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A HORA E A VEZ DO MAXIMALISMO

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HORÓSCOPO

HORÓSCOPO

Chega de minimalismo! Depois da febre da técnica de Marie Kondo, personalidades defendem mais cor, estampas e referências na decoração

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POR ISABELLA D’ERCOLE

Paredes estampadas, quadros coloridos, livros, plantas, memórias de viagens, recortes de lugares por onde passou, peças de artesanato: a casa e o escritório da estilista Isabela Capeto são como grandes álbuns de momentos vividos e do que chamou a atenção de seu gosto refinado. “Para mim, é importante ter por perto as minhas referências, especialmente para o meu trabalho. O ateliê é lotado de pedaços de tecido e prendo fotos na parede com fita adesiva”, conta a carioca. Isabela admite que, na pandemia, até tentou entrar na onda do minimalismo e aprender o método Marie Kondo, mas não se identificou. “Tem a ver com meu temperamento, sou intensa. Usei os conselhos dela para arrumar armários, gavetas, mas só. Tenho dificuldade em ser minimalista, clean”, completa.

Marie Kondo, citada por Isabela, virou febre mundial após a publicação de livros e o lançamento de séries na Netflix. Sem levantar a voz e com gestos delicados, a mulher sorridente olha com curiosidade para salas, quartos e escritórios cheios de objetos pessoais desordenados. Com uma peça em suas mãos, pergunta: “Isso desperta alegria em você?”. A japonesa especializada em organização virou sumidade se o assunto é acúmulo e bagunça. Quando Marie sai da casa, deixa estantes arrumadase roupas dobradas metodicamente. Rapidamente, sua técnica foi abraçada por especialistas em outras áreas, que dizem que um ambiente minimalista, sem excessos e, geralmente, em tons neutros, é a chave para outra organização: a mental. “Foi um movimento útil, que ajudou muita gente inicialmente. Bagunça demais pode deixar a pessoa oprimida e estressada. O problema mora na segunda etapa da técnica de Marie. É impossível manter tudo tão metódico para sempre. E, quando não conseguimos, nos sentimos culpados”, explica Jennifer McCartney, autora de The JoyofLeavingYourShitAll Over The Place (A Alegria de Deixar Suas Tralhas por Todo Canto, em tradução livre), que não ganhou versão em português. A canadense se aventurou a seguir Marie, mas, ao repensar os resultados a longo prazo, se deparou com diversos estudos que defendem os benefícios da bagunça e do maximalismo. Mais é mais, inclusive mais força criativa. “Um pouco de bagunça estimula conexões incomuns no seu cérebro e leva à ino-

O maximalismo de Regina vai além dos looks estampados (acima, combinando com Roque, seu filho): em casa, ela reúne várias coleções

“Brinco que minhas casas começam minimalistas, mas, depois de seis meses, tem que ir abrindo caminho para entrar tanta coisa que junto”

REGINA CASÉ

vação. Não é de se estranhar que grandes artistas e pensadores fossem bagunceiros. Há algo de rígido em ter que ser organizado o tempo todo”, acrescenta Jennifer. Tem limites, claro. Se livrar de objetos afetivos ou doar uma roupa herdada da avó não é garantia de produtividade. “Por outro lado, uma mesa atolada de papéis pode levar ao bloqueio mental”, explica a psicóloga organizacional Edwiges Parra. “Você deve escolher o que deseja manter, lembrando que somos sensoriais, ou seja, iluminação, cor, memórias específicas e até aromas podem nos estimular ainda mais criativamente.”

Quem provou na pele essa experiência foi a apresentadora e atriz Regina Casé. Conhecida pelo estilo extravagante, era impossível que sua casa fosse diferente. “Brinco que minhas casas começam mi-

“Para mim, é importante ter por perto as minhas referências, especialmente para o meu trabalho. Meu temperamento não me permite ser minimalista”

ISABELA CAPETO

nimalistas, mas, depois de seis meses, tem que ir abrindo caminho para entrar tanta coisa que junto”, diverte-se. “Porém, sou extremamente organizada, sei onde tudo está.” Durante as gravações do programa televisivo Brasil Legal, entre 1995 e 1997, Regina passava meses fora de casa. Para evitar as decorações feias e sem personalidade dos hotéis onde se hospedava, levava com ela peças escolhidas a dedo para mudar o astral do quarto. “Um tecido bonito

Isabela gosta de estar cercada por suas referências em casa, no escritório e até nos acessórios

cobria aqueles quadros pavorosos, um enfeite animava meu humor”, lembra ela, que defende os benefícios das torrentes de pensamentos e lembranças causadas por objetos pessoais e referências mil ao redor.

Fuja de regras criadas por outras pessoas. Pense num sistema de organização de acordo com as suas necessidades. “Pesquise cores que ajudam na atividade que você desempenha, certifique-se que a iluminação é boa, delimite um espaço para que sua cabeça entenda que há liberdade para trabalhar. Você vai se sentar no escritório e o corpo vai entender que é hora de produzir”, fala. Por fim, desapegue da culpa. A vida real tem bagunça, acúmulo, crianças deixando brinquedos pela casa, cachorro e gato passando. Tornar isso mais um estresse é acrescentar outro elemento para minar a criatividade que tanto precisamos hoje em dia. n

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