REVISTA PODER | EDIÇÃO 151

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ISSN ISSN 1982-9469 1982-9469

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N.151 N.151

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PROPÓSITO, INCLUSÃO E ESPERANÇA

CAMILA ACHUTTI

NINA SILVA

DILMA SOUZA CAMPOS

e d i ç ão 14

ano

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especia

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SELEÇÃO BRASILEIRA As mulheres que comandam, inspiram e lideram as principais empresas e instituições do país

JULIANA COELHO

EMILY EWELL LISIANE LEMOS

E MAIS: SIMONE TEBET, a única candidata a presidente do Brasil; NATH FINANÇAS leva educação financeira para as massas; as mulheres que mandam nas tribos indígenas; BIANCA ANDRADE, a pessoa por trás da Boca Rosa; CRIS GAMBARÉ, que fez do time feminino do Timão potência do futebol; as habilidades da maternidade; o consultório de LUDHMILA HAJJAR e a indiana que se tornou bilionária vendendo beleza


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ESTRELA SOLITÁRIA

A senadora Simone Tebet fala o que significa ser a única candidata feminina à Presidência do Brasil 32

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RESPIRO OPINIÃO

A neurocientista Natalia Mota e o grupo SCIGirls refletem sobre a inclusão feminina na ciência 54

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ENSAIO

Bianca Andrade, ou Boca Rosa, da Comunidade da Maré à mulher de milhões de reais

RAINHA DO AÇAÍ

Como a economista Fernanda Stefani, da 100% Amazonia, tornouse expert na produção do fruto mais conhecido da região 70

ELA É BRABA

Por que Cris Gambaré, diretora de futebol feminino do Corinthians, é uma máquina de títulos?

FINANÇAS REAIS PARA PESSOAS REAIS

Nathália Rodrigues, mais conhecida como Nath Finanças, critica a “culpabilização do pobre” feita pelo economês tradicional

CANTO DE PODER

Dra. Ludhmila Hajjar, referência em cardiologia, abre as portas de seu espaçoso consultório onde atende personalidade de diversas áreas

PODEROSAS CACICAS

Mulheres indígenas conquistam a mais alta liderança de suas aldeias e lutam pelos direitos de seus povos 42

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FILHO É POTÊNCIA

Empresas começam a perceber que competências desenvolvidas na maternidade podem ajudar nos negócios

OPINIÃO

Liliane Rocha, CEO e fundadora da Gestão Kairós, destaca a urgência da valorização da mulher negra no mercado de trabalho

As mulheres que lideram e inspiram as principais instituições do país 26

DE PORTAS ABERTAS

Líderes de diversidade e inclusão sinalizam como a mudança de mentalidade beneficia funcionárias e empresas

SUMÁRIO

EDITORIAL COLUNA DA JOYCE AS CAMPEÃS

EFEITO DOURADO

Conheça Falguni Nayar, a self-made woman bilionária da vez que fundou a “Sephora da Índia”

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PODER VIAJA SOB MEDIDA CULTURA INC. ÚLTIMA PÁGINA

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AGENDA PODER

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Seu melhor evento.


A B R I L 2 02 2

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E

las já são tantas em cargos de liderança que a ideia de fazer uma edição especial para destacá-las parece anacrônica. Na verdade, seria bom se fosse. A equidade de gênero ainda é, como se diz, outro patamar para diversos setores corporativos no Brasil, para não falar da representação institucional e política, praticamente um feudo masculino. Assim, é mais do que justificável mostrá-las, enaltecê-las, listá-las. Por isso, nesta edição em que comemoramos 14 anos de incontáveis histórias (viva!), ouvimos indicações e conselhos de executivas consagradas e reunimos cerca de 150 mulheres que comandam e inspiram em suas respectivas áreas de atuação. De Camila Achutti, rara mulher na tecnologia, a Lisiane Lemos, que precisou contrariar a estatística por ser ainda negra e estudante de colégios públicos – e hoje comanda a diversidade no recrutamento de América Latina do Google –, descubra quem vem fazendo, e como, a diferença. Simone Tebet, senadora do MDB que se destacou na CPI da Covid-19 a ponto de se tornar a pré-candidata da sigla na eleição presidencial de outubro – a única mulher da disputa até agora – também está aqui, assim como a indiana Falguni Nayar, empresária self-made que se tornou bilionária vendendo beleza e encorajando outras mulheres. Nos fundões do Brasil, à frente de suas próprias aldeias indígenas, agora quem manda são as cacicas, e não caciques. Por aqui também aparecem a cardiologista Ludhmila Hajjar, que não se deixou seduzir pelo brilho fácil do Ministério da Saúde em seu momento mais midiático, e a influencer Boca Rosa, que de blogueira da favela da Maré (RJ) se tornou empresária de sucesso mirando o mercado internacional. Quem também busca expandir o seu alcance é o time do Corinthians, cuja equipe do futebol feminino, sob o comando da gestora Cris Gambaré, virou potência com verbete no livro dos recordes. Ainda falamos nesta PODER das habilidades que as líderes aprendem com a maternidade, mostramos quem está à frente de equipes de diversidade pelo país e, como ninguém é de ferro – nem mesmo elas – há também aqui o seu próximo roteiro luxuoso de viagem e uma seleção especial de produtos eletrônicos para facilitar o nosso dia a dia. Dos homens também. Todas, todos, todes, todxs a bordo: a revista PODER é nossa.

R E V I S TAP O D ER . C O M . B R


LADO B

Embora rejeite em declarações públicas a ideia de fazer uma aliança com

LULA, em conversas reservadas GILBERTO KASSAB, o “dono do PSD”, admite a

possibilidade de apoiá-lo. Diante da escapada do senador Rodrigo Pacheco, que enfatizou a impossibilidade de compatibilizar a presidência do Senado e a pré-campanha eleitoral, e do chove e não molha do governador Eduardo Leite, que migraria do PSDB para o PSD para concorrer à Presidência nas eleições de outubro, tal possibilidade de apoio a Lula é cada vez mais discutida entre dirigentes.

BOLA DIVIDIDA

Enquanto o PT definiu o nome de Augusto Fonseca como marqueteiro responsável pela campanha presidencial de Lula, do lado bolsonarista a decisão aponta para confusão à vista. Duda Lima, o marqueteiro de confiança do Partido Liberal (PL), deverá ser o escolhido para atuar na campanha de reeleição – contudo, dividindo o comando com o vereador CARLOS BOLSONARO (RepublicanosRJ). O PRESIDENTE deu sinal verde para a escolha de Lima, mas reivindicou que a coordenação das mídias digitais fique a cargo de seu filho Zero Dois.

AMIGO OCULTO

O escândalo sexual envolvendo o bilionário americano Jeffrey Epstein, que acabou em suposto suicídio na prisão, terminou resvalando também no Brasil – e isso pouca gente sabe. Um dos envolvidos levado nesse turbilhão, o banqueiro JES STALEY, amigo de Epstein, morou no país há mais de 20 anos quando trabalhava no Chase. Por aqui, conheceu uma brasileira com quem está casado até hoje e tempos depois se mudou para Nova York, em um luxuoso apartamento na Park Avenue. Em seguida o casal foi para Londres, quando Staley assumiu como CEO do Barclays – posto do qual foi afastado recentemente pelo banco britânico após as conclusões preliminares da investigação lançada pelos reguladores financeiros sobre o seu relacionamento com Jeffrey Epstein.

8 PODER JOYCE PASCOWITCH

MÃOS À OBRA Mesmo abaladas com os

acontecimentos envolvendo o pai, Marcelo Odebrecht, duas de suas filhas, Rafaella e Gabriella Alvarez, foram à luta. Montaram uma pequena empresa, a confeitaria Sweet Sisters, e o sucesso chegou: “Somos duas irmãs apaixonadas pela cozinha, pelas raízes baianas e pelo mundo. Que acreditam que chocolate aquece o coração”, diz a descrição da empresa, que também recebe todo o apoio da mãe delas, Isabela.

PUXADINHO

Avesso a qualquer exposição, MARK ZUCKERBERG adota há anos uma prática um tanto quanto extravagante para manter a privacidade de sua família: o fundador do Facebook (agora Meta) costuma comprar casas vizinhas às suas para manter-se afastado de qualquer bisbilhoteiro. A última aquisição foi um lote de mais 45 hectares, o equivalente a 54 campos de futebol, na ilha de Kauai, Havaí, onde os Zuckerberg não são, digamos, muito bem-vindos. Uma petição on-line organizada por moradores da região está com mais de 1 milhão de assinaturas pedindo para que o dono do Facebook pare de “colonizar” a ilha.


FOTOS GETTY IMAGES; GERALDO MAGELO/AGÊNCIA SENADO; PAULO FREITAS; DIVULGAÇÃO; PESTANA HOTEL GROUP/ DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL; WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL

DEVELOPÉ

A bailarina e ativista INGRID SILVA agora faz parte do seleto grupo de aprovados para o Crossover Into Business da Harvard Business School, programa semestral no qual atletas profissionais desenvolvem sua visão de negócios em parceria com mentores de estudantes de MBA. A ideia do curso é preparar esses esportistas para a atuação em negócios durante e após suas carreiras. No ano passado, Ingrid palestrou na 14ª Conferência de Empoderamento e Desenvolvimento de Mulheres Latino-Americanas na Harvard Lead Conference.

POLO...

CEOs no Brasil estão menos otimistas em relação ao crescimento da economia do país do que a global. Enquanto 77% acreditam na aceleração econômica mundial, apenas 55% creem que o mesmo acontecerá com a economia brasileira. Os dados são da mais recente Pesquisa Anual Global de CEOs da PwC, que apontou instabilidade macroeconômica, riscos cibernéticos e desigualdade social como as principais causas de preocupação das lideranças.

SOB NOVA DIREÇÃO

O hotel Convento do Carmo, em Salvador, fechado desde 2020 quando era operado pelo Pestana Hotel Group, está prestes a reabrir as suas portas sob o comando do grupo português Convento do Espinheiro. A revitalização do local, um edifício do século 16 num dos bairros mais hype da cidade, no Centro Histórico, está a cargo da arquiteta MARINA ACAYABA e o sócio Juan Pablo Rosenberg. Marina é filha do casal de arquitetos Marlene e Marcos Acayaba.

PILOTI

...POSITIVO

Por outro lado, o Brasil está à frente na jornada de descarbonização. No levantamento, a proporção de empresas com compromissos net zero e carbono neutro no país supera a média global – 27% das companhias nacionais assumiram algum compromisso net zero, enquanto a média global é de 22%; com relação à neutralização os índices ficaram em 31% (Brasil) e 26% (mundo).

Novos ares para a artista plástica ADRIANA VAREJÃO e seu marido, o produtor de cinema PEDRO BUARQUE DE HOLLANDA. O casal, que mora em uma casa emblemática projetada por Oscar Niemeyer no Jardim Botânico – e que já saiu até no The New York Times –, comprou o apartamento na avenida Atlântica, em Copacabana, que pertencia a Elisinha Moreira Salles, mulher do banqueiro Walther Moreira Salles e mãe de Pedro, Walter e João Moreira Salles. Era neste mesmo prédio que ocorriam as melhores festas do jet set carioca nos anos 1960. PODER JOYCE PASCOWITCH 9


Se você é livre, precisa libertar outra pessoa. Se você tem algum poder, então seu trabalho é capacitar outra pessoa TONI MORRISON

3 PERGUNTAS PARA...

VIVIAN RIO STELLA, STELLA, doutora em linguística pela Unicamp, idealizadora, curadora e professora da VRS Academy compreensão, você vai precisar ou ligar para ela, ou reler duas ou três vezes, tentar ver se fará de forma É a forma como as pessoas acertada o que foi solicitado. se manifestam no mundo. Isso já gera uma insegurança Então, inevitavelmente, é na pessoa e dúvidas quanto aos um fator que impacta. Por procedimentos a serem seguidos. exemplo, os processos, o uso Daí vemos como uma mensagem das ferramentas, uma forma mal construída gera diversas de estabelecer confiança, sensações e ações indesejadas. É motivação, engajamento, exercer muito comum nas empresas as a liderança... por tudo isso ela pessoas não admitirem que não é fundamental. A comunicação compreenderam determinada está em tudo, em todos os informação e saírem fazendo. lugares, e às vezes entramos E esse “sair fazendo” pode ser em processos automáticos falar com um cliente, contratar e nos esquecemos de que um fornecedor, colocar prazos somos seres de linguagem, errados na agenda. Quanto ao seres comunicadores, e WhatsApp e outros apps de precisamos prestar atenção para mensagens, há muitas empresas estabelecermos confiança. que definem regras sobre o que não deve passar por essas DE QUE FORMA UMA MENSAGEM ferramentas e deve ser enviado MAL INTERPRETADA PODE por e-mail: informações mais IMPACTAR NO RESULTADO DE UM confidenciais e rastreáveis, TRABALHO E ATÉ NAS RELAÇÕES propostas comerciais, aceites PESSOAIS? de propostas, informações mais Se uma pessoa manda um específicas. Quando tratamos e-mail enorme e de difícil de coisas mais espontâneas, do QUAL A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO EM UM AMBIENTE CORPORATIVO?

MERCADO FUTURO

dia a dia, que exigem respostas imediatas, aí sim utilizamos WhatsApp e apps de mensagens. Vale tomar cuidado com os canais e aproveitar o melhor de cada um deles. QUAIS OS ERROS MAIS COMUNS NA COMUNICAÇÃO E O QUE DEVE SER EVITADO?

Entre os erros mais comuns estão a falta de objetividade, de diálogo com as pessoas e querer sempre dar a última palavra, além da não adequação das palavras e abordagens pouco relevantes para o outro. E, claro, a falta de escuta. Se você não escutar, não sair de sua bolha e preconceitos, não consegue se comunicar. A comunicação não é só transmitir a informação, essa é só uma de suas funções.

Pessoas que investem atentas às boas práticas de diversidade nas empresas ganharam mais uma opção, ancorada agora na promoção de mulheres em cargos de liderança dentro das companhias. Na B3, o Banco Safra lançou o ETF Mulheres na Liderança, o ELAS11. O fundo tem como referência o índice Teva Mulheres na Liderança, que busca refletir uma carteira composta pelas empresas com maior representatividade feminina em cargos de diretoria, conselhos e comitês. Atualmente, apenas duas companhias no Ibovespa têm CEOs mulheres: a rede de laboratórios Fleury e o Grupo Iguatemi.

10 PODER JOYCE PASCOWITCH

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SAS


ESTE MÊS A MULHER DE PODER VAI... VISITAR a

exposição de Márcia Falcão, em sua primeira individual em São Paulo, no Galpão da Fortes D’Aloia & Gabriel. Os trabalhos abordam questões do feminino e pensam sobre hierarquias de gênero

ASSISTIR Elza e Mané, no Globoplay,

sobre os dois gênios brasileiros que formaram um dos casais mais icônicos do país. Uma relação que combateu preconceitos e foi marcada por amor, alcoolismo e violência SE INSPIRAR lendo As

Visionárias, de Wolfram Eilenberger. Editado pela Todavia, conta a história de quatro mulheres legendárias – Simone de Beauvoir, Simone Weil, Ayn Rand e Hannah Arendt – em meio à Segunda Guerra TRANSFORMAR suas histórias pessoais,

familiares ou corporativas em um livro do Ateliê da Memória, comandado pelo fotógrafo Roberto Setton (@_ateliedamemoria_)

PESQUISAR e frequentar alguns dos

mais charmosos restaurantes de São Paulo comandados por chefs mulheres. Entre os tantos estão Carlota, Maní, Chou, Casserole...

MARATONAR

Landscapers, nova série de true crime da HBO protagonizada por Olivia

Colman (A Filha Perdida) e David Thewlis (Fargo) ESCUTAR o Planet Money, podcast da

NPR (National Public Radio) que aborda os temas globais da atualidade sob o prisma do dinheiro – desde o papel da mulher no mercado japonês até como oligarcas russos operam na ótica dos negócios. Em inglês

FAZER uma lista com os nomes das

mulheres que mais inspiram (podem ser poetas, arquitetas, escritoras, artistas plásticas, de qualquer função ou profissão) para ser consultada em momentos de fragilidade

SEGUIR o perfil @

ESCOLHER uma entidade de apoio a

refugiados e contribuir contra a crise humanitária internacional. Em São Paulo, o Adus (Instituto de Reintegração do Refugiado) atua na integração social de imigrantes vítimas das migrações forçadas de vários países

ASSISTIR Diários de Andy Warhol, minissérie documentário da Netflix que revela a ligação entre a arte e os amores do mais pop dos artistas contemporâneos

modernismodobrasil e reconhecer o movimento por meio de seu mobiliário, arquitetura, design e arte

SEGUIR o perfil de Oksana Parafeniuk

EXERCITAR todo o seu jogo de cintura

CONFERIR a exposição Anna Bella

fazendo aulas de funk – para alegrar a alma e aliviar os tempos difíceis que estamos vivendo OUVIR a discografia

(@oksana_par), fotógrafa independente de Kiev com passagem por The Washington Post, The New York Times e Le Monde – Entre os Vetores do Mundo, na Danielian Galeria, com cerca de 50 trabalhos, incluindo peças inéditas, da artista carioca Anna Bella Geiger

completa de Dona Ivone Lara (1922-2018) em comemoração aos 100 anos de nascimento da “primeira-dama do samba”

TRAÇAR estratégias concretas, porém sutis, para ocupar sempre mais espaços e fazer cada vez mais a diferença no mercado de trabalho, mas também em outros setores da sociedade

PRODUZIR uma playlist-homenagem só

COMPRAR a mesa de centro Lyon, da

com cantoras mulheres, de Billie Holiday a Maria Bethânia passando por Nina Simone a Luísa Sonza, Cesária Évora, Édith Piaf e Blossom Dearie

Érea, feita com o mármore Taj Mahal e base em bronze envelhecido

com reportagem de carla julien stagni e dado abreu PODER JOYCE PASCOWITCH 11


MULHERES DE PODER

Elas inspiram, transformam e lideram com equilíbrio, garra, alegria, inteligência, disposição e visão de futuro. Com a colaboração de um grupo de executivas conselheiras de grandes empresas, que ajudaram na curadoria e seleção, PODER apresenta as mulheres que estão abalando o mercado corporativo – e não só – do Brasil por carla julien stagni, dado abreu, dolores orosco e paulo vieira


ALCIONE ALBANESI,

Idealizadora e presidente da ONG Amigos do Bem A insólita carreira de Alcione, que decidiu sozinha fazer o proverbial “negócio da China” – sem falar chinês nem conhecer ninguém no país, tornou-se importadora de lâmpadas LED –, foi de alguma forma levada para o Terceiro Setor, que ela enxerga com visão empresarial, exceto pelo fato, sublinhado por ela, de que está a “salvar vidas”. Fundadora da Amigos do Bem, com grande atuação nas regiões mais carentes do nordeste brasileiro, ela já disse a PODER que “não faz conta de quanto posso ganhar, mas de quantas vidas posso transformar”.

FOTOS SHUTTERSTOCK; ARQUIVO PESSOAL; PAULO FREITAS; DIVULGAÇÃO

DILMA SOUZA CAMPOS, CEO da Outra Praia

São várias as razões que levam alguém a empreender. Há quem tenha dificuldades com a chefia imediata, existem os afortunados que recebem um empuxo financeiro, há os vocacionados. No caso da paulistana Dilma Campos, 50 anos, dona da butique de comunicação e de live marketing Outra Praia, preconceito racial foi o trampolim a fazê-la empresária. “Superava todas as metas, tinha ideias que eram aproveitadas, mas via todo mundo subir, e eu não”, disse a PODER, a respeito de seu tempo numa agência de comunicação ligada a um grupo internacional. Há muita gente que abranda o mundo corporativo, como achar que esse tipo de coisa é fruto de um deslize pessoal ou pontual, e mesmo coisa antiga, mas o problema é mais embaixo: chama-se racismo estrutural. Não que ela já não o tivesse vivido – diz ter “aprendido” que era negra ao mudar-se de um colégio público para um privado, onde, num universo de 2.500 alunos, havia, contando ela, três estudantes negros. O sonho de Dilma nesses tempos era ser caixa de supermercado ou, melhor ainda, gerente dessas funcionárias – o único lugar, ela pensava, que uma negra poderia trabalhar sem ser doméstica. Dilma foi construindo sua carreira com afinco e perspicácia. Das aulas de balé para um papel de dançarina no Castelo Rá-Tim-Bum. Daí para assistência e direção de palco e, mais tarde, direção criativa de eventos. Sua Outra Praia, fundada em 2013, começou a se destacar, entre outras razões, pelo viés de diversidade e inclusão que passou a injetar em eventos. Desde coisas sutis, como um aviso afixado no banheiro de que preconceito naquele ambiente jamais seria admitido, a operações mais complexas, como a capacitação da brigada de segurança para a aplicação de revista corporal (como fazê-lo em pessoas trans?) à criação de um drink cujo consumo significa pedir ajuda contra tentativa de assédio sexual. Há cerca de quatro meses, Dilma voltou à TV, desta vez para participar de O Plano É Esse, um reality show corporativo do Multishow, uma espécie de Shark Tank low budget. Mentora dos pequenos empresários que participavam da gincana, ela estava à vontade interpretando a si mesma, um papel que reconhecia sua trajetória profissional. Uma trajetória pela qual os competidores dariam um rim para viver, talvez excluída a parte da opressão em que a carreira de Dilma foi forjada – o que muita gente ainda chama, sem ironia, de “meritocracia”.

“Para novas líder es , o segredo é se livrar da culpa quando se tratar de equilib rar a vida pessoal e a profissional. Send o impossível ser on ipresente, há mom entos em que será nece ssário priorizar um outra agenda, e is a ou so é parte inevitáv el do processo. No longo prazo, tu do se resolve”

Marienne Cout in KPMG no Brasil ho, sócia-líder de Tax Transfor mat

ion da

BEATRIZ BOTTESI head de marketing do Meta Brasil É difícil saber se cuidar da imagem dos produtos do Meta no Brasil é bônus ou ônus. As revelações do Facebook Papers mostraram que a empresa desprezou diagnósticos internos de que gerava transtornos em inúmeros campos, como o da saúde mental de jovens usuárias do Instagram. Mas as ferramentas da Meta são fundamentais na comunicação de milhões de brasileiros, e Beatriz, head de marketing da empresa por aqui, tem noção disso. Com passagem por Coca-Cola, Nike e Red Bull e agência de publicidade, a executiva conheceu o machismo e o narcisismo próprio desse ambiente. Mas as coisas parecem estar a mudar. “Cuidar das pessoas se tornou uma pauta genuína”, disse recentemente. PODER JOYCE PASCOWITCH 13


se

de mental, “Meu conselho é trabalhar a saú so, buscar ero investir em um networking pod carreira e conhecimento, assumir a própria além de não s, não terceirizar para outras pessoa afastar do seu propósito de vida” r

da Rede Mulhe Ana Fontes, presidente Empreendedora (RME)

CAROLINA MENDES DA COSTA,

EMILY EWELL, CEO e fundadora da Pantys

Há menos de oito anos no Brasil, a estadunidense Emily Ewell, 36 anos, já pôde vivenciar de maneiras distintas as agruras de empreender no país. Sócia-fundadora junto com sua sobrinha da Pantys, uma empresa que fabrica lingeries para substituir o consumo de absorventes – e o impacto deles no meio ambiente –, ela atua numa área ainda periférica, o social enterprise. De qualquer forma, não comunga do vício preguiçoso de parte do empresariado brasileiro, aquela que quer estado nenhum, mas não se vexa com desoneração perpétua de imposto. Para ela, o Brasil pode até não ser para iniciantes, mas isso não é um traço claro de distinção. “Cada mercado é um desafio diferente, no Brasil há bem menos competição do que nos Estados Unidos. Lá é muito caro para crescer no negócio, o custo de mídia é alto mesmo para uma empresa como a minha, focada no e-commerce. No Brasil há muita criatividade, e o mercado daqui de moda é um dos poucos do mundo que tem uma cadeia inteira de várias indústrias”, diz. Emily, que trabalhou na Merck e na Novartis, duas gigantes farmacêuticas, na consultora Deloitte e também numa estrutura da ONU para o combate da diabetes pelo mundo e chegou ao Brasil por vias sentimentais, pode-se dizer, não vê por aqui ainda um “mindset” da tão falada economia do stakeholder, aquela que não vê o acionista como a única parte interessada no negócio. A Pantys está no Sistema B, conjunto de empresas que devem promover, com seus modelos econômicos, bem-estar para pessoas, sociedades e planeta, tudo isso a partir de métricas e critérios bem estabelecidos. As peças em tecido biodegradável da Pantys, com bloqueador de odores e capacidade de absorção e durabilidade de dois anos (ou 50 lavagens) são capazes, segundo números da empresa, de substituir 4 quilos de descarte de absorventes por ano – que demandam 400 anos para se decompor na natureza. Além disso, a empresa promove combate à pobreza menstrual com doação de peças a comunidades carentes. Emily ainda criou features de empoderamento feminino, como portais de conteúdo que divulgam informações verificadas sobre menstruação e educação financeira. Tudo isso sem perder a ternura – e a sustentabilidade econômica – jamais. A Pantys chegou a seu break even já em 2018, um ano após ser fundada.

14 PODER JOYCE PASCOWITCH

fundadora da rede Gal Enxergar o óbvio às vezes é coisa apenas para os muito evoluídos. Como a jovem fundadora da Gal, rede de salões de beleza que, à exemplo de tantas empresas do varejo, decidiu que seria uma boa ideia unificar procedimentos e dar identidade visual a salões de beleza – aqueles pequenos ou minúsculos, de bairro. Isso no pior momento da pandemia em São Paulo, com restrições de circulação em curso.

COMUNICATIVAS Andrea Álvares, Álvares vice-presidente de marketing, inovação e sustentabilidade e membro do Comitê Executivo da Natura Christiane Silva Pinto, Pinto gerente de marketing do Google Brasil Danielle Bibas, Bibas vp de marketing da Avon Malu Mertens, Mertens gerente corporativa de marketing e comunicação do Iguatemi Malu Weber, diretora executiva de comunicação corporativa da Bayer Brasil Marcella Kanner, head de comunicação corporativa e de marca da Riachuelo Maria Lúcia Antonio, Antonio gerente de marketing e comunicação da FCA Latam Mariangela Klein, Klein gerente de marketing da Accor Hotels Marina Daineze Keresztes, Keresztes diretora de imagem e comunicação da Vivo Samantha Simon, Simon head de comunicação da JHSF Malls Taciana Lopes, head de marketing WhatsApp Thaya Marcondes, Marcondes diretora estratégica da LBN Hub


PATRICIA VANZOLINI presidente da OAB-SP Quando se decidiu concorrer para quebrar a hegemonia masculina, conservadora e algo retrógada da seção paulista da OAB, a advogada Patricia Vanzolini deve ter suspirado com o tamanho da incumbência. A seção paulista é a maior do Brasil, com 333 mil advogados, e ela buscava se tornar a primeira mulher a presidi-la. Talvez não imaginasse que venceria, em novembro passado, numa disputa renhida com o incumbente, Caio Augusto. De qualquer forma, o som não pode parar e ela já começou uma política de inclusão para promover a igualdade racial na entidade, além de ter aprovado a criação do Conselho da Jovem Advocacia.

FOTOS ANDREA MAYER/ DIVULGAÇÃO; CLAUDIO GATTI/ DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO; CHAPA 14-”MUDA OAB SP”; ARQUIVO PESSOAL

RENATA AFONSO, CEO da CNN Brasil

Com apenas dois anos no Brasil, a CNN viveu momentos turbulentos. Da saída de um de seus pioneiros aqui, o jornalista Douglas Tavolaro, às críticas pelo programa O Grande Debate, que opôs, na opinião de Gabriela Prioli, uma de suas primeiras participantes, o “achismo ao fato”, a “maior do mundo”, no slogan da empresa, agora é liderada por Renata, que fez carreira vertical em cinema e TV. Casada com outra mulher, ela chegou à CNN apresentando esse traço biográfico, e, como disse em entrevista, por querer “fazer uma gestão transparente, não poderia esconder quais são as minhas convicções e quem sou”.

MIRIAN GOLDENBERG, antropó-

loga, professora titular da UFRJ e autora de mais de 20 livros que discutem os caminhos da libertação feminina dos mais diversos tipos de prisão – da estética à sexual. Qual o momento mais importante da sua carreira? Não diria o momento, mas o caminho que percorri. Minhas pesquisas ganharam projeção para fora da universidade porque falo às mulheres com uma linguagem acessível, mas com muito estudo e profundidade. Foi muito especial este ano ver minha palestra no TEDxSão Paulo, sobre meu livro A Bela Velhice, atingir mais de 1,2 milhão de visualizações. Nesse livro, lançado em 2013, você analisa como a sociedade é cruel diante do envelhecimento feminino. Mudou alguma coisa nesses quase dez anos? Sim. Estamos em um movimento de libertação que não tem volta. Nós sofremos muito com essa pressão pela juventude, pelo corpo perfeito e ainda ter que realizar todas as obrigações familiares e profissionais. Mulheres de todas as idades estão dizendo “basta!” e eu tenho muito orgulho de fazer parte disso com meus mais de 30 anos de pesquisas sobre o tema.

INOVADORAS Amália Sechis, fundadora e diretora da Beef Passion, produtora de carne brasileira 100% sustentável Ana Bógus, CEO da Havaianas Barbara Fortes, CEO da Esteé Lauder Chiara Sandri, CEO e fundadora da Lubs Sexual Care Esther Schattan, fundadora e diretora da Ornare Etienne du Jardin, cofundadora e CPO da Mimo Live Sales, plataforma de shop streaming Ingrid Barth, fundadora da fintech Linker Jihan Zogbhi, presidente e fundadora da Dr. TIS, plataforma de telemedicina e software de gestão de imagens médicas para centros de diagnóstico Livia Cunha, fundadora e CEO da Cuco Health, startup de cuidado digital, que foi vendida para o Grupo Raia Drogasil. Livia agora integra o grupo Luciana Resende, vp de marketing da Visa Luciana Ribeiro, sócia da EB Capital Malu Nachreiner, líder da divisão agrícola da Bayer no Brasil Marcia Ferraresi, managing diretor da Patria Investimentos Marina de Mesquita Willisch, vp da GM Monique Lima, cofundadora e CEO da Mimo Live Sales Nathalia Lousa Simões e Nicole Vendramini, cofundadoras da Holistix, startup que repensa o bem-estar Regiane Abreu, especialista em sustentabilidade da Light S/A Renata França, esteticista e empresária, fundadora do SPA Renata França e criadora do método MiracleTouch Renata Gomide, diretora de marketing do Grupo Boticário Sarah Buchwitz, vp de marketing e comunicação Mastercard Sheilla Albuquerque, vp da AgroGalaxy, umas das maiores empresas varejistas do agronegócio Stella Brant, CEO da Liv Up Stephanie von Staa, fundadora e CEO da Oya Care, femtech que ajuda mulheres e pessoas com ovário a se empoderarem dos seus corpos por meio da saúde

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e consolidar a sua “Lembre-se sempre de construir s reconheçam a reputação de forma que as pessoa seu caráter. Fique sua autoridade, conhecimento e l e dedique tempo sempre atenta à sua marca pessoa um excelente networking. Mas para construir relacionamentos e a dedicação e empatia. Dessa form faça isto de forma genuína, com para você” todas as portas estarão abertas administração e membro da Marly Parra, conselheira de o da nança do IBGC e do Conselh Comissão de Ética em Gover iHUB Investimentos XP

CIENTÍFICAS Albertina Duarte Takiuti, ginecologista e obstetra Angelita Habr-Gama, professora titular emérita de cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP). Anna Sara Levin, médica infectologista do Hospital das Clínicas de SP Claudia Cohn, CEO do Alta Diagnósticos Claudia Feitosa-Santana, ensaísta, neurocientista, professora, pesquisadora e palestrante Fernanda Tovar-Moll, médica e pesquisadora Jaqueline Goes de Jesus, biomédica, integrou a equipe que mapeou os primeiros genomas do novo coronavírus (SARS-CoV-2) no Brasil Jeane Tsutsui, CEO do Fleury Ludhmila Hajjar, médica cardiologista Margareth Dalcolmo, pneumologista e uma das vozes mais ativas contra a Covid-19 no Brasil Mariângela Simão, diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS) Natalia Pasternak Taschner, cientista que teve papel de destaque na divulgação sobre a Covid-19 Nísia Trindade, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a primeira mulher a ocupar esse cargo em 120 anos Patrícia Villela Marino, cofundadora e presidente do Instituto Humanitas360, que milita pelo uso de cannabis medicinal

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DANI JUNCO, CEO da B2Mamy

A ideia de que fundadores de startups precisam dedicar a própria vida e algo mais ao negócio não sensibilizou a fundadora da B2Mamy, que capacita mães exatamente para empreender. Dani, que antes de tudo é mãe do Lucas, como ela deixa claro em qualquer manifestação, vive momento de expansão de sua empresa, que atua como aceleradora e desenvolvedora de soluções em educação e geração de renda para mulheres.

MARIANA FALCÃO, CEO da Mr. Veggy

A expressão inglesa “walk the talk” é bastante usada no mundo corporativo. Ela designa que aquilo que uma empresa expressa, ou crê, tem de ser vivenciado internamente. A Mr. Veggy gabarita no quesito, já que ela foi criada em 2004 para dar suporte a vegetarianos como a filha dos próprios fundadores, Mariana Falcão, hoje com 40 anos e agora CEO da empresa. A marca, com grande recall e bem distribuída em supermercados pelo Brasil, fez de Mariana um dos destaques do agronegócio.

PATRICIANA RODRIGUES, presidente do conselho de administração das Farmácias Pague Menos Num setor em que para sobreviver é preciso ir desesperadamente às compras, a Pague Menos vem mostrando um apetite quase incontrolável. Recentemente, arrematou do grupo Ultra a Extrafarma por R$ 700 mi. Patriciana, que é da segunda geração da família fundadora, passou por muitos setores da empresa e hoje, como chair, controla a estratégia, à frente do conselho de administração.

PATRICIA MURATORI, head do YouTube Brasil Diretora do YouTube e participante dos boards da Porto Seguro e da Rio Alto, depois de encerrar uma carreira em publicidade, Patricia parece viver um momento iluminado na plataforma de vídeos do Google, cuja “vertical” de esporte tem quebrado recordes de audiência com a transmissão dos jogos do Campeonato Paulista, no que talvez seja o começo do fim do domínio das TVs abertas no futebol.


SUSTENTÁVEIS

FOTOS FERNANDA FREIXOSA/ARQUIVO PESSOAL; ANDREA REGO BARROS/ DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL

3 PERGUNTAS PARA JULIANA COELHO, líder

global do modo de produção da Stellantis, responsável por unificar o sistema das fábricas da Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot A questão é bastante complexa, mas seu trabalho é unificar um modo de produção que deve ser muito distinto também por questões culturais. Como pretende fazer isso? Nas minhas viagens, comprovei o que já tinha em mente: a diversidade é rica. E essa diversidade de cultura, de olhares e experiências nos permite ter soluções fantásticas em cada planta. Meu trabalho é unificar o método que deve ser utilizado e garantir que nenhum aspecto importante deixe de ser analisado. E fazer isso sem comprometer a criatividade, preservando identidades culturais. Minha rotina hoje envolve várias viagens, mas já estou acostumada com o nowhere office. As ferramentas de comunicação permitem que eu adapte minhas demandas, contornando todas as adversidades. O ambiente das montadoras costuma ser muito masculino. Isso foi obstáculo para você? Como atrair mais mulheres para o setor? Comecei minha vida profissional no polo automotivo de Goiana, em Pernambuco, e acompanhei esse projeto espetacular da indústria desde seu início. Tive a oportunidade de conhecer profissionais e gestores – homens e mulheres - que foram verdadeiros guias na construção da minha carreira. Acredito que as empresas têm um papel fundamental de criar um ambiente receptivo para atrair e reter mulheres profissionais em seus quadros, além de agir internamente para combater qualquer viés que venha a desmotivar ou atrapalhá-las. Diversidade&Inclusão merece um esforço coletivo e acredito que avançamos. Meu papel é ser parte desse esforço inclusivo no dia a dia. Faço parte de um grupo lançado em março dentro da empresa, o Women of Stellantis, que reúne 3 mil colegas de 26 países, cuja meta é ampliar a representatividade e o desenvolvimento das mulheres na empresa. Os objetivos da Stellantis nesse campo são bem conhecidos: 35% de mulheres ocupando cargos de liderança até 2030. Atualmente esse índice é de 24%. Há alguma diferença essencial no jeito feminino de gerir? Cada pessoa tem suas próprias particularidades, mas acredito que importante para liderar é estar em contato com as pessoas, deixar as portas abertas e conhecer o seu próprio time de fato. Não podemos deixar que vieses de gênero, raça ou qualquer outro aspecto interfiram na oportunidade de conhecer e entender o que cada pessoa pode agregar ao time. A diferença essencial não está no gênero do líder e, sim, na diversidade do time.

Célia Parnes, Parnes secretária de Estado de Desenvolvimento Social de São Paulo Juliana de Lavor Lopes, diretora de ESG, Comunicação e Compliance da Amaggi Karen Talita Tanaka, gerente de sustentabilidade da Ambev Karine Bueno, Bueno superintendente de sustentabilidade do Santander Brasil Louise Barsi, economista, analista CNPI e uma das fundadoras da Ações Garantem o Futuro (AGF) Maria Zilda Araújo e Lorian Fürstenberg, Fürstenberg fundadoras e diretoras da Credipaz, organização de microcrédito que ajuda moradores de comunidades carentes

“Acredite em você, confie na sua intuiçã o. Invista no network e em boas mentoria s, nunca se esqueça do poder da sororidad e. Mantenha a corage m e a ousadia de se r quem você é. Faça suas es colhas com convicç ão e leve outras mul com você nessa jorn heres ada. Seja a líder qu e sempre sonhou em E, mais importante ter. , confie, você está pr onta”

Andrea Bisker , CEO e fundad ora Spark: off, ag de tendências ên

cia

MARIANA VASCONCELOS CEO e fundadora da Agrosmart No muito conflituoso agronegócio brasileiro, com setores retrógados convivendo com empresas de ponta, a Agrosmart optou por um caminho claramente contemporâneo. Com a internet das coisas (IOT), a agtech fornece tecnologia para incrementar a produtividade no campo, especialmente no entendimento do regime de chuvas e de irrigação. Hoje isso parece démodé, mas definitivamente não o era em 2009, quando Mariana fundou a empresa.

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CAMILA ACHUTTI, CEO e fundadora da MasterTech

Se não há sorte, mas preparação para a oportunidade, como se diz frequentemente, a oportunidade vem sorrindo para a paulistana Camila Achutti, 31 anos. Cofundadora e sócia da MasterTech, uma escola de programação – ou de pensamento computacional, como ela prefere –, Camila construiu um caminho inusitado na tecnologia, uma área profundamente masculina. Rara mulher no curso de ciências da computação da USP, ela iniciou um blog para dar conta exatamente disso, o fato de ser mulher nesse ambiente. Seus relatos conquistaram adeptas, que se reconheceram neles, a ponto de a autora vir a ser tratada como melhor amiga de estudantes de computação que nunca havia visto. Desde então, a oportunidade parece não ter dado descanso para ela. Depois de passar por um curto estágio como engenheira de computação na sede do Google, na Califórnia, ganhar o reputado prêmio Women of Vision, da instituição Anita Borg – prêmio que Camila jamais imaginou ser concedido para uma estrangeira –, ralar no desenvolvimento de softwares, ela então fundou a MasterTech, dando concretude a um desejo que descobriu ter desde sempre. Camila vê o domínio da tecnologia como uma ferramenta muito poderosa de transformação social, e quer que esse conhecimento chegue ao maior número de pessoas. Isso já estava na gênese da escola, em 2016, mas foi durante a pandemia que ela viu a necessidade de agir “politicamente”, abandonando o plano mais idealista para trabalhar com o aqui e agora, numa ótica meio Paulo Freire, meio Augusto Boal. Assim, além de decidir não disfarçar seu descontentamento com os rumos do país, procurou formas de aumentar exponencialmente o alcance de seus cursos. Veio então, o investimento – também em grana – no que chama de plataformas, que hoje são o cerne da MasterTech. Ela também fundou a ONG Somas, que tem como um de seus projetos atuais capacitar menores internos da Fundação Casa, ajudando-os efetivamente a desempenhar um papel na sociedade. Camila reconhece que a escrita de linhas de código vem ficando cada vez mais acessível, mas acha que a arquitetura de programação permanecerá bastante exigente. E aí ter intimidade com o tal pensamento computacional faz toda a diferença. “É como dominar, pensando no passado, a lógica, a retórica e a gramática, mas agora em ambientes digitais”, diz. “Quero ajudar a criar as bases para um pensamento crítico, em que seja possível reconhecer as entradas – os fatos –, encontrar as relações de causa e efeito, isso tudo num ambiente de maior complexidade e de muito mais velocidade nas decisões.”

A pandemia ajudou a XP a aumentar gradativamente seus compromissos de equidade e inclusão. Depois de lançar fundos com foco em liderança feminina, a corretora se voltou para si mesma. Há cerca de um ano tem ainda uma executiva de impacto social. Marcella Coelho, que passou por Greenpeace e União Amazônia Viva, tem o objetivo de levar educação financeira ao maior número possível de pessoas. A meta não é abstrata – é, na verdade, impressionante: quer impactar 25% da população brasileira.

MIDIÁTICAS Bia Aydar, presidente da Semparar Comunicações Elisabetta Zenatti, diretora de conteúdo da Netflix no Brasil Fatima Pissarra, sócia da Mynd Kiki Moretti, CEO do grupo In Press Lucia Cucci, diretora de Mídia TracyLocke Maristela Mafei, jornalista e fundadora do Grupo Máquina Samantha Almeida, executiva da Globo

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LAURA CARVALHO, economista e professora

A economista e professora da Faculdade de Economia e Administração da USP precisou de uma pandemia, e a consequente restrição da atividade econômica global, para ver suas teses sobre desigualdade serem acolhidas pelo mainstream do liberalismo econômico brasileiro. A também autora do livro Valsa Brasileira tem uma hipótese que deveria ser apreciada sem mais aquela num país com tamanha discrepância social: o estado de bem-estar social vem primeiro.

“Compartilhem mais a experiência e o conhecimento de vocês… sem dúvida têm muito a ensinar. Obrigada por nos representar com tanta maestria” Soraya Corona, presidente do Conselho de Administração na Smart Fit

IANA CHAN, CEO e fundadora da PrograMaria Formada em jornalismo, a fundadora da PrograMaria viu que não era exatamente na imprensa que estava a sustentabilidade econômica que qualquer pessoa equilibrada almeja. Ao passar a trabalhar numa aceleradora de startups, a filha de chineses viu o déficit de equidade na área de tecnologia, e decidiu fazer algo a respeito. Sua PrograMaria, que começou oferecendo expertise para montagem de sites, hoje é contratada por empresas para treinar mulheres para vagas de TI, raro setor do Brasil em que se admite mais do que se demite.

FOTOS THAYS BITTAR/ DIVULGAÇÃO; ADRIAN IKEMATSU; BEATRIZ CHICCA/DIVULGAÇÃO; PAULO FREITAS

MARCELLA COELHO, head de impacto social da XP


INCLUSIVAS Camila Bombonato, Bombonato gerente de diversidade e inclusão do Twitter Carolina Sierra, Sierra líder do setor de cultura organizacional e diversidade da Vivo Daniela Sagaz, Sagaz head de diversidade, equidade e inclusão da Mondelez Elineide de Castro, Castro gerente de RH e head de diversidade da Mercedes-Benz: Esabela Cruz, Cruz head de diversidade e inclusão do Mercado Livre Flavia Ramos, Ramos responsável por Gestão de Talentos, Gestão de Mudanças, Inclusão e Diversidade da Bayer Helen Andrade, Andrade gerente de diversidade e inclusão da Nestlé Jackeline Busnello, Busnello gerente de diversidade e inclusão do Bradesco Jandaraci Araújo, Araújo cofundadora do Conselheira 101 e CFO da 99jobs Karina Chaves, Chaves gerente de diversidade e inclusão da Basf Leila Luz, Luz gerente de diversidade e inclusão da Coca-Cola Liliane rocha, rocha CEO da Gestão Kairós Lorenna Oliveira, Oliveira supervisora de diversidade, inclusão e responsabilidade social para a América Latina da Electrolux Michele Salles Villa Franca, Franca gerente de diversidade, inclusão e saúde mental da Ambev Renata Dourado, head de diversidade e inclusão da L’Oréal

JOANITA MAESTRI KAROLESKI, presidente do

Fundo JBS pela Amazônia Depois de uma atuação marcante na pandemia, envolvida com a construção de hospitais e doação de ventiladores pulmonares, a executiva pôde se voltar agora com mais vigor para a Amazônia, região que convive com recordes de desmatamento. O fundo, que prevê a possibilidade de chegar a R$ 1 bi até 2030, tem a JBS como maior participante.

SUE ANN COSTA CLEMENS, pesquisadora

Tendo deixado o Brasil para escalar a carreira acadêmica – e na Itália, por exemplo, iniciar o primeiro programa de mestrado mundial em vacinologia –, Sue Ann voltou ao país para liderar por aqui a mais auspiciosa parceria internacional no combate à Covid-19, o consórcio Oxford-Fiocruz-AstraZeneca. Ela coordenou os seis centros de ensaios clínicos do Brasil, fundamentais no desenvolvimento de um dos imunizantes mais usados no mundo no combate à pandemia. O Brasil colhe os frutos, não só pela ampla cobertura vacinal, como na chegada de uma unidade da decana universidade britânica ao Rio.

“Meu conselho para novas líderes é que elas vi venciem, de forma genuína e au têntica, os seus valores. Procur em ser líderes inspiradoras, capaze s de levar suas equi pes além do que imagin am poder ir. Ter pers ist ência, disciplina e trabalh ar de forma colabora tiv a são atitudes que sempr e me ajudaram mui to. Também é imprescindível bu scar aprender cons tantemente. Para tanto, é muito importante pratica r a escuta ativa, ter humildad e e curiosidade”

Gabriela Baum ga do IBGC (Institu rt, membro do conselho to Brasileiro de Governança Corporativa)

SONIA GUIMARÃES, física Muito se fala do pioneirismo de mulheres na área de TI, mas o buraco era mais embaixo quando a paulista Sonia Guimarães foi convidada a dar aulas no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o ITA, nos anos 1990. A instituição simplesmente não aceitava alunas mulheres e certamente tinha pouca afinidade com professoras – ainda mais professoras negras. Formada em escolas públicas e daí em física na Universidade Federal de São Carlos, tornou-se a primeira negra brasileira com doutorado na disciplina (mais especificamente: materiais eletrônicos na Universidade de Manchester). Hoje, além de participar de ações de inclusão e diversidade, ela é mantenedora da Universidade Zumbi dos Palmares. CARMITA ABDO psiquiatra e sexóloga O currículo lattes da psiquiatra Carmita Abdo, professora de psiquiatria da USP e fundadora do Programa de Estudos em Sexualidade desse departamento, não é propriamente sucinto. Vale pinçar dali que Carmita coordenou “amplo estudo nacional sobre envelhecimento, saúde geral e dificuldades sexuais” e também a pesquisa Mosaico Brasil, que buscou entender o “comportamento afetivo-sexual do brasileiro”. Com essa base formidável de dados, Carmita segue a construir um conhecimento riquíssimo, que tem tudo para orientar decisões de impacto massivo.

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MARTA DIEZ, presidente da

Pfizer no Brasil Antes mesmo de se tornar a farmacêutica mais falada do Brasil e colocar à disposição do país carga de vacinas contra a Covid-19 que acelerou a campanha de imunização, a Pfizer viu ascender à presidência brasileira a espanhola Marta Diez, primeira mulher a dirigir os negócios da companhia por aqui. A chegada de Marta se deu antes da ida de Carlos Murillo, presidente da Pfizer na América Latina, a uma das sessões mais reveladoras da CPI da Covid, em maio passado.

ESTER SABINO, imunologista e pesquisadora

A ex-diretora do Instituto de Medicina Tropical da USP, que ajudou a liderar o sequenciamento do genoma do zika vírus, teve papel protagonista na identificação da variante gama do SARS-CoV-2. Foi liderando equipes multidisciplinares que ela se destacou na descoberta de soluções vitais para a interrupção de endemias – e pandemias – no Brasil. A importância da pesquisadora é reconhecida pelo prêmio que leva seu nome, criado pelo governo de São Paulo em 2021, que valoriza mulheres cientistas paulistas.

FINANCEIRAS Carol Sandler, fundadora da plataforma Finanças Femininas Carol Paiffer, presidente da Atom, empresa de educação financeira Carolina Cavenaghi, fundadora da Fin4she Cassiana Fernandez, economista-chefe do J.P. Morgan no Brasil Ilana Bobrow, sócia-fundadora e executiva da Vitreo, empresa do mercado financeiro Leda Paulani, professora titular da Faculdade de Economia da USP Monica de Bolle, economista e professora da Universidade Johns Hopkins Nathalia Arcuri, fundadora da plataforma de educação financeira Me Poupe! Nathália Rodrigues, a Nath Finanças, youtuber e orientadora financeira Patricia Ellen, secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de SP Renata Mancini Lopes, presidente da ABCripto (Associação Brasileira de Criptoeconomia) Zeina Latif, economista e consultora na Gibraltar

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ARTÍSTICAS Ana Elisa Egreja, artista plástica Beatriz Milhazes, artista plástica Cleissa Regina Martins, primeira roteirista negra a ter um projeto autoral na TV Globo, ganhou um Leão de Ouro pela produção Juntos a Magia Acontece Fernanda Montenegro, atriz e membro da ABL Ingrid Silva, primeira bailarina do Dance Theatre of Harlem, em Nova York Maria Bethânia, cantora

“Liderar pessoas e empresas é manter-se serena e firme diante do imprevisto, sabendo discernir o urgente do importante na pilha de tarefas que chegam sem avisar. É também ter a habilidade de interpretar os sentimentos dos outros e encontrar, para cada um deles, a palavra e o gesto corretos” Daniela Graicar, fundadora e CEO da agência Pros e criadora do Movimento Aladas, em apoio ao empreendedorismo feminino

ANA PAULA VESCOVI, economista-chefe do Santander Ex-secretária do Tesouro Nacional, ex-secretária executiva do Ministério da Fazenda e hoje economista-chefe do Santander, a economista passou 25 anos na máquina pública, acumulando conhecimento que deve ser bastante útil para o banco espanhol. No estado, suas teses, outrora dogmáticas, hoje são bem mais polêmicas – ela foi responsável pelos planos recentes de desinvestimento público do governo capixaba de Paulo Hartung no começo dos anos 2010. A economista vê com muita preocupação a implosão do teto de gastos e as altas sucessivas dos juros, processo que ela considera “concentrador de renda, injusto, incerto e desigual”. ALICE COUTINHO,

cofundadora da NewNetwork Em comunicação, pode-se dizer que o grupo Mulheres do Brasil está em boas mãos: Alice, que vendeu para o Grupo ABC (e depois para o Omnicom) sua New Style, agência de marketing promocional premiada, é quem lidera esse comitê na entidade. Atualmente é sócia da NewNetwork, focada em startups.


FOTOS DIVULGAÇÃO; PAULO FREITAS; ARQUIVO PESSOAL; ANDRÉ LIGEIRO

FILOSÓFICAS

LISIANE LEMOS, gerente de diversidade, equidade e inclusão de recrutamenteo no Google para América Latina São diversas as atribuições que integram o currículo da executiva gaúcha Lisiane Lemos, 32 anos, exposto em sua conta no LinkedIn. Além do cargo atual de líder de recrutamento de diversidade e inclusão do Google para sete países da América Latina, ela é LinkedIn “Top Voices”, palestrante do TEDx, professora de MBA e cofundadora do Conselheira 101, organização que tem por finalidade capacitar profissionais negras para ocupar cadeiras de conselhos de empresas. Há mais, e a impressão que se tem é que ela pode continuar acumulando cargos – e encargos. Embora tenha se tornado uma das principais, quem sabe a principal, dentre as vozes negras do ambiente corporativo, Lisiane não chegou ao Google para ocupar a cadeira em que hoje está. Tendo passado antes pela Microsoft, ela atuou algum tempo em aquisições de novos negócios, função que dá para traduzir precariamente por “vendas”. A figura do profissional responsável por injetar diversidade e inclusão no Google já existia em outros mercados, mas não por aqui. Mais uma vez, o nome da função parece não dar conta do tamanho do trabalho, já que Lisiane sabe que a missão só começa com o recrutamento. É preciso cuidar para desenhar planos de carreira sustentáveis para reter os talentos negros e indígenas que chegam. “Uma vaga nunca é só uma vaga, existe um antes, um durante, um depois, é preciso garantir que a pessoa vai ser bem-sucedida, terá uma remuneração alinhada com a do mercado”. Para ela, um dos “magic moments” de sua carreira foi justamente cumprindo essa missão, no fim de 2021, quando colocou no ar um banco de talentos negros – e de PCDs – para vagas, por exemplo, em engenharia. Havia por aqui apenas um programa de estágio com esse viés. No Google, uma das empresas de maior valor de mercado do mundo e que é modelo de gestão de trabalho para tantas companhias, ela sabe que a repercussão do seu trabalho é imenso, por isso fez questão de estudar a fundo questões legais e históricas envolvendo as minorias nos países de sua abrangência. Assim como Dilma Campos, Lisiane também contou em apresentação no TEDx como a experiência do racismo estrutural marcou sua vida e como desse amargo limão – ou coisa muito pior – vem fazendo muita limonada. Não ter sido convidada, junto com a outra amiguinha parda, para uma festa de uma colega de classe no McDonald’s com direito ao McLanche Feliz, pode ter sido o ano zero de sua trajetória modelar.

Adélia Prado, Prado poeta, filósofa e romancista Djamila Ribeiro, Ribeiro filósofa Elaine Ramos e Gisela Gasparian , sóciasfundadoras da Ubu Editora Guita Grin Debert, Debert antropóloga Jaqueline Conceição, antropóloga Jarid Arraes, Arraes escritora, cordelista e poeta Lygia Fagundes Telles, Telles escritora Mary Del Priore, Priore historiadora Maria Homem, Homem ensaísta e psicanalista Martha Medeiros, Medeiros escritora Nélida Piñon, Piñon escritora e membro da ABL Scarlett Zerbetto Marton, Marton filósofa Sueli Carneiro, Carneiro filósofa e ativista Tati Bernardi, escritora Vera Iaconelli, Iaconelli psicanalista, mestre e doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo

HELENA BERTHO, head global de D&I do Nubank Antes de assumir como head global de D&I do Nubank, no fim do ano passado, Helena Bertho já havia deixado seu legado em multinacionais como L’Oréal e Coca-Cola. Sua expertise em comunicação, gestão de marca e sustentabilidade a preparou para atuar na área de diversidade e inclusão que, segundo ela, “sempre foi sobre inovação, relevância e impacto”. A executiva se consagrou como referência no mundo corporativo, reforçando seu papel pessoal e profissional, que lhe rendeu o prêmio Sim à Igualdade Racial 2021, promovido pelo Instituto Identidades do Brasil.

o para a “Uma boa líder é como um maestr car o melhor orquestra. Precisa conhecer e bus sica é feita da de cada um. Porque toda boa mú plementares. Assim com e tes somatória de sons diferen ” também funciona uma boa equipe

selho de administração do Bel Humberg, vp do con ra da plataforma OQVestir Grupo Malwee e cofundado

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KIM FARRELL, head de marketing do TikTok

América Latina A estadunidense de Boston comanda de São Paulo o marketing do TikTok na América Latina – o Brasil é um dos grandes mercados do app chinês. Os vídeos coreografados próprios do aplicativo não apenas “causaram”, como exigiram que o mercado de alguma forma se adaptasse ao formato – e sessões de live marketing passaram, por exemplo, a ter grande relevância. Tendo trabalhado também no Booking e no Google, ela vê o TikTok como “epicentro” da criatividade, como disse à revista Propaganda & Marketing, e isso coloca pressão no próprio trabalho e na formação de uma equipe antenadíssima.

CRISTINA JUNQUEIRA, cofun-

dadora e CEO do Nubank Cristina está no Top 10 do ranking de líderes corporativos da Merco, tendo escalado 64 posições em 2021. Com 2,9% de participação do Nubank, a empresária foi por poucos dias rara bilionária brasileira, logo após o IPO do banco digital em Nova York, no fim do ano passado. É engenheira com graduação e mestrado pela Poli-USP e MBA pela Northwestern University. Começou a carreira em consultoria estratégica e trabalhou em bancos tradicionais antes de fundar o Nubank em 2013. No mês passado, foi eleita a segunda mulher mais importante do mundo no universo das fintechs pela revista britânica FinTech Magazine.

RUMO AO TOPO

5 dicas de Fatima Zorzato, Zorzato, headhunter, fundadora da INWI Consulting e autora de O Que Faz a Diferença (ed. Cia. das Letras)

PTenha coragem para arriscar, para tentar mesmo

quando não tenha certeza. É isso que vai te levar mais longe. Se tiver com medo, pare e converse com alguém. Falar vai te fazer mais leve e enxergar melhor.

PTenha mentores. Pode ser chefe, pode ser um(a) amigo(a),

pode ser alguém que você olhe como espelho e mire o exemplo, mas tenha “modelos para seguir”.

PDesenvolva a escuta ativa. Isso que vai levar mais longe,

desenvolver empatia e sensibilidade para entender melhor a dinâmica dos grupos.

PAjuste a lente de percepção: desenvolva soft skills com a mesma preocupação que você busca conhecimento técnico e setorial, com o mesmo interesse que desenvolve visão e lado estratégico.

PBusque todas as formas possíveis para ter feedback sobre o

que são seus pontos fortes e gaps. Self-awareness faz diferença na vida na hora de traçar plano de desenvolvimento.

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3 PERGUNTAS PARA NINA SILVA , CEO e uma

das fundadoras do Movimento Black Money e da fintech D’Black Bank. Eleita a Mulher Mais Disruptiva do Mundo pelo Global Women In Tech Awards 2021. Qual o seu propósito como empresária? Promover oportunidades de acessos com equidade a grupos minorizados, com priorização à comunidade negra no Brasil. Racismo estrutural é a base edificante das desigualdades sociais em nosso país e será no desmantelamento do sistema que toda a sociedade se beneficiará com a real autonomia da população negra majoritária em números populacionais. Sua maior conquista? Foi ter construído um hub inovador para autonomia de uma maioria que beneficia toda a sociedade. Há quatro anos fundei o Movimento Black Money, junto com meu sócio Alan Soares, para apoiar empreendedores pretos e pretas em seus negócios com objetivo de buscar a autonomia dessa população no Brasil. Entre as nossas principais iniciativas estão o Mercado Black Money, um marketplace para conectar consumidores a pequenos negócios – são mais de 1.800 lojistas pretos – que fez circular mais de R$ 300 mil em 2020, no primeiro ano do projeto; o Impactando Vidas Pretas, que capta doações financeiras com instituições privadas, editais e pessoas físicas para ajudar famílias lideradas por mães solos e afroempreendedores que foram desassistidos durante a pandemia; o Black Vagas, que apoia grandes empresas na jornada de enegrecimento de suas ações internas e eternas; e o Afreektech, que tem o objetivo de trazer o futuro para junto da comunidade negra, democratizando o ensino de tecnologias e mídias para empreendedoras, jovens e meninas negras, já tendo impactado mais de 5 mil pessoas. Uma marca que define a sua trajetória empreendedora? Ubuntu [conceito de origem africana]. Eu sou porque você é. Não existe vitória individual sem impacto coletivo.


“Me sinto ‘dona da rua’ quando percebo que existem mulheres e meninas que se insp ira m em mim, mas també m quando me inspiro em outras mulheres incr íveis. Acredito muito na frase: ‘Quando uma mulher sobe, puxa as outras!’”

Mônica Sousa, di Sousa Produçõe retora-executiva na Mauricio de s

NATHÁLIA CAVALIERI, general

FOTOS DIVULGAÇÃO/NUBANK; DIVULGAÇÃO; ARQUIVO PESSOAL; PAULO FREITAS; MARCO OVANDO/ DIVULGAÇÃO

manager da Hotmart Unicórnio brasileiro da leva de 2021, a Hotmart começou como plataforma para venda de e-books e cursos on-line. Dez anos se passaram, e o negócio evoluiu para solução de tecnologia para os mais diversos produtos. Tendo entrado como analista de marketing, a mineira Nathália ascendeu para general manager, cargo vital na construção de cultura corporativa de uma empresa que multiplicou por 13, em curtíssimo tempo, seu quadro de colaboradores.

JUSTAS Flavia Rahal, advogada e presidente do conselho do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) Laurita Vaz, ministra do Superior Tribunal de Justiça Gabriela Manssur, promotora de Justiça do Estado de São Paulo Joênia Wapichana, primeira mulher indígena a se formar em Direito no Brasil, coordenadora do departamento jurídico do Conselho Indígena de Roraima (CIR) Maria Cristina Peduzzi, presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Renata Mei Hsu Guimarães, advogada do Direito de Família e Sucessões Rosa Weber, ministra do STF Samara Pataxó, advogada indígena que luta contra o marco temporal no STF Vercilene Francisco Dias, coordenadora do departamento jurídico da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos

ADRIANA VAREJÃO artista plástica A artista carioca se tornou um dos principais nomes da arte contemporânea brasileira, abrindo mercado internacional para suas obras de enorme dramatismo como os azulejos da série Carnívoras. Atualmente está em cartaz na Pinacoteca de São Paulo em grande retrospectiva com mais de 60 obras que abrangem quatro décadas de produção

DORA CAVALCANTI, advogada, fundadora

do Innocence Project Brasil A criminalista, que é conselheira nata do Instituto de Defesa do Direito de Defesa, foi sócia do escritório de advocacia do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos e trouxe para o Brasil o Innocence Project, cuja finalidade é libertar pessoas condenadas injustamente. Ela também concorreu à presidência da OAB paulista. A derrota, nada amarga por ter sido para uma colega mulher, não tira o foco de Dora, que, como diz em seu LinkedIn, “se preocupa em fortalecer a presença feminina na advocacia criminal”.

MARIA ANGELA DE JESUS, diretora sênior

de produção da VIS Américas Depois de 21 anos na HBO e três na Netflix, tendo deixado algumas das produções brasileiras mais importantes desses players por aqui – de Mandrake e PSI a Bom Dia, Verônica –, a executiva assumiu a direção de produção da VIS Américas (braço da ViacomCBS para a América Latina). Espere grande movimentação dos canais do conglomerado como Comedy Central, Nickelodeon, MTV, além do Porta dos Fundos, de quem a Viacom é sócia majoritária.

ANITTA, cantora

A carioca foi destruindo muros com sua gigantesca ambição e talento. Em março, se tornou a primeira artista brasileira a ter uma música no topo do pódio global do Spotify. Sua carreira internacional explodiu a partir de uma estratégia matadora, ao fazer parcerias estratégicas com outros cantores e gravar em espanhol e inglês. Mas o pop não é capaz de comportá-la: num raríssimo movimento, ela se tornou a própria empresária e agente, além de passar a ocupar uma cadeira no conselho do Nubank, construindo pontes entre o banco digital e enorme mercado potencial de clientes. PODER JOYCE PASCOWITCH 23


A RÉGUA MUDOU DE LUGAR

Ações de inclusão mostram que empresas que não abandonarem o mito do antagonismo entre diversidade e meritocracia ficarão para trás em inovação e credibilidade

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uando o assunto é inclusão nos ambientes corporativos, ocorre um senso comum de que o grande desafio dos gestores de recursos humanos é encontrar pessoas diversas e com currículo suficiente para assumir os cargos – em especial, os de liderança. Seguindo essa lógica, as empresas teriam que “baixar a régua” nos processos seletivos para compor, enfim, um time plural, com profissionais de diferentes gêneros, raças e perfis sociais. Para alguns dos maiores especialistas no tema – com o reforço de pesquisas recentes – empresários que ainda pensam assim correm o risco de ver sérios danos à reputação

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e ao valor de seu negócio. Presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Leila Abraham Loria garante que o antagonismo entre diversidade e meritocracia já está mais que ultrapassado. “Não se trata de ‘baixar a régua’ nos processos seletivos. Mas entender que essa mesma régua mudou de lugar e ficou mais complexa”, explica. “No passado, as exigências eram mais relacionadas aos hard skills, se o profissional havia feito a melhor faculdade ou se falava vários idiomas. Hoje, as pesquisas sobre os futuros desafios da mão de obra ressaltam os soft skills. Desde aqueles mais comportamen-

tais até os de inovação.” Executiva do mercado financeiro e cofundadora do Conselheira 101, programa de incentivo ao acesso de mulheres negras em conselhos de administração, Jandaraci Araújo reforça que uma equipe composta 100% de homens brancos e hipergabaritados não é garantia de sucesso. “Quando a gente pensa em inovação, de onde virão as novas ideias? Na concordância ou na discordância? Inclusão não é sobre baixar ou subir a régua: é sobre agregar.” Pesquisa da consultoria britânica PwC realizada em 2020 que ouviu 3 mil profissionais de 25 empresas em 40 países, apontou que diversidade

FOTOS JORGE ROSENBERG/DIVULGAÇÃO; PAULO VITALE/DIVULGAÇÃO

Colaboradoras da JBS se reuniram na semana do Dia Internacional da Mulher para debater a consolidação da participação feminina na corporação


Em março de 2021, a JBS contratou a RM Consulting, consultoria de Rachel Maia, executiva com larga experiência em políticas de inclusão e diversidade, para impulsionar suas ações. Atualmente, a JBS também faz parte do Movimento Mulheres 360, que reúne 63 empresas para promover a diversidade e ampliar a participação feminina no ambiente corporativo. Para Leila Abraham Loria, que, além de presidente do IBGC, é integrante do Conselho de Administração da JBS, ações como essa estão em sintonia com um futuro que se aproxima em ritmo acelerado. “As empresas não terão sucesso lá na frente se não acompanharem toda essa disrupção que a gente vive agora. Gerenciar esses talentos diversos será um grande desafio para as companhias.”

“É importante que as empresas tenham metas de diversidade. Mas é essencial que se pense em como esses profissionais se desenvolverão nos cargos” Leila Abraham Loria, Loria,

presidente do Conselho de Administração do IBGC deveria ser prioridade das corporações. No entanto, apenas 26% dessas mesmas organizações tinham metas de inclusão e só 5% delas alcançaram bons resultados com programas de capacitação. Esse desalinhamento, segundo Leila, pode ser explicado pela maneira como quem está nas posições de poder no dia a dia conduz essas ações afirmativas. “É importante que as empresas tenham metas de diversidade, como, por exemplo, alcançar um percentual maior de mulheres nas posições de liderança. Mas há outros fatores a serem considerados”, propõe a presidente do IBGC. “É essencial pensar que depois que essas profissionais entrarem nesses cargos, como elas se desenvolverão? Que planos de carreira haverá para elas?” EQUIDADE E INCLUSÃO No Brasil, a presença feminina no mercado de trabalho deve chegar a 64,3% até 2030, como indica levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

De olho nessa tendência, grandes corporações nacionais vêm desenvolvendo mentorias e ações afirmativas para que as mulheres estejam em maior número não só no quadro geral, mas nos postos de comando. A JBS, líder global em produção de alimentos à base de proteína, criou, em outubro passado, o Grupo de Afinidade Mulheres. Formado por colaboradoras que pertencem às marcas da companhia como Seara, Swift, Friboi, JBS Couros e JBS Novos Negócios, o grupo tem o objetivo de aumentar iniciativas de equidade de gênero como parte do desenvolvimento da empresa. Também estão em atuação grupos de afinidade étnico-racial, pessoas com deficiência e LGBTQIAP+. “Temos muitas oportunidades de tornar nosso ambiente mais igualitário frente ao tema diversidade e vamos trabalhar para isso no sentido de conscientizar os colaboradores e promover iniciativas que deem resultado a curto, médio e longo prazos”, conta Luciara Rech Peil, diretora executiva de inovação e P&D, qualidade e CIEX da Seara e líder do Grupo de Afinidade Mulheres.

“Inclusão não é sobre baixar a régua nos processos seletivos. É agregar talentos”, diz Jandaraci Araújo, cofundadora do programa Conselheira 101. Abaixo, a executiva Luciara Rech Peil, que comanda o Grupo de Afinidade Mulheres da JBS

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CORRIDA

ESTRELA SOLITÁRIA

Protagonista na CPI da Covid-19, senadora Simone Tebet sustenta – até agora – a única candidatura feminina à Presidência do Brasil. Ela explica o que isso significa caminho até as eleições presidenciais de outubro não será fácil para Simone Tebet, a única précandidata mulher da disputa, e pode se fechar a qualquer momento. O MDB da senadora do Mato Grosso do Sul exibe, há décadas, inabalável vocação adesista. Mas, em 2022, na busca de um candidato viável com perfil de centro, a sigla definiu acordo com dois outros partidos, o União Brasil e o PSDB. Assim, caso a senadora siga com seu já tradicional 1% nas pesquisas eleitorais, poderá ter seu nome rifado mais à frente. Mas seu principal oponente nesse arranjo, o governador paulista João Doria (PSDB), além de igualmente patinar nas pesquisas, tem maior índice de rejeição. A parlamentar viveu um 2021 auspicioso, ano em que sua pré-candidatura foi lançada. De início, houve a tentativa vã de se eleger presidente do Senado contra Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que angariou apoios à esquerda e à direita; depois, teve performance notável na CPI da Covid-19, protagonizando o melhor momento das muitas sessões da comissão, quando extraiu do relutante deputado Luis Miranda (Republicanos-DF) a delação do nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, que teria interesses nada republicanos num contrato de fornecimento de vacinas. Simone, filha do ex-senador mato-grossense Ramez Tebet (1936-2006), tem experiência executiva, tendo sido prefeita por dois mandatos em Três Lagoas (MS) e vice-governadora de seu estado. Já como senadora, presidiu a CCJ e participou da CPI da Covid por uma via heterodoxa, representando a bancada feminina da casa, já que nenhuma das 13 senadoras aparecia como membro titular da comissão. Aqui, os principais momentos da entrevista da senadora com os editores de PODER.

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MULHER CANDIDATA PROCURA

“O fato de ser a única mulher pré-candidata foi uma das principais razões para eu aceitar essa missão. Entendo que o problema do Brasil é tão grave, são tantos retrocessos, que eu não podia me furtar, mesmo sabendo que meu mandato se encerra em 2022, de dar minha parcela de contribuição diante do cenário catastrófico que o Brasil atravessa. Paralelo a isso, [há] a responsabilidade de ser pré-candidata do maior partido do Brasil, que foi decisivo no processo de liberdades públicas quando vozes se calaram e partidos foram extintos – foi o MDB que acolheu essas vozes. Uma das pautas, que nós não podemos deixar sequestradas pela esquerda, é a da justiça social e a dos direitos das minorias, uma causa que sempre foi do MDB. Minha pré-candidatura é um resgate da minha história como mulher. Entrei na vida pública porque queria servir de forma diferente e creio que, de algum modo, estou representando todas as mulheres que fazem política no Brasil. O Brasil da desigualdade social sem precedentes, o Brasil da inflação, do desemprego, da violência contra a mulher, não pode, neste momento, prescindir de um timbre feminino.”

A VOZ FEMININA

“Pesquisas mostram que mulheres são as mais indecisas neste momento no eleitorado. O que significa [querer] não continuar com o presente, nem voltar ao passado. Acredito que esta eleição quem novamente irá decidir são as mulheres. E não apenas porque somos maioria. Porque somos as primeiras a ver e a sentir, na pele, o desgoverno. Lembramos também dos escândalos do passado, não apenas de corrupção, mas de má gestão.”

FOTO DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO

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POR DADO ABREU E PAULO VIEIRA


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SUB-REPRESENTAÇÃO POLÍTICA

“A média mundial é 30% de parlamentares mulheres. Na Bolívia são 50% no Parlamento, no Brasil 15%. Se comparar com os países da América Latina estamos no rodapé. Somos muito sub-representadas, mas nos multiplicamos. Desde os decretos inconstitucionais [de Bolsonaro] para liberar o armamento, afinal são as mulheres as maiores vítimas das armas de fogo, vítimas do feminicídio. Os nossos filhos, os jovens das periferias, os negros, são esses que mais morrem com arma de fogo. Nós não estamos mais falando sobre avanços, mas de neutralizar os retrocessos.”

UM GOVERNO FEMININO – MAS NÃO SÓ

“Se for eleita, o ministério terá 50% de mulheres e 50% de homens. Isso pelo fato de acreditar piamente na equidade, de que temos homens e mulheres competentes. Vamos compor pela capacidade. Temos que dar o exemplo da equidade, mas não precisa ser 50/50. No Parlamento, por exemplo, não estamos reivindicando 50% das cadeiras, mas ao menos a média mundial, de 30%. Imagine dobrar os 15% de mulher na política nacional, o quanto não teríamos a colaborar com políticas públicas voltadas para a juventude, para os menos favorecidos, as crianças, os idosos.”

PRESIDENTE OU PRESIDENTA?

“Prefiro presidente. Até porque não há ‘presidento’. E em homenagem ao direito de todos e todas de terem a sua orientação sexual livremente, sem medo de andar na rua, de ser espancado, violentado, acho que presidente é uma homenagem a todos.”

DILMA E A MISOGINIA

“Me perguntam como ‘o governo Dilma, que não deu certo, afeta a minha candidatura’. Há uma certa misoginia nesse questionamento. Quantos presidentes homens não deram certo? O atual presidente tem uma lista de processos de impeachment e só não caiu porque entregou a chave do orçamento para o centrão. Assim, pautar a capacidade de uma mulher de gerir a coisa pública por conta de uma experiência que não deu certo seria, obviamente, diminuir as mulheres como um todo. Dilma não deu certo não pelo fato de ser mulher, mas porque não soube aproveitar o bom momento, cuidar da responsabilidade fiscal para investir no social.”

CORAGEM POLÍTICA

“Ser mulher na política é ter coragem. Quando não se tem, ela é forjada na luta. Custei a entender a violência política institucional contra a mulher. Sofri meu primeiro episódio [de violência] no plenário do Senado e fui chorar sozinha, reservadamente. Já na segunda vez eu consegui lidar de forma mais educada, e na terceira tive que gritar. Hoje transformo violências verbais em ensinamento e exposição. Foi o

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que aconteceu com o ministro Wagner Rosário [do TCU, que chamou Tebet de ‘descontrolada’ na CPI da Covid-19], que havia sido chamado de “moleque” por um senador, agredido por outro, mas apenas quando eu, uma mulher, falei, despejou toda a violência que havia recebido. Mas aquilo se transformou em pauta de empoderamento. Depois desse episódio, quando saí nas ruas, ouvi de muitas mulheres que elas não imaginavam que esse tipo de agressão acontecia também com uma senadora da República.”

O MDB

“A grande força do MDB é ter o maior número de prefeitos, de vice-prefeitos e vereadores. O MDB é um gigante que precisa ser acordado. Lembram-se do MDB fisiológico, que apoia presidentes, mas rompemos esse ciclo logo no início do mandato do atual, quando abrimos mão de ministérios, quando lançamos a candidatura de Baleia [Rossi do MDB] à presidência da Câmara e a minha ao Senado. Foi um reencontro do partido com a sua história, para voltar a levantar bandeira mais nobre, que sempre foi nossa, a bandeira da justiça social. As pessoas precisam entender o que significa em uma democracia [ser] o maior partido de centro [como o MDB]. É o que transforma a letra fria da Constituição em algo vivo. É assim na Europa. A primeira vez que o MDB deixou de ser um grande partido de centro na Câmara, o centrão sequestrou o orçamento. Isso nunca tinha acontecido.”

TERCEIRA VIA

“Acho que todos os candidatos de centro têm de ser apresentados ao Brasil. Ainda não sabemos quem vai tocar o coração dos eleitores. É hora de colocar o time na rua. A pesquisa mostra que eu sou a menos conhecida e a menos rejeitada. Não vamos esquecer que a eleição de FHC foi decidida nos últimos 60 dias, como a do atual presidente.”

ABORTO

“Embora eu seja muito progressista na pauta de costumes, e o Estado seja laico, sou muito religiosa. O meu governo tem de ser laico, mas não posso abrir mão das minhas convicções religiosas. Sou a favor do aborto como está na Constituição e sou contra ampliar as possibilidades sem ampla discussão com a sociedade. Mas me incomoda a violência sexual contra a mulher. E aqui falo de estupro, em que 60% dos casos acontecem com crianças até 14 anos. E a consequência disso é a gravidez precoce dessas meninas. O que precisamos mostrar para a sociedade é que a própria legislação já permite aborto, a Constituição protege essas meninas, mas isso não é efetivado porque há uma rede de burocracias. Estou pronta para sancionar qualquer coisa que venha do Congresso Nacional, de avanço de políticas públicas, desde que devidamente debatido. Não é a minha opinião pessoal que vai prevalecer num processo desses.”


“Acredito

que quem irá decidir são as mulheres. Somos as primeiras a sentir na pele o desgoverno”

FOTO DIVULGAÇÃO MDB

O PAPEL DO SENADO E O PAPELÃO DA PGR

“O Senado tem sido uma boa casa revisora, tiramos excessos que vêm da Câmara. Votei contra o orçamento secreto, que só não parou no Senado por quatro votos. Quanto ao procurador-geral, nosso papel é fiscalizar quem fiscaliza. O que o atual procurador-geral da República [Augusto Aras] está fazendo é um descalabro. É chefe do maior órgão de fiscalização e controle do Brasil, recebe uma denúncia gravíssima num momento de pandemia, não só dos supostos crimes de corrupção – que só não foram assinados graças à CPI –, mas de um crime de omissão dolosa do governo, a intenção de não comprar vacinas. E o PGR decide engavetar. Talvez seja hora de melhorar a legislação para que a gente possa ter

mais dinamicidade num processo de investigação, e mesmo de impeachment de um PGR.”

NUM DEBATE, O QUE PERGUNTARIA PARA BOLSONARO?

“Perguntaria por quê? Apenas isso, por quê?. Caberia qualquer coisa a ele: explicar o prazo na vacina, sua insensibilidade latente, o ódio, a polarização. Sei que precisamos falar de economia, de educação, mas sou mulher e não tenho como não enxergar que, antes de tudo isso, ele [Bolsonaro] está destruindo a essência do povo brasileiro. Uma geração inteira. Tenho duas filhas jovens dentro da minha casa, me preocupo com o que está sendo formado na cabeça delas. Se em quatro anos fez este estrago, e em oito? É um governo que faz grupos de extrema-direita aumentar exponencialmente nos últimos anos.”

E PARA LULA?

“Foi um presidente que teve, pela popularidade, a capacidade de fazer diferente. E em determinado momento se aliou ao que há de pior na política. Pediria para ele explicar o que foi o mensalão, o petrolão. E o que faz achar que tem direito de novamente vir, agora com um discurso renovado, quando na realidade teve todas as oportunidades de fazer diferente e não fez.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 29


TRADIÇÃO E CRIATIVIDADE NA ALTA RELOJOARIA Uma conversa com Nicholas Rudaz, diretor da Franck Muller em Genebra, sobre o “relógio mais complicado do mundo” Conciliar inovação e criatividade com a tradição da relojoaria suíça não é algo fácil. Mas esta vem sendo a marca da Franck Muller, fabricante suíça que acaba de inaugurar sua primeira loja brasileira em São Paulo, no Shopping Cidade Jardim. Um dos modelos mais famosos da marca é o Aeternitas Mega 4, conhecido como o “relógio mais complicado já feito”, com seus mais de 1,5 mil componentes e design exclusivo, que só é feito sob encomenda. PODER bateu um papo com Nicholas Rudaz, diretor da Franck Muller em Genebra, para saber mais sobre esta “verdadeira joia”, como ele define, e também sobre os planos da empresa no Brasil. PODER: COMO É POSSÍVEL COMBINAR COM SUCESSO INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE COM A TRADIÇÃO DA RELOJOARIA SUÍÇA? NICHOLAS RUDAZ: A tradição suíça de fabricação de

relógios é composta de muitos processos artesanais. Na Franck Muller, nós valorizamos essas habilidades. Elas não são necessariamente visíveis quando você vê o produto final, mas nós sempre nos concentramos em desenvolver novos designs incríveis, seja de forma estética ou técnica. Essa sempre foi nossa maior prioridade, que aparece em novidades visuais ou complicações, como o turbilhão. Franck Muller foi o primeiro a fazer o turbilhão de triplo eixo. Em matéria de design, fomos os primeiros a trazer cores para os nossos relógios, como o modelo Color Dreams. Com um bom olhar e conhecimento sobre fabricação de relógios, nos tornamos capazes de ultrapassar limites dessa produção.

mos mais uma complicação. Então, efetivamente, foram 37 complicações. É um relógio que tem 21 ponteiros diferentes, feito com 1.582 componentes, o que é incrível. PODER: É O MODELO MAIS CARO DE FRANCK MULLER? POR QUE É TÃO COBIÇADO? NR: É um relógio muito famoso e é uma espécie de cartão de

visitas ter um modelo tão complexo como esse no pulso. E, sim, é o relógio mais caro que produzimos, custa 2,5 milhões de francos suíços (cerca de R$ 13,6 milhões na cotação atual). Fazemos esse modelo apenas sob encomenda, não há produção em massa. O relógio também pode ser personalizado para quem o encomenda. Normalmente nós temos as iniciais FM, de Franck Muller, e, dependendo do desejo do cliente, podemos colocar suas iniciais dentro do turbilhão. PODER: QUAIS SÃO AS OPÇÕES DE DESIGN DO AETERNITAS MEGA? ELE COMBINA TANTO PARA UM ESTILO MAIS FORMAL QUANTO INFORMAL? NR: Esse relógio é uma verdadeira joia e, como tudo que

tenho orgulho em dizer. O Aeternitas Mega 4 tem 36 complicações, o que faz dele, de fato, o relógio de pulso mais complicado já feito. Uma das principais complicações é que ele é capaz de dar minutos, horas e datas precisos por 999 anos. O primeiro modelo desses que fabricamos, a pessoa que teve a honra de usá-lo pediu para inserir-

O diretor da Franck Muller em Genebra, Nicholas Rudaz

FOTOS DIVULGAÇÃO

PODER: O QUE FAZ DO AETERNITAS MEGA 4 O RELÓGIO DE PULSO MAIS COMPLICADO JÁ FEITO? NR: Esse é um título que nós ostentamos há alguns anos,


é precioso, exige cuidados especiais. É como uma Ferrari, você tem que dirigi-la com cuidado. Claro, com tantos componentes dentro, é um acessório que requer muito cuidado. Como muitos dos nossos relógios, também não é recomendado para praticar esportes. Mas, olhando para o histórico de clientes que já adquiriram um desses, muitos se mostraram satisfeitos jogando tênis ou golfe com um Aeternitas Mega no pulso. Mas eu não faria nenhuma outra atividade além dessas e, claro, é por conta e risco do proprietário. Seria uma pena danificar um relógio tão lindo. PODER: O QUE FRANCK MULLER OFERECE QUE NÃO É POSSÍVEL ENCONTRAR NO MERCADO DE RELÓGIOS? NR: A criatividade é algo que nos faz muito diferentes. O

DNA da Franck Muller é algo que é muito reconhecível. Se tiver mil colecionadores de relógios Franck Muller num mesmo ambiente, você provavelmente encontrará mil modelos diferentes, graças a nossa variedade de tamanhos, cores, formatos, complicações e materiais. No Japão, onde a marca é muito popular, nós fazemos cerimônias de casamento. Organizamos todo o evento, a decoração é feita com os números de Franck Muller, as cores, logomarca e, claro, no pacote, oferecemos relógios

O Aeternitas Mega 4: modelo mais caro da marca é considerado o relógio mais complicado do mundo, com seus mais de 1,5 mil componentes

para os noivos. A ideia é que eles pensem em Franck Muller todos os anos quando celebrarem a data. Isso é algo que nenhuma outra marca pensou em fazer. Também começamos a fabricar chocolates. PODER: QUAIS SÃO OS PLANOS DA FRANCK MULLER PARA O BRASIL? NR: Estamos muito animados com a nossa nova loja

em São Paulo. Temos muitos planos para o Brasil. Pretendemos lançar algumas edições limitadas exclusivas para o país, com muitas cores, beleza e a alta qualidade, como os brasileiros gostam. Tenho certeza que Franck Muller será popular no Brasil.


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JOYCE PASCOWITCH


MBA

Conciliar carreira e criação dos filhos ainda é um grande desafio para profissionais, principalmente mulheres. Isso porque o mercado vê a questão com preconceito e, muitas vezes, considera que, após a maternidade, a colaboradora não terá comprometimento. Contra essa avaliação equivocada, empresas começam a perceber como as competências desenvolvidas na maternidade podem ajudar negócios a avançar

FOTO GETTY IMAGES

POR CAROLINE MARINO

inda é comum ouvir histórias de mulheres que adiam a maternidade por conta da carreira. O receio é que a chegada dos filhos diminua as oportunidades profissionais ou, até, seja motivo de demissão no retorno da licença-maternidade. Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que, após 24 meses, quase metade das mulheres está fora do mercado de trabalho. A maior parte das demissões se dá sem justa causa e por iniciativa de quem o emprega. E quando buscam emprego, a maternidade também é muito questionada pelas pessoas que recrutam. Perguntas como: “Você tem filho?”, “Com quem vai deixá-lo para trabalhar?” ou “Tem planos de engravidar em breve?” ainda são comuns. Segundo a consultora organizacional e coach executiva Caroline Marcon, fundadora da Marcon Leadership Consulting, a presença feminina no mercado de trabalho ainda está ligada à chegada de um filho, mas a maternidade deve ser considerada um impulso e não uma barreira na carreira da mulher. “Para que essas perguntas não sejam mais motivo de constrangimento, é preciso que o mercado aprenda a conviver com regras mais flexíveis, que permitam conciliar a criação de filhos e uma jornada profissional de alta performance”, afirma. Ela ressalta, inclusive, muitos casos de mulheres que deslancharam na carreira depois da maternidade, como foi o seu caso. “Me tornei mais corajosa, várias vezes pensei: ‘Se por mim não parece suficiente, vou fazer isso pelo futuro do meu filho’. Isso me gerava uma força surreal”, conta. Na visão de Caroline, a maternidade adiciona uma nova perspectiva ao ambiente de negócios, que, se bem aproveitada, pode trazer benefícios como inovação em produtos e serviços, e melhor relacionamento com as pessoas consumidoras e as que trabalham na empresa. Mas, na prática, não é muito por aí. Até pouco tempo, Júlia Facure Fernandes,

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gerente de contas da Ambev no Lago Paranoá, em Brasília, hoje mãe de Cauã de 10 meses, não tinha esses benefícios em mente. Apesar de ter planos de ser mãe, tinha medo de a decisão impactar negativamente sua carreira. Quando entrou na companhia, há sete anos, lembra que pouco se falava sobre o tema. “Faltava visão de futuro. Lembro que a diretoria era composta quase na totalidade por homens, havia apenas uma mulher”, conta. Mas uma gravidez não planejada aconteceu e tudo mudou. “Estava trabalhando no interior quando soube e entrei em pânico. Queria crescer e a possibilidade de ficar afastada e não ter a mesma energia no trabalho me assustou”, diz. Ela ficou com tanto medo que a primeira pessoa que avisou foi seu gestor na época. “Não tem jeito. Esse medo está enraizado nas mulheres”, ressalta. Porém, a reação do líder tornou o processo mais leve. “Ele me perguntou do que eu tinha medo e me tranquilizou. Sua única preocupação era se eu estava bem.” Na volta ao trabalho, Júlia teve, inclusive, um desafio a mais ao ser convidada a trocar de área.

FILHOS NO CURRÍCULO

Durante a gravidez, Júlia conheceu, por meio da Ambev, a Filhos no Currículo, criada pelas amigas Camila Antunes e Michelle Levy, que ajuda empresas a se tornarem lugares mais acolhedores para mulheres que, como elas, precisam se desdobrar para dar conta das inúmeras demandas da maternidade e da carreira. A empresa trabalha em três frentes: consultoria, sensibilização e capacitação. “Muita coisa mudou na companhia desde que eu entrei. Hoje, a Ambev vem tratando com cuidado a questão, com a adesão de movimentos para falar sobre paternalidade, como a Filhos, e grupos de discussão entre mulheres”, diz. A Filhos no Currículo nasceu com a chegada dos filhos de Michelle. “Sou mãe de dois meninos, Thomas e Alex. Com o nascimento deles comecei a re-

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‘‘É preciso que o mercado de trabalho aprenda a conviver com regras mais flexíveis, que permitam conciliar a criação de filhos e jornada profissional de alta performance” Caroline Marcon, consultora organizacional e coach executiva da Marcon Leadership Consulting pensar minha carreira. Perguntas como: ‘De que forma conciliar carreira e maternidade?’, ‘Qual o papel das organizações nessa equação?, ‘Como podemos entrar em um ambiente de trabalho que potencialize a chegada de um filho?’, começaram a surgir”, lembra. Segundo ela, a inspiração para a conJúlia Facure Fernandes, gerente de contas da Ambev no Lago Paranoá, com o pequeno Cauã

sultoria veio do entendimento que filho é uma potência. “A chegada deles nos traz habilidades que nos ajudam como profissionais. Conseguimos voar quando percebemos isso”, afirma. Uma análise realizada pela consultoria, em parceria com o Movimento Mulher 360, apontou algumas habilidades desenvolvidas pelas mulheres no período pós-maternidade. Para 74% das entrevistadas a paciência aumentou, para 57% a tolerância foi potencializada e 56% relataram melhor capacidade para definir prioridades. Mais empatia e criatividade também entraram nessa lista. “Consigo ler uma pessoa para além do que ela está dizendo, muito por conta da relação com meus filhos, trabalhar com empatia, respirar e ter paciência. Essas habilidades nasceram com meus filhos. Ter dois, então, é um curso de negociação intenso”, diz Michelle. Júlia também desenvolveu competências com a chegada de Cauã. “Hoje sou mais empática e organizada, tenho mais energia e fortaleci minha inteligência emocional, habilidades essenciais no mundo do trabalho atual”, afirma.

É PRECISO FALAR DE PARENTALIDADE

O olhar de Kareline Bueno, líder do grupo de afinidade de gênero da Gerdau, mãe de Pietro e grávida de qua-


PROMOÇÃO ANTES DE VOLTAR AO TRABALHO

FOTOS GETTY IMAGES; RINALDO DE OLIVEIRA; ARQUIVO PESSOAL; PATRÍCIA CANOLA; THAÍS TIBERY/DIVULGAÇÃO

Camila Antunes e Michelle Levy, criadoras da consultoria Filhos no Currículo

se nove meses, ampliou as práticas da companhia sobre esse universo. “Sempre nos preocupamos em não reforçar o estereótipo de maternidade: porque falamos só com as mães? Entendemos que o importante é falar sobre parentalidade. Enquanto não construirmos uma paternidade tão forte quanto a maternidade, vamos continuar reforçando vieses”, diz. E foi aí que a executiva levou o movimento Filhos no Currículo para a empresa, em 2020. “A ideia é incluir as famílias de forma geral, seja de duas mães, dois pais, avós adotivos etc.”, afirma. Em parceria com a Filhos, a Gerdau realizou ações de conscientização de líderes, empoderamento da mulher, cuidado no retorno da licença-maternidade, entre outros programas. Em 2021, por exemplo, a Filhos no Currículo fez um movimento nas redes sociais, com a #meufilhonocurriculo, que teve mais de 40 mil interações no LinkedIn, do qual a empresa participou. Para a executiva, todos ganham com isso. “Pietro foi meu grande MBA de comunicação e negociação”, afirma Kareline. “Nas empresas, lidamos com diferentes públicos e para cada um deles é preciso uma forma de se comunicar. Passei a ser muito mais assertiva em minha fala e a ‘escutar não só com os ouvidos’, mas com coração aberto”,

completa. Do ponto de vista de gestão, ela reforça que pelo fato de a Gerdau trabalhar o tema, teve bons líderes durante a primeira gestão e seu retorno, e está segura em sair mais uma vez de licença-maternidade. “Isso não vai ser um viés, algo que define meu potencial e resultado”, completa.

‘‘Passei a ser muito mais assertiva em minha fala e a ‘escutar não só com os ouvidos’, mas com coração aberto” Kareline Bueno, líder do grupo de afinidade de gênero da Gerdau

Amanda Caribé, que já foi questionada em uma entrevista de emprego se tinha planos de engravidar a curto prazo, é mais um exemplo do quanto a maternidade pode ser um impulso para a carreira, não um obstáculo. Ela foi promovida a gerente da Gafisa Viver Bem – uma nova unidade de negócios da construtora, antes mesmo de retornar da licença-maternidade. “Quando engravidei, fiquei assustada porque imaginava que meu retorno à empresa poderia atrapalhar minha carreira, pois sabemos o quanto isso ainda é um tabu, mas aconteceu o contrário: fui promovida”, diz. Segundo ela, apesar de a companhia ter tido uma postura empática e de respeito em sua gravidez, não esperava esse reconhecimento na volta ao trabalho. “Existe um preconceito no mercado de trabalho que atrela a maternidade à improdutividade e à baixa performance. Essa é uma narrativa ultrapassada que, felizmente, começou a mudar. Ser mãe foi sem dúvida a experiência mais transformadora da minha vida, algo potente e fonte inesgotável de energia e vontade”, explica. Como se vê, não são poucas as competências desenvolvidas pelas mulheres depois da chegada dos filhos, e é importante que mais empresas entrem nesse movimento e percebam a potência da maternidade para os negócios. “Em um mundo no qual a desigualdade de gênero insiste em continuar, as organizações devem se posicionar contra as disparidades vivenciadas pelas mulheres em seus lares, no ambiente de trabalho e na sociedade”, reforça Andrea França, sócia da PwC Brasil, empresa que também é parceira da Filhos no Currículo. “As companhias precisam construir um ambiente acolhedor para as mães, os pais e seus filhos e, é claro, criar estratégias para que a parentalidade não seja vista como um empecilho para a carreiras, pois não é”, completa. n

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PIONEIRISMO

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De alguns anos para cá, mulheres indígenas vêm conquistando a mais alta liderança de suas aldeias, lutando pelos direitos de seus povos e buscando espaço no Congresso Nacional POR CARL A JULIEN STAGNI

FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

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eu nome em guarani é Kerexu Takuá. Tenho 39 anos, sou mãe de três filhos e tenho dois netos. Sou militante de movimentos sociais de luta por moradia, direitos humanos e das mulheres desde meus 14 anos.” É assim, com todo esse empoderamento, que Alice Guarani se apresenta. Ela representa um grupo que vem conquistando cada vez mais espaço, o das cacicas. O tempo em que só homens ocupavam a posição mais alta entre os povos indígenas ficou para trás. As mulheres estão aí para provar que podem, sim, estar à frente de suas aldeias. “Fui escolhida pelos meus ‘parentes’, que é como chamamos os membros da nossa comunidade. Cada aldeia tem sua maneira de eleger suas lideranças. Só posso falar do meu lugar de indígena guarani periférica urbana e da responsabilidade que tenho estando nesse espaço que sempre foi ocupado por homens. Somos poucas cacicas aqui no Rio Grande do Sul. E de comunidade urbana sou a primeira”, conta Alice, líder do povo guarani e estudante de pedagogia. A quase 4 mil quilômetros de distância, no extremo norte do país, outra cacica se destaca na luta pelos direitos de seu povo. Telma é a primeira mulher eleita tuxaua (chefe) pela população taurepangue. Também é uma das fundadoras do Parlaíndio Brasil, primeiro parlamento do movimento

“A invisibilidade e a desigualdade social, assim como a falta de políticas públicas, existem desde que as caravelas aqui atracaram” Alice Guarani, cacica urbana do povo guarani, do Rio Grande do Sul PODER JOYCE PASCOWITCH 37


O-É Kaiapó Paiakan, cacica da aldeia Krenhyedjá, do sul do Pará

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FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO; ANDERSON LINHARES/ DIVULGAÇÃO

“Nós, cacicas, temos o papel de orientar, apaziguar, respeitar, defender e cobrar os direitos do nosso povo”

indígena brasileiro, criado para discutir questões referentes aos povos originários e aumentar presença no Congresso Nacional. “Pertenço ao povo taurepangue, da comunidade indígena Araçá, em Roraima. Vivo na aldeia Mangueira, em Amajari. Hoje sou responsável por elevar a voz do meu povo assim como de todos os indígenas do Brasil”, explica Telma, 49 anos, defensora de maior participação feminina no movimento e com um sonho: ser a primeira mulher indígena a ocupar um assento no Congresso Nacional. “Temos que nos envolver com a política porque estamos diante de uma situação muito difícil para com nossos direitos, e precisamos de fato ocupar esses espaços, senão vem outra pessoa e faz tudo ao contrário do que foi conquistado por nós com muita luta”, pontua ela, que é pré-candidata à deputada federal, casada há 30 anos e com uma família composta por três filhos e três netos. “Além das funções de cacique, as cacicas têm as demandas da própria família e acabam se tornando mãe de toda a comunidade.” Alice, que como inúmeras mulheres também cuida da família, faz questão de frisar que o patriarcado e o machismo ainda são questões a serem superadas no dia a dia de uma liderança feminina: “Até bem pouco tempo não éramos ouvidas. Estamos em 2022 e ainda é extremamente difícil e delicado ser uma liderança. Vivemos em um país que não honra a mãe terra. E ainda vou mais fundo. Todos os seres humanos precisam do ventre de uma mulher para nascer. O feminino é sagrado, é quem gera a vida. Vivemos em uma sociedade doente, gananciosa, inescrupulosa, que faz tudo em nome do capital, isso oprime e mata mulheres diariamente”. Maio de 2021 foi um marco para o povo indígena mebêngôkre-kayapó, do sul do Pará. Nessa data, a assistente social O-É Kaiapó Paiakan assumiu o cacicado da aldeia Krenhyedjá, na cidade de Ourilândia do


“Além das funções de cacique, as cacicas têm as demandas da própria família e acabam se tornando também mãe da comunidade” Telma Taurepang, cacica do povo taurepangue, de Roraima

Norte, abrindo mais uma porta para a representação feminina dentro das organizações indígenas, reforçando essa tendência que vem ganhando força na última década. O-É não é novata nos movimentos sociais: desde 2013 participa de reuniões e mobilizações indígenas. Ela é assistente administrativa da Associação Floresta Protegida e secretária da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab). Em fevereiro de 2021, foi selecionada para o mestrado em sociologia e antropologia da Universidade Federal do Pará (Ufpa). Ano passado, tornou-se presidente do Instituto Paiakan, fundado em homenagem a seu pai, o líder Paulinho Paiakan. “Convivi com meus avós caciques, meu pai, que nos colocou na escola

para estudar. Sempre estive nos movimentos locais, estaduais e nacionais. Trabalhei na saúde e na educação indígena e em ONGs. Isso me fez adquirir entendimento sobre as causas do meu povo”, explica ela, que, aos 38 anos é mãe de duas meninas e está grávida. Ela engrossa o coro de Alice e Telma, ressaltando que ser uma liderança indígena mulher é um grande desafio, dentro e fora da aldeia. “As autoridades ainda não nos reconhecem como autoridades. Nós, cacicas, temos o papel de orientar, apaziguar, respeitar, defender e cobrar nossos direitos.” Fazendo jus a seus antepassados guerreiros, a cacica Alice Guarani desabafa: “Estamos construindo com as lideranças de todo o país um movimento de indígenas em contexto urbano, para que te-

nhamos, inclusive, participação no censo do IBGE. Porque invisibilidade e desigualdade social, e a falta de políticas públicas, existem desde que as caravelas aqui atracaram. De lá para cá houve a perda de direitos dos povos originários em sua própria terra. As lideranças são responsáveis por estar junto à sua comunidade, lutando pelos acessos que a gente não tem pela falta de reconhecimento dos povos indígenas como detentores da biodiversidade, de saberes ancestrais... Articular com outros movimentos, com organizações que ajudem na luta dos nossos direitos é a nossa missão. Caminhar junto a seu povo em busca das melhores condições de existir. E sempre cobrar o Estado”. n PODER JOYCE PASCOWITCH 39


COMUNICAÇÃO INFLUENTE Unindo estratégia e conteúdo criativo, MField se destaca no segmento do marketing de influência com modelo de negócios inovador

Com grandes storytellings, MField se destaca no mercado da influência com campanhas criativas. Na foto: Gustavo Almeida, Victor Godoy, Gabriel Lima e Flávio Santos, executivos que formam a diretoria da agência


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alvez você não perceba, mas constantemente sofre impacto de ações de marketing de influência nas redes sociais. A estratégia, que se utiliza principalmente da parceria com influenciadoras e influenciadores digitais com o objetivo de gerar engajamento para marcas e produtos, vem ganhando cada vez mais espaço, estimando, inclusive, que o modelo de negócios movimente, em 2022, US$ 15 bilhões globalmente. Esse avanço tem sido fomentado principalmente à medida que endossos de celebridades se tornaram comuns nas redes sociais. Tente lembrar. Se você usa do TikTok, por exemplo, viu em algum momento passar na sua timeline o maior tiktoker do mundo, Khaby Lame, mostrando todas as funcionalidades e facilidades de ser cliente de um app de transporte muito popular no Brasil. Ou no Twitter, mesmo não sendo fã de reality shows, leu comentários de famosos como Anitta e Bruna Marquezine sobre a casa mais vigiada do país em ação patrocinada por um dos sponsors do programa. Nada foi por acaso. Por trás dessas e muitas outras ações está a MFIELD, principal referência em marketing de influência do país. Fundada pelos empresários Flávio Santos, Gabriel Lima, Gustavo Almeida e Victor Godoy, a agência atua como ponte estratégica entre criadores de conteúdo e marcas. Já seu nome, MField, vem do inglês “midfield” e significa “meio de campo”. No mês passado a agência foi responsável por duas entregas que se destacaram. A primeira, desenhada criativamente pelo time da MField, foi no lançamento do novo filme do Batman, em Paris, quando o craque Neymar, fã do super-herói da DC Comics, conheceu protagonistas do longa, o ator Robert Pattinson, que interpreta o Batman, e a atriz Zoë Kravitz, a Mulher-Gato. De quebra, o camisa 10 do PSG se sentou ao volante do icônico Batmóvel. Já a segunda, também estruturada pela agência, foi a da plataforma Bitso, líder em negociações em bitcoin e criptomoedas na América Latina, que chega ao mercado brasileiro em ação de conteúdo com embaixadores como Cauã Reymond, Gabriela Prioli e Fernanda Gentil. “O momento vivido pela MField materializa o nosso crescimento a passos largos dos últimos anos e as ações que temos realizado concretizam o respeito e confiança do mercado em nosso trabalho, que hora

conta histórias inspiradoras com curadoria de grandes nomes como na campanha de Bitso, e hora conecta grandes marcas com talents, como no caso da ação de Batman com Neymar em Paris. Tudo isso é muito importante para nosso time e toda liderança da empresa”, destaca Flávio Santos, CEO da agência. O principal diferencial da empresa está em seu modelo de negócios, que vai na direção oposta às agências tradicionais, optando por não ter um casting fixo sob o seu guarda-chuva, o que possibilita a montagem de equipes estratégicas focadas exclusivamente no objetivo de cada cliente. Para o COO e cofundador da agência, Gabriel Lima, essa expertise é lucrativa em diversos aspectos, uma vez que não possue muitos concorrentes no mercado, e o contato profissional com outras agências fica mais forte pela possibilidade de ativação de serviços. “Fundamos a MField em um período de forte ascensão do setor no mercado e do avanço das redes sociais. Adotamos esse modelo de negócios para nos diferenciarmos do mercado e para não precisarmos nos limitar ao que tivéssemos ‘dentro de casa’, o que nos permite uma liberdade criativa mais ampla”, destaca Gabriel. Em 2021, a agência aumentou o seu faturamento em mais de 150%. Além do modelo de negócios, outra aposta da empresa está na tendência crescente de produção de conteúdo nas páginas virais. Por meio de um produto proprietário, intitulado de Viral Labs, a agência promove ações e campanhas de marketing inteligente em perfis de plataformas como Instagram e Twitter. Hoje, o produto representa cerca de 20% da receita anual da MField. “Com o Viral Labs conseguimos trabalhar campanhas com uma abordagem totalmente diferenciada e assertiva, porém sem características que evidenciem que o conteúdo se trata de uma publicidade”, aponta Gustavo Almeida, cofundador e diretor de produtos da MField. Apesar da história recente, a MField já acumula cases nacionais e internacionais de sucesso com campanhas para marcas como Johnnie Walker, Nissan, Ipiranga, Brahma, Red Bull, LG, PicPay, Activision e Yoki. Há pouco, a agência conquistou a conta da BRF e será responsável pelas ativações com influencers das marcas de consumo do portfólio da multinacional, entre elas Sadia e Perdigão. + MFIELD.COM.BR / @MFIELD


VERBA

PARA PESSOAS REAIS Fenômeno na internet com linguagem acessível e descomplicada, a influenciadora Nathália Rodrigues, a Nath Finanças, critica a “culpabilização do pobre” feita pelo economês tradicional e planeja criar um instituto para levar educação financeira para crianças em escolas públicas POR NIVALDO SOUZA

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PODER: ADMINISTRADORA, ESPECIALISTA EM FINANÇAS, ESCRITORA, EMPRESÁRIA, PODCASTER E YOUTUBER. QUAL O SEGREDO PARA ALCANÇAR ISSO TUDO COM APENAS 23 ANOS? NATÁLIA RODRIGUES: Confesso que é muita responsabilidade,

porque tenho uma equipe de 12 pessoas que trabalha e faz conteúdo 100% gratuito na internet. A única coisa monetizada é o livro Orçamento Sem Falhas (ed. Intrínseca). Escolhi finanças porque estava vivendo para pagar cartão de crédito. Trabalhava numa loja de calçados e ficava nesse ciclo vicioso de receber o salário e ir direto pagar a fatura. Criei o canal já pensando em uma estrutura de empresa. Escrevi o projeto no papel, defini o público-alvo, mas não pensei na monetização. A ideia era compartilhar o que eu estava aprendendo como estudante. Só fui pensar como empresa no fim de 2019, quando começaram a surgir marcas, publicidades e pessoas querendo fechar trabalhos. Contratei um editor de vídeo, porque eu editava de madrugada depois da faculdade, e conforme foram surgindo mais demandas fui contratando mais gente. Em 2020 cresci bastante e pensei a virada de chave como empreendedora quando comecei a observar que podemos fechar trabalhos legais com empresas que a gente acredita. Estamos com novas formas de fazer um grupo de estudo e trazer mais um livro, várias outras formas de crescer a empresa.

PODER: QUAL A SUA MAIOR CONQUISTA COMO EMPRESÁRIA? NR: O escritório que vou abrir este semestre em Nova Igua-

çu é uma das minhas maiores conquistas. Eu gravava na casa da minha mãe, com um pano atrás, um celular bem velhinho e um tripé antigo comprado na Feirinha da Pavuna. Ter um escritório com estrutura é muita emoção. Vão ser dois

FOTO PEDRO CAMPOS/DIVULGAÇÃO

athália Rodrigues tem apenas 23 anos e já é uma das vozes de maior credibilidade na internet para quem busca uma relação saudável com o dinheiro. Com o seu canal no YouTube, Nath Finanças, ensina finanças pessoais para quem está com a corda no pescoço – ela ainda cursava a faculdade de administração quando viu nas aulas sobre o tema um conhecimento necessário a uma população marginalizada do planejamento financeiro. A linguagem simples e os exemplos da vida real a fizeram atingir mais de 1,3 milhão de seguidores nas redes sociais. Na pandemia, Nath arriscou ir na contramão de influenciadores famosos por estimular investimentos em renda variável. “Tinha muita propaganda dizendo que era hora de investir na bolsa. Eu não foquei nisso. O meu público precisava do auxílio emergencial, do Bolsa Família, saber como abrir uma conta bancária. Foi ali que eu cresci muito”, conta em entrevista a PODER. A visão destoante do discurso liberal dominante no mercado financeiro levou Nath a ser escolhida no ano passado como a única brasileira entre os 50 maiores líderes mundiais da influente lista da revista Fortune. A fluminense de São Gonçalo concluiu a faculdade, lançou um livro, criou um podcast, tornou-se empresária. Ela emprega 12 funcionários, faturou mais de R$ 2 milhões no ano passado e, agora, se prepara para abrir seu próprio escritório. A escolha do endereço não foi por acaso. “Trazer um escritório para a Baixada, próximo de onde eu vivo e contratar pessoas daqui, é uma forma de potência. É ver que tem muito talento por aqui e não precisa estar no centro do Rio ou na zona sul para conseguir mostrar esse talento”, afirma.



PODER: QUAL O SEU PROPÓSITO COMO EMPRESÁRIA? NR: É algo que já estou conseguindo, que é

ajudar o máximo de pessoas a sair do vermelho, a conseguir ter uma grana para fazer uma reserva de emergência. Um dos objetivos como Nath Finanças é fazê-las entender de finanças, inflação, Selic [taxa básica de juros]. Mais para frente quero criar um instituto para ajudar as pessoas e também ir às escolas públicas levar conteúdo gratuito de educação financeira para crianças. Esse é um grande objetivo: não falar só com adultos. As pessoas começam a entender de finanças quando já estão endividadas, com o nome sujo. Não tem que ser assim. Tem de ser desde pequeno para que a gente não passe tantos perrengues.

ambientes, com sala para gravar e dar consultoria. Outra grande conquista é poder aposentar a minha mãe. Ela é minha assessora pessoal, cuida da minha agenda, e eu consegui montar o plano de aposentadoria. Ela gosta de trabalhar, não consegue ficar parada, mas já falou que este ano vai fazer 50 e quer descansar. Vai ser ótimo, ela abriu mão de muita coisa para eu ter o que tenho hoje. PODER: NOVA IGUAÇU É FORA DO REDUTO FINANCEIRO DO RIO, POR QUE O ESCRITÓRIO LÁ? NR: Sei o quanto a Baixada Fluminense é potente. Quem mo-

ra na Baixada geralmente trabalha longe dela, pega um trem, três ou quatro conduções para chegar no emprego. Vou contratar pessoas daqui que chegarão em 20 ou 30 minutos. Trabalhar em escritório, em área financeira, era só no centro do Rio e muitas vezes quem mora na Baixada tem que colocar o endereço de um amigou ou parente para conseguir participar do processo seletivo. Nós temos as portas fechadas antes de participar da entrevista. Trazer um escritório para a Baixada, próximo de onde vivo, e contratar pessoas daqui, é uma forma de potência.

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tra num mercado dominado por homens brancos. O número de mulheres na bolsa de valores não se compara ao de homens [o número de mulheres cadastradas na B3 atingiu a marca de 1,15 milhão em 2021; os homens somam 3,8 milhões, cerca de 60% dos CPFs registrados]. Há o estereótipo de que mulheres não sabem guardar dinheiro, que gostam de comprar bolsas e futilidades. Mas estamos construindo [uma nova história], principalmente com mulheres negras entrando na faculdade. A gente está sempre quebrando portas. Quando entrei no mundo das finanças, recebi comentários dizendo que mulher não sabe de economia, que eu não deveria estar falando sobre isso. Tenho certeza de que se fosse um homem branco que tivesse criado o que eu criei iam falar que é um gênio. O peso é diferente quando é uma mulher e dizer isso não é vitimização. É fato. O mercado vê as mulheres como gastadeiras e os homens como investidores. O meu público é 80% feminino, principalmente no Instagram. São mulheres que se identificam com minha linguagem e a forma como me comunico. Mas não quero ser conhecida como Nath Finanças mulher negra periférica. Quero ser conhecida pela minha competência, não pelas minhas dores. PODER: POR QUE O ECONOMÊS TRADICIONAL NÃO COMUNICA? NR: O que me incomodava eram homens brancos engravata-

dos falando como guardar mil reais, que você é culpado por não ganhar o suficiente, que está endividado porque quer. Esse tipo de frase é o gatilho que traz frustração. Não ajuda,

FOTO PEDRO CAMPOS/DIVULGAÇÃO

PODER: SOFREU PRECONCEITO POR SER UMA MULHER NEGRA FALANDO DE ECONOMIA? NR: Essa é a realidade quando você en-


não acolhe, simplesmente culpa. O endividamento muitas vezes não é culpa das pessoas. Elas perderam o emprego, tiveram redução salarial e você vai falar que é falta de educação financeira? Não. A educação financeira ajuda, emancipa, dá o poder de entender sobre crédito, juros, inflação. Mas se você não estiver ganhando um salário digno, como vai viver? As pessoas estão sobrevivendo, não estão vivendo. PODER: ESSE INCÔMODO TE IMPULSIONOU? NR: Em 2017 eu era uma jovem aprendiz ganhando um salá-

rio mínimo e me falavam sobre como guardar R$ 1 mil. Como assim? Eu não conseguia guardar nem R$ 300. São aquelas frases prontas: “Como guardar 30% da sua renda”, “Faça o método 30%, 20%, 50%”. Aí você tenta aplicar esses métodos da internet e se sente frustrada. É sempre a culpabilização do pobre. Quando decidi falar na internet quis acolher: “Essa é uma possibilidade que eu aprendi, que consegui fazer com o meu salário, o que vocês acham? Vamos compar-

liberal de as pessoas se esforçarem e da meritocracia, que eu realmente não acredito. PODER: O QUE É MERCADO PARA VOCÊ? NR: As pessoas comuns só conseguem entender com exem-

plos do dia a dia. O mercado precisa explicar por que não gostou, porque não deu certo tal medida. O mercado é quem tem dinheiro, quem investe. São pessoas poderosas que quando tiram dinheiro de uma ação na bolsa fazem a diferença. A gente tirando R$ 100 não faz nenhuma. Elas possuem o poder político de definir eleições. O mercado financeiro em si é formado esmagadoramente por homens brancos que fazem a festa ou aproveitam esses momentos de incerteza no país para ganhar dinheiro.

PODER: O PAÍS PRECISA DE QUAIS REFORMAS PARA CRESCER? NR: Falaram que aprovando a reforma trabalhista a gente te-

ria um Brasil melhor, o dólar lá embaixo. Eu faço uma per-

“Tenho certeza de que se fosse um homem branco que tivesse criado o que eu criei iam falar que é um gênio. O peso é diferente quando se é mulher” tilhar?”. Eu não chego e falo: “Você não se esforçou, não fez uma renda extra”. Aliás, a expressão ‘renda extra’ me dá calafrios. Esse tipo de fórmula pode ajudar parte da população, mas não a maioria dos brasileiros. Os livros de finanças colocam como se as pessoas soubessem o básico, mas saímos do ensino médio sem saber matemática. É preciso colocar exemplos reais para pessoas reais. Esse é o meu lema: “Finanças reais para pessoas reais”. O meu diferencial foi essa forma de comunicar. Soube trazer representatividade, as pessoas sabem que eu passei pelo que elas passam. Sabem que peguei busão, peguei trem e isso traz identificação. PODER: O DISCURSO LIBERAL DO MERCADO TE INCOMODA? NR: Comentei na pandemia que deveria ter auxílio emer-

gencial de R$ 600 e muitos liberais me criticaram. Se não fosse o auxílio, que a oposição aprovou enquanto o governo queria um coronovaucher de R$ 200, talvez muita gente estivesse mais abaixo da linha da pobreza. O auxílio foi importante e mesmo assim insuficiente. O salário mínimo é menos que o preço de uma geladeira, não dá nem para comprar uma geladeira à vista. Essa é a realidade do Brasil. Eu não vou chegar e falar para a pessoa que ela não se esforçou o suficiente, trabalhe enquanto eles dormem, faça renda extra. Infelizmente, as pessoas fazem renda extra não para poderem viajar, fazem por necessidade. É preciso quebrar esse discurso

gunta: “Quantas reformas serão necessárias para termos um país digno?”. É sempre uma desculpa de que se tiver a reforma tal o país melhoraria. São desculpas esfarrapadas. Precisamos de políticas públicas e governantes que realmente pensem na população, não que inventem desculpas liberais. PODER: POR QUE CRITICOU O PIX PARCELADO, QUE BANCOS COMEÇAM A OFERTAR? NR: Não quis dizer que é certo ou errado. Acho que to-

da questão revolucionária no sistema é positiva, mas a gente tem de olhar com calma. O Pix parcelado vai ser uma forma de lojistas e pequenos empreendedores, que pagam uma taxa de 2% a 6% numa maquinha de cartão, não pagarem mais por isso. Terão a possibilidade de receber o valor total [de uma venda] e o cliente parcelar a compra. O que me preocupa é mais uma forma sem ensinar as pessoas como usar, mais uma forma que pode ser de endividamento. As pessoas já não sabem como usar o cartão de crédito, porque não foi ensinado. É só [um discurso] parcele, parcele, parcele. Sem falar: “Espere um parcelamento para começar outro”. Será que Pix parcelado vai ser uma forma de ajudar as pessoas ou de ajudar os bancos a monetizarem, trazendo mais endividamento [para o consumidor]? Isso me preocupa em um momento difícil de pandemia em que o brasileiro está precisando de dinheiro. n

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RESPIRO

PROVA DE AUTORIA

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Gênero eminentemente masculino como tantos outros, o “new journalism” teve na californiana JOAN DIDION uma enorme expoente mulher. Seus ensaios sobre a cultura hippie de Haight-Ashbury, em São Francisco, os perfis de figuras icônicas de seu país – de Howard Hughes a Jim Morrison –, e, quando na New York Review of Books, as reportagens políticas, escritos que lhe deram fama e uma vida digna das próprias celebridades que perfilava, parecem que não exatamente a definiam – ao menos segundo a própria escritora. “Escrevo para descobrir o que vai na minha cabeça, o que vejo e o que aquilo significa. O que eu quero e o que temo”, disse ela, num ensaio dos anos 1970. Um documentário dirigido por seu sobrinho, disponível na Netflix, mostra algo da vida e obra da escritora californiana que morreu em dezembro passado, aos 87 anos.


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OPINIÃO

VISÍVEIS, EM

ALTO E BOM TOM

POR NATALIA MOTA E SCI-GIRLS*

E

sta época do ano nos lembra de uma reflexão importante: podemos gozar, acreditar que as ruas e nosso lar podem ser um lugar seguro, que a humanidade que carregamos no olhar pode e deve possibilitar um ângulo que caiba todo mundo, que nossa visibilidade supera a imagem controversa do feminino ou, quiçá, das estatísticas que denunciam as violações aos nossos direitos ou o resultado delas, que nossas múltiplas formas de dar vida, cor, movimento,


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encantamento e sentido são imensuráveis e, por isso mesmo, necessárias e desopilantes. Todos os dias precisamos lembrar da mesma mensagem tão clara e objetiva, aquela que brota do sonho e invade o desejo desperto, que move gerações de mulheres a continuarem debatendo o mesmo ponto, demonstrando, por meio de dados, mais do que exemplos, o quanto ainda precisamos mudar. “R-E-S-P-E-C-T” (RESPEITO), cantou a grande Aretha Franklin décadas atrás ao modificar e, por que não dizer, responder com vocais e alterações estruturais a versão original da música que carregava um sexismo já ultrajante, com superioridade moral ela ainda ecoa nítida na ira da injustiça reeditada a cada dia. Somos humanas, cheias de potenciais desacreditados nas pequenas ações do dia a dia, todo dia. Na construção de conhecimento, percebemos que podemos fazer surgir a inovação. Vai do olhar particular, daquela perspectiva pouco privilegiada, da proximidade com o fenômeno, da curiosidade genuína. Brota a ideia, nasce o método, chega-se à realização. O sonho que empurra para fora da cama, no propósito de testar, verificar, adaptar, moldar e testar de novo, e então, voilà: descoberta realizada! Alegria e expectativa do ser curioso, tão igualmente frustradas: quem será o rosto estereotípico a comunicar o novo ao mundo? No acúmulo de descobertas comunicadas por quem foi aceito, surge a contribuição de uma típica mulher na ciência. Assim como uma mãe em fome entrega seu bebê a quem

puder alimentá-lo, após sequências de descréditos e negligências, gerações de mulheres aprenderam a esperar menos do seu trabalho. Os efeitos dessa invisibilidade são sentidos de diversas maneiras: do teto de vidro intransponível que, em diversas profissões, limita a ascensão de mulheres aos postos de lideranças aos labirintos de vidro do cotidiano, traduzidos em obstáculos associados à realidade de ser mulher. Em 2018, a Unesco observou uma redução gradativa da presença de mulheres ao longo da carreira acadêmica, sendo elas 55% do total de mestres no mundo, mas apenas 44% de doutoras e só 28,8% de pesquisadoras independentes. Apesar de a representatividade das mulheres dentro da ciência ter aumentado nos últimos 60 anos, ainda há uma acentuada diferença de gênero no que diz respeito à produtividade, ao ganho de salário, ao reconhecimento e ao número de citações ao longo da carreira – pesquisas apontam que homens recebem cerca de 30% mais citações do que cientistas mulheres, apesar de terem aproximadamente a mesma taxa de publicação. A invisibilidade do labirinto de vidro percebe-se quando esbarramos em desafios como maternar na condição competitiva de afirmação no campo científico, levando à redução de produtividade em períodos negligenciados por aqueles que definem as regras do jogo. Pior, a cobrança para uma mulher que necessita quebrar estereótipos e rótulos é ainda mais severa, precisando, em média, ser 2,5 vezes mais produtiva que seus pares homens para se estabelecer na carreira. Quanto mais elevada a posição, menor as chances de uma mulher ocupá-la. Se poucas chegam lá, provar que uma mulher pertence a esse lugar é uma quebra de expectativa poderosa. A invisibilidade da mulher no mer-

cado é amplificada pela construção coletiva midiática, que, quanto mais escolhe o padrão clichê de cientista, mais aprofunda a lacuna na representatividade pública de mulheres que comunicam suas próprias inovações. No Brasil, quando retratadas pelo senso comum, cabe a elas o lugar de uma cientista júnior, jovem e inexperiente (57% de representações pela mídia), com o protagonismo como cientista sênior em apenas 6,7% dos casos. Essa dinâmica é responsável pelo que chamamos de efeito Matilda, que se repete na trajetória de grandes mulheres, aquelas que desenvolvem suas inovações e testemunham seus créditos compartilhados com homens que as “endossam”, muitas vezes com sombras largas. Situação de uma sociedade que só reconhece a voz da inovação e da excelência em tons graves e masculinos. Invisibiliza-se uma mulher quando não se escuta sua voz, quando se espera candura e se rejeita sua raiva, quando a protegemos de si mesma. Mulher, outras mulheres te enxergam e te escutam. Sejamos a luz umas das outras. Apesar da transparência que nos é imposta, brilhamos desde a antiguidade de Hipátia aos dias atuais. Somos muitas e seremos sempre, não pela promessa egoica de um reconhecimento tão raro, mas pela necessidade de construir um futuro mais justo, equânime, possível e viável. n *Assinam em nome das SCI-Girls (@scigirlsbr), grupo que trabalha pela inclusão das mulheres na ciência: Natália Bezerra Mota, Fernanda Palhano-Fontes, Sylvia Medeiros, Bruna Landeira, Denise Carvalho, Geissy Araújo, Fernanda Selingardi Matias, Lorenna Carvalho Saraiva, Bárbara Luzia Covatti Malcorra, Daiane Cristina Ferreira Golbert, Deyse de Souza Dantas, Angelis Falcão, Marina Ribeiro, Priscilla Kelly, Taíla Maciel de Alencar Fialho, Janaina Weissheimer e Dayane Araújo Dias

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uidar da aparência é uma das formas de elevar a autoestima e sobre isso não há quem discorde: gordura localizada e celulite estão no topo da lista das queixas de mulheres e homens em relação à estética corporal. Nesse quesito, um tratamento exclusivo tem sido destaque nas principais clínicas do país: o Alma Prime. Desenvolvido com tecnologia israelense, o Alma Prime é uma multiplataforma poderosa e completa, que combina duas práticas principais – ultrassom vetorial e radiofrequência fracionada – para eliminar a gordura localizada e tratar a flacidez da pele. A fusão das técnicas garante um resultado fantástico, efeito “lipo sem corte”, que é mais duradouro e realizado em sessões rápidas, indolores e, principalmente, de forma não invasiva. Extremamente seguro, o tratamento é seletivo, atingindo apenas as células adiposas, sem qualquer dano a outras estruturas. As células que não se rompem de imediato sofrem deformação estrutural e, num processo gradativo, são eliminadas, resultando em uma perda de até 35% de gordura nas áreas tratadas. Para a fisioterapeuta dermatofuncional MARINA BERTI YUNES, o Alma Prime trouxe resultados positivos para além dos negócios. “A tecnologia foi muito agregadora para o meu consultório e posso afirmar, com certeza, que a compra do equipamento também mudou completamente a minha vida profissional e carreira porque acabei me especializando em tratamento corporal”, conta ela, carinhosamente chamada de “garota Alma Prime” pelas suas pacientes. O aparelho trouxe ainda mais para a profissional: uma parceria duradoura. O Instituto Marina Berti Yunes é um dos tantos clientes satisfeitos da LBT LASERS, dos empresários Eduardo Ferraz, Odete e Yosef Manor, representantes no Brasil da Alma Lasers, e especialistas em soluções inovadoras que vão ao encontro das necessidades de profissionais médicos, disponibilizando tecnologia de ponta, além de treinamentos, cursos

e suporte pós-venda que garantem o funcionamento dos sistemas e a satisfação de pacientes. A empresa é reconhecida como uma das mais conceituadas distribuidoras de equipamentos médicos dermatológicos do país. “Estou imensamente feliz e satisfeita por ter parcerias que acreditam em mim e no meu empreendimento. Sinto como se fizesse parte da família LBT”, diz a fisioterapeuta dermatofuncional. “Tenho apoio e incentivo em todas as minhas especializações e sempre me oferecem o suporte necessário para os equipamentos. É uma família que tenho como extensão do meu negócio, que trabalha muito próxima de clientes para que a gente conquiste resultados excelentes”, revela Marina, que está abrindo uma nova clínica nos Jardins, em São Paulo, na qual todos os atendimentos serão realizados com tecnologias corporais. Entre as novidades está o Power 2, um equipamento que vem revolucionando o combate à celulite com quatro tecnologias integradas. A plataforma combina endermologia, vácuo, radiofrequência (RF) multipolar e LED (luz de 658nm) que reduzem a gordura localizada e atenuam a flacidez, diminuindo de maneira certeira a celulite, esculpem contornos e ainda promove rejuvenescimento facial. Tudo isso com resultados imediatos e duradouros. Trazido com exclusividade pela LBT Lasers, o grande trunfo do Power 2 é a composição do aplicador endermológico. A ação acontece quando o vácuo suga a pele com força suficiente para romper os septos que circundam a celulite, e a radiofrequência, em conjunto com o LED, esquenta a região, esvaziando os nódulos de gordura e estimulando a produção natural de colágeno. O resultado é uma pele com textura uniforme, aparência firme e menos flacidez corporal. “Esse aparelho tem tudo o que há de mais avançado para tratamento de celulite, flacidez e gordura localizada no mercado”, garante Marina. + LBTLASERS.COM.BR / @LBTLASERS

FOTO LUCCA MIRANDA/DIVULGAÇÃO

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TECNOLOGIA EM PROL DA ESTÉTICA



ENSAIO

Uma das precursoras entre as influenciadoras digitais, Bianca Andrade mostra a que veio como mulher de negócios, com metas ousadas e aposta no mercado internacional por carla julien stagni fotos mauricio nahas styling cuca ellias

a época em que começou a dar seus primeiros passos no universo digital, aos 16 anos, “na internet era tudo mato”, brinca Bianca Andrade, ou Boca Rosa, como é conhecida entre seus milhões de fãs e seguidores. Dez anos se passaram até a garota nascida e criada na comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, se tornar um case de sucesso, não só como influencer e youtuber, profissões surgidas no século 21 e das quais Bianca é uma das precursoras, mas como empresária em ascensão. “Comecei com 16 anos na internet, como hobby, sem expectativas. Sempre fui muito vaidosa e postava conteúdos relacionados à maquiagem e beleza, focando na minha comunidade.

Eu improvisava muito e esse foi um ponto importante. Trazer um conteúdo diferente, mais acessível, que tinha a ver com a minha realidade. Mesmo morando na favela e não tendo nenhuma estrutura que me ajudasse a crescer, segui adiante”, lembra ela. Criada pela mãe – o pai não foi presente na infância e adolescência –, Bianca nunca duvidou que poderia chegar lá: “Eu era feliz da vida na Maré. Mas sonhava em ser famosa, em ter uma condição financeira melhor. Nunca coloquei barreiras nos meus sonhos. Via as pessoas ricas, fora da minha realidade, e achava que podia ter aquilo também. Não achava inacessível. Tive o privilégio de ter uma mãe que foi rígida comigo, me colocou no caminho certo e me empoderou muito”,


Casaco Aleha, top Alice Capella, calça Dolps, acessórios Hector Albertazzi, botas Prada



conta Bianca, hoje com 27 anos, casada com o youtuber Fred, do canal Desimpedidos, e mãe do pequeno Cris, de 9 meses. Ser “apenas” influencer digital ficou pequeno para a criatividade e ambição da carioca. E uma coisa acabou levando à outra. Ela já era uma das maiores influenciadoras das redes no Brasil – no Instagram tem 17,5 milhões de seguidores, mais de 1 milhão no Twitter e quase 6 milhões de inscritos no YouTube – quando, há três anos, decidiu enveredar pelo mundo dos negócios. E deu certo. Há quem acredite que Bianca tem o chamado “toque de Midas”, tudo em que ela aposta deslancha. “Me considero, sim, uma visionária, tenho que me dar esse crédito. Sempre tive essa inquietação e questionava: o que as grandes empresas fazem de diferente, por que têm um branding tão bem-feito? Acho que o que faz a diferença no meu caso é que, além de criar, dominar o storytelling, participo de todos os processos a fundo: sou a CEO da minha empresa, faço a gestão, boto a mão na massa. Empreender é correr risco. Me inspiro em mulheres que deram certo, porque os homens não passam pelo que passamos e não têm nossas dores”, comenta a empresária, que, entre seus projetos para este ano está compartilhar sua expertise como gestora com mulheres periféricas: “Estou preparando um curso on-line de como fazer um negócio pequenininho crescer. Vou explicar sobre lucro, investimento, marketing... um bê-á-bá básico e bem completo. Porque as empreendedoras das comunidades não têm acesso a isso. Como vim do mesmo lugar que elas, sei exatamente como fazer acontecer e quero ensiná-las para que consigam alcançar seus sonhos como eu”.

Atualmente, Bianca Andrade está à frente do Boca Rosa Company, holding com 21 pessoas no bairro dos Jardins, em São Paulo, que cuida de tudo que seja ligado à marca. “Além de escritório, é um centro de inovações, um espaço 100% instagramável, com estrutura necessária para criar diversos conteúdos.” É de lá que ela e sua trupe administram a Boca Rosa Beauty, uma das linhas de maquiagem mais vendidas do país, e a Boca Rosa Hair, com produtos para cabelo em parceria com a Cadiveu, entre eles o último lançamento, uma vitamina para cabelos em gominhas com formato de boca – única do gênero no mercado brasileiro com o selo da Peta Internacional, o que comprova a composição 100% vegana e cruelty free –, que em 72 horas esgotou o estoque de um mês, 19 mil frascos, e faturou R$ 1 milhão. Lembrando que, em 2020, Bianca teve um faturamento de R$ 120 milhões e pretende ultrapassar esse número em 2022. Ao que tudo indica, não terá dificuldades de bater essa meta. “Este ano vou levar a Boca Rosa Hair para Portugal. Esse é um passo muito importante porque depois quero focar na América Latina. Estou me preparando para isso. Tenho feito muitas aulas de inglês, porque ainda não sou fluente, e vou começar espanhol”, avisa Bianca, que, antenada que é, já notou que o metaverso é a grande aposta do momento e está desenvolvendo seu avatar, que vai interagir com as pessoas que a seguem na internet. “Costumo dizer que precisaria de outra Bianca para dar conta de tudo e agora é possível ter várias. Mais para frente vamos ter nossos próprios produtos virtuais, NFTs...” O céu é o limite! n


Blazer e calça Hugo Boss, top Alice Capella, brinco e gargantilha Neuza Pinheiro, anéis e colar Marisa Clermann, tênis Nike

Beleza: Lara Carvalho Edição de arte: Jeff Leal Edição de estilo e produção executiva: Ana Elisa Meyer Assistente de produção de moda: Jaqueline Cimadon Assistente de fotografia: Vanessa Gomes e Vitor Cohen Tratamento de imagem: Fujocka


RENTAL COINS GARANTE SEGURANÇA NO MERCADO DE CRIPTOATIVOS

FOTOS DIVULGAÇÃO; ANGEL DA VEIGA/ DIVULGAÇÃO

É

fato que o universo digital vem ganhando cada vez mais força na vida das pessoas. As bolas da vez são o metaverso e os NFTs (non-fungible token) – representação eletrônica de determinado bem (“ativo”) por um token revestido em segurança e tecnologia. Por essas e outras, o mercado de criptoativos está em constante efervescência. Apesar do “boom” dos NFTs ter se dado em razão da arte, eles podem, na verdade, representar qualquer espécie de ativo, como um selo ou uma música. Portanto, os ativos intangíveis já são a regra do momento, seja pela possibilidade de transações por meio de criptomoedas como “bitcoins” ou “Ethereum”, ou pela compra de ativos em NFTs, possibilitando transações com total segurança por meio digital. A Receita Federal, inclusive, já tributa e regulamenta o mercado pela Instrução Normativa nº 1.888/2019. Dessa maneira, não há o que duvidar da tecnologia já posta, passível de tributação com contornos bem definidos. A estabilidade dos criptoativos reside justamente na ausência de fronteiras e resiliência típicos das crises, permitindo melhor liqui-

dez do empreendimento em poupanças, títulos públicos, holdings patrimoniais ou transações bancárias sobretaxadas. E para garantir solidez, a empresa que mais se destaca em locação desses recursos a nível nacional é a @RENTALCOINS, graças à sua estrutura típica de uma grande corporação do Vale do Silício, com sede em Curitiba (PR), agências nas maiores capitais do país. O grupo possui a missão de fusionar os conceitos financeiros e trazer equilíbrio quanto ao aspecto “segurança” típico dos ativos tradicionais e aspecto de maior “liquidez” quanto aos benefícios do mercado financeiro tecnológico (fintech), em um modelo de negócios sólido, seguro, transparente e completamente respaldado pela legislação. Com expertise de anos no mercado atendendo empresários bem-sucedidos, a @rentalcoins segue otimista em 2022 como um ano de quebra de paradigmas, especialmente pelo fim da pandemia e em um ambiente mais otimista, focando no crescimento na locação de criptoativos.

Rafael Serradura - diretor comercial


CASTA

EFEITO DOURADO Ela largou um emprego em um banco de investimentos para fundar a “Sephora da Índia”: conheça Falguni Nayar, a self-made woman bilionária da vez POR ANDERSON ANTUNES

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indianas), porque aparentemente seu lado gujarati falou mais alto: ela queria criar o seu próprio negócio. Segura de que estava no caminho certo, e com US$ 2 milhões tirados do próprio bolso, Falguni fundou, em 2012, a Nykaa, uma rede de lojas de produtos cosméticos inspirada na francesa Sephora, e que assim como a marca que hoje pertence ao gigante LVMH também tem um e-

clientes e, principalmente, o tipo de cosmético que mais as agradava. No site da Nykaa, as clientes encontram itens de skincare, maquiagem e outros produtos que são apropriados para os tons e tipos de pele da população, além do clima do país. Com apenas nove anos de existência, em 2021, a Nikaa abriu seu capital nas bolsas de valores de Bombaim e de Nova York. Antes disso, a

“Espero que cada vez mais mulheres ousem ir atrás de seus sonhos como eu fui” -commerce muito bem planejado. Dizer que deu certo é pouco. Nascida em um momento que a Índia começava a viver um de seus períodos de maior pujança, inclusive como um dos membros dos Brics, o grupo de países formado ainda por Brasil, Rússia, China e África do Sul, a Nykaa – nome derivado da palavra em sânscrito “nayaka”, que significa alguém que está no centro das atenções – logo se transformou na “Sephora da Índia”, com o grande diferencial de conhecer melhor suas

empresa atraiu investidores como a companhia de private equity americana TPG Growth, com seus mais de US$ 109 bilhões em ativos sob gestão, e que viu no IPO (Oferta Pública de Ações, na sigla em inglês) a chance de entrar na economia indiana por meio do maior público consumidor do país, formado principalmente por mulheres. “A Índia será um grande mercado de varejo”, acredita Falguni. “Os indianos e as indianas aspirarão por mais, seu poder de compra crescerá e as pessoas

FOTO GETTY IMAGES

C

om 59 anos recém-completados, Falguni Nayar é uma das mulheres mais ricas e poderosas do mundo da qual você provavelmente nunca ouviu falar. Mas isso deve mudar muito em breve, porque a trajetória ascendente dessa executiva poderosa está apenas começando. Nascida em uma família do grupo étnico dos gujaratis, o que denota um tipo de classe média da Índia, de empreendedores natos e para os quais o sucesso é medido, em parte, pelo tamanho daquilo que criam – que por si só já seria uma grande vitória em um país no qual 70% da população vive na pobreza –, Falguni teve acesso à educação de qualidade desde cedo. Formada em economia pelo Sydenham College of Commerce and Economics de Mumbai, com pósgraduação pelo Indian Institute of Management Ahmedabad (IIM Ahmedabad), Falguni mal tirou a toga de aluna de ensino superior e já estava trabalhando no Kotak Mahindra Bank Limited, um dos maiores bancos de investimento na Índia, onde permaneceu por 19 anos. Seu salário anual no Kotak, sem seus últimos anos na instituição financeira, já se contava aos milhões de dólares. E Falguni escolheu deixar o emprego dos sonhos de muitos indianos (imagina, então, das


gastarão cada vez mais em marcas de estilo de vida e serviços. A Nykaa está em um bom lugar.” Hoje, com um valor de mercado de aproximadamente US$ 9 bilhões, a Nykaa disparou as vendas em 40% na pandemia e fez de sua fundadora e maior acionista a segunda bilionária “self-made” de toda a história da Índia (a primeira foi Kiran MazumdarShaw, que se tornou bilionária em 2015 com o IPO da fabricante de remédios genéricos Biocon). Falguni, no entanto, é mais rica: ela é dona de uma fortuna de US$ 4,5 bilhões, enquanto Kiran teria US$ 3,3 bilhões. Cada vez mais em voga no resto do mundo, a bilionária aos poucos vai atendendo a convites para contar a sua história e dividir a sua jornada empreendedora. Nessas ocasiões, quando precisa se afastar de suas funções, seus dois filhos gêmeos, ambos funcionários da Nykaa, entram em cena – Son Anchit dirige o negócio on-line e sua filha Adwaita, que era a diretora de operações da Nykaa, é CEO de sua varejista de roupas em rápida ascensão, Nykaa Fashion. E se alguma decisão mais séria precisar ser tomada na ausência de Falguni, eles contam com o pai, o executivo Sanjay Nayar, presidente da filial indiana da KKR, uma das maiores empresas de investimentos variados do mundo. Mas situações como essa raramente acontecem, já que Falguni tem confiança naquilo que criou e considera essa, aliás, como uma de suas melhores qualidades. “As mulheres precisam permitir que o holofote de sua vida esteja voltado para elas mesmas. E eu espero que cada vez mais existam mulheres que ousem ir atrás de seus sonhos como eu fui”, Falguni disse recentemente, numa dessas vezes que deixou de ser a CEO da Nykaa por algumas horas para viver seus momentos de guru do empoderamento feminino, do alto dos bilhões de dólares que hoje fazem parte de sua trajetória, para gujarati nenhum colocar defeito. n PODER JOYCE PASCOWITCH 61


PLURAL

DE PORTAS ABERTAS Líderes de diversidade e inclusão de grandes empresas dão a letra e sinalizam como a mudança de mentalidade beneficia as pessoas que trabalham nelas e o próprio negócio

POR MORGANA BRESSIANI


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á é consenso que locais de trabalho diversificados são benéficos e essenciais, tanto para as pessoas como para os negócios. Não por acaso, a questão da inclusão nas empresas ganhou atenção especial nos últimos tempos. O relatório Diversity Wins da McKinsey & Co., publicado em maio de 2020, reforça que esse processo vem se fortalecendo. O levantamento, que existe desde 2014, traz dados atuais referentes a mais de mil grandes empresas de 15 países e aponta que, mesmo nas relativamente diversas, é necessário atentar-se à inclusão. Apesar do ESG – Environmental, Social & Governance – já ser lugar-comum nas organizações, é necessário discutir de que forma as pautas estão sendo aplicadas. Outro estudo realizado pelo Instituto Ethos mostrou que apenas 4,7% da população preta e parda ocupam cargos executivos, apesar de representar mais da metade da população brasileira. Nesse ponto, entendemos que diversidade não basta: é preciso ter inclusão. Diversidade e inclusão (D&I) têm significados diferentes. Enquanto a primeira diz respeito a contar com profissionais de etnias variadas, PCDs, pessoas trans, com diversas orientações sexuais, entre outros, a inclusão deve ir além, modificando a cultura da empresa e criando as mesmas oportunidades para qualquer pessoa. “As empresas são compostas por pessoas e devem refletir nossa sociedade. Mais do que promover diversidade, precisam entender que inclusão não é algo apartado. Diversidade é quem eu sou e inclusão é como eu me sinto”, aponta Camila Bombonato, gerente sênior de inclusão e diversidade do Twitter para a América Latina.

“Empresas são compostas por pessoas e devem refletir nossa sociedade Diversidade é quem eu sou e inclusão é como eu me sinto” Camila Bombonato, gerente sênior de inclusão e diversidade do Twitter para a América Latina

Foi dessa urgência apontada por Camila que surgiram os cargos de diversidade e inclusão como o dela, que hoje são realidade na maioria das grandes corporações do mundo, incluindo o Brasil. Em 2021, o time global de inclusão e diversidade, equidade e acessibilidade do Twitter lançou um novo programa de autoidentificação chamado Self-ID, que permite que as pessoas compartilhem mais sobre sua identidade pessoal em tópicos como gênero, orientação sexual, raça e/ou país de origem, religião, deficiência, serviço militar, histórico socioeconômico, status de cuidador e muito mais. Segundo Camila, além de fornecer informações valiosas sobre a composição dos times e como podem progredir em direção às metas inclusivas da empresa, isso ajudará a desbloquear novos programas relevantes e planejamento de talentos, especialmente para comunidades sub-representadas. A Coca-Cola Brasil é outra empresa que acaba de anunciar sua aspiração: chegar a 2030 com 30% de pessoas negras em cargos de liderança e aumentar em 50% a representação total em seu quadro de contratações em todo o país. “Essa transformação ganhará vida por meio de nossa cultura no local de trabalho e práticas de negócios, incluindo conscientização e engajamento, aquisição de talen-

tos, desenvolvimento e planejamento de carreira”, explica Leila Luz, que recentemente começou sua jornada na corporação como gestora sênior de diversidade e inclusão dentro da diretoria de RH. Ela pontua que liderar essa pauta é conectar pessoas, reconhecer diferentes realidades e entender que, por mais que todos nós sejamos diversos, precisamos exercitar empatia para compreender que neste universo de possibilidades ainda há barreiras que tornam nossa sociedade tão desigual. “Vai

Camila Bombonato, gerente sênior de inclusão e diversidade do Twitter para a América Latina

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Christiane Aché, diretora do ABP-W na Saint Paul Escola de Negócios

Leila Luz, gestora sênior de diversidade e inclusão da Coca-Cola Brasil

“É a pluralidade que gera inovação, empatia, motivação, espírito de equipe, investimento e resultado” Christiane Aché, diretora do ABP-W, programa de formação e capacitação de conselheiras na Saint Paul Escola de Negócios

cem soluções e novas ideias para nossos negócios e dia a dia. Há também maior competitividade na atração e retenção de talentos, afinal as pessoas buscam espaços onde possam ser elas mesmas, expressar sua identidade e se vejam representadas”, lembra Camila. Leila completa afirmando que, assim como quem colabora, quem consome também tem orgulho de comprar onde se vê representado. “As empresas que investem no tema saem na frente tam-

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bém em termos de gestão de reputação da marca.” Segundo levantamento da Teva Indices, que produziu o primeiro estudo quantitativo da presença de mulheres na composição de conselhos, diretorias e comitês das empresas brasileiras de capital aberto, descobriu que mais de 58% não contam com mulheres em cargos de diretoria, conselho fiscal ou comitê de auditoria. Métrica sentida na pele pela executiva Christiane Aché, que

depois de 37 anos em multinacionais de origem francesa da indústria aeroespacial, em Paris, e de infraestrutura – energia e transporte – em São Paulo, sentiu a falta de espaço para lideranças femininas. Há cinco anos ela dirige o ABP-W (Advanced Boardroom Program for Women), programa de formação e capacitação de conselheiras na Saint Paul Escola de Negócios, onde são desenvolvidas competências técnicas e comportamentais para futuras conselheiras, levando em consideração novos modelos de negócios, desafios geracionais e tecnologias emergentes. Ela conta que, com a ajuda do programa, várias mulheres conseguiram alcançar cargos em conselhos de empresas e, hoje, tem uma poderosa rede de executivas e conselheiras. “É essa pluralidade que gera inovação, empatia, motivação, espírito de equipe, investimento e resultado”, sinaliza a executiva, lembrando que a base para esse caminho é a mudança dos critérios de seleção e da cultura da empresa. n

FOTOS DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO TWITTER

além das marcas, é um processo de transformação social.” O posicionamento das duas executivas é confirmado pelos dados do relatório da McKinsey, que mostram a importância da D&I no mundo corporativo: em 2019, empresas com maior diversidade de gênero em equipes executivas tinham 25% mais probabilidade de ter lucratividade acima da média. Além disso, outras pesquisas da McKinsey já mostraram que grande parte das pessoas que consomem atualmente, em especial as pertencentes à geração Z, buscam serviços e produtos de marcas com os mesmos valores nos quais acreditam. Ou seja: para relacionar-se com todo mundo que consome, acreditar, propor e cumprir a agenda ESG tornou-se indispensável. “Empresas com foco na diversidade podem ser mais inovadoras e contar com novas soluções, já que está aberta a diferentes identidades, experiências educacionais e sociais, e perspectivas que ofere-


OPINIÃO

MULHERES DIVERSAS

POR LILIANE ROCHA

ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES; MÁRIO BOCK/DIVULGAÇÃO

Q

uando falamos sobre direitos e temas relacionados às mulheres, parece que estamos falando sobre uma massa homogênea que lida com as mesmas questões, desafios e barreiras. Parte desse entendimento é verdadeiro, pois em uma sociedade construída sobre pilares, cultura e perspectivas masculinas e patriarcais, o marcador identitário ser mulher diz muito sobre o que uma pessoa enfrenta cotidianamente em empresas, espaços públicos e no âmbito do lar. Todas as mulheres, ou a maioria, provavelmente vivenciam os desafios da dupla ou tripla jornada, assédios na rua e no ambiente de trabalho, preocupações, medos – não somente de assalto, mas também de serem estupradas –, diferença salarial, demissão ou não admissão pela maternidade, enfim, a lista pode ser infinita. No entanto, quando olhamos para as interseccionalidades e singularidades possíveis, que se somam ao marcador ser mulher, percebemos que as dores, enfrentamentos e desafios podem ser ainda mais complexos para mulheres negras, lésbicas, com deficiência, indígenas, trans, e mulheres com mais de 50 anos... A cada marcador identitário somado, há um novo impacto nas vivências sociais cotidianas. Segundo o estudo “Diversidade, Representatividade & Percepção - Censo Multissetorial”, da Gestão Kairós, realizado entre 2019 e 2021 com 26 mil respondentes, mulheres são 25% do total de 897 líderes empresariais. Porém, quando segmentamos os dados, podemos entender com clareza como os marcadores identitários au-

mentam as dificuldades e, por exemplo, as questões básicas como o acesso ao mercado de trabalho. Dentre os 25% de mulheres que destacamos, temos nessas estruturas somente 3% de mulheres negras, (2% pardas e 1% pretas). Ou seja, na média, o número de mulheres negras é cerca de sete vezes menor do que o de brancas. Mais: indígenas são 0,1%, com deficiência 0,6%, autodeclaradas lésbicas são 0,8% e bissexuais 1,1%. Já quando falamos de mulheres transgênero (travestis e transexuais) temos apenas 0,1%. É fundamental mergulhar nesses marcadores, pois entendemos ser urgente lutar pela igualdade das mulheres, ou seja, assegurar os direitos básicos universais de todas. Mas também lutar pelos princípios de equidade e isonomia, ou seja, tratar diferentemente as situações que são – de fato – distintas por motivos culturais, sociais, econômicos, adaptando nossas ações em casos específicos, a fim de deixá-las mais justas. Se em uma determinada empresa, que tem mil pessoas trabalhando e somente 6% são mulheres, será que um programa de diversidade com foco em contratação de mulheres assegura que venham mulheres pretas, trans, periféricas? Ou serão contratadas exclusivamente mulheres brancas, cis e de classe média alta? Neste caso, estamos incorrendo no risco de, como diz Djamila Ribeiro, universalizar a luta pelos direitos das mulheres a partir

de uma única perspectiva das mulheres brancas. Em um país como o Brasil, no qual 29% das mulheres são negras, para extrair somente um recorte dessa problemática, percebemos imediatamente o quanto o abismo de uma sociedade desigual seguirá aumentando se não refinarmos nossa visão de sociedade, assegurando que todas as mulheres, e não somente algumas, estão sendo incluídas e valorizadas. Nesta edição em que celebramos o poder feminino, convido a olhar, reconhecer e se conectar com cada mulher que está ao seu redor e faz parte da sua vida, compreendendo as suas singularidades, o que as torna únicas em seus desafios, brilhantismo, suavidade e força. n Liliane Rocha é CEO e fundadora da Gestão Kairós e autora de Como Ser Um Líder Inclusivo. Foi eleita por três anos consecutivos como uma das 101 lideranças globais de diversidade pelo World HRD Congress

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CANTO DE PODER POR CARL A JULIEN STAGNI

FOTOS PAULO FREITAS

BATE CORAÇÃO Ela é uma das cardiologistas mais conceituadas do país. Frequentam seu consultório personalidades dos negócios, artes e política: a lista vai do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), à cantora Anitta. Fato é que Ludhmila Hajjar é uma apaixonada pela medicina e se dedica 24/7 à profissão. Só abre precedente quando o assunto é música. Dia desses conseguiu espaço em sua concorrida agenda para ir ao show de Marisa Monte, de quem é fã. “Sou aquela pessoa que nasceu para ser médica. Minha vida é isso e quero continuar ensinando, atuando e cuidando de pacientes”, pontua ela, que é cardiologista e intensivista formada pela

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UnB, com residência no Hospital das Clínicas e doutorado na Universidade de São Paulo. Também é professora de cardiologia da faculdade de medicina da USP e referência em sua área. Há pouco mais de um ano deixou de fazer parte do alto escalão do conceituadíssimo hospital Sírio-Libanês para integrar o olimpo da luxuosa Rede D’Or, ao lado de autoridades médicas como o urologista Miguel Srougi, o cirurgião Antonio Luiz Macedo e o oncologista Paulo Hoff. Como se não bastasse ser tão bemsucedida na carreira que escolheu, Ludhmila ocupou as manchetes políticas ao ser cogitada para assumir o

Móveis de linhas retas, couro, madeira e plantas estrategicamente posicionadas (acima) dão um ar clean e moderno ao consultório da doutora Ludhmila (abaixo)


A sala de espera na área externa, com móveis de rattan e muito verde, foi criada para que as pessoas aguardem a consulta em um ambiente agradável, enquanto o consultório em si é bem simples com destaque para porta-retratos da família e diplomas de Ludhmila

Ministério da Saúde do governo Bolsonaro, no lugar de Eduardo Pazuello, no auge da crise sanitária da Covid-19, em 2021. “Sempre trabalhei com medicina pública. Sei como é o sofrimento das pessoas, as dificuldades de acesso a um sistema de saúde de qualidade, e meu maior sonho é ajudar a população a ter uma saúde mais eficiente. Naquele momento, achei que poderia contribuir assumindo o ministério. Mas logo percebi que não conseguiria trabalhar com esse governo.” O papo com a PODER aconteceu em seu consultório em São Paulo. Localizado no Itaim, em um prédio de alto padrão bem em frente ao hospital Rede D’Or São Luiz, chama a atenção pelo tamanho. Superespaçoso, é ocupado por mobiliário de linhas retas com predominância de materiais como madeira e couro. Sua sala de atendimento é até pequena se comparada ao resto. Ali apenas uma mesa, uma maca, alguns porta-retratos com fotos da família e diversos diplomas enquadrados. Ludhmila diz que o ambiente foi feito sob medida pela Rede D’Or, mas que ela pôde dar seus “pitacos”. “Fiz questão que fosse no primeiro andar porque tem essa varanda”, diz ela mostrando um espaço semelhante a um lounge ao ar livre com muitas plantas,

vasos, móveis de rattan, teto e lustres de palha. “Quero que as pessoas se sintam bem, tranquilas, enquanto esperam para serem atendidas”. Voltando ao inevitável tema político, a cardiologista deixa claro: “Não me imagino em uma carreira política. Gostaria de contribuir com um novo governo integrando o quadro técnico que está por trás de uma liderança, no caso um ministro da Saúde. Diante desse desmonte que a gente está assistindo, tudo o que queremos é um futuro melhor. Estou ligada a duas das áreas mais maltratadas dos últimos tempos: saúde e educação”. n Há também um espaço de espera interno, com poltronas em tom dourado fosco, bem elegante, e orquídeas brancas escolhidas por Vic Meirelles

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PÚRPURA

Com o propósito de criar cadeias produtivas sustentáveis dentro de uma prática de troca de saberes e preservação da floresta, Fernanda Stefani, da 100% Amazonia, tornou-se expert na produção do fruto mais conhecido da região POR NINA RAHE

oi assim por acaso, em uma viagem de avião em 2006, que o caminho de Fernanda Stefani encontrou efetivamente a Amazônia. Formada em economia pela USP, com mestrado em Viena, e à época gerente comercial, Fernanda voltava para São Paulo após participar de uma feira em Belém – a pedido de uma empresa canadense para a qual prestava serviço, e que queria comprar suco de açaí já embalado. Com um livro da Embrapa nas mãos, estudando sobre o cultivo de açaí, no voo ela foi abordada por dois estrangeiros que eram ninguém menos que o vice-presidente e o COO da MonaVie, empresa americana que trabalhava com marketing multinível – atualmente Jeunesse. “Eles tinham acabado de criar uma bebida à base de açaí, compravam de um trade em Nova York, mas queriam fechar negócio direto com o Brasil. Eu estava começando a aprender sobre a cadeia, jamais teria imaginado que estaria na Amazônia fazendo o que faço hoje”, lembra Fernanda, que, mesmo no início, foi capaz de realizar uma simulação de que eles economizariam cerca de US$ 300 mil se comprassem o produto do Brasil. “Foi basicamente uma entrevista de trabalho em cinco horas de voo”, explica. A partir de então, ela se mudou para Belém e se tornou o braço de compras da MonaVie no país, chegando a ser conhecida pela população da região, inclusive, como “rainha do açaí”, uma vez que passou a requisitar de produtores locais uma quantidade que começou em 400 toneladas e chegou a 6 mil, no terceiro ano de atividade. “Os fornecedores cresceram muito, a MonaVie economizou uma fortuna e eu saí

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Fernanda Stefani: exportacão sustentável de produtos da floresta


percorrendo os quatro cantos da Amazônia para entender como tudo funcionava.” Mas o que Fernanda faz hoje vai além do seu trabalho na MonaVie e a mudança na carreira, que aconteceu em 2009, foi movida por um certo imprevisto: a crise de 2008 e sua saída da multinacional. Com a certeza de que valeria continuar atuando na área, no entanto, ela se juntou à atual sócia, Joziane Alves, e as duas resolveram transformar o conhecimento que tinham da região e da cadeia produtiva na 100% Amazonia, que surge da percepção de que o crescimento do mercado transformou o açaí em monocultura, deixando um impacto negativo na floresta. “Estamos tirando um produto tradicional da alimentação amazônica e o que deixamos?”, questiona Fernanda.

FOTOS DIVULGAÇÃO; FREEPIK

tradicional da o ut od pr um o nd ra ti re “Estamos e deixamos? Você vê qu o e a ic ôn az am o çã ta alimen e não percebe o ão uç od pr a ss ne es av municípios-ch do na cidade” desenvolvimento chegan

“Tem áreas de açaí irrigados não só no Estado do Pará, mas na Bahia, Rio Grande do Norte e você vê municípios-chaves nessa produção, mas não percebe o desenvolvimento chegando na cidade”, completa. A empresa, que começou com um investimento próprio de R$ 50 mil e hoje se divide entre representação e exportação, nasceu com o propósito de criar cadeias produtivas sustentáveis dentro de uma prática de troca de saberes e preservação da floresta, desenvolvendo um portfólio de mais de 50 produtos de espécies amazônicas. Uma conquista que não foi tão simples. “Minha expertise é na área de alimentos e, quando falamos dessa área, temos que entender o que o mercado externo está disposto a aceitar. O açaí se vendia por si mesmo, mas era preciso introduzir outros produtos”, explica Fernanda. Assim, se hoje a 100% Amazonia envia óleo de andiroba, manteiga de cupuaçu e cumaru para mais de 60 países, no princípio foi necessário trabalhar com a exportação de biojoias e cerâmicas. “A ideia foi investir em ingredientes amazônicos para empresas que entendessem o poder deles. O açaí é o mais conhecido, mas há produtos com bases farmacêuticas, como óleos com ativos para restauração da pele”, exemplifica Fernanda – hoje, inclusive, o açaí responde a apenas 35% da carteira da 100% Amazonia. E a principal transformação aconteceu em 2016, com o desenvolvimento do Programa Aryiamuru (a palavra significa “o poder da mãe”), que fomenta o desenvolvimento de cadeias produtivas nas comunidades por meio de um diagnóstico participativo. Até o momento, cerca de 30 comunidades fazem parte do projeto, incluindo coo-

perativas, associações e grupos familiares. Agora, a empreitada é uma fábrica própria, com capacidade de absorção de 4 mil toneladas, uma linha robótica com 170 dispositivos de controle automatizado e a ideia de “promover uma revolução”. Mas, há algo na 100% Amazonia que continua inalterável: “Não trabalhamos com nada que seja proveniente da fauna. Tudo que for bicho, é para ficar em pé e continuar vivo. A gente só considera aquilo que é botânico e renovável”, diz Fernanda, que ainda se surpreende com a própria história, de uma menina que estudou economia em universidade pública e criou raízes do lado de uma sumaúma. “A gente não está só buscando trabalhar a região, mas entendendo que precisa devolver um pouco do que aprendeu. Temos o compromisso cívico de fazer alguma mudança.” n

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EXTRACAMPO

Cris Gambaré, diretora de futebol feminino do Corinthians, é o rosto de uma máquina de títulos. Sob sua gestão, o time alvinegro conquistou três das últimas quatro edições do Campeonato Brasileiro e entrou para o livro dos recordes

I

magine um time de futebol campeão em todas as competições de que participou e que tem campanha registrada no Guinness Book. Pense em uma equipe que foi capaz de bater o recorde de público na modalidade. O Corinthians feminino é só sucesso sob o comando de Cristiane Gambaré. Para falar dessa cartola precisamos voltar no tempo, quando nasceu sua paixão por esporte. O início foi no basquete, que Cris jogou como federada até seus 17 anos, passando por equipes como o Juventus e o próprio Corinthians. Mudou-se para Santa Catarina e retornou com 21, já mãe. Começou a jogar futsal e, entre 2006 e 2007, estreitou de vez os laços com o clube quando foi convidada para o cargo de conselheira. Quase dez anos se passaram até que a Confederação Brasileira de Futebol passou a exigir que clubes da Série A tivessem também equipes femininas – adulta e de base – para poderem atuar. “Andrés Sanchez e Roberto de Andrade [dirigentes de futebol] me convidaram para fazer um projeto pensando no time de mulheres”, conta Cristiane, que chegou a indagar o motivo da escolha, mas tudo parecia lógico. Ela sempre foi atuante no esporte e na modalidade, inclusi-

FOTOS MARCO GALVÃO/DIVULGAÇÃO; RODRIGO COCA/DIVULGAÇÃO; RODRIGO GAZZANEL/DIVULGAÇÃO

POR BIANCA PENHA


ve montou a escolinha de futebol feminino dentro do Corinthians. O primeiro passo foi fechar uma parceria com o Audax, clube com tradição dentro do futebol feminino. E deu tão certo que, logo no ano de estreia, a equipe se sagrou campeã da Copa do Brasil e, em 2017, foi campeã da Copa Libertadores da América. Primeiro passo dado, veio o segundo desafio: migrar para um time exclusivamente do Corinthians. Em 2018, o Timão passou a ter a própria direção. Nesse momento, Cris deixou o conselho do clube e se tornou diretora de futebol do Corinthians. “O início do projeto foi o mais desafiador. Aquele era o momento de entender o cenário do futebol feminino e como seria com uma gestão própria.” À frente da diretoria, criou a campanha Cale o Preconceito!, em que as jogadoras apareciam com frases preconceituosas estampadas em seus uniformes no lugar onde tradicionalmente ficam as empresas patrocinadoras. A ideia era chamar a atenção das empresas para cobrir aqueles dizeres com investimentos na modalidade. E conseguiu. Os patrocínios chegaram, assim como conquistas fora de campo. As jogadoras passaram a ter vínculo empregatício. “Quando a atleta me disse: ‘Vou treinar’, pude responder com: ‘Bom trabalho’, porque o treino agora era o trabalho dela”, lembra a diretora, falando sobre o quanto isso representou para ela, o time e a modalidade. E se no futebol a competência de um cargo é medida pelo desempenho dentro das quatro linhas, a cartola deu conta do recado. De 2018 ao início deste ano, o Corinthians feminino foi campeão em diferentes torneios: Brasileiro Série A1 (2018, 2020 e 2021), Paulista (2019, 2020 e 2021), Libertadores (2017, 2019 e 2021) e Supercopa (2022). Como

De 2018 até o início deste ano, o Corinthians feminino de Cris (erguendo as taças) foi campeão de tudo: Paulista, Brasileiro, Libertadores e Supercopa

se não bastasse, em 2019, marcou seu nome no Guinness Book ao conseguir uma sequência extraordinária de 48 jogos sem perder (pouco depois, a equipe francesa Olympique Lyonnais comprovou ter uma sequência de 48 vitórias, sendo o atual recordista mundial entre homens e mulheres). No futebol Cris é conhecida pelas opiniões fortes: “Sempre me exponho em relação ao que é melhor para a modalidade. Sou vista como uma pessoa exigente por todos que organizam nossas competições (FPF, CBF, Conmebol).

Com isso, acho que consegui um espaço importante, não só para mim, como para outras lideranças. Sabemos que o universo do futebol é feito de homens. Esse cenário é novo para as mulheres, mas sigo adiante com respeito de grandes homens do esporte”. Sempre de olho no futuro, Cris Gambaré já alinha as expectativas para os próximos anos. A cartola sabe que a pandemia atrasou planos, mas não prolonga muito os prazos por conta disso. “Tornar o departamento autossustentável é a meta para 2023.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 71


PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN

MI CASA, SU CASA

Fãs do Mandarin Oriental, atenção: o grupo hoteleiro lançou uma coleção de vilas para aluguel em cenários paradisíacos da Europa. Feita em parceria com a StayOne, a seleção inclui uma ilha privativa pertinho de Ibiza, uma propriedade de 600 acres no coração de Cotswolds, refúgios pé na areia no sul da França, entre outros achados especialíssimos. E o mais legal é que as estadias terão o serviço e as experiências que já se tornaram marca registrada do Mandarin. +MANDARINORIENTAL.COM/EXCLUSIVE-HOMES

Boa notícia para fãs do Ranch Malibu, retiro wellness que é sucesso na Califórnia. A partir de 15 de maio, o local terá uma edição perto de Roma, na Itália, dentro do spa médico Palazzo Fiuggi. Intensa, a programação inclui quatro horas de caminhadas diárias, massagens, aulas de ioga, core training e refeições preparadas pelo chef Heinz Beck, três estrelas Michelin. Ainda bem que o cenário, um antigo palácio com vista para vales e vilarejos medievais, ajuda a entrar no clima. +THERANCHMALIBU.COM

72 PODER JOYCE PASCOWITCH

FOTOS DIVULGAÇÃO

SEM FRONTEIRAS


ERA SÓ O QUE FALTAVA!

Quem já esteve em Comporta sabe que o Sublime é um dos hotéis mais especiais do destino, quiçá de Portugal inteirinho. Pois bem: o local inaugura agora sua versão lisboeta em uma townhouse no simpático bairro de Amoreiras. O Sublime Lisboa tem 15 quartos, um diferente do outro, e um restaurante focado nos ingredientes da estação que promete se tornar o novo hotspot da cidade. +SUBLIMELISBOA.PT

PEQUENO NOTÁVEL

Imagine o seguinte cenário: uma casa de 1910, toda restaurada, entre o Lago Maggiore e o Vale d’Ossola, no Piemonte. É lá que fica o Casa della Capra, hotel pequenino e cheio de bossa que tem dado o que falar entre os viajantes. O projeto é a realização de um sonho antigo de um casal de brasileiros – Patricia, artista, e Felipe, chef – apaixonado por arte, bicicleta e gastronomia. Com um clima de casa delicioso, o local oferece uma série de experiências autênticas focadas nesses pilares – que tal pedalar para conhecer os pequenos produtores da região? Vale ficar de olho na agenda e se programar: o Casa della Capra funciona entre abril e outubro e promove uma série de residências artísticas e workshops +CASADELLACAPRA.COM

SAL E SOL Mal abriu as portas e o Villa Mandi já pode ser conside-

rado um dos refúgios mais especiais de Jericoacoara. Pé na areia na praia da Malhada, a pousada tem apenas sete quartos e outros cantinhos ideais para querer mergulhar por completo no clima de sombra e água fresca. Entre os destaques, a decoração tem peças feitas por artesãos locais que deixam a proposta ainda mais especial. +VILLAMANDI.COM.BR

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SOB MEDIDA POR AMAURI ARRAIS

BRENDA VALANSI

Foi depois de uma viagem a Londres, na qual visitou diversos museus e galerias, que a então veterinária decidiu mergulhar em todos os formatos de arte. Após estudar na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e de expor em mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior, encontrou-se na curadoria. Desde 2011 assumiu o comando da ArtRio, feira que colocou o país no mapa do mercado internacional. Este ano, além da Marina da Glória e da versão on-line, o evento teve a primeira edição paulista com a ArtSampa, na icônica Oca de Oscar Niemeyer, no Parque Ibirapuera MANIA: Passar hidratante nos lábios e nas mãos. MOMENTO DE MAU HUMOR: Ver notícias negativas

LUGAR PREFERIDO NO MUNDO: Meu sítio em Ilha de Guaratiba, no Rio, onde abrigo minha coleção de arte e ainda tenho uma área para soltura de animais. UM MUSEU: Inhotim. ARTE É: A forma mais livre de comunicação. UM MEDO: Morrer. UM ÍDOLO: Pessoas que com seu sucesso fazem meios de ajudar os outros. MELHOR DO BRASIL: A cultura e a natureza. SER BEM-SUCEDIDA É: Fazer o que ama e ainda receber por isso. COM O QUE SE PREOCUPA: As mudanças climáticas e a desigualdade social. UMA FRASE: “A simplicidade é o grau máximo de sofisticação”, de Leonardo da Vinci. UM FILME: O Mistério do Samba, de Lula Buarque de Hollanda. UMA MÚSICA: “Reconvexo”, de Caetano Veloso, na voz de Maria Bethânia. QUEM GOSTARIA DE SER: Estou muito feliz em ser eu mesma! PRIMEIRA COISA QUE FAZ QUANDO CHEGA AO TRABALHO:

Dar “oi” para toda a equipe. MELHOR HORA DO DIA: O pôr do sol. HOBBY: Visitar galerias – é trabalho e é prazer. O QUE NUNCA FALTA NA SUA CASA: Amigos, sempre presentes.

UMA CONTA QUE VOCÊ GOSTA DE SEGUIR NO INSTAGRAM:

@newmemeseum.

A ÚLTIMA COISA QUE EU COMPREI FOI: Uma obra de Rosana

Paulino, que estará na Bienal de Veneza.

UMA DESCOBERTA RECENTE: O interior do nordeste

brasileiro.

QUEM TE INSPIRA: Pablo Léon de la Barra

[curador mexicano].

ESTADO MENTAL NESTE MOMENTO: A mil por hora e feliz! O QUE FALTA REALIZAR: Um evento de arte em local onde

não exista nenhum centro cultural. DESEJO PARA O FUTURO: Mais respeito entre os seres humanos.

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FOTOS BRUNO RYFER/DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES; UNSPLASH; DIVULGAÇÃO NETFLIX; DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL; ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL

sobre o Brasil.


SONHO DE INFÂNCIA:

Ter filhos.

O QUE NÃO PODE FALTAR NO CAFÉ DA MANHÃ:

Café preto sem açúcar.

UMA SÉRIE QUE MARATONARIA DE NOVO:

UM LUGAR NO RJ / UM LUGAR EM SP: No Rio, Arpoador; em São

Paulo, a Pinacoteca.

O Gambito da Rainha.

TRÊS DESTAQUES DAS ARTES PLÁSTICAS PARA FICAR DE OLHO:

Panmela Castro, Jota e Márcia Falcão.

FOTÓGRAFO(A) PREFERIDO(A):

Ayrson Heráclito e Aline Motta.

LIVRO DE CABECEIRA: Tudo

Coisa da Nossa Cabeça, de Luiza Mussnich.

EXPOSIÇÃO INESQUECÍVEL: PEÇA DE ROUPA PREFERIDA:

Eu Vim de Lá, do Jota.

Vestido preto da Alix e todas as peças das collabs da Lulu Novis.

ONDE E QUANDO É MAIS FELIZ: No meu sítio com

as crianças e os amigos ouvindo samba.

PECADO GASTRONÔMICO:

Bife com batatas fritas.

CANTOR(A) OU BANDA QUE NUNCA FALTA EM UMA PLAYLIST: Caetano

Veloso e Mosquito.

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MOVIMENTO MODERNISTA:

A ARTE ONTEM E HOJE Da esq. para a dir., Patricia Wagner, Marina Mathey e Digg Franco

R

eferência no apoio à cultura, a Vivo começou o ano de 2022 a todo vapor. Entre 17 e 19 de fevereiro promoveu uma série de debates, o Semanas Diversas. A proposta era conectar o centenário da SeSemana de Arte Moderna de 1922 com a transformação vivida ao longo dos últimos 100 anos e a pluralidade do Brasil contemporâneo, sob o olhar da diversidade. Os encontros reuniram artistas, professores e pespesquisadores no Teatro Vivo, em São Paulo. “A arte é uma expressão potente e genuína da didiversidade brasileira. Nossa proposta é estabelecer diálogos sobre o movimento modernista que sacusacudiu a sociedade na época e relacioná-lo ao momenmomen to atual, como forma de valorizar e promover a didi -

76 PODER JOYCE PASCOWITCH

versidade”, comenta Marina Daineze, diretora de imagem e comunicação da Vivo. O debate de abertura “Reverberações” discutiu a inserção de pessoas trans nos sistemas artístico, sosocial e político nos dias atuais, com mediação de PaPatricia Wagner, curadora, crítica e mestre em poéticas visuais pela ECA -USP, Digg Franco, cofundador da Casa Chama, e Marina Mathey atriz, cantora e diretodiretora da ProduTrans, que também fez um pocket show e apresentou músicas do álbum Boneca Pau-Brasil, Pau-Brasil, que será lançado em junho. O segundo encontro, denominado “Relações Descoloniais”, abordou as lutas dos grupos não brancos para a inclusão nos sistemas da arte e do


FOTOS VECTORSTOCK; VAGNER MEDEIROS//DIVULGAÇÃO

Teatro Vivo

SSÃO E R P X E A UM “A ARTE É GENUÍNA DA POTENTE E DE BRASILEIRA . ER DIVERSIDA POSTA É ESTABELEC O O NOSSA PR SOBRE O MOVIMENTAO DIÁLOGOS TA E RELACIONÁ-LO A MODERNIS ATUAL , COMO FORM MOMENTO ZAR E PROMOVER DE VALORI ADE” D A DIVERSI de imagem e

design. Dividiram o palco, a drag queen amazonenamazonen se Uýra Sodoma (Emerson Munduruku), que propromove a defesa da natureza e da sustentabilidade socioambiental, o designer Kevelin Oliveira, que por meio do design reflete sobre a cultura negra e direitos LGBTQIA+, e Fernando Oliva, doutor em crítica e história da arte pela USP e participante da equipe curatorial do Masp. Além do debate, destadestaque para a performance do grupo Poetas AmbulanAmbulan tes, apresentando poesia marginal contemporânea com trechos de Paulicéia Desvairada, Desvairada, de Mário de Andrade, e textos de Racionais MC’s, Tom Zé, Miró da Muribeca, RZO, Ruy Proença, Emerson Alcalde e Carolina Maria de Jesus, entre outros. Finalizando a série de debates, foi feita uma reflereflexão sobre os desdobramentos do modernismo sob diferentes perspectivas, com a participação do popoeta Sérgio Vaz, ativista, criador da Cooperifa e da Semana de Arte Moderna da Periferia. No debate, Vinícius Spricigo, professor do departamento de história da arte da Unifesp, Renata Bittencourt, cocoordenadora do educativo dos Instituto Moreira SalSalles, e Lisette Lagnado, curadora da 11a Bienal de BerBerlim, crítica de arte, pesquisadora e escritora. Além da gravação do evento Semanas Diversas, foram realizadas entrevistas com as pessoas conconvidadas, e, nas próximas semanas, tudo estará disdisponível no perfil @Vivo.Cultura, no Instagram. E tem mais! Em abril, um circuito especial de visitavisitação com foco em artistas relevantes no cenário da diversidade (negros, indígenas e LGBTQIA+) será promovido pela Vivo, dando continuidade à missão da empresa de democratizar a arte.

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Sérgio Vaz

Renata Bittencourt

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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA

A

MULHER

Vinte anos após última mostra, Pinky Wainer retorna ao circuito de exposições com séries de aquarelas que retratam a dor e “apagamento” feminino

PODER É

pós duas décadas longe das galerias, Pinky Wainer volta a expor, agora na recém-inaugurada Lanterna Mágica, em Higienópolis, em São Paulo. Até 11 de junho a artista plástica carioca mostra trabalhos produzidos na quarentena, quando experimentou processos e materiais. Duas séries compõem a mostra. Em Mulheres Dopadas, a artista entrecruza dilacerantes imagens femininas a recortes de palavras e frases de livros de Albert Camus, León Trotsky, Pablo Neruda e Simone de Beauvoir. “Eu exagerei nas minhas microaquarelas”, diz Pinky. “Elas [as mulheres] sofrem, são bicadas por pássaros, são irônicas, às vezes pequenas, às vezes grandes.” O confinamento forçado da quarentena justifica o esgotamento mental das suas personagens, ladeadas por corvos, lobos e cisnes. “Houve um momento em que as mulheres começaram a se dopar para suportar o nada que ficou com a pandemia”, diz a artista. A segunda série é Pintora Esquecida, criada a partir da figura da pintora russa Nadia Léger (1904-1982), cuja existência ficou apagada à sombra do marido, o também pintor Fernand Léger. “Você tem que estar aberto às sinapses do seu cérebro”, diz Pinky, ao lembrar o impacto da descoberta de Nadia ao ler uma reportagem na internet. “Ela me lembrou toda uma linha de grandes pintoras, normalmente com um marido mais famoso, que desapareceram. É uma constante e acontece até hoje.” Pinky cruza a imagem de Nadia à de ou-

FOTOGRAFIA Fotógrafas Brasileiras – Imagens Substantivas (ed. Grifo, R$ 80), da historiadora Yara Schreiber Dines, recupera a trajetória de 70 fotógrafas brasileiras que ajudaram a escrever a história da arte fotográfica no país. O livro põe em cena o trabalho de fotojornalistas, artistas, fotógrafas documentais e empreendedoras que impuseram estilos e técnicas originais em gêneros diversos do ofício. Com ensaios escritos, o livro também analisa o contexto histórico-social de produção das obras.

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EXPOSIÇÃO

GÊNERO PLURAL

FOTOS JOÃO WAINER; DIVULGAÇÃO; EDUARDO ORTEGA

Judy Chicago e Leda Catunda propõem diálogo entre representação e simbolismo do universo feminino em mostra conjunta

tra mulher desaparecida – a famosa Lindonéia, pintada por Rubens Gerchman e cantada por Nara Leão – tia de Pinky – na letra de Caetano Veloso no disco da tropicália. “Lindonéia foi um símbolo brasileiro, um momento de luta, um dos últimos momentos importantes na autoestima e na criatividade brasileira”, diz a artista. Autodidata, com uma carreira inspirada na observação e nas conversas com funcionários de lojas de pintura, Pinky conta que nos últimos 20 anos, ainda que afastada das galerias, continuou a pintar. Nesse período, dedicou-se à famosa Loja do Bispo, de “arte acessível”, como se define, a projetos gráficos e a atividades de ensino. Essa posição de autonomia e liberdade, hoje trabalhada pela artista com seus alunos dos cursos de aquarela, dita seu retorno ao circuito. “Eu fiz o que eu quis. Era para mim”, revela.

Quando há alguns anos a artista plástica estadunidense Judy Chicago visitou São Paulo, a convite do Masp, topou com trabalhos da paulistana Leda Catunda. Pouco depois, na galeria Fortes D’Aloia & Gabriel, novamente Catunda chamou a atenção de Judy, dona de uma celebrada obra de inspiração feminista. Com a sintonia entre as artistas, veio o convite para uma exposição conjunta. Judy Chicago & Leda Catunda reúne, na sede paulista da Fortes D’Aloia, 14 obras, entre pinturas, bordados, colagens e relevos representativos do léxico pictórico das duas artistas. “A Judy já era para mim uma referência desde o tempo da minha formação nos anos 1980”, diz Leda Catunda, um dos nomes mais destacados da chamada Geração 80 – ao lado de artistas como Beatriz Milhazes e Luiz Zerbini – e reconhecida pela experimentação de materiais e suportes não convencionais. “Criei obras dentro de uma grade de cores quentes, que ela também usa, e que têm essa referência ao corpo, ao sangue, à visceralidade que aparece na obra dela de uma maneira bem explícita.” Na mostra, estão obras da série

CINEMA Mato Seco em Chamas, de Adirley Queirós e Joana Pimenta, venceu o grande prêmio da competição internacional do festival Cinéma du Réel, em Paris, em março. O documentário, que mistura ficção e realidade ao contar a história de um grupo de mulheres que descobre um poço de petróleo em Ceilândia, região metropolitana de Brasília, já havia sido premiado na mostra Fórum, do Festival de Berlim, em fevereiro.

Birth Project, dos anos 1980, em que representações do parto foram idealizadas por Judy e executadas por costureiras. Leda atua de maneira complementar, como em Recheada, cuja sugestão de intimidade é dada por uma espécie de barriga com véus transparentes e uma capa vermelha com abertura para o interior. Ao mesmo tempo, Leda prepara em seu ateliê obras para a individual de novembro da galeria Bortolami, em Nova York. “É o circuito mais veloz e exigente do planeta. Estou bem contente”, diz a artista.

HQ Com a HQ Escuta, Formosa Márcia (Veneta, R$ 99,90), Marcello Quintanilha tornou-se o primeiro brasileiro vencedor do prêmio principal do festival de HQs de Angoulême, considerado o Oscar dos quadrinhos. Publicado em 2021, o livro narra a saga de Márcia, enfermeira moradora de uma favela carioca, na tentativa de retirar a filha dos braços do crime organizado. PODER JOYCE PASCOWITCH 79


Mesmo tendo sido o único fotógrafo a retratar todos os presidentes brasileiros desde 1967 (para registro: Costa e Silva) e ter seu trabalho reconhecido dentro e fora do ambiente jornalístico, o mineiro ORLANDO BRITO jamais descansou. Prestes a completar 72 anos ainda dava plantão diário em Brasília, batendo perna pelos palácios, ministérios, Congresso e nas manifestações populares. Não importava se o evento a ser plasmado era decisivo, politiqueiro ou marketing de baixa extração. Brito não restringia, não censurava, não ideologizava. Pé de boi, como se diz nas redações. Quando não estava lá, aos fins de semana, digamos, gostava de eternizar com suas lentes pavões, ipês-amarelos, indígenas – e mulheres. Depois de longa hospitalização na rede pública, colheu-lhe a morte, que foi lamentada por tantos colegas, colunistas famosos alguns. Não houve cavalo de penacho, luto oficial nem pavilhão a meio pau. O que só dignifica a perda imensa.

80 PODER JOYCE PASCOWITCH

FOTO REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL

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