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ENTRE LENÇÓIS
POR ROBERTA SENDACZ
Toda forma de amor
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Dar moldura ao tema amor não é fácil. Quase a totalidade de músicas, livros de literatura, filosofia e religião cuidam do assunto para a humanidade desde sempre. Adjetivando o título de seu livro com a palavra “corajoso”, o filósofo e professor Luiz Felipe Pondé lançou Amor para Corajosos, no qual destrincha em 36 textos curtos e temáticos o que é o amor romântico na contemporaneidade, derivado de uma herança medieval característica. “O amor nietzschiano tem a força de vulcão; o kantiano, a segurança de férias num resort”, desafia o filósofo brincando com autores importantíssimos dos séculos 19 e 18, respectivamente, que tinham como referência o Romantismo. Era ir contra ou a favor ao longo da história. “Um nietzschiano seria fiel aos impulsos do desejo e à autenticidade deste.” Lembrando que Nietzsche escreveu sobre o apolíneo e o dionisíaco, dois deuses gregos ligados à ordem e ao desregramento.
E Pondé segue virando a chave do amor ao erotismo: “Pode existir safe sex, mas não existe safe love”. Outra pérola: “A cura do amor pode matar sua beleza”. Valendo-se de exemplos dentro da literatura medieval e romântica, cada uma na sua época, estabelece a potencialidade de se colocar amor e morte na mesma dimensão. “A morte do amor deixa você mais cético. E todo cético é um triste, mesmo que inteligente nessa tristeza, resta-lhe o gozo do hábito. E o hábito é um dos amigos mais fiéis na vida.” O ceticismo é uma corrente filosófica grega, mas o livro não se exercita no domínio do fracasso do amor. Ele é alto-astral e positivo. Incentiva-se a apoderar-se do amor. Iremos passear no pequeno texto de Pondé sobre o amor e a universalidade. Enquanto o universalismo domina o pensamento, não se deve aceitar o universal do cristianismo, pois, segundo o filósofo Edmund Burke, diz Pondé, quem ama a humanidade, detesta seu semelhante. O autor tem razão, já que a falácia do amor universal serviu para todo tipo de violência política desde o fim do século 18.
A inveja de um amor correspondido não é de hoje, mas da era medieval. O amor desperta esse sentimento também lendário. O amor, oras, “sempre foi objeto de reflexão pela fortuna crítica que trata da teoria medieval do amor”. A inveja, assim, “gera produtos”. E há além: as pessoas que são narcisistas ou autocentradas amam com menos capacidade, pois têm dificuldade de investir no mundo. Para quem tem vontade de entrar nesse tema há o livro O Amor e o Ocidente, de Denis De Rougemont, e o texto sobre Tristão e Isolda, de José Miguel Wisnik, todos inseridos na era medieval. Tudo tem a ver com certo desencontro amoroso.
Indo em direção ao casamento, este aprisiona e torna o desejo uma obrigação. Antigamente, não se casava por amor. Ler todo estudo que já se fez sobre reis e rainhas e o casamento é um exemplo do papel versus o amor. Enfim, as múltiplas ações do amor na voz de Pondé. A leitura é puxada: trata-se de filosofia. Fica como testemunho de seu amor (corajoso) que une e desune os casais. Chega a dizer que os heterossexuais amam mais que os outros. Agora é com você: leia. Poderá discordar do autor, porém tudo é muito fundamentado. Eis um estudo importante e sem ambição. n
ROBERTA SENDACZ É JORNALISTA, MAS SE ENCONTROU NA FILOSOFIA. GOSTA DE EXPERIMENTAR TUDO O QUE FICA VELADO
FOTO FERNANDO TORRES; ARTE ISABELLE TUCHBAND