Revista J.P | Edição 169

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R$ 19,50 9

J.P

771980

MARÇO 2021 N.169

ISSN 1980-3206

320006 00169

CHARME E PROPÓSITO

DE VERDADE

REGINA CASÉ

MULTITUDO, MEGAMULHER QUESTÃO DE GENTILEZA RECEITAS PARA SE CONVIVER NOS DIAS DE HOJE

AH, MULHERES...

DEBORA DINIZ FALA SOBRE TRANSFORMAÇÃO, NATALIA TIMERMAN SOBRE ABANDONO, LUIZA MARIANI SOBRE ESTILO E GRETCHEN SOBRE REINVENÇÃO

SUTIL E PROFUNDA

O TALENTO E AS DORES DE ESTELA MAY E MAIS: OS CANTOS SECRETOS DE ALBERTO RENAULT, O BRASIL QUE A GENTE NÃO CONHECE POR GUILHERMINA GUINLE E MARIA EUGENIA TITA, E A NOVA PROMESSA DAS TELAS JESSICA CÓRES


Joyce adora


Beleza de mulher

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36 24

J.P

70

CHARME E PROPÓSITO

NESTE NÚMERO 5 EDITORIAL 6 J.P ENTREGA 9 MÊS BOM PARA 10 RADIOGRAFIA 12 J.P ADORA 14 DE CORPO INTEIRO

Regina Casé leva a vida com entrega e, se preciso for, despida de vaidade 22

ENCANTAMENTO

24

MULHERES QUE AMAMOS

Por Daniela Arrais

Com talento e trabalho, elas reafirmam suas potências femininas 32

AVENTURA NO SERTÃO

41

A rainha do rebolado se reinventa 42 46

OLHO MÁGICO

Alberto Renault fala sobre seu jeito de viver

CORPO E ALMA FERNANDO TORQUATTO

Jessica Córes, a sereia da ficção

Maria Eugenia Tita leva sua arte Brasil afora 36

GRETCHEN 2.0

48

MEMÓRIA DOS PAMPAS

Guilhermina Guinle na estância da família

REGINA CASÉ Foto João Pedro Januário, edição de moda Felipe Veloso, beleza Ricardo Tavares. Vestido Tata Melgaço para Casa de Antônia, brinco Julia Gastin, anel Sauer


32

54 12 58

52 54

J.P DE OLHO ELA VOLTOU

FOTOS WALTER CRAVEIRO/FLIP; ALBERTO RENAULT; DANTAS VILAR/ARQUIVO PESSOAL; ZÔ GUIMARÃES; DIVULGAÇÃO; ILUSTRAÇÃO NANDO SANTOS

O que faz a cabeça e o estilo da atriz Luiza Mariani 58

O NOVO GENTIL

Receitas para conviver nos dias de hoje 62

O PESO DA AUSÊNCIA

Natalia Timerman aborda a perda sem despedida em livro 64

ENTREVISTA

Debora Diniz fala sobre a transformação do mundo pelas mulheres 68

EM BOA COMPANHIA

Sons e palavras para consumir na quarentena 70 73

J.P VIAJA ENTRE LENÇÓIS

Por Roberta Sendacz

74 76

HORÓSCOPO POR AÍ

77

CABALA

Por Kiki Garavaglia Por Shmuel Lemle 78 79 80

CORREIOS AGRADECIMENTOS ÚLTIMA PÁGINA

As dores e as inspirações de Estela May

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J.P CHARME E PROPÓSITO

DIRETORA-GERAL JOYCE PASCOWITCH joyce@glamurama.com EDITORA-EXECUTIVA Carol Sganzerla carol@glamurama.com EDITORA Luciana Franca luciana@glamurama.com EDITORA DE ESTILO Ana Elisa Meyer anaemeyer@glamurama.com EDITORES DE ARTE David Nefussi davidn@glamurama.com Jefferson Gonçalves Leal jeffersonleal@glamurama.com FOTOGRAFIA Carla Uchôa Bernal carlauchoa@glamurama.com Claudia Fidelis (tratamento de imagem) PRODUÇÃO Meire Marino (gestora) meiremarino@glamurama.com Wildi Celia Melhem (produtora gráfica) celia@glamurama.com Inácio Silva (revisão) Luciana Maria Sanches (checagem) COLABORADORES Adriana Nazarian, Alana Della Nina, Alberto Renault, Daniela Arrais, Denise Meira do Amaral, Estela May, Felipe Veloso, Fernando Torquatto, Giovanna Loss, Guilhermina Guinle, Isabelle Tuchband, João Pedro Januário, Kiki Garavaglia, Ludymila Shimada, Maria Eugenia Tita, Marina Saleme, Nando Santos, Nina Rahe, Paulo Freitas, Paulo von Poser, Pedro Alexandre Sanches, Ricardo Tavares, Roberta Sendacz, Shmuel Lemle, Zô Guimarães

PUBLICIDADE MULTIPLATAFORMA GERENTES MULTIPLATAFORMA Laura Santoro laura.santoro@glamurama.com Maria Luisa Kanadani marialuisa@glamurama.com Roberta Bozian robertab@glamurama.com

publicidade@glamurama.com tel. (11) 3087-0200 MARKETING

Aline Belonha aline@glamurama.com Juliana Carvalho juliana@glamurama.com Tânia Belluci tania@glamurama.com

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DISTRIBUIÇÃO EM TODO O BRASIL: RAC Mídia – (11) 98145-7822

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J.P

M

EDITORIAL

arço, que normalmente é lembrado como o mês da mulher, este ano nos traz sentimentos mais profundos… Mês da pandemia no seu pior momento, mês do novo isolamento e mês de orar por doentes e entes queridos. Mas o melhor que temos para rebater dias difíceis continua sendo a família. O amor e a família. Portanto, não é à toa que nossa capa traz a mãe mais famosa do Brasil nos últimos tempos, Regina Casé, fotografada pelo genro João Pedro Januário, com assistência de sua filha Benedita Zerbini e styling do amigo querido da família Felipe Veloso. Esse clima de amor e intimidade é o que a gente queria passar neste momento tão desafiador. Regina está isolada há um ano em seu sítio no litoral do Rio, cenário dessas fotos, cercada de filhos e neto, marido e genro. O mar lindo, uma água doce generosa e acolhedora, e uma vegetação exuberante. É isso que temos de mais especial nesta edição que também traz a dançarina itinerante que escolheu o sertão da Paraíba para fincar raízes e montar seu próprio palco: Tita, filha de Antonio Nóbrega, artista celebrado e que também tem suas raízes nordestinas. Alberto Renault nos traz para dentro de sua casa, que ele tanto resguarda, para celebrarmos juntos seu novo programa no GNT que fala justamente sobre lar, sobre morar nesses tempos de hoje. Já Guilhermina Guinle nos mostra suas origens do Sul, abrindo a porteira da estância de sua família, em Pelotas, e entre cavalgadas, brincadeiras à beira do rio, trabalho no campo e mesa farta, ela observa a filha, Mina, de 7 anos, repetir as delícias de sua infância. Neste mês celebramos ainda cantoras, atrizes, escritoras, artistas, esportistas, médicas e empreendedoras que, com muito talento e trabalho, reafirmam a potência do gênero feminino e seguem na luta para a construção de uma sociedade mais igualitária. De carona neste tema, a antropóloga, professora e pesquisadora Debora Diniz fala sobre transformação da realidade feita pelas mulheres e a psiquiatra Natalia Timerman, sobre abandono. Ah, e a cantora Gretchen, a rainha do rebolado, fala sobre reinvenção. Na coluna Entre Lençóis, nossa colaboradora Roberta Sendacz escreve sobre o erotismo de Iansã, Iemanjá e Oxum, as três poderosas orixás ilustradas magistralmente por Isabelle Tuchband. No mais, por favor, se cuide, fique em casa, seja gentil com você e com os outros. Sem opções do lado de fora, o que resta é descobrir o som e as palavras que talvez passassem batidos na pressa que dominava a nossa vida: uma lista de consumo inteligente para abastecer a cabeça na reportagem “Em boa companhia”. Já em “O novo gentil”, receitas para se conviver nos dias de hoje. Venha junto, siga os protocolos, porque só assim a gente consegue seguir em frente. Vamos juntos.

glamurama.com


J.P ENTR EG A JOYCE PASCOWITCH

Seleção de casas incríveis para alugar, voz russa na MPB, outro talento da família Buarque-Brown e mais lei a outr a s descoberta s em gl a mur a m a .com/nota s

RESPEITAVEL PÚBLICO

BOROGODÓ

A família Buarque-Brown não para de surpreender. Além de Clara Buarque, que canta e é atriz de primeira, seu irmão mais velho, CHICO BROWN, tem mostrado nas redes sociais seu outro lado de músico. Num sábado à noite, no finzinho do mês passado, bem tarde, ele surgiu de surpresa numa live tocando standards americanos dos anos 1930, 1940 e 1950 ao piano – com inglês perfeito e uma ginga que é só dele. Desnecessário dizer que ele é filho do Carlinhos Brown, neto de CHICO BUARQUE e um talento único e cheio de personalidade. E lindo.

EMBRULHO

As atrizes ISABELA MARIOTTO e JÚLIA BURNIER não imaginavam que Tina, personagem que criaram para o Instagram, teria tanta plateia. Em menos de um ano, o perfil @A.VIDA. DE.TINA já soma 165 mil seguidores com uma série de vídeos que ironizam a classe média e se tornaram virais. No quadro mais conhecido, Expiando a Culpa Burguesa, Tina (com atuação de Isabela e dublagem de Júlia) se mostra cheia de boas intenções para transformar o mundo, mas sem êxito. Um dos desejos da dupla é explorar o formato de novela, com novos personagens.

Momento revival dos papéis de parede? Sim. E quanto mais dramático, melhor. Culpa da Netflix e da HBO, quem diria: algumas das produções mais populares das redes de streaming dão destaque para esse tipo de decoração em cena. É um papel com estampa floral, por exemplo, a primeira coisa que se vê quando Nicole Kidman canta “Dream a Little Dream of Me” na abertura de Undoing. Ele também aparece em O Gambito da Rainha, com padronagem geométrica, e em Bridgerton, só para citar algumas.

6 J.P MARÇO 2021


PODE ENTRAR

FOTOS LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO; FRANCESCO PADOVANI/DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL; DIVULGAÇÃO

De tanto os amigos elogiarem e indicarem as casas de veraneio da família de MARINA MASSI que alugavam em Trancoso, Espelho e Ubatuba, surgiu a ideia do projeto REFÚGIOS, do qual ela está à frente. São espaços imersos na natureza, tudo muito bem cuidado e com uma sofisticação despretensiosa, que foram adaptados para hospedar todos – e não apenas os conhecidos. O primeiro refúgio foi o da Praia do Espelho, no terreno comprado há 40 anos, quando só se chegava de barquinho de pescador: uma fazenda maravilhosa. Depois, duas casinhas no Quadrado, em Trancoso. No segundo semestre, dois destinos se juntam ao pool: um chalé em Visconde de Mauá e uma casa na Chapada Diamantina. @REFUGIOS_BR

PIANO E VOZ

Os concertos interrompidos na pandemia e ver a realização do marido, Marcos Amaro, que voltou a atuar na aviação, despertaram na pianista russa KSENIA KOGAN AMARO o desejo de resgatar o sonho de cantar. Ela, que também está à frente da filial suíça da galeria Kogan Amaro e se divide entre São Paulo e Zurique, começou a fazer aula de canto lírico. E tem projetos ambiciosos: vai gravar dois álbuns de MPB – um dedicado a Tom Jobim e outro com participação de Carlos Lyra, Roberto Menescal, Marcos Valle e João Donato. “Quando vim pela primeira vez ao Brasil, descobri que a música da minha infância, em Moscou, era MPB. Lembro do meu pai tocando Tom Jobim no violão e eu não sabia que era música brasileira”, conta ela, filha de músicos. MARÇO 2021 J.P 7


J.P ENTREGA

CHUVA DE ARROZ

Que série, que nada! Entre algumas manias estranhas adquiridas na pandemia está a de assistir a vídeos de pessoas comuns limpando suas próprias casas. Tem um da americana Jessica Tull, por exemplo, que ensina a limpar e a organizar tudo em dois dias e que já passou a marca de 3 milhões de visualizações no YouTube.

PONTO PARA ELE

Dois anos atrás, quando mostrou o primeiro trabalho para sua mãe, exímia bordadeira, o fotógrafo FER CÂNDIDO recebeu uma resposta emocionada junto com um puxão de orelha: “Você vai melhorar, né?’’. Desde então ele dedica seu tempo ao bordado, com o projeto @BORDA_ DO_HOMEM , que traz outras paixões: a fotografia, pela opção em bordar retratos, e a música e a literatura, vistas na escolha dos personagens que estampam os tecidos, como Clarice Lispector, Itamar Vieira Junior e Thom Yorke, do Radiohead. A empreitada com linha e agulha, que já tem dado retorno financeiro, vai se desdobrar em um curso on-line e na representação por uma galeria comercial, ainda em negociação.

+twitter.com/joycepascowitch | @joycepascowitch com luciana franca e nina rahe 8 J.P MARÇO 2021

FOTOS GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL; DIVULGAÇÃO

AJAX

Como este ano já foi dado praticamente como perdido, começam a pipocar festas de casamento sendo organizadas para o ano que vem. Boa vontade e torcida não faltam. A filha de Carin Mofarrej, ANA HELENA MOFARREJ, mais conhecida como Lelê, vai se casar na Praia do Forte com Lucas Cardoso. O florista e decorador Vic Meirelles já viajou a Salvador para fazer as primeiras pesquisas.


MARÇO

é mês bom para... Tirar um dia para assistir à série Firefly Lane, da Netflix, sobre a amizade incondicional de duas garotas retratada ao longo de três décadas. A trilha sonora e os figurinos são incríveis Prestar atenção nas obras da série Janelas de Quarentena, de Taly Cohen, que são batizadas como “Ela Tinha Sonhos” e “Porém, Nasce Quadrado”. À venda pelo site da artista e, em breve, nas galerias Chase Contemporary de Nova York e dos Hamptons Não deixar de colaborar com causas e organizações que possam ajudar tantos outros a enfrentar a pandemia

Escolher um clube de leitura para participar, como o Leia Mulheres, que no dia 27 vai discutir a obra Redemoinho em Dia Quente (Companhia das Letras), da escritora cearense Jarid Arraes FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

Passar o fim de semana ouvindo a trilha sonora do filme Malcolm & Marie, que traz clássicos de James Brown e Duke Ellington, um bolero delicioso de Frankie Reyes e a dançante “Selfish”, de Little Simz ( feat. Cleo Sol)

Comprar um caderno bem bonito para anotações e desenhos nestes tempos de pandemia – vai ser importante lá na frente a gente lembrar o que rolou em épocas tão desafiadoras Exigir de parentes, funcionários e amigos o cumprimento de protocolos de distanciamento, máscaras e outros. Além de colocar em prática o hábito de usar duas máscaras de proteção – e não apenas uma

Fazer um curso rápido de ayurveda para iniciantes e entender a inf luência de cada alimento para o seu dosha

Escolher um tema para estudar e abastecer a cabeça neste ano: pode ser filosofia, literatura, história da arte ou outro do gênero

Entrar com um pé atrás na nova rede social Clubhouse para conferir se as conversas espontâneas valem realmente a pena

Apertar o play no álbum de estreia da banda de rock moderninha Black Country, New Road – os britânicos têm entre suas referências música judaica e o samba de Arlindo Cruz Ver e rever documentários sobre mulheres fortes, de todas as áreas. Tem Nina Simone, Joan Didion, Franca Sozzani, Beyoncé, Lady Gaga, Michelle Obama... Conhecer as joias/amuletos da designer Chris Cunali, que combina metais com pedras, pérola e até sementes. Proteção nunca é demais

Se jogar em uma aula de dança que mexa bastante com a pélvis, sempre esquecida e de suma importância na vida das mulheres

Escolher uma papete confortável e estilosa para renovar o visual, de Chanel a Rider passando pelos modelos de bandana da Arizona Love, marca francesa que está chegando no e-commerce Iguatemi 365

Continuar pedindo delivery para manter de pé nossos restaurantes preferidos


RADIOGRAFIA

Desde 2018, Marina Saleme convive com a figura de uma mulher debruçada sobre si mesma, sentada de cabeça abaixada, com os cotovelos apoiados sobre as pernas e as mãos nos ombros. Quando viu esta imagem pela primeira vez, folheando uma revista, a artista passou os olhos sobre a página e logo voltou a ela. “O que me chamou atenção foi justamente retornar à imagem. Num mundo atolado de informações, ser capturado por algo vale muito”, diz. Desde então, Marina desenhou essa mesma mulher incansavelmente. Começou pelas páginas de cadernos e, então, percebeu que as folhas, descoladas do bloco e posicionadas lado a lado, formavam uma grande instalação. “Com a pandemia, o trabalho ganhou um sentido mais forte. O que poderia ser visto como uma figura de linguagem, uma multidão de pessoas sozinhas, virou uma realidade, com todos apartados uns dos outros”, explica a artista. Os dois anos de trabalho, que podem ser vistos na Galeria Luisa Strina, em São Paulo, até 10 de abril, somam mais de mil desenhos, mas Marina não parou por aí: “Ainda não desapeguei. Continuo desenhando essa figura, me parece que sempre falta”. (por Nina Rahe) 10 J.P MARÇO 2021

FOTO EDOUARD FRAIPONT/ARQUIVO PESSOAL

MARINA SALEME


J.P INDICA

FOTOS DIVULGAÇÃO

AVEIA PARA BEBER

Que as bebidas vegetais são opções saudáveis para uma dieta balanceada, todo mundo já sabe. Mas o que muitas pessoas desconhecem é que existe uma infinidade delas. Além de serem nutritivas, são excelentes fontes de cálcio, ferro, magnésio e vitaminas do complexo B. A TAL DA CASTANHA tem expertise no assunto e acaba de lançar uma bebida vegetal feita à base de aveia. A novidade, que é composta por apenas quatro ingredientes – água, farinha de aveia, carbonato de cálcio e sal marinho – e não inclui oleaginosas, é ideal para os simpatizantes do veganismo, os alérgicos a lactose e para quem gostaria de diminuir o consumo de produtos de origem animal. A bebida é perfeita para substituir o leite de vaca no cafezinho e ser usada também em receitas e smoothies. A aveia utilizada é certificada sem glúten, portanto também uma opção para celíacos, e ainda contém fibras solúveis que auxiliam no controle da glicemia, sendo excelente para os diabéticos. “Criamos mais um produto que veio para transformar o cardápio do brasileiro ao oferecer uma bebida leve, nutritiva, cremosa e à base de ingredientes naturais”, diz Rodrigo Carvalho, um dos diretores da A Tal da Castanha. Quer mais motivos para provar essa delícia? Entre os benefícios para a saúde estão: controle da pressão arterial, redução do colesterol ruim, melhora na digestão e na saúde do coração, incluindo mais energia e diminuição do cansaço. Além de todos os benefícios que o cálcio oferece. Um copo de leite de vaca (200 ml) tem aproximadamente 246 mg de cálcio, ou 24% do que você precisa em um dia; no de aveia há 400 mg de cálcio para cada copo. Isso quer dizer que em uma porção você ingere 40% do valor diário necessário! E é muito mais gostoso. +LOJA.ATALDACASTANHA.COM.BR/


CONSUMO por ana elisa meyer

MARÇO

J.P ADORA

ABAJUR

Lumini R$ 2.790

LENÇO

Dior preço sob consulta

MARTINE FRANCK Casada por mais de 30 anos com o fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson, a belga Martine Franck começou a se interessar por fotografia depois de viajar pelo Oriente em 1963. De volta à França, trabalhou para o The New York Times, Vogue, Life, entre outros veículos importantes. Membro da prestigiada agência Magnum Photos, cofundou e presidiu a Fundação Henri CartierBresson até sua morte em 2012, aos 74 anos.

ÓCULOS

Zerezes R$ 469

BRINCO

Bottega Veneta preço sob consulta

LOAFER

APARADOR

Etel preço sob consulta

12 J.P MARÇO 2021

Chloé no CJ Fashion R$ 5.070

FOTOS REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

BLAZER

Brunello Cucinelli no CJ Fashion R$ 18.800


CÂMERA FOTOGRÁFICA

Brasil Tronic R$ 10.399

BOLSA

YSL preço sob consulta

COLAR

CHALEIRA

Sauer no CJ Fashion R$ 5.760

Le Creuset R$ 499

POLTRONA

Geraldo de Barros na Dpot preço sob consulta

SAIA

MSGM para Farfetch R$ 3.159

MARÇO 2021 J.P 13


C A PA

DE CORPO

INTEIRO Nenhuma mulher é igual a outra. E nenhuma chega perto de Regina Casé. Autêntica em tudo o que faz, seja como a protagonista da novela Amor de Mãe, seja comandando seus programas de TV, ela sempre deixa sua marca. Aos 67 anos e de volta ao ar, fala sobre aprendizados, filhos, sexo, relacionamento e outras coisas boas da vida

por ca rol sg a nzer l a fotos joão pedro ja n uá r io edição de moda felipe v eloso belez a r ica r do tava r es


CapaOptaturit et optaspisi suntis dit eria asit re num lab ipiet voluptur? Ovit, sinctem faccull uptatiunt quiae

Vestido Carol Bassi para Ka Store, brinco, pulseiras e anel Joias Rafael Moraes


C A PA

A

vida é o que acontece enquanto a gente faz outros planos.” A frase dita por Regina Casé no papel da protagonista Lurdes, no capítulo inicial de Amor de Mãe – de volta ao ar – é a melhor síntese do momento da atriz. Após duas décadas sem atuar na TV, ano passado ganhou o afeto – e a torcida – do espectador com a personagem que passa a trama tentando encontrar o filho que não vê desde menino. Quando a novela estava prestes a chegar ao ápice, as gravações foram interrompidas por causa da pandemia. “Esse corte foi frustrante. Passei um ano preparando meu retorno, era uma coisa que eu devia para mim e para o público. Fiz poucas novelas para o tanto que gosto de atuar”, diz. “Mas só o fato de não ter ficado doida já está ótimo.” Com os projetos suspensos, Regina, então, viveu experiências que antes não cabiam na rotina tomada pelas gravações e outros compromissos profissionais. Ficou 2020 isolada em seu sítio em Mangaratiba, na costa fluminense, onde segue confinada, ao lado dos seus – o marido, o diretor de TV e cinema Estevão Ciavatta, o filho do casal, Roque, 7 anos; Brás, seu neto de 3, Benedita, 31, filha de Regina de seu casamento anteior, e o genro, João Pedro Januário, fotógrafo responsável por este ensaio, realizado no refúgio da família. “Poder educar o meu filho do meu jeito, caminhar com ele todos os dias, ensinar sobre as plantas, mostrar cada árvore, ele observar se você está lendo um livro, não consigo imaginar outra situação além do isolamento para isso”, conta.

Por outro lado, diz nunca ter tido uma convivência tão intensa com o marido. “Igual quando a gente fica em casa e repara que tem uma infiltração, que a porta não está fechando, o Estevão está ali, reparando que meu taco levantou, eu fico vendo que saiu o rejunte do piso, que a cortina do boxe está mofada. Era diferente. Os dois trabalham muito, a gente ficava com saudade. É uma lente de aumento no casamento”, revela. Aos 67 anos completados no fim de fevereiro, Regina costuma dizer que dentro dela mora um menino de 16. É comum, ela conta, ouvir das pessoas na rua o quanto não aparenta a idade que tem. “Isso se chama etarismo”, pontua. “As pessoas falam ‘nossa, você dança tanto, tem um marido que te ama, você trepa, tem mais energia do que eu’. Mas sempre vem com uma ressalva: ‘como está bem para a sua idade’, como se eu tivesse que estar velhinha, de bengala”, pondera. Para viver Lurdes, mãe de cinco, precisou se despir da vaidade, usar roupas largas e parecer mais velha. “Tenho a vaidade da minha interpretação, das pessoas gostarem da personagem pelo que é e não pela maneira como se veste. Ela é a antítese dos padrões das protagonistas de novela. É difícil encontrar atrizes que possam fazer uma mulher do povo. Acho que tem me cabido esses papéis porque disponibilizo meu corpo para homenagear essas mulheres, que têm a história da vida no rosto, nas rugas. Elas exibem aquilo tudo e vejo essa beleza”, diz, referindo-se também às protagonistas dos longas Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, e Três Verões, de Sandra Kogut, ambas domésticas.


“Disponibilizo meu corpo para homenagear essas mulheres do povo. Elas têm a história de vida no rosto, nas rugas, enxergo essa beleza. Não é sacrifício aparecer daquele jeito, com aquele corpo, com aquela roupa. É uma honra”

Vestido Tata Melgaço para Casa de Antônia, brinco Julia Gastin, anel Sauer Vestido exclusivo Kaoli, colar e brinco Neuza Pinheiro Joias, e coroa Graciella Starling


C A PA

Vestido Número Dez para Dona Coisa, brinco e pulseiras Julia Gastin, sandália Mansur Gavriel


Vestido Andrea Marques, brinco Dayrell, anel Sauer

“Poder educar o meu filho do meu jeito, caminhar com ele todos os dias, mostrar cada folha, não imagino outra situação além do isolamento para isso”


C A PA

“Com os anos, no sexo, o que você perde na novidade, ganha na intimidade. A própria curiosidade, uma pessoa que você não conhece, dá mais tesão, mas a intimidade também dá” “As pessoas acham que é um despojamento. Para mim, não é nenhum sacrifício eu aparecer daquele jeito, com aquele corpo, com aquela roupa, aquela bolsa. É uma honra.” O passar dos anos está longe de ser um fardo para essa garota carioca e, assim como tudo na vida, envelhecer tem o lado bom e ruim. “Acho que, depois dos 60 anos, a gente ganha muito mais intimidade com o parceiro. O que você perde na novidade, ganha na intimidade. Claro que uma pessoa nova, a própria curiosidade te dá muito mais tesão, mas a intimidade também dá”, acredita. “Como as outras coisas da vida, eu era muito mais ansiosa, sentia mais angústia. Hoje, consigo fazer menos coisas fisicamente, mas sou muito mais feliz.” O tempo também lhe deu maturidade para encarar uma maternidade tardia. Quando o processo da adoção de Roque foi concluído, Regina tinha 60 anos. E 35 quando Benedita nasceu. “Com ela tinha superproteção, medo de não acertar, um monte de coisas que com o Roque não tenho. Sou uma pessoa mais equilibrada emocionalmente, tudo que permite minha relação com eles ser mais suave. É sem culpa.” A relação distante com a sua própria mãe, Heleida Barreto, a fez acreditar que não desempenharia bem a função. “Ela era uma mulher inteligen-

tíssima, com humor incrível, mas não tinha uma relação afetiva. A minha mãe tomava Jack Daniel’s às 9 da manhã com o Cazuza, eram amigos.” Quando engravidou de Benedita ficou perdida. “Antes dela, nunca me pensei feminista, nem feminina. Eu queria viver plenamente e quando me via na sociedade, percebia que os lugares que ocupava, os lugares de liderança, eram vistos como masculinos. Quando tive a Benedita, falei: ‘Será que vou saber educar uma menina?’. E, com ela, fui desenhando muito mais essa ideia de que poderia, mesmo sendo mulher, ser o que quisesse. Que não precisava ser homem para poder fazer aquilo que eu fazia. Foi um grande aprendizado”, relembra. A chegada da filha foi marcada por um dos momentos mais difíceis da vida de ambas. Durante o parto, Regina teve um descolamento de placenta, forte hemorragia e a bebê ingeriu líquido amniótico. Ficou um mês na UTI e as altas doses de antibiótico geraram nela uma perda auditiva. “A gente se agarrou ali. Sinto que na minha relação com ela isso está presente o tempo todo. Esse episódio criou uma união entre nós, era como se a gente respirasse juntas pelo mesmo pulmão, era o mesmo coração.” Afinal, a vida é o que acontece enquanto a gente faz outros planos. n


C A PA

Arte: Jeff Leal Produção executiva: Ana Elisa Meyer Produção de moda: Rafael Ourives


NOTAS SOBRE O ENCANTAMENTO POR DANIELA ARRAIS

Criar como estratégia para manter a alegria em tempos tão duros. Na coluna deste mês, converso com uma artista dessas completas, com curadores de arte e com uma jornalista que resolveu falar sobre invisibilidade das mulheres depois de certa idade. Vem comigo?

TODA FORMA DE ARTE

Karina Buhr é uma dessas artistas múltiplas. Canta, toca, escreve, desenha. Encanta. Na pandemia, deu ainda mais vazão à sua arte, soltando a mão nos desenhos – e descobrindo a alegria que é vê-los ganhar novas casas. “No isolamento, minha primeira reação foi paralisar por uns meses, só tristeza, cansaço, falta de vontade e sem um horizonte possível com shows. Seguem a tristeza e o cansaço, mas comecei a desenhar mais, postar numa quantidade bem maior nas redes e também a vender os desenhos. O povo se empolgou nas compras e isso também renovou o gás. Eu que cuido das vendas, embalagens e envios, e é massa a parte da conversa com as pessoas, ver os desenhos emoldurados e nas paredes”, diz ela. E quem se interessa pelas obras ou livros acaba chegando na mú-

22 J.P MARÇO 2021

sica. Neste mês, aliás, Karina faz uma série de lives apoiadas pelo ProAC/Lei Aldir Blanc. Sintoniza no perfil @KARINABUHR para ver os desenhos e ouvir suas canções!


MULHERES DE 50

Chegar aos 50 anos. Um marco na vida, uma alegria também. E um tempo para muitas reflexões. “Eu não imaginava que seria tão complexo e desafiador. Se por um lado já realizamos muito – estudamos, trabalhamos, investimos em carreira, família – por outro vamos nos tornando invisíveis. E isso se reflete também nas redes sociais.” Quem nos conta é Tina Lopes, criadora do perfil @fiftinah, que produz informação e dá espaço para diversos temas, do trabalho à saúde, da psicologia à nutrição, voltados especificamente para a realidade da mulher

de +45 anos. “Quero que as mulheres dessa faixa etária se reconheçam e se sintam incluídas no perfil. Convidei amigas que a internet me trouxe nos últimos 15 anos para lives. Além disso, cerca de 50 mulheres aceitaram participar do perfil com uma selfie e um texto respondendo à pergunta: ‘O que a sua idade revela?’. O resultado tem sido incrível”, conta. Por mais que as realidades sejam diversas e as visões de mundo também, Tina vê pontos em comum entre todas, como o esforço pela autoaceitação e a luta contra essa invisibilidade. “Sinto que estou acertando.” Para seguir: @FIFTINAH.

FOTOS ANDREA NESTREA/ARQUIVO PESSOAL; ARQUIVO PESSOAL; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL; DIVULGAÇÃO

ARENA

Arte como forma de expressão e mediação com o mundo. É partindo dessa perspectiva que surge a Rama Plataforma, idealizada por Diego Matos e Carol Soares, dois profissionais que consolidaram suas trajetórias no campo das artes visuais. Neste novo lugar de encontro, eles integram parceiros, estudantes e curiosos em geral em um ambiente de ensino, troca e aprendizado, com cursos e palestras. “Rama Plataforma é um ponto de partida para a reflexão e o pensamento crítico, a produção de conhecimento e o diálogo. Uma arena da política da arte em consonância com o mundo ao redor. Imaginar futuros – ancorados vivamente no presente e balizados por aprendizados no passado – é, em última instância, nosso desejo de partida. Num contexto assombrado por catástrofes e crises de toda ordem, criamos uma alternativa de encontro e convívio”, explica a dupla. A programação para 2021 será divulgada ainda em março, e a identidade visual é de Renan Costa Lima, do @ESTUDIOTROPICAL. Já imperdível! Para acessar: WWW.RAMAPLATAFORMA.COM e @RAMA.PLATAFORMA. DANIELA ARRAIS É JORNALISTA E SÓCIA DA @CONTENTE.VC, UM MÉTODO DE CRIAÇÃO DE CONTEÚDO PARA UMA VIDA COM MAIS SIGNIFICADO – QUE TAMBÉM CRIA COLETIVAMENTE #AINTERNETQUEAGENTEQUER .

MARÇO 2021 J.P 23


ESPECIAL

POR N I NA R A H E

IZA, CANTORA

Quando você vê alguém como você nas capas de revista, no brinquedo, na TV, você se sente parte de um todo. E isso faz com que você se sinta confiante para responder caso alguém ache que aquele ali não é o seu lugar – J.P, dezembro de 2019

QUE AMAMOS

24 J.P MARÇO 2021

FOTOS PEDRO DIMITROW; JORGE BISPO; GETTY IMAGES

M U L H E R E S

Neste mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, lembramos da atuação de cantoras, atrizes, escritoras, artistas, esportistas, médicas e empreendedoras que, com muito talento – e trabalho –, reafirmam a potência do gênero feminino e seguem na luta para a construção de uma sociedade mais igualitária


MARJORIE ESTIANO, ATRIZ

Indicada ao Emmy Internacional como melhor atriz em 2019 por sua atuação na série Sob Pressão, Marjorie causou comoção como a doutora Carolina no especial Sob Pressão – Plantão Covid.

BEATRIZ MILHAZES, ARTISTA PLÁSTICA

ELZA SOARES, CANTORA

Hoje, nós, mulheres, sabemos da necessidade de pegar na mão da outra e fazer uma corrente. Sou mulher e vou continuar parindo com a música – PODER, maio de 2019

Com uma obra que apela aos sentidos, a artista se tornou uma das mais bem-sucedidas de sua geração. Beatriz participou das bienais de São Paulo, em 1998 e 2004, e de Veneza, em 2003, e seu trabalho está até na coleção do Museu de Arte Moderna de Nova York.


LUIZA HELENA TRAJANO, EMPRESÁRIA

Desde o início da pandemia, ela vem dando um verdadeiro exemplo de atuação: de sua aderência ao movimento Não Demita, incentivando outros empresários a fazerem o mesmo, até sua recente articulação à frente do grupo Unidos pela Vacina, que quer facilitar a distribuição do imunizante contra a Covid-19.

J.P: O que o ano de 2020 significou para as mulheres? MARY DEL PRIORE: A história ensina que cada

crise é também uma oportunidade. A pandemia reforçou a urgência de compreendermos a sociedade a partir das diferenças não só de gênero, mas, também, sociais e simbólicas. Será preciso construir uma agenda que dê conta das necessidades de uma sociedade que empobreceu e fragilizou a todos, homens e mulheres. Se 2020 foi sinônimo de resiliência e flexibilidade, 2021 deverá ser o ano da negociação e da renovação. J.P: Você argumenta que as mulheres precisam chamar os homens para a conversa. Qual é a posição a ser adotada? MDP: É importante entender como o mito da virilidade e da dominação modelou os homens. Historicamente, esse mito legitimou a opressão do homem pelo homem e sua violência contra a mulher. Há tempos, porém, o modelo do todo-poderoso guerreiro começou a derreter. Ao fazer do mito da superioridade do macho o fundamento da 26 J.P MARÇO 2021

ordem social e ao valorizar a força e o apetite pela conquista, o homem justificou e organizou a submissão delas. Mas, com isso, foi condenado a reprimir suas emoções, temer a impotência, odiar a feminização e cultivar o gosto da violência. O dever de virilidade se tornou um fardo e “tornar-se homem”, um processo difícil e cruel. Entender os dois lados é fundamental para combater o machismo, integrando a voz dos homens. J.P: Qual o papel do letramento e da educação no combate ao machismo? MDP: A educação e o letramento são os instrumentos mais eficientes para reduzir a pobreza e promover a igualdade entre homens e mulheres. Eles contribuem para desenvolver o respeito por si mesmo e para reforçar a liberdade e autonomia indispensáveis para crescer como ser humano. Poucos investimentos trazem tantos ganhos quanto a escolarização de meninas que, educadas, se tornam agentes de transformação da sociedade em que vivem.

FOTOS BOB WOLFENSON; MAURÍCIO NAHAS; ANA CATHARINA/DIVULGAÇÃO/ JORGE BISPO/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO CIA DAS LETRAS; DIVULGAÇÃO

MARY DEL PRIORE, ESCRITORA E HISTORIADORA


ESPECIAL

MAYA GABEIRA, SURFISTA

Apesar de ter sofrido um grande trauma em 2013, após quase morrer em uma onda gigante na Praia do Norte, em Portugal, Maya enfrentou seus medos, voltou a surfar e já bateu duas vezes o recorde mundial da maior onda já surfada por uma mulher.

MARIA BETHÂNIA, CANTORA

Aos 74 anos, ela continua demonstrando maestria na interpretação de músicas que se tornam verdadeiros clássicos em sua voz. Em meio à pandemia, Maria Bethânia apresentou live impecável e lança Noturno, disco de inéditas.

TAÍS ARAUJO, ATRIZ

A única maneira de a gente seguir adiante é questionar o que a gente pensa sobre progresso. Queremos um progresso destruidor ou progresso de construção? Construção implica o respeito a tudo – J.P, outubro de 2019

ANA MARTINS MARQUES, POETA

Com sua constante atenção para o que chama de “coisas menores”, Ana Martins consegue extrair o encanto dos objetos e cenas cotidianas, nos oferecendo em sua poesia um verdadeiro lugar de aconchego.

MARÇO 2021 J.P 27


ESPECIAL

ALBERTINA DUARTE,

GINECOLOGISTA E OBSTETRA

Há 40 anos, ela se dedica ao atendimento de mulheres em situação de vulnerabilidade, de vítimas de violência e abusos a adolescentes grávidas. E batalha por melhorias na saúde e pela construção de políticas públicas para ampliar o acesso ao atendimento médico no Brasil.

ELIANE DIAS, EMPRESÁRIA E PRODUTORA MUSICAL

Vamos conseguir mudar alguma coisa para as mulheres, os negros e os gays quando estivermos em posição de poder. O poder está na caneta – J.P, agosto de 2020

COSTANZA PASCOLATO,

CONSULTORA DE MODA E EMPRESÁRIA

FAFÁ DE BELÉM, CANTORA

Aos 64 anos de idade e com 45 de carreira, Fafá assumiu a senioridade e a transformou em uma bandeira. A cantora vem usando sua voz não só para amplificar a música, mas também temas como envelhecimento saudável e a falta de visibilidade dos idosos no Brasil.

28 J.P MARÇO 2021

Maior ícone da moda nacional, Costanza chega aos 81 anos acreditando que elegância é não invadir o espaço alheio e deixar de observar a si mesmo para observar o outro.


REGINA NAVARRO LINS, PSICANALISTA

É fundamental que todos desenvolvam a capacidade de viver bem sozinho. Não é nada grave desejar um par amoroso, o grave é acreditar que só é possível viver bem se houver um par amoroso – J. P, novembro de 2020

MARIA HOMEM, PSICANALISTA Professora e psicanalista lacaniana, ela se tornou uma figura pública ainda mais conhecida desde que passou a utilizar as redes sociais para divulgar vídeos nos quais aborda os mistérios da alma humana, com temas que vão de amor a sexo e relacionamentos.

CONCEIÇÃO EVARISTO, ESCRITORA

FOTOS MAURÍCIO NAHAS; FERNANDO TORRES; PAULO FREITAS; VICTOR AFFARO/DIVULGAÇÃO; CAIUÁ FRANCO/DIVULGAÇÃO; WALTER CRAVEIRO/FLIP; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL

Homenageada como Personalidade Literária do Ano pelo Prêmio Jabuti 2019, Conceição tem como matéria-prima a vivência das mulheres negras, transformando sua escrita em instrumento de denúncia das opressões raciais e de gênero.

ADRIANA VAREJÃO, ARTISTA PLÁSTICA

Uma das artistas contemporâneas brasileiras mais prestigiadas na cena internacional, Adriana trabalha com materiais que estão ligados simbolicamente à história do Brasil e problematiza, em muitas de suas obras, as relações construídas a partir do passado colonial.

MARÇO 2021 J.P 29


ESPECIAL

TAÍSA MACHADO,

ATRIZ E ESCRITORA

À frente do Afrofunk Rio, projeto que toca desde 2014, a “chefona” desenvolveu um método de ensino que pensa o corpo de maneira afrocentrada e vê na potência do rebolado uma maneira de empoderar as mulheres.

SUELI CARNEIRO,

FILÓSOFA E ESCRITORA

Autora de estudo pioneiro sobre racismo intragênero, com a sistematização dos números das desigualdades entre mulheres brancas e negras no Brasil, Sueli construiu sua trajetória com uma produção centrada nas relações raciais e de gênero e foi premiada este ano pela Associação de Estudos Latino-Americanos (Lasa).

ANDREA BISKER, EMPREENDEDORA

Head da Stylus Brasil, plataforma inglesa de inteligência de mercado que traz tendências de comportamento, e fundadora e CEO da consultoria em inovação Spark:off, Andrea tem sido uma figura central para que as empresas e gestores entendam como se manter relevantes.

MAITÊ PROENÇA, ATRIZ No espetáculo solo O Pior de Mim, baseado em uma espécie de confessionário, e nos vídeos espontâneos que vem postando em suas redes sociais, a atriz desconstrói sua persona pública e mostra como sabe se reinventar a todo momento.

30 J.P MARÇO 2021


CLARA BUARQUE, CANTORA

ANNA SARA LEVIN,

De família de artistas – ela é filha de Carlinhos Brown e neta de Chico Buarque e Marieta Severo –, a atriz e cantora participou do musical Novos Baianos e segue encantando com sua voz.

INFECTOLOGISTA

FOTOS PEDRO DIMITROW; FERNANDO TORQUATTO; ARQUIVO PESSOAL; ALEX CARVALHO/TV GLOBO; ATIBA JEFFERSON/RED BULL CONTENT POOL/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

Professora do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias e coordenadora do Grupo de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a médica é integrante do grupo de consultores para a Covid-19 da Organização Mundial da Saúde (OMS).

JOJO TODYNHO, CANTORA

Vivo solteira, não quero ninguém, não tenho paciência. Já fui casada, o que não me falta é macho, mas sou pássaro, gosto de viver livre, não gosto de dar satisfação – J.P, fevereiro de 2021

LETICIA BUFONI, SKATISTA

Campeã mundial de skate street e classificada para a Olimpíada de Tóquio, Leticia tem 27 anos de vida e 17 de carreira. No esporte, sempre quis – e conseguiu – provar que era possível ser feminina andando de skate. MARÇO 2021 J.P 31


NA ESTRADA

AVENTURA NO SERTÃO Após percorrer o Brasil de carro com seu boneco Cabeção, Maria Eugenia Tita, dançarina e filha dos artistas Antonio Nóbrega e Rosane Almeida, escolheu a Paraíba para fincar raízes e colocar de pé seu próprio teatro

M

aria Eugenia Tita desembarcou na capital paulista em fevereiro para uma temporada de 15 dias que deverá se desdobrar em pelo menos um mês. O motivo da viagem foi uma série de trabalhos: ela veio dirigir o espetáculo do artista Eduardo Colombo e assinar a direção cênica do show de Victor Kinjo. Entre um afazer e outro, no entanto, a programação foi colocar o sono em dia, aquele descanso que só mesmo a casa dos pais pode propiciar. Filha dos artistas Antonio Nóbrega e Rosane Almei-

32 J.P MARÇO 2021

FOTOS ARQUIVO PESSOAL; DANTAS VILAR/ARQUIVO PESSOAL

POR NINA RAHE


da, Tita é nascida e criada em São Paulo, mas decidiu pegar a estrada após uma temporada no “limbo”, depois de tentativas sem sucesso de viabilizar os próprios projetos. “Acho que a vida estava me pedindo algo diferente e eu gosto muito de mudanças”, conta. A mudança, no caso, começou quando ela recebeu um convite para participar do Festival Nacional de Teatro Revirado, em Santa Catarina, com o espetáculo Planta do Pé, o que ela encarou como um sinal. Assim, a partir de Içara, cidade na qual o evento seria realizado, Tita organizou um roteiro com apresentações por todo o trajeto, incluindo Cananeia, Jaraguá do Sul, Joinville, Chapecó, Lages, Criciúma, Florianópolis e Curitiba. Nesse primeiro mês, a viagem foi ao lado de um amigo, mas logo depois Tita prosseguiu sozinha, tendo Cabeção, um grande boneco em molde de isopor e coberto de tiras de jornal, como seu principal companheiro. Com ele, visitou, em Joinville, o Mirante do Morro da Boa Vista e tirou sarro na estátua da liberdade da loja Havan; dançou a típica chula em Urus-

À esq., Tita se apresenta para alunos em Porto Seguro, trabalhando na Fazenda Carnaúba, em Taperoá, e, abaixo, experimentando com o drone em Taperoá

sanga e participou até mesmo de uma roda de capoeira. “Encontrei muita gente com esse sonho de viajar o Brasil de carro, mas eu não tinha esse desejo. A minha vontade era levar meu espetáculo para um público que dificilmente teria acesso, brincar com o Cabeção, ter autonomia de ir embora quando quisesse”, explica Tita. “Foi pensando onde eu poderia experimentar essas coisas que a ideia foi se consolidando e, quando percebi que faria uma viagem de carro pelo Brasil, tudo fluiu, foi mágico.” Em um trajeto percorrido em três meses, nas 45 cidades em que aportou, Tita conheceu muita gente e se surpreendeu com a solidariedade. Sua estratégia foi construir uma rede e, a partir dela, ir descobrindo, por meio de indicações, quem

“O sertão da Paraíba é um lugar de resistência e acho que a falta de chuva faz com que as coisas vigorem com muita força. O que sobrevive, sobrevive com esse vigor e isso estimula” MARÇO 2021 J.P 33


NA ESTRADA

seriam os agitadores culturais que a ajudariam a articular apresentações em cada cidade. Dessa maneira, ela se apresentou não só em instituições como o Sesc, mas em escolas, pátios de igreja e outros tantos locais. As hospedagens às vezes eram nas casas dessas mesmas pessoas, outras por meio de parcerias com hotéis ou até mesmo no espaço de quem ia acompanhando a artista pelas redes sociais e oferecendo estadia à medida que ela anunciava o paradeiro. “Senti solitude porque estava viajando sozinha, mas estava amparada”, diz. “Sempre tinha alguém que sabia que eu ia chegar. Ganhei vários anjos da guarda, muitas famílias.” Talvez por isso a viagem tenha ocorrido sem grandes perrengues. Os poucos, podem ser contados nos dedos: a começar pela Kombi que seria inicialmente o veículo do projeto, mas acabou pegando fogo – do nada – ainda em São Paulo e também por alguns momentos na estrada, como um trajeto à noite em que Tita quase ficou sem gasolina. As surpresas boas, em contrapartida, são incontáveis. Entre elas, ter conhecido acidentalmente o projeto pedagógico do antropólogo Tião Rocha, em Araçuaí (MG), baseado no uso da cultura local como matéria-prima de ensino, e encontrar Mestre Zanza, de um dos caboclinhos de Minas, em sua visita à cidade de Montes Claros. Outro fator inesperado foi a parada que fez, por indicação da sua mãe, em uma fazenda em Taperoá, na Paraíba, lo34 J.P MARÇO 2021

Uma das casas da Fazenda Carnaúba, apresentação do espetáculo Planta do Pé, em Trancoso, e Tita com Mestre Zanza, em Montes Claros

cal onde acabou permanecendo por oito meses com a chegada da pandemia. Nessa propriedade, da família de Ariano Suassuna, a artista fez da garagem uma sala de ensaio e o público, virtual, logo se multiplicou mais e mais. “Ali conseguia me preocupar em fazer apenas o que quero, sem ter que agradar editais, programador. Comecei com programas de lives, criações, e aí entendi que essa produção digital pode ser muito bacana”, revela Tita. Foi essa percepção, inclusive, que a fez articular uma residência artística em uma fazenda vizinha, na cidade de Patos, onde deve permanecer durante este ano todo. Ali, a garagem do local, como em sua estadia anterior, também virou espaço de ensaios, com palco e luzes


FOTOS ARQUIVO PESSOAL; DANTAS VILAR/ARQUIVO PESSOAL; ANDRE SANCHES/ARQUIVO PESSOAL

“Minha vontade era levar meu espetáculo para um público que dificilmente teria acesso, brincar com o Cabeção, ter autonomia de ir embora quando quisesse” para compor o cenário. Desde que chegou à fazenda, em dezembro do ano passado, Tita promove oficinas semanais com os jovens trabalhadores locais, mas também continua com os seus projetos. Desde o antigo Nos Passos da Nossa História, no qual apresenta em vídeo danças regionais seguidas de uma explicação sobre sua origem, até a preparação de aulas on-line de dança e o andamento de um novo espetáculo, que deve ganhar um formato híbrido, com textos, fotos e vídeos. “O sertão da Paraíba é muito impressionante. Já vi um bocado de beleza, mas nada tão bonito e que me fizesse tão bem aos olhos e à alma quanto esse sertão paraibano”, resume. É nesse cenário, também, que ela e Cabeção ganharam novos companheiros, como uma cabrita e uma maritaca, que se tornaram personagens frequentes dos vídeos que posta nas redes sociais. “A nature-

Tita tocando violão na Fazenda Carnaúba, Cabeção arrastando sua mala em Curitiba, Tita com sua mãe, Rosane Almeida, em Joanópolis, e com a cabrita Xakira

za e as pessoas ensinam muito nessa região. É um lugar de resistência e acho que a falta de chuva faz com que as coisas vigorem com muita força. O que sobrevive, sobrevive com esse vigor e isso estimula”, diz a artista, que partiu para conhecer o Brasil por falta de trabalho e, um ano depois, conta até mesmo com um espaço teatral para chamar de seu. n MARÇO 2021 J.P 35


OLHO MÁGICO Expert em mostrar as casas mais deliciosas de famosos e anônimos, convidamos o diretor Alberto Renault, idealizador dos programas Morar, Casa Brasileira e da nova série Lar, do canal GNT, para falar sobre seu jeito de viver por luciana franca fotos alberto renault

36 J.P MARÇO 2021


MODO DE V IDA

D

ia frio com sol, café, cercado de livros, revistas e jornais, flores, plantas, cheiros, amigos ao telefone de vez em quando. Esta é a tradução do dia perfeito de Alberto Renault em seu apartamento com vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. Sobre viver bem, ele entende. O diretor e idealizador dos programas Morar e Casa Brasileira já visitou mais de mil residências e para sua nova série documental, Lar, que estreia este mês no canal GNT, perguntou a mais de 70 convidados, entre eles Gilberto Gil, Zezé Motta e Luisa Arraes, o que torna a casa um lar. As conclusões de Renault, você lê a seguir.

A protagonista do apartamento: a janela. As moças, na pág ao lado, são duas garrafas portuguesas de vinho do porto da fábrica de porcelana Vista Alegre

MARÇO 2021 J.P 37


MODO DE V IDA

O Japão está espalhado pela casa. À esq. e abaixo, a alface é de plástico, os copos são de Ouro Preto e os antúrios, de verdade. Segundo Renault, luz e sombra são como objetos

J.P: Afinal, o que torna uma casa lar? Alberto Renault: Fiz essa mesma pergunta a mais de 70 entrevistados nas gravações do meu novo programa, Lar. A resposta recorrente foi amor. Complementaria dizendo que esse amor pode ser entre pessoas, mas também dos moradores para com os bichos, plantas, objetos, vistas, paredes, cantos e memórias. O lar é o lugar das vivências personalizadas e amorosas, mesmo que moremos sozinhos. J.P: Qual é o canto que mais gosta de ficar em seu apartamento? AR: Ocupo bem a casa toda, tem a hora do sofá, da cama, da mesa de trabalho, mas acho que o canto que fico mais é sentado na mesa de jantar, pés para cima, olhando ora para a sala, ora pela janela, tomando um interminável café, enquanto leio diversos jornais, respondo e envio mensagens, e me distraio com pequenos detalhes bem caseiros. J.P: Como é um dia ideal dentro de casa? AR: Dias frios com sol, café, cercado de livros, 38 J.P MARÇO 2021


Pelas estantes, comidas, pratos, copos, xícaras e livros. “Tudo é alimento”, diz Renault. A maioria dos objetos da casa é presente dos amigos. Abaixo, vista na hora em que costuma se levantar: “Acordo sempre junto com a luz”

revistas e jornais da banca e os baixados no iPad, flores, plantas, cheiros, amigos ao telefone de vez em quando. Adoro silêncio, mas também sons de pássaros, jardins, florestas, água, mesmo que de um aplicativo. Posso ficar dias assim. Outro dia li uma frase do filósofo italiano Emanuele Coccia que define bem esse dia: “A casa é uma compilação de coisas que precisamos para sermos felizes”. J.P: Neste ano em que ficamos mais reclusos, olhamos mais para o espaço em que vivemos.

Que adaptação você fez no apartamento? AR: Eu já estava numa fase bastante caseira e a casa já era um tema bem central na minha vida. Não me vi de repente confinado num lugar que antes era de passagem, acho que não mudou muita coisa. Eu já tirava os sapatos para entrar em casa e, definitivamente, isolamento não quer dizer solidão. J.P: Onde garimpou seus objetos mais estimados? AR: A maioria dos poucos objetos que possuo foram presentes de amigos ou, como com

MARÇO 2021 J.P 39


MODO DE V IDA

Caixinha de marchetaria, cerâmica do Ateliê Villa Mandaçaia e luminária Bob, design de Baba Vacaro. Abaixo, louças à mostra

grande parte das pessoas, lembranças de viagem. Tenho carinho pelas minhas caixas de madeira em marchetaria, comprei muitas delas nos antiquários do shopping da [rua] Siqueira Campos, em Copacabana. Não tenho gavetas em casa, guardo de tudo nessas caixinhas, elas estão espalhadas por todo canto.

J.P: Seu jeito de morar mudou depois de visitar tantas casas? O que aprendeu com elas? AR: Sim, foram mais de mil casas visitadas. As moradas são tão variadas e múltiplas quanto os seres humanos. Para uns, ela é um templo sagrado, para outros, é um lugar trivial e sem apego. As casas espelham os moradores e suas formas de estar no mundo. Existem casas que são apenas réplicas de outras, e aquelas autorais e criativas. Existem aquelas generosas para com quem entra e aquelas que mantêm-se trancadas, como existem aquelas que se enfeitam para serem vistas e aquelas que são belas justamente por não quererem ser, como as pessoas. As casas são seres vivos. J.P: Quais foram as casas que mais inspiraram você ao longo desses anos de programas? AR: Foi gravando o programa Caminho Zen, no Japão. As casas tradicionais japonesas me marcaram muito. Nelas, a suavidade cromática e o equilíbrio da entrada de luminosidade complementam um ambiente sem ornamentos supérfluos. Visitar essas casas, tendo lido o livro Elogio da Sombra, de Jun’Ichirô Tanizaki, foi uma inspiração e uma influência marcante na maneira como vivo e também na minha maneira de olhar para as casas nos meus programas. n

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PERFIL

GRETCHEN 2.0

Aos 61 anos, a cantora faz sucesso como influenciadora, com 2,7 milhões de seguidores, e estreia como mentora, dando conselhos sobre autoestima e relacionamentos POR LUCIANA FRANCA

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FOTO DIVULGAÇÃO

ainha do rebolado, rainha dos casamentos, rainha dos memes... Maria Gretchen também é influenciadora e está se tornado a rainha dos publis. No entanto, sua influência tem ido muito além de impactar seus 2,7 milhões de seguidores no Instagram com as marcas que anuncia – e não são poucas. A cantora começou a oferecer “mentoria de vida” com consultas presenciais e on-line, no valor de R$ 500, direto de Belém, onde mora com o marido, o músico Esdras de Souza. “A ideia surgiu por conta de vários diretcs que eu recebo diariamente no Instagram pedindo aconselhamento quanto à autoestima, como se valorizar, ajuda em relação à homossexualidade dos filhos e violência doméstica... Sempre ajudei as pessoas à minha volta, começando pelos meus filhos e amigos”, conta ela, que é mãe de sete, entre eles Thammy Miranda. Bem-articulada, Gretchen tem no currículo um curso de coach que decidiu fazer há algum tempo com a intenção de dar palestras. Além disso, aos 61 anos, com 18 maridos na conta e tantas cirurgias plásticas quanto, não falta bagagem para discorrer sobre os temas mais questionados. Ela diz que autoestima, definitivamente, tem sido o assunto mais abordado nas sessões. Ética, prefere não comentar as situações inusitadas que acontecem nos atendimentos. E devem ter ocorrido; afinal, não é todo dia que se compartilha confidências com alguém famoso.

A fase conselheira de Gretchen não é bem-vista por todo mundo. Mas a eterna rainha não perde o rebolado com as críticas. “Não estou preocupada com o que os profissionais da psicologia pensam a respeito disso, até porque a profissão de coach é reconhecida e tem que ser respeitada”, avisa. “Não sou terapeuta, não estudei para ser terapeuta e não tenho nenhuma pretensão de agir como terapeuta. Porém, tenho experiência de vida, tenho disponibilidade para ouvir as pessoas e tenho carinho e amor para receber todas as pessoas que quiserem meus cuidados.” Precisa de mais? n

“Não tenho nenhuma pretensão de agir como terapeuta. Porém, tenho experiência de vida e disponibilidade para ouvir as pessoas” MARÇO 2021 J.P 41


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42 J.P MARÇO 2021

abacate e castanhas) e fontes proteicas (peixe, ovo, carnes, lentilha, tofu e grão-de-bico), assim seu corpo estará sempre nutrido e saciado. SÍNDROME FÚNGICA – Fungos no organismo aumentam significativamente a vontade de comer doce, já que o açúcar é seu combustível preferido. A solução? Eliminar os fungos – Chás, sementes, óleo de coco e fitoterapia podem ajudar – e parar de alimentá-los, cortando, reduzindo ou trocando o açúcar refinado por frutas.

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A Páscoa batendo à porta, em plena pandemia, é um bom momento para avaliar sua relação com os doces. Segundo a nutricionista FERNANDA SCHEER , a compulsão por eles tem quase sempre um gatilho emocional; é o corpo buscando uma compensação por um excesso ou carência. Afinal, um docinho é uma saída fácil para compensar cansaço, tristeza, frustração... Fernanda chama a atenção para outros fatores que podem estar ligados à compulsão: HÁBITO – Todo hábito é criado pela repetição. Será que você não ensinou o seu corpo a depender de um docinho diariamente? CARÊNCIAS NUTRICIONAIS – A falta de alguns nutrientes, como magnésio e cromo, pode aumentar o desejo por doces. Que tal aumentar o consumo de alimentos ricos nessas substâncias para ver o que acontece? Cacau em pó, amêndoas, grão-de-bico e sementes são alguns deles. ALIMENTAÇÃO ERRADA – Refeições ricas em alimentos refinados, como farinha branca e tapioca, podem causar desequilíbrios nos níveis de glicose no sangue, aumentando o desejo por doces. Dê preferência ao carboidrato das raízes que são nutritivas e promovem um aumento gradual de glicose.


J.P INDICA

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Você com certeza já ouviu falar do EMsella e EMsculpt, dois aparelhos mundialmente reconhecidos por serem os melhores em fortalecimento do assoalho pélvico e muscular, respectivamente. Agora, a BTL reforça a família EM com a chegada ao Brasil do EMTONE, aparelho que é sucesso nos Estados Unidos e na Europa e que trata de forma eficaz e comprovada um dos maiores vilões das mulheres: a celulite. Com 64% a mais de eficácia no estímulo da produção da elastina do que nos tratamentos autônomos e 59% mais eficiente na produção do colágeno, segundo estudos clínicos, este é primeiro tratamento que utiliza radiofrequência monopolar e energia de pressão direcionada simultaneamente. Combinação inovadora que permite que o tratamento aborde todos os principais fatores que causam e contribuem para a celulite. O EMtone tem um efeito profundo nos tecidos conjuntivos envolvidos no quadro de celulite e promove o aumento da produção de colágeno e elastina, estimulando a microcirculação sanguínea e a circulação linfática,

diminuindo o tamanho dos lóbulos de gordura do tecido subcutâneo, promovendo a remoção dos metabólitos e a melhora da elasticidade da pele. Assim, a aparência da celulite e as ondulações da pele são suavizadas. Agora, a grande aposta da BTL é o protocolo batizado de EMup, que associa sessões de EMtone com sessões de EMsculpt, utilizado para definir músculos e queimar gordura pela estimulação eletromagnética focada que promove contrações supramáximas equivalentes a 20 mil contrações a cada 30 minutos. O único método do mercado que comprovadamente promove um aumento de 16% no músculo e uma queima de 19% do tecido adiposo. “É um procedimento verdadeiramente eficaz e muito aguardado, não só pelas pacientes, mas pelos médicos, pois há muito tempo não se descobria nada de novo nessa área, que tem uma demanda grande”, explica FERNANDA BUDIN, DIRETORA COMERCIAL DA MULTINACIONAL. O melhor? São necessárias apenas quatro sessões de cada. WWW.BTLAESTHETICS.COM/PT


fernando torquatto BEAUTY ARTIST

Jessica Córes

Ela mora no Rio e ia à praia, mesmo sem saber nadar. Mas para viver uma sereia na série Cidade Invisível, da Netflix, Jessica Córes, 30 anos, precisou adquirir tal habilidade. “Quando pequena, fiz natação, mas durou pouquíssimo tempo porque o cloro danificou meu cabelo. Não cheguei a aprender a nadar. Mas assim que aceitei o papel da Camila, fui atrás de um professor”, conta ela. “As cenas de mergulho foram feitas no último dia de gravação, então tive muito tempo para me preparar. Também fiz aulas de dança oriental para aprofundar a sinuosidade do corpo da sereia.” Formada em design gráfico, Jessica decidiu que seria atriz e que faria isso pelo resto da vida depois de assistir com a mãe ao musical Hairspray. (POR LUCIANA FRANCA)

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FERNANDO TORQUATTO já transformou todo mundo que importa – aqui e lá fora. só vai

sossegar depois de clicar madonna

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MEMÓRIA DOS PAMPAS Entre cavalgadas, brincadeiras à beira do rio e trabalho no campo, Mina, filha da atriz Guilhermina Guinle, repete a infância da mãe na estância da família no Rio Grande do Sul por luciana franca

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FELICIDA DE


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o mês passado, Mina, de 7 anos, foi introduzida ao trabalho dos campeiros na centenária Estância da Gruta, em Pelotas (RS). Assim como fazia sua mãe, a atriz Guilhermina Guinle, na infância. Às 7 da manhã, a garota saía a cavalo para acompanhar de perto as funções dos campeiros com o gado e as ovelhas e nas plantações de arroz e soja – e voltava às 11h30 para o almoço. Guilhermina foi junto apenas no primeiro dia e depois deixou que a filha tomasse as rédeas, da mesma forma que ela fazia em todas as férias que passava com a avó materna, Antoninha Berchon Sampaio. “Fui criada assim a vida toda, com os primos, fomos tão felizes. É muito legal ver a história se repetindo com a nova geração”, orgulha-se Guilhermina. Única filha da atriz com o advogado Leonardo Antonelli, Mina carrega no DNA características de uma mulher forte e destemida. A matriarca da família Sampaio dedicou-se MARÇO 2021 J.P 49


Mina cavalga com o pai, Leonardo Antonelli, à esq., e alimenta os patos. Nas fotos, detalhes da vida na fazenda pelo olhar de Guilhermina Guinle

“Fui criada assim a vida toda, com os primos, fomos tão felizes. É muito legal ver a história se repetindo com a nova geração”, diz Guilhermina Guinle sobre a filha a cuidar da estância, de 1853, que herdou dos pais quando ainda era bebê. Casou-se com o piloto Lulu Sampaio, com quem se aventurava pelos ares, teve três filhas – entre elas Rosa May Sampaio, designer de interiores e mãe de Guilhermina – e dividiu as terras para que cada uma construísse sua própria sede. Viúva desde 1966, dona Antoninha tocou a fazenda até o fim da vida, em 2014, aos 96 anos. Um feito e tanto para uma sociedade machista. 50 J.P MARÇO 2021

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FELICIDA DE


“Imagina uma mulher sozinha que manteve todas essas terras, todo esse patrimônio, criando gado e plantando soja no sul?”, indaga Guilhermina. Cavalgada em família, pique-esconde com os primos em cima dos pôneis, passeios de barco pelo rio Piratini – que atravessa as três sedes –, churrasco tipicamente gaúcho e sobremesas que seguem fielmente as receitas deixadas pela avó ocupam as horas livres de Guilhermina em suas temporadas na estância. “Sempre teve essa tradição de sentarmos em uma mesa de fazenda, com os doces da vovó, até o bolo de chocolate era diferente, com chocolate amargo”, relembra. A outra parte do tempo é dedicada à administração. “Agora, nossas idas para lá são metade para lazer e metade para trabalho. Eu e meus irmãos ajudamos minha mãe a cuidar dos negócios”, conta ela, que observa de perto a pequena Mina repetindo seus passos e criando suas próprias memórias naquele lugar cheio de histórias e de natureza espetacular. n MARÇO 2021 J.P 51


J.P DE OLHO Uma seleção de marcas e designers independentes, e seus produtos cheios de charme e afeto P O R A N A EL I S A M E Y ER

CARIOCA VINTAGE

Depois de uma jornada em outras marcas, parcerias diversas e estudos na área de modelagem, a estilista e modelista Monique Argalji, 37 anos, decidiu que era hora de consolidar todo o aprendizado em uma etiqueta mais sólida e autoral. Foi aí que nasceu, em 2019, a Argalji. A carioca acredita que a beleza está em todo o processo de criação e não somente no resultado. Fã de brechós e roupas vintage desde sempre, Monique cria peças que bebem na fonte da década de 1980, mas com um olhar mais atual e influência da atmosfera de sua cidade, e se inspira em artistas nacionais para suas estampas, como Athos Bulcão e Rubem Valentim, valorizando e homenageando a nossa arte. @ARGALJI_

AUTOCONHECIMENTO

Foi pela busca pessoal de algo que pudesse trazer naturalidade e conexão – espiritual e física – e o descobrimento do corpo e prazer, que a estilista de formação e artista plástica por coração Tati Freitas, 35 anos, decidiu criar a Mitra há seis anos. “A sexualidade é muito além do que apenas gozar. É um ritual de autoamor. O prazer acontece quando conhecemos nosso corpo e estamos em conexão com ele”, diz. Feitos com pedras brasileiras 100% certificadas desde a origem até a lapidação, pensando na conexão com os sete chakras principais do corpo, os objetos orgânicos transmitem energia pura e verdadeira da Terra de forma responsável e sustentável. @MITRA_OBJECTS

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OBJETOS DE VESTIR

O interesse em transformar a matéria e alterar o estado das coisas com as mãos era uma vontade latente de Luisa Velludo, 29 anos, desde criança. Arquiteta de formação, criou sua marca homônima em 2014, depois de conhecer um professor de ourivesaria e começar a explorar materiais nunca experimentados. Induzida por constantes mudanças, desenvolve objetos que expressam o seu viver em diferentes formas, ao mesmo tempo em que pensa sobre o olhar do outro, nos sentimentos que geram e qual o novo significado que essa pessoa tem para dar. “Criar novos sentidos me impulsiona. Do conceito à materialização, os objetos celebram a liberdade, a pluralidade e as nossas vontades. Aqui, os objetos contam histórias.” @LUISAVELLUDO

MEU MOMENTO

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COMIDA PLENA

Cozinhar para si e para os amigos já fazia parte da rotina da carioca Bá Rosalinski, de 32 anos. Mas foi durante a pandemia que a empresária, cozinheira, fotógrafa e agitadora cultural viu a possibilidade desse prazer em compartilhar se tornar um negócio. Estudante da ayurveda, Bá se inspira muito na medicina milenar indiana – sobre a relação com as especiarias e boa digestão do alimento – para a criação dos produtos da Moa. A marca traz receitas artesanais, saudáveis, criativas e com prana – boas para o corpo e para a alma –, usando como ingredientes insumos que normalmente são descartados na cozinha. @_MOAMOAMOA

Se você é daquelas pessoas que gostam de transformar o café da manhã em um momento prazeroso e especial, precisa conhecer as peças da Lavanda. Formada em jornalismo, a gaúcha Laryssa Araujo, 30 anos, começou a fazer aulas de cerâmica como hobby em 2015. Fez peças para si, os amigos e conhecidos gostaram e começaram a encomendar, e foi quando ela viu que aquela atividade poderia virar um negócio. Respeitando cada movimento, a matéria-prima e seu próprio tempo, a ceramista cria peças utilitárias, feitas manualmente e supercharmosas. @LAVANDA.CO

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R A IO X

ELA VOLTOU De novo no Rio depois de uma temporada em Nova York com a família, Luiza Mariani abraça dois projetos no cinema, um deles é viver a cantora Marina Lima, sua musa, em uma ficção. Aqui, a atriz abre as portas de sua casa e conta o que tem feito sua cabeça POR LUCIANA FRANCA

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FOTOS ZÔ GUIMARÃES


ILUSTRAÇÕES FREEPIK

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deliciosa casa no Leblon voltou a ser o endereço de Luiza Mariani no ano passado. A atriz, o marido, o advogado Flavio Zveiter, e os filhos, Dora e Tom, estavam morando em Nova York desde agosto de 2018 quando vieram aproveitar uns dias de descanso no Brasil e foram surpreendidos pelo lockdown. “Viemos passar o feriado de Spring Break das crianças, dividimos uma única mala para nós quatro imaginando que voltaríamos sem grandes sustos para Nova York 15 dias depois”, conta Luiza. “Existe desejo de voltar a morar lá, mas ainda é cedo para fazer planos tão grandes. O lema agora é um dia mesmo de cada vez.” A rota, então, teve de ser recalculada, as crianças foram matriculadas em uma escola brasileira e a atriz abraçou novos projetos. Está produzindo dois longas, nos quais também vai atuar: Cyclone, inspirado em uma obra de Oswald de Andrade, que deve ser filmado assim que a vacina permitir, e Marina, uma ficção sobre a trajetória de Marina Lima. No longa, Luiza interpretará a cantora, que revela ser sua musa e com quem conversou por meses a distância. “Sempre fui fã da Marina e minha pandemia ao ‘lado’ dela foi, de alguma forma, um momento de salvação também.” n

Luiza veste camiseta Saint Laurent, brinco Betina De Luca e tênis All Star comprado em 1999, no East Village. Acima, coleção de bijoux e caixa com folhas da artista Paula Costa. Na pág. ao lado, vestido Helo Rocha e brinco Alix Duvernoy

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R A IO X O MELHOR DO RIO É… casa, família e amigos. O MELHOR DE NOVA YORK É… rua, esquinas, descobertas diárias, experiência viva de cidade. PARA PREENCHER A ALMA: filhos, um filme bom, um livro bom. NA MINHA GELADEIRA SEMPRE TEM... queijo de cabra. NO MEU ESTILO NÃO PODEM FALTAR... jeans e camiseta. HÁ UM ANO EU… tenho aprendido a lidar com o tempo de outra forma.

DAQUI UM ANO EU… quero poder celebrar o fim do vírus, abraçar e beijar meus pais sem medo. FILMES DA VIDA: Sunset Boulevard, Cenas de Um Casamento, A Noite, de Antonioni, La Femme Nikita, de Luc Besson, Breaking the Waves.... São tantos. MÚSICA QUE OUÇO EM REPEAT: “Truth Hurts”, da Lizzo, minha filha me apresentou há pouco tempo e a gente tem ouvido e dançado à beça. MAIOR CONSELHO QUE JÁ RECEBI: “Por delicadeza, perdi a minha vida”, frase de [Arthur] Rimbaud que escuto desde criança. OBJETO QUE NÃO ME DESFAÇO: Um All Star preto e branco que comprei aos 19 anos em Nova York e que virou objeto de colecionador.

À esq., com os filhos Marcelo e Lorenzo, Thai usa look Farm e sapatos Gucci. Acima, tênis Vans e sandálias Miu Miu para descer do salto

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Acima, detalhe do brinco de Alix Duvernoy e vestido Helo Rocha. À dir., jaqueta Miu Miu e obra de Lucia Laguna. Abaixo, coleção de biscoiteiras do século 20 que ganhou da mãe. Na pág ao lado, blusa e arco Ulla Johnson e calça Jesse Kamm

ILUSTRAÇÕES FREEPIK

DESTINO INESQUECÍVEL: Israel. O QUE ESTOU LENDO NO MOMENTO: Torto Arado [de Itamar Vieira Junior]. MINHA ROTINA DE BELEZA INCLUI: vitamina C, hidratante e filtro solar sempre. MEU APP FAVORITO É: Ixi, não tenho. Gosto de ler jornais, dar uma olhada no Instagram, mas não sou malandra de apps. PARA DESACELERAR, EU: converso, converso e converso.... Com verso (e poesia).

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COMPORTA MENTO

O NOVO GENTIL

Escuta atenta, interesse genuíno pelo bem-estar do outro e respeito a todas as formas de vida: a redescoberta da gentileza é extremamente necessária em um mundo cada vez mais polarizado e individualista por denise meira do amaral ilustrações nando santos

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m Homens Imprudentemente Poéticos, romance que se passa no Japão antigo, Valter Hugo Mãe não usa a palavra “não” nenhuma vez. A ideia era enaltecer o costume dos japoneses de responder a negativas de forma mais gentil com uma expressão que correspondente a “isso é difícil”. Foi essa mesma gentileza japonesa que chamou a atenção da Monja Coen nos anos 1980, quando morou no país para estudar o budismo. Recém-chegada, ficou impressionada ao receber a ajuda de um executivo desconhecido em um trem-bala, que saiu de sua rota em pleno expediente para levá-la a seu destino, em Tóquio. “Os japoneses têm um respeito muito grande pela coletividade. No Brasil, vivemos como se estivéssemos separados do resto”, compara a fundadora da Comunidade Zen Budista. Ela lembra que a gentileza, no entanto, pode ser uma saída para transformar a realidade: “Se um átomo modificado da bomba atômica pode destruir tudo, imagina se cada um de nós nos transformamos em um átomo de gentileza?”. A gentileza é mais do que um protocolo formal de polidez, é uma consideração genuína pelo outro que vai além da ética, porque cobra do gentil mais do que respeito ao mínimo para a convivência e vai além do direito, porque supera de longe as exigências legais do comportamento autorizado. É o que acredita o professor de ética Clóvis de Barros Filho, autor do livro Shinsetsu: O Poder da Gentileza. Na obra, ele relembra um episódio em que um japonês sentado na poltrona à sua frente no avião perguntou se ele se incomodaria se reclinasse a poltrona. E mesmo dizendo que tudo bem, ele reclinou só um pouquinho. Prova de que o dia a dia pode ser mais suave com pequenos gestos vindos de desconhecidos. “Após o surgimento do neoliberalismo, nossa qualidade de vida piorou muito. Tanto nas relações laborais, sociais, como no cuidado com o sono e alimentação. E as pessoas passam a ficar mais insatisfeitas, estressadas e angustiadas. A tendência é que isso gere falta de gentile-

“A gentileza é um exercício fundamental da civilidade e uma forma de dizer: ‘Vim em paz’. Um ‘bomdia’ é como um sinal de boa vontade, de baixar a guarda e diminuir a animosidade das relações humanas”, Vera Iaconelli, psicanalista za”, explica a psicanalista Vera Iaconelli. Para ela, precisamos rever nossos hábitos e permitir um aceno de paz. “A gentileza é um exercício fundamental da civilidade e uma forma de dizer: ‘Vim em paz’. Um ‘bom-dia’, ‘boa-tarde’, é como um sinal de boa vontade, de baixar a guarda e diminuir a animosidade das relações humanas. Se após bater o carro você descer e falar ‘ah, que pena’ em vez de sair gritando, o gatilho agressivo do outro é desmontado”, sinaliza. As relações íntimas, principalmente em tempos de pandemia, em que as pessoas estão mais fragilizadas, lembra Vera, demandam ainda mais gentileza. “Temos a tendência de naturalizar a violência verbal dentro de casa, mas preciMARÇO 2021 J.P 59


COMPORTA MENTO

“A gentileza é uma energia que precisa ser cultivada”, Sérgio Mamberti, ator samos dar um passo atrás e olhar para o outro com mais cuidado, além de olharmos com atenção para nós mesmos”, acredita. Quem endossa é Rosiska Darcy de Oliveira, escritora e autora do livro Liberdade: “Como estamos distantes de pessoas queridas, passamos a dar mais valor ao convívio, que tinha sido substituído pelo número de likes. A compaixão, a empatia e a gentileza nos mantêm vivos. E fazem uma falta terrível na vida cotidiana. A pandemia veio nos dizer que ou nós somos cidadãos ou morreremos todos juntos. Sem vínculos, não somos ninguém”. De sua aldeia no médio Rio Doce, em Minas Gerais, Ailton Krenak diz que se a gentileza fosse nossa orientação de vida, não teríamos nos separados dos outros seres vivos e do planeta a ponto de estarmos ameaçados por um vírus. “É uma resposta do ecossistema de que não fomos gentis com a vida na Terra”, sinaliza ele, uma de nossas maiores lideranças indígenas do país. Para o escritor e ambientalista, nossa vida tem sido reduzida a biografias de alguém que cresceu, fundou isso ou aquilo, uma grande coreografia ridícula e utilitária: “Por isso digo que vida não é útil. O que tem utilidade é um aspirador de pó. A vida é maravilhosa, é um dom, nos atravessa como um vento, um raio de sol”. Todas as 130 famílias que vivem em sua aldeia já foram vacinadas contra a Covid-19. Apesar de Krenak sentir um certo alívio no início, logo percebeu que os outros ao redor, assim como a grande maioria dos brasileiros, não estavam na mesma situação. Um bom exercício para sairmos de nós mesmos, segundo ele, é entender que o outro é um ser plural. “A gente só quer conversar com pessoas iguais a nós, mas se não sairmos desses espelhos, não 60 J.P MARÇO 2021

vamos a lugar algum. Espelho é repetição.” Um dos grandes difusores da comunicação não violenta, o pesquisador britânico radicado no Rio Dominic Barter trabalhou em conflitos armados na África e nos morros cariocas e diz que o grande erro é a nossa aversão a conflitos, já que é justamente através dele que deriva o diálogo e a superação dos problemas. “Conflito é um aspecto da convivência humana, se queremos viver em democracia, precisamos abraçar os conflitos.” Para Barter, enquanto não ouvirmos o choro do outro, estaremos nos afastando cada vez mais. “É preciso mudar a forma como eu me trato, como trato o outro e como a gente se relaciona no coletivo”, explica, sobre a base da comunicação não violenta. Isolado em sua casa, em São Paulo, há um ano, o ator Sérgio Mamberti, 81 anos, acredi-


“A pandemia veio nos dizer que ou nós somos cidadãos ou morreremos todos juntos. Sem vínculos, não somos ninguém”, Rosiska Darcy de Oliveira, escritora

ta que não há melhor momento do que agora para colocarmos a gentileza em dia. “As pessoas estão tendo que aprender a conviver. O que está acontecendo no mundo é muito triste. A pandemia é uma oportunidade para olharmos para o outro e praticarmos a empatia: acolher os problemas dos amigos, da família e mesmo de pessoas que você não conhece. Sempre podemos colaborar de alguma forma. A gentileza é uma energia que precisa ser cultivada”, afirma. E por que não cultivada com flores? Pensando em viver de uma forma mais gentil, o carioca Nathan Kunigami trocou seu cargo em uma grande empresa para se dedicar a elas. Pediu demissão e montou um ateliê com arranjos inspirados na tradicional arte japonesa da ikebana. “Não estava satisfeito com essa dinâmica do mundo corporativo de cada um por si.

“A gente só quer conversar com pessoas iguais a nós, mas, se não sairmos desses espelhos, não vamos a lugar algum. Espelho é repetição”, Ailton Krenak, líder indígena Após uma viagem ao Japão, entendi essa minha metade, que é muito presente”, diz ele, filho de mãe maranhense e pai de ascendência japonesa. Trabalhar com flores faz com que ele presencie a beleza e a efemeridade da vida e encontre beleza até mesmo no vazio – um dos pressupostos da ikebana. “As pessoas geralmente compram flores para presentear alguém que ama. Uma das partes mais lindas é escrever os recados. Às vezes, entrego até pessoalmente para conhecer quem está recebendo”, revela. Gentileza gera gentileza, sempre. n MARÇO 2021 J.P 61


O PESO DA AUSÊNCIA

Em seu livro de estreia, a escritora e psiquiatra Natalia Timerman relatou as experiências vividas com pacientes de um hospital penitenciário. Ano passado, foi indicada ao Prêmio Jabuti por sua publicação de contos, Rachaduras, e agora, lança seu primeiro romance ficcional, Copo Vazio, em que aborda a relação da mulher com o abandono quando o outro parte sem se despedir POR CAROL SGANZERLA

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m 2015, Natalia Timerman entrou para um curso de formação de escritores no Instituto Vera Cruz e deveria pensar em um projeto de livro como trabalho final. “Lembrei que tinha vivido uma situação de ghosting [prática de terminar um relacionamento sem aviso prévio, ignorando qualquer contato] e percebi um sofrimento desproporcional. Ao mesmo 62 J.P MARÇO 2021


LITERATURA

tempo, fui vendo que na clínica isso era algo recorrente”, conta a psiquiatra. Assim, Mirela e Pedro ganharam vida pelas mãos de Natalia, que levou quatro anos, duas recusas de editoras e algumas versões até Copo Vazio ganhar um ponto final e ser lançado pela Todavia no mês passado. O romance conta a história de uma arquiteta bem-sucedida que conhece Pedro por um aplicativo de encontros, eles começam um relacionamento e, certo dia, sem qualquer pista nem explicação o companheiro some, deixando a protagonista sem rumo e ávida por respostas. A partir daí, Mirela precisa lidar com seu sofrimento, sua solidão e sua vulnerabilidade. “Ainda hoje, muitas vezes é motivo de vergonha para mulheres independentes sofrerem por amor. É uma camada a

Prêmio Jabuti, em 2020, ao lado de nomes como Jarid Arraes e Veronica Stigger. “Levei um susto quando soube. São essas alegrias verdadeiras. É algo que fica”, resume. Sua primeira publicação, Desterros (ed. Elefante), de 2017, conta histórias de pacientes que ela atendeu durante oito anos no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário. “Lembro de um homem que tinha HIV, daqueles muito magros, e ele decidiu que não ia morrer. Eu pensava, ‘por quê?’. Apesar da dor, ele queria continuar. Talvez, a gente esteja precisando disso. Trabalhando lá, aprendi que os meus parâmetros não servem. Talvez essa pessoa tenha me ensinado uma força de vida que não conhecia, e que a gente necessita tanto hoje”, pontua. Atualmente, ela vem se dedicando a um novo romance, uma autoficção, que tem co-

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“Muitas vezes é motivo de vergonha para mulheres independentes sofrerem por amor. É uma camada a mais de sofrimento para elas se verem tão vulneráveis, como se não tivessem o direito de sentir aquilo que estão sentindo” mais de sofrimento para elas se verem tão vulneráveis, como se não tivessem o direito de sentir aquilo que estão sentindo”, observa a escritora paulistana. “O discurso do empoderamento feminino é lindo e importante, mas ele não significa uma mudança imediata e essa fragilidade acaba ficando sem lugar.” Natalia comemora o retorno que tem recebido de muita gente que se identifica com o comportamento e atitudes de Mirela. “O amor é um tema universal. Não é fácil escrever sobre amor porque há um risco muito grande de cair no clichê. É preciso coragem para falar de sentimentos. Tenho gostado o quanto o livro está reverberando porque é como se a gente não tivesse o direito de sofrer por amor por ser um problema menor e estamos sofrendo por tantas coisas neste momento. É como se isso não tivesse lugar. Mas sempre tem”, acredita. “Estou quase agradecendo aquela história por ter acontecido.” Por Rachaduras (ed. Quelônio), seu livro de contos, a escritora de 40 anos foi indicada ao

mo eixo a história de seu pai, o médico infectologista Artur Timerman, referência no combate de doenças infecciosas no Brasil, morto dois anos atrás em decorrência de um linfoma. “É sobre morte, sobre luto. Ainda falta escrever.” n

A escritora Natalia Timerman e a capa de seu romance ficcional de estreia, Copo Vazio, lançado pela Todavia

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ENTR E V ISTA

PARA AS MULHERES, PELAS MULHERES Um dos nomes mais atuantes da discussão sobre a legalização do aborto, a antropóloga, professora e pesquisadora Debora Diniz acredita que, mesmo desamparadas pelos contextos atuais, são as mulheres que irão transformar a realidade num mundo pós-pandemia POR AL ANA DELL A NINA

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ivemos um paradoxo. Se as mulheres se viram mais vulnerabilizadas durante a pandemia – seja pela falta de proteção social, pelo acúmulo de responsabilidades e, em última instância, pela violência doméstica –, são elas, segundo Debora Diniz, que vão conduzir a transformação para um mundo mais humano. Na linha de frente da luta feminista, a antropóloga e pesquisadora dedicou boa parte de sua carreira à defesa das mulheres. Formada em ciências sociais pela Universidade de Brasília, onde fez mestrado e doutorado, Debora saiu do país após sofrer ameaças de morte em 2018, quando liderou uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pela descriminalização do aborto até a 12ª semana de gravidez. Hoje morando em Rhode Island, nos Estados Unidos, onde trabalha como pesquisadora na Universidade Brown, a alagoana continua engajada em sua luta. A seguir, ela fala sobre a condição das mulheres brasileiras e dá sua opinião esperançosa – e não otimista, como ressalta – sobre o que será o mundo pós-pandemia. J.P: Sua carreira é bem ampla, mas seu trabalho tem um viés muito forte das pautas feministas. Quando foi que você começou a enveredar por esse caminho? DEBORA DINIZ: Neste momento, estou escrevendo um livro chamado 12 Verbos Feministas: a Esperança Feminista, com a teóloga católica Ivone Gebara. Então, vou responder a essa pergunta com o que escrevi no livro: eu queria ter um mito de origem que explicasse minha história com o feminismo, mas não tenho. Não fui criada em uma casa patriarcal tradicional nem em uma casa feminista. Eu ia para escola católica, não para escolas de consciência feminista. Na universidade, já éramos uma geração pós-redemocratização, então a gente tinha estudos dos problemas brasileiros, educação moral e cívica, mas não tinha teoria feminista. Na vida pessoal também nunca sofri violência. Então, fico pensando: que história original aconteceu? Acho que foi um caminho

natural. A Anis – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero – não foi fundada em 1999 como organização feminista, muito embora praticasse organicamente o feminismo. Quando começamos nosso trabalho lá, as mulheres estavam indo à corte pedir para interromper a gravidez em casos de anencefalia e elas se viam obrigadas a seguir com a gravidez, a viver essa tortura até o fim. E a Anis começou a compilar evidências, dados, ciência, a trabalhar nessa frente. Então, eu diria que foi uma interpelação do poder patriarcal, e talvez seja assim com todas as mulheres. J.P: Você sempre esteve envolvida com a pauta da legalização do aborto. Teve alguma vivência pessoal com o tema? DD: Nunca fiz um aborto nem nunca ajudei ninguém a fazer. As minhas agendas de luta política são por um comprometimento com as liberdades, com o que deveria ser uma democracia. O tema do aborto ganhou uma centralidade em toda a minha trajetória, tanto de pesquisa quanto de intervenção judicial, porque toca não só na reprodução biológica, mas na reprodução social da vida. Quando uma mulher decide como, com quem e de que forma ela vai ter filhos, falamos do futuro da reprodução social de onde vivemos. J.P: Você se viu pressionada a deixar o país por causa das ameaças de morte em 2018. Como foi essa decisão? DD: Quando saí do Brasil, a pergunta iminente não era apenas sobre a minha segurança, mas ha-

“Quando as mulheres se unem e se movimentam, causam tanto susto que despertam essas reações violentas. Mas a resposta ao autoritarismo bolsonarista vai vir das mulheres” MARÇO 2021 J.P 65


ENTR E V ISTA via uma ameaça de massacre à universidade, aos meus colegas. E quando uma ameaça é difusa, ela é persistente e ganha conotações de riscos iminentes à integridade. Estamos no país que mais mata defensores de direitos humanos da América Latina. Então, jamais diria que essa é uma situação fácil, só que a intenção da persistência de ataques como esse é a introjeção do medo. E o medo é paralisante. Então, sinto que agora estou num lugar onde posso existir, cada vez mais ativa. J.P: Como você acredita que a realidade que estamos vivendo hoje afeta as mulheres? DD: O governo violento foi uma camada anterior ao desamparo causado pela pandemia do coronavírus. O Brasil é o único país do mundo que, num intervalo de cinco anos, viveu duas emergências sanitárias: zika vírus e coronavírus. Quem esteve no centro das duas? As mulheres e as meninas. No caso do zika, parece autoevidente, né? Uma mulher em idade reprodutiva vive uma epidemia que impacta sua vida familiar. E então vamos para a Covid-19, que parece uma doença sem gênero. E descobrimos que o Brasil é o epicentro da morte materna por Covid-19 no mundo. Além disso, na quarentena, estamos com picos no índice de mulheres que sofreram violência doméstica. Podemos dar inúmeros exemplos de quando uma emergência sanitária não pensa que os corpos têm gênero, têm raça, têm rosto. São majoritariamente mulheres que estavam num emprego doméstico, num emprego de saúde e que estavam na linha de frente dessa pandemia em condições muito precárias.

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J.P: Na sua opinião, como estão essas mulheres um ano depois do início da pandemia no Brasil? DD: Curioso você me perguntar isso hoje [a entrevista aconteceu em 22 de fevereiro] porque a ministra Damares lançou o Plano Nacional de Enfrentamento ao Feminicídio. A mim parece uma incoerência, já que se há alguma preocupação no que diz respeito às mulheres no momento é a liberação de quatro armas por cidadão no Brasil. Um ministério de direitos humanos que se preocupa com a vida das mulheres deveria estar preocupado em desarmar a população. Há estudos suficientes que mostram que mulheres morrem mais nas suas relações afetivas dentro de casa e que a existência de uma arma torna a matança ainda mais terrível e mais rápida. Então, o que aconteceu com essas mulheres um ano depois da pandemia? Elas são cada vez mais impactadas na base com o desamparo para proteção social do governo Jair Bolsonaro. Eu não diria que isso é uma consequência do confinamento. O confinamento poderia ser uma política de proteção à saúde, se ele viesse associado a mecanismos de proteção social. Mas, como as respostas do governo foram o negacionismo da pandemia e um total isolamento das políticas de proteção social, hoje o desamparo das mulheres é ainda maior. J.P: E o que você entende como um futuro pós-pandemia para as mulheres? DD: Quando as mulheres se unem e se movimentam, causam tanto susto que despertam


essas reações violentas. Mas a resposta ao autoritarismo bolsonarista vai vir das mulheres. E nós vamos encontrar uma forma de fazer essa multidão. As argentinas nos mostraram que é possível botar 1 milhão de mulheres na rua, inclusive com temas sensíveis como o aborto. Nós não temos a mesma tradição de ocupar as ruas, que nunca foram espaços seguros para as mulheres brasileiras. Então, não podemos comparar movimentos políticos dessa maneira, mas, se a nossa aproximação do feminismo vem por uma ferida causada pelo patriarcado, uma violência, um aborto clandestino ou uma perseguição, nós produziremos a resposta.

ILUSTRAÇÕES GETTY IMAGES

J.P: Todos nós fomos atingidos pela pandemia, mas de formas diferentes. Como isso se dá entre mulheres de classes sociais distintas? DD: A pandemia aumentou a distância entre as nossas chances de sobrevivência. Não só pela doença, mas pelas condições sociais. As que mais morrem são as mulheres mais vulneráveis. Estamos numa concentração das perversões das desigualdades de gênero, de classe e de raça. Agora há o que atravessa todas nós: essa localização da reprodução social da vida das mulheres. Mulheres com seus filhos, nas funções domésticas, em teletrabalho ou trabalhando fora experimentaram essa anomia, essa ruptura do cuidado e das instituições sociais. Todas as mulheres viveram, nesta pandemia, a exacerbação do desamparo do cuidado. Mas, quanto mais vulnerável é essa mulher, menores suas chances de fuga. E a fuga é uma categoria central para a vida das mulheres. J.P: O que evoluiu nos últimos anos em relação ao comportamento das mulheres? Somos realmente mais livres, mais autônomas e mais unidas? DD: A geração atual é muito melhor do que a anterior. Vocês foram capazes de duvidar das histórias contadas por um só lado, de fazer perguntas que as gerações anteriores não fizeram. Criaram laços de reconhecimento mútuo e du-

“O Brasil é o único país que, num intervalo de cinco anos, viveu duas emergências sanitárias: zika vírus e coronavírus. Quem esteve no centro das duas? As mulheres e as meninas. A Covid-19 parece sem gênero, mas o Brasil é o epicentro da morte materna pela doença no mundo”

vidaram das histórias que dizem que as mulheres não acreditam umas nas outras. Vocês usam o feminismo com outra vitalidade, outro conteúdo. Mesmo com todas as formas de perseguição e de perversão aos corpos femininos, as mulheres hoje podem ter mais prazer e mais liberdade. Sem dúvida, aconteceram transformações importantíssimas. Não tenho nenhum saudosismo, não faço parte dos que acreditam que o passado foi uma coisa melhor, porque não foi. E, sempre, em resposta às tentativas de se estabelecer um poder hegemônico e autoritário, é dos cantos mais escondidos das mulheres que a criatividade surge. n MARÇO 2021 J.P 67


C U LT U R A

Em boa companhia

Sem previsão para acabar, a quarentena aumenta o tempo que passamos em casa e transforma radicalmente as maneiras de consumir cultura. Sem cinemas, teatros e casas de shows à disposição, o que resta é descobrir o som e as palavras que talvez passassem batidos na pressa que dominava a vida antiga e se divertir, como der, ao lado deles POR PEDRO A LE X A N DR E SA NCH E S

Poesia no feminino

Em 1976, a acadêmica, ensaísta e editora Heloísa Buarque de Hollanda compilou um livro batizado 26 Poetas Hoje, em que ajudou a revelar nomes como Waly Salomão e Ana Cristina Cesar. Depois de 45 anos, edita As 29 Poetas Hoje (Companhia das Letras), inteiramente dedicado a novas autoras mulheres, como Luz Ribeiro, Adelaide Ivánova, Jarid Arraes e Ana Frango Elétrico.

Luedji Luna

Segundo álbum da baiana Luedji Luna, Bom Mesmo É Estar Debaixo d’Água mostra a cantora e compositora amadurecida e em estado de graça, em canções lancinantes, linha direta com a África e participação especial da escritora mineira Conceição Evaristo.

Tiganá Santana

O compositor, cantor, instrumentista, poeta, produtor musical, diretor artístico, pesquisador, professor e tradutor baiano Tiganá Santana, 38 anos, tem canções gravadas por vários intérpretes brasileiros e soma cinco álbuns musicais lançados desde 2010. O mais novo chama-se Milagres e é todo centrado em reinterpretar temas do clássico disco Milagre dos Peixes (1973), de Milton Nascimento. Tiganá confirma a maestria como cantor, transformando em graves os incomparáveis agudos de Milton.

68 J.P MARÇO 2021


Letrux

FOTOS CHICO CERCHIARO/DIVULGAÇÃO CIA DAS LETRAS; HELEN SALOMÃO/DIVULGAÇÃO; JOSÉ DE HOLANDA/ DIVULGAÇÃO; RAFAEL KENT/DIVULGAÇÃO; JORGE BISPO/DIVULGAÇÃO; ANA ALEXANDRINO/DIVULGAÇÃO; MARIANA ZAMBEZI/DIVULGAÇÃO; LEONARDO CADAMO/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

Afrocidade

Da Bahia chega o grupo Afrocidade, com um primeiro trabalho de estúdio, um EP denominado Na Pista. Composto de rap, axé, funk, samba-reggae etc., o som da banda põe em foco a densa mistura afrofuturista que tem emanado da terra do axé, ao lado de gente como Larissa Luz, Luedji Luna e BaianaSystem.

Com três discos solos lançados (o mais recente é o rasgado Aos Prantos, de 2020), a carioca Letrux é já bem conhecida nos meios musicais. Mas o lado escritora aflora em Tudo Que Já Nadei (Planeta), que volta ao começo como autora de poemas – que mais tarde começou a musicar – e acrescenta a eles minicontos, crônicas e aforismos.

Fran e Chico Chico

Filho de Cássia Eller, Chico Chico se une a Fran, filho de Preta Gil – e neto de Gilberto Gil –, no delicadíssimo disco Onde?, composto de releituras sensíveis de poetas “malditos” como Luiz Melodia, Sérgio Sampaio, Edson Gomes e Itamar Assumpção. A única faixa original, composta em dupla, se chama “Ninguém”.

Itamar Vieira Junior

Vencedor do Prêmio Jabuti de melhor romance literário em 2020, Torto Arado (Todavia) introduz em maior escala o autor baiano Itamar Vieira Junior. A história gira em torno de duas irmãs na Chapada Diamantina e areja a literatura brasileira abordando temas engajados como servidão, patriarcalismo e luta agrária.

Luana Carvalho

No ano passado, a cantora e compositora carioca Luana Carvalho lançou um miniálbum em homenagem à mãe, Beth Carvalho, com regravações entristecidas de seis canções interpretadas pela sambista. Agora, muda totalmente de direção em Segue o Baile, dedicado a abordar de modo pessoal, inteligente e respeitoso o universo do funk carioca.

Domenico Starnone

O livro Segredos (Todavia), do italiano Domenico Starnone, passa-se na Itália dos anos 1970, focado no relacionamento tempestuoso de um professor de escola periférica em Roma e uma ex-aluna brilhante. Os segredos talvez espelhem a vida de Starnone, apontado ora como marido, ora como talvez o criador do heterônimo de Elena Ferrante, misterioso fenômeno literário e autora de uma épica tetralogia napolitana. MARÇO 2021 J.P 69


J.P V I A JA

Destinos com o conceito slow travel para embarcar já e outros para incluir em sua lista de desejos POR ADRIANA NAZARIAN

PECADO CAPITAL

Páscoa à vista e o PONTA DOS GANCHOS, em Santa Catarina, tem uma novidade que promete agradar os doceiros de plantão. Os hóspedes ganharão uma degustação de chocolates na privacidade do seu bangalô – são 25 unidades que mais parecem casas, totalmente isoladas uma das outras. No cardápio, trufas, tarteletes e miniovos em versões recheadas de gianduia, doce de leite e cumaru.

+PONTADOSGANCHOS.COM.BR

70 J.P MARÇO 2021


BRISA Fica em

ICARAIZINHO DE AMONTADA , um vilarejo de pescadores entre as dunas e coqueirais do Ceará, o novo hotel-sensação deste verão. Pé na areia em uma praia que promete fazer a alegria dos velejadores, o MAKENA tem como proposta oferecer o melhor do slow travel em um cenário paradisíaco. Para tal, reúne apenas 13 suítes, um rooftop delicioso, restaurante à base dos ingredientes da estação e experiências como ioga com vista para o mar. @MAKENAHOTEL

DOIS EM UM

Aberto para os viajantes brasileiros, a dica da vez no MÉXICO é um restaurante japonês com ares de refúgio secreto em Puerto Escondido. Parte do charmoso hotel Escondido, o KAKUREGA OMAKASE ficca em um canto bucólico entre o mar e as fi montanhas de Sierra Madre del Sur. Além do visual cênico, espere por um mix har mônico de referências japonesas e mexi canas – na arquitetura e na gastronomia. @KAKUREGA_OMAKASE

fotos reprodução instagram pessoal; divulgação

MAPA DA MINA

Os hotelmaníacos andam sonhando com uma temporada em NOVA YORK e não é só pela saudade trazida pela pandemia. Isso porque o destino tem algumas aberturas promissoras programadas para 2021. Muito já se falou do AMAN, que ficará pertinho do Central Park, fato inédito para o grupo hoteleiro, conhecido por buscar pontos afastados das cidades. Depois, vem o RITZ-CARLTON com sua torre de 38 andares, incluindo hotel e residências, na região de NoMad. Mas é em 2022 que a história esquenta, com a chegada da rede SIX SENSES nas torres conhecidas como The XI, projeto de Bjarke Ingels com vista para o rio Hudson, ali no Chelsea. Espere por quartos com janelões de vidro, além de restaurante e spa com a pegada wellness que consagrou a marca.

MARÇO 2021 J.P 71


J.P V I A JA

LONGE DE CASA

O ANAVILHANAS, por si só, já é um convite irresistível para uma imersão na natureza, então imagine subir mais 50 quilômetros pelo rio Negro, acima de onde está localizado o lodge na AMAZÔNIA. É ali, em um canto totalmente remoto da floresta, que seus fundadores armaram o que chamam de base avançada. A ideia é oferecer um momento de desconexão absoluta para os hóspedes que passam seis dias no destino. Depois de navegarem por cerca de 1h20, os turistas aproveitam a estrutura que inclui prainha particular, vestiários, piscina e restaurante à base de delícias locais feitas no carvão ou à lenha. Sem sinal de internet e energia elétrica, mas a certeza de que o melhor lugar do mundo é aqui e agora. +ANAVILHANASLODGE.COM

FAZENDINHA Se você não vê a hora de mergulhar por completo no verão

europeu, vale anotar a dica. O DALABELOS é uma fazenda orgânica – em plena atividade – com vista para o MAR DE CRETA . Com apenas dez cottages e duas vilas, o local oferece experiências que honram a fama gastronômica da ilha de Creta: aulas de culinária à base de ingredientes locais, colheita de azeitonas e uvas estão entre elas.

fotos divulgação

FOTOS DIVULGAÇÃO

+DALABELOS.GR

72 J.P MARÇO 2021


ENTRE LENÇÓIS POR ROBERTA SENDACZ

FOTO FERNANDO TORRES; ARTE ISABELLE TUCHBAND

O erotismo de Iansã, Iemanjá e Oxum A mitologia foge à regra quando se propõe a ultrapassar o real e viver de contos. Estes impulsionam como um pula-pula, trazendo o convidado para perto da nova situação: o conteúdo, fruto de uma circularidade ímpar, que não tem hora para começar e nem para terminar. O mito está sempre a serviço do leitor. Assim, oferecemos três pequenos contos – eróticos – com personagens do candomblé. Histórias curtas envolvendo as deusas mulheres Iansã, Iemanjá e Oxum. A faceta sexual não é a mais conhecida delas. Porém, é bastante divertida e profunda. Tem um lado incestuoso, um de traição, um de esterilidade, entre outros, podendo ser considerados como eróticos. Ninguém, no entanto, conhece muito a Iemanjá adúltera. É mais a rainha do mar mesmo, ligada à Virgem Maria. Diferentemente da percepção do etnólogo Pierre Verger, o grande conhecedor do candomblé e seus orixás. Seguimos as histórias de mulheres como personagens, todas tratadas em Mitologia dos Orixás, livro de Reginaldo Prandi. “Iansã usava seus encantos e sedução para adquirir poder. Por isso entregou-se a vários homens, deles recebendo sempre algum presente. Com Ogum, casou-se e teve nove filhos, adquirindo o direito de usar a espada em sua defesa e dos demais [...]. Com Oxóssi, adquiriu o saber da caça, para suprir-se de carne e a seus filhos [...]. Ao final de suas conquistas e aquisições, Iansã partiu para o reino de Xangô envolvendo-o, apaixonando-se e vivendo com ele para a vida toda.” Há também uma Iemanjá castigada pelo adultério: “Iemanjá era casada com Ogum, a quem sempre acompanhava em tudo até na guerra [...]. Um dia Iemanjá saiu de casa para ir ao encontro de Aiê, o senhor da Terra [...]. Ogum era o senhor dos cachorros. O cão lançou-se sobre Iemanjá e a mordeu com violência”. Por fim a história de Oxum, a rainha dos

rios. Quando o mundo foi criado, “todos os orixás vieram para a Terra e começaram a tomar decisões e dividir encargos entre eles, em conciliábulos nos quais somente os homens podiam participar. Oxum não se conformava com essa situação. Ressentida pela exclusão, ela vingou-se dos orixás masculinos. Condenou todas as mulheres à esterilidade, de sorte que qualquer iniciativa masculina no sentido da fertilidade era fadada ao fracasso [...]. Os orixás seguiram os sábios conselhos de Olodumare [convidá-las para reuniões] e, assim, suas iniciativas voltaram a ter sucesso. As mulheres tornaram a gerar filhos e a vida na Terra prosperou”. n

ROBERTA SENDACZ É JORNALISTA, MAS SE ENCONTROU NA FILOSOFIA. GOSTA DE EXPERIMENTAR TUDO O QUE FICA VELADO

MARÇO 2021 J.P 73


HORÓSCOPO POR GIOVANNA LOSS ILUSTRAÇÕES PAULO VON POSER

Energia do mês

Março pode colocar em pauta as escolhas que fazemos. É comum que na pressa para conseguir algo que desejamos – seja um relacionamento ou um emprego melhor – temos a tendência de não pensar muito em nossas escolhas e sobre o que estamos fazendo. Assim, acabamos em situações difíceis e que não nos fazem bem. Este mês pede para que encontremos um equilíbrio entre esperar demais por ter medo de fazer a escolha errada e aceitar algo sem pensar direito. A análise é tão necessária quanto o primeiro passo em uma decisão. Na dúvida, o tarô aconselha: ref letir e aprender com os erros passados são a resposta para a objetividade.

ÁRIES (21/3 a 20/4) O foco dos arianos estará em dinheiro. Em março, você está pensando em como melhorar sua vida financeira e com vontade de brigar por ela – o que pode deixálo um pouco ríspido com outras pessoas. Muito cuidado com o pavio curto, que pode gerar discussões com alguém que está pronto para iniciar uma jornada ao seu lado. É importante ouvir sua intuição, que o levará à finalização necessária de ciclos em sua vida. TOURO (21/4 a 20/5) Você está atento ao bem-estar e à saúde mental este mês, taurino. Por mais que a busca pelo crescimento seja importante, o que você não percebe é que já tem a maturidade que precisa para alcançar seus objetivos. O medo de ainda não estar pronto para dar o passo que você queira pode impedi-lo de aceitar boas oportunidades. Não há mais a necessidade de esperar. Seja corajoso para se jogar.

GÊMEOS (21/5 a 20/6) Você pode estar sobrecarregado,

74 J.P MARÇO 2021

tentando alcançar a estabilidade que deseja. É preciso confiar no caminho e ser otimista sobre o que quer. Algo ou alguém do passado pode ressurgir neste período e você pode se sentir nostálgico, pensando em oportunidades perdidas. Seja o que for, você está aprendendo a lidar com o que merece receber versus o quanto consegue se doar. Pode ser uma época difícil. Evoluir nem sempre é fácil, mas está no caminho certo para alcançar a saúde mental e sua independência.

LEÃO (23/7 a 22/8) Mês muito positivo! Em março, os leoninos estarão com a sensualidade e autoestima em alta. Por esse motivo, você se sentirá animado, e oportunidades surgirão no amor trazendo uma sensação gostosa de vitória e de bemestar. É possível que não seja nada sério, mas se você passa por um período monótono e sem grandes novidades, este mês será bem mais movimentado. Há chance também de algum ex ressurgindo por aí.

CÂNCER (21/6 a 22/7)

VIRGEM (23/8 a 22/9) Há algum tempo você espera receber o que merece – seja reciprocidade amorosa ou um emprego que te valorize e te recompense da forma que você espera, mas como não vê isso acontecendo por enquanto, decepção e tristeza se instalam. Cuidado, porque você pode se autossabotar e se fechar para o amor ou oportunidades que trazem felicidade emocional. Se já estiver com alguém, tenha calma, converse e evite drama, pois ainda há chance de melhora.

Algo ou alguém aparecendo em sua vida este mês pode te deixar muito feliz, mas você simplesmente não sabe como agir e lidar com essa situação ou pessoa. Reservar um tempo para pensar qual é o melhor caminho para seguir é ok até a hora em que todos os caminhos se fecham, pois a oportunidade não pode esperar. Há a possibilidade de algo bem legal surgir, mas a demora pode te prejudicar e o resultado disso é o famoso choro pelo leite derramado.


LIBRA (23/9 a 21/10) Depois de passar por algumas dores de cabeça, está sentindo necessidade de se entregar apenas a situações que sinta reciprocidade, pois o que te machucou no passado ainda o fere de certa forma. Por conta disso, em março, estará bem recluso e focado em si próprio, sem pensar muito em mudanças ou novos relacionamentos. A probabilidade é que você realmente só saia da zona de conforto se sentir segurança. Caso contrário, se manterá em seu casulo. ESCORPIÃO (22/10 a 21/11) Este mês pode parecer bem parado, mas isso não significa que energeticamente também será. Algumas coisas precisam mudar em sua vida para que reencontre sua essência. Assim, situações e relações devem ser finalizadas. Pode ser cansativo, mas é para que seu caminho se alinhe, deixando que sua vida progrida. SAGITÁRIO (22/11 a 21/12) Há algo que você espera que se realize e sabe que realmente dará certo, mas não agora. É possível que a ansiedade bata e você já não consiga mais aguardar, pois a espera machuca e te enche de paranoias. Emocionalmente falando, ainda há sentimentos de sua parte, mas você está optando por seguir em frente. No fundo, mesmo que esteja deixando essa situação de lado, ela ainda continua caminhando lentamente e, no final, dará certo e trará felicidade. Tenha calma. CAPRICÓRNIO (22/12 a 20/1) Rupturas e mudanças precisaram ocorrer para que novas fases fossem iniciadas. Agora, você está começando a entender que a felicidade que costumava dar a outras pessoas muitas vezes não era recíproca e está aprendendo a

que você quer procurar novas oportunidades para conquistar a independência que deseja, não sabe lidar com a espera para que algo apareça. Há um sentimento de que se você não agir agora pode estar se sabotando, mas também não se sente seguro para tomar qualquer ação.

PEIXES (20/2 a 20/3)

se colocar em primeiro lugar. Esse processo gera reflexão e sua vida pode parecer parada, mas é disso que você precisa neste momento. Após este período, você atrairá relações mais saudáveis.

AQUÁRIO (21/1 a 19/2) Aquariano e espera não combinam este mês. Existe certa ansiedade gerada ao pensar na própria estabilidade que quer alcançar. Ao mesmo tempo em

Alguns traumas de situações passadas ainda estão enraizados em você e precisam ser quebrados. O medo que isso causa o mantém recluso e sem tomar atitudes como forma de autossabotagem. Você cuidou de si e de sua independência, mas agora que se sente bem é difícil sair da sua zona de conforto com receio de perder a paz que conquistou. O aprendizado sobre seus limites e sobre o que merece ou não, você já tem. Permita-se seguir em frente. Oportunidades ainda melhores estão por vir.

LEIA AS PREVISÕES SEMANAIS EM GL AMURAMA.COM

MARÇO 2021 J.P 75


POR AÍ POR KIKI GARAVAGLIA

VILA RICA E TIRADENTES Uma viagem a Ouro Preto resgata uma condenação inesquecível Já que não posso viajar fora do Brasil, resolvi ir a Ouro Preto (MG) ficar uns dias nesta linda cidade barroca que eu adoro – repleta de memórias dos primórdios do Brasil que me fascinam! O melhor lugar para relembrar esse passado, quando a cidade se chamava Vila Rica, é o Museu da Inconfidência, onde ficava a antiga Casa de Câmara e Cadeia até 1936. Getúlio Vargas resolveu se popularizar com o povo brasileiro trazendo as ossadas dos inconfidentes que estavam sepultados na África para Ouro Preto. Chegaram em 21 de abril de 1942, quase 150 anos após a condenação e, então, foi inaugurado o Panteão dos Heróis da Independência, antigo nome do museu. De arquitetura da época, todo renovado, se tornou um deslumbrante museu. Possui não só a saga dos inconfidentes, de Tiradentes, mas vá-

rias exposições, começando com a época quando apenas tinha tribos indígenas, o período da mineração, o primeiro núcleo urbano, a Vila Rica e outros temas. Na cidade, várias pessoas trabalhavam, e muito, nas minas. Estes, sempre fiscalizados e pagando o famoso “quinto” para a coroa portuguesa. Surgiu a ideia de separar o Brasil de Portugal. Começou o movimento dos separatistas liderados, entre outros, por Joaquim José da Silva Xavier, o famoso Tiradentes. No museu, pode-se ver toda a vida e a trajetória dele, do seu movimento, com lindas obras do grande escultor Aleijadinho, documentos, mobiliário etc. O que me deixou chocada, ao me deparar, foi a barbárie da sentença de morte de Tiradentes. Este texto é uma viagem ao nosso passado lembrando a condenação do “patrono da nação brasileira”. n

Rio de Janeiro, 21 de abril de 1792

Justiça que a Rainha Nossa Senhora manda fazer a este infame réu Joaquim José da Silva Xavier pelo horroroso crime de rebelião e alta traição de que se constituiu chefe e cabeça na capitania de Minas Gerais, com a mais escandalosa temeridade contra a real soberania, e suprema autoridade da mesma Senhora que Deus guarde. Manda que, com baraço [corda para estrangular] e pregão [proclamação pública] seja levado pelas ruas públicas desta cidade ao lugar da forca, e nela morra morte natural para sempre e que separada a cabeça do corpo seja levada a Vila Rica, onde será conservada em poste alto junto ao lugar da sua habitação, até que o tempo a consuma; que seu corpo seja dividido em quartos, e pregados em iguais postes pela estrada de Minas, nos lugares mais públicos, principalmente em Varginha e Cebolas; e que a casa da sua habitação seja arrasada e salgada, e no meio de suas ruínas levantando um padrão em que se conserve para a posteridade a memória de tão abominável réu e delito, e que ficando infame para seus filhos e netos, lhe sejam confiscados seus bens para Coroa e Câmara Real. VIAJANTE INSACIÁVEL, KIKI GARAVAGLIA JÁ CORREU O MUNDO, MAS AINDA TEM MUITO LUGAR PARA CONHECER. SÓ TEM MEDO DE MORRER SEM ANTES IR A DUBAI

76 J.P MARÇO 2021

FOTO ARQUIVO PESSOAL

Mandado para a execução de pena de morte contra Joaquim José da Silva Xavier


CABALA POR SHMUEL LEMLE shmuel@casadakabbalah.com.br

TRISTEZA: POÇO SEM FUNDO O que fazer na hora em que as coisas não estão dando certo, não estão acontecendo conforme queríamos? Cair na tristeza é fácil e pode ser um poço sem fundo. Em plena dificuldade você tem que manter a cabeça fora da água, no caso, ser feliz. As pessoas pensam que estão tristes porque têm problemas, e que assim que os resolverem ficarão felizes. A verdade é o oposto. O problema vem por você estar triste. Tristeza atrai tristeza. Fique feliz primeiro, consequentemente os problemas desaparecerão. Ou talvez você perceba que estava fazendo tempestade num copo de água e estava se vitimizando. Ficar feliz como? Por trás da tristeza sempre estamos nos colocando num papel de vítima: “Eu merecia ser mais bem tratado do que estou sendo” ou “eu não merecia isso”. Em vez disso, entre em ação, faça mais, realize mais, dê o melhor de si, valorize tudo que tem aqui e agora. Pessoas felizes são as que realizam e fazem sua parte na grande tapeçaria da vida. Não tenha tantas expectativas do seu entorno. Estar vivo é a maior dádiva. Aproveite para dominar seu ego e evoluir.

FORA TRISTEZA

Mem

Kuf

Hei

visualizar da direita para a esquerda

MARÇO 2021 J.P 77


J.P NAS REDES CARTAS@GLAMURAMA.COM

SE JOGA @juanziitoo_ Na moral uma pessoa que merece o mundo. Jojo é maravilhosa

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MARCAS DO MÊS Andrea Marques + ANDREAMARQUES.COM Bottega Veneta + BOTTEGAVENETA.COM Brasil Tronic + BRASILTRONIC.COM.BR Casa de Antônia + @CASA.DEANTONIA

@labelleth Essa mulher não tem nenhum defeito. Maravilhosa

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@carolgomesamaral @thaidemelobufrem matéria incrível! parabéns! amo as suas respostas que refletem a tua mente lúcida...

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78 J.P MARÇO 2021

ISSN 1980-3206 00169

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@revistajp

771980

320006

@revistajp

FOTOS PEDRO DIMITROW; ISABELLA GLOCK

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RAIO X @luznina quem não ama @ thaidemelobufrem não tem coração colorido batendo no peito!


AGRADECIMENTOS RICARDO TAVARES O beauty artist ressaltou a beleza de Regina Casé para nossa capa

FOTOS ARQUIVO PESSOAL; BENTO GUIMARÃES/ARQUIVO PESSOAL

FELIPE VELOSO Amigo de longa data de Regina Casé, o stylist foi recebido em clima de intimidade

DENISE MEIRA DO AMARAL Com escuta atenta, a jornalista assina reportagem sobre gentileza e entrevista a ilustradora Estela May

ALANA DELLA NINA A repórter conversou com a antropóloga Debora Diniz sobre temas como aborto

ZÔ GUIMARÃES Ela fotografou a atriz Luiza Mariani em sua casa no Leblon, no Rio

NANDO SANTOS O artista deu graça à matéria de comportamento com suas belas ilustrações

JOÃO PEDRO JANUÁRIO Casado com Benedita, o fotógrafo registrou a sogra Regina Casé

MARÇO 2021 J.P 79


Ú LT I M A PÁ G I N A

ESTELA MAY Estela May começou rabiscando seus cadernos durante as aulas mais tediosas

no colégio e hoje, aos 20 anos, é dona da tirinha mais existencialista da Folha de S.Paulo – publicando ao lado de nomes como Laerte e Caco Galhardo. Em sua maioria em preto e branco, Péssimas Influências traz uma mistura fina entre melancolia e humor ácido, herdada de seus pais, os roteiristas Alexandre Machado e Fernanda Young, morta em agosto de 2019. Enfrentando o luto e a solidão da quarentena, Estela May fala sobre a dificuldade em lidar com a ausência da mãe e crises existenciais: “Me sinto flutuando numa nuvem, às vezes nada faz sentido”. por denise meira do amaral J.P: QUANDO COMEÇOU A DESENHAR? EM: Estudei numa escola muito

legal que tinha aulas de cinema e artes. Desenhava na aula de artes e ficava rabiscando no meu caderno durante as matérias mais chatas. Quando entrei no Instagram, com uns 15 anos, passei a postar meus desenhos e isso acabou impulsionando meu trabalho.

dormia com um guarda-chuva aberto em cima da minha cabeça. Em outra fase, só dormia com a luz acesa, em outra, só comia se tivesse um ketchup na minha mão.

deitada com minha mãe na cama e começar a chorar, sem dizer para ela o motivo, mas por pensar que um dia ela iria morrer. Hoje, não vejo a morte como uma coisa oposta à vida. Acho que faz parte, e é bonita.

Joyce

boa de falar. Eu prefiro desenhar e escrever. Na quarentena, comecei a escrever uns diários e tem sido muito legal. Já escrevi uns sete. São frases soltas, desenhos, imagens... Acho que se um psicanalista visse iria entender muita coisa. J.P: TEM CRISES EXISTENCIAIS? EM: Sempre. Fico pensando no

J.P: JÁ FEZ ANÁLISE OU TERAPIA? EM: Tinha começado antes da

pandemia, mas não queria entrar nessa onda do virtual e parei. J.P: COMO É SUA IRMÃ GÊMEA? EM: Cecília é bem diferente. Ela é

mais lógica, então, quando a gente se junta, as coisas ficam interessantes. J.P: MAIOR ESQUISITICE QUE JÁ FEZ? EM: : Fui uma criança esquisita.

80 J.P MARÇO 2021

J.P: E O QUE CARREGA DA SUA MÃE? EM: Ela foi feita para mim porque

tudo dela, inclusive as roupas, os livros, me servem. Até mesmo os sapatos, e eu calço 34, tendo 1,70 m! Tenho dela essa forma de me expressar pela arte e de ser sensível. Ela pegava todas as dores dos outros. Mas tinha um lado agressivo, de falar o que queria, que eu não tenho, mas almejo.

adora

presente e está tudo uma loucura. Me sinto flutuando numa nuvem, às vezes nada faz sentido. Na pandemia, recebi muitas mensagens de amigos perguntando se eu estava bem depois de ler minhas tirinhas [risos]. Como elas são diárias, é como se fosse um diário. Elas dizem muito sobre mim.

Teve uma época em que eu só

foi muito sociável, frequentava festas, meu pai, não.

J.P: VOCÊ ESCREVE SOBRE O LUTO. COMO ESTÁ PASSANDO POR ELE? EM: Dói pra caramba. Parece ser

uma ferida que nunca vai fechar. No início, ficava desesperada em pensar que cada dia ficava mais distante do tempo que estive ao lado dela. Passei por uma grande crise existencial de questionar quem sou eu sem minha mãe. E ainda estou passando. Migrei para o quarto em que ela dormia e fiz uma salinha, onde trabalho. Dá uma saudade doida, mas sinto sua presença na casa toda hora. J.P: O QUE A MORTE REPRESENTA? EM: Lembro de, ainda pequena, estar

J.P: A ADOLESCÊNCIA FOI DIFÍCIL? EM: Pra caramba. Ainda me sinto

passando por isso. Primeiro meu pai ficou doente, depois minha mãe morreu. Acho que perdi uma fase que seria de diversão. Nunca namorei, sou muito quietinha. Quando estava começando a gostar de sair e encontrar pessoas, começou a pandemia e eu voltei para o meu quartinho. J.P: GOSTA DE POLÍTICA? EM: Leio o que tem no jornal, mas

fico meio enjoada com tudo. As notícias me puxam para essa realidade e, às vezes, quero só ficar flutuando. J.P: O QUE TEM FEITO NA PANDEMIA? EM: Pirei um pouco. Não quero en-

contrar pessoas mais ou menos, quero ser superfeliz ou supertriste, então me entreguei à melancolia. Quase não saí de casa, só passei uns dias na nossa casa em Gonçalves. Estou terminando de ler A Montanha Mágica e fiz umas 100 playlists no Spotify. Gosto muito de música e, no momento, tem sido o que mais gosto de fazer. Toco baixo e meu sonho sempre foi criar uma banda só de meninas. Também tenho vontade de fazer cursos de cinema. Já escrevi algumas coisas com a minha irmã e gostei.

FOTOS ARQUIVO PESSOAL

J.P: VOCÊ É TÍMIDA? EM: Muito. Minha mãe que era

J.P: O QUE TEM DO SEU PAI? EM: A reclusão. Minha mãe sempre


Política, economia e negócios. A principal fonte de informação de grandes líderes e formadores de opinião em um novo site

revistapoder.uol.com.br /revista-poder-joyce-pascowitch

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@revista_poder

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