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Mãe do músico Criolo, a cearense Maria Vilani mudou a cena cultural do Grajaú com a criação de um centro de arte

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ALMANAQUE Ô ABRE ALAS

Em fevereiro não tem Carnaval, mas vai ter samba, sim senhor. Malvisto no início e associado à vadiagem, o gênero se misturou com a história do Brasil e conquistou todas as classes sociais. Afinal, quem não gosta de samba, bom sujeito não é

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POR ANA ELISA MEYER

“O samba da minha terra deixa a gente mole, quando se canta, todo mundo bole, quando se canta, todo mundo bole (...).” Uma coisa é certa: Dorival Caymmi sabia o que estava dizendo quando compôs a música “Samba da Minha Terra”. Estilo de música muito característico do povo brasileiro, a história do samba é uma mistura de ritmos e tradições. Com influências africanas – dos batuques trazidos pelos negros que vieram como escravos para o Brasil –, o samba surgiu na Bahia no século 19.Esses batuques estavam geralmente associados a elementos religiosos que instituíam entre os africanos uma espécie de comunicação ritual por meio da música, da dança, da percussão e dos movimentos do corpo.

A PROIBIÇÃO

O processo de popularização do gênero não foi fácil. O preconceito contra os negros fez com que os locais de samba, no século 19, fossem muito malvistos, considerados perigosos, sujos, “de perdição”. Só o fato de tocar e cantar um samba era motivo para ser preso no Brasil. Ser sambista era sinônimo de ser vadio e, por associação, bandido. João da Baiana, por exemplo, foi abordado pela polícia por estar com seu pandeiro na mão andando pelas ruas do Rio. Em outra ocasião, um agente apreendeu seu instrumento musical entendendo ser esse uma prova concreta da vadiagem do compositor. A criminalização dos sambistas permaneceu presente até 1930, na primeira presidência de Getúlio Vargas. Durante o período denominado Estado Novo, Vargas passou estrategicamente a valorizar os elementos da cultura brasileira e transformou o samba em um símbolo do país, reforçando o nacionalismo e o populismo, bandeiras de sua longa gestão, de 1930 a 1945.

LITERATURA

Grande estudioso das raízes do samba, além de também sambista, compositor e radialista, Henrique Foréis Domingues (1908-1980), o Almirante, foi um dos grandes nomes da cena musical carioca na década de 1930. Com Noel Rosa – que nos legou uma verdadeira crônica do seu tempo por meio de sambas bem-humorados, que refletiam o espírito alegre do povo brasileiro –, integrou o grupo Bando de Tangarás, criado na Vila Isabel. Almirante construiu sua carreira apoiado em três pilares: a música, os meios de comunicação e a pesquisa. Como radialista, contribuiu para a profissionalização do meio e diversificação da programação, e foi pioneiro na documentação da música popular brasileira. Com uma biografia de Noel Rosa, No Tempo de Noel Rosa, lançada em 1963, relaciona o samba urbano do Rio de Janeiro com as diversas influências de outros ritmos musicais existentes no Brasil. Nesse mesmo período, nomes como Cartola, Wilson Batista, Ismael Silva, Candeia e Nelson Cavaquinho já eram referências importantes.

L E I T U R A

Uma História do Samba – As Origens, de Lira Neto Desde que o Samba É Samba, de Paulo Lins O Enredo do Meu Samba, de Marcelo de Mello Quelé, a Voz da Cor: Biografia de Clementina de Jesus, de Raquel Munhoz

DISCOS Jorge Ben Jor – Samba Esquema Novo (1963) Paulinho da Viola – Foi um Rio que Passou em Minha Vida (1970) A Velha Guarda da Portela – Portela –Passado e Glória(1970) Adoniran Barbosa (1974) Cartola (1976) Candeia – Axé! (1978) Nelson Cavaquinho (1973) Os Originais do Samba – O Samba É a Corda... Os Originais a Caçamba (1972) Zeca Pagodinho (1985) Clara Nunes – Claridade (1975)

DIVULGAÇÃO FREEPIK; REPRODUÇÃO; NACIONAL;

PLAYLIST

• “Carinhoso” , Pixinguinha • “O Batuque da Cozinha” , João da Baiana • “Mulher Exigente” , Almirante • “Preciso Me Encontrar” , Cartola • “O Mundo é um Moinho” , Cartola • “Eu Bebo Sim” , Elizeth Cardoso • “Com que Roupa?” , Noel Rosa • “Fita Amarela” , Noel Rosa • “Trem das Onze” , Adoniran Barbosa • “Saudosa Maloca” , Adoniran Barbosa • “Sonho Meu” , Dona Ivone Lara • “Pelo Telefone” , Donga • “Marinheiro Só” , Clementina de Jesus

Acima, Cartola em 1970. Ao lado, Noel Rosa em imagem da década de 1930

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