ISSN 1982-9469
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771982
R$ 19,50
00149
N.1 49|2 02 1
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PROPÓSITO, INCLUSÃO E ESPERANÇA
FORÇA E RESISTÊNCIA Depois de um IPO espetacular na Smart Fit, SORAYA CORONA assume a presidência do conselho e arregaça as mangas para expandir ainda mais a maior rede de academias do continente
SENTIDO ÚNICO
Como o ex-ministro GILBERTO KASSAB se transformou no oráculo de todas as correntes políticas de Brasília
ALTA FREQUÊNCIA
LULU SANTOS: o rei do pop
e seu estilo todo próprio de fazer e acontecer
RECURSOS HUMANOS As habilidades necessárias para ser incluído no clube dos que fazem a diferença
SALDO POSITIVO
Na visão do economista JOSÉ MÁRCIO CAMARGO, a recuperação do setor de serviços injeta uma boa dose de endorfina para o bem-estar econômico
ESPECIAL
Um novo morar para os novos tempos
E MAIS
O lado B do melhor do mobiliário brasileiro, o programa que incentiva a presença de mulheres negras nos boards e as opiniões de CLAUDIA FEITOSA-SANTANA, DANIEL OMAR PEREZ, FABIO ALPEROWITCH e RENAN FERREIRINHA
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SUMÁRIO 15 16 24
EDITORIAL COLUNA DA JOYCE NO PAIN, NO GAIN
Depois do IPO que levantou R$ 2,3 bi para a expansão da Smart Fit, os desafios de sua chair, Soraya Corona, não são triviais 32
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DIREÇÕES OPOSTAS
Contra a postura do governo, empresas do país avançam na política ambiental 58
OPINIÃO
Fabio Alperowitch debate uma inclusão realmente inclusiva 62
OPINIÃO
Renan Ferreirinha avalia os novos desafios do ensino público
ECONOMIA DO BEM-ESTAR
Para José Márcio Camargo, o avanço da vacinação irá influenciar o humor econômico
O FUTURO DO MORAR
Com a transformação trazida pela pandemia, o setor imobiliário busca atender novas demandas
OPINIÃO
O psicanalista Daniel Omar Perez analisa a bela alma hegeliana na época da diversidade 40
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A NOVA INTELIGÊNCIA
No pós-pandemia, a ordem é desenvolver as chamadas habilidades humanas
BOM CONSELHO
O projeto Conselheira 101 e o aumento do número de lideranças negras nos boards
O FAROL DE BRASÍLIA
Presidente nacional do PSD, o ex-ministro e ex-prefeito Gilberto Kassab avalia sua influência 36
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ENSAIO
Lulu Santos está pronto para tocar seus hits em turnê comemorativa
FOTOS JORGE BISPO; BEATRIZ PEREIRA/DIVULGAÇÃO; LUCAS SEIXAS; PEDRO PESSANHA; DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES
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OPINIÃO
A neurocientista Claudia FeitosaSantana explica o significado de ikigai, conceito que surgiu no Japão 70
IGUALMENTE ICÔNICOS
As criações menos conhecidas de nomes como Sergio Rodrigues, Geraldo de Barros e Zanine Caldas 74 78 80
PODER VIAJA CULTURA INC. ÚLTIMA PÁGINA SORAYA CORONA POR ADRIAN IKEMATSU
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BOSS + hugoboss.com EDUARDO GUINLE + eduardoguinle.com RICARDO ALMEIDA + ricardoalmeida.com.br VANESSA ALMEIDA ATELIER
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NA REDE: /revista-poder-joyce-pascowitch
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PODER EDITORIAL
A
s chamadas habilidades sociais, tão faladas (e não tão aplicadas) na educação, já se tornaram uma vantagem competitiva no mercado de trabalho. Não que Soraya Corona precisasse delas para ser recrutada na Bio Ritmo, já que é cofundadora da academia junto com Edgard Corona, seu marido. Mas sua empatia e dedicação total fizeram a diferença para torná-la uma sócia fundamental para o grande passo que o casal daria tempos depois – dar à luz Smart Fit, a maior rede de academias de ginástica do Brasil – e expandindo após um bem-sucedido IPO. Habilidade é o que não falta também a Gilberto Kassab, presidente do PSD, o partido que fundou dizendo que não seria nem de direita, nem de esquerda, nem de centro – talvez seja essa composição ideológica a chave para a tão falada terceira via. Embora para o ex-ministro, até as outras duas vias, especialmente a de Lula, sejam muito possíveis. A política vem fazendo mal à recuperação dos investimentos, mas para José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, o enfraquecimento da pandemia e a extensão da vacinação vão trazer uma sensação de bem-estar à população que nem as trapalhadas políticas de Brasília vão conseguir ofuscar. Aliás, ofuscado é como o Brasil chega à COP26 (Conferência das Nações Unidas para Mudança Climática), em novembro. O país perdeu seu protagonismo ambiental com o avanço do desmatamento. Sorte é que a pauta ESG avança firmemente entre os players empresariais. E caso a pandemia vá de vez embora, é bom não perder de vista tudo o que serviu de aprendizado: lembrar das habilidades humanas é mais do que necessário. Por aqui ainda passa nesta edição o humano, demasiadamente humano Lulu Santos, no Ensaio de PODER, uma top seleção com o lado B do melhor design brasileiro, uma reportagem especial sobre o novo morar dos novos tempos e a opinião muito bemvinda dos articulistas convidados: a neurocientista Claudia FeitosaSantana, o filósofo Daniel Omar Perez, Fabio Alperowitch, o cara do ESG no Brasil, e Renan Ferreirinha, secretário de Educação do Rio de Janeiro. Haja habilidade social nesta PODER!
R E V I S TA P O D ER . C O M . B R
Aliados de SERGIO MORO no Podemos apresentaram a última cartada para convencê-lo a embarcar de vez na corrida presidencial amparados em pesquisas qualitativas que indicam ventos favoráveis ao ex-juiz. Por dois aspectos: primeiro porque o combate à corrupção, de acordo com o levantamento interno, ainda terá bastante apelo na agenda do pleito de 2022. Outro dado promissor sugere que boa parte do eleitorado bolsonarista, praticamente a metade, votaria no ex-ministro da Justiça, o que garantiria a ele um bom potencial de crescimento já que largaria com 10% das intenções. Nos bastidores, RENATA ABREU, presidente do Podemos, já tem anunciado aos quatro ventos o ex-juiz como nome da sigla.
SINUCA DE BICO
O agronegócio foi a única atividade que criou no CentroOeste novos bilionários durante os últimos dois anos. É também uma das frentes mais apoiadas pelo presidente JAIR BOLSONARO, que fez diversas concessões para liberar mais crédito e modalidades de pagamento aos ruralistas. Agora o setor quer remexer nos rabiscos que rodam pelo Congresso sobre a regularização fundiária e, desejo antigo, criar alterações nas normas de licenciamento ambiental. Os dois pleitos foram levados ao presidente e à ministra TEREZA CRISTINA pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). No entanto, Bolsonaro, que tem no agro um fiel aliado, viu-se encurralado por várias reclamações de quem só faz dinheiro com exportação e tem medo de perder bons negócios pela imagem ruim do Brasil em outros países – justamente por causa de... Jair Bolsonaro.
TARZAN
Mesmo diante da atual – e aparente – harmonia entre Judiciário e Executivo, o presidente do STF, LUIZ FUX, tem pegado pesado nos treinos de jiu-jítsu para aliviar a tensão do trabalho. Praticante há quatro décadas, ele é faixa vermelha e branca (representa o oitavo grau na faixa preta) e costuma dizer que “o trabalho é meio de vida, mas não meio de morte”. Quem acompanha de perto a rotina de Fux se diz surpreso com a sua energia desde que assumiu a presidência da corte no ano passado. Passeios de bicicleta também estão entre as suas atividades favoritas.
16 PODER JOYCE PASCOWITCH
007
A notícia de que Tatiana Bressan, ex-estagiária do gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal RICARDO LEWANDOWSKI, era informante do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos deixou o STF – e os corredores de Brasília – em permanente estado de alerta. Isso porque cada ministro da corte possui dezenas de assessores com acesso a documentos e casos sigilosos envolvendo pessoas dos mais altos escalões políticos, sociais e ideológicos. Com a possível falha na segurança, o Supremo estuda agora novos órgãos para verificação e acompanhamento de conduta dos seus funcionários. A avaliação é que tal órgão não pode ser nem a Abin, nem a PF, porque seria delegar a gestão a outro poder e implicaria em abrir mão do controle interno. Empresas privadas estão sendo consultadas.
FOTOS ALAN SANTOS/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA; LULA MARQUES/AGÊNCIA PÚBLICA; DIVULGAÇÃO; MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL; FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL; FÁBIO CAVALCANTI FERREIRA; FREEPIK; GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO
ÁS DE ESPADAS
BELO HORIZONTE ILUSTRE CONHECIDO O ex-ministro HENRIQUE MEIRELLES, atual secretário esta-
dual da Fazenda de São Paulo, está bem cotado nas apostas eleitorais. Ele recebeu convites para concorrer ao Senado em 2022 por São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e outros estados, e, segundo pesquisas do MDB, tem boas chances de ser eleito em qualquer situação. Porém, no Bandeirantes, João Doria tenta convencê-lo a outro plano: ser vice de Rodrigo Garcia na disputa ao governo de SP. O desejo de Doria é ter uma chapa de sucessão com dois nomes ligados à sua gestão. Uma forma de se manter influente.
O setor náutico deve encerrar o ano com estouro de champanhe no convés. Na contramão da crise econômica, a indústria de embarcações projeta um faturamento de cerca de R$ 840 milhões no Brasil em 2021, uma alta de 10,3% em relação a 2020, quando o setor já havia crescido 20% frente ao ano anterior. Os dados são da Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e Seus Implementos, a Acobar. Um dos efeitos da pandemia foi a concentração de renda nas camadas mais ricas e por isso o mercado de luxo ficou mais aquecido no período.
72% É o índice de brasileiros que acreditam que o mundo seria melhor e mais pacífico com a presença de mais mulheres líderes políticas. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos em 28 países, o Brasil é o que mais aposta em lideranças femininas para trazer paz e melhorias ao planeta. Peru e Colômbia (ambos com 70%) vêm logo atrás no ranking, seguidos pela Turquia (67%).
CACHORRO GRANDE
Há tempos que a PETZ é bem mais do que o maior pet shop do Brasil. Um ano após o IPO que arrecadou R$ 3 bilhões, a companhia quer acelerar a expansão dos negócios farejando o mercado de saúde. A ideia é criar um ecossistema seguindo o modelo de gigantes como a Rede D’Or e a Dasa, mas no mundo dos pets. Desde a estreia na B3, a Seres, marca da varejista voltada para a saúde animal, saltou de sete para 12 hospitais e de 99 para 126 centros veterinários. O próximo passo é entrar na área de laboratórios e planos de saúde. Segundo uma projeção do Instituto Pet Brasil, em 2021, os serviços veterinários vão movimentar R$ 4,6 bilhões no mercado brasileiro, um crescimento de 18% sobre o ano passado.
NO PRELO
O novo livro do fotógrafo CLAUDIO EDINGER, um dos mais premiados do país, já tem data de lançamento: março. Quarentena (ed. Vento Leste) reúne 130 imagens feitas com o uso de drone que retratam o isolamento social das pessoas – anônimos e famosos – sob um ponto de vista com distanciamento. Entre os fotografados, nomes conhecidos como o arquiteto Eduardo Longo, o fotógrafo Bob Wolfenson, os artistas plásticos Guto Lacaz, Alex Flemming, Denise Milan e Osgêmeos, o pianista Marcelo Bratke e o chef Charlô Whately. “A tônica do projeto é a absoluta surrealidade deste nosso momento histórico”, explica Edinger. O livro, o 22º dele, tem prefácio assinado pelo curador e diretor artístico Marcello Dantas. PODER JOYCE PASCOWITCH 17
As pessoas que acreditam na inteligência, no progresso e no entendimento são as que tiveram uma infância infeliz. GERTRUDE STEIN
SAS
3 PERGUNTAS PARA...
FERNANDA CALANDRINO, CALANDRINO, diretora comercial de contratos da Huawei no Brasil e diretora do Comitê de Líderes Locais da companhia
CULTURALMENTE, CHINESES E BRASILEIROS CARREGAM MUITAS DIFERENÇAS. E NO AMBIENTE CORPORATIVO, TAMBÉM É ASSIM?
Sim, muitas. O que é bom, pois acabam servindo de aprendizado para ambos os lados. Temos o Comitê de Líderes, no qual eu sou uma das gestoras, que foi criado exatamente para facilitar a comunicação entre o board da empresa, que é predominantemente de nacionalidade chinesa, com os demais funcionários, que são cerca de mil – incluindo os funcionários locais expatriados. Com base nos meus 17 anos de empresa, sou responsável por fazer a ponte de comunicação entre os dois lados. Trabalho com contratos, vendas, mas acabo re-
PODE NOS CONTAR EXEMPLOS DESSA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTO? O QUE É PRECISO SABER PARA CRESCER EM UMA COMPANHIA CHINESA?
Compreender peculiaridades é a chave. Por exemplo: na nossa cultura corporativa ocidental, quando recebemos uma promoção normalmente ganhamos também um aumento salarial. Na cultura chinesa é diferente. Primeiro é preciso demonstrar que você é capaz de assumir a nova posição, e só depois de apresentados os resultados esperados é que você recebe os benefícios atrelados à promoção. Outro exemplo está relacionado à confiança. Os brasileiros têm a característica de confiar nas pessoas até que se prove o contrário. Já os chineses não. Eles desconfiam dos outros até que se prove o contrário. E isso gera algumas situações particulares. Qualquer informação que você dê a um chinês vai ser verificada por ele com pelo menos
TEMPORADA ABERTA
outras três pessoas. “Isso que ela falou está certo? É verdade?” Para os brasileiros incomoda muito, porque coloca em xeque a credibilidade. Por isso é importante ter jogo de cintura para absorver e trabalhar com as diferenças. O MERCADO DE TELECOM É MAJORITARIAMENTE MASCULINO. COMO A HUAWEI TRABALHA PARA CORRIGIR ESSE DESEQUILÍBRIO?
A disparidade de gênero é uma questão que domina a sociedade e na Huawei não é diferente. Nós temos algumas lideranças femininas na empresa, mas o setor de telecom envolve tecnologia e essa disparidade nasce nas faculdades, ainda na formação. Porém, é uma preocupação que temos e por isso adotamos uma série de iniciativas nesse sentido. Temos, por exemplo, o programa Huawei Women Developers (HWD), para empoderar mulheres desenvolvedoras a criarem aplicativos e ferramentas com potencial para fazer a diferença no mundo.
As casas de campo e de praia que viraram moradia na pandemia podem ganhar outra função. O Yô Clube de Casas, destinado à troca de residências de alto padrão, acaba de ser lançado como opção para quem quer se hospedar em locais tão exclusivos quanto seus imóveis. O proprietário que disponibilizar sua casa ganha pontos de acordo com tamanho e localização, para serem usados em diárias nos condomínios Fazenda Boa Vista e Quinta da Baroneza, no interior paulista, em Trancoso, Lisboa e outros destinos. O diferencial é a curadoria, que fica a cargo dos fundadores, Henrique Skujis e Samantha Abuleac, filha do investidor Leivi Abuleac.
FOTOS GETTY IMAGES; FLÁVIO TEPERMAN; ROMULO FIALDINI; DIVULGAÇÃO; RPO DIVULGAÇÃO; ACERVO IMS; DIVULGAÇÃO NETFLIX
solvendo questões de todo tipo, do caixa eletrônico, banheiro, estacionamento. Faço essa interface.
PASSAPORTE
Portugal segue como um dos lugares mais atrativos para quem deseja sair do país e o momento é propício com a reabertura para os brasileiros. Segurança e custo de vida são dois fatores que pesam na escolha, de acordo com a empresária CHITRA STERN, de Cingapura, sócia-fundadora do Martinhal Family Hotels & Resorts, junto ao marido, o suíço Roman Stern. Além dos quatro hotéis de luxo e da United Lisbon International School, escola aberta há um ano – 10% dos alunos são brasileiros –, o quinto empreendimento será o Martinhal Residences, condomínio de luxo com serviços de hotel no Parque das Nações, previsto para ficar pronto no segundo semestre de 2022. “Queremos construir uma verdadeira comunidade”, diz Chitra. O ecossistema ainda conta com um Education Hub, um coworking para startups e pequenos empresários.
ESTE MÊS A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... VISITAR a exposição dedicada a
Georges Remi, o artista de múltiplos talentos conhecido por Hergé (ou o pai do Tintim), e tomar um cafezinho nos jardins do Museu Calouste Gulbenkian. Em Lisboa
DAR play no álbum A Symphony of Soul, lançamento da Royal Philharmonic Orchestra com sucessos da Motown – incluindo The Supremes, Marvin Gaye e Temptations. Disponível na íntegra em todas as plataformas digitais a partir de 19/11 CORRER a Maratona de Nova York, um
clássico do gênero. Os atletas precisarão apresentar um teste negativo de Covid-19 ou certificado de vacinação e aderir às orientações do governo americano sobre viagens e quarentena. No dia 7/11
SEGUIR @felipedana no Instagram e acompanhar a cobertura do fotógrafo brasileiro do conflito no Afeganistão DESCOBRIR o Infini, bar “escondido”
dentro do tradicional restaurante La Casserole, no Largo do Arouche
LER Amoroso: Uma Biografia de João Gilberto (ed. Cia das Letras), lançamento póstumo de Zuza Homem de Mello. O livro sobre o gênio da MPB foi deixado pronto pelo escritor, crítico e pesquisador poucos dias antes de sua morte APOIAR o projeto
Pão do Povo da Rua, com o suporte do padre Julio Lancelotti, que distribui diariamente 1.500 pãezinhos gratuitamente para quem não tem casa OUVIR o novo single de Rita Lee,
uma parceria dela e seu parceiro de longa data – na vida e na música – Roberto de Carvalho. “Change” é a primeira inédita dela em quase uma década
CELEBRAR Clarice Lispector na exposição Constelação Clarice, em que a obra da escritora é o ponto de partida para a apresentação de um vasto conjunto de trabalhos de artistas visuais mulheres, todas contemporâneas da autora. Em cartaz no IMS Paulista ACOMPANHAR o ATP Finals em
Turim, evento que reúne os melhores tenistas da temporada. Vale ficar de olho na nova geração do esporte, em especial o norueguês Casper Ruud e o italiano Jannik Sinner
RIR com a
chegada de todas as nove temporadas de Seinfeld à Netflix
ENTRAR na onda dos sober bars e
desenvolver receitas de mocktails (o termo para cocktails sem álcool) Homem que Mudou o Esporte, foi pensando no próximo verão. Saúde! de um adolescente temperamental com cabelo platinado a um dos maiores, mais elegantes e mais MARATONAR a aguardada terceira BAIXAR o podcast WeCrashed: confiantes tenistas da história com temporada de Succession, na HBO The Rise and Fall of WeWork, sobre o relato biográfico escrito pelo Max. Destaque para a atuação de a ascensão e queda da WeWork jornalista Christopher Clarey Brian Cox no papel do patriarca e de seu ex-CEO e cofundador (ed. Intrínseca) Logan Roy Adam Neumann com reportagem de carol sganzerla e dado abreu
ENTENDER como Federer: O
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LIFESS Lifestyle com um S é um jeito de viver. Com “SS” é Trousseau. É entender que o bem estar vem do equilíbrio interior. É sentir alegria em respirar fundo e observar o mundo. É perceber o valor do tempo, do silêncio e da empatia. É produzir mais ocitocina e menos adrenalina. LifeSStyle pra nós é assim, com “SS”.
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LIDERANÇA
NO PAIN, NO GAIN Depois do bem-sucedido IPO que levantou R$ 2,3 bi para a expansão da maior rede de academias do Brasil, a Smart Fit, os desafios de sua chair, Soraya Corona, não são triviais. Mas, “tarefeira”, ela não parece se incomodar com o que vem pela frente, até mesmo se for um crescimento “sem limites” – e com as dores próprias do processo POR PAULO VIEIRA
É
FOTOS ADRIAN IKEMATSU
um pouco contraintuitiva a história empresarial da paulista de Campinas Soraya Corona, 57 anos, presidente do conselho de administração da Smart Fit, a rede de mais de mil academias de ginástica fundada por ela e seu marido, Edgard Corona, em 2009. Formada em jornalismo e tendo exercido a profissão na TV Campinas e em assessorias de imprensa, ela chefia, sem ter tido capacitação acadêmica tradicional, o board de uma das empresas-sensação entre aquelas que abriram capital na bolsa brasileira em 2021; Soraya também não foi a figura central do crescimento e da expansão da Smart Fit nem de sua antecessora, a Bio Ritmo, que, fundada 13 anos antes, não inovou dramaticamente em seu setor, como faria a Smart Fit, alinhando-se ao que de certa forma já era feito pela concorrência – a entrega para um público afluente de uma academia com equipamentos e serviços up to date. Esse protagonismo sempre foi exercido por Edgard. Mas se por essa perspectiva não dá exatamente para inverter o dito machista e afirmar que por trás de uma grande mulher há sempre um grande homem, é possível dizer que Soraya esteve full time na construção do sucesso empresarial da família, que foi consagrado com o IPO da Smart Fit na B3 em 12 de julho, quando arrecadou R$ 2,3 bi. “Sou tarefeira. Sempre atuei muito na operação inteira, da recepção à manutenção, éramos eu e ele [Edgard] na academia todos os dias o tempo todo, sábados e domingos também.”
24 PODER JOYCE PASCOWITCH
PODER JOYCE PASCOWITCH 25
Detalhes do escritório de Soraya na sede administrativa da companhia que ela ajudou a consolidar, na avenida Paulista, a metros da unidade da Bio Ritmo que mudou a história da empresa
A Bio Ritmo nasceu em 1996, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, ano em que a cultura das startups não aparecia nem em romances de ficção científica. Mas um dos lemas venerados pelos millennials que hoje fazem dinheiro, “erre muito, corrija rápido”, foi intuitivamente seguido por Soraya e Edgard. A Bio Ritmo original era, nas palavras do próprio site da empresa, “um projeto que tinha lá seus defeitos, faltava espaço para um bom estacionamento e o projeto arquitetônico beirava à catástrofe”. Foram dez anos de prejuízo, segundo a mesma fonte, mas a correção de rumos, se demorou eras geológicas ali, veio rápida na avenida Paulista, já em 1997, com a inauguração da arrojada unidade do Conjunto Nacional. Ali, com inovações em cenografia e iluminação, incorporando features próprios do mundo da hospitalidade, a Bio Ritmo começou a virar o jogo. Ao dizer que trabalhou quase sem descanso nas academias da rede, Soraya praticamente não se serve de uma figura de linguagem. Casada com Edgard em 2000, ela entrou já no “prenup” na rotina dos negócios do marido, a quem conheceu numa clínica de fisioterapia paulistana, após ambos sofrerem acidentes em estações de esqui diferentes. Suas filhas gêmeas Maria Clara e Maria Paula, hoje com 15 anos, cresceram vendo a mãe entre aparelhos de leg press e bicicletas de uma sala de spinning. Não exa-
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tamente vendo a mãe pingar suor sobre esses equipamentos, já que Soraya não se identifica tanto com a atividade física. Pratica-a cotidianamente, mas brinca com o repórter sugerindo que ele destine a pergunta aos demais da sala. Diz que “se esforça, mas é mais do ‘hard work’”. Por fim entrega que pratica um pouco de musculação e pilates, “para a postura” e também para minorar os efeitos da Covid, que deixou sequelas – conta que vem enfrentando dificuldades com números e datas.
PÁTRIA E FAMÍLIA
Diante de uma estrutura familiar como a da Smart Fit, o capital nem sempre se sente confortável, mas na hohora em que a rede de academias fez sua oferta inicial de ações, o famoso IPO, na B3, em julho, “gabaritou”. PaPara Eduardo Rahal, analista da consultora independente Inside, que acompanha regularmente essas operações, a razão é simples: os investidores preferiram observar menos a família e muito mais o Pátria, o grupo de privaprivate equity que é o principal controlador do negócio – e que curiosamente também havia feito seu próprio IPO meses antes, mas na Nasdaq, cabalando na operação uma sociedade com a americana Blackstone. “Os invesinvestidores enxergaram fatores que diluíram o risco do enenvolvimento familiar, e esses fatores tinham relação com os players da oferta, não apenas o Pátria, mas o fundo soberano de Cingapura, o CPP, dos fundos de pensão do Canadá, e a gestora Dynamo”, diz. Os sócios pesapesados da Smart Fit ajudaram certamente no desfecho do negócio, mas talvez a coisa mudasse de figura se o IPO fosse feito semanas depois. A principal concorrente da empresa fundada pelos Corona, a Bluefit, controlada pepela gestora de um ex-sócio do BTG, retirou sua tentativa de IPO no fim de setembro, mês que o risco político azeazedou os negócios na bolsa brasileira. “A Bluefit tem 10% do tamanho da Smart, mas o que contou foi o momenmomento macroeconômico. Kalunga e outras empresas prograprogramadas para abrir também recuaram na época.”
SONHO GRANDE Assim como no caso do “erre muito”, outra frase do manual do “startaper” domina o escritório da empresa, em um andar da avenida Paulista, em São Paulo. É a do “sonho grande”. Novamente, a expressão não é explicitamente utilizada, mas seu conceito, sim. Para Soraya, a expansão do negócio pode “não ter fim”, e Portugal e alguns mercados da Ásia já são prospectados. “Eu não imaginei isso, mas o Edgard sempre dizia que seríamos a maior rede de academias do Brasil. Depois passou a dizer ‘do mundo’. O pessoal ria, comentava que ele era completamente louco. O cara é um visionário, muito dedicado e concentrado.” A Smart Fit, que tem 1.007 unidades, 60% delas no Brasil (todos os 26 estados e o Distrito Federal), 3.500 funcionários e agora retira 50% de seu faturamento no mercado externo, já se espraia por 13 países das Américas, com forte presença no México. O último desembarque hispânico foi em Honduras. Na década passada, a taxa de crescimento do número de unidades foi de 36% ao ano, com os clientes ativos passando de 123 mil ao fim de 2011 para 2,8 milhões em fevereiro de 2020, antes da pandemia. Apesar do excelente resultado do IPO de julho, algumas questões permearam a operação, levantando algum ceticismo dos analistas antes de a oferta ser concretizada. Uma delas se referia à estrutura familiar da empresa, com Edgard, Soraya e dois dos três filhos do primeiro casamento do fundador, Diogo e Ana Carolina, em postos-chave; a outra, envolvia a reclamação de um acionista minoritário, ligado a algumas unidades franqueadas. Nada disso parece ter sido óbice para a conclusão da operação, que talvez tenha se beneficiado do peso do principal controlador da Smart Fit, o Pátria Investimentos, que tem 42,1% dos papéis, quase o triplo do que dispõe a família Corona, e da concorrência tímida no segmento. A Bluefit, segunda maior rede de academias do Brasil, tem 110 lojas, ou seja, é cinco vezes menor que a Smart Fit, desconsiderando-se os negócios internacionais da líder. Pouco antes do IPO, a propósito, a Smart comprou a Bluefit, então a terceira maior rede do Brasil, arrematando mais 27 lojas. Diante das novas obrigações de governança e transparência, Soraya pretende agora fazer um curso de capacitação para entender o que significa efetivamente presidir o conselho de uma empresa listada. “São muitas regras, é preciso saber o que pode e o que não pode ser falado. É uma coisa muito nova na nossa história.” Outras questões da, digamos, gestão contemporânea parecem razoavelmente equacionadas na Smart Fit. Empoderamento feminino é um tema com o qual Soraya se identifica. “Gosto de traba-
Sou tarefeira. Sempre atuei muito na operação inteira, da recepção à manutenção. Todos os dias, o tempo todo
Gosto de trabalhar com mulheres, com a empatia delas. Na operação sempre houve mais professoras do que professores 28 PODER JOYCE PASCOWITCH
FOTOS DIVULGAÇÃO; ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA VICTOR FREZZA
lhar com mulheres, com a empatia delas. Na nossa operação sempre houve mais professoras que professores, exceto talvez na musculação. E em questões de raça é a mesma coisa.” Há um comitê de pluralidade na casa e, em sua conta no LinkedIn, Soraya diz trabalhar para “ampliar a mobilidade e o acesso de todos os colaboradores a todas as posições da empresa e de nosso ecossistema”. E esse ecossistema vem sendo ampliado. A pandemia exigiu que a vida se transferisse para o ambiente on-line, e com as academias de ginástica não foi diferente. A Smart Fit tem aplicativos próprios para seus alunos, alguns deles premium, como um dedicado à nutrição, e também para o público externo, como o Queima Diária, que exibe videoaulas de treinos. O app foi comprado em julho de 2020 e terminou o ano com 375 mil alunos, boa parte deles conquistados já sob gestão Smart Fit. Há ainda o TotalPass, modelo de negócio que emula o do muito bem-sucedido Gympass, que conecta empresas a academias de ginástica pelo país – no plano mais caro, além da rede Smart Fit e Bio Ritmo, há inclusões como estúdios de pilates e crossfit e uma clínica de fisioterapia. A Bio Ritmo, é bom que se diga, já possuía experiência corporativa, pois instalou academias dentro dos headquarters de empresas como o Itaú, Mercado Livre e a Editora Abril – quando esta ainda tinha uma grande população de funcionários. As academias tiveram de fechar durante a pandemia – no Chile ficaram mais de um ano paradas –, mas 2020 não foi um ano trágico para os Corona. Longe disso. A receita líquida caiu 36,7% e houve redução de 3% na base de alunos – uma perda bastante modesta. A expansão ficou no azul, ao aumentar 9%, e o Ebitda, surpreendentemente, também: R$ 53,8 milhões. Uma fração do indicador de 2019, mas mesmo assim positivo. Além das novidades digitais, o grupo olha para alguns nichos no off-line. Dentro das academias Bio Ritmo há práticas esportivas de intensidade como o Body Camp, uma espécie de treino funcional sobre esteira; e um corte mais ocidental de ioga com opções hot (aqui chamado “sweat”, de suor, para não usar a expressão patenteada); com tecidos de circo e uma terceira vertente com foco em meditação. (Leia mais na pág. 60) Se hoje existe a sensação de que o mar encapelado ficou para trás, o que para os negócios nunca é uma visão muito prudente, é preciso dizer que os percalços que Soraya e Edgard enfrentaram para transformar sua empresa em um case não foram poucos - como o fato de o marido constar nos inquéritos das fake news envolvendo financiamento e divulgação de notícias com ataques à autoridades. Assim como ela, Edgard não tinha intimidade com o segmento: o fundador
De cima para baixo, aula de ioga do estúdio Vidya, um dos novos nichos da Smart Fit, unidade no México e malhação em uma das unidades da rede
é engenheiro químico e passou mais de 20 anos em uma usina de açúcar e álcool da família, da qual decidiu se afastar ao ser escanteado do poder. Em um momento-chave da empresa, em 1997, quando a Bio Ritmo da avenida Paulista parecia que iria vingar, o casal teve problemas com os professores de educação física que, compartilhados por academias concorrentes, foram impedidos por elas de “frilar” para os Corona. Aquela crise poderia ter sido fatal. “Hoje isso aqui é uma estrutura enorme, muito diferente do que a gente viveu ao longo desses 25 anos juntos. A história desta empresa é uma história de garra, de cumplicidade, de amor, de fazer acontecer”, diz Soraya. Ou, Soraya poderia ainda ter dito, de malhação. Mas isso não costuma ser a primeira coisa que vem à sua cabeça. n PODER JOYCE PASCOWITCH 29
CACAU NO FOCO DA
SUSTENTABILIDADE
O
cultivo sustentável do cacau, entre outros produtos, é a prova de que a nova economia da floresta pode – e deve – combinar conhecimentos tradicionais e inovação para levar desenvolvimento às comunidades da Amazônia. Que o diga o cacauicultor João Evangelista, do município de Novo Repartimento, no Pará. Ele é um exemplo de como o pequeno produtor pode se desenvolver recuperando áreas. Evangelista teve sua amostra de cacau selecionada para a final da mais prestigiada premiação de cacau do mundo, o Prêmio Internacional do Cacau (ICA, sigla em inglês). De um total de 235 concorrentes de
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todo o mundo avaliados por especialistas, três amêndoas brasileiras estão entre as 50 finalistas, sendo uma delas de Evangelista, que faz parte do RestaurAmazônia, desenvolvido pela Fundação Solidaridad e que é um dos seis projetos que dividem o investimento do Fundo JBS pela Amazônia. É a primeira vez, desde o início da premiação, em 2010, que uma amostra do assentamento Tuerê foi selecionada. O reconhecimento mostra que o cacau produzido no município de 77 mil habitantes está entre os melhores do mundo. “Eu só produzia cacau comum. Não fazia fermentado, de um jeito que tem um valor diferente”,
conta Evangelista. Além de aumentar o valor agregado, o produtor rural descobriu que ao trabalhar com Sistemas Agroflorestais (SAFs) pode se beneficiar do aumento da biodiversidade em suas terras plantando várias árvores nativas, como mogno, tatajuba, itaúba, cedro-rosa, ipê. “Quem planta cacau refloresta.” Práticas que foram ainda mais favorecidas depois que Evangelista teve contato com o projeto RestaurAmazônia, iniciativa que combina o cultivo do cacau em SAFs com a pecuária com o objetivo de beneficiar 1.500 famílias de produtores assentados ao longo da Transamazônica. O
FOTOS DIVULGAÇÃO
Nova economia da floresta combina conhecimentos tradicionais e inovação, e beneficia comunidades locais da Amazônia
foco é aumentar a produtividade da pecuária de cria; a produtividade de cacau; preservar mais de 30 mil hectares de floresta; reduzir as emissões de gases de efeito estufa e aumentar a renda da comunidade local. De acordo com João Evangelista, os 4,5 hectares de sua propriedade eram tomados pelo capim. Com o plantio do cacau, a terra foi recuperada e hoje há 6 mil cacaueiros. “Antes, as pessoas derrubavam as árvores, mas eu plantei e hoje elas estão bem desenvolvidas”, diz ele, que acredita que o caminho é manejar a terra sem desmatamento. “Hoje temos ajuda de profissionais para aprender como produzir mais e, ao mesmo tempo, preservar a floresta. Desmatar e colocar fogo são práticas destrutivas que devem ser abolidas”, conclui. Baseada em um modelo de baixa emissão de carbono, a iniciativa pretende identificar o melhor uso de áreas degradadas e promover a adoção de SAFs, que combinam a cultura do cacau e de outras espécies nativas com a vegetação da região. “Essa união garante a sustentabilidade do proces-
“Um dos nossos focos é apoiar projetos que valorizem quem está na base das cadeias da floresta, como os extrativistas, indígenas e outras comunidades tradicionais ” Joanita Maestri Karoleski, Karoleski,
presidente do Fundo JBS pela Amazônia
so e promove a inclusão da agricultura familiar na cadeia produtiva, a regularização ambiental, a redução do desmatamento e das emissões de carbono e a mitigação de efeitos do aquecimento global”, afirma Rodrigo Castro, diretor da Fundação Solidaridad. Criado em 2021 para dar escala ao programa Territórios Inclusivos e Sustentáveis, e desenvolvido há cinco anos pela Fundação Solidaridad na região, o RestaurAmazônia acabou chamando a atenção da Elanco Foundation, primeira instituição a apoiar o fundo, que vai contribuir com US$ 450 mil ao longo de três anos. Considerada a região de maior biodiversidade do planeta e o maior bioma do Brasil, a Amazônia compreende um conjunto de ecossistemas que envolve a bacia hidrográfica do rio Amazonas e a Floresta Amazônica. São mais de 5 milhões de quilômetros quadrados, que abrangem nove estados brasileiros, num bioma onde vivem mais de 20 milhões de pessoas. “As populações das florestas resistem e mantêm seus modos de vida com sistemas produtivos tradicionais e, a partir deles, ensinam que existe outro caminho possível. Uma economia que cuida do presente por um futuro melhor. Uma economia do cuidado”, diz Jeferson Camarão Straatmann, engenheiro de produção no Instituto Socioambiental (ISA), e emenda: “É de um novo paradigma econômico que estamos falando, que reconheça e valorize a existência dessas comunidades como elas são, o conhecimento tradicional, o cuidado e as contribuições que elas entregam à sociedade”. Alinhada com esse pensamento, a JBS, segunda maior empresa de alimentos do mundo e a maior companhia global do setor de proteína, é a principal doadora do Fundo JBS pela Amazônia,
Um dos projetos financiados pelo Fundo JBS pela Amazônia levou a produção de cacau a assentamentos ao longo da Transamazônica e mudou a vida de pessoas como o cacauicultor João Evangelista
participando da iniciativa junto com outros stakeholders. “O Fundo JBS pela Amazônia procura proativamente contribuições e parcerias. Podem apoiar o fundo, empresas ou instituições brasileiras ou internacionais de qualquer segmento e setor, além de pessoas físicas que tenham interesse em ser parceiras de implantação ou investimento financeiro”, diz Joanita Maestri Karoleski, presidente do fundo. A iniciativa receberá inicialmente da JBS e de parceiros R$ 250 milhões ao longo de cinco anos e tem como meta alcançar R$ 1 bilhão em investimentos conjuntos até 2030. O objetivo é impulsionar ações de conservação e preservação da floresta, e o desenvolvimento sustentável da região, que responde por 60% do território nacional – mas cuja renda per capita é 20% menor do que a média brasileira. Saiba como se juntar ao fundo no fundojbsamazonia.org PODER JOYCE PASCOWITCH 31
VISÃO
O FAROL DE BRASÍLIA
Presidente nacional do PSD, o ex-ministro e ex-prefeito Gilberto Kassab é tido nos bastidores da política como um farol a indicar cenários futuros. Nesta entrevista a PODER ele avalia a sua influência, explica por que o senador Rodrigo Pacheco é a melhor opção da terceira via e garante: Bolsonaro vai pagar nas urnas o preço da sua gestão
O
POR DADO ABREU ILUSTRAÇÃO PEDRO PESSANHA
filósofo Nicolau Maquiavel, conhecido por seus pensamentos sobre a dinâmica real do poder, dizia que a política tem pelo menos duas caras: a que se expõe aos olhos do público e a que transita nos bastidores. Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, seria então, sob a ótica renascentista, um homem de duas faces. Ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro dos governos Dilma e Temer, é hoje um político de menor visibilidade, mas um dos personagens mais influentes do Brasil por seu talento articulador e sua capacidade de transitar entre diversos grupos. Não perdeu a influência mesmo após ter sido acusado de corrupção – ele é réu em um processo por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, “caixa 2” eleitoral e associação criminosa, denúncias que nega. Resistindo a definições tradicionais, seu partido, que “não é de direita, nem de esquerda e nem de centro”, nas palavras de Kassab quando fundou a legenda há dez anos, já é o terceiro em número de cidades administradas depois da performance nas eleições municipais, marca que garantiu capilaridade suficiente para o dirigente almejar eleger o próximo presidente da República – ele sonha em filiar o senador Rodrigo Pacheco, atualmente no DEM, para disputar o Planalto pelo PSD. Nesta entrevista a PODER Kassab analisa o atual cenário político, avalia as possibilidades eleitorais para 2022, prega voto útil, revela o motivo de apostar em um nome de fora do partido visando a corrida presidencial e explica por que voltou atrás sobre o impeachment de Jair Bolsonaro.
PODER: O SENHOR É UM DOS ATORES POLÍTICOS MAIS INFLUENTES DO PAÍS, A PONTO DE TER SE APROXIMADO DOS TRÊS ÚLTIMOS PRESIDENTES. QUAL A DIFERENÇA EM FAZER POLÍTICA EM CARGO PÚBLICO E COMO PRESIDENTE DE PARTIDO? GILBERTO KASSAB: O importante é fazer a boa política, é
estar a serviço de causas e ter diálogo, o que não significa abrir mão dos seus princípios e convicções. Eu me considero um político de centro, mas não um centro fisiológico que quer estar alinhado a qualquer governo. Sou um político ideológico, que entende a importância do centro em convergência com partidos mais progressistas, ressaltando a importância do estado nas políticas públicas de saúde, educação e segurança, mas que também entende, e aí em aproximação maior com os liberais, a importância de um estado que seja o menor possível. Essa é a razão do permanente diálogo e da facilidade que tenho de articulação. Existe uma tranquilidade em dialogar sem abrir mão das convicções. É importante que não haja intransigência e talvez essa seja a minha maior marca pessoal na política, saber conviver com as divergências. Me realizei como parlamentar participando de boas causas, mas também quando estive à frente do Executivo, o que me deu uma visão muito ampla do processo político. Com essa experiência é mais fácil ser dirigente partidário, porque dentro do partido você convive com aqueles que têm mandato, com os que não têm, os que estão à frente do Executivo, os que são militantes, e consegue atender a todos. Vejo que as experiências anteriores me dão oportunidade de ter uma gestão mais PODER JOYCE PASCOWITCH 33
eficiente e voltada para o crescimento do partido e suas diferentes dimensões. Hoje o PSD se consolidou como um dos grandes do país, respeitado, e tem sido protagonista na condução de políticas públicas e posicionamentos fortes neste momento tão difícil que vive o Brasil. PODER: POR QUE O PSD SE DISTANCIOU DO GOVERNO E QUAL É SUA POSIÇÃO DIANTE DAS AMEAÇAS DE JAIR BOLSONARO À DEMOCRACIA? GK: O PSD não se distanciou do governo, ele nunca esteve
próximo. Apoiamos Geraldo Alckmin no primeiro turno e no segundo liberamos nossos filiados para que votassem de acordo com as suas convicções. Era um segundo turno indesejável, não queríamos que o Brasil fosse conduzido por políticas que representavam o extremo. Mas era uma realidade e assim que o governo foi eleito o partido se declarou independente e permanece desse modo até hoje. Nossa posição não é de intransigência. Os projetos que o governo encaminhou e nós entendemos que eram bons para o país tiveram o nosso apoio. A postura do presidente, e do seu governo, no entanto, não representa o que acreditamos ser o melhor para o Brasil. É uma razão bastante simples e natural em uma democracia.
PODER: APESAR DE O SENHOR RESSALTAR INDEPENDÊNCIA, O PSD TEM VICE-LÍDER DO GOVERNO NA CÂMARA (DEP. JOAQUIM PASSARINHO) E UM DOS MAIS PRÓXIMOS MINISTROS DE BOLSONARO (FÁBIO FARIA, DAS COMUNICAÇÕES) FAZIA PARTE DO SEU QUADRO. COMO EXPLICAR ESSA EQUAÇÃO? GK: A nossa independência permite aos parlamentares terem
essa posição. É evidente que será incompreensível tal posição à medida que teremos um projeto diferente para o país nas eleições. Mas, neste momento, estar próximo ao governo, ou fazer parte do governo, não entra em choque com nossa independência. O Fábio Faria é um amigo pessoal, fundador do PSD, e de comum acordo definimos a saída dele do partido. Ele definiu um caminho que era incompatível com a sua filiação no PSD e decidimos por sua saída.
“Bolsonaro sempre deixa de mostrar ao mundo a importância do Brasil. Ele se perde em seus discursos” 34 PODER JOYCE PASCOWITCH
PODER: O QUE ACHOU DO DISCURSO DE BOLSONARO NA ASSEMBLEIA-GERAL DA ONU DESTOANDO DA PAUTA DE COOPERAÇÃO MUNDIAL? GK: Não foi a primeira vez que o presidente decepcionou
os brasileiros. Ele perdeu a oportunidade de construir parcerias para o Brasil, de se reunir com os principais líderes mundiais, com as maiores autoridades em saúde do planeta para que possamos, com cooperação, enfrentar a pandemia. Perdeu também a chance de levar uma comitiva de empresários para identificar alianças importantes para o desenvolvimento do nosso país, gerando riquezas, empregos. Infelizmente, o presidente Bolsonaro sempre deixa de mostrar ao mundo a importância do Brasil. Ele se perde em seus discursos, é lamentável.
PODER: EM SETEMBRO O SENHOR DISSE QUE AS MANIFESTAÇÕES DO PRESIDENTE ERAM SINAIS GOLPISTAS E POR ISSO ERA FAVORÁVEL AO IMPEACHMENT. CONTUDO, APÓS A CARTA-RECUO, AFIRMOU NÃO VER FATO CONCRETO. O QUE MUDOU? UM PEDIDO DE DESCULPAS, ESCRITO PELO EX-PRESIDENTE TEMER, BASTOU PARA ANULAR O FATO CONCRETO? GK: Mudou que tivemos um pedido de desculpas e a
sua postura. Porque no momento em que ele ameaçou a democracia, as instituições, ele estava sinalizando que iria para um regime autoritário. Mas no momento em que recuou, e que a sua conduta foi compatível, desapareceu qualquer indicativo que justificasse a abertura do processo de impeachment. No momento estou entre aqueles que vão trabalhar para que seja afastado pelas urnas. Nós não podemos banalizar o impeachment. Ele foi eleito, embora a minha opinião é a de que os brasileiros erraram ao elegê-lo, e esses brasileiros têm o direito que Bolsonaro fique até o final. Sou um democrata, acho que as urnas precisam ser respeitadas, o que não significa que tenha carta branca para cometer abusos. Se Bolsonaro vier a ameaçar novamente a democracia, se ficar claro que existe corrupção com seu envolvimento, haverá motivo para o impeachment. Espero que não tenha.
Pulseira VIP: Kassab com trânsito livre nos três últimos governos (Dilma, Temer e Bolsonaro) e ao lado de Pacheco, seu escolhido para 2022
FOTOS ELZA FIÚZA/AGÊNCIA BRASIL; VALTER CAMPANATO/ AGÊNCIA BRASIL; PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA; ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SP
PODER: QUAL O CUSTO PARA O BRASIL DO GOVERNO BOLSONARO? GK: O comportamento do presidente na pandemia atrapa-
lhou muito a confiança dos brasileiros e o êxito da sua gestão. A sua postura negacionista acabou gerando um distanciamento entre a figura do presidente e a sociedade. A sua falta de experiência, e da sua equipe, também trouxe uma insegurança muito grande junto aos investidores, que são os principais responsáveis pela geração de emprego, de riquezas do país. O Brasil tem no governo o seu principal investidor, mas no capital privado, seja nacional, seja o que vem de fora, temos um importante pilar para sustentação do nosso desenvolvimento. Infelizmente, com a postura desse governo e do presidente Bolsonaro, esses investidores estão totalmente distantes do Brasil.
PODER: O EMBATE INTERNO NA RAIA DA TERCEIRA VIA AINDA VAI SE DESENROLAR PELOS PRÓXIMOS MESES, COM POSSIBILIDADE DE CHEGAR À ELEIÇÃO SEM A CONVERGÊNCIA EM TORNO DE UM NOME. O QUE FALTA PARA A CONSOLIDAÇÃO DE UMA CANDIDATURA ÚNICA? GK: O eleitor escolhe o candidato. Haverá mais de quatro,
cinco candidatos, é natural. O importante é que em um determinado momento, o eleitor que não quer nem uma das extremidades, nem a esquerda, nem a direita, nem o ex-presidente Lula, nem o presidente Bolsonaro, possa, avaliando essas candidaturas de centro, definir qual é melhor e, em um movimento coletivo, todos se direcionarem para ela praticando aquilo que chamamos de voto útil.
PODER: O SENHOR TEM TRABALHADO PARA QUE O PRESIDENTE DO SENADO, RODRIGO PACHECO, SEJA O PRÉ-CANDIDATO DO PSD AO PALÁCIO DO PLANALTO. QUAIS SÃO AS CREDENCIAIS DO SENADOR? GK: Ele é jovem, portanto sinaliza renovação, tem boa for-
mação, é conciliador, capaz de representar a pacificação do país, e mostrou muito talento para fazer política. Foi eleito deputado federal por Minas Gerais, o que não é fácil, e na Câmara fez um bom trabalho, se elegendo para o principal cargo depois da Presidência, que é a presidência da Comis-
são de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ). No Senado assumiu a presidência da casa em seu primeiro mandato. Espero que ele possa aceitar essa missão, se apresentar para os brasileiros que ainda não o conhecem e, com certeza, ao se apresentar, saberá conquistar a simpatia de um número muito elevado de eleitores. PODER: POR QUE BUSCAR UM QUADRO FORA DO PARTIDO? GK: Quando você pensa em Presidência da República é pre-
ciso pensar no país. O PSD não tem em seu quadro uma figura da dimensão do Rodrigo Pacheco, que expresse, que traduza as qualidades que vejo nele. Ele é quem melhor pode nos representar, e representar essa ideia de centro, de pacificação, de um estado forte na saúde, na educação, na segurança. Mas que também possa conduzir para um enxugamento com uma valorização dos bons servidores. E seja capaz de promover uma boa reforma administrativa, sem aumentar a arrecadação tributária e trazer mais eficiência na gestão dos recursos públicos.
PODER: QUAL SERÁ O EFEITO DA PANDEMIA NA ELEIÇÃO? GK: A pandemia é o tema da humanidade. O gestor que er-
rou na sua condução terá dificuldades nas urnas. E o presidente Bolsonaro errou muito. Errou ao não contribuir para que as vacinas chegassem mais rapidamente ao Brasil, pelo contrário, o seu governo teve uma ineficiência brutal, incompreensível. Também errou quando não incentivou o uso de máscara, quando participou de aglomerações, quando fez ironias em relação à pandemia. Na economia mais equívocos, com uma proposta de reforma tributária arrecadatória. O momento é de ajudar os cidadãos, as empresas, não criar impostos. O governo erra na reforma administrativa não sabendo entender o momento importante que vive o país, erra na política, com sua posição de enfrentamento e não de conciliação, causando um mal-estar enorme no Brasil. Portanto, tenho dificuldades em aceitar a tese de que o presidente Bolsonaro vai se dar bem nas próximas eleições. Tudo isso carrega um preço que ele vai pagar nas urnas. n PODER JOYCE PASCOWITCH 35
FUTURO
Nos anos pós-pandemia que estão por vir, a ordem é desenvolver as chamadas habilidades humanas, tanto no trabalho quanto na vida pessoal. Não basta ter formação acadêmica: tem que praticar a humildade e a solidariedade POR CARL A JULIEN STAGNI
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CRIA VIDA TIDE
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36 PODER JOYCE PASCOWITCH
SONH A
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specialistas em futuro acreditavam que faltava um símbolo que marcasse o fim do século 20 e o iníinício de uma nova era. A CoCovid-19 surgiu e está sendo considerada esse marco. Futuristas acreditam que a pandemia está antecipando mudanmudanças que já estavam em curso, como trabalho remoto, educação a distândistância, cobrança por sustentabilidade e a valorização das habilidades humanas. Outras transformações que estaestavam em fase mais embrionária, e taltalvez não fossem tão perceptíveis, gaganharam sentido diante da revisão de
REPENSAR
ESCUTA ATIVA
ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES
AR
valores provocada pela crise sanitária sem precedentes em nossa geração. Por exemplo, o fortalecimento de vavalores como solidariedade e empatia, bem como o questionamento do momodelo de sociedade baseado no consuconsumismo e no lucro a qualquer custo. “O maior desafio para as pessoas nesse momento pós-quarentena é a reacomodação do cotidiano às nosnossas expectativas. Passamos quase dois anos sonhando com uma espécie de retomada do ponto em que fomos interrompidos pelo vírus e agora tetemos que interpolar na continuidade do processo aquilo que foi vivido nesnesse período – os lutos, as tristezas, as frustrações... vai ser um desafio recorecomeçar em outro ponto e não em uma continuidade de onde a gente parou”, afirma Christian Dunker, professor tititular de psicanálise e psicopatologia do Instituto de Psicologia da UniverUniver sidade de São Paulo. Para ele, as pessoas devem se prepreparar para um momento diferente na vida. E podem até tirar proveito disdisso. “É propício para aqueles que quequerem, e podem, experimentar o sabor da mudança, de inventar um novo esestilo de viver. Talvez mais consequente, mais fiel, eventualmente mais sincero em relação à experiência de ficar mais próximo de si mesmo nesses tempos de pandemia. Tivemos que nos rereconciliar ou entrar em uma briga mais vertical com nós mesmos. O que sosobrou disso pode ser usado para tentar um novo estilo de vida.” No universo corporativo, o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) está constantemente atuaatualizando a lista do que considera serem as competências necessárias para ser bem-sucedido no mercado de trabatrabalho do futuro e sinaliza que, depois de tudo o que vivemos, elas vão além do conhecimento técnico. As principais características apontadas no mais rerecente relatório do evento, que reúne a elite econômica e global, indicam que, para se destacar profissionalmente
‘‘TIVEMOS QUE NOS RECONCILIAR OU ENTÃO ENTRAR EM UMA BRIGA MAIS VERTICAL COM NÓS MESMOS. O QUE SOBROU DISSO PODE SER USADO PARA TENTAR UM NOVO ESTILO DE VIDA” Christian Dunker, psicanalista
até 2025, é necessário ter pensamenpensamento analítico e inovação, aprendizagem ativa e estratégias de aprendizado, reresolução de problemas, pensamento crítico e criatividade. Há tempos a forfor mação do ser humano deixou de ser algo com tempo definido para aconacontecer e se tornou uma jornada de vida que ganhou até um termo próprio, lilifelong learning (algo como “aprendiza“aprendizado ao longo da vida”). Não podemos parar de evoluir porque, além de ser a chave da nossa sobrevivência em um PODER JOYCE PASCOWITCH 37
mundo em transformação contínua, todos temos potências latentes que podem ser manifestadas, desenvolvidesenvolvidas e aprimoradas. Segundo Fátima Zorzato, psipsicóloga especializada na sucessão de CEOs, avaliação de conselhos de administração e assessment de executivos, a inteligência geralgeralmente é vista como a capacidade de pensar e aprender. Olhando papara o futuro, outro conjunto de hahabilidades cognitivas pode ser mais valorizado para definir um bom profissional. “Em um mundo em rápida mudança é cada vez mais importante desenvolver a capacicapacidade de repensar e desaprender. A maioria das pessoas prefere o conconforto da convicção ao desconforto da dúvida. Em geral só damos ououvidos a opiniões que confirmem as nossas, tendemos a descartar ideias que nos façam pensar muimuito e vemos o desacordo como uma ameaça”, explica. “O custo disso pode ser bem maior do que se imaimagina. Portanto, mais do que nunca é importante valorizar soft skills, como resiliência, coragem, escuta ativa... não basta apenas ter prepreparo técnico, formação acadêmiacadêmica”, completa a psicóloga, uma das headhunters mais prestigiaprestigiadas do país e autora de O que Faz a Diferença – As Características e Oportunidades que Criam o Grande Líder. Líder.
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HABILIDADES DO FUTURO: NO TRABALHO Capacidade de trabalhar em cooperação Escuta ativa Soft skills como resiliência, coragem, intuição, sensibilidade e empatia Três requisitos para ser um líder de sucesso: intelectualidade – nariz erguido, mas para sentir o que acontece em torno e o que as pessoas têm a dizer; comportamento – coerente, fala e coloca em prática o que disse; e sensibilidade – capaz de entender e mobilizar pessoas
A avaliação dela é compartilhada por Dunker, que acredita ser fundamental desenvolver a escuta como forma de “au“au mentar qualitativamente nossa experiência de prazer”. “Em vez de jogar gasolina na fogueira, devemos aprender o cultivo dos prazeres, a dilatar a experiência do prazer. Isso tem a ver com escutar... o próprio corpo, o ouou tro, e que essa escuta seja lúdilúdi ca, empática e inteligente. Nosso cotidiano está cheio de riquezas inexploradas. É a diferença que nos torna mais interessantes, não nossos próprios espelhos.” O tema é pauta de um dos bestsellers da atualidade. Em Think Again,, o psicólogo e escritor Again Adam Grant propõe a criação de uma cultura que valorize o quesques tionamento. Na obra, recém-purecém-pu blicada no Brasil pela editora Sextante e com o título Pen Pen-se de Novo, Novo , Grant examiexami na a arte de repensar como impulso para nos levar à excelênexcelên cia no trabalho e à sabedoria na vida.
NA VIDA Escutar o próprio corpo, o outro, e que essa escuta seja lúdica, empática e inteligente Praticar humildade e solidariedade Abandonar sentimentos predatórios, como individualismo, egoísmo, e seus efeitos corrosivos Ativar o gosto pela diversidade Recuperar o olhar viajante Restaurar a capacidade de sonhar
“Entre as histórias, ele conta a de Steve Jobs, que odiava celucelu lares e, graças à escuta ativa, foi convencido por seus parceiros de trabalho de que deveria lançar o iPhone, que acabou se tornando o carro-chefe da Apple”, lembra Fátima Zorzato. “Isso mostra o quanto é necessário estar aberto a mudanças.” Mas ter bom ouvido não basta. No mundo pós-pandemia outras tantas competências socioemosocioemocionais serão requisitadas e distindistinguirão inteligências. “Humildade vai subir no mercado, solidariesolidariedade vai junto, já que são coligacoliga das”, aponta Christian Dunker. “Em queda estão sentimentos predadores, como individualismo, egoísmo, que se expandiram, mas aparentemente chegaram a seu lilimite, bem como seus efeitos corcorrosivos. A inteligência está promeprometendo voltar às paradas de sucesso, mas a inteligência verdadeira, cacapaz de incluir reflexivamente o ououtro, de incorporar contradições, e não transformá-la em oposição. Diria também que nossa capacidacapacidade de sonhar que está sendo tão ambicionada vai ser restaurada e, junto com isso, nossa capacidade de suportar pesadelos.” n
OPINIÃO
AS ALMAS BELAS NA ÉPOCA DA DIVERSIDADE E DAS IDENTIFICAÇÕES POR DANIEL OMAR PEREZ
FOTOS DIVULGAÇÃO
“E
u tenho um amigo judeu, logo, não sou antissemita.” Ter um amigo judeu, ou negro, ou estrangeiro foi e é um recurso não pouco comum daquele que procura um álibi para expor publicamente sua superioridade moral de “bela alma”. A bela alma, como propõe Hegel, na Fenomenologia do Espírito, considera que seus julgamentos de valor são o único critério válido para ajuizar as ações dos outros. Porém, a lei moral proclamada por essa bela alma é um universal abstrato, carece de determinações concretas. Escrúpulos e hipocrisias sustentam a bela alma na má-fé de um mundo reconciliado, onde, se todos fôssemos belas almas e tivéssemos um amigo negro, judeu ou estrangeiro, então já não haveria contradições, antagonismos e oposições. O abstrato está em exibir meu amigo negro ou judeu ou estrangeiro no lugar público, dar um lugar à mesa por algum tempo, dirigir um sorriso a ele, mas retorná-lo ao seu lugar de mero hóspede, de estranho, de excluído resgatado por mim pelo menos por algum momento. O abstrato consiste em
constatar sua situação de excluído, riam em xeque a ordem hierárquica, exibir sua condição de modo indig- decide uma estratégia para preservar nado, de fazer uma imagem discur- seus privilégios aderindo ao movisiva ou inclusive fotográfica de mi- mento. Em 1963, Visconti filmou a nha relação, como bela alma, com o história e a popularização acabou outro estranho, excluído, miserável. gerando o uso de um termo: o gatoO mais fácil do mundo hoje é cons- pardismo, que seria algo assim como tatar que há racismo, xenofobia ou fazer de conta que se muda tudo para sexismo e é por isso que a bela alma não se mudar nada. Aquele que, pela hegeliana, que nada quer mudar, se sua posição de classe, consciente ou soma ao coro da indignação onde inconscientemente, querendo ou nada pode ser feito. não, reproduzia as condições que oriUma versão mais patética da ginaram a revolta, agora, no momenbela alma é aquela que se como- to oportuno, surfa a onda do discurve com histórias de superação: a so de moda e assume as bandeiras da história do judeu sobrevivente, do bela alma hegeliana. n negro sobrevivente ou do estrangeiro que começou pobre e indocumentado e agora é dono de um carro de luxo e uma casa de dois andares num país que não é o dele, sublinhando esse último detalhe. A cena se apoia no sentimento mais Capa do livro degradado que Il Gattopardo, comportaria o de Giuseppe significado da Tomasi di palavra comLampedusa paixão. Dar um lugar, uma cota para o excluído, quer dizer, para uma pequena par- Daniel Omar Perez é professor de filosofia na Unicela de excluídos. camp e psicanalista. Estuda Giuseppe Tomasi di Lampedusa a constituição do sujeito e as escreveu, em 1956, o romance Il Gat- identificações individuais e os modos em que topardo. Trata-se da história de Don secoletivas, articulam grupos, coletiFabrizio, príncipe de Salina que, dian- vos, massas, tanto intelectual quanto afetivamente te das mudanças políticas que colocaPODER JOYCE PASCOWITCH 39
EFEITO COLATERAL
A ECONOMIA
DO BEM-ESTAR
Para José Márcio Camargo, professor titular da PUC-RJ e economista chefe da Genial Investimentos, apesar das incertezas provocadas pelo governo federal, o avanço da vacinação e a consequente recuperação do setor de serviços deverão influenciar o humor econômico e o bem-estar da população a ponto de produzir um efeito eleitoral semelhante ao Plano Real. Resta saber quem irá capitalizar o movimento nas urnas
E
POR SERGIO LEO
FOTOS LUCAS SEIXAS
m meio ao grande pessimismo em relação aos rumos do Brasil, José Márcio Camargo é uma das vozes destoantes, tanto na avaliação das recentes medidas de privatização e reformas quanto no cenário para o futuro. Ele está convicto de que, se o combate à pandemia não sofrer algum revés inesperado, o cenário econômico trará “uma enorme sensação de bem-estar” à população, com efeito decisivo nas eleições de 2022. Doutor em economia pelo MIT, professor da PUC-RJ, José Márcio trabalhou no governo José Sarney e ajudou Michel Temer em sua reforma da legislação trabalhista; foi assessor econômico de Henrique Meirelles em sua breve candidatura à Presidência e hoje é economista-chefe da Genial Investimentos, de onde vê, na recuperação da pandemia, um possível efeito eleitoral semelhante ao que levou Fernando Henrique Cardoso à Presidência, com o Plano Real, em 1994. Quem conseguir capitalizar o êxito das vacinas e outras medidas de controle da pandemia estará no segundo turno, provavelmente com o candidato líder das pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva, aposta o economista. A seguir, os principais trechos da conversa de José Márcio Camargo com a PODER realizada em outubro:
PODER: VOCÊ CONTINUA OTIMISTA EM RELAÇÃO À ECONOMIA? JOSÉ MÁRCIO CAMARGO: O cenário de crescimento está
relacionado com a pandemia. Tínhamos mais de 3 mil óbitos por dia, desde junho estamos com menos de 500
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e continua uma trajetória de queda. Tive uma conversa longa com um técnico da Fiocruz e ele se mostrou bastante otimista em relação ao comportamento da pandemia nos próximos meses. Esse ponto é muito importante. Não estou projetando um comportamento da pandemia, nem os epidemiologistas famosos conseguiram fazer, não serei eu a tentar. Meu ponto é: se essa trajetória continuar, vamos fechar o ano com a questão da pandemia praticamente resolvida e, ao longo dos próximos meses, já vamos começar a ver uma mudança no bem-estar das pessoas, simplesmente porque vão poder sair de casa. Todos estão loucos para sair, conversar com amigos, ir ao bar da esquina, tomar cerveja, ir ao Maracanã, teatro, show. Isso vai significar um grande aumento na demanda por serviços, esse é um ponto fundamental. PODER: NÃO SERIA PREMATURA ESSA SENSAÇÃO, COM NOVAS VARIANTES, O RISCO DE UMA NOVA ONDA? JMC: Pode ser, não estou projetando nada sobre a
pandemia. As pessoas estão loucas para voltar ao convívio social, a demanda por serviços vai crescer muito. O setor de serviços foi o que mais sofreu durante o isolamento, inclusive serviços ligados a famílias, que demandam muita mão de obra, inclusive informal. O garçom do bar da esquina, o vendedor ambulante, essas pessoas continuam fora da força de trabalho ou desempregadas, e a volta dos serviços será muito importante para reocupar esse grupo de trabalhadores e para diminuir um pouco o aumento de desigualdade que aconteceu ao longo do ano.
PODER: ISSO MUDA O CENÁRIO? JMC: Vai significar uma sensação de bem-
estar muito importante para a maior parte da população e acho que vai aparecer no último trimestre. Além da demanda de crescimento por serviços, estamos vendo, na parte de concessão de serviços de um modo geral, privatização, leilões e concessões do governo federal e governos estaduais, uma enorme demanda do setor privado no investimento.
PODER: POR EXEMPLO? JMC: O governo federal privatizou a Cedae (Companhia
Estadual de Águas e Esgotos) no Rio de Janeiro, a maior privatização desde a Telebras; privatizou 22 aeroportos, uma ferrovia e uma rodovia; o governo do Rio Grande do Sul reprivatizou a CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica), de transmissão, a Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento); o Mato Grosso acabou de assinar contrato de autorização da construção de uma ferrovia de 900 km. A sensação é que existe uma força do investimento privado na economia brasileira e acho que tem uma razão para isso: a grande quantidade de reformas microeconômicas desde 2016. Reforma trabalhista, liberalização da terceirização, reformas nos mercados de capitais e de crédito, novo marco regulatório de saneamento, novo marco regulatório de óleo e gás, nova lei de falências, uma quantidade enorme de reformas que agora está fazendo efeito.
PODER: AS PRESSÕES INFLACIONÁRIAS NÃO COMPROMETEM ESSE CENÁRIO POSITIVO? JMC: A inflação está bastante forte, praticamente de dois
dígitos, mas vem fundamentalmente, em grande parte, de choques exógenos: o aumento de preços de commodities metálicas e grãos devido ao crescimento da demanda na China, e aumento de petróleo. Isso não tem muito a ver com a política monetária, que o Banco Central está apertando, para controlar as expectativas de inflação, mas não tem efeito sobre esses preços.
PODER: BOLSONARO DISSE QUE A ALTA DA INFLAÇÃO É DEVIDO AO LOCKDOWN. O QUE ACHOU? JMC: Concordo com a política do fique em casa,
fundamental para preservar a vida das pessoas. Ao mesmo tempo parou-se o sistema produtivo. E, como os governos fizeram políticas fiscais muito agressivas, tanto os governos dos países desenvolvidos quanto os dos países emergentes, essa combinação gerou falta de insumos, disrupção do processo produtivo. A retomada da oferta demora mais que a da demanda. Não é uma crítica da política do fique em casa, mas é óbvio: isso também gera pressão sobre preços industriais, inflacionária, e isso sim o BC tem de controlar.
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“A volta de serviços vai significar uma sensação de bem-estar importante para grande parte da população e acho que o resultado aparecerá no último trimestre” PODER: ENTÃO HÁ AMEAÇA INFLACIONÁRIA AO CRESCIMENTO? JMC: Essa questão da inflação é importante, mas, com a
desaceleração na China e a demanda por commodities vinda da Ásia diminuindo começam a acalmar os preços. O preço do minério de ferro nos últimos três meses despencou, o dos produtos agrícolas está começando uma trajetória de queda. Isso vai diminuir a pressão inflacionária, na minha avaliação, a partir do fim deste ano. A expectativa é ter uma estabilização da queda da renda real das pessoas, se é que a inflação vai estabilizar efetivamente. PODER: QUAIS SÃO OS RISCOS? JMC : O primeiro, de grande importância, é o grau de
imprevisibilidade desse governo. Nunca se sabe o que vai acontecer: o presidente, as relações políticas, as negociações, tudo é supercomplicado. O que aconteceu na semana de 7 de setembro, por exemplo, gera um tumulto muito grande, incerteza, que gera desvalorização do real, e isso leva à inflação, que gera aumento de juros e menos crescimento. A expectativa é a de que essa imprevisibilidade diminua ao longo do tempo. Mas é verdade que não podemos dizer isso com segurança, já tem três anos de governo e a imprevisibilidade continua. PODER: HÁ QUEM DEFENDA QUE, DO PONTO DE VISTA JURÍDICO, O PRECATÓRIO, UMA DESPESA NÃO VOLUNTÁRIA, ESTARIA FORA DO TETO. CONCORDA? JMC: Quando digo que o teto vai ser obedecido, não
digo que todos os gastos ficarão dentro dele. Como os precatórios: se tiver de tirar, fragiliza o teto de gastos, mas não o inviabiliza. Outra coisa é colocar o programa Auxílio Brasil fora, aí você destrói o teto de gastos.
PODER: POR QUÊ? JMC : Porque o Auxílio Brasil é um gasto
permanente, decisão do governo, e o teto existe exatamente para forçar o governo a definir prioridades naqueles gastos sobre os quais
ele tem controle. Sobre precatórios, ele não tem controle. Se decidir tirar os precatórios, há uma explicação concreta, lógica. Mas se excluir o Auxílio Brasil estará realmente mudando o teto. PODER: O MAIS IMPORTANTE É O EFEITO SOBRE AS EXPECTATIVAS DOS AGENTES ECONÔMICOS? JMC: O teto é superimportante porque, com ele, se há
ILUSTRAÇÕES FREEPIK
aumento de receita, esse aumento tem de ser usado para diminuir dívida, o que está acontecendo. Estruturalmente, o Brasil vai bem do ponto de vista fiscal: o governo Bolsonaro começou com relação a gastos primários (sem computar gastos com a dívida pública) de 19,5% do PIB, e, se tudo correr como planejado, vai terminar o mandato com relação sobre o PIB de 17,5%. Isso nunca aconteceu desde a redemocratização, todos os governos começaram com a relação gastos primários sobre o PIB menor do que acabaram. Não fosse o teto, todo aumento de receitas se tornaria aumento de gastos. Com o teto, tudo está sendo usado para reduzir a dívida em relação ao PIB, fundamental para reduzir o prêmio de risco do Brasil.
PODER: EMBORA TENHA HAVIDO MELHORIA NA FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO, QUE MEDE INVESTIMENTO, A BASE DE COMPARAÇÃO É FRACA, E HOUVE UMA FORTE QUEDA RECENTEMENTE. NÃO ESTÁ MUITO BAIXO O INVESTIMENTO EM RELAÇÃO AO PIB E OS INDICADORES RECENTES NÃO DESENCORAJAM O OTIMISMO? JMC: Sempre há enorme grau de incerteza quando se
trata de investimento. Mas essa questão das concessões e privatizações é muito importante. Há uma demanda muito
grande pelas concessões do governo. Na concessão de serviços de água e esgoto no Amapá houve ágio de 1,8 mil por cento. A privatização da CEEE teve ágio de 80%. A de aeroportos no interior de São Paulo teve enorme ágio, os sintomas são positivos. Todas essas concessões exigem um enorme investimento. Na privatização da Cedae pagaram uma outorga de R$ 23 bilhões e se comprometeram a investir R$ 50 bilhões em dez anos. PODER: VOCÊ ESPERA, ENTÃO, UM ANO PROMISSOR DE RECUPERAÇÃO EM 2022? JMC: Acho 2022 um pouco mais complicado por causa do
risco político: teremos eleição, ninguém sabe muito bem como será. Se meu cenário da pandemia estiver correto, a mudança de humor da população vai ser muito importante para definir o cenário político. Quem conseguir capitalizar essa mudança de humor, e não sei quem vai ser, pode ser o [João] Doria, o [Eduardo] Leite, [Luiz Henrique] Mandetta ou até Bolsonaro, irá para o segundo turno. Nós temos feito pesquisa e, aparentemente, é a situação da economia que vai dominar a discussão eleitoral. Como no Plano Real: no começo de 1994 Lula tinha 70% dos votos segundo as pesquisas; quando foi em agosto, ele já estava com bem menos e, em novembro, perdeu no primeiro turno.
PODER: O RESULTADO DA VACINAÇÃO SOBRE A ECONOMIA PODE EQUIVALER AO EFEITO DO PLANO REAL? JMC: Por que não? Pode ser até mais importante
ainda. Não estou falando que vai, mas será uma mudança na sensação de bem-estar impressionante, estou convicto. n
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CADEIRA
BOM
CONSELHO Com pouco mais de um ano de existência, o Conselheira 101, projeto que surgiu com objetivo de ampliar o número de lideranças negras em conselhos de administração de empresas, mostrou que não faltam profissionais qualificadas para acabar com a falta de diversidade nos boards POR NINA RAHE
E
ra agosto de 2020 quando Roberta Anchieta recebeu o telefonema de uma das cofundadoras do Conselheira 101 perguntando se ela gostaria de participar do projeto sem fins lucrativos que tinha como objetivo ampliar o número de lideranças femininas negras nos conselhos de administração de empresas. A executiva, com mais de 20 anos de carreira, superintendente de administração fiduciária no Itaú Unibanco, nunca havia cogitado se tornar membro de um conselho. “Meu pai era um homem preto brilhante, com três graduações, mestrado e doutorado e cresci com privilégio social, em espaços onde eu era a única negra na maioria esmagadora das vezes”, lembra Roberta. “Ele era um homem do mercado financeiro e desde pequena quis ser uma executiva. Achava que a falta de representação não tinha me limitado, mas nunca tinha me visto como conselheira e não conhecia nenhuma pessoa negra ocupando esse espaço.” No primeiro encontro do Conselheira 101, que aconteceu no segundo semestre do ano passado, no entanto, Roberta estava reunida com mais 16 mulheres negras que, como ela, possuíam as qualificações necessárias para ocupar assentos nos boards. “Foi um impacto imensurável porque vi pessoas com o meu biotipo que também eram executivas e isso nunca tinha acontecido desse jeito”, conta. Pouco tempo depois, 40% delas já estavam inseridas nesse mercado. A Roberta, que foi convidada para atuar no Conselho Fiscal da Ânima Educação, somam-se as participantes Ana Fontes, conselheira do Instituto Avon e Plan International; Ana Tércia Lopes Rodrigues, conselheira fiscal do Parceiros Voluntários e no Conselho Consultivo do Emé-
versas sobre governança, formação de conselhos e simulações de reuniões realizadas por esses grupos, com palestrantes como Fernando Carneiro, da Spencer Stuart, Geovana Donella, da Donella & Partners, e Eduardo Gouveia, membro do conselho da Mapfre. “Eu me achava capaz, tinha todos os skills, mas descobri no curso [da Saint Paul] que me faltava network. Se você tem uma empresa, fundada por sua família, irá colocar pessoas que conhece, e os C-Levels não conhecem pessoas como eu”, explica Elisangela. “As primeiras turmas focaram nas mulheres negras que já haviam trilhado um caminho no mundo corporativo, para chegarmos a um resultado rápido, mas como efeito colateral atingimos também as pessoas que estão começando, que passam a pensar nesse caminho.” Com a segunda turma ainda em andamento, as cofundadoras do Conselheira 101 já estão de olho nas mulheres que devem participar da terceira jornada, e pensam em ampliar sua atuação com um programa de mentoring como forma de acompanhar o caminho das participantes por mais tempo. Do outro lado, quem passou por ali também leva os ensinamentos do projeto como meta. “O Conselheira 101 abriu portas para que fôssemos referências para outras mulheres negras acreditarem que é possível estar No alto, Lisiane Lemos, uma das fundadoras do em um conselho”, Conselheira 101. Acima, Elisangela Almeida, CFO do grupo conta Roberta AnIn Press; e Roberta Anchieta, membro do Conselho Fiscal da Ânima Educação chieta. “Queremos Partner na KPMG Brasil; Graciema mostrar para o mundo das empresas Bertoletti, diretora de produtos mé- que somos capazes e, ao mesmo temdicos na Amil e membro do Conselho po, mostrar para as pessoas com o da Harvard Business School, e Mariane nosso biotipo que podemos, sim, ocuCoutinho, do Conselho de Presidentes par qualquer espaço. É mais do que no PDeC. Juntas, elas desenvolveram o uma questão profissional, mas um programa que inclui na sua grade con- propósito de vida”, define. n
FOTOS GETTY IMAGES; BEATRIZ PEREIRA/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO; SM2 FOTOGRAFIA/DIVULGAÇÃO
foi procurada pela amiga Lisiane Lemos, especialista na área de tecnologia, que queria saber se, além dela, haveria mais “alguma mulher preta” participando. Não contente diante da negativa, Lisiane decidiu lançar um formulário no LinkedIn para conhecer mais sobre quem estava atuante na governança corporativa e se surpreendeu com uma lista de 120 homens e mulheres negras de nível executivo que apareceram em apenas 48 horas. A partir de então, descobrir por que esses perfis não chegam ao conselho se tornou uma prioridade não apenas dela, mas de várias outras mulheres que queriam mudar esse cenário, como Patricia Molino, Culture and Change Management
rito Capitalismo Consciente; e Patrícia Garrido, membro do Conselho Consultivo da Vibe; além das cofundadoras Jandaraci Araújo, conselheira da Kunumi AI e Emérito Capitalismo Consciente; e Lisiane Lemos, que acumula os conselhos consultivos do Fundo de População das Nações Unidas, Kunumi AI, Universidade São Judas e fundo EB Preferred Futures. Assim, se antes do projeto havia a ideia de que faltava oferta, ficou claro, após um ano da iniciativa, que o problema era mesmo a demanda. Entre as cofundadoras e participantes negras, Elisangela Almeida, CFO do grupo In Press, era a única que já havia pensado que poderia ocupar essa cadeira. Depois de ter participado do curso ABPW (Advanced Boardroom Program for Women) da Saint Paul, com o objetivo de preparar mulheres para conselhos, e estar inscrita no PDeC (Programa Diversidade em Conselho), ela
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INDÚSTRIA 4.0: O MOTOR DA RETOMADA
I
nteligência artificial, internet das coisas, robótica, automação industrial e máquinas conectadas já faziam parte da realidade de muitas indústrias ao redor do mundo. Mas a pandemia fez o movimento avançar e a tomada de decisão baseada em dados passou a ser essencial quando o planeta foi do físico para o virtual. A Unipar, empresa brasileira pioneira na implantação de polos petroquímicos no Brasil e na Argentina e líder na produção de cloro, soda e PVC na América do Sul, já estava com sua transformação digital em curso, mas acelerou ainda mais esse processo para se adequar aos novos modelos e lidar com o novo cenário.
Com mais de 2,3 milhões de toneladas de vários produtos químicos que saem de suas fábricas de Cubatão, Santo André e Bahía Blanca, na Argentina, a Unipar investiu um pacote de mais de R$ 10 milhões para fazer essa migração para a chamada Indústria 4.0. “Estamos investindo em novas tecnologias de softwares e instrumentos para melhorar a nossa eficiência e competitividade”, explica Rodrigo Cannaval, engenheiro químico e diretor-executivo industrial da Unipar. O conceito de Indústria 4.0 surgiu pela primeira vez em 2011, na Feira de Hannover – principal evento do mundo de tecnologia industrial, na
Alemanha –, e é conhecido também como a quarta revolução industrial. O intuito é digitalizar completamente a manufatura, com a fabricação de produtos cada vez mais customizados e baseados em dados analíticos, aumentando assim a produtividade. Na Unipar, uma das funções das novas tecnologias é a otimização de recursos empregados na operação (energia elétrica, gás natural, água e outras matérias-primas, como o cloreto de sódio – sal de cozinha). Cannaval explica que o sal misturado à água forma uma salmoura e, quando submetida a uma carga elétrica, a reação química gera hidrogênio, cloro e soda cáustica. O cloro pode ser vendido então para o tra-
ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES; FOTOS DIVULGAÇÃO
Líder na produção de cloro, soda e PVC na América do Sul, Unipar investe em novas tecnologias para aumentar a eficiência e a segurança das operações enquanto se prepara para ser energeticamente autossustentável
tamento de água ou como hipoclorito, a água sanitária. O restante pode ainda ser associado ao etileno e virar PVC. “São exemplos de como podemos utilizar melhor nossa energia elétrica, fazendo mais com menos”, conta o executivo. Ele diz ainda que a Unipar tem investido em ferramentas de machine learning – tecnologia na qual os computadores têm a capacidade de aprender de acordo com as respostas esperadas por meio de associações de banco de dados – para regular, a partir da inteligência artificial, a melhor forma possível de todas as variáveis das operações, usar melhor os recursos, fazendo mais com menos e garantir resultados mais eficientes. ENERGIA LIMPA Outra novidade é a produção de novas formas de energia. Como parte dos chamados eletrointensivos, setores em que a energia elétrica tem grande peso no processo de produção, a Unipar tem se preocupado cada vez mais em consumir menos energia por tonelada de produto produzido. “Nossa decisão foi adotar um conceito autoprodutor. Fizemos uma parceria com a AES Brasil para um novo parque eólico, na Bahia, e um acordo com a Atlas Renewable Energy para um parque solar, em Minas Gerais, capaz de nos dar maior competitividade nos custos, garantir estabilidade com o fornecimento de energia e, principalmente, utilizar uma matriz energética limpa a partir do sol e do vento, e contribuir ao mundo como um todo”, conta Rodrigo Cannaval. A meta é obter até 70% da energia utilizada por autoprodução nos próximos cinco anos. Segundo a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), em estudo divulgado em 2017, a indústria brasileira poderia economizar cerca de R$ 73 bilhões com a implementação de processos tecnológicos.
“Estamos investindo em novas tecnologias de softwares e instrumentos para melhorar a nossa eficiência e competitividade” Rodrigo Cannaval, diretor-executivo
industrial da Unipar
Na Unipar, medidas de eficiência operacional permitiram aumentar a capacidade instalada e atender os clientes sem interrupções no fornecimento dos insumos
FORNECIMENTO ININTERRUPTO Todas essas medidas de eficiência operacional permitiram a Unipar formar estoques para atender a demanda crescente, aumentar a utilização da capacidade instalada em suas unidades, além do atendimento a todos os clientes, que não sofreram interrupções no fornecimento dos insumos produzidos pela companhia. É o caso da parceria com a Ajinomoto do Brasil, que utiliza soda cáustica como fonte de sódio na fabricação de glutamato monossódico, ácido clorídrico para outros processos internos e hipoclorito de sódio, usado no tratamento de água. “Mesmo quando os escritórios da Unipar estavam fechados, tudo foi muito bem adequado para continuarem com o mesmo atendimento via home office, sem nenhum percalço. E em relação aos produtos, en-
quanto muita coisa estava em falta no mercado, eles continuaram nos abastecendo interruptamente, sete dias por semana”, diz Guilherme Ferrarini, gerente de compras corporativas, food e importação da Ajinomoto do Brasil. Apesar da pandemia ter gerado instabilidade, a Unipar cresceu significativamente em 2020. “Foi um ano extremamente difícil. A equipe precisou trabalhar em condições diferenciadas – home office e novos modelos de turnos –, mas o esforço de todos gerou um bom desfecho. O resultado financeiro da companhia foi espetacular, com faturamento de R$ 3,8 bilhões, e a gestão estratégica levou a Unipar a quase R$ 1 bi de Ebitda. O lucro líquido atingiu R$ 370 milhões no ano, o que representa crescimento de 26,9%, comparado aos 12 meses de 2019. E 2021 vai ser ainda melhor”, espera Cannaval.
O FUTURO DO MORAR
Com a transformação sem precedentes para o ecossistema imobiliário trazida pela pandemia, o setor busca atender novas demandas com abordagens inovadoras POR ANGELICA MARI
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HABITAT
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O
impacto da pandemia trouxe uma série de mudanças para a forma como as pessoas vivem, trabalham e se divertem, e a casa tem sido o palco de todas essas transformações. Ao olhar para o futuro, especialistas convergem em um ponto: os desdobramentos da Covid-19 para o morar devem perdurar mesmo depois que a crise for superada, e ditar os rumos da vida doméstica nos próximos anos. A centralidade do lar trazida pela necessidade de distanciamento físico impôs uma realidade nunca antes vista em tempos modernos. Em vez de ser predominantemente um lugar de descanso, a casa ganhou um caráter multifuncional: o local de moradia agora precisa ser escritório, academia, escola, bar, entre outros usos. Segundo a multinacional de previsão de tendências WGSN, os próximos anos apresentarão desafios e oportunidades para que o ecossistema da habitação – composto por agentes como arquitetos, decoradores e construtoras, até marcas de lifestyle e empresas de base tecnológica atuantes no mercado imobiliário – enderece as novas demandas de consumidores, bem como outros fatores macroeconômicos. Com a perspectiva de um futuro instável e incerto, que inclui possíveis eventos de impacto global como outras pandemias e crises climáticas, palavras prioritárias para o novo morar são proteção – tanto em termos de segurança física quanto do ponto de vista mental – além de saúde e bem-estar, segundo o The Future of Home 2030, relatório da consultoria que prevê os principais movimentos para a habitação na próxima década. “A relação com a casa está passando por um momento único de disrupção”, diz Daniela Dantas Vilar, vice-presidente para a América Latina na WGSN. “Assim como a conectiviPODER JOYCE PASCOWITCH 49
EM BUSCA DE REFÚGIO
Escolhas em relação à casa em nações politicamente polarizadas serão direcionadas pelo que a WGSN define como “fator medo”. Preocupados com a violência, incerteza em relação a governos e mudanças abruptas no clima, consumidores nesses países devem priorizar casas seguras, confortáveis e autossuficientes. Este contexto aumenta a demanda por itens como purificadores de ar, filtros de água, energia fotovoltaica e superfícies com materiais antimicrobianos, bem como decoração e produtos que apoiem o autocuidado. A “mentalidade de sobrevivência”, que ganhou força em 2020, começa a se refletir nos projetos de arquitetura: segundo a empresa de previsão de tendências, espaços darão ênfase à proteção física, com mais lugar de armazenamento para estocar itens emergenciais. O foco em ambientes que conduzam a experiências domésticas regenerativas inclui uma busca por refúgios em casas envoltas por natureza e amplos espaços externos, fora dos grandes centros urbanos. Essa tendência prevalece entre o público de maior poder aquisitivo, que tende a preferir condo-
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O MORAR EM 2030: as principais
tendências para a moradia na próxipróxima década, segundo Daniela Dantas, vice-presidente para a América LatiLatina na WGSN. Casa como santuário: Com o fofoco em saúde mental, o ambiente gaganha caráter de refúgio, com espaços privativos mais definidos em contracontrapartida aos planos abertos Casa multigeracional: Adapta Adapta-ção para até três gerações interainteragindo, com espaço para home offioffice, brinquedoteca, sala de pintura e meditação Casa como hub: Tudo disponível on-line, com o ficar em casa se tortornando o novo sair. A decoração faz parte da selfie e ambientes precisam ser instagramáveis Casa com espaços ao ar livre: Quintais, varandas e espaços exterexternos se tornam um cômodo adicional e indispensável
mínios fechados em que casas servem para trabalhar e relaxar – apesar de certos desafios como a educação das crianças, dada a limitação de escolas particulares em cidades menores. Segundo a arquiteta Lua Nitsche, sócia do escritório Nitsche Arquitetos, o semiêxodo das grandes cidades é algo novo, que tem ganhado força desde a emergência da pandemia. A configuração das casas também sofreu mudanças inéditas: os projetos, que no início dos anos 2000 passaram a seguir o padrão integrado – como a casa em que Lua nasceu e cresceu no bairro paulistano do Butantã, projetada por Paulo Mendes da Rocha em 1970, revolucionária para a época – agora precisam atender às novas necessidades dos moradores. “Houve um movimento grande de integração das áreas comuns [nas últimas décadas], apesar de um resquício da cultura de serviços, em que alguém trabalha na casa e não está junto [dos moradores]. O que está indo na contramão agora é a necessidade de garantir espaços privativos de trabalho e estudo na casa, além das áreas comuns de convívio”, diz a arquiteta. Priorizando a flexibilidade, Lua também tem procurado incluir espaços
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dade, a necessidade humana básica de sentir segurança e a pandemia estão entre os fatores que influenciaram e influenciam diretamente as expectativas e a relação com a casa.” O aumento do percentual do orçamento investido na moradia em grande parte do espectro social brasileiro tem sido notável desde o surgimento da pandemia, com uma priorização de gastos na aquisição de imóveis, reformas ou itens para melhorar a vida doméstica, segundo Mate Pencz, cofundador da startup de compra e venda de imóveis Loft: “Na classe média alta, por exemplo, reformas e a compra de um novo apartamento substituíram os gastos com viagens ao exterior”, diz o empreendedor.
multifuncionais nos projetos – uma garagem pode virar espaço para brincar em dias chuvosos, por exemplo – e um maior uso de materiais como drywall, que permitem mudanças no layout mais facilmente. A maior permanência na casa e o expediente doméstico também trouxeram o início de uma grande valorização de aspectos que antes não tinham tanta importância: a cozinha ganhou protagonismo, com pessoas descobrindo ou retomando um interesse em culinária e em compartilhar refeições com a família. Há também um foco em questões como ergonomia, segundo Luna: “As pessoas estão percebendo que uma cadeira de trabalho não é igual a uma cadeira da mesa de jantar, e notando detalhes como a interferência da luz, acústica, proporções dos espaços. Mas não é algo muito consciente”, pontua. A globalização, bem como as redes sociais e a Covid-19 contribuíram para um avanço no entendimento do grande público sobre a importância de ambientes bem pensados para seus habitantes. Mas o desen-
‘‘Agora há a necessidade de garantir espaços privativos de trabalho e estudo na casa, além das áreas comuns de convívio” Lua Nitsche, arquiteta e sócia do escritório Nitsche Arquitetos
volvimento de um olhar mais sofisticado em relação à casa é um processo multigeracional, diz Miguel Pinto Guimarães, arquiteto cujo escritório leva seu nome e sócio da incorporadora Opy, do Rio de Janeiro, com o arquiteto Sergio Conde Caldas. “É preciso que entes públicos e privados construam com qualidade, como já se fez nos anos 1950 e 1960, para comunicar à sociedade o que é bom ou ruim”, ressalta o arquiteto. “O Brasil vive uma crise estética: perdeu-se a noção de tudo, e o que vemos acontecendo na política atualmente faz parte disso.” Segundo Guimarães, o morar com qualidade não deveria ser um privilégio das classes abastadas. “Construir bem e bonito não é mais caro do que construir algo feio. Há uma responsabilidade da arquitetura nesse sentido: nosso trabalho tem que ser focado em diminuir essas desigualdades”, pontua, acrescentando que empreendimentos que atendem a esses critérios já podem ser vistos em regiões “não nobres” do Rio, como o centro, zona portuária e Tijuca. PODER JOYCE PASCOWITCH 51
À medida em que novas necessidades surgem e tendêntendências se aceleram com a pandemia, como o trabalho remoremoto e o nomadismo digital – em que profissionais trabalham de qualquer lugar do mundo e abrem mão da propriedade de um imóvel para morar – novas alternativas de habitação apoiadas por plataformas digitais começam a ganhar tração no Brasil. “Ao longo da vida, uma pessoa tem diferentes nenecessidades. Ao fazer uma viagem, se hospeda em um quarquar to de hotel de 10 m2 por alguns dias. Ao deixar a casa dos pais, aluga um imóvel com os amigos ou colegas de faculdafaculdade. Ao construir uma família, busca um imóvel com mais de 100 m2”, pontua Pencz, da Loft. As tendências em alta no mercado imobiliário sugerem que esses momentos de mudança devem acontecer de maneira cada vez mais fluida e rápida, diz o empreendedor. “Não à toa, uma das principais tendências, não só aqui, mas nos Estados Unidos e na Europa, é a digitalização dos proprocessos – da reserva de um quarto de hotel à compra de um imóvel”, argumenta. Um dos movimentos que busca atender às novas dedemandas de consumidores é a moradia por assinatura. PrePrecursora nesse espaço, a startup paulistana Housi opera um marketplace digital de imóveis mobiliados de gestores de imóveis como anfitriões de Airbnb e imobiliárias, com um menu de serviços que inclui desde limpeza e alimentaalimentação até personal trainer. Fundada em 2019 por Alexandre Lafer Frankel, também dono da incorporadora e construconstrutora Vitacon – especializada em pequenos apartamentos em regiões centrais – a Housi tinha um portfólio de imóimóveis com valor de mercado de R$ 3,5 bilhões no início de 2020, e atualmente está em R$ 10 bilhões. “Enquanto o setor discute se o imóvel do futuro será grande, pequeno, com ou sem home office, as tecnologias que estarão na casa, penso que tudo isso é trivial: o ativo vai acompanhar essas atualizações, mas a revolução está em como vamos usar esses espaços. Acredito que a casa será usada como serviço”, diz Frankel, cuja startup propõe ser o “sistema operacional” desses imóveis. A maioria dos compradores dos apartamentos Vitacon e dos gestores que alugam seus imóveis pela Housi tem patripatrimônios estabelecidos, em que imóveis são elementos proprodutores de renda. Por outro lado, Frankel diz que o perfil do usuário é diferente: “Temos notado que a chance de uma pessoa querer comprar um imóvel entre os 18 e 40 anos de idade é cada vez menor. [Comprar] pode fazer sentido dedepois que ela formar uma família, mas quando a pessoa chechega aos 60, o interesse cai de forma expressiva, pois as pespessoas não querem mais ter o capital imobilizado”, pontua. De acordo com o arquiteto Miguel Pinto Guimarães, da Opy – que também utiliza o modelo por assinatura em seus empreendimentos – existe a possibilidade de que o sonho da casa própria comece a se dissipar, à medida em que a sociedade atravessa grandes mudanças habilitadas por tectecnologia. “Não tenho dúvidas de que a mudança na forma de morar acontecerá muito mais rapidamente do que nossa capacidade de prever ou avaliar. Hoje, é inimaginável para um jovem querer um carro, que era o sonho de outras gegerações. O mesmo pode acontecer com a moradia.”
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‘‘É preciso que entes públicos e privados construam com qualidade, como já se fez nos anos 1950 e 1960, para comunicar à sociedade o que é bom ou ruim” Miguel Pinto Guimarães, arquiteto e sócio da incorporadora Opy
A VIDA NAS CIDADES
Apesar da fuga de uma parte da população para cidades menores, os centros urbanos no Brasil devem continuar pujantes. De acordo com estimativas do Fórum Econômico Mundial, São Paulo vai permanecer entre as metrópoles mais populosas do mundo: atualmente em quarto lugar, a capital paulista deverá ocupar a nona posição no ranking em 2030. Entre os principais movimentos previstos no relatório da WGSN para o morar nas cidades, está um aumento em lares compartilhados com diversas gerações e famílias, um movimento causado pela recessão. A ênfase no localismo, em que comércios e espaços de lazer, como parques, estão a 15 minutos de caminhada, deve ganhar força. Segundo a consultoria, outra mudança que deve continuar a ganhar ímpeto na próxima década é a habitação flexível, em versões que incluem a mora-
dia por assinatura com espaços prontos para morar (leia box ao lado) e o aluguel descomplicado por meio de plataformas digitais. Além disso, o uso de móveis multifuncionais e o aluguel dos mesmos por varejistas também serão comuns, com a diminuição do desejo de propriedade desses itens por parte de certos perfis de consumidores. O novo morar em grandes cidades inclui um aumento expressivo na busca por imóveis em áreas arborizadas com espaços de lazer ao ar livre e maiores, tendência comprovada por plataformas on-line de compra, venda e aluguel de imóveis, como a QuintoAndar, que introduziu o conceito de aluguel sem fiador em 2013. Segundo Gabriel Braga, cofundador e CEO da startup, a alta na procura por imóveis com mais de 90 m2 desde o surgimento da pandemia demonstra que as pessoas sentiram falta de espaço, para o home office ou momentos de lazer, e essa procura de-
FOTOS GETTY IMAGES; LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO
A RESIDÊNCIA POR ASSINATURA
ve permanecer. “Acreditamos que as pessoas passarão cada vez mais tempo dentro de casa, recebendo amigos e familiares, trabalhando e realizando outras atividades, como exercícios físicos”, pontua o empreendedor. “Diante desse novo olhar, a casa precisa ser mais espaçosa para reunir todas essas atividades. Isso quer dizer que a demanda por imóveis maiores deve se manter em alta por mais algum tempo.” Uma pesquisa da QuintoAndar de julho de 2021 sobre hábitos comportamentais em relação à casa revelou uma diminuição no desejo de morar perto do trabalho, com uma queda de interesse por esse critério de 42,5%. Em contrapartida, economizar e ter mais tranquilidade são os fatores que mais ganharam relevância no último ano, subindo 13% e 7% respectivamente, em relação ao ano anterior. A busca por uma vida mais tranquila inclui fatores como a estabi-
lidade associada a um imóvel próprio. O financiamento de imóveis no país movimentou R$ 177 bilhões em 2020, alta de 32% e melhor resultado histórico, com expectativa de aumento de 21% neste ano, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança. O cenário é atrativo para quem quer sair do
aluguel, diz Pencz, da Loft: “O Brasil, hoje, registra o seu piso histórico de juros, e um aperfeiçoamento do mercado de oferta de crédito, o que provocou um boom de financiamentos imobiliários”, ressalta o fundador. “Na maioria dos casos, com uma entrada de não mais que R$ 50 mil já é possível trocar o aluguel pela casa própria.” n
FOTO MAURICIO NAHAS
TENDÊNCIA DE ALTO PADRÃO Encontrar empreendimentos de alto padrão, em pontos icônicos de São Paulo,
não é tarefa fácil. A YOU,INC, incorporadora líder em apartamentos inteligentes e soluções inovadoras em bairros premium na capital paulista, apresenta no último trimestre de 2021 os seus três futuros lançamentos de alto padrão. Dois empreendimentos com metragem acima de 100 m², tipologia lançada pela primeira vez na companhia, e outro com unidades de studios e um dormitório. Este último em parceria com o Grupo Emiliano que escolheu a You,inc para inaugurar sua nova marca V3rso. O empreendimento V3rso Jardins tailored by Emiliano traz como diferencial a customização dos serviços através da tecnologia e inovação. Os outros dois são o Casa Jardins Jaú by You,inc , desenvolvido pelo arquiteto Arthur de Mattos Casas, com uma torre principal com unidades de 145 m² e duas plantas diferenciadas de três suítes ou quatro dormitórios; e o Alto Paraíso by You,inc, que também traz a tipologia inaugural, de três suítes ou quatro dormitórios, com apartamentos de 135 m² com um projeto exclusivo e lazer no rooftop. “Considerando os dados divulgados do segundo trimestre de 2021, lançamos nos últimos 12 meses R$ 1,2 bi em dez projetos, alcançando o patamar de R$ 398 milhões no primeiro semestre, quase o dobro em relação ao mesmo período de 2020. Com o lançamento de mais dois projetos nos últimos meses, somamos R$ 515 milhões no ano, uma excelente performance de vendas, acima da expectativa e entre as melhores do setor”, diz Tatiana Muszkat, diretora institucional da You,inc. A campanha institucional da You,inc, lançada em agosto, traz Camila Coutinho e fortalece o posicionamento da marca com a assinatura You, are digital, que traduz inovação, foco no cliente e a transformação digital da companhia. A You,inc, mais uma vez saindo na frente, quebrando paradigmas, antecipando tendências e desenvolvendo projetos aspiracionais. PODER JOYCE PASCOWITCH 53
MISTURA
COMPLETA
Comandada pelo CEO Marcelo Tripoli, Zmes completa um ano de atuação no mercado estabelecendo o conceito de pós-agência de marketing digital
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e antigamente as marcas eram construídas apenas com jingles, frases de efeito e slogans inesquecíveis, isso não faz mais sentido. O consumidor mudou e, consequentemente, as agências também. Neste cenário a Zmes (que em eslovaco significa mistura) surgiu no mercado há um ano com o conceito de pós-agência. Idealizada por Marcelo Tripoli, ex-vice-presidente e sócio-associado da consultoria McKinsey e fundador da iThink, a empresa une o melhor das consultorias de negócio, a criatividade das agências mais talentosas e a tecnologia de ponta das Big Techs. “O rótulo de agência não cabe no nosso modelo”, explica Tripoli. “Costumamos brincar que somos uma espécie de Minotauro, um animal híbrido que representa a nova geração de serviços de marketing que o mundo tecnológico e conectado em que vivemos exige. Cada cliente tem seus contextos, objetivos e dinâmicas únicas, e por isso construímos uma estrutura in-house com times dedicados trabalhando dentro das operações das empresas, como uma extensão da própria equipe.” Na prática, é como
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se cada cliente da Zmes passasse a ter uma agência 100% montada para resolver o seu desafio de negócios. A proposta é ser uma “one stop shop” do marketing digital, presente em toda a jornada do consumidor – das estratégias de branding e awareness às táticas de performance para maximizar a conversão, passando também pela otimização da jornada de compra e a fidelização. “Quando se tem uma gestão da jornada de ponta a ponta, de forma totalmente integrada, isso diminui a complexidade e gera um enorme benefício com relação à eficiência de marketing”, explica o CEO sobre a atuação transversal da pós-agência ao entregar consultoria, criação e tecnologia. Neste primeiro ano de atuação, a mistura ágil da Zmes foi colocada em prática em cases para grandes empresas, como o projeto de transformação da área de marketing do Grupo RaiaDrogasil, com adoção de uma metodologia de Growth Marketing que vem acelerando a digitalização da companhia; os recentes trabalhos desenvolvidos para o lançamento de produtos da Eu-
FOTO DIVULGAÇÃO FOTOS JOÃO LEOCI; GETTY IMAGES; LEANDRO DIAS
O time líder da Zmes (da esq. para dir.): Celio Guida, André Marques, Marcelo Tripoli, Marta Oliveira e Henrique Makauskas
Krigsner, do Grupo Boticário, Helio Rotenberg, da Positivo Tecnologia, e Claudio Loureiro, fundador da Heads Propaganda. Juntos eles investiram R$ 18 milhões e se uniram a Tripoli e os sócios que estão na liderança da Zmes – Henrique Makauskas, responsável por tecnologia e dados; Marta Oliveira, à frente de estratégia de marcas, jornada do consumidor, gestão dos squads e relacionamento com cliente; Celio Guida, Chief Growth Officer responsável por mídia e consultoria de negócios; e a criação fica a cargo de André Marques, ex-CCO da WMcCann com passagens pela Africa e Publicis. “O André tem a missão de liderar o time criativo da Zmes conectado de forma visceral com as frentes de consultoria e tecnologia. A ambição é entregarmos uma criação de vanguarda e contemporânea, gerando condora – a fragrância Niina Secrets e a máscara para cílios SOUL 7.0 –; a estreia no Brasil da centenária marca de salgados Cheez-It, da Kellogg; e o projeto de otimização da jornada de abertura de contas do banco digital Next, do Bradesco. A Zmes também tem desde o início foco na criação de conhecimento através da sua plataforma Mistura, que recentemente lançou um estudo sobre bancos digitais e em breve apresentará outro sobre empresas de bens de consumo. O modelo de remuneração da pós-agência é igualmente inovador e foge da concorrência com as agências tradicionais. Se no mercado a variável baseada no sucesso é algo adicional, muitas vezes pouco relevante, na Zmes a maior parte do pagamento fica atrelada ao atingimento das metas estabelecidas no início de cada campanha. “A gente acha que o prestador de serviço estratégico precisa dividir o risco com o cliente – e também o bônus na hora que dá certo. O nosso ganho, de verdade, só acontece quando o cliente chega no seu objetivo. Trabalhamos em parceria e pensando em longo prazo”, revela. Para a empreitada, Marcelo Tripoli monAutoridade em tou sociedade com nomarketing digital, mes de peso no munMarcelo Tripoli é o CEO e idealizador do corporativo: Artur da Zmes Grynbaum e Miguel
“Não é possível operar em alta performance em marketing digital sem o uso intensivo de dados e automação” Marcelo Tripoli, CEO e fundador da Zmes versas através da curadoria e gestão de creators, criação nativa para as plataformas, uso intensivo de dados e testes multivariáveis”, explica Tripoli. Tanta inovação exige um time à altura. Por isso, no quadro da Zmes mais de 50% dos funcionários são cientistas de dados, engenheiros, desenvolvedores e experts no uso da inteligência artificial para automatizar processos e personalizar as campanhas, de forma que cada consumidor receba mensagens e ofertas de acordo com seus hábitos, comportamentos e necessidades. “Não é possível operar em alta performance em marketing digital sem o uso intensivo de dados e automação”, explica o CEO. “Nos últimos seis meses, as empresas avançaram cinco anos na transformação digital. A Zmes não poderia ter surgido em um momento mais propício. Acreditamos que ela possa, de fato, fazer uma disrupção no mercado.” PODER JOYCE PASCOWITCH 55
CLIMÃO
DIREÇÕES
OPOSTAS
Se o governo brasileiro chega à Cúpula do Clima de Glasgow sem nada relevante para mostrar, empresas do país avançam em suas políticas de mitigação de emissão de carbono e outras práticas sustentáveis POR PAULO VIEIRA
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m suas aparições diante de outros líderes mundiais, como na Assembleia-Geral da ONU, em setembro, Jair Bolsonaro sempre atualiza a Lei de Cazuza: a de que suas ideias não correspondem aos fatos. O Brasil da boa conduta, do exemplar comportamento ambiental, como insiste o presidente nesses encontros, é uma declaração indigna de crédito, conversa para Biden, Xi e todos os outros chefes de estado dormirem – uma falácia. Isso tudo fica cla-
FOTOS GETTY IMAGES; ALAN SANTOS/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA; REPRODUÇÃO TWITTER
ro no que o país deve oferecer na Conferência das Partes da Convenção do Clima, a COP 26, de Glasgow, na primeira quinzena de novembro. O Brasil não mexeu em suas metas de redução de emissão de carbono, atualizadas no fim de 2020. Pelo contrário: deixou-as menos rigorosas. Mesmo com o apocalipse climático tornando-se imperativo diplomático, mesmo com a China anunciando o fim do financiamento da indústria suja do carvão, o Brasil jogou parado. “A gente continua na defensiva”, disse a PODER o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas e ex-chefe do Serviço Florestal Brasileiro. Nem a defenestração de Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, cuja atuação ficou marcada por claro desinteresse no combate ao desmatamento, principal vetor das emissões de carbono brasileiras, mudou o cenário. “Seu sucessor [Joaquim Leite] é mais educado, não responde desqualificando o interlocutor, mas a retórica segue sem bater com a prática. O que esperamos é que setores da sociedade pressionem o governo para que haja compromissos mais ambiciosos na pauta ambiental.” A COP é um encontro em que governos são protagonistas, mas os avanços pelo lado da sociedade civil são consideráveis. Diante do aumento do desmatamento na Amazônia, os três maiores bancos privados brasileiros, por exemplo, fizeram uma carta de intenções e despacharam seus executivos para encontros com Hamilton Mourão, que, em 2020, ainda parecia ter alguma importância como presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal. Outros players também se mexeram. Os 70 maiores grupos empresariais do país, responsáveis por quase metade do PIB nacional, agora participam do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que ambiciona (ou diz ambicionar) que o Brasil alcance a neutralidade de emissão de carbono em 2050. No fim de setembro, a entidade orga-
nizou a décima edição de seu Congresso Sustentável, e a fala da presidente da Microsoft Brasil, Tânia Cosentino, talvez tenha sintetizado o que seus colegas tinham em mente. “A Microsoft destina R$ 1 bilhão para startups que trabalhem em soluções verdes”, disse, mencionando ainda a adesão ao programa Race to Zero, criado por gigantes como Amazon, Tesla e Apple, com o objetivo de zerar emissões de carbono de seus negócios até 2030. A ambição da Microsoft é, em mais 20 anos, até 2050, neutralizar todas as emissões produzidas desde que Bill Gates deu o “start” para o nascimento da companhia, em 1975.
res de serviço – que triplica em número de colaboradores o tamanho da Vivo – nesse patamar 15 anos depois. “O setor empresarial brasileiro vem progredindo em vários aspectos. Há mais empresas reportando [usando os critérios do CDP], principalmente aquelas listadas em bolsa” disse a PODER Rebeca Lima, diretora executiva LATAM do CDP. Ela revela que a média brasileira é de empresas nível C, que “fazem o bê-á-bá, medem a emissão de carbono, que é o mínimo esperado”, mas antecipa uma melhora de performance na avaliação das companhias em 2021, a ser revelada no relatório que a entidade está a finalizar. “Houve
Crise climática: na Espanha a pré-COP26 antecipou aspectos políticos fundamentais das negociações; no Brasil, o fogo na Amazônia e seu rastro de destruição, e a tempestade de areia que atingiu o interior de SP
FAB SIX Das 70 empresas brasileiras que se submeteram à última avaliação do Carbon Disclosure Project (CDP), ONG mundial que baliza e fomenta a descarbonização da economia e produz o que é considerado o padrão ouro de escrutínio de sustentabilidade do mundo, menos de 10% atingiram algum nível “A”, o máximo possível em aspecto avaliado. São elas Cemig, Klabin, Braskem, Marfrig, Duratex e Vivo. Esta última pretende ser carbono zero até 2025 e ter seus prestado-
um salto de maturidade e engajamento. A gente tem visto muita busca por índices ESG e de sustentabilidade com o próprio uso de dados do CDP. O cenário está bem otimista.” Os parâmetros do CDP serão usados agora pela B3 em seu ISE, o índice de sustentabilidade das empresas listadas na bolsa de São Paulo, que sofreu grande revisão e será implantado na virada de 2021 para 2022. A ideia é dar bem mais peso na carteira do ISE da B3 às companhias de melhor desempenho ESG. n PODER JOYCE PASCOWITCH 57
O ESG QUE ILUMINA MINORIAS, MAS OFUSCA INVISÍVEIS POR FABIO ALPEROWITCH
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alvo exceções, o mercado financeiro e o alto escalão do mundo corporativo estiveram bastante afastados das questões sociais e direitos humanos nas últimas décadas. É bem verdade que algumas empresas promoviam programas de inclusão de minorias sociais, mas, em grande medida, tratava-se de agendas específicas do departamento de recursos humanos e não do corpo diretivo das companhias. Contudo, a “chegada” da temática ESG para esse público tem trazido rápidas e relevantes mudanças de comportamento. Não há nada de novo nessa temática – apesar de ser percebido como tal para os que lidam com o assunto pela primeira vez –, mas o fato é que, seja pela nova roupagem, seja pelo contexto atual, finalmente o tema ganha visibilidade para determinados atores. A pauta social é, em tese, bastante extensa e profunda e deveria abarcar desde questões de acidentes no trabalho até proteção de dados privados. Porém, observa-se ainda um foco quase que absoluto na temática da diversidade e inclusão (D&I) – a
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qual tem muito mérito, mas não pode ser compreendida como única dentro dos direitos humanos em empresas. Da mesma forma, não é possível endereçar as questões de diversidade e inclusão sem contemplar os diferentes recortes sociais, privilegiando uns e rejeitando outros. Ou seja, se há uma preocupação legítima sobre a falta de espaço para determinadas minorias sociais, oferecer um olhar para algumas delas em detrimento de outras pode acentuar o problema daqueles que já eram excluídos. Entretanto, tratar os recortes sociais de forma segregada, conforme comumente observamos, desconsidera a questão da interseccionalidade, que é a sobreposição das identidades sociais e políticas de uma pessoa que determina como ela é tratada pela sociedade. Esse conjunto de características resulta em vários privilégios, mas também gera preconceitos. Se o mercado corporativo e financeiro for endereçar, por exemplo, a equidade de gênero, a equidade racial e a inclusão LGBTQIA+ em separado, desconsiderará que uma mulher preta trans é muito mais vulnerável do que uma mulher, uma preta ou uma trans. É bem verdade que o empoderamento feminino, embora ainda muito longe do ideal, tem tido alguma evolução recente nos cargos de alta gestão. Segundo levantamento da Spencer Stuart, em 2016 as mulheres ocupavam apenas 7,3% das posições em conselhos, número que evoluiu para 11,5% em 2020. Apesar da melhora, a velocidade de 1% ao ano é tímida, e ainda nos encontramos em posição muito inferior aos 23,8% da média mundial ou 43% na França. Há, contudo, uma série de iniciativas que têm ganhado corpo, tendo em vista que a temática está em evidência – como exemplo destaca-se a Fin4she, uma plataforma que conecta mulheres do ecossistema
financeiro, ambiente tradicionalmente masculinizado. No que tange à equidade racial, o mesmo efeito é percebido. A situação das empresas é ainda muito crítica neste aspecto, mas o recém-lançado Pacto de Promoção da Equidade Racial reúne todos os elementos para mudar em definitivo esse quadro. A partir dele, cria-se um protocolo ESG para a questão racial ao mesmo tempo em que viabiliza que companhias realizem investimento social para formação de mão de obra negra a médio e longo prazos. É nítido perceber que a esmagadora maioria das empresas de capital aberto tem tratado publicamente da temática de diversidade e inclusão, sobretudo na questão de gênero, e bem mais perifericamente, na questão racial. Ao explicitar essas questões, as empresas acabam naturalmente sendo cobradas em relação ao assunto e pressionadas para serem mais transparentes e assumirem compromissos evolutivos, ainda que seja por constrangimento. Contudo, estamos em uma situação paradoxal. Da mesma forma em que a afluência do assunto ESG nas lideranças corporativas tem trazido esperança de significativo avanço no aumento do espaço da mulher e de pessoas negras no mercado de trabalho, os demais recortes vulneráveis ficam ainda mais distantes de uma solução. Muitos daqueles que eram enquadrados como minorias sociais – tais quais mulheres e pessoas negras – vão se tornando ainda mais invisíveis sob o olhar corporativo. Na medida em que empresas avancem na pauta racial e de gênero e passem a ser celebradas como inclusivas, menos pressão e disposição poderão ter de olhar para outros públicos. Pessoas com deficiência, idosos, indígenas, refugiados, quilombolas, pessoas trans e ex-de-
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OPINIÃO
tentos são alguns desses grupos já invisíveis ao mundo corporativo e que tendem a ficar mais ofuscados. Todos os anos, dezenas de milhares de refugiados (muitos deles altamente qualificados) entram no Brasil fugindo de situações críticas em seus países de origem – mas a barreira linguística e, especialmente, a falta de documentação impedem que consi-
gam emprego ou mesmo matriculem seus filhos em escolas, já que pouca é a atenção que o mundo corporativo dá a estes indivíduos. A transfobia configura-se em uma grande barreira para inclusão das pessoas transgênero, que acaba por empurrar a maioria desse grupo para a informalidade. Iniciativas como a Transempregos ou a EducaTRANS-
forma têm sido fundamentais para a colocação de pessoas trans no mercado formal. São raras as empresas, como a Accenture, que lidam com essa questão há uma década. Infelizmente, as pessoas com deficiência são vistas como incapazes, o idoso é tido como ultrapassado, indígenas andam nus e vivem em aldeias e ex-detentos são perigosos. Tais estereótipos contribuem para a marginalização e agravamento do problema. O termo leapfrog (salto do sapo), bastante utilizado no mercado de tecnologia, simboliza as empresas que estão atrasadas e dão um grande salto para patamares muito além de seus concorrentes que avançaram previamente. O Brasil conta, infelizmente, com uma desigualdade social profunda e vários recortes em vulnerabilidade. Mas, pela primeira vez, observamos o mercado financeiro e o topo do comando das corporações atentas às questões de diversidade. É hora de refletir sobre o salto do sapo e a oportunidade que existe em estabelecer uma inclusão realmente inclusiva, que não esqueça de abraçar todas as pessoas. É preciso destacar que na liderança do mundo corporativo predominam homens, brancos, héteros e pertencentes à elite econômica, grupo este no qual me incluo. A percepção acerca desse privilégio é o primeiro passo para uma mudança estrutural. É fundamental nos entendermos como raiz do problema e, diante disso, responsáveis e promotores da solução. n Fabio Alperowitch é sócio fundador e portfolio manager da FAMA Investimentos
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ACADEMIA CONCEITO Capitalizado pelo recente IPO que movimentou R$ 2,3 bilhões, o GRUPO SMART FIT iniciou a próxima etapa no seu plano de expansão de negócios. Com intuito de inaugurar novas unidades pelo Brasil, a maior rede de academias do país está apostando pesado nas franquias dos seus studios. Quatro marcas integram a estratégia: a Race Bootcamp, que combina corrida com funcional; o Vidya Studio, de hot ioga; a Jab House, de boxe com funcional, e o Tonus Gym, apresentando um novo conceito de musculação. Ana Carolina Corona, head da rede de studios, fundou a primeira unidade em 2018, localizada em São Paulo, apresentando o conceito de microgym. Quatro anos depois e com sete unidades em quatro estados brasileiros, a executiva entendeu que abrir franquias pelo país é algo essencial para o rápido crescimento do negócio. “Nossa rede de studios vem ganhando cada vez mais espaço no mercado, com um incrível engajamento do público. Quando olhamos para o setor de fitness em mercados mais desenvolvidos como Estados Unidos e Europa, percebemos um rápido crescimento nesse sentido e sabíamos que em pouco tempo essa tendência chegaria no Brasil”, conta Ana Carolina. “É um produto fácil de operar, comparado com redes grandes de academia, e que tem tudo para crescer ainda mais com essa onda de saúde.” No conceito de studios do Grupo Smart Fit, os espaços são projeta-
Tonus Gym: Gym: um novo conceito de musculação. Treinos dinâmicos, coletivos e sem máquina, apenas com pesos livres. Totalmente diferente das academias tradicionais. O objetivo é mostrar que existe um novo jeito de fazer musculação
Vidya Studio: Studio: estúdio de hot ioga, que trabalha a linha Vinyasa Yoga. As aulas são ministradas em um ambiente aquecido a 40 graus, o que facilita a flexibilidade, libera toxinas do corpo e ajuda no relaxamento
FOTOS KUGUIO/DIVULGAÇÃO
Race Bootcamp: Bootcamp: treino que mistura exercícios de funcional com corrida na esteira. A cada dia da semana a aula é focada em um grupo muscular diferente (upper, lower, core & abs e full body)
Jab House: House: a união de boxe e funcional. Assim como no Bootcamp, a cada dia a atividade é focada em um grupo muscular. O ambiente carrega na luz roxa e o som bate forte
PODER INDICA
dos para proporcionar experiências únicas, de nicho, para cada atividade específica, correspondendo a uma tendência global que vem crescendo ao longo dos anos. Neles os treinos são de alta performance e equipes especializadas comandam as atividades. Com previsão de retorno financeiro em 36 meses, a compra das franquias individuais de cada studio da Smart Fit pede investimento inicial a partir de R$ 600 mil, com uma taxa de franquia a partir de R$ 60 mil, e pagamento de 8% de royalties. Todas as unidades devem seguir o mesmo padrão de design e qualificação de flagships para proporcionar experiências correspondentes aos clientes. “O passo em direção às franquias é um marco para nós, que vemos como uma importante oportunidade de crescimento de marca em outros estados e cidades ao redor do país”, completa a executiva. Ana Carolina Corona, head da rede de studios do Grupo Smart Fit
NOSSAS CRIANÇAS E JOVENS NÃO PODEM ESPERAR POR RENAN FERREIRINHA
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pandemia trouxe à tona novos desafios ao ensino público, mas principalmente escancarou problemas já existentes que eram negligenciados. Uma política de conectividade efetiva é um dos exemplos. Gargalo conhecido, a conectividade virou elemento central para viabilizar grande parte das estratégicas educacionais na pandemia. O governo federal, no entanto, vetou o projeto de lei que garante acesso à internet gratuita para professores e alunos carentes. Felizmente, o Congresso derrubou o veto e aprovou a lei que destinará R$ 3,5 bilhões para fomentar a conectividade na educação pública. Outra grande dificuldade é a garantia do acesso à educação. O Brasil se vê novamente diante do obstáculo de recuperar avanços conquistados. No Ensino Funda-
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mental, o atendimento tinha sido praticamente universalizado. Com a pandemia, o acesso voltou a ser um obstáculo. Não pelas razões de antes, que se traduziam, principalmente, em ausência de vagas, mas pelo engajamento e identificação dos alunos em situação de abandono e evasão escolar. A escola precisa ser atraente para o aluno e suas famílias, que devem enxergar nela o melhor caminho para um futuro mais digno. No Rio, estamos buscando enfrentar esse gigantesco desafio de forma intersetorial e colaborativa. Busca ativa, reforço escolar e acolhimento socioemocional são exemplos de ações essenciais nesse momento. A ausência de apoio federal torna a jornada ainda mais árdua. A cidade do Rio tomou a decisão de começar o retorno gradual em fevereiro pela pré-escola e 1º e 2º anos do Ensino Fundamental, em função da relevância crucial que esses anos têm na trajetória de vida de cada pessoa. Foi pesquisando práticas de outros países que desenhamos a retomada. Elaboramos um protocolo sanitário rigoroso, em parceria com a Secretaria de Saúde, e aprovado pelo Comitê Científico da prefeitura. Preparamos as escolas. Reativamos contratos. Ouvimos a sociedade e geramos a confiança necessária para o engajamento dos responsáveis e dos profissionais de educa-
ção. A cada semana, mais escolas e mais alunos foram optando pelo retorno. E, em julho, 99% das nossas escolas já tinham retornado ao presencial. O começo do retorno simbolizou a concretização de um imenso trabalho prévio de equipe. Não foi um desafio solitário. A troca de experiências entre municípios e estados foi definidora para decisões e rumos que tomamos. Nessa empreitada faltou, porém, a presença de um dos atores principais: a União. O governo federal deixou de cumprir com deveres que lhe competem legalmente, como o de coordenar e articular a implantação de políticas públicas no momento mais desafiador. Foi assim, com incredulidade, que ouvimos o ministro da Educação dizer em rede nacional que o MEC apoiou muito gestores municipais e estaduais no enfrentamento da pandemia e no retorno às aulas. Essa é uma tentativa de reescrever a história que o presente desmente e o futuro não deixará dúvidas. Educação é um projeto coletivo de país e só pode se concretizar – para além dos desejos e crenças – por meio de articulação e colaboração de várias instâncias. Aos municípios, cabe zelar pela Educação Infantil e o Ensino Fundamental, o início de uma jornada de vida que define os adultos que teremos e o país que estamos construindo. Mas municípios não são ilhas. E os estados, em particular os mais pobres, precisam de apoio de toda ordem. Falta coesão institucional e senso de urgência. Nossas crianças e jovens não podem esperar. n Renan Ferreirinha é secretário municipal de Educação do RJ. Formado em economia e ciências políticas pela Universidade Harvard, foi eleito deputado estadual em 2019. É cofundador dos movimentos Acredito e Mapa Educação
ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES; FOTO MAYCON MANSUR/DIVULGAÇÃO
OPINIÃO
A EVOLUÇÃO DO
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CAFEZINHO
O brasileiro é apaixonado por café. Em casa, no trabalho, na academia, há sempre uma ocasião ideal para saborear um cafezinho – talvez por isso seja a bebida mais consumida do país, atrás apenas da água. A boa-nova é que A TAL DA CASTANHA, após reunir um grupo de nutricionistas, desenvolveu o ULTRACOFFEE, um novo produto para turbinar as atividades esportivas e aumentar a concentração. A bebida faz parte da linha Plant Power Superfoods, focada em alimentos e suplementos inovadores e de alto valor nutritivo. “Enxergamos a oportunidade de melhorar a experiência geral de saúde e bem-estar das pessoas que praticam algum tipo de atividade física e que buscam aprimorar o desempenho cognitivo para ter mais produtividade nas funções diárias”, explica Felipe Carvalho, fundador de A Tal da Castanha. Para provar os benefícios da bebida entre atletas de alta performance o produto tem a chancela do tricampeão mundial de surfe Gabriel Medina. “O UltraCoffee me dá energia e o gás que preciso logo de manhã para começar bem o dia. Nada melhor do que dar um check no mar tomando meu café e já me preparando para treinar.” Nos sabores cappuccino e chocolate, a evolução dos cafés funcionais é feita à base de ingredientes naturais, totalmente plant-based, e livre de aditivos químicos. Além de dose extra de cafeína, a fórmula tem como principais componentes os TCM isolados C8 e C10, ácidos graxos com absorção rápida que promovem energia instantânea, uma espécie de combustível natural para o cérebro. “Tenho costume de tomar cafés orgânicos, mas o UltraCoffee apresentou uma fórmula muito completa”, diz o influenciador digital e atleta Bruno Santos. “Tomo quando acordo e geralmente antes de fazer os treinos cardio. Recentemente pedalei 200 km, tomei uma dose na saída e outra no meio do caminho. A gente sente fácil aquela sensação boa.” Segundo a nutricionista Alessandra Luglio, que participou do desenvolvimento do suplemento, “o UltraCoffee pode ser consumido como pré-treino, antes dos exercícios físicos ou de atividades diárias que necessitem de concentração e foco ou, simplesmente, substituir o cafezinho tradicional de todos os dias agregando mais antioxidantes e nutrientes no dia a dia”. A novidade está disponível no e-commerce da loja de
PODER INDICA
Gabriel Medina Bruno Santos
A Tal da Castanha, com preço sugerido de R$ 99,90, e distribuída para o todo o Brasil nos principais pontos de vendas e supermercados. +PLANTPOWERSUPERFOODS.COM
Look total Ricardo Almeida
ENSAIO
As canções de Lulu Santos não envelhecem. Há 40 anos, o cantor e compositor que faz e acontece escreve a trilha sonora da vida de muita gente. Pronto para tocar seus hits em nova turnê comemorativa, o técnico do The Voice Brasil fala a PODER sobre empatia, autocrítica, maturidade e, claro, amor por carol sganzerla fotos jorge bispo styling ale duprat
“S
em medo de errar, Lulu Santos é o rei do pop no Brasil”, escreveu Gilberto Gil em uma rede social ao parabenizar o amigo pelo aniversário, no ano passado. E se alguém discorda dessa afirmação, tente ouvir qualquer um de seus hits sem cantar ao menos o refrão e falhe miseravelmente. As músicas do compositor carioca atravessam gerações e têm lugar cativo na memória de muita gente, desde o lançamento de “Tempos Modernos” – canção que nomeia o seu primeiro álbum, de 1982. Para marcar os 40 anos de carreira, Lulu reuniu seus grandes sucessos em nova turnê, Alô, Base, e fez a primeira apresentação em uma live no Globoplay, em outubro.
Por trás do hitmaker, porém, sempre existiu um músico exigente, como ele mesmo explica ao repassar os anos de estrada. “Estar em cena é um crescimento, e é um crescimento baseado em autocrítica. Sempre tive dificuldade de me observar. Com o passar do tempo, fui buscando uma forma de não decepcionar a mim mesmo, de me descontrair o suficiente para sentir alegria em cena e ela transbordar para o público”, relembra. A presença de Lulu não só é marcante nos palcos, mas também do lado da plateia, ocupando uma das cadeiras do The Voice Brasil, reality show da TV Globo do qual é técnico desde a primeira edição, em 2012. “O maior ganho nesses dez anos de programa foi ter desenvolvido a empatia”, diz, enquanto faz um balanço de sua participação. “A nossa função é emprestar o ouvido e a cabeça para aquelas vozes, esperanças, fantasias. Estamos ali por eles e para eles. Faz você alocar mais espaço para o outro.” Mesmo para um músico do seu calibre, Lulu conta que as aparições no horário nobre deram a ele a compreensão do que é ser, de fato, uma figura pública. “Também tem a ver com o outro, como a gente é visto, o que provoca nas pessoas. Então, me dá uma sensação de responsabilidade.” Os quase dois anos de reclusão por causa do isolamento social vieram na contramão de tanta exposição e o músico aproveitou o fato de poder ficar em casa, dedicando-se internamente à arte, a se redescobrir, se repensar, aspectos benéficos para quem sempre levou uma vida itinerante. Aos 68 anos, diz não sentir a passagem do tempo. “A maturidade tem me trazido conforto com o tempo de uso do equipamento. Estou ficando mais confortável com ele, com meu pensamento, com a minha forma de me expressar, com minhas buscas,
Blusa, calça e sapato Eduardo Guinle, saia Vanessa Almeida Atelier. Na pág. seguinte, smoking Boss
“Era um incômodo não me colocar como sou, por uma questão de me sentir íntegro comigo mesmo” meus anseios. Tenho procurado saciá-los no sentido de não temer um futuro em que não realizei aquilo que acho que me cabia, que é a pior forma de sentir a passagem do tempo. A maturidade tem me trazido muitos frutos”, revela. Talvez o mais importante deles seja seu atual casamento, com o analista de sistemas baiano Clebson Teixeira, para quem compôs este ano a música “Hit”. O namoro veio a público três anos e meio atrás, causando comoção. “Não mudou nada e tudo mudou”, diz o cantor sobre assumir seu relacionamento homoafetivo. “Permaneço quem eu era, independente do ‘disclosure’. Por outro lado, acho que sou mais sincero, sobretudo com a sociedade. Era um incômodo não me colocar como sou, menos pela questão da representatividade, porque essa é decorrente, e mais por uma questão de coerência, de me sentir íntegro comigo mesmo e não temeroso”, pontua. “Mas o ganho maior é abrir espaço para as pessoas existirem como precisam, como são. É meu direito, é nosso direito”, finaliza. “Minha extravagância sempre foi amar.” n
Blusa e colar acervo pessoal Beleza: Mila Vittorino Edição de arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Produção de moda: Kadu Nunnes Assistente de fotografia: Nathalia Atayde
OPINIÃO
QUAL O SEU IKIGAI? POR CL AUDIA FEITOSA-SANTANA
FOTOS GETTY IMAGES; FREEPIK; ARQUIVO PESSOAL
O
u, qual o seu propósito de vida? Pois esse é o sinônimo de ikigai, que também pode ser descrito como a motivação que nos dá razão para viver. Se você tem um propósito, a sua mente consegue ver sentido em sua vida e, portanto, alimenta seu cérebro. Logo, você pode viver mais e melhor. Se você encontra sentido na vida, facilitará tanto a gratidão quanto a resiliência, dois ingredientes extremamente importantes para o bem-estar. Enquanto alguns logo descobrem seu ikigai, a maioria tem a chance de o construir. Afinal, não nascemos prontos, somos criaturas criadas por nós. Assim, a possibilidade dessa construção de forma consciente e deliberada. Porém, em uma sociedade acelerada e imediatista, a falta de energia e tempo – ambos recursos limitados –, são os maiores obstáculos para se encontrar nosso propósito. Energia, pois tudo que é deliberado exige energia cerebral. Mas não estamos falando de energia espiritual, mas sim de glicose, a principal fonte de alimento para o cérebro. E, claro, tempo. Por isso, não podemos estar sempre atrasados, correndo atrás do tempo. É importante notar que o sofrimento, incluindo o que leva aos transtornos mentais, rouba nossa energia cerebral. Por isso, é fundamental cuidar dos nossos sofrimentos e evitar um diagnóstico debilitante. Pode parecer bobagem, mas um tratamento cientificamente comprovado funciona como atalho. Assim, ganhamos tempo e energia. E, nessa jornada, lembrar que o presente é um presente. Menos é mais, não somos multitarefa. Qualidade é
mais, quantidade é menos. Lembrar Japão ocupa a 56ª posição no ranking; que fazer escolhas implica em não es- o Brasil está na 41ª. Embora os japocolhas. Imagine uma encruzilhada: se neses tenham a maior expectativa de estamos atentos, sabemos escolher o vida do planeta, isso se deve pelas mucaminho ou, pelo menos, os caminhos danças na alimentação que reduziram que não queremos escolher. E, quando drasticamente as doenças cardiovasrecusamos de forma consciente, esta- culares em sua população. mos construindo nosso propósito de Historicamente, ikigai teve origem vida. E, claro, mais chance de sermos em Okinawa, nas ilhas Ryukyu, bem felizes. Se não estivermos atentos, não ao sul do Japão, onde não é difícil entemos como escolher, somos escolhi- contrar Okinawas centenários, pesdos. E sem nos construirmos, apenas soas que nunca pensam em se apocom sorte seremos felizes. sentar, uma vez que trabalham com o Temos algumas evidências de que que gostam. Parece que por lá é fácil o propósito pode funcionar como um encontrar quem tenha ikigai. n neuroprotetor, ou seja, ter um cérebro mais forte contra processos inflamatórios que, em geral, levam ao desenvolvimento de doenças autoimunes ou neurodegenerativas. E aquele que ficar doente, mas tiver ikigai, viverá melhor do que aquele que não tiver. Se ter razão de viver é exclusividade humana, ela pode ter surgido junto com a evolução dessa região cerebral próxima da testa, que chamamos de córtex pré-frontal. Mas isso não significa que essa é a área onde reside nosso propósito, muito pelo contrário. Uma mente com ikigai influência tudo, corpo e cérebro e, se você preferir, corpo e alma. Apesar de ser um conceito antigo, Claudia Feitosa-Santana é neurocientista, arquiteta o termo foi popularizado nas últimas e engenheira, com mestradécadas e não representa necessariado e doutorado pela USP e pós-doutoramento na mente a felicidade e a longevidade jade Chicago. ponesa – segundo o relatório Mundial ÉUniversidade autora do livro Eu Conda Felicidade 2021, patrocinado pela trolo Como Me Sinto, da editora Planeta Organização das Nações Unidas, o PODER JOYCE PASCOWITCH 69
DESIGN
IGUALMENTE ICÔNICOS Assim como há criações que se tornam referências fundamentais de seus criadores, há também outras menos conhecidas que revelam o mesmo talento, originalidade e história POR ANA ELISA MEYER
uando mencionamos grandes nomes do mobiliário brasileiro, como Sergio Rodrigues, Jean Gillon ou Zanine Caldas, quase que automaticamente pensamos em suas criações mais icônicas: a poltrona Mole, a Jangada e a Namoradeira, respectivamente. Mas a criatividade desses três ícones do design nacional, que se destacaram principalmente entre as décadas de 1940 e 1960, foi muito além. As peças produzidas por eles, dentro de um mesmo parâmetro estético associaram-se à inovadora arquitetura brasileira do período, criando uma coerência com os novos espaços privados e institucionais. Pelas qualidades estéticas e funcionais, esses móveis permanecem devidamente reconhecidos e valorizados até hoje.
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Sergio Rodrigues (1927-2014)
Um dos grandes nomes do modernismo no país, principalmente nas décadas de 1950 e 1960, o arquiteto e designer carioca foi um dos pioneiros em transformar o design brasileiro em design industrial e torná-lo mundialmente conhecido. Poltrona Vivi, 1962
Zanine Caldas (1919-2001)
Designer, arquiteto, paisagista e escultor, o baiano de Belmonte se opôs ao modernismo e ao concreto predominante e fez da madeira sua matéria-prima preferida. Autodidata, sua produção de móveis assinados se destacou no país entre os anos 1940 e 1960. Espreguiçadeira ZC1, década de 1950
Geraldo de Barros
(1923-1998) Multiartista, fundou, em 1954, com o Frei João Batista, a cooperativa Unilabor, fábrica que produziu móveis simples e funcionais para a classe média brasileira, e cujo funcionamento é pautado pela autogestão operária com partilha de lucros entre os funcionários. De modo geral, as peças tinham formas simples e a junção de materiais como ferro e madeira.
FOTOS REPRODUÇÃO
Estante MF 710, década de 1950
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John Graz (1891-1980)
Considerado o grande pioneiro da decoração no Brasil, o suíço chegou no país em 1920. Graças à sua formação multidisciplinar, como artista plástico e designer, tornou-se um dos mais solicitados profissionais de sua geração sendo responsável por diversos projetos de interiores para residências da elite paulistana. Sofá John Graz, década de 1950
Joaquim Tenreiro (1906-1992)
Vindo de Portugal, chegou ao Brasil em 1928 e logo começou a fazer história: enquanto o país copiava o estilo europeu, o designer, escultor, marceneiro e pintor ousou produzir peças com uma linguagem mais nossa e ganhou o título de pai do móvel moderno brasileiro. Biombo feito para o Jockey Club do Rio de Janeiro, década de 1960
(1922-2020) Arquiteto polonês naturalizado brasileiro, foi um dos fundadores do design moderno nacional ao trazer, nas décadas de 1950 e 1960, propostas e desenhos inovadores. Em 1959, fundou L’Atelier, fábrica pioneira na criação de móveis em série do país.
Sofá Presidencial, 1959
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Jorge Zalszupin
Giuseppe Scapinelli (1891-1982)
Nascido em Modena, Itália, o arquiteto e designer escolheu o Brasil como sua segunda pátria quando para cá se mudou na década de 1950. Se comparado aos seus contemporâneos, ele soava mais conservador. Enquanto a maior parte dos designers investia em estruturas geométricas, o seu estilo era facilmente reconhecido pela presença de curvas suaves, com os chamados “pés-palito” que visavam dar ao móvel uma maior leveza. Buffet, década de 1950
Jean Gillon (1919-2007)
Nascido na Romênia, o designer e arquiteto desembarcou no Brasil em 1956 já com um portfólio robusto. Suas peças eram produzidas principalmente em jacarandá, uma madeira brasileira que o encantou. Criou, além de móveis, tapeçarias e esculturas, colocando seu nome na história da decoração e do design mobiliário brasileiro. Cadeira Italma, década de 1960
FOTO PAULO FREITAS
ARTESANAL E AUTÊNTICO
Não é de hoje que as peças de HECTOR ALBERTAZZI frequentam os looks mais modernos e sofisticados, e os editoriais de moda. Na verdade, lá se vão 12 anos. Mas tudo começou bem antes. “Quando saí da Argentina, aos 23 anos, e cheguei ao Brasil, tive meu primeiro contato com o universo das gemas. Me encantei com a variedade que existe aqui. A partir daí comecei minha carreira no ramo da joalheria que culminou no convite para uma coleção para a Daslu. Depois de vários anos produzindo para private label, decidi lançar minha própria grife e me posicionar no mercado de forma autoral”, lembra o joalheiro, que é sócio e diretor criativo de sua marca homônima. Desenvolvidas artesanalmente em processo igual ao da fine jewelry, as criações de alta bijuteria da Hector Albertazzi são feitas a partir de ligas de cobre e zinco banhadas em grafite, prata e ouro vintage, com cravação de cristais. “Para a comemoração dos 12 anos lançamos a linha Essência, cujo diferencial está nos elos de correntarias em formato de ‘H’, uma tendência que carrega parte do nosso DNA. Além disso, temos uma agenda de mais 20 lançamentos por ano”, revela o empresário e artesão. Durante a pandemia, Albertazzi conseguiu manter toda sua rede de funcionários e fornecedores, e não parou de produzir, o que reforçou ainda mais o poder de sua marca. Outro ponto importante foi a abertura de uma nova loja. Atualmente a label possui quatro lojas e e-commerce, além de estar presente em mais de 130 multimarcas em todos os estados do Brasil. “Tenho uma equipe de pessoas capacitadas e unidas que fez com que superássemos momentos tão desafiadores. O que fizemos foi seguir com nossos planos, mesmo quando fomos surpreendidos pela pandemia, com responsabilidade e com a ajuda de toda a nossa equipe”, finaliza o joalheiro. +HECTORALBERTAZZI.COM.BR
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PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN
NO MEIO DO NADA
Feche os olhos e imagine um lugar absolutamente único, daqueles que mais parecem saídos de um filme. É esse o cenário do Pristine Camps, hospedagem no estilo glamping que está prestes a ser inaugurada em um deserto de sal na Argentina. São apenas quatro tendas – aqui na versão domos – com toda a estrutura necessária, espalhadas pela imensidão de Salinas Grandes. Na programação, experiências que exploram singularidades da região – da observação do céu às refeições baseadas nos ingredientes e características do pueblo local. +@PRISTINECAMPS
A França está aberta e estamos de olho nas nossas experiências preferidas por lá. Entre elas, uma visita à Maison Godet, marca de parfum com mais de 100 anos de história em Saint-Paul-de-Vence. Artesanais, os perfumes são conhecidos por usar as flores de maneira ancestral e ter embalagens criadas pelos melhores designers de vidro. A bailarina Henriette Darricarrère, musa de Matisse, era fã. +PARFUMSGODET.COM
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ARTESANAL
O QUE É QUE A BAHIA TEM?
Fica em Moreré, mais precisamente em um pedaço de paraíso pé na areia, o novo refúgio que tem chamado a atenção dos entusiastas da Bahia, o Ventos Moreré. No comando, um hoteleiro italiano com passagens por destinos como o Hôtel Le Meurice, em Paris. São apenas oito bangalôs – com delícias como chuveiro ao ar livre – espalhados por um terreno de 8 mil metros quadrados, que inclui horta orgânica, um beach club intimista e uma praia paradisíaca para chamar de sua. Em outras palavras, um convite para uma verdadeira imersão no clima de sombra e água fresca. +VENTOSMORERE.COM
MARINHEIRO SÓ
Aviso aos navegantes: há uma experiência imperdível prestes a atracar no horizonte. Em novembro, a National Geographic lança, em parceria com a companhia Lindblad Expeditions, seu novo navio de expedição, que fará as viagens mais incríveis por pontos remotos da Antártida. Batizada de Resolution, a embarcação usa tecnologia de ponta para desbravar cenários de muito gelo – pense em jornadas mais suaves, silenciosas e com menos impacto no trajeto. A estrutura inclui 69 cabines e uma série de luxos indispensáveis, como bar, piscina infinita e livraria, mas são as exclusividades Nat Geo que chamam atenção. Entre elas, a presença de um fotógrafo da marca à disposição e equipamentos de última geração para as expedições locais. +EXPEDITIONS.COM
SUÍTE ICÔNICA
Aos fãs do 007. O Royal Champagne, um dos melhores hotéis da região francesa de Champagne, tem uma nova suíte inspirada no mais famoso agente secreto. Com vista para um vale cênico na região, a novidade tem delicadezas Hermès e uma série de experiências com um quê de James Bond. Entre os destaques, que tal um tour na House Bollinger, responsável por produzir a bebida preferida do espião? A lista ainda inclui massagem à luz de velas, os drinques favoritos de Bond no icônico bar do hotel e outros programas imperdíveis. +ROYALCHAMPAGNE.COM
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O RETORNO AOS PALCOS
Apoiadora da cena cultural, a Vivo anuncia retomada de espetáculos presenciais em seu teatro e nova programação. O público comemora!
epois de mais de um ano sem poder assistir a uma peça de teatro ou um show presencial, sem acesso a exposições e aos principais museus por causa da pandemia, lentamente a vida vai voltando ao normal. E o público agradece. São novos tempos, que fique claro, mas já é possível enxergar luz no fim do túnel. A Vivo, que sempre apoiou a cultura, acaba de reabrir seu teatro homônimo em esquema híbrido e também lançou a nova temporada do projeto Teatro Vivo em Casa – que homenageia grandes artistas da música brasileira. Vários espetáculos presenciais estão programados para os próximos meses, como A Golondrina, que já está em cartaz, Música para Cortar os Pulsos e o infantil Tchiribim Tchiribom, além de shows de música do projeto Toda Quinta. Para o retorno presencial, o Teatro Vivo está seguindo o protocolo destinado aos espaços culturais de São Paulo, mantendo todos os cuidados necessários para este momento. “A retomada das apresentações com público presencial foi especialmente pensada para garantir uma experiência cultural, respeitando os protocolos sanitários”, revela a diretora de Imagem e Comunicação da Vivo, Marina Daineze. Mesmo quando tudo estava fechado, a Vivo ofereceu ao público nada menos que 30 espetáculos, vistos por mais de 20 mil pessoas em todo o Brasil, de forma digital e gratuita com o projeto Teatro Vivo em Casa.
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Luciano Andrey e Tania Bondezan em A Golondrina, Golondrina, no Teatro Vivo
“Ao transmitir as apresentações por meio digital, aproximamos artistas e público durante a pandemia e democratizamos o acesso à cultura ao levar arte para qualquer pessoa que tivesse o desejo de assistir a um espetáculo, onde quer que esteja, desde que tivesse um dispositivo conectado. Chegou a vez de promover
o reencontro entre o público e os artistas”, destaca a executiva. E agora, em 2021, quando completa 17 anos de incentivo permanente à cultura, a Vivo vai além e expande apoio a importantes instituições, como a Pinacoteca de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), Museu
FOTOS ODILON WAGNER/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
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Osmar Silveira canta Cazuza no Teatro Vivo em Casa
“Agora chegou a vez de promover o reencontro entre o público e os artistas” Marina Daineze, diretora de Imagem e Comunicação da Vivo Laila Garin canta Elis Regina no Teatro Vivo em Casa
Elenco de Música para Cortar os Pulsos, que estreia em novembro no Teatro Vivo
da Imagem e do Som (MIS), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), Instituto Inhotim (MG), Museu Oscar Niemeyer (PR) e Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM SP). Também lançou o Vivo na Arte, que promove o acesso ao conhecimento histórico e ao acervo desses museus, com
aulas on-line e gratuitas. O lema é ampliar o acesso ao conhecimento com novas formas de vivência e aprendizado, fortalecidas nos aspectos de diversidade, inclusão, coletividade e educação. Não por acaso, em maio do ano passado, a empresa criou uma plataforma cultural no Instagram que
concentra todas as suas iniciativas e mantém uma narrativa única sobre o tema. A @Vivo.Cultura tem o objetivo de divulgar o que de mais relevante está acontecendo nas artes cênicas e visuais do Brasil – e até do exterior –, de forma simples e de fácil acesso por meio de conteúdos proprietários e exclusivos. PODER JOYCE PASCOWITCH 77
CULTURA INC.
RETRATOS DA CASA
POR LUÍS COSTA
Pintora Ana Elisa Egreja expõe retratos do interior doméstico e perturba a realidade figurativa com elementos do fantástico
O
título da mostra que a paulistana Ana Elisa Egreja assina na Galeria Leme soa como um paradoxo. Fazer Realidade, em cartaz até 6 de novembro, é ao mesmo tempo retratar o visível e transformálo pela imaginação. Com uma série de pinturas que ora tocam o real, ora a fantasia, a exposição faz o que o crítico Moacir dos Anjos chamou de curto-circuito na realidade. Retratista da casa, de sua arquitetura interior e de seus objetos, Ana Elisa começou a pintar na década de 2000. Suas cenas, entre o cotidiano e o fantástico, são montadas a partir de uma variedade de referências – algumas vêm das 20 mil fotos salvas no celular, outras de pinturas, livros de museus etc.
À procura de texturas e detalhes que só a observação imediata permite, nos últimos cinco anos a artista passou a experimentar a encenação. “Meu ateliê, que era só de pintura, foi se transformando em um set de vídeos, de fotos, de instalações”, diz ela. À época, o ateliê funcionava na antiga casa abandonada de seus avós, onde montou quadros que compuseram a série Jacarezinho 92, em 2017.
PODER É CURSOS A Casa Mário de Andrade, vinculada à Secretaria de Cultura de São Paulo, oferece periodicamente cursos sobre cultura e modernismo por meio da plataforma Zoom. Em novembro estão programados cursos sobre alfaiataria e modos de vestir no início do século 20 e sobre a obra do compositor Carlos Gomes, autor da ópera O Guarani. Mais informações em casamariodeandrade.org.br
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FOTOS FILIPE BERNDT; GUILHOTINA.CO; DIVULGAÇÃO; LEANDRO LIMA; B_ARCO/DIVULGAÇÃO; CASA MÁRIO DE ANDRADE; JOÃO ATALA; OSIP BRAZ
LIVRO Na mostra agora na Leme, Ana Elisa conjuga encenação e colagem, real e fantástico. No quadro Cinderela, que apresenta a vista de uma praia por uma vidraria, ela insere, por exemplo, relevos de tinta como besouros, reproduzindo uma infestação. “O mundo real é maçante. Inverto a realidade porque aí sim me interessa pintar.” Em uma das telas em grande formato, ela reproduz a cozinha do pintor e muralista Fulvio Pennacchi (19051992), que visitou em 2019. O artista desenhou um a um os azulejos do lugar. “É uma casa autoral ao extremo”, diz a pintora. “Comecei a criar como se tivesse um desmoronamento do que ele pintou sobre o fogão”, explica. O conceito de colagem permitiu que ela pusesse, no mesmo quadro, uma referência a Clara Peeters, uma das únicas mulheres integrantes da Golden Age, movimento de pintura figurativa holandesa do século 17, mais importante referência do trabalho de Ana Elisa. Apesar de não retratar pessoas, a presença humana nas casas está impressa em seus objetos e cenários. A reprodução da sala do avô, por exemplo, é como um retrato sem o corpo. “A casa é a metonímia da pessoa. Ela fala tudo”, conclui.
BOCA DE URNA
Em O Debate, os diretores Guel Arraes e Jorge Furtado imaginam o diálogo de um casal de jornalistas no dia do último debate presidencial das eleições de 2022 “Esta peça é escrita na urgência dos acontecimentos políticos do Brasil no ano de 2021. Será filmada e encenada assim que for possível e reescrita assim que for necessário.” Essas duas frases servem como prefácio para a peça O Debate (Cobogó, R$ 36), que dois dos mais importantes cineastas brasileiros, Guel Arraes e Jorge Furtado, lançam a menos de um ano das eleições presidenciais de 2022. Em um roteiro de diálogos rápidos e cortantes, eles se propuseram a pensar os bastidores do último debate entre os dois candidatos que prometem polarizar o próximo pleito: o atual presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No terraço do prédio de uma tevê, os autores imaginam um diálogo entre dois jornalistas da emissora que exibirá o debate presidencial, entre cafés, cigarros, política, relacionamentos, paixões e ideias. Recém-separados depois de um casamento de 20 anos, Mar-
PARCERIA Em Síntese do Lance (Rocinante), os veteranos Jards Macalé, 78 anos, e João Donato, 87, que nunca haviam dividido estúdio, registram a primeira parceria de suas carreiras. O álbum traz dez composições inéditas, incluindo a faixa-título assinada em companhia do pianista e trombonista Marlon Sette, produtor musical do disco. Diz o mestre Donato: “Traduzindo em miúdos: a síntese do lance é extrair o néctar, o âmago das coisas.”
Guel Arraes
Jorge Furtado
cos e Paula tentam se adaptar às transformações de sua relação, do país e do mundo – ainda sob a ameaça da Covid-19, com uma cepa, a Sigma, entre as dez mais contagiosas. Em discussões acaloradas e ferinas, eles falam, ouvem, discordam, concordam, voltam a discordar, além de, diante da impossibilidade de isenção da imprensa, lidarem com o conflito de fazer jornalismo em tempos de desinformação, manipulação e notícias falsas.
TCHEKHOV Em Quatro Peças (R$ 54,90), a Companhia das Letras relança em único volume clássicos do repertório teatral de Anton Tchekhov (18601904) com novas traduções diretas do russo por Rubens Figueiredo, vencedor do Prêmio Jabuti. A Gaivota, Tio Vânia, Três Irmãs e O Jardim das Cerejeiras mostram um escritor que trata fatos triviais da vida humana sob a perspectiva do sonho e da frustração. PODER JOYCE PASCOWITCH 79
PAULO FREIRE chegou a dizer que uma das melhores coisas que fez na vida, melhor do que todos os livros e trabalhos acadêmicos que escreveu, foi não deixar morrer o menino que sempre foi. O educador, autor de Pedagogia do Oprimido, cujo centenário de nascimento é comemorado neste ano, aprendeu a ler e a escrever no quintal de sua casa no Recife, com os ensinamentos de sua mãe, Edeltrudes, à sombra das mangueiras. Não à toa, sempre foi contra o que chamava de “educação bancária”, aquela que coloca o professor como detentor do conhecimento e o aluno como simples “depositário”. Por conta da metodologia que leva seu nome e vê o ensino em relação direta com a vida cotidiana – e também política –, Freire chegou a ser definido, em inquérito divulgado depois de sua partida para o exílio no Chile em 1964, como “um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos”. Sua principal teoria sempre foi a de que a educação é essencial no processo de conscientização, o que fez com que, durante toda a vida – e mesmo após a morte – o educador tenha sido alvo constante de disputas ideológicas. O que mostra também porque o seu pensamento – fiel ao do menino que sempre foi – continua vivo em tempos tão sombrios.
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FOTO ACERVO PESSOAL NITA FREIRE
BÊ-Á-BÁ
Leve, Inteligente, Engajador.
O novo
tá ON.
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