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Para o escritor e professor de ética Clóvis de Barros Filho, toda forma de amor, especialmente pelo outro, é um fator fundamental da resiliência neste momento de pandemia. E, segundo ele, a melhor maneira de ser feliz é viver adequadamente o presente e não esperar do mundo mais do que ele pode nos proporcionar naquele instante
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por denise meira do amaral ilustrações nando santos
tem um momento de abatimento e só precisa se ocupar de si mesmo, aceita com mais naturalidade estender essa fase de melancolia do que se tiver alguém precisando comer às suas custas.”
J.P: Como falar em felicidade em tempos de pandemia?
CLÓVIS DE BARROS FILHO: Podemos falar de felicidade em qualquer época. Quando temos um instante de vida feliz, é muito pouco provável que tenhamos condições mentais de pensar sobre a felicidade. A teorização sobre felicidade acontece como uma busca ou como uma falta. Quando você se dá conta de que há felicidade, é justamente porque ela está acabando. Um instante pleno de vida feliz é um instante que dispensa essa percepção porque uma das trações da felicidade é uma plenitude de alma na interação com o mundo vivido. Quando essa interação com o mundo é real, não há espaço para ficar constatando nada. Um matemático resolvendo um teorema, superfocado, não vai parar no meio da equação e falar: “Nossa, como estou feliz resolvendo esse teorema”. No programa do Jô [Soares], quando o entrevistado era espetacular, a plateia falava ao final: “Ahhh”. Você está 100% entretido com a entrevista e só se dá conta de que era boa quando termina. O flagrante da felicidade é voltado para o passado, para o que já aconteceu. Ele nunca é gerúndio, é pretérito perfeito.
J.P: É possível ser otimista nos dias atuais?
CBF: O “ismo” é um sufixo que aponta para o que vem antes. Para um comunista, a comunidade é o que há de mais importante, para um anarquista, é a falta de poder. Para o otimismo, o ótimo é o mais importante. O que se entende no senso comum como um otimista? Um cara que pensa que o amanhã será melhor que o hoje, que entende que o que está por vir tem um valor positivo ao que está sendo imediatamente vivido. Nesse sentido, poderíamos dizer que o otimista é um esperançoso, uma pessoa que é capaz de pensar o amanhã com contentamento. A esperança é um momento de potência. Eu penso que é sempre possível fazer do tal do otimismo um hábito. O otimismo pode ser resultado de um treinamento. Você pode se exercitar para criar o hábito de pensar o futuro de uma maneira auspiciosa e agradável. Há inúmeros treinamentos de psicologia cognitiva que fazem isso. Por outro lado, a melhor maneira de se preparar para o futuro é viver adequadamente o presente. É a nossa melhor contribuição para o futuro. Quanto menos pensarmos sobre o futuro e quanto mais o presente imediatamente vivido esgotar nossa atenção e tiver valor por ele mesmo, mais o futuro será melhor. Uma pessoa que fica imaginando seu futuro 100% está se preparando mal para o amanhã. Inversamente, uma pessoa que vive a imediatidade da vida, tende a ter um amanhã superior ao primeiro caso.
J.P: Como diria o poeta Paulo Leminski, distraídos venceremos?
CBF: Sim, é maravilhoso. Você pode passar cinco anos na faculdade só pensando em quando entrar no mercado de trabalho ou você pode passar a faculdade vivendo o presente. A vida é sempre melhor vivida na sua plenitude.
J.P: A falta de vínculos afetivos e a perda da coletividade, prejudicados mais na quarentena, afetam a sanidade mental? CBF: Tenho dificuldade em ter clareza sobre o que é o saudável e o que é patológico. Quem é saudável mentalmente? Quem define a saúde mental? Essa definição é politicamente e historicamente construída, é uma questão de poder. Se