Revista Poder | Edição 141

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PROPÓSITO, PROPÓSITO, PROPÓSITO, PROPÓSITO, PROPÓSITO, PROPÓSITO,INCLUSÃO INCLUSÃO INCLUSÃO INCLUSÃO INCLUSÃO INCLUSÃOEEEEEEESPERANÇA ESPERANÇA ESPERANÇA ESPERANÇA ESPERANÇA ESPERANÇA

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PODER JOYCE PASCOWITCH

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20 SUMÁRIO EDITORIAL COLUNA DA JOYCE O ARTICULADOR

Outrora impopular, Michel Temer torna-se exemplo de moderação por sua gestão “semipresidencialista”, como gosta de dizer 20

A VOZ DO MERCADO

Presidente do banco de investimento BR Partners, Ricardo Lacerda analisa o cenário econômico e crítica a inaptidão do governo federal 24

RH DA FELICIDADE

Você sabe o que faz um CHO? Conheça o Chief Happiness Officer, o novo representante do C-Level 28

SAÍDA PELA ESQUERDA

Governador do Maranhão, Flávio Dino transcende o próprio estado para se tornar uma das principais forças progressistas do país 36

A FORÇA DE UMA VICE

Kamala Harris e o simbolismo da

41

OPINIÃO

A psiquiatra Natália Mota sonha um futuro pós-pandemia 46

O ANO NO DIVÃ

2021 na visão de nove personagens que brilharam em 2020 50

ESPELHO

O empréstimo de sonhos da Credipaz 52

PARA MANTER O REINADO

O campeão mundial de surfe Ítalo Ferreira posa para as lentes do fotógrafo Maurício Nahas 58

SOB MEDIDA

As escolhas do escritor, ambientalista e líder indígena Ailton Krenak 60

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MICHEL TEMER POR ROBERTO SETTON

AGENDA PODER

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NA REDE:

OPINIÃO

/revista-poder-joyce-pascowitch

O poder da poesia segundo o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro

@revistapoder

RESPIRO

François Cevert: olhos azuis sob a balaclava

@revista_poder /Poder.JoycePascowitch

FOTOS FERNANDO TORRES; GETTY IMAGES

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primeira negra eleita para o posto de vice-presidente dos EUA



Nina Silva, fundadora do movimento Black Money, fala sobre o desenvolvimento do ecossistema afroempreendedor Cenas inesquecíveis do cinema à beira-mar

O que há de mais bacana na capital cearense

A teoria da jaca segundo o coach físico Nuno Cobra Jr. 80



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esmo no 2020 da pandemia, em que todos os dias poderiam parecer tediosamente iguais – o que, de fato, jamais aconteceu –, não há nada como um dia após o outro. A Terra não parou de girar, mesmo com grande parte do planeta em home office. Que o diga Michel Temer, o ex-presidente que uns poderiam até chamar de acidental – e outros, bem ao contrário. Amaldiçoado ao longo de dois anos, ele se tornou agora uma figura quase “cult”. Talvez pelo simples fato de ter deixado os holofotes, ou, quem sabe, por ter legado as tão faladas reformas que o país emperra na hora de fazer: no seu caso, a trabalhista, a do teto de gastos e a preparação para a previdenciária, resolvida depois por Rodrigo Maia. Em entrevista aos editores Dado Abreu e Paulo Vieira, Temer conta que a impopularidade paradoxalmente o ajudou a destravar essas agendas – e tantas outras histórias mais. Outra agenda sempre falada, mas raramente cumprida, é a que Flávio Dino, o governador do Maranhão cuja popularidade digital transcendeu o seu estado, tenta impulsionar: a formação de uma frente ampla de centro-esquerda. Ele ficou feliz com o desempenho “de regular para o bom” dos partidos de esquerda nas eleições municipais, mas sabe que há muitas arestas a aparar. Kamala Harris, a vice-presidente eleita dos Estados Unidos, também as tem às centenas, mas junto com Joe Biden já está cuidando de resolvê-las. Em reportagem especial, analistas discutem a potência de sua vitória: teria mais força simbólica que a de Barack Obama? O tempo dirá. E alguém aí lembra que o Butão é líder do índice de felicidade interna bruta, o PIB alternativo de que o mundo às vezes debochava? Pois bem: agora é o mercado corporativo que corre atrás da felicidade, e para isso criou a figura do CHO, o Chief Happiness Officer. Parece (mas não é!) algo um tanto etéreo em um Brasil que ainda precisa gerar emprego e renda. E também resistir aos velhos expedientes de Brasília, como a criação de um imposto sobre movimentação financeira, coisa que Ricardo Lacerda, do BR Partners, diz que é “para tapar buraco”. Em entrevista especial ao repórter Sergio Leo, o banqueiro faz uma fina análise do que cabe – e serve – à economia brasileira. Nesta edição histórica, que radiografa um ano inesquecível e abre um outro de esperança, contam ainda de suas expectativas para 2021 figuras que brilharam em 2020: Sidarta Ribeiro, Eliane Dias, Maria Homem, José Junior, entre outros. Isso é só a partida. Tem Ensaio com o campeão mundial de surfe Ítalo Ferreira, a grande aposta do Brasil ao ouro na estreia olímpica da modalidade em julho, no Japão; os novos livros da imortal Nélida Piñon – que mulher é essa? – e do economista Eduardo Giannetti; o que importa para o ambientalista Ailton Krenak; uma seleção de water toys para curtir as férias; filmes icônicos de verão e a estreia de colunistas especiais: Nina Silva, expert em inovação e uma das fundadoras do Movimento Black Money, e Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, célebre advogado criminalista – e poeta. E vamos nessa porque 2021 chegou. E como se dizia antes da pandemia: ninguém larga a mão de ninguém.

R E V I S TA P O D ER . U O L. C O M . B R




Poderoso, para mim, não é aquele que descobre ouro. Para mim, poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas)


com reportagem de carol sganzerla, dado abreu e paulo vieira




Brasil, Temer acaba de lançar A Escolha (ed. Noeses), livro de entrevistas conduzidas pelo filósofo Denis Rosenfield e com prefácio do economista Delfim Netto, em que examina passado, presente e futuro. “Eu tenho muitas outras coisas a dizer, mas creio que o fundamental está nesse livro.” No livro e também nesta entrevista concedida com exclusividade aos editores de PODER.

também uma vantagem pelo fato de não ter um sistema eminentemente presidencialista, o Legislativo acaba sendo também o executor das medidas administrativas.

PODER: O SENHOR SEMPRE FOI MUITO INFLUENTE NO CONGRESSO, UM EXÍMIO ARTICULADOR. JÁ O PRESIDENTE JAIR BOLSONARO ENFRENTA AS CONSEQUÊNCIAS DO RACHA DE SEU ANTIGO PARTIDO, O PSL, E DE NÃO TER CONSTRUÍDO UMA BASE DE APOIO AO LONGO DO SEU PRIMEIRO ANO DE MANDATO. NESTE SENTIDO, TEM DADO CONSELHOS A ELE? MICHEL TEMER: Não sou conselheiro do presidente. Mas,

nho, e sempre tive, uma boa articulação com o Congresso. Tive seis mandatos como deputado federal, fui três vezes presidente da Câmara e tinha uma ótima relação com deputados e senadores. Trouxe o Congresso para governar, mas não o fiz apenas por vontade própria, mas porque a Constituição assim determina, é uma imposição da carta magna.

PODER: É CONSENSUAL QUE A REFORMA DA PREVIDÊNCIA FOI APROVADA MUITO MAIS POR ESFORÇO DO PRESIDENTE RODRIGO MAIA E DOS DEPUTADOS DO QUE PROPRIAMENTE PELO EXECUTIVO. DIANTE DISSO, O SENHOR VÊ CONDIÇÕES DE O BRASIL ADOTAR O PARLAMENTARISMO? MT: Eu exerci aquilo que chamava de semipresidencialis-

mo. Porque, tal como determina a Constituição, trouxe o Congresso para governar comigo. Não havia uma reunião dos líderes, ou mesmo encontros, jantares e almoços, que não tivesse a presença dos presidentes da Câmara e do Senado. Isso gerou a ideia de um semipresidencialismo, mais ou menos ao estilo português, em que o presidente tem uma grande função. É ele o chefe da diplomacia nas relações externas, tem direito à sanção e ao veto, nomeia o primeiro-ministro... É um parlamentarismo com grande presença presidencial no qual o primeiro-ministro cuida das questões administrativas do país. Acho que a essa altura, especialmente pela experiência que se teve no meu governo, o Brasil está amadurecendo para essa ideia. PODER: QUAIS SERIAM AS VANTAGENS EM ADOTAR ESSE REGIME? MT: Você evita os traumas institucionais. Nós temos

uma jovem Constituição, de 32 anos, e tivemos dois impeachments. E, toda vez que se tem um impedimento, tem um trauma institucional. Diferentemente de um regime semipresidencialista, no qual se o governo não for bem cai e se constitui um novo, de forma natural, sem rupturas. Vejo

14 PODER JOYCE PASCOWITCH

PODER: A SUA IMPOPULARIDADE NÃO AJUDOU? MT: Logo no início do governo eu fiz uma reunião no Con-

selho de Desenvolvimento Econômico e Social e um deles pediu a palavra: “Presidente, aproveite a sua impopularidade e faça o que o Brasil precisa”. E foi isso que aconteceu. Pelo seguinte: quando o governante está interessado no fenômeno eleitoral, e eles estavam, ele toma cuidado. Só eu tive coragem de investir na Reforma da Previdência e nós conseguimos convencer o povo, a população e de igual maneira o Congresso, tanto que eu deixei o governo com os votos necessários para a aprovação. O Rodrigo Maia me ajudou muito nesse convencimento e, quando assumiu o novo governo, o Congresso levou adiante a matéria. Fizemos essas reformas todas sem embargo da impopularidade, eu não tinha como objetivo agradar o eleitor. Se tivesse não fixaria um teto de gastos públicos, pois impede as chamadas medidas populistas. Também não teria feito a modernização trabalhista, que em princípio parecia impopular e hoje começa a ser compreendida. Quem quer disputar eleições não mexe em certos vespeiros. PODER: O SENHOR FOI UM DOS PRIMEIROS GOVERNANTES A SOFRER UMA ONDA DE CRÍTICAS ORGANIZADAS NAS REDES SOCIAIS, VIDE A #FORATEMER. QUAL PARALELO FAZ COM O QUE ACONTECE ATUALMENTE COM UMA MILITÂNCIA DIGITAL TÃO FORTE QUE CHEGA A INFLUENCIAR AS DECISÕES DO EXECUTIVO? MT: Vejo isso com naturalidade, é do sistema democrático.

Lembro, inclusive, que em uma das minhas últimas entrevistas como presidente me perguntaram do que eu mais sentiria falta ao deixar o poder. Eu disse do #ForaTemer, porque significa que eu estarei fora quando ele deixar de existir [risos]. Isso é natural, né? Todo governo sofreu com uma oposição ferocíssima. Depois tivemos o #FicaTemer e agora o #VoltaTemer, uma coisa simpática, um reconhecimento da população ao governo.

FOTO ASCOM/VPR

de fato, a pregação eleitoral de início ao fazer uma distinção entre velha e nova política trouxe um certo afastamento do Congresso Nacional. Porém, logo ele percebeu que seria indispensável ter um bom diálogo. Eu dei vários palpites nessa direção nas entrevistas e ele acabou fazendo uma aproximação. Sem Congresso não se governa, seja no presidencialismo, seja no parlamentarismo. Sem maioria, não governa.

PODER: CHAMA ATENÇÃO O NÚMERO DE CONQUISTAS DO SEU GOVERNO EM DOIS ANOS E SETE MESES. A QUE SE DEVE AS SUAS VITÓRIAS? MT: Consegui fazer as reformas precisamente porque te-


“Me perguntaram do que eu mais sentiria falta ao deixar o poder. Disse: do #ForaTemer, porque eu estarei fora quando ele deixar de existir [risos]”

PODER: O SENHOR DIZ ESTAR SE RETIRANDO DA VIDA POLÍTICA, MAS POLÍTICO SEMPRE SE MANTÉM ACOMPANHANDO OS CENÁRIOS. COMO VÊ HOJE O MDB, UM PARTIDO, DE CERTA FORMA, POUCO ALIJADO DAS GRANDES DISCUSSÕES NACIONAIS? MT: O PMDB ao longo do tempo transformou-se em um

partido eminentemente congressual. Certos temas como o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal e, de natureza social, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, todos só foram adiante porque o PMDB, que no geral era um dos principais partidos numericamente no Congresso Nacional, apoiou e avalizou. Ele perdeu aquele protagonismo inaugural, quando havia o MDB de um lado e a Arena do outro, mas depois foi se aclimatando aos novos tempos. Neste novo momento, em que existem muitos partidos políticos no país, o MDB ainda é capaz de fazer o maior número de prefeitos e fazer propostas de interesse para o país como a Reforma Tributária.

PODER: NO SEU MAIS RECENTE LIVRO, A ESCOLHA (ED. NOESES), O SENHOR RECLAMA DO VERBO “DELATAR”. QUAL

ANOS DE ARTICULAÇÃO A trajetória de Michel Temer até a Presidência da República

A SUA OPINIÃO SOBRE O INSTRUMENTO DA COLABORAÇÃO PREMIADA? MT: Eu acho importantíssimo a colaboração premiada, ape-

nas não acho que deva ser a força motriz, logo inaugural, de toda e qualquer ação de natureza penal. Ela é um dos elementos de prova, mas muitas vezes se o delator não disser certas coisas sofrerá consequências desagradáveis. Portanto, não se sabe ao certo se o que disse é verdadeiro ou não. Contudo, não há dúvida que é um início de prova extraordinário e, como todo início de prova, tem que evoluir para uma conclusão. Só ao fim de todo procedimento é que se pode elevar a delação ao grau máximo no sistema jurídico. PODER: COMO AVALIA A APROXIMAÇÃO DO PRESIDENTE BOLSONARO COM O CENTRÃO E O FISIOLOGISMO POLÍTICO DO GRUPO, DISPOSTO A NEGOCIAR APOIO AO EXECUTIVO EM TROCA DE CARGOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA? MT: Sou contra a essa história de rótulos, de direita, es-

querda, extrema direita, extrema esquerda, centro. O que o povo quer é resultado. Se o resultado for positivo, aplausos, se não for é vaia, não interessa se é esquerda

Formação Forma-se em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). Em 1974, conclui o doutorado em direito público na PUC-SP

1963

1964

Procurador Torna-se procurador do Estado de São Paulo

1970 Carreira política Inicia a carreira política como oficial de gabinete de Ataliba Nogueira, secretário de Educação no governo do Estado de São Paulo

PODER JOYCE PASCOWITCH 15


ou direita. Esse é um primeiro ponto. O segundo é que para trazer o Congresso, ele [Bolsonaro] tem que trazer os deputados e senadores. De todos os espectros. “Ah, mas ele não pode fazer acordo com partidos do centrão.” Muito bem, se isso não pode ser feito, por coerência política o presidente deve admitir perder 140/150 votos. E ele pode dar-se a esse luxo? Não. E mais: os deputados não estão lá por uma centelha divina, eles foram levados pela vontade popular, não se pode ignorar a regra constitucional que diz que “todo poder emana do povo em seu nome exercido”. Eu fui presidente e tinha cerca de 400 cargos para preencher. Vêm indicações e muitas vezes políticas. O que tem que ser feito? Uma análise técnica e ética dos indicados. Se for aprovado, não importa de onde vem a indicação. PODER: QUAL A SUA MAIOR FRUSTRAÇÃO COMO PRESIDENTE DA REPÚBLICA? MT: Não tive frustações. Porque, convenhamos,

tive um governo de dois anos e meio com uma oposição ferocíssima e, fora a par todos os percalços, nós fizemos muitas coisas. Quando cheguei tinha um documento, o “Uma Ponte para o Futuro” [programa lançado pelo PMDB que dá ênfase à necessidade de ajuste fiscal e de flexibilização do Orçamento], que sugeria tudo aquilo que acabei realizando. Não significa que não tenha cometido erros, certo e seguramente devo tê-los cometido, mas eu seguia a lição do presidente Juscelino Kubitschek: “Eu não tenho compromisso com o erro”. Se errasse, recuava. O recuo é um fenômeno democrático. PODER: QUANDO ASSUMIU, UMA DAS SUAS PREGAÇÕES ERA A NECESSIDADE DE UNIDADE E PACIFICAÇÃO DA SOCIEDADE, QUE NÃO ACONTECEU. ONDE ERROU NESSE SENTIDO? MT: Bem lembrado, talvez seja uma das minhas frusta-

Procurador-geral Nomeado procurador-geral do Estado de São Paulo, a convite do governador Franco Montoro (PMDB)

1983

1981 PMDB Filia-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), atual MDB, no qual segue até hoje

16 PODER JOYCE PASCOWITCH

1984

SSP-SP Assume a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, cargo que voltaria a ocupar no início dos anos 1990

FOTOS ASCOM/VPR; DIVULGAÇÃO

ções. Eu pregava isso quando presidente da Câmara, quando vice-presidente e naturalmente como presidente da República. E não fazia por conta própria, pois a Constituição, no preâmbulo, fala em pacificação, uma sociedade fraterna, igualitária, solidária, pluralista. “To-


VERSÃO ESTENDIDA Resultado de entrevistas concedidas ao filósofo Denis Rosenfield, o ex-presidente Michel Temer apresenta o seu registro pessoal dos anos em que esteve no poder no recémlançado A Escolha – Como um Presidente Conseguiu Superar Grave Crise e Apresentar uma Agenda para o Brasil (Editora Noeses, R$ 150). Na obra o ex-presidente compara a sua passagem pelo Planalto com a série de TV Designated Survivor, iguala seus delatores a Joaquim Silvério dos Reis e nega ter conspirado contra a presidente Dilma Rousseff, a quem, dias antes da queda, teria comunicado que os pedidos de impedimento seriam possivelmente arquivados. “[ ... ] E eu disse aquilo com muita franqueza, porque eu, sendo vice-presidente, estava em uma situação profundamente incômoda, digamos assim, pois, sendo do PMDB, o meu partido e outros estariam postulando essa medida. Muito bem, no dia seguinte, o que aconteceu foi que o PT agrediu muito o presidente da Câmara [à época Eduardo Cunha] e, em face desta agressão, ele não teve outra alternativa. Diante da pressão que se fazia sobre ele, não teve outro caminho senão colocar em apreciação já um dos pedidos de impedimento que havia naquela ocasião e que tinha sólidos fundamentos que ele não tinha como ignorar. Fecho este corte para dizer que, na última semana, vim para cá e naturalmente acompanhei os últimos momentos e não tive nem a possibilidade de contato com a senhora presidente naquela ocasião. [ ... ]”

Deputado federal Assume como suplente seu primeiro mandato de deputado posto que manteria até 2011

1987

dos são iguais perante a lei, não podendo haver distinção em função de raça, credo, cor, religião, política etc...” Lamentavelmente, até hoje não conseguimos. A ideia de brasileiro contra brasileiro ainda persiste e faz mal para o país. PODER: O SENHOR TEM SETE PROCESSOS ABERTOS E FOI ENCARCERADO PREVENTIVAMENTE. ACHA QUE A JUSTIÇA SE POLITIZOU? MT: Em primeiro lugar, não chamo a minha prisão de

encarceramento. Eu fui sequestrado. O que se chamou de espetáculo foi um sequestro que se deu, e que muito rapidamente os tribunais superiores acabaram decretando a sua impossibilidade em face exatamente da espetacularização do episódio. Em um dos processos, tem aquela tal gravação que deu origem a tudo, naquela dupla do procurador-geral da República [à época Rodrigo Janot] com o empresário, aquele rapaz, o dono da carne [Joesley Batista, da JBS]. Sabe o que aconteceu nesse caso? Houve a chamada absolvição sumária, que significa que o juiz botou os olhos no processo depois da denúncia e disse: “Isso não tem nenhum fundamento, portanto, não preciso instruir esse processo, eu absolvo sumariamente”. Portanto, julgou-se imprestável aquela gravação. Outro ponto: o rapaz [delator], o sócio do procurador-geral, deu uma entrevista chamando-me de “chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil”. Acabou de ser condenado, porque meu advogado entrou com um pedido de indenização por danos morais. Foi condenado em primeiro grau, em segundo grau e agora no Superior Tribunal de Justiça a me pagar uma indenização por danos morais. Então, digamos, esses processos todos nasceram precisamente daqueles que tentavam derrubar o governo. Tentaram me derrubar, mas o Judiciário, em quem eu confio, está tomando as providências corretas.

PODER: DE QUE FORMA EPISÓDIOS ENVOLVENDO SEUS FAMILIARES E AMIGOS, COMO NO CASO DA SUA FILHA MARISTELA E DO CORONEL LIMA, O AFETAM? MT: O pessoal da Polícia Federal que me recebeu tinha

tanto constrangimento com aqueles fatos, muitos até imo-

Reeleição Reeleito presidente da Casa com 257 votos

1997

1999

Presidente da Câmara Eleito presidente da Câmara dos Deputados

PODER JOYCE PASCOWITCH 17


AMBIENTAIS QUANTO TAMBÉM POR MANIFESTAÇÕES MAIS RUDIMENTARES DO PRESIDENTE JAIR BOLSONARO. LAMENTA ESSE NOVO PADRÃO COM QUE O BRASIL ESTÁ SENDO ENTENDIDO LÁ FORA? MT: É uma compreensão que não ajuda o nosso país. Eu

PODER: COM RELAÇÃO À CHINA, TEMOS VISTO O BRASIL CRIAR CONFLITOS PELAS REDES SOCIAIS. SE O SENHOR FOSSE PAI DO DEPUTADO EDUARDO BOLSONARO, O QUE FARIA? MT: Recomendaria que não fizesse isso, porque não ajuda o

presidente, cria um mal-estar que não é bom para o governo nem para o país.

PODER: COMO O SENHOR VÊ A ELEIÇÃO DE JOE BIDEN? MT: Positivamente. Tivemos muitos contatos enquanto

destamente posso dizer, serviram-se do meu livro de Direito Constitucional para os seus concursos públicos. São situações extremamente desagradáveis, constrangimento para mim e para minha família. Mas eu, como sei o que fiz, fui para o enfrentamento, não me contive, não me escondi. E veja que desde então eu estou num enfrentamento no poder judiciário e, eventualmente, quando há perguntas delicadas como essas vou esclarecendo os fatos. Acho que o enfrentamento ajudou a recompor um pouco a verdade. PODER: A IMAGEM DO PAÍS ESTÁ BASTANTE ABALADA INTERNACIONALMENTE, TANTO POR CONTA DOS PASSIVOS

Presidente do PMDB Eleito presidente do Diretório Nacional do PMDB até o fim de 2010

2001

vice-presidentes, e quando assumi a Presidência da República eu estava em Nova York, na abertura dos trabalhos da ONU, quando ele foi me visitar na representação diplomática brasileira para reconhecer o nosso governo. É um homem do diálogo, vai ser bom para o Brasil. É uma figura que compreende o fenômeno institucional e a relação não é de pessoa para pessoa, a relação é de país para país.

PODER: E O TRATAMENTO QUE ESTÁ SENDO DADO PELO GOVERNO FEDERAL NO COMBATE À PANDEMIA? MT: Acho interessante, cada um fez o seu papel. O governo

federal, com a liberação de bilhões de reais para os mais

Vice

Eleito vicepresidente da República para o mandato 2011-2014

2009

2011

Reeleição II Reeleito pela segunda vez presidente da Câmara dos Deputados

18 PODER JOYCE PASCOWITCH

2014

Segundo mandato Reeleito vice-presidente da República

FOTOS GETTY IMAGES; ROOSEVELT PINHEIRO/AGÊNCIA BRASIL; MARCELLO CASAL/AGÊNCIA BRASIL; BETO BARATA/PR

sempre sustentei nos discursos que fiz na ONU a ideia do multilateralismo, na convicção de que o Brasil não pode ser bilateralista. Eu creio que o presidente Bolsonaro já se conscientizou desses fatos e está trabalhando nesse sentido. O vice-presidente Mourão, por exemplo, está ajudando na Amazônia, levando embaixadores para verificar o que de fato acontece. Então, em síntese, não é boa essa imagem que se construiu lá fora e para tanto o Brasil tem o dever de contestar esses fatos, mas contestar esclarecendo que toma providências internas de melhoria do meio ambiente numa relação multilateral muito próspera.


vulneráveis, o chamado auxílio emergencial, a liberação de verba para pequenas e médias empresas e o trabalho que vem fazendo estados e munícipios. Todos cumprindo o seu papel. Ou seja, a nossa função é reunificar, fazer com que todos trabalhem juntos. PODER: MOMENTO PINGA-FOGO: QUAL SUA OPINIÃO SOBRE A SUA ANTECESSORA E O SEU SUCESSOR? MT: Dilma Rousseff: uma presidente honesta. Muitas vezes

se questiona a lisura dela, e eu nunca tive nenhuma observação. Honesta, muito correta. Ela só não teve, lamentavelmente, uma condução política e administrativa que pudesse levar o país ao ponteiro; Jair Bolsonaro: fora o embargo de ter um estilo todo especial, tem feito o possível para governar. Boas intenções, às vezes um ou outro equívoco deriva de frases que são mal colocadas ou mal interpretadas.

PODER: COMO ACHA QUE A HISTÓRIA VAI CREDITAR O SENHOR E O SEU GOVERNO? MT: Como um governo reformista, que teve a coragem de

enfrentar os grandes temas nacionais e levá-los adiante, e que gerou uma melhoria sensível da economia. Além da serenidade em que eu conduzi o governo e, mais do que isso, uma compreensão democrática que tive relativamente à oposição e aqueles que se opunham a mim. Pessoalmente, soaria pretensioso dizer. PODER: O QUE A PRESIDÊNCIA DEIXOU DE EXPERIÊNCIA PARA O SEU FILHO MICHELZINHO E SUA ESPOSA MARCELA? MT: Para o Michelzinho, uma coisa que eu e a Marcela

pregávamos muito, ao dizer: “Olha, o mundo não é isso aqui não”. Segurança, avião, palácios presidenciais. O mundo é outro, o mundo é andar pela rua, é trabalhar. Acho que ele se convenceu disso. E a Marcela uma discrição absoluta, além de ter exercido uma função social com as crianças mais pobres muito eficiente. Eu sempre dizia a eles: “O homem que fuma cachimbo está acima dos acontecimentos”. Nós todos tínhamos que ficar acima dos acontecimentos e não nos envolver com eles. Acho que eles tiveram essa consciência. PODER: JORNALISTA DIZ PARA O FILHO QUE ELE PODE SER QUALQUER COISA, MENOS JORNALISTA. O QUE UM EXPRESIDENTE DIZ PARA O FILHO? MT: Eu diria a mesma coisa,

que ele pode ser tudo, menos político e presidente da República [risos]. Mas quando se cria um filho, cria-se para o mundo. E muitas vezes, tal como aconteceu comigo... Não formulei o meu destino, foi o destino que levou a minha vida. As coisas foram acontecendo de tal maneira que eu cheguei a presidente da República. n

Presidente interino O Senado aceita a tramitação do processo de impeachment e afasta Dilma Rousseff da Presidência. Michel Temer assume o cargo interinamente

2016 / Maio

2016 / Agosto

Presidente

O impeachment de Dilma Rousseff é confirmado e Temer é empossado presidente da República PODER JOYCE PASCOWITCH 19







Empresas brasileiras – como Magalu e Basf – começam a investir em setores dedicados unicamente à satisfação de seus colaboradores, com profissionais formados exclusivamente para pensar no bem-estar da equipe. Eles são os Chief Happiness Officers (CHOs) POR NINA RAHE

uando Thais Marques Viana resolveu se candidatar à vaga de analista de bem-estar e felicidade na empresa de tecnologia Ativy, ela nunca tinha ouvido falar a respeito do cargo e tampouco tinha conhecimento de mercado sobre essa área de atuação. Foi apenas pela descrição da oferta, destinada a um profissional que deveria cuidar dos colaboradores, que ela soube que as demandas estavam de acordo com seu perfil. Em seu trabalho anterior, ainda que fosse responsável pela área de desenvolvimento de softwares, Thais já acumulava uma série de funções nesse sentido. Pelo fato da companhia ter sua principal sede em São Paulo, o escritório onde trabalhava, em Campinas, acabava isolado, o que fez com que, aos poucos, ela passasse a assumir cuidados que envolviam não só reposições de itens como também acompanhar profissionais que a procuravam para pensar em desenvolvimento de carreira, fazendo pontes para que demandas de cursos e treinamentos fossem atendidas. “Muito do que fazia na empresa anterior é o que faço agora, mas a diferença é que há um olhar mais dedicado ao bem-estar. Quando comecei, não sabia nada

sobre a área e vi que poucas empresas no Brasil dispõem do cargo”, diz Thais. Desde sua chegada na Ativy – há apenas quatro meses – a empresa já passou a oferecer atividades físicas com orientação profissional e sessões de terapia, mas a ideia, a longo prazo, é poder acompanhar cada um dos funcionários mais de perto, o que está sendo desenhado a partir de reuniões com as diferentes equipes. Para Renata Rivetti, fundadora da Reconnect, empresa especializada em felicidade no trabalho, não é de hoje que se sabe que o bemestar no meio corporativo é importante. O que é relativamente novo é a contratação de profissionais dedicados exclusivamente ao assunto, com a criação de setores voltados unicamente ao bem-estar e à felicidade. O conceito, que acaba de aportar no país, no entanto, já é algum tempo difundido na Europa. Por lá, uma das pioneiras no ramo é a Woohoo inc., empresa dinamarquesa que atua no mercado há cerca de 15 anos e acabou se tornando uma grande escola quando se trata do assunto – não à toa, desde a primeira publicação do World Happi-

ness Report, em 2012, a Dinamarca se destaca entre os três primeiros colocados e há até uma palavra (arbejdsglæde) para designar a expressão “felicidade no trabalho”. Já no Brasil, de acordo com Renata, ainda é preciso convencer as pessoas de que essa tendência é importante, provando para a alta liderança que investir em seus colaboradores traz resultados. Entre os estudos que embasam os argumentos da executiva está uma pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, que foi desenvolvida em conjunto com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, e a Universidade Erasmus de Roterdã, na Holanda, com a participação de funcionários da companhia britânica de telecomunicações BT. Durante o processo, os participantes avaliaram a própria PODER JOYCE PASCOWITCH 25


‘‘O chief é o embaixador da felicidade na empresa, mas o trabalho dele não acontece sozinho. É preciso que todas as liderenças estejam engajadas e conscientes de que investir nos colaboradores traz até mesmo resultados financeiros” felicidade semanalmente, por um período de seis meses, enquanto os dados de atendimento telefônico, conversão de chamada em venda e satisfação do cliente foram monitorados. O resultado demonstrou que pessoas que se sentem felizes são 13% mais produtivas. Assim, se as empresas estão há tempos trabalhando o conceito de satisfação do cliente, começa-se agora a olhar também a satisfação do colaborador. “A gente investe em marketing, tecnologia, mas quem faz a diferença é quem está por trás de tudo, então investir nos colaboradores traz um resultado muito significativo”, diz Renata. Na Reconnect, o trabalho de consultoria começa com o cálculo do índice de felicidade dentro da companhia. As pesquisas, segundo ela, são os principais indicadores para entender quais são os pontos a serem trabalhados: mostram se há falta de comunicação transparente, liderança negativa ou ausência de confiança entre os colaboradores. “É o primeiro diagnóstico e

26 PODER JOYCE PASCOWITCH

a partir dele treinamos as pessoas para entender que cuidar é importante. É preciso mudar o ‘mindset’ para compreender que, quando se foca nos colaboradores, o resultado vem de forma mais rápida e mais fácil”, diz. No Magazine Luiza, onde Cristina Mestres assumiu o cargo em maio de 2019, uma das primeiras ações foi implementar as pesquisas de pulso. Somente em 2020 foram aplicadas cinco. A ideia, segundo a profissional, é conduzir estudos de forma mais rápida, muitas vezes temáticos, ou para grupos específicos, com o objetivo de medir o clima da empresa com mais rapidez. “Hoje uma pesquisa anual não combina mais com a velocidade da companhia”, explica. Questionários aplicados neste momento, por exemplo, serviram para entender tanto as necessidades dos colaboradores em trabalho remoto como dos que continuaram atuando presencialmente. As respostas mostraram que quem estava em sistema home office sentia falta de uma me-

lhor gestão de horários, com uma rotina definida, e momentos de interação que não fossem apenas calls com demandas de trabalho. Já um grupo específico da área de logística apresentava sinais de sobrecarga pelo aumento da demanda durante o isolamento social. “Era uma área nova e a questão principal era a integração”, conta Cristina. As soluções, nesses casos, envolveram tanto acelerar o processo

FOTOS FLÁVIO TEPERMAN/DIVULGAÇÃO; GRACE BICALHO/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

Renata Rivetti, fundadora da Reconnect


mundo corporativo pela primeira vez, após desenvolver treinamentos com o Magalu desde 2013. Como ela, a gerente de bem-estar Vivian Navarro, que assumiu o cargo na Basf em 2019, também foi responsável por implantar a área dentro da empresa. O conceito, que foi aprovado em janeiro, no entanto, acabou sendo atravessado pela Covid-19. Baseado em pilares como o bem-estar físico, emocional e financeiro, além do senso de contribuição, o setor na Basf tem oferecido desde aulas de ioga e mindful-

Da esq. para a dir., Renata Rivetti, da Reconnect, Cristina Mestres, do Magazine Luiza, Vivian Navarro, da Basf e Thais Viana, da Ativy

de adaptação da nova unidade como estabelecer horários mais definidos para quem estava em casa e oferecer “cafés da tarde virtuais” para que os colaboradores pudessem se conectar com mais descontração. “Esta é uma área ‘cross’, que serve para criar uma cultura em todas as outras áreas”, explica Cristina, que tem formação em psicologia, já atuou como educadora e agora assume um posto no

ness até rodas de conversas com especialistas e o lançamento de um serviço de apoio – e totalmente confidencial – com especialistas das áreas de psicologia, assistência social, finanças e jurídica. Embora o norte do trabalho continue o mesmo com a pandemia, de acordo com Vivian, temas como medo do luto, incerteza em relação ao futuro, relacionamento familiar e saúde acabaram sendo potencializados.

“A quarentena reforçou a importância de debater esses temas e traçar estratégias inclusive no âmbito de flexibilidade de trabalho, mas o bem-estar no ambiente corporativo veio para ficar para além desse período. É uma área que vem se construindo passo a passo à medida que os colaboradores sentem o impacto de se cuidar”, afirma. De acordo com Renata Rivetti, de fato, a pandemia serviu para que todos percebessem que não há separação entre a pessoa e a empresa. “As empresas estão dentro da nossa casa e se eu ficar esperando para ser feliz depois do trabalho, ficará difícil”, diz. “A companhia que não estiver preparada para aceitar uma gestão a distância, com confiança e empatia, vai ficar para trás.” E, ao que parece, não é algo que nenhuma empresa deseja. As duas turmas ministradas pela Reconnect em novembro, para formação de novos Chief Happiness Officers (CHOs), tiveram suas vagas esgotadas e uma nova, que acontecerá em fevereiro, já caminha para isso. Durante a formação, que envolve três dias, há desde conteúdos teóricos, que abordam a “ciência da felicidade”, os ensinamentos do psicólogo Daniel Kahneman (ganhador do Prêmio Nobel em 2002) e a psicologia positiva, até a apresentação das atribuições de um CHO e uma metodologia prática para montar um plano de bem-estar. “O chief é o embaixador da felicidade na empresa, mas o trabalho dele não acontece sozinho. É preciso que todas as lideranças estejam engajadas e conscientes de que investir nos colaboradores, no fim, traz até mesmo resultados financeiros para as empresas.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 27



















Em 2009, quando entrou na para ajudar na expansão da companhia, sua ideia não era abandonar a trajetória de sucesso na advocacia, com atuação em dois escritórios. A percepção de que havia um potencial gigantesco para levar a empresa a outras regiões do Brasil, no entanto, fez com que ela percebesse que o trabalho precisaria de dedicação exclusiva. A empresa que hoje se destaca no mercado de crédito consignado nasceu em Presidente Prudente, interior de São Paulo, por meio do trabalho de apenas dois sócios – Rogério Antônio dos Santos e Marcos Vinícius dos Santos. Mas se, há dez anos, a Bevicred era regional, atualmente tem presença em mais de 90% dos municípios brasileiros, seja por meio de colaboradores próprios ou de parcerias de pequenos, médios e grandes empresários que representam a Bevicred no Brasil. “Milhares de pessoas tinham dificuldade de acesso ao crédito e o que me moveu foi a oportunidade de ser mais do que apenas uma empresa, mas fazer parte de uma história de inclusão. Ver o quanto isso é importante para cada uma das pessoas, além de aquecer e movimentar a economia do país, fez com que eu me apaixonasse”, diz Monica, hoje sócia, diretora executiva da companhia e responsável, também, pela parte comercial. Na Bevicred, todos os cargos de comando são ocupados por mulheres – uma delas, inclusive, foi promovida no sexto mês de gestação. “Quando você dá acesso, significa que está olhando para aquela pessoa, independentemente de ela ser mulher ou estar grávida”, explica. Dar acesso, de fato, é a missão da Bevicred, que desde o seu surgimento tem conseguido levar crédito a pessoas com baixo poder aquisitivo, nas mais diversas cidades e vilarejos, de forma simples, barata e desburocratizada. Para 2021, a empresa planeja ampliar sua atuação para a área de educação financeira. “Parece uma missão contraditória, já que somos uma empresa de crédito, mas queremos fazer algo além de um simples negócio”, diz Monica. O piloto deste projeto acontecerá em Trancoso, na Bahia, conhecido por seu potencial turístico, mas cujos negócios, na baixa temporada, também sofrem. A cidade abrigará palestras destinadas a microempresários e empreendedores, focadas em mercado, empreendedorismo e na história da própria Bevicred, que começou pequena antes de se tornar líder no segmento do crédito consignado – serão três dias de evento, cada um com rodadas para 30 pessoas e programação totalmente gratuita. “Não adianta dar acesso ao crédito se a pessoa não tem conhecimento do que é economia, que existem juros e taxas. É preciso criar uma consciência financeira de que o crédito é importante, mas precisa ser usado de forma responsável e só devemos buscá-lo se for realmente algo importante”, resume a diretora. “A empresa não está apenas preocupada em capitalizar e distribuir créditos sem fundamento. Queremos levar informação para munir as pessoas que estão na base da pirâmide e assim despertar nelas a vontade de empreender.” Após a experiência em Trancoso e ainda em 2021, o projeto de educação financeira deve atingir, ao menos, 60% ou 70% dos municípios onde a Bevicred atua.


BALANÇO

2020

O ANO NO DIVÃ Nunca antes tivemos que lidar com desafios, perdas, mudanças e com o desconhecido da forma como aconteceu em 2020. Convidamos nove personagens de PODER para dividir suas reflexões, aprendizados e realizações desse ano que passou e dizer o que esperam para 2021 POR CAROL SGANZERL A E DADO ABREU

DANIEL GOLDBERG, sócio da Farallon Capital na América Latina

2020

“Foi o ano em que aprendi, por conta da pandemia, que somos incrivelmente efetivos quando colaboramos – vacina em 2020 era impensável quando a crise começou –, mas assustadoramente inefetivos gerenciando riscos – metade do mundo em março ainda se recusava a entender a gravidade potencial do problema.”

2021

“Gostaria que conseguíssemos modular essa polarização maluca que parece ter se tornado o 'espírito do tempo'!”

46 PODER JOYCE PASCOWITCH

ELIANE DIAS, empresária e CEO da Boogie Naipe

2020

“Passei por provações que pensei que jamais suportaria passar. O grau de intolerância das pessoas está inacreditável, me surpreendi com tanto autoritarismo e desequilíbrio mental. Este ano tive que hackear minha mente para mantê-la saudável, respirar cinco vezes mais antes de dizer sim ou não, trabalhar dez vezes mais, amar vinte vezes mais, me reinventar trinta vezes mais, rezar quarenta vezes mais e ignorar os ignorantes cinquenta vezes mais. Espero nunca mais, por toda a eternidade, ter que viver um ano como este novamente.”

2021

SIDARTA RIBEIRO, neurocientista, fundador e vice-diretor do Instituto do Cérebro da UFRN

2020

“Me reencontrei com sonhos de profunda transformação. Ano de conflitos, luta, introspecção e amor.”

2021

“Gostaria que fosse o ano em que afinal conseguiremos amar ao próximo como a nós mesmos. E isso evidentemente inclui vacina gratuita para todas e todos, sem distinção de classe social.”

“Quero que em 2021 nenhuma māe chore por ter o filho assassinado pela sua cor, que o amor esteja no topo da lista de prioridades, que a Covid-19 desapareça da terra assim como surgiu, que tenha crianças brincando na rua, que a polícia apenas nos proteja, que tenha menos armas na rua, que todos tenham autoconhecimento e que se entendam consigo mesmos, que os governos horrorosos desapareçam, que as comunidades possam viver em paz, que todos ganhem pelo trabalho realizado, que a leitura volte a ser moda, que roupa cara seja cafona, que as escolas voltem a funcionar, que professor seja respeitado, que as mulheres ganhem igual aos homens, que preto possa falar de outras coisas para além de racismo, que as pessoas entendam o que é viver em comunhão, que possamos amar, ser amados, ter fé e sorrir."



MARIA HOMEM, psicanalista e autora de Lupa da Alma (ed. Todavia)

2020

“Foi o ano que fui convidada a escutar, às vezes aos berros, muitas coisas que haviam ficado ocultas durante tantos anos, quem sabe décadas. E agora se desvelaram sob forma de palavras ou loucuras ou adoecimentos. Como se o radar analítico tivesse sido convidado a captar a explosão em jogo nesta quarentena-revelação. Como inclusive escrevi, 2020 foi a lupa da alma.”

2021

“Gostaria que fosse o ano em que pudéssemos de fato ouvir todo esse ruído de fundo e que veio à superfície. Pois não temos mais desculpas para não ver como estamos vivendo, cada um e todos nós, tanto em nível individual quanto coletivo. O que você quer na sua vida? Que tipo de mundo e de realidade desejamos construir? Se 2020 foi o ano da crise e 2021 será seu aprofundamento, quem sabe tenhamos a chance de, no caos, desenhar projetos efetivamente inéditos.”

AMYR KLINK, navegador e escritor

2020

RENATO JANINE RIBEIRO, filósofo, cientista político e ex-ministro da Educação

2021

“Será o ano de colocar em prática o propósito de viajar e construir mais experiências. Em 2019, criamos um programa de viagens incomuns, começou com um amigo que levei para a Antártida. Surgiu uma demanda inesperada por esses roteiros que não existem prontos, como conhecer uma região da Islândia onde é preciso negociar autorização especial, há trechos para fazer a cavalo, no gelo. A adesão foi maciça e mesmo com as viagens adiadas pela pandemia, ninguém cancelou, só atraiu ainda mais o interesse das pessoas, que não querem mais ir para Roma, Paris, não querem mais jantar no melhor restaurante do mundo.”

48 PODER JOYCE PASCOWITCH

2020

“Refletindo sobre o ano que passou, 2020 foi o que mais senti medo na vida: medo de morrer sem nem saber por quê. Medo de morrer sem ver os entes queridos. Medo de perder gente que amo.”

2021

“Gostaria que 2021 fosse o ano em que as pessoas aprendam o valor ético da solidariedade, da compaixão. Que o sofrimento de 2020 não tenha sido em vão, mas nos tenha melhorado. De que adianta pagar preço tão alto para continuar tão pobre moralmente?”

FOTOS MAURÍCIO NAHAS; ROBERTO SETTON; VICTOR AFFARO/DIVULGAÇÃO

“Profissionalmente, foi um ano muito bom, meus negócios evoluíram como nunca imaginei. Resolvi me desvencilhar de tudo que não preciso, foi um ano de depuração econômica. Resolvemos ter menos coisas, um ano de viagens e de reflexões muito interessantes. A Marina [Klink, esposa ] fez uma viagem pela ancestralidade da família dela, um trabalho extremamente cuidadoso, buscou informações em Portugal, tem histórias pitorescas. Uma hora, nossas árvores genealógicas se cruzam. Sugeri que ela escrevesse a história da família dela.”


Falta pouco para São Paulo conhecer um novo e moderno conceito de clube de tiro. Instalado no subsolo da Hebraica, localizado em um dos bairros mais nobres da cidade, o abre as portas e carrega a munição no primeiro semestre de 2021. Trata-se de um espaço exclusivo para poucos associados, com a mais alta tecnologia no que se refere à prática de tiro esportivo no mundo. São 1.400 m2 de área, com duas baias de 15 m e 25 m para até 20 atiradores, operadora alvo sem fio controlada por tela sensível ao toque, targets programáveis 360 graus e cabines de última geração garantindo maior conforto, segurança e performance. Um sistema único de ventilação, desenvolvido em parceria com a maior empresa de engenharia para clubes de tiro dos Estados Unidos, remove 99.97% do chumbo e outros contaminantes tóxicos do ambiente, garantindo o bem-estar dos associados que poderão, além de treinar a mira com diversos tipos de armas oferecidas sem custo adicional, desfrutar da alta gastronomia do BBQ Company, aproveitar a loja de armamento e acessórios especiais (Smith & Wesson, IWI etc.), fazer amigos, networking e bons negócios. Cursos e palestras ministrados por instrutores com experiência internacional e uma série de eventos também estão na programação. Porém, com tanta exclusividade, os títulos são extremamente limitados. Garanta o seu em condições especiais no segundo lote e faça parte deste seleto clube. É tiro certo!


por fernanda grilo


SONHO COM RENTABILIDADE

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Quem nunca sonhou em ter uma casa na praia? Sol na cabeça, pé na areia e vista para o mar. Esse sonho pode se tornar possível em dois dos destinos mais cobiçados no sul da Bahia: Trancoso e Itacaré. As praias deliciosas com coqueiros a perder de vista são os cenários de dois empreendimentos que a DEVELOP BRASIL está lançando na região, o VILAS DO ALTOS DE TRANCOSO, em Trancoso, e o TXAI VILAS DO SUL, em Itacaré. Pensar na casa de praia não apenas como lazer, mas também como investimento, é um dos diferenciais da proposta, pois a Develop administra todo o processo: projeto de arquitetura e decoração, construção, manutenção e locação nos períodos disponibilizados pelos proprietários. “Um dos atrativos é a comodidade de receber a casa de

TXAI VILAS DO SUL São dez bangalôs de 144 m² e 39 lotes de 1.300 a 13.000 m² para residências. Os bangalôs serão entregues prontos, equipados e decorados de acordo com o padrão do Txai Resorts, e as locações gerenciadas pela central de reservas do hotel. Nos lotes, o proprietário poderá escolher um projeto preconcebido e receber sua casa pronta ou optar pelo arquiteto de sua preferência

PODER INDICA

VILAS DO ALTOS DE TRANCOSO Um pé na areia, outro no Quadrado. A localização é um dos grandes diferenciais do Vilas do Altos de Trancoso. A 350 metros do Quadrado, em uma área de aproximadamente 64.411,38 m², serão construídas apenas 19 casas, com plantas de 172, 233 e 262 m², com dois pavimentos de duas e três suítes

praia pronta, saber que ela está sendo mantida e gerando renda”, diz José Romeu Ferraz Neto, presidente da Develop Brasil. O mercado de casas para lazer e locação, com administração terceirizada, sugere o melhor dos mundos para quem quer ter seu lugar ao sol e ainda lucrar com o imóvel. Em Trancoso, por exemplo, as diárias de uma casa pé na areia, no período de festas e alta temporada, são bastante disputadas e podem ser alugadas com valores lucrativos aos proprietários. “Uma locação de dez dias permite abater despesas de condomínio, custos de manutenção e ainda ter resultado financeiro”, explica José Romeu. + DEVELOPBRASIL.COM.BR



ENSAIO

PARA MANTER O

REINAD0 No ano em que o surfe estreia como esporte olímpico, Ítalo Ferreira será um dos dois brasileiros a representar o país e brigar pelo ouro em Tóquio. Atual campeão do mundo, o atleta potiguar agora defende o título conquistado em 2019, no Havaí, e encara as primeiras ondas do mundial reafirmando sua potência na água por carol sganzerla fotos maurício nahas styling cuca ellias

V

inte e quatro horas antes de embarcar para o Havaí a caminho de sua sexta participação na Liga Mundial de Surfe, Ítalo Ferreira encontrou a reportagem de PODER ao lado da namorada, a atriz Mariana Azevedo, e de um amigo, o videomaker Fernando Barros. O assunto era um só: o jantar na churrascaria Barbacoa, para onde seguiriam ao fim da sessão de fotos – o atleta não deixaria escapar a chance de comer em um de seus restaurantes preferidos em São Paulo. Já vinha de uma temporada em casa, no município de Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, abastecendo-se de comida de mãe: cuscuz, tapioca e toda a sorte da gastronomia nordestina. “Fiquei uma semana sem treinar, comendo tudo o que queria. Tirei um pouco a pressão, parei com a alimentação regrada. Precisamos aproveitar, senão, viramos uma máquina e esquecemos de viver”, diz. A pressão, no entanto, tem seus motivos. Aos 26 anos, o surfista potiguar chega com o peso de defender o título de campeão mundial conquistado em 2019, em Pipeline. Na ocasião, ele se tornou o terceiro brasileiro a vencer o circuito – Gabriel Medina levou em 2014 e 2018, e Adriano Souza, o Mineirinho, em 2015. Foi, inclusive, neste último ano que Ítalo estreou na Liga Mundial, entrando para a elite do esporte ao lado da geração que ficou conhecida como Brazilian Storm. O circuito de 2021, iniciado em dezembro no Havaí, já prevê grandes embates. Pergunto quais serão seus maiores adversários. “Acho que minha mente. Se conseguir me manter tran-






SOB MEDIDA POR FERNANDA GRILO Não devemos tornar a vida algo utilitário, ela é bênção, dom, vale dançar a vida, ela é feita para dançar. Não, na verdade o mundo não tem fim, nós temos fim. Respeitando a diversidade de seres, e os índios estão entre eles. Se a gente respeitar negros, brancos, passarinhos, borboletas, estamos fazendo bem. Falta amor. Estou me escondendo na beira do rio Doce, na laje do rio, que passa aqui na aldeia. Um sonho social. Não se realizou, como todo sonho social, que ao entrar em contato com a realidade o pau quebra. Ficar vivo. Fico apavorado quando marcam algo depois das 20h, é ruim para gravar, pensar, falar. Para mim, depois dessa hora é uma canseira. Tudo o que Graciliano Ramos escreveu, até o terrível Memórias do Cárcere, que mostra o pior período da ditadura. “Deus é grande, Alá é imensurável.” Sonhava que estava na trilha e quando chegava ao topo eu voava. Olha que nem conhecia o Batman e o Super-Homem. Parar de sonhar que voava depois dos 12 anos. Gosto muito de camiseta, uso até quando deveria estar de camisa. Açúcar. Agora, por exemplo, tem manga madura e tenho que me conter para não comer toda hora. Eu devo de ter escondido ele em algum lugar. Minha mãe Luci, de 89 anos. Ela me fez acreditar que a vida é uma bênção, que a gente pode se expandir... Minha “Luci in the Sky”.

AILTON KRENAK

Eleito o intelectual do ano pelo prêmio Juca Pato concedido pela União Brasileira de Escritores (UBE), o líder indígena mineiro foi responsável por incluir o capítulo sobre os direitos dos povos indígenas na Constituição de 1988, além de ser reconhecido por seu trabalho como ambientalista. É autor de livros como Ideias para Adiar o Fim do Mundo, O Amanhã Não Está à Venda e A Vida Não É Útil, todos lançados pela Companhia das Letras

É indecente dizer que não me preocupo com nada, e também não ia explicar se me preocupo com tudo. Se viver cada dia não tem com o que se preocupar. Não, está cada vez mais redondo, ao contrário do que algumas más línguas falam. Escrever poesia. Não sei se vai sobrar algum desejo porque consumo (esse desejo) todo o dia.


UM LIVRO:

ARTISTA QUE MAIS GOSTA:

Os que tecem uma trama, um balaio, constroem uma flecha. Os colegas da exposição Véxoa, na Pinacoteca de SP, e a mostra da Daiara Tukano, no CCSP. NÃO PODE FALTAR NO CAFÉ DA MANHÃ:

Era bom não faltar café mesmo, mas se não tem toma chá de capim-cidreira, hortelã, hibisco, anis estrelado...

MAIOR HERANÇA INDÍGENA PARA O MUNDO?

Tenho 800 livros na prateleira, se falar um estou discriminando os outros. Poderia falar Torto Arado, do Itamar Vieira Junior, assim como Graciliano [Ramos] e Guimarães [Rosa]. Eles fazem o artesanato de letras.

Eles mesmos.

COMO ENCONTRAR A PAZ? SER BEM-SUCEDIDO É:

Um pescador que pega o que come, vai e volta todos os dias. É quem cabe nele mesmo, não precisa dominar nada.

O Arnaldo Antunes escreveu “as coisas não têm paz”. Concordo, paz está nas pessoas, o Gandhi andava na confusão da Índia e refletia o tempo inteiro sobre a paz.

TALENTO QUE NINGUÉM CONHECE?

LUGAR PREFERIDO NO MUNDO:

Onde estou agora (tribo krenak, às margens do rio Doce, em MG). Do ponto de vista ambiental, esse é o pior lugar do rio Doce, por causa da tragédia em Mariana, então era para estar mal humorado. Mas esse pior era o melhor.

O QUE MINAS GERAIS TEM DE MELHOR?

O Drummond [Carlos Drummond de Andrade].

Plantar batata, banana e pé de manga haden na aldeia. Deu tanto que os galhos estão caindo, vou ter que suspender. MELHOR DO BRASIL:

O Oceano Atlântico que vai do Sul ao Maranhão.

MANIA:

De querer limpar os lugares. Se me der carona no carro e tiver um saquinho vou recolher para jogar fora. Lata de cerveja no bolso eu acho o fim da picada.

MELHOR FILME:

Dersu Uzala (de Akira Kurosawa), impávido que nem Muhammad Ali. MÚSICA QUE MARCOU SUA VIDA:

“Atirei o Pau no Gato”.



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SAVE THE DATE

Na hora de dizer sim, os INDICA chamados destination weddings – casamentos realizados em cidades ou países diferentes daqueles onde os noivos moram – entraram na moda. Porém, mais do que escolher o lugar dos sonhos, é preciso ter alguém de confiança que cuide de todos os detalhes. Neste sentido, a assessora ROBERTA CALFAT tem conquistado os casais que optam pelos hotspots do sul da Bahia – Trancoso, Caraíva e Arraial d’Ajuda. Paulistana, formada em design de interiores, Roberta começou a pilotar grandes festas desde muito cedo. Em 2006, estreou no mercado de eventos com seu primeiro casamento e não parou mais. Há cinco anos se mudou para Trancoso, onde estabeleceu sua empresa, formou uma ampla rede de contatos e, com sua expertise, organiza cerimonias lindas pelo sul da Bahia, agregando o que há de melhor no mercado de eventos com a proposta de atender e executar todas as etapas relacionadas à criação, planejamento e organização de casamentos e eventos sociais. “O casamento deve ser algo leve, feliz, com sinergia e muito amor. Contratar uma assessora significa ter tudo isso e mais um pouco”, conta a empresária. “Ao longo do planejamento, o trabalho é intenso, e ter uma profissional cuidando é poder curtir todas as etapas do casamento sem preocupações, é saber que quando o grande dia chegar tudo acontecerá exatamente do jeitinho que eles sonharam.”

PODER

+ ROBERTACALFAT.COM.BR / @ROBERTACALFATEVENTOS

Roberta Calfat





O envolvimento do paulista nas grandes causas animais tem trazido cada vez mais alegrias ao empresário que, após um problema de saúde, optou por repensar a sua vida

e passou a dedicar-se totalmente à filantropia. A prova é a homenagem que ele acaba de receber, juntamente com a associação que lidera, , durante o Simpósio Brasileiro de Medicina Veterinária de Desastres, que aconteceu no início de dezembro em Belo Horizonte. A menção honrosa veio como forma de agradecimento em virtude da ajuda prestada à Sociedade Mineira de Medicina Veterinária pelo envio de um grupo de apoio durante os resgates realizados nas queimadas do Pantanal.

Filantropo há dez anos, Soares se aposentou em 2015 como consultor empresarial para dedicar-se exclusivamente a causas sociais que têm a proteção dos animais como um dos seus pilares mais relevantes. Já foi o principal mantenedor de instituições como Clube dos Vira-Latas, Rancho dos Gnomos e Ampara Animal, além do Instagram Adote 1 Coração. Dentre as suas conquistas mais recentes está a chamada Lei Sansão, aprovada na Câmara e no Senado, que atualizou a legislação vigente de proteção aos animais e estabelece prisão de dois a cinco anos para quem comete crimes de maus-tratos contra cachorros e gatos – segundo o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo, os maus-tratos com bichos aumentaram 10% durante a pandemia da Covid-19. A Patas Para Você é uma associação beneficente, assistencial e sem fins lucrativos de proteção aos animais. O trabalho realizado pela ONG é inédito no Brasil porque funciona como um suporte de extrema importância, inclusive aos protetores, oferecendo tratamento especial aos cães mais necessitados. Cada procedimento cirúrgico envolve os melhores tipos de exames veterinários e os profissionais mais qualificados do mercado. Com o incentivo de Soares, mais de 1.200 cachorros já foram amparados pela ONG.


O cinema sempre produziu imagens memoráveis em lugares paradisíacos. Para a avant-première da estação, revisitamos cenas inesquecíveis em alta temperatura à beira-mar




CONSUMO POR ANA ELISA MEYER


PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN



VIAGEM

GIRO

FORTALEZA Tempos desafiadores estão aí e a vida segue em clima de mudanças e adaptações. Mas como é impossível sobreviver sem socializar – ainda que circular esteja exigindo certos cuidados e restrições –, selecionamos o que há de mais bacana na capital cearense que nos últimos anos, vale ressaltar, mudou de paisagem e está mais cosmopolita. Points para frequentar entre novíssimos e os clássicos no melhor estilo oldie but goodie. Dê o ar de sua graça. POR RAFAELA VERAS







LIVRO

O QUE VOCÊ FARIA?

Em O Anel de Giges, o economista Eduardo Giannetti decifra os significados da invisibilidade isolado de outros seres humanos. Essa hipótese está calcada numa condição de felicidade que condena a pessoa à absoluta solidão. Não se sustenta como concepção de realização humana”, diz. Para o economista – um apaixonado por filosofia desde a adolescência –, a fábula também pode ser aplicada à ética coletiva. Em uma sociedade legalmente desigual, em que poucos privilegiados escapam das amarras da lei, é possível pensar num anel de Giges que permite a poderosos fazer o que bem entendem. “Eu me pergunto se o Brasil ainda não vive uma situação de regime préRevolução Francesa”, diz o autor. Segundo Giannetti, o livro quer fazer o leitor questionar a si próprio e

FERMENTAÇÃO À BRASILEIRA, LEONARDO ALVES DE ANDRADE (MELHORAMENTOS)

Se os cozinheiros de quarentena se dividem entre aqueles que querem simplificar tudo e os que querem explorar fronteiras, este livro atende os dois casos. A coqueluche mundial dos fermentados – picles, kombuchas, kefir, kimchi e um vasto etc. – ganha um livro voltado aos ingredientes brasileiros. NÃO É SOPA, NINA HORTA (CIA DAS LETRAS)

O que é mais gostoso, comer ou falar sobre comida? Este clássico da prosa gastronômica, reeditado com comentários manuscritos pela autora, morta em 2019, não resolve a dúvida, pelo contrário. É preciso ler mais, comer mais e se lambuzar com o humor e o estilo de Nina.

78 PODER JOYCE PASCOWITCH

As escolhas literárias do mês pelo editor Paulo Werneck TODAS AS CARTAS, CLARICE LISPECTOR (ROCCO)

Nossa maior escritora se correspondeu com amigos, parentes, escritores, artistas – pessoas que tiveram o privilégio de conhecer uma sensibilidade tão fascinante quanto arisca. Nos 100 anos de nascimento da autora, este livro consolida o valor literário das cartas de Clarice, levando-as para fora do círculo restrito dos pesquisadores.

escapar do autoengano de considerarse sempre reto e justo. Um desafio que, segundo ele, requer trabalho e coragem. “Se não for o caso, é porque falhei como autor.”

A ORGANIZAÇÃOA ODEBRECHT E O ESQUEMA DE CORRUPÇÃO QUE CHOCOU O MUNDO, MALU GASPAR (CIA. DAS LETRAS)

Marcelo Odebrecht ascendeu rápido, muito rápido – e caiu atirando no próprio pai, Emílio. Se você acha que o que aconteceu entre esses dois fatos já é conhecido e notório, a fera da reportagem da Piauí mostra em 600 páginas que, nas mãos da narradora certa, nós não sabíamos de nada.

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FOTOS RENATO PARADA/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

A ideia é tão simples quanto tentadora. Imagine um anel que o faça invisível. Como ninguém pode vê-lo, não há punição, não há inibição pelo olhar alheio, nem constrangimento pela culpa. “O que a prerrogativa da inimputabilidade revelaria sobre o caráter e a alma de cada um? O que afinal desejaríamos do fundo do coração com o anel no dedo?”, pergunta o economista Eduardo Giannetti no livro O Anel de Giges: Uma Fantasia Ética (Cia. das Letras). A obra passeia por filosofia, economia, história, literatura, psicanálise. “O primeiro impulso é você saciar desejos longamente reprimidos, coisas da fantasia que o mundo não permite. Depois dele, o que fica? A vida de arquiduque do mundo cansa”, pondera Giannetti. “Condena-se o indivíduo a viver



Uma bandeira da Argentina redesenhada em que o sol é Maradona; o aviso de funcionamento das linhas do metrô de Buenos Aires com a inscrição “Gracias, Diego”; o abraço sofrido e algo desesperado de dois torcedores dos principais rivais portenhos, os times do Boca e do River. As imagens que correram o mundo após a morte de DIEGO ARMANDO MARADONA (1960-2020) serviram para mostrar, mais uma vez, que o futebol é algo que se aproxima do transcendente. Maradona, não por acaso, era chamado em seu país de D10s, assim mesmo, com o numeral de sua camisa compondo a palavra de quem tudo pode e tudo é. Se alguém desconfiava da passionalidade argentina, ela foi exibida x-rated para o planeta na fila interminável que se formou em torno da Casa Rosada, para o último adeus ao jogador, a despeito das taxas alarmantes da Covid-19 na capital do país. A morte costuma tudo redimir, e Maradona, que esteve muito longe de ser um ser beatífico, com suas muitas descidas aos infernos, seu hedonismo e sua fragrorosa derrota para os próprios vícios, não foi exceção à regra. De qualquer forma, como na cartatestamento de um conhecido político, El Diez saiu da vida para entrar na história.

80 PODER JOYCE PASCOWITCH

FOTO GETTY IMAGES

ADIÓS


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