2 minute read

UNIVERSO

Next Article
HIGH-TECH

HIGH-TECH

UNIVERSO PARTICULAR

POR ALINE VESSONI

Advertisement

Eliane Caffé estava no fim da faculdade de psicologia quando começou a trabalhar com cinema. Então, resolveu fazer um curso de roteiro na Escola Internacional de Cinema e Televisão de Cuba (EICTV).“Eu sou da primeira geração da escola. Fui para fazer o curso de roteiro e acabei ficando um ano. Depois retornei algumas vezes. Tenho ligação forte com Cuba” , conta.

A experiência na ilha socialista acabou criando o background para o cinema engajado que Eliane viria a exercer mais tarde. Por um período, ela resolveu explorar os rincões escondidos do país, a exemplo do que faria nos filmes Kenoma (1998), Narradores de Javé (2003) e O Sol do Meio-Dia (2008), que dirigiu respectivamente no sertão de Minas Gerais, na Bahia, e na Amazônia. “Era a necessidade de descobrir o que era esse Brasil sem ser

A cineasta Eliane Caffé leva seus filmes a localidades problemáticas do Brasil e envolve seus moradores em atividades no set e muitas vezes também fora dele

mediado pelo que chegava pelos livros, pela mídia. Os filmes foram uma maneira de poder conhecer de corpo presente os lugares aos quais eu não tinha acesso. E fazer isso por meio de um projeto de criação é sempre muito mais profundo” , explica. Depois Eliane se voltou para os centros urbanos, como em Era o Hotel Cambridge (2016), que mistura ficção e realidade para narrar a história dessa ocupação. “A demanda hoje das questões sociais se concentra nos centros urbanos, e esse deslocamento aconteceu de uma forma tão rápida, veloz, a ponto de eu nem ter percebido como fui transitando do interior para as grandes cidades.”

Eliane considera a parceria estabelecida com sua irmã, a arquiteta e diretora de arte Carla Caffé, o ponto decisivo para transformar “o ato de fazer cinema em um processo pedagógico”. Como exemplo, cita Gameleira da Lapa, cidade baiana em que as irmãs realizaram Narradores de Javé, que tinha sérios problemas de coleta de lixo. Elas, contudo, não queriam simplesmente limpar a cidade, filmar e ir embora. Então, Carla ficou à frente de um projeto que explicava a importância da coleta para os moradores. É um trabalho que ela chama de “contrapartidas”. “Por trabalharmos em zona de conflito, e essas zonas terem muitas carências, não apenas financeiras, a gente chega com financiamento e capacidade de investimento. O resultado é que você acaba criando uma grande família, e isso aparece na intensidade da entrega das pessoas que fazem o filme”, finaliza. n

CINEMA: vida

FILMES PREFERIDOS:

A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos; Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha; Andrei Rublev, de Andrei Tarkovsky UM CLÁSSICO: Limite, de Mário Peixoto INSPIRAÇÃO: o espanto de pensar o que é a nossa presença física. Tenho lido muito sobre neurociência, a formação do universo, física quântica...

DIVERSÃO:

a humanidade, a mesma que também me deprime

MÚSICA NO TRABALHO

nenhuma, fico muito focada, submersa, quando trabalho UMA VIAGEM: Cuba

O QUE NÃO FALTA NO SET:

humor

MANIA NO SET DE FILMAGEM:

mascar chiclete HOBBY: Ler

MELHOR COMPANHIA:

a gente mesmo

UMA FRASE:

"Viver é muito perigoso" (Guimarães Rosa) UM(A) DIRETOR(A): Cito quatro: Suzana Amaral, Lars von Trier, John Cassavetes, Andrei Tarkovsky

This article is from: