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INSPIRAÇÃO E CIÊNCIA

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OPINIÃO

OPINIÃO

No início da pandemia, a biomédica Jaqueline Goes de Jesus foi uma das responsáveis pelo sequenciamento genético do coronavírus (SARS-CoV-2) em tempo recorde na América Latina: 48 horas. Um feito e tanto que lhe rendeu... uma boneca. No caso, um prêmio da fabricante de brinquedos Mattel que criou uma Barbie em sua homenagem – outras cinco cientistas pelo mundo também foram escolhidas por suas conquistas, entre elas a britânica Sarah Gilbert, que liderou a criação da vacina Oxford-AstraZeneca.

Natural de Salvador, filha de uma pedagoga e auxiliar de enfermagem, e de um engenheiro civil, Jaqueline também fez história quando ganhou o Prêmio Capes de Tese pelo Programa de Pós-Graduação em patologia da Universidade Federal da Bahia. A partir da sua pesquisa que envolveu o sequenciamento do vírus Zika, ajudou a compreender a origem e a identificação de cepas do Zika, chikungunya e febre amarela com maior potencial epidemico. Hoje, com apenas 31 anos, além de pesquisadora no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, na USP, ela segue trilhando sua trajetória de sucesso na biomedicina no Reino Unido, onde desenvolve pesquisas na área de arboviroses emergentes. Em conversa com Joyce Pascowitch, a pesquisadora falou sobre o projeto em Londres e disse o que podemos esperar do “novo normal”.

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ADAPTAÇÃO

“Fui aprovada para trabalhar no Reino Unido no grupo da doutora Ester Sabino com arboviroses, ou seja, zika, chikungunya, febre amarela e dengue. A proposta era anterior à Covid-19. Eu já fazia a parte de análise epidemiológica, com coleta, processamento da amostra e sequenciamento em si, mas, para entender o processo completo, a geração dos genomas e a análise desses genomas, precisava vir para cá. A ideia é aprender toda a parte analítica, voltar para o Brasil e passar esse conhecimento para minha equipe, de modo que todo mundo saiba o processo do início ao fim.”

DESOBEDIÊNCIA

“Pensar em quando poderemos respirar mais tranquilos no Brasil é difícil porque depende do comportamento populacional e temos uma cultura da desobediência. Em qualquer situação, o brasileiro tende a quebrar regras. Nos outros países, Reino Unido principalmente, as regras são rígidas e isso faz com que as pessoas respeitem. Além disso, no Brasil, há o fator governamental. Não há um discurso unificado para promover a cultura de que é preciso ficar em casa para, daqui a três meses, voltar e ter nossa vida normal.”

PACTO

“Para quem não quer se vacinar porque tem medo, ou quer engravidar: a vacinação não é uma decisão individual, mas um pacto coletivo, e no momento que decido não me vacinar, estou impactando outras pessoas porque a probabilidade de me infectar e transmitir a doença é muito maior. Além disso, quando você pensa no medo que as pessoas têm de possíveis riscos, o risco de pegar Covid-19 e ter complicações é incomparável. Então qual é a balança?”

EXPECTATIVA

“Se a gente conseguir conter a dispersão do vírus, imagino que em 2023 poderíamos estar mais tranquilos com a vacinação avançando. O grande desafio é parar a dispersão do vírus para que não tenhamos novas variantes surgindo. E as medidas governamentais devem ser investir cada vez mais na compra de vacinas, embora [tenham divulgado que] o orçamento para compra delas será reduzido em quase 70% em 2022, o que é um absurdo. A gente precisa entender o que está acontecendo para que a gente não sofra mais no futuro.” n

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