com Sócrates se repete: Jesus Cristo, Zumbi, Mandela, Joana D’Arc, Marielle”
FOTOS VICTOR POLLACK/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
O
velho filósofo, sozinho, faz a sustentação oral de sua defesa. As autoridades haviam-no acusado de corromper com ideias transgressoras a juventude, e por isso ele deveria ser julgado. Em 2018, no Brasil, como espectadores do possivelmente mais célebre julgamento da história do mundo ocidental – aquele que levou Sócrates à autoincriminação e à cicuta –, a plateia ouve um ator discorrer sobre conceitos muito falados e nem sempre exercitados: justiça, liberdade, saber. Essa voz é de Tonico Pereira, 70 anos, que interpreta o pai da filosofia ocidental no monólogo O Julgamento de Sócrates, em cartaz em São Paulo. Com cinco décadas de carreira, Tonico, como o grego que dizia só saber que nada sabia, recusa-se a afirmar que sabe tudo como ator. “Quem achar que já aprendeu tudo está morto. Só resta o sepultamento, a cremação.” A carreira de Tonico começou no convulsionado ano de 1968, tempo de luta por liberdade no Brasil e no mundo. Trincheira de resistência, o teatro era palco, literalmente, de embates diários. “A gente ficava especulando quem iria ser preso na próxima semana”, lembra. “Era uma censura física. Você fazia teatro com o censor na sua frente, olhando o texto e ouvindo o que você falava. Uma coisa degradante”, diz. “A censura hoje é muito mais sofisticada, assim como os golpes.” Da época do grupo de teatro comunitário na Universidade Federal Fluminense, no Rio, ficou o que ele chama de “seriedade” como ator. “Seriedade não sig-
nifica mau humor, mas tratar com muita justiça a feitura do teatro”. E só agora, aos 50 anos de carreira, veio o primeiro monólogo, a adaptação de Ivan Fernandes do texto “Apologia de Sócrates”, de Platão. Para Tonico, as palavras do homem julgado e condenado há mais de dois milênios não cessam de ecoar. “O Sócrates tem tudo a dizer”, ressalta o ator. “O que aconteceu com ele se repete: Jesus Cristo, Zumbi, Mandela, Joana D’Arc, Marielle.” “Descobri que não existe monólogo”, diz Tonico. “Em cena, contracenamos com o público e só há um compromisso a mais: se errar, fui eu; se acertar, fui eu. Não tem outro ator para culpar”, diz Tonico, que se define como “ator de aluguel”. “Nunca tive projeto. Seleciono, mas não tenho projetos próprios. O meu projeto de vida é a próxima respiração.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 71
EXPOSIÇÃO
Cidade revelada Precursor da fotografia moderna do Brasil, German Lorca ganha retrospectiva em que a estrela é a São Paulo que tanto registrou em 70 anos de carreira
Aos 96 anos, German Lorca guarda quase todas as câmeras com que mirou pessoas, cidades, geometrias, costumes. A primeira foi uma Kodak Bullet, de 1936. Com uma Welti 35 mm, fotografou a icônica A Revolta dos Passageiros, cena de um bonde incendiado na São Paulo de 1947. As lendárias Leica e Rolleiflex também estão na estante. Com todas, foi testemunha de um tempo. Colhidas de um acervo gigantesco construído em 70 anos de carreira, 150 fotografias, além de objetos pessoais – como as velhas câmeras –, compõem uma mostra retrospectiva da carreira do fo-
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tógrafo no Itaú Cultural, em São Paulo, a partir de 25 de agosto. Paulistano do Brás, Lorca deixou a profissão de contador, nos anos 1940, para ingressar num ofício ainda cambaleante e se tornar um dos mais importantes nomes da arte fotográfica no país. No Foto Cine Clube Bandeirante, marco do fotoclubismo no Brasil, aprendeu a fotografia autoral e experimentou a imagem como arte. Na década de 1950, com um estúdio próprio, enveredou pela publicidade, ramo em que foi distinguido com alguns dos prêmios mais importantes do gênero. “A fotografia comercial me ajudava a pagar as despesas da autoral. Não foi tão fácil no começo”, diz. “A qualidade de um fotógrafo autoral era sempre bem vista. Éramos muito procurados comercialmente”, explica.
São Paulo foi personagem rotineira na fotografia de Lorca. O Brás dos tempos de menino, a Sé com o desfile de gentes das mais diversas, a Praça da República cravada no coração da cidade. “Fotografei o que eu pude encontrar nos bairros, o registro das transformações e da vida das pessoas”, conta. Foram essas alterações no traçado arquitetônico e humano da cidade que Lorca foi buscar em um ensaio especial para a SP-Arte/Foto, que abre no dia 22 de agosto. Espaços como Parque do Ibirapuera, o bairro da Mooca e Largo São Francisco foram revisitados pelas lentes de Lorca, que ancora sua definição da arte fotográfica na relação com o espaço urbano. “Fotografia é o registro da vida, dos movimentos, de luzes, pessoas. É a cidade e o elemento humano, o que a cidade produz de efeitos”, ensina.
NÃO POSSO FICAR
O trem de Adoniran Barbosa está repleto de memórias: dos indefectíveis chapéus e gravatas borboletas, de velhos jornais, antigas gravações, fotos, objetos e até um roteiro para um filme nunca filmado. A exposição Trem das Onze – Uma Viagem pelo Mundo de Adoniran, no Farol Santander, em São Paulo, expõe a trajetória do compositor paulista de “Saudosa Maloca” e “Tiro ao Álvaro”. Até dezembro.
LITERATURA QUADRINHOS DA HISTÓRIA
FOTOS REPRODUÇÃO FACEBOOK; DAVI ROSSETO/DIVULGAÇÃO; EDISON ARAYA/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
História e criação dialogam na HQ Cumbe (Veneta, R$ 54,90), do paulistano Marcelo D’Salete, vencedor do Eisner, mais importante prêmio do gênero no mundo. Lançado nos Estados Unidos, França, Áustria, Itália e em Portugal, o livro é baseado em pesquisas sobre o Quilombo dos Palmares e narra a história de quatro escravos em uma saga de luta e resistência no Brasil colonial.
TEATRO
EM FORMA AOS 60
Peça fundamental na história do teatro brasileiro, Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, completa 60 anos com nova montagem no Teatro Aliança Francesa, em cartaz até 16 de setembro. Na trama, o jovem Tião, morador de uma favela, entra em conflito com o pai sindicalista ao se recusar a participar de uma greve. A peça retrata o embate de gerações na figura do pai idealista e do filho pragmático.
Shakespeare dança
Depois de passar pelo Rio, a montagem do balé Romeu e Julieta, da companhia Ballet de Santiago, tem agenda em São Paulo entre 16 e 19 de agosto, no Teatro Alfa. O espetáculo é uma releitura da famosa obra de Prokofiev baseada na peça de Shakespeare. A companhia é dirigida, desde 2004, pela consagrada bailarina e coreógrafa brasileira Marcia Haydée, uma das mais importantes do século 20. PODER JOYCE PASCOWITCH 73
LETRAS
EDUQUE-SE
CONHECER E APRECIAR GRANDES OBRAS LITERÁRIAS É O QUE SE ESPERA DE UMA PESSOA DE PODER. NO MÊS DA 25ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO, EM SÃO PAULO, PREPARAMOS UMA SELEÇÃO ALÉM DOS CLÁSSICOS PARA COLOCAR SUA LEITURA EM DIA
N
ão é novidade que ler traz vários benefícios, o que inclui deixar sua mente afiada e perspicaz. A ciência mesmo tem inúmeros estudos que comprovam que a leitura aumenta as conexões neurais, fazendo com que o cérebro funcione melhor. É como fazer ginástica com a cabeça. Estimula a criatividade, incita o senso crítico, melhora o vocabulário. Por isso, o importante é... LER, seja lá qual for seu tema preferido. Obviamente, clássicos são sempre clássicos, mas não são tudo. Afinal, a vida é muito curta para ler Moby Dick caso você não tenha nenhum interesse em descobrir o que acontece com uma baleia protagonista. Machado, Hemingway, Drummond e García Márquez são todos maravilhosos, mas pensamos em uma lista que inclua mais diversidade. Sem esquecer do talento para a escrita, claro. Aqui estão 20 autores com uma obra espetacular para você descobrir. Então, adquira o cartão fidelidade da livraria perto da sua casa ou compre logo aquele leitor digital que você andava namorando.
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MEIO SOL AMARELO,
TERRA ESTRANHA,
Fagundes Telles
de Chimamanda Ngozi Adichie
TU NÃO TE MOVES DE TI, de Hilda Hilst
A TRILOGIA DE NOVA YORK, de Paul Auster
GAROTOS INCRÍVEIS,
OS PESCADORES, de
OS VESTÍGIOS DO DIA,
A VISITA CRUEL DO TEMPO, de Jennifer Egan
ANTES DO BAILE VERDE, de Lygia
Chigozie Obioma
de Kazuo Ishiguro
de James Baldwin
de Michael Chabon
NÃO SEJA ESSA PESSOA
THE BERLIN STORIES,
Que lê um clássico no 1º ano do ensino médio e, depois disso, sempre que indagado sobre seu livro favorito, usa esse mesmo título como resposta. Pelo resto da vida.
CANÇÃO DE NINAR, de
de Christopher Isherwood Leïla Slimani
AMAR SE APRENDE AMANDO, de Carlos
Drummond de Andrade
KAFKA À BEIRA-MAR,
de Haruki Murakami
ENCLAUSURADO, de
Ian McEwan
THE COUNTRY GIRLS,
de Edna O’Brien
A AMIGA GENIAL, de
Elena Ferrante
SUSPENSE
FOTOS DIVULGAÇÃO
Não tem nada melhor que se envolver com uma boa história de mistério. Aqui, sete segredos que fariam de Agatha Christie e O Caso dos Dez Negrinhos uma história da carochinha.
WHITE TEETH,
INTÉRPRETE DE MALES,
de Zadie Smith
de Jhumpa Lahiri
BAD BEHAVIOR, de
ELES ERAM MUITOS CAVALOS, de Luiz Ruffato
• Quando Haverá Boas Notícias, de Kate Atkinson • Night Soldiers, de Alan Furst • Fadeout, de Joseph Hansen • O Silêncio da Chuva, de Luiz Alfredo Garcia-Roza • As Sete Sombras do Gato, de Jeanette Rozsas • Bufo & Spallanzani, de Rubem Fonseca • A Tristeza Extraordinária do Leopardo-das-Neves, de Joca Reiners Terron Mary Gaitskill
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CABECEIRA RACISMO & SOCIEDADE: NOVAS BASES EPISTEMOLÓGICAS PARA ENTENDER O RACISMO – CARLOS MOORE
ESTANTE
POR ALINE VESSONI
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Carlos Moore nos apresenta, por meio do racismo e da sociedade, uma rica pesquisa para entendermos a construção da ideologia racista em suas diferentes formas de manifestação, em toda história da humanidade. VIROU REGRA? – CLAUDETE ALVES
Durante a minha caminhada nessa desconstrução e quebra de padrões da imagem do negro na sociedade, este livro me fez refletir ainda mais sobre a solidão da mulher negra e os desafios que teremos que enfrentar para sair da base da pirâmide social. IANSÃ : RAINHA DOS VENTOS E DAS TEMPESTADES – HELENA THEODORO
Neste livro, a historiadora explica o samba como um ato político de resistência. Cada figura tem sua importância na dança derivada da religião: da passista ao mestresala. O girar da baiana, por exemplo, acontece no intuito de invocar os ancestrais em busca da África perdida. OBARÀYÍ: BABALORIXÁ BALBINO DANIEL DE PAULA - AGNES MARIANO, DADÁ JAQUES E ALINE QUEIROZ
A história sobre a vida e a obra de Obaràyí foi responsável para que eu apurasse e descolonizasse o meu olhar para as religiões de matriz africana. Este livro me leva até a “África”, que existe e resiste em Salvador, na Bahia . SEJAMOS TODOS FEMINISTAS CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE
Chimamanda me inspira quando se define como uma feminista de batom e salto alto. A obra humaniza e desmistifica o feminismo de maneira sutil e bem-humorada.
UM DEFEITO DE COR – ANA MARIA GONÇALVES
Este romance marcou muito a minha família, porque ele incitou os questionamentos da minha filha - que era adolescente na época - quanto a se entender como mulher negra. A protagonista consegue manter a África viva, essa mesma África que os negros abandonam ao desembarcar aqui.
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A atriz e escritora Kenia Maria se considera uma pessoa privilegiada. Dentre as famílias negras e suburbanas cariocas que ela conhece, quase nenhuma teve a oportunidade de conviver com seus ancestrais. Ela sim. Em um quintal, teve a chance de ouvir histórias do bisavô e ver a avó cozinhar. Mas, sobretudo, pôde assistir a luta do avô materno, seu Irineu, para que os nove filhos pudessem estudar; e a dos tios, tias e de sua mãe para terminar a universidade, porque negro e periférico que estuda é sinônimo de resistência. Jogar capoeira, fazer oferenda e manter o crespo dos cabelos também é resistir. É a esse privilégio a que Kenia se refere. “Aos 14 anos, entrei para um grupo afro, cujo foco de atuação estava em empoderar meninas negras que na época – de paquitas loiras – careciam de representatividade. Depois foi a minha vez de repassar esse conhecimento a outras meninas [...] Aliás, o feminismo negro não é novo, a internet só o deixou mais visível. Ele existe desde a chegada do primeiro navio negreiro”, afirma. A tia, Ivanete, teve grande influência nos gostos literários de Kenia, uma vez que ela se ocupou da educação da sobrinha. “É uma das mulheres mais cultas que conheço. Conseguiu se formar em medicina e fazer duas especializações na Federal do Rio, na década de 1970. Um feito quase inédito para época”, orgulha-se. De sua militância também resultou o livro infantil Flechinha, o Príncipe da Floresta, que visa chamar atenção para a lei que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas. “Nos livros didáticos, os negros sempre aparecem acorrentados e os brancos de coroa [...] Esse livro vem como uma reparação, porque é importante que uma criança branca conheça a história do negro”, conta. Defensora dos direitos das mulheres negras, Kenia Maria está na lista dos “100 negros mais influentes do mundo” e receberá o prêmio em Nova York, em setembro.
UNIVERSO PARTICUL AR POR ALINE VESSONI
Curador da Bienal de Arte de São Paulo, o espanhol Gabriel Pérez-Barreiro quer tirar a arte de seus guetos, cultiva hábitos matutinos e desliga o celular à noite
Mais ou menos aos 16 anos, o curador da 33ª Bienal de Arte de São Paulo, que começa agora em setembro, o espanhol Gabriel Pérez-Barreiro, desistia definitivamente do palco. “Até então queria ser músico, mas não tinha o talento necessário.” Sobrava a ele, contudo, a certeza de que trabalharia com arte. O fato de sempre se interessar pela arte, e também considerá-la plataforma de educação, ARTE: o desconhecido POLÍTICA: fraude
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OBRA-PRIMA: A Paixão
moldou seu futuro. Estudou literatura espanhola e latino-americana e história da arte, e acabou por se especializar em arte latino-americana “para unir esses dois mundos”. “Para mim, o trabalho principal do curador é ser quase um tradutor de linguagem de arte para o grande público. Na 6ª Bienal do Mercosul, em 2007, trabalhamos muito para criar um evento com ênfase na pedagogia, e agora, em São Paulo, o projeto educativo também é uma grande prioridade”, conta. Em 2018, a mais famosa exposição de artes visuais sul-americana chega de cara nova. Pérez-Barreiro explica que propôs algumas mudanças no “sistema operacional” da bienal ao convidar alguns artistas para fazer parte da curadoria e sugerir que o norte de seu trabalho não se apoiasse numa temática unificada. Nada de separar as obras em guetos – por países ou temas –, pois, para o curador, isso
limita a interação do espectador com a obra de arte, justamente porque ela assim deixa de cumprir seu papel: o de transformar o observador. Natural de La Coruña, Pérez-Barreiro é diretor da Colección Patricia Phelps de Cisneros, instituto com foco em arte latino-americana. Quando precisa escrever, ele acorda “antes do mundo acordar”, já que “as primeiras horas do dia são sempre as mais produtivas”. Depois das 10 horas dedica-se a atividades mais burocráticas, e adora quando isso pode ser feito ao som do compositor americano Philip Glass. Esforça-se para não trabalhar até depois das 19 horas para desfrutar da companhia da família ou de um bom livro. Cozinhar ou ler ficção são lenitivos, mas nada como desligar o telefone. “Hoje trabalhamos o tempo todo por causa do smartphone, mas uma hora eu o desligo. Assim consigo descansar até o dia seguinte.” n
TRABALHO: prazer BIENAL: desafio HOBBY: ler
Segundo São Mateus (Johann S. Bach) MÚSICA: MPB LITERATURA: Rosalía de Castro INSPIRAÇÃO: silêncio CIDADE: Santiago de Compostela ESTADOS UNIDOS:
diversidade conflitiva DIVERSÃO: passear ARTISTAS PREFERIDOS: todos com quem estou trabalhando no momento
ESPORTE: academia
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POLE POSITION por josé rubens d’elia
VENCER PARA SER FELIZ OU SER FELIZ PARA VENCER? vivem em função da vitória. Para todos, a permissão à felicidade está condicionada aos resultados. O ovo de Colombo está em entender que ela vem antes do sucesso. Aliás, pode, inclusive, ser a mola propulsora para tal. Shawn Achor não apresenta uma mágica para a felicidade. Mas mostra caminhos possíveis, tais como:
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professor de psicologia positiva da Universidade de Harvard – curso que se tornou um dos mais concorridos da instituição – e autor do livro O Jeito Harvard de Ser Feliz, no qual ele compartilha importantes lições de seu objeto de pesquisa. Posso afirmar que não é preciso fazer uma enorme mudança, tampouco reinventar a roda. Basta entendermos a lógica e constatarmos que o preço da felicidade é acessível a todos e que ela pode ser a matéria-prima permanente para fazermos nossas escolhas. Como treinador com mais de 40 anos de experiência, acompanho a vida dos meus atletas do mundo esportivo e corporativo, que
Eu já aceitei ser feliz antes de tudo. Então, que tal incluir a felicidade como o primeiro item do seu dia? Felicidade também se treina. n José Rubens D’Elia é fisiologista e treinador de pilotos, atletas, empresários e executivos. É diretor da Pilotech – Clínica de Performance de Pilotos, em São Paulo
ILUSTRAÇÃO ISTOCKPHOTO.COM; FOTO ARQUIVO PESSOAL
S
e respondermos a pergunta com o aprendizado que sempre tivemos, escolheremos, certamente, “vencer para ser feliz”. Traçamos nossos objetivos embasados na crença de que só teremos direito à felicidade se a conquista for concretizada. Consequentemente, não percebemos que esse estado tão desejado, em que colocamos toda a nossa energia, é efêmero. Dura pouco. E o que fazemos em seguida? Ligamos o piloto automático e escolhemos outro desafio para merecermos a tão cobiçada felicidade. A boa notícia é que esse paradigma está sendo questionado e mudado. O pai da matéria é Shawn Achor,
• Moldar nosso cérebro para ver o mundo de forma positiva. A sugestão reforça o que aprendemos sobre a plasticidade do cérebro; • Enriquecer nossas conexões sociais e mantê-las, principalmente nos momentos de pico de trabalho e grandes desafios; • Praticar a gratidão e escrever, diariamente, três motivos para agradecer; • Fazer meditação e exercícios físicos; • Lidar melhor com o estresse; • Não desistir quando fracassar. Sobre isso, Achor usa a expressão: “cair para cima”.
CARTAS cartas@glamurama.com
LEÃO FERIDO
As fotos e a entrevista com Projota estão demais (PODER 118)! É corajoso se definir, principalmente com essa verdade que ele traz. Tânia Ribeiro, Santa Maria (RS), via e-mail
ALMOÇO DE PODER
Achei muito interessante a entrevista com André Singer (PODER 118). Nestes tempos de opiniões polarizadas é sempre bom conhecer ideias equilibradas e lúcidas. Luciana F. Magalhães, Rio de Janeiro (RJ), via e-mail
TUDO POR PETRÓLEO
A matéria sobre o petróleo (PODER 118) deixou ainda mais evidente o quanto somos dependentes dele. A população também deveria estar mais mobilizada. Por que não viabilizar transporte ferroviário e hidroviário? Rodrigo Ferreira, Santos (SP), via e-mail
NA BAIXA
FOTO PEDRO DIMITROW
Os imóveis no Rio não estão com preços baixos, mas eles realmente caíram (PODER 118). Sempre achei que o país não daria conta da “ressaca” da Copa e da Olímpiada, eventos que fizeram bombar esses preços. Ricardo Freitas, São Paulo (SP), via e-mail
ERRATA Diferentemente do informado na seção High-Tech da PODER 118, o nome do diretor de marketing da Ford do Brasil é Mauricio Greco, e não Mauricio Grego como publicado.
/poder.joycepascowitch
AGENDA PODER
CAMARGO ALFAIATARIA + camargoalfaiataria.com.br EMPORIO ARMANI + armani.com GUCCI + gucci.com LACOSTE + lacoste.com MERINO + merinoalfaiataria.com.br RICARDO ALMEIDA + ricardoalmeida.com.br
@revistapoder
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“É louco que eu ainda esteja aqui”, disse o compositor e guitarrista inglês Eric Clapton. Vítima de uma neuropatia periférica, doença que faz com que perca a coordenação motora e sinta dormência e dores nas extremidades do corpo, ele já precisou cancelar shows e se deslocar em cadeira de rodas. Apesar da condição, segue, aos 73 anos, na pegada, e em 8 de julho fez um show no Hyde Park, em Londres, para 65 mil fãs que talvez tenham tido na ocasião a última oportunidade de ver “God” em ação. Em 2016, quando revelou seu estado, disse à revista Classic Rock sentir “choques elétricos descendo pela perna”. Clapton não é o primeiro músico a padecer do mal, mas sua sofrência só faz crescer – neste ano ele disse também “estar ficando surdo”. Ele tem tinnitus, que o faz ouvir zumbidos constantemente. No Hyde Park, em que tocou no terceiro dia do festival British Summer Time, Clapton e seus conterrâneos talvez ainda acreditassem que a Inglaterra poderia ir mais longe na Copa, e, ao subir ao palco, o músico disse a frase que embalou os torcedores do English Team: “Está voltando para casa”. Pois é, o título não retornou para a pátria do futebol, mas o show foi memorável. God brindou a audiência com standards de blues como “Key to the Highway” e “Hoochie Coochie Man”, entre outras. O desgraçado vai fazer falta.
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FOTO CHRISTIE GOODWIN/GETTY IMAGES
HIT THE ROAD
ris co •
(substantivo masculino) 1 Do francês RISQUE. Evento que pode
ou não ocorrer, com possíveis consequências para pessoas ou organizações caso se concretize.
2 Evento que pode ser transformado em
vantagem competitiva. Gestão integrada ao negócio, fazendo parte do processo de definição da estratégia, da cultura organizacional e das atividades do dia a dia. Com isso, sua empresa ficará mais preparada para antecipar mudanças, identificar oportunidades e obter diferenciação em estratégia e performance. Termos relacionados: gestão de riscos, olhar estratégico, vantagem competitiva, COSO — Gerenciamento de Riscos Corporativos — Integrado com Estratégia e Performance.
O mundo pede novas leituras. www.pwc.com.br/gestao-riscos
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