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UM SUÍÇO NO MODERNISMO BRASILEIRO
UM SUÍÇO NO MODERNISMO
BRASILEIRO
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Com uma formação europeia, o artista plástico, designer e arquiteto John Graz realizou sua trajetória profissional na transição do estilo art déco para o modernismo no Brasil
POR ANA ELISA MEYER
Nascido em Genebra, em 1891, desde muito jovem John Graz demonstrou aptidão para as artes plásticas. Aos 20 anos, concluiu sua formação em arquitetura, decoração e desenho na Academia de Belas Artes. Foi aluno do ilustrador Carl Moos, que o orientou nas técnicas de desenho publicitário e litografia, entre 1911 e 1913, quando estudou em Munique, na Alemanha. De volta à cidade natal, Graz dedicou-se aos estudos mais especializados de ornamentação e figuração e foi nesse período que conheceu os artistas brasileiros e irmãos, Antônio Gomide (1895-1967) e Regina Gomide (18971973), com quem iniciou um relacionamento que seria decisivo na vida pessoal e artística.
Na chegada ao Brasil, em 1920, Graz desembarcou no Rio de Janeiro, onde reencontrou Regina, com quem se casou. Logo, eles se mudaram para São Paulo, no momento em que a cidade vivia a efervescência que precedeu a Semana de Arte Moderna de 1922. Também professora, Regina criou um pioneiro ateliê de artes têxteis modernas, local onde o casal Gomide-Graz realizou obras de composições geométricas abstratas, ainda fazendo a transição do estilo art déco para a arte moderna. Por intermédio de Oswald de Andrade, os dois se juntaram ao grupo pioneiro do modernismo da cidade. E, por causa do seu cunhado, o já celebrado artista Antônio Gomide, Graz passou a conviver com a nata do movimento modernista paulista, como Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, dentre muitos outros, e, de forma mais intensa, com o escritor Mário de Andrade.
Essa integração ao meio artístico e cultural levou Graz a ser um dos protagonistas da importantíssima Semana de Arte Moderna, em 1922. O evento se tornou um marco da cultura nacional reunindo no Teatro Municipal os mais representativos nomes da vanguarda intelectual e artística do Brasil. Naquele mesmo ano, ele teve uma obra publicada na seletíssima revista Klaxon, primeiro periódico de divulgação do pensamento modernista no país.
INTERIORES DAS RESIDÊNCIAS
Por ser inviável se manter somente com suas produções artísticas, Graz iniciou, a partir de 1923, uma bem-sucedida carreira nas artes aplicadas, executando projetos de interiores para residências da elite paulistana. Criativo e inovador na organização dos ambientes domésticos, desenhou para as mansões de seus clientes peças únicas e originais. Como não
No alto, mobiliário de sala de estar dos anos 1930 da coleção Fulvia e Adolpho Leirner, acervo do MAC-SP; e poltrona John Graz na Dpot. À dir., John Graz em retrato dos anos 1930. À esq., mesa John Graz da Dpot. Na pág. anterior, sala de estar da residência de Mario Cunha Bueno na década de 1930
Tela Baianas, 1930. Abaixo, desenho original de 1960 da cadeira 3 Apoios, que foi interpretada pela designer e diretora de criação da Dpot Baba Vacaro e produzida pela primeira vez em escala com exclusividade pela loja
havia como produzi-las em grande escala naquela época, contou com competentes artesãos para realizar projetos de móveis tubulares, integrando canos metálicos e laminados de madeira com formas geometrizadas, portas, luminárias, afrescos, vitrais, tapetes e maçanetas, já imaginando a sua distribuição e integração aos ambientes projetados.
Ecos da Bauhaus, escola alemã vanguardista que revolucionou o design, e de sua formação em Munique ficavam evidentes. O domínio da estética art déco, assim como a fauna e a flora brasileiras e os povos indígenas, são facilmente identificados em seus projetos, que trazem uma diversidade de técnicas e temas relacionados à sua interpretação modernista de um país tropical. Graz se dedicou por quase 40 anos a esse segmento profissional, no qual se utilizou de grandes e belos painéis artísticos como destaque nessa produção que uniu arte e decoração.
MILITÂNCIA E PRODUÇÃO VISUAL
Entre os anos de 1932 e 1934, o artista foi um dos fundadores da Sociedade Pró-Arte Moderna (Spam), grupo liderado por Lasar Segall que tinha o objetivo de consolidar as ideias estéticas e sociais vindas da Semana de 22. No mesmo período, integrou o grupo do Clube dos Artistas Modernos (CAM), que levou à frente outro nome emblemático do modernismo brasileiro: Flávio de Carvalho. Após o fim dos dois agrupamentos militantes, Graz intensificou sua produção de desenhos e pinturas. Temas como a fauna e a flora nativas, o Brasil rural e indígena, elementos que já apareciam esporadicamente em seus trabalhos como projetista de interiores, ganham força em suas obras. Um traço marcante nesse período é a sua relação com o movimento. Os personagens de seus desenhos e pinturas estão sempre em ação: os indígenas caçam, os cavalos galopam, as mulheres remexem os quadris, os homens guerreiam, navegam ou simplesmente agem. Em 1973, depois da morte de Regina Gomide, ele se casou com Annie Brisac, responsável pelo legado do artista até hoje. John Graz morreu em 1980, aos 89 anos, deixando um acervo com desenhos, pinturas, estudos e projetos já executados de mobiliário, afrescos, jardins, plantas baixas e cadernos com anotações de viagens pelo Brasil e pelo mundo. n