Revista Poder | Edição 131

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ISSN 1982-9469

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SETEMBRO 2019 N.131

MAREMOTO

ALEXANDRE FROTA,

agora no PSDB, solta a voz que incomodou o governo Bolsonaro

GUERRA E PAZ

A nova cara da diplomacia brasileira em tempos de devoção a Donald Trump

ESTETOSCÓPIO Estrela principal do maior grupo de hospitais privados do Brasil, o oncologista PAULO HOFF sua o avental para levar o tratamento do câncer a cada vez mais pessoas e, ao mesmo tempo, expandir a Rede D’Or CRIPTONITA

Afinal, o nióbio, mineral tão reverenciado, pode mesmo ser a salvação da pátria?

DOIS EM UM

O chef CLAUDE TROISGROS e seu fiel escudeiro BATISTA numa parceria muito bem temperada

E MAIS

O estilo discreto do roteirista GEORGE MOURA, a beleza comovente do Quênia e as escolhas digitais da chef ANA LUIZA TRAJANO




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O W Residences São Paulo não é de propriedade da Marriott International, Inc., nem está sendo desenvolvido ou comercializado por ela ou suas afiliadas (“Marriott”). A HESA 150 - Investimentos Imobiliários Ltda. usa as marcas comerciais e os nomes comerciais W® sob licença concedida pela Marriott. A HESA 150 - Investimentos Imobiliários declara ser a única responsável pelo conteúdo deste material, isentando a Marriott de qualquer responsabilidade sobre ele.





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48 SUMÁRIO 12 16 22

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EDITORIAL COLUNA DA JOYCE O BOM COMBATE

A luta do oncologista Paulo Hoff contra o câncer e a desinformação 28

BOMBEIROS DE CASACA

Mudanças no Itamaraty de Ernesto Araújo e as queimadas fazem do trabalho dos diplomatas gestão de crise permanente ALMOÇO DE PODER

Alexandre Frota solta a voz que incomodou a Presidência 38

A POLÊMICA DA TABELA PERIÓDICA Será mesmo o nióbio a panaceia

PAULO HOFF POR JOÃO LEOCI

para os males brasileiros? 42

ENSAIO

O chef Claude Troisgros e seu fiel parceiro Batista, agora na TV aberta 48

VIAGEM

Um resort no coração da selva no Quênia 52

SOB MEDIDA

As afinidades eletivas do roteirista George Moura

NA REDE: 58 60 61 62 63 64

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/Poder.JoycePascowitch @revistapoder @revista_poder

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PODER EDITORIAL

S

er médico, advogado ou engenheiro já foi um dia uma garantia de estabilidade financeira – ou assim entendiam os pais. Esse tempo acabou. Essas categorias foram profundamente impactadas pela tecnologia. Mas quais não foram? A diferença agora é que a competição se acirrou, e não dá mais para ser médico, advogado, engenheiro apenas mais ou menos. O oncologista Paulo Hoff completa 51 anos neste setembro e sua juventude não o impediu de ser excelente em tudo o que faz. Até “imortal” se tornou, ao ganhar uma cadeira na Academia Nacional de Medicina, a ABL do setor. Estrela do Sírio-Libanês, onde tratou dos tumores de Lula e Dilma, ele aceitou “virar casaca” – ou melhor, “virar avental” – e conduzir a Oncologia D’Or, da Rede D’Or, maior grupo de hospitais privados do Brasil. Lá tem agora a companhia do cirurgião Antonio Macedo, mais um médico presidencial – ele cuida de Jair Bolsonaro desde a facada. Hoff luta diariamente contra o câncer, não só o de seus pacientes, mas aquele que desinforma, prejudica a ciência e os avanços médicos. O Brasil está confuso e vive um péssimo momento de imagem, o que multiplica o trabalho dos diplomatas e exige muito da competência deles – tema, aliás, de uma de nossas reportagens especiais. Diz-se que de quem menos se espera, daí mesmo que não sai nada… mas o deputado federal de primeira viagem Alexandre Frota, convidado do Almoço de PODER, vem surpreendendo politicamente – a ponto de ser convidado pelo governador João Doria a entrar no PSDB depois que a voz (grossa) do ex-ator ficou incômoda demais no PSL. Alguns dizem que tudo vai melhorar se começarmos a explorar um minério supostamente milagroso, o nióbio, de cujas jazidas os irmãos Moreira Salles são grandes proprietários. Bem, a saída pode (ainda) não ser Cumbica ou Galeão, mas quem for pegar um avião lá – com passagem de volta, please! – pode desembarcar no Quênia, um país surpreendente, onde fomos conhecer o Segera Retreat e toda exuberante vida animal da região. Tem muito mais por aqui. Afivele os cintos.

G L A M U RA M A . C O M


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Um século de Credibilidade

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INIMIGO ÍNTIMO

As eleições presidenciais de 2022 parecem longe, mas JAIR BOLSONARO já escolheu seus adversários. Fora de casa mira o governador João Doria, figura próxima de dois de seus ministros – Guedes e Moro. Dentro, o ataque, com intervalos de afago, é contra SÉRGIO MORO, figura popular entre seus apoiadores – por isso o “morde e assopra”. Comenta-se que Moro irá precisar engolir sapos até novembro de 2020, quando a aposentadoria obrigatória alcançará o ministro do STF Celso de Mello e Bolsonaro nomeará seu substituto. Caso não fique com a cadeira almejada no Supremo, é possível que o ministro da Justiça desembarque do governo e rume por outros caminhos: ou sai candidato à Presidência ou se alia a João Doria na disputa eleitoral. O tempo dirá...

AGORA VAI

Depois de muita delonga, o quarto e último volume do livro de memórias do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso será, enfim, publicado. Diários da Presidência 2001-2002 revela os bastidores do final do seu segundo mandato e deveria ter sido lançado em 2018, mas como alguns dos personagens retratados estavam envolvidos com a corrida eleitoral – e digamos não muito bem na fita –, FHC postergou a edição. Houve um segundo adiamento, em julho. Agora, a editora Companhia das Letras garante que sai. Resta saber quem serão os políticos “acarinhados” pela pena do ex-presidente.

REDE DE PROTEÇÃO

TREMENDÃO

Depois de Ciro Gomes ter sido apelidado de “sugar daddy” na campanha presidencial de 2018, o ex-presidenciável FERNANDO HADDAD e o deputado Alessandro Molon (do PSB) são os nomes mais mencionados por internautas relacionados à expressão. Um levantamento mostrou que Haddad representa uma espécie de sex symbol, reunindo mais de 6 mil menções do tipo na web. “Sugar daddy” é como são chamados homens maduros, ricos e bem-sucedidos, que se relacionam com mulheres jovens (“sugar babies”), patrocinando um estilo de vida de luxo. Há sites de relacionamento que atendem o segmento.

Para justificar a indicação do filho EDUARDO para a embaixada do Brasil em Washington, o presidente Jair Bolsonaro tem dado as mais variadas razões. Aos mais próximos, porém, ele declara o real motivo: sua preocupação com a segurança do Zero Três. É bom lembrar que o próprio Jair Bolsonaro foi vítima de um atentado durante a corrida presidencial.

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SÁTIRA

A livraria Leonardo da Vinci, do Rio, criou campanhas divertidas com os temas nacionais. Ofereceu livros de Direito grátis para o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e para o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, depois da irrupção do escândalo da #VazaJato; antes já havia enviado um exemplar cortado de A Metamorfose, de Franz Kafka, para o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que chamou o escritor tcheco de “Kafta”, como o prato árabe. “Pedimos desculpas pelo corte de 25% no livro, mas a situação das livrarias está difícil”, dizia a postagem.

PET JET

Destaque na Labace, o maior evento de aviação comercial da América Latina realizado em agosto, em São Paulo, o HondaJet, além da performance e dezenas de tecnologias à parte, chamou atenção por outro motivo, bem inusitado: a aeronave é “pet frinedly”. Como é mais silenciosa do que as demais, evita que os bichinhos se estressem com o barulho da cabine durante o voo. No Brasil, o jatinho é comercializado pela Líder Aviação.

FOTOS FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL; LULA MARQUES/AG PT; RUY TEIXEIRA; FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL; DIVULGAÇÃO HONDA AIRCRAFT COMPANY; REPRODUÇÃO INSTAGRAM; DIVULGAÇÃO

ESPELHO D’ÁGUA

Após longo período de maré baixa, o mercado imobiliário do Rio de Janeiro tem dado tímidos sinais de recuperação. Um dos exemplos é um prédio cujo lançamento tem chamado a atenção da turma mais abastada. Com concepção da fachada e design de interiores de David Bastos, iluminação de Maneco Quinderé e projeto arquitetônico de Sergio Gattáss, o Índigo está sendo erguido na Epitácio Pessoa, entre as ruas Aníbal de Mendonça e Garcia d’Ávila – filé-mignon da Lagoa. Serão apenas sete apartamentos de frente para a Rodrigo de Freitas. A procura pelo térreo, com jardim, e pela cobertura duplex tem sido alta.

TEMPOS MODERNOS

Acusado de liderar uma quadrilha que desviou R$ 400 milhões de contas bancárias, PABLO BORGES foi preso em 2018 dias antes de seu casamento com a blogueira e modelo MARCELLA PORTUGAL. A megafesta do casal-ostentação precisou ser adiada até o mês passado, quando Borges fez um acordo para cumprir prisão domiciliar e pôde, enfim, brindar o amor – na Casa Fasano. Mas só até a meia-noite, bem entendido. A pena o obriga a se recolher cedo. Já Marcella curtiu muita música sertaneja, dançando até as 5h.

HONRA AO MÉRITO Broker mais conhecido de Nova York e principal corretor dos brasileiros que compram imóveis de luxo na cidade, o carioca MARCOS COHEN comemora 25 anos de sucesso no mercado. “Ao longo da minha carreira, pude ajudar muitas pessoas a realizar seus sonhos em Nova York. Em troca, meus próprios sonhos são realizados, o que não tem preço”, conta. Cohen já foi classificado várias vezes como o broker número 1 em vendas entre os 7 mil profissionais do setor imobiliário da Douglas Elliman Real Estate, a maior corretora da área metropolitana de Nova York.

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O homem não é a soma do que tem, mas a totalidade do que ainda não tem, do que poderia ter JEAN-PAUL SARTRE

3 PERGUNTAS PARA... LUIZA HUMMEL, instrutora de meditação, mindfulness e autocompaixão, que há três anos está à frente da Kavanah, espaço livre de fórmulas, que ensina diversas técnicas de conexão com o presente MEDITAR É SINÔNIMO DE NÃO PENSAR?

Meditação é uma habilidade que depende de treinamento. Tem uma definição que fala em capacidade de focar em um pensamento específico, sendo esse pensamento a técnica de meditação a ser utilizada. Então, não quer dizer ficar sem pensar, mas aprender a direcionar a mente para um foco selecionado. Foco que pode ser, por exemplo, a respiração, as sensações do corpo, os sons do ambiente, um mantra, uma visualização. Usa-se esse foco como uma âncora para sua mente. Imagine um barco ancorado. O mar nunca vai estar constante, está sempre em movimento. E essa âncora não deixa o barco ir longe, certo? Independentemente se o mar está agitado ou calmo, a âncora vai sempre

trazer o barco de volta. É, dessa forma, que a âncora funciona na meditação. ENTÃO É UMA PRÁTICA ACESSÍVEL A TODOS. MESMO PARA OS MAIS DISTRAÍDOS.

Sim! Para todo mundo. A meditação é uma habilidade que nós treinamos como aprender a andar de bicicleta, dirigir, tocar um instrumento. É algo que requer prática e treinamento, mas que qualquer pessoa pode treinar. QUAIS OS BENEFÍCIOS DE MEDITAR?

No cérebro, temos dois sistemas, o racional e o emocional. A parte emocional é responsável pelas nossas reações de impulso; é aquela que nos faz reagir sem pensar. Quando nós meditamos, ativamos partes que são ligadas ao outro lado, o sistema racional. Isso significa

que a meditação vai ativar mais o lado racional e diminuir a atividade cerebral do nosso sistema emocional. Por essa razão que a meditação trabalha muito a presença, foco, raciocínio e autocontrole. A pessoa passa a não responder imediatamente, sendo capaz de atravessar uma situação de estresse, ou ansiedade, de modo a olhar para ela de forma racional, não deixando que a emoção tome conta. Não significa ter controle sobre o que vai acontecer, mas ter mais controle sobre nossas reações. A meditação é, sem dúvida, uma ferramenta para aprender a lidar com o estresse do dia a dia.

Novo negócio do empresário GLAUBER BRITO, a Ideia3 tem se fixado como referência em cenografia e visual merchandising. Em seu segundo ano, a empresa mira crescimento no Brasil em um mercado em plena expansão devido a grande aceitação das empresas de varejo, visto que uma ação de VM traz resultados positivos em vendas e retorno financeiro. “Somos uma empresa formada por pessoas com criatividade para resolver todas as demandas. Fazemos o que chamo de conversa única, em que os clientes não precisam orçar com diversos fornecedores para erguer um projeto, pois temos tudo em um único lugar”, explica Glauber. Atualmente, a Ideia3 tem três unidades: São Paulo, Sydney (Austrália) e acaba de desembarcar em Angola, na cidade de Luanda, onde Glauber atualmente reside.

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FOTOS DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO

IMAGEM É TUDO


PODER INDICA

FOTO MARINA MALHEIROS/DIVULGAÇÃO

A CASA DOS DESEJOS Idealizada pelo designer israelense Dror Benshetrit, consagrado pelo projeto Houseplant – que propõe o convívio harmônico da arquitetura com a natureza –, a FLORENSE inaugurou no mês passado um audacioso espaço em São Paulo, na alameda Gabriel Monteiro da Silva, referência máxima da alta decoração no Brasil. A flagship (como são chamadas as lojas-conceito) passa a ser a principal vitrine da marca, que é referência mundial em mobiliário high-end. O conceito original do projeto baseou-se na constante preocupação da Florense com sustentabilidade. O desafio era apresentar algo inovador e revolucionário. E assim se fez. A flagship da grife rouba a cena da famosa rua com quatro impactantes houseplants (foto) e a rica vegetação que a cerca. Há também um aconchegante rooftop.

“As inovações começam com um pacote de hospitalidade inédito, montado como um hotel, com serviço de gastronomia, bellboy e concierge”, revela Camila Nunes Carneiro, franqueada Florense que responde pela loja. Todo o enxoval foi fornecido pela Hotel Plus, com peças da Riedel, Sambonet e Churchill e curadoria da Officina Três. CEO da Florense, Mateus Corradi define com precisão o novo endereço. “Não é apenas uma loja, é um espaço que traduz o que a Florense representa no mercado da alta decoração. Todos sabem que a Gabriel é a Oscar Freire do segmento mobiliário. Estar nela é um sonho antigo, pela posição que a rua representa. Aqui, os clientes terão a oportunidade de conhecer as sofisticadas coleções de produtos Florense para todos os ambientes da casa.” +FLORENSE.COM


EM SETEMBRO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... CONFERIR a exposição Zanine 100

VISITAR a exposição Entrevendo, de

Anos – Forma e Resistência, com 18 obras feitas pelo arquiteto, designer, artista, paisagista e professor José Zanine Caldas (1919-2001). No MAM do Rio de Janeiro

Cildo Meireles, com curadoria de Júlia Rebouças e Diego Matos. São cerca de 150 obras do artista, produzidas desde os anos 1960 até os dias atuais, em diferentes linguagens, incluindo inéditas no Brasil, como a instalação Amerikkka. No Sesc Pompeia

OUVIR repetidas vezes Abbey Road,

o 12º e penúltimo álbum dos Beatles, que completa 50 anos de lançamento. “Come Together” e “Here Comes the Sun” estão entre os hits da obra-prima

LER Meu Ano de Descanso e RELER

A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista (ed. Companhia das Letras), com textos de Joel Silveira (19182007), repórter que cobriu a Segunda Guerra a serviço de Assis Chateaubriand, o Chatô, que o considerava “uma víbora” CONVIDAR três amigos para uma

partida de beach tennis, o esporte da moda. E não precisa ser na praia, já que arenas estão se espalhando aos montes pelas grandes cidades. Dinâmico e fácil de aprender CONHECER outra faceta do diretor de

GARANTIR os ingressos para os

cinema Gus Van Sant (Elephant, Milk...) na mostra Pinturas Recentes, Hollywood Boulevard – inspirada nos eventos que Van Sant observou desde que se estabeleceu em Los Angeles na década de 1970. Na Vito Schnabel Gallery, em Nova York

shows da cantora Norah Jones no Brasil em dezembro. As apresentações acontecem em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro ADERIR ao movimento Meat Free Monday (Segunda-feira Sem Carne, em tradução livre), que encoraja as pessoas a eliminar a carne do cardápio pelo menos um dia por semana para reduzir o impacto da sua produção

Relaxamento (ed. Todavia), de Ottessa Moshfegh, romance denso e bem-humorado sobre a hibernação voluntária de uma jovem em depressão ARMAR uma jogatina de pôquer em

casa. Para os mais entusiasmados, empresas especializadas oferecem todo o material, inclusive com croupiers vestidos conforme a etiqueta dos cassinos ASSISTIR

à Copa do Mundo de Rugby, no Japão, que deve quebrar recordes de audiência: 800 milhões de telespectadores em 217 países. Argentina e Uruguai são os representantes sul-americanos COMER no Amo, em Veneza. O restaurante fica no T Fondaco dei Tedeschi, um empório de luxo aos pés da Ponte de Rialto, em uma das zonas de comércio mais antigas do mundo VISITAR a mostra Ambiental: Arte e

Movimentos, no MuBE. Por meio da arte contemporânea, a coletiva de 22 artistas , incluindo Hugo França, discute maneiras viáveis para que homem e natureza convivam em harmonia

com reportagem de aline vessoni, dado abreu e fábio dutra 20 PODER JOYCE PASCOWITCH

FOTOS ANDRE NAZARETH/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

CALCULAR quantos livros você pode ler saindo das redes sociais usando o site Omni Calculator. Três olhadinhas de dez minutos por dia no Instagram, por exemplo, equivalem a 30 livros por ano


PODER INDICA

FOTO DIVULGAÇÃO

TOQUE CONTEMPORÂNEO Conhecida por produtos de altíssima qualidade e padrão irretocável, a TROUSSEAU, marca de maior prestígio no seu segmento, se uniu ao também prestigiado Arthur Casas para uma coleção exclusiva com a assinatura do arquiteto. Na primeira imersão no mundo têxtil, Casas desenvolveu uma linha para cama e produtos que compõem o everywear da marca reconhecida pelos produtos que valorizam os materiais nobres e a riqueza de detalhes. “Sempre tive uma visão holística do meu trabalho. Não vejo diferença em criar um edifício, uma cadeira ou lençóis. Acredito que todas as escalas relacionadas ao meu ofício são importantes e complementares e não haveria outra empresa têxtil no Brasil com a qualidade que aprendi a exigir. Só a Trousseau poderia produzir”, pontua.

Para a criação, Arthur Casas optou pelo linho. “Até porque os lençóis ficam naturalmente amassados depois de uma noite de sono”, explica. “Só que não acho agradável o toque do linho, então decidimos criar um duvet e travesseiros com faces e materiais distintos; linho e algodão de alta qualidade.” Tons leves como o branco e o bege natural, além de um tom de cinza, mais próximo ao grafite, pontuam a linha de cama e para o everywear prevaleceu apenas o bege natural para ela e o grafite para ele. Todas as peças da coleção são confeccionadas no Brasil, no atelier Trousseau, e usam tecidos italianos e Pima Cotton do Peru. +TROUSSEAU.COM.BR


SAÚDE

O BOM COMBATE A batalha contra o câncer de seus pacientes – como Lula e Dilma – não é a única travada pelo médico Paulo Hoff, que trocou o hospital Sírio-Libanês pela Oncologia D’Or. Ele também está por trás da expansão da rede e quer vencer a guerra contra a desinformação que debilita a ciência por paulo vieira fotos joão leoci

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Paulo Hoff num dos consultórios que divide com outros médicos numa das clínicas da Oncologia D’Or

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T

er sido responsável pelos tratamentos do câncer na laringe de Lula e do linfoma de Dilma Rousseff e haver acompanhado de perto os múltiplos tumores do ex-vice-presidente José Alencar não fizeram do oncologista paranaense Paulo Marcelo Hoff, 51 anos agora em setembro, um médico com parti pris partidário. Calhou, afinal, de ele estar no Sírio-Libanês na época em que os líderes da era lulopetista preferiam esse tradicional hospital de São Paulo. Hoff atende a todos, independentemente do credo político ou da condição financeira do paciente – ele atua destacadamente também na rede pública –, mas desde 2017 já não faz mais plantões no Sírio. Há dois anos, Hoff mudou-se para a Rede D’Or São Luiz, na negociação que é considerada a mais espetacular da história médica brasileira – especulações falam num salário de R$ 1 milhão, valor que Hoff não confirma, além de luvas. Dinheiro parecia não ser mesmo problema para o novo empregador: a D’Or se beneficiou enormemente da mudança regulatória que em 2015 revogou a proibição ao capital estrangeiro no setor hospitalar. Com isso, levantou quase R$ 5 bilhões com os fundos Carlyle (também investidor da CVC) e GIC (fundo soberano de Cingapura). Ano passado, segundo o jornal Valor Econômico, o grupo faturou R$ 11 bilhões, receita 15,9% maior que a de 2017 (veja boxe). Surgida em 1977 no Rio de Janeiro como o laboratório de análises Cardiolab, a corporação é hoje a maior rede de hospitais privados do Brasil, com 44 deles distribuídos em sete estados, além das 40 clínicas oncológicas – comandadas agora por Hoff e pelo executivo Vinícius Rocha. O grupo tem ainda um instituto de pesquisa e ensino, o Idor, e participações em outros ativos, como laboratórios de análises clínicas e o plano de saúde Qualicorp. O setor que Hoff lidera, a Oncologia D’Or, responde por cerca de 10% do faturamento do grupo e vem se expandindo. Além de São Paulo, Rio e Brasília, está presente no Ceará, Maranhão, Pernambuco, Bahia e Tocantins. As clínicas funcionam à americana, no conceito de “cancer center”. Profissionais de diversas especialidades (patologistas, rádio-oncologistas, cirurgiões etc.) trabalham juntos, muitas vezes revezando-se nas mesmíssimas salas. Em reuniões regulares, o coletivo de médicos das várias unidades pelo Brasil

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O interior agradável e com jeito de hotel da unidade da Oncologia D’Or do Itaim, em São Paulo, onde Paulo Hoff dá plantão

(o “tumor board”) discute as evoluções nos tratamentos de seus pacientes à quente. A sala no Itaim, em São Paulo, de onde Hoff comanda esses encontros, não fica a dever em nada às de CEOs de setores opulentos como o financeiro ou o de tecnologia. Nascido em Paranavaí, no oeste do Paraná, a mesma cidade do ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, e do lateral-esquerdo do Corinthians Danilo Avelar, Hoff cresceu no Rio Grande do Sul, onde “garrou” amor moderado pelo Internacional – é capaz de torcer pelo arquirrival Grêmio em certas situações. Fez sua graduação na UnB (Universidade de Brasília) e as especializações em oncologia em Miami e depois no Texas – ao todo viveu 16 anos nos Estados Unidos. Em 2001 voltou ao Brasil, para uma passagem rápida


pelo hospital Albert Einstein, e em 2006 regressou em definitivo. Adepto do videogame e da corrida, entretenimentos que ele lamenta não ter tempo e joelho para se dedicar com mais afinco, dá expedientes de até 14 horas na Oncologia D’Or. ALTA RETARDADA Até onde se sabe, nenhum presidente, papa, cacique, autocrata, xamã, marechal, nenhum poderoso desses foi capaz de vencer a própria morte. A morte iguala a todos na desdita, e o câncer é um processo particularmente doloroso, pois de um tumor inicial outros podem surgir, alongando e dificultando em muito seu combate. Hoff tem de lidar rotineiramente com a morte, e essa situação exige bastante do oncologista. “A gente enfrenta situações de morte com frequência enorme, é sempre muito difícil conviver com pacientes por meses e anos e vê-los falecer”, disse a PODER na OncoStar, o novo e agradável centro de tratamento de câncer da rede em São Paulo. Nos três andares que a clínica ocupa num moderno prédio comercial do Itaim não há sinais que evoquem um hospital. Com efeito, features como a vista privilegiada do Parque Ibirapuera e o serviço de concierge merecem igual ou maior destaque do que o corpo médico no vídeo de apresentação da OncoStar. Não seria exagero dizer que os pacientes podem até ter alguma vontade de retardar a alta para usufruir um pouco mais do ambiente. Chistes à parte, Hoff é otimista em relação à cura do câncer, que para ele será conhecida em talvez algumas décadas. “Provavelmente não vamos eliminar todos os tipos de câncer, mas a chance de cura de 90%, como é o caso hoje dos linfomas e do câncer de testículo, isso vai ser realidade para outros tumores também.” Doutor Pangloss, contudo, não baixou em Hoff, longe disso. Ele vê com bastante preocupação o crescente encarecimento da pesquisa científica aplicada ao câncer, hoje feita a partir do controle de variáveis muito específicas, com necessidade de mobilização de voluntários com mutações celulares minuciosamente determinadas. Como consequência, chega-se ao valor galopante dos tratamentos. “Remédios chegam ao mercado com custo muito elevado, ao redor de US$ 10 mil por mês para o paciente, e alguns podem passar muito disso. As sociedades vão ter de achar uma maneira de conter ou cobrir esse preço.”

‘‘Provavelmente não vamos eliminar todos os tipos de câncer, mas a chance de cura de 90% dos linfomas vai ser realidade para outros tumores” O CAPITAL VEM AÍ

Com faturamento de quase R$ 11 bilhões em 2018, expressivo aumento de 15,9% em relação ao ano anterior, segundo números do anuário 1000 Maiores Empresas do jornal Valor Econômico, a Rede D’Or São Luiz vive um momento auspicioso. O anuário a elegeu, entre todas as mil, a Empresa de Valor – primeira vez em 19 anos que uma companhia de capital fechado recebe a honraria. Alavancada por aportes de capital estrangeiro, a rede segue em seu plano de expansão: fala-se em R$ 8 bilhões até 2023. Nos últimos quatro anos a expansão foi catapultada por aquisições: quinze hospitais foram comprados nos últimos quatro anos. Para o consultor e investidor na área de saúde Roberto Schahin, fundador do Maria Health Partners, as boas notícias vão continuar. “O capital estrangeiro vai chegar”, disse a PODER. Para ele, diversas empresas americanas da área de saúde têm interesse em se estabelecer no Brasil, à maneira da UnitedHealth, detentora da Amil. “Todas conhecem bem o país, e há muita similaridade na regulação dos mercados dos Estados Unidos e Brasil.” Para o consultor, os players estão à espera “para ver o que vai acontecer na política”. Segundo Schahin, o primeiro investimento da UnitedHealth fora dos Estados Unidos foi justamente no Brasil. Ele ainda acredita que investidores chineses e outras nacionalidades também observam com interesse esse mercado. Por fim, Schahin acredita que o capital aportará primeiro nos grupos mais consolidados, como o D’Or, que assim terá plenas condições de manter sua liderança. Boa notícia para a família Moll, dos fundadores, que detém mais de 60% do controle acionário.

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DOIS MÉDICOS E TRÊS PRESIDENTES

O problema não é exclusivo do Brasil, mas a maré no Atlântico Sul definitivamente não está pra peixe. A produção científica brasileira, que poderia ajudar a enfrentar a questão, está na vazante. Contingenciamento de bolsas de estudo e ataques à academia não contribuem em nada para reter talentos no país. Dos nove brasileiros da turma de Hoff que foram estudar em Miami nos anos 1990, só dois não se radicaram no exterior – justamente ele e sua mulher, Ana Amélia, especialista em tumores endócrinos, que também atua na Oncologia D’Or. Hoje em dia, a saída por Cumbica e pelo Galeão parece ainda mais óbvia. TERRAPLANISMO Num momento em que se nega o aquecimento global, duvida-se da Terra redonda – é elipsoide, para ser mais preciso –, e um ceticismo bastante tosco coloca em xeque outras verdades científicas, coube a Hoff, à frente do Icesp, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, entidade pública que também dirige, ser um dos responsáveis por coordenar a pesquisa que acabou por não chancelar os supostos efeitos positivos da fosfoetanolamina, a chamada “pílula do câncer”. Rapidamente tornada verdadeira panaceia, a substância desenvolvida por um químico da USP jamais havia sido testada cientificamente. Dos 72 pacientes com tumores diferentes que receberam a pílula, 59 foram efetivamente avaliados, e 58 não apresentaram qualquer melhora. Apenas um deles, com melanoma, um dos cânceres mais agressivos da “paleta” de tumores malignos, apresentou evolução no tratamento, que, diga-se, pode não estar associado à pílula. Denotando mais curiosidade do que preocupação, Hoff fala à reportagem do alastramento entre as populações mundiais do efeito Dunning-Kruger, que a Wikipedia consigna como “fenômeno pelo qual indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto acreditam saber mais que outros mais bem preparados”. A moderação com que fala do problema supreende, considerando que Hoff vem escalando todos os degraus acadêmicos possíveis – um deles é ser titular da cadeira 58 da venerável Academia Nacional de Medicina, espécie de ABL da medicina. Mesmo que não suba o tom de voz nem esmurre a mesa – o que talvez jamais tenha feito na vida –, o médico é cético com o avanço do ceticismo e crê que a verdade triunfará. “Quero acreditar que com o tempo a ciência vai dialogar com a sociedade e se fazer ouvir. Não é razoável determinar legalmente nem por retórica que um fato científico não existe. Você pode não acreditar na força da gravidade, mas ela continua te puxando. Existem certas verdades que são verdades.”

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Na disputa entre os hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein para ver quem atende a mais medalhões do Executivo federal, um azarão agora coloca alguns corpos de vantagem: a Rede D’Or. Além de Paulo Hoff, que foi o oncologista de Lula e Dilma Rousseff no Sírio, o grupo conta em seus quadros com o paulista Antonio Luiz Macedo, que conduziu a cirurgia e a recuperação de Jair Bolsonaro em São Paulo após a facada em Juiz de Fora (MG), durante a campanha presidencial. Macedo foi considerado um dos dois melhores cirurgiões de São Paulo por cerca de 800 médicos ouvidos pelo Datafolha ano passado. No Einstein, onde ficou quatro décadas, tinha uma produtividade espantosa: fez cerca de 600 cirurgias em 2017. O médico reviu Bolsonaro no começo deste setembro para iniciar o tratamento de uma hérnia surgida no abdome do paciente – reação comum a quem passa por operações de colostomia. Macedo protagonizou um momento importante da campanha, quando assinou o atestado que vetava a participação do então candidato Bolsonaro no debate da TV Globo às vésperas do primeiro turno da eleição. O rigor marcante no rosto do médico é fruto de uma lesão do nervo facial após uma queda de cavalo na adolescência.

A verdade tem valor inestimável, mas no trato do médico com o paciente de câncer, e ainda mais com seus familiares, ela precisa ser administrada com a melhor posologia possível. Afinal, quando se lida com a finitude da vida, até o ateu mais empedernido pode se tornar crente desde criancinha. Hoff acha que mesmo os pacientes mais belicosos tendem a ser “racionais e razoáveis” se as equipes que os tratarem “conversarem bastante”. “É uma questão de diálogo, e é natural que as famílias procurem alternativas, elas têm direito de buscar respostas.” O médico contudo é bastante crítico da interferência do poder público nesse particular. “Você pode querer resolver seu problema tomando chá ou raiz, mas daí querer que o estado sancione, financie ou distribua esse mesmo chá, isso contraria o benefício da sociedade como um todo.” Às batalhas que o médico enfrenta soma-se mais uma, na hora em que ele procura se “desligar da civilização”, quando tira “um ou dois dias” para ir à praia, normalmente as do Guarujá. Lá Hoff se depara com outro inimigo, que ele, aliás, teme muito: o plástico. Incapaz de se degradar na natureza, o material se acumula nos mares, rios, solo e até nos organismos animais. “Não sei se vocês passeiam de barco”, ele diz aos repórteres. “Mas é impressionante o que se vê de plástico no mar.” Talvez seja um tanto demasiado evocar aqui o mito grego de Sísifo, o infeliz condenado eternamente a subir um rochedo com uma enorme pedra às costas. Antes de atingir o topo, o peso descomunal do fardo o faz rolar de volta à base, de onde recomeça a operação. Mas é razoável pensar, como se diz, que Hoff descansa carregando pedra. n


‘‘Quero acreditar que com o tempo a ciência vai dialogar com a sociedade e se fazer ouvir. Não é razoável determinar legalmente nem por retórica que um fato científico não existe. Existem certas verdades que são verdades”

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PASSAPORTE

BOMBEIROS DE CASACA Mudanças no Itamaraty empreendidas pelo chanceler Ernesto Araújo e as queimadas na Amazônia fazem do trabalho dos diplomatas brasileiros uma constante gestão de crise

FOTOS MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL; REPRODUÇÃO

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POR PAULO VIEIRA

ILUSTRAÇÃO DAVID NEFUSSI

m agosto, um programa humorístico da principal rede de televisão pública alemã chamou Jair Bolsonaro de “boçal de Ipanema” e o “vestiu” com o monoquíni asa-delta usado por Borat, o personagem de total incorreção política criado pelo comediante britânico Sacha Baron Cohen. Também inseriu o brasileiro num clipe com cenas de queimadas e devastação florestal. Fazer pilhéria do extremismo ambiental do presidente já havia se tornado comum nos meios de comunicação europeus, mas a maior paulada não veio em chave cômica. O semanário The Economist, bíblia centenária do liberalismo, exibiu o contorno do Brasil perfeitamente desenhado no toco de uma árvore recém-cortada. Era a ilustração para a capa da reportagem sobre as mazelas que o país inflige à Amazônia. Tudo isso aconteceu muito antes de irromper o conflito com Emmanuel Macron, com direito a flexão do verbo “mentir” e o endosso de Bolsonaro a um comentário desairoso sobre a mulher do mandatário francês no Facebook. No fim do mês, na reunião do G7 na França que Macron hospedou, o Brasil dependia de um aceno de Donald Trump para não ser considerado algo próximo de um pária mundial, um país acéfalo e quase inimputável pelo fogo que decidiu deixar arder na Amazônia. Dos novos rumos que o Brasil de 2019 tomou, a diplomacia é uma área particularmente exposta. Embai-

xadores e diplomatas tornaram-se, com o perdão do trocadilho, bombeiros, numa tentativa bastante quixotesca de minorar danos nas relações com os líderes de países que Bolsonaro escolhe para bater boca – Alemanha, Noruega, Argentina, França, Venezuela, Chile, o viés é de alta. Desde a aparição solitária do presidente e séquito num bandejão durante o Fórum Econômico de Davos, em janeiro, é muito difícil para esses profissionais entenderem algo bastante trivial: o próprio trabalho. Não ajudou em nada terem se tornado objeto da desconfiança cada vez maior dos próprios chefes, fruto da reorganização interna levada a cabo pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Ao assumir a chancelaria, ele subverteu a tradicional hierarquia do Itamaraty, fazendo com que diplomatas de alto escalão tivessem de responder a superiores mais novos e inexperientes – espelhando, dessa maneira, sua própria ascensão. Araújo jamais serviu como embaixador brasileiro no exterior. Ele ainda suprimiu secretarias e diversos departamentos, na linha da “racionalização da máquina pública” indicada pelo governo federal. E, mais problemático, tentou introjetar no dia a dia da casa sua visão antiglobalista, conservadora, temente a Deus e, principalmente, a Donald Trump.

PROFETA DO CAOS

A diplomacia brasileira já andava confusa antes da crise ambiental, mas talvez seja injusto apor apenas PODER JOYCE PASCOWITCH 29


a Araújo o epíteto de profeta do caos. “O Itamaraty vive uma crise muito profunda. Ernesto Araújo é o sexto ministro em oito anos. A crise não começa, mas se agrava com ele, e uma das razões é sua fragilidade no trato com os colegas”, disse a PODER Maurício Santoro, professor de relações internacionais da Uerj. “Além disso, há nesse governo uma desconfiança generalizada em relação aos especialistas. Nunca vi tantos jovens diplomatas falando em deixar a carreira. É um baque muito forte.” Alguns movimentos do chanceler tiveram bastante impacto no aumento da tensão interna. Na Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), voltada para a difusão cultural, o veto à publicação de um texto de Rubens Ricupero, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos e ex-ministro da Fazenda no governo Itamar Franco, foi visto com perplexidade. Ricupero escreveu uma peça circunscrita à figura de Alexandre de Gusmão. Era, afinal, um prefácio à biografia desse patrono da diplomacia nacional. O biógrafo, o diplomata Synesio Goes Filho, viu “censura” e “obscurantismo” no veto, enquanto o ministério alegou que a aprovação dada ao livro não contemplava um prefácio. Seja como for, o pragmatismo que rege a atividade diplomática se voltou para dentro e passou a valer para a economia doméstica do Itamaraty. Um funcionário lotado no hemisfério norte revelou a PODER que as pessoas agora têm “bastante medo de se posicionar” e que há um “cuidado maior” nas conversas entre chefes e subordinados, já que a “informação tem circulado e funcionários têm sido prejudicados”. Também houve expurgos. O diplomata Paulo Roberto de Almeida perdeu seu posto de comando do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), da Funag, por, segundo ele, abrir espaço em seu blog pessoal para críticas de Fernando Henrique Cardoso e Rubens Ricupero à política externa brasileira – curiosamente Araújo também mereceu espaço no blog. Crítico feroz da agenda petista no Itamaraty, Almeida vê na escolha do ministro um processo anormal. “Desde a diplomacia do Império, tornam-se chanceleres pessoas normalmente muito mais qualificadas. Araújo era um personagem obscuro, jamais participou dos debates políticos, conformou-se perfeitamente aos tempos lulopetistas. É um diplomata sem capacidade própria, que construiu uma personalidade olavista artificialmente”, diz Almeida, fazendo referência a

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‘‘Há desconfiança em relação aos especialistas. Nunca vi tantos jovens diplomatas falando em deixar a carreira” Maurício Santoro, UERJ Olavo de Carvalho, o guru que esteve por trás da indicação do chanceler. Araújo chamou atenção no círculo presidencial ao publicar o texto “Trump e o Ocidente” na edição do segundo semestre de 2017 dos “Cadernos de Política Exterior” do Ipri – na época presidido por Almeida –, em que faz a apologia de um certo “Deus de Trump”. “O presidente Donald Trump propõe uma visão do Ocidente não baseada no capitalismo e na democracia liberal, mas na recuperação do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais. Em seu centro, está não uma doutrina econômica e política, mas o anseio por Deus, o Deus que age na história”, escreveu. Sacralizar Trump não tem impedido o chanceler de manter contatos com o ídolo. Embora tenha sido esnobado na primeira visita oficial de Bolsonaro a seu homólogo americano – foi preterido no Salão Oval pelo deputado federal e candidato a embaixador brasileiro nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro –, o chanceler teve 30 minutos com Trump depois que este voltou da reunião do G7. Estava novamente em companhia do 03, que, segundo relatos, portava-se como seu chefe. Eduardo tuitou que “a tradição da diplomacia brasileira (Barão do Rio Branco) é a boa relação c/ EUA” e que “esta visita marca uma nova fase nesta relação e dá um recado p/ mundo: os EUA não apoiarão qualquer investida contra nossa soberania”. A Amazônia ficou de fora na tuitagem de Trump sobre o encontro: preferiu celebrar a ampliação pelo Brasil da cota isenta de taxa de importação de etanol, combustível que o Brasil é grande produtor e, até onde se sabe, está bem longe da dependência externa. n


PODER INDICA

FOTO DANIELA FANTI/DIVULGAÇÃO

REVOLUÇÃO NA PÓS-GRADUAÇÃO Cerca de 20% dos graduados sonham com a possibilidade de conquistar um título de mestrado, ou seja, 6,2 milhões de brasileiros. A dificuldade para realizar esse objetivo começa pela baixíssima oferta de vagas nas universidades públicas ou pelo alto custo das universidades privadas - o valor médio de um mestrado no Brasil é de R$ 3o mil. A conta entre os que sonham e os que realizam nunca fecharia e foi justamente nessa lacuna que surgiu a MINHABOLSA.ONLINE, uma plataforma de busca de bolsas de mestrado e doutorado, além de cursos de pós-graduação, capacitação profissional e técnicos, internacionais e nacionais, com a possibilidade de integralização de créditos educacionais, dependendo da opção, e estes têm a possibilidade de serem reconhecidos. A startup, que funciona em todos os países lusófonos, desenvolveu um software que otimiza a busca por bolsas no mundo inteiro. Ou seja, o tão almejado mestrado ou doutorado internacional com

bolsas de até 100% está a, literalmente, um passo, já que com o sistema o aluno não precisa nem sair do país. E o MinhaBolsa.Online oferece mais: a integralização também pressupõe a conversão da pós-graduação lato sensu (MBA e especializações) em stricto sensu (mestrado e doutorado). Através de um banco de dados com mais de mil livros digitais e videoaulas, os estudantes terão acesso a aulas traduzidas, acompanhamento pedagógico e orientação para o desenvolvimento da dissertação ou tese. A startup, além de ter sede no Brasil, está preparando uma filial na Europa, mais precisamente em Portugal, para atender melhor os continentes europeu e africano. “Esperamos democratizar e reimaginar a educação para que qualquer pessoa, em qualquer lugar, independentemente de seu status social ou renda, possa ter acesso à educação”, esclarece o CVO da startup Antônio Cardim. +MINHABOLSA.ONLINE


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PARLATÓRIO

ALEXANDRE FROTA

Eleito deputado federal pela primeira vez na onda do bolsonarismo, Alexandre Frota foi um dos principais operários no jogo de forças da Câmara no primeiro semestre. Tornou-se crítico feroz do presidente com sua voz grossa, acabou expulso do PSL e bateu asas para o ninho tucano de João Doria. De casa nova, não perdeu a acidez e apontou a mira para a direita. “Não fez bem para mim” POR DADO ABREU FOTOS JOÃO LEOCI

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iz-se que a decepção vem de quem menos se espera. Não parece este o caso do deputado federal Alexandre Frota, eleito com 155 mil votos pelo PSL e transformado em Judas por boa parte de seus incrédulos eleitores desde que soltou a voz grossa contra o governo Bolsonaro e bateu asas para o ninho tucano do PSDB a convite do governador João Doria. “Estou com 55 anos e não tenho mais tempo de chutar bola na trave”, explica ele, que teve o passe disputado em alto capital político por DEM, PRB, Podemos, PL, Patriota, PP e MDB. “O pessoal do Psol, com quem tenho boa relação, também pensou em me convidar porque eu bati no Jair mais do que eles”, brinca Frota, sobre os “adversários, não inimigos” de esquerda antes de subir o tom e falar sério sobre sua expulsão do PSL: “Fui eleito para lutar pelas coisas que acredito e isso tenho feito. Não fui mau-caráter com o presidente, não sou traidor, não votei contra, mas não posso compactuar com certas coisas. Para mim basta, hoje eu quero Bolsonaro longe de mim. É hora de o couro comer”. Nem sempre foi assim. A lua de mel entre Frota e Bolsonaro, para usar uma metáfora conjugal

como o presidente bem gosta, durou pouco mais de seis meses. No período em que o casamento prosperou o deputado, em seu primeiro mandato, vestiu a camisa do capitão – um tanto apertada, vá lá, em razão de seu 1,88 metro e 126 quilos – e como vice-líder do PSL comandou com extrema habilidade política a tramitação da reforma da Previdência. Com o presidente da Casa, Rodrigo Maia, com quem tem excelente relação, conduziu o diálogo entre Executivo e Legislativo e foi, contra todas as apostas, um dos principais artífices no jogo de forças da Câmara no primeiro semestre. A foto do “Dia D” da aprovação do texto-base em primeiro turno comprova. Nela, Frota aparece comemorando em pé atrás de Rodrigo Maia na mesa diretora. Escolheu ficar ao centro da imagem, nem à direita, tampouco à esquerda. “Grudei nele quando percebi que a votação caminhava para o fim. ‘Daqui eu não saio, pensei’. Porque é uma imagem histórica, quero mostrar para os meus filhos, netos, vai estar nos livros.” Ele fez mais. Ator em 12 novelas, dezenas de filmes, entre eles alguns pornográficos para deleite de seus críticos moralistas, cuidou de toda a ambientação de cena. Naquela manhã de 12 PODER JOYCE PASCOWITCH 33


de agosto, acostumado a chegar cedo no Congresso para se inteirar da pauta com seus assessores, pediu a um deles que comprasse centenas de bandeirinhas do Brasil. Escondeu-as numa caixa de papelão sobre uma das bancadas do plenário e quando a vitória era certa as distribuiu aos deputados favoráveis ao texto. “Nós com o símbolo maior do Brasil nas mãos e a esquerda segurando cartazinhos de ‘não à Previdência’. Quem está a favor do país?”, indaga. “O Rodrigo [Maia] vai me dever para sempre essa! (risos).” Voz independente numa política cada vez mais sectária, no segundo turno Frota tomou a decisão de se abster da votação contrariando a orientação do PSL. Com o triunfo garantido, alegou protesto por ter sido retirado da vice-liderança do partido, no que acabou sendo a primeira retaliação da sigla pelas críticas abertas e em alto e bom som ao presidente Jair Bolsonaro. A decisão sumária veio poucos dias depois, com sua expulsão do Partido Social Liberal definida por unanimidade entre os nove dirigentes votantes. A justificativa, segundo Luciano Bivar, presidente do PSL, foi a de que o deputado feriu o regimento interno do partido. “Na realidade foi bom. Essa direita não me fez bem. Eu tirei um peso das costas em ter que trabalhar por esse governo que não sabe articular, era um fardo”, avalia Frota. “Construíamos muros dentro do Congresso e o Bolsonaro vinha e derrubava. Repetidas vezes.” Repetidas vezes também foram as conversas do depu-

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tado com a reportagem de PODER nas últimas semanas. Do primeiro encontro durante uma deliciosa bacalhoada no restaurante La Tambouille, em São Paulo, à publicação desta entrevista, Frota trocou de partido, saiu e voltou das redes sociais, viu a Amazônia queimar, o acordo entre Mercosul e União Europeia naufragar, o governo entrar em rota de colisão com a França de Emmanuel Macron e Queiroz misteriosamente reaparecer. “Bolsonaro é uma fábrica de munição para o inimigo. Precisava, por exemplo, trazer à tona a história do pai do Felipe Santa Cruz [Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, morto pelo regime militar] ou dizer que comemoraria 1964 nos quartéis?” Embora discorde das atitudes do presidente, o deputado, sobrinho-neto do general Sylvio Frota (1910-1996), ministro do Exército no governo Geisel e com quem, diz, teve pouco contato, não crê que a ditadura tenha sido um período de “anos de chumbo”. “Tivemos sucessos em outros campos também.”

COACH FROTA

Quando chegou à Câmara dos Deputados, Frota pisou no carpete verde bastante desacreditado. Era o ator pornô, o homem-bomba. O protagonismo só veio depois da fatídica sessão da Comissão de Constituição e Justiça em que o ministro Paulo Guedes foi alvo de deputados de esquerda e


ILUSTRAÇÕES ISTOCKPHOTO.COM; FREEPIK

“Tirei um peso das costas em ter que trabalhar por esse governo que não sabe articular” chamado de “tchutchuca” por Zeca Dirceu, do PT. Quando o insulto aconteceu, o então vice-líder e maior figura, literalmente, do PSL intercedeu e, adotando táticas de futebol americano – esporte em que é bicampeão brasileiro pelo Corinthians –, colou no ministro e o acompanhou em retirada pela saída da sala. Como um segurança. Passou então a fazer parte do núcleo duro do partido e a gozar de boa relação com Guedes, o pivô forte do governo em tempos de estagnação econômica. E mais: a dar nome ao grupo de WhatsApp, “Coach Frota”, que incluía parlamentares

do PSL, do centrão, e integrantes da linha de frente da equipe econômica na batalha pela aprovação da reforma. “Vamos lá, falta apenas um tempo de jogo, tá certo?! Agora é mão no peito e cabeça no queixo, vamos passar por cima igual a um trem. E vamos ganhar”, incentivou seus pares, via mensagem de áudio, na tarde da votação em segundo turno. Dito e feito. Touchdown e vitória retumbante do time reformista sob comando do coach Frota. “O pai da reforma é o Paulo Guedes, mas o Rodrigo Maia é o padrasto. Esta reforma só saiu porque nós, eu incluso, fomos os articuladores.” A análise e o entendimento do jogo político por parte do deputado não condizem com a postura de um iniciante. Nem de longe. Para chegar a esse nível de conhecimento, Frota, desde que desembarcou em Brasília, tratou de usar o Parlamento para... Parlar. Nos primeiros 200 dias de mandato ele havia subido cerca de 150 vezes ao púlpito do plenário para dar o seu recado. Buscava se fazer ouvir e encontrar o seu espaço. Assim o fez e segue fazendo agora no PSDB, diariamente no contrafluxo de seus colegas. A labuta começa bem cedo. “Acordo às 4h30 e dou uma olhada na internet para ver o que está acontecendo. Depois vou ao parque e caminho por uns 40 minutos; deixei de ser refém do corpo. Volto para o hotel [Frota prefere o Nacional aos apartamentos funcionais], tomo banho, café e vou trabalhar. Chego no gabinete perto das 8h e me rePODER JOYCE PASCOWITCH 35


“É bom falar, mas tem vezes que é melhor calar. Só o Bolsonaro que não entendeu isso” úno com os assessores que me explicam, com requinte de detalhes, todas as pautas do dia.” Ele conta que se tornou referência para seus pares, que tiram dúvidas sobre os mais variados assuntos da agenda: “Vai votar como, deputado Frota?”, perguntam. O almoço é antes do meio-dia, para poder estar sempre entre os três primeiros inscritos nas sessões da Casa. “É bom falar, mas tem vezes que é melhor calar. Só o Jair Bolsonaro que não entendeu isso”, ataca o agora peessedebista.

ALMOÇO EM FAMÍLIA

“Bolsonaro é um cara muito inseguro, não à toa se cercou do Exército. Ele fala que vai colocar a camisa do Flamengo para ir ao Maracanã, mas se alguém com coragem o questionar, por qualquer motivo, ele muda de ideia e sobe a rampa do estádio com a torcida do Fluminense.” A alegoria futebolística, outra das prediletas do presidente, serve para Frota falar sobre as influências externas do governo. Com relação a principal delas, que aponta para os filhos de Bolsonaro, ele lembra de uma história pitoresca quando almoçava no palácio com o presidente e o general Santos Cruz (ex-ministro da Secretaria de Governo) e o assunto

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dos filhos veio à mesa. O presidente, então, pediu a Frota que explicasse ao general que tudo não passava de “intriga da oposição”, que os herdeiros não iam ao pai diariamente dar pitacos sobre os rumos do governo e... “No exato momento em que ele falou isso o Carlucho [Carlos Bolsonaro] bateu na porta. ‘Oi, pai. Tudo bem?’. Na mesma hora, cara! No timing perfeito, parecia deixa de novela”, ri. Carlos, o Zero Dois, é vereador da cidade do Rio de Janeiro. Alexandre Frota ainda fez críticas à indicação do nome de Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, à Embaixada dos Estados Unidos. A possibilidade enfrenta resistência do Congresso e na opinião pública. “Não tenho nada contra ele. Mas acho que há profissionais, diplomatas, pessoas de carreira que estão lá há mais tempo e que deveriam ter a oportunidade”, argumenta. “Pode não ser nepotismo, talvez, mas com certeza não é a nova política.” Outro alvo é Olavo de Carvalho, figura controversa e de voz ativa, guru do presidente Bolsonaro, a quem Frota costumou chamar de “Jim Jones brasileiro” em referência ao fundador e líder do culto Templo dos Povos, famoso nos anos 1970 devido ao suicídio/assassinato em massa de 918 dos seus membros na Guiana. “Olavo


CONSUMO

FOTOS REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

POR ANA ELISA MEYER

não é escritor, não é filósofo, não é nada. É só um maluco, um charlatão respeitado pelo Jair. Não dá para entender, é um desastre.” Nas redes sociais, é comum embates entre Frota e Olavo com troca de jargões chulos e longe do decoro. Segundo Frota, que faz questão de cuidar da sua própria conta no Twitter, faz parte da tática olavista. “Primeiro ele esculacha quem ele quer derrubar, depois vêm os micos amestrados dele e metralham nas redes sociais e, por fim, entra o rei e manda embora de um jeito absurdo. É um governo paralelo. Se eu soubesse que estaria colocando no Planalto o Olavo de Carvalho, eu não teria votado no Bolsonaro”, afirma. O arrependimento não matou o deputado, mas o ensinou algumas lições no convívio próximo com o presidente. Ingratidão, segundo Frota, é a principal delas. “Bolsonaro é um cara que te usa e depois descarta. Em quem não se pode confiar, não cumpre o que fala, não cumpre promessas. Tem o ego inflado e a cadeira de presidente ficou enorme para ele.” Mas os tempos são outros. Alexandre Frota agora se diz feliz e honrado com o convite do PSDB e espera escrever sua história no partido como os velhos caciques tucanos – ainda que alguns torçam o bico para sua chegada, FHC incluso. “Vejo um partido renovado com o João Doria. Nem me interessa o PSDB do passado, assim como eu não posso passar uma borracha no meu passado. Sei que sou odiado por muitos, também amados por tantos, mas acima de tudo respeitado por todos. Não vou adotar falsa modéstia.” n

FANNY ARDANT E FRANÇOIS TRUFFAUT

Fanny Ardant protagonizou grandes filmes, mas, para os mais cinéfilos, a atriz sempre será lembrada pela parceria com François Truffaut nos filmes A Mulher do Lado (1981) e De Repente, Num Domingo (1983), os dois últimos longas deste que é um dos fundadores do movimento nouvelle vague e um dos grandes ícones da história do cinema do século 20. Fanny e Truffaut foram casados por quatro anos, até a morte do cineasta francês em 1984, aos 52 anos. Hoje, com 70 anos, Fanny continua no mundo da sétima arte atuando e dirigindo. PINGENTE Vivara no Iguatemi SP R$ 1.012 vivara.com.br

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CHALEIRA Le Creuset R$ 500 lecreuset. com.br

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MINAS & ENERGIA

ILUSTRAÇÃO MACROVECTOR/FREEPIK; FOTO GETTY IMAGES FONTE: DNPM

A POLÊMICA DA TABELA PERIÓDICA

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Tido como panaceia para os males brasileiros por Jair Bolsonaro, o nióbio, minério que o país é o principal produtor, pode estar longe de ser tudo isso POR ANDERSON ANTUNES

E

mbaixador do Brasil em Washington durante o segundo governo de Getúlio Vargas, que durou entre 1951 até o fatídico suicídio do político três anos mais tarde, o banqueiro mineiro Walther Moreira Salles (19122001) manteve até o fim da vida ótimas relações com muitos poderosos dos Estados Unidos. Um deles era o almirante da Marinha Arthur W. Radford, que em 1965 convenceu o lendário fundador do Unibanco (fundido em 2008 com o Itaú, e a partir daí o maior banco privado do país) a investir em um metal até então praticamente inexplorado comercialmente em qualquer lugar do mundo: o nióbio. Tudo porque ele possui uma muito interessante propriedade: apenas 100 gramas de nióbio são capazes de tornar uma tonelada de aço muito mais forte e maleável. Membro do conselho da mineradora americana Molycorp Inc., que detinha os direitos de exploração de nióbio em Minas Gerais, Radford conseguiu que o amigo abastado comprasse uma participação majoritária na Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). A quase despretensiosa aposta de Moreira Salles nos anos 1960 virou uma dinheirama em 2011, quando 30% da mineradora foi vendida para um grupo de investidores asiáticos por US$ 3,9 bilhões. Avaliada em US$ 13 bilhões graças ao negócio, a CBMM hoje responde pela maior parte da fortuna de quase US$ 23,2 bilhões dos herdeiros do ex-embaixador. Com isso, Fernando

Roberto, Walter, Pedro e João Moreira Salles, controladores do Itaú Unibanco junto com as famílias Villela e Setubal, podem se dar ao luxo de dizer que o banco é um ativo secundário nos próprios portfólios. Na tabela periódica, o nióbio da fortuna dos Moreira Salles leva o número atômico 41. Parece um número pouco cabalístico, ordinário demais para algo que é tido como a salvação da lavoura. Mas seria mesmo o nióbio, como dizem seus apologistas, o novo petróleo?

Nesse time, o mais famoso deles é Jair Bolsonaro, que, ainda em sua época de possível pretendente ao Planalto, visitou a sede da CBMM em Araxá, a fim de mostrar a seus seguidores nas redes sociais o tesouro que chegaria a descrever como “a maior riqueza nacional”. Já como presidente, em junho, na viagem que fez ao Japão para encontro do G-20, fez mais propaganda num vídeo em que mostrou colares e pingentes feitos com o metal de transição. “A vantagem em relação ao ouro são as cores

PRODUÇÃO NACIONAL DE NIÓBIO POR ANO 1965 1967 1969 1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2008 2009 2010 2011 2012 10 MIL TON

30 MIL TON

50 MIL TON

70 MIL TON

PODER JOYCE PASCOWITCH 39


PRODUÇÃO NACIONAL DE NIÓBIO POR ESTADOS em milhões de toneladas Catalão

170,2 AM 42,1

RO Presidente Figueiredo e São Gabriel da Cachoeira

400,7

95,7 GO

MG

Itapuã do Oeste, Cujubim e Candeias do Jamari

que variam e ninguém tem reação alérgica ao nióbio. Isso custa US$ 1 mil, quase R$ 4 mil. De ouro, acho que pelo peso valeria uns R$ 3 mil no Brasil”, afirmou. Bolsonaro se anima com o metal, mas há gente que o vê muito mais como um ouro de tolo. De acordo com estimativas de mercado, as receitas globais geradas pelo nióbio giram em torno de US$ 3 bilhões por ano. A CBMM responde por cerca de 80% desse montante, uma vez que detém 84% das reservas mundiais do metal – o Brasil é dono de 98%. O segundo maior produtor mundial é o Canadá, com 2% das reservas totais, suficientes, contudo,

40 PODER JOYCE PASCOWITCH

para atender uma vasta relação de clientes, principalmente as empresas de tecnologia. Da CBMM sai sobretudo uma versão do nióbio feita para ser misturada ao ferro e, portanto, ideal para as indústrias nuclear e de construção civil. De resto, usa-se o metal na produção de lentes ópticas, tomógrafos e afins, produtos que não são fabricados aos montes. Se uma nação dependesse disso para se reabilitar de suas agruras econômicas, certamente teria problemas. Some-se a isso o fato de que o nióbio é perfeitamente substituível, sobretudo por vanádio e titânio, já que ambos cumprem a mesma função e

são mais fáceis de serem encontrados; além disso, o Brasil exporta o metal exclusivamente como matéria-prima, sem grande valor agregado. Por ano, são produzidas aqui aproximadamente 100 mil toneladas de nióbio, uma pequena fração das estimadas 842 milhões de toneladas que existem em solo brasileiro e cujo valor total pode chegar a US$ 22 trilhões – duas vezes o PIB da China. Ao ritmo de exploração do momento, seriam necessários mais de 8.400 anos para que as reservas nacionais de nióbio chegassem ao fim, e mesmo diante da possibilidade remota de aumento considerável de produção,

FOTOS ACERVO IMS; REPRODUÇÃO FONTE: DNPM

Araxá


O SR. NIÓBIO A CBMM não teria se transformado na potência que é hoje sem a dedicação de José Alberto de Camargo, que durante 30 anos foi quem deu as cartas na joia da coroa dos Moreira Salles. Executivo chegado a algumas excentricidades, como a de manter um leão no escritório da companhia em Araxá – o animal serviria para encantar clientes e investidores em potencial –, Camargo fez de uma empresa de porte médio a líder de seu setor. Ele abriu frentes de negócios em 40 países – entre eles a então União Soviética e a China, mercados que desbravou no auge do socialismo real. Aposentado desde 2006, ele contou suas experiências num livro lançado no ano seguinte e devidamente intitulado Memórias de um Vendedor de Nióbio. Na obra, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outro entusiasta do nióbio, é só elogios a Camargo: “Uma das coisas boas que aconteceram em minha vida”. Os dois se conhecem desde a época da fundação do Instituto da Cidadania (que daria lugar mais tarde ao Instituto Lula) nos anos 1990, instituição que teve vários de seus projetos sociais apoiados pela CBMM.

O banqueiro Walther Moreira Salles, que legou aos filhos o Unibanco e muito nióbio, e Bolsonaro no Japão com as bijuterias do metal

os lucros não seriam tão atrativos. Tão entusiasta do nióbio quanto Bolsonaro, e talvez o maior inspirador do presidente nessa área, o ex-deputado federal por São Paulo e eterno candidato à Presidência Enéas Carneiro defendia a manutenção de um monopólio nacional de exploração do metal. Era, para ele, uma questão de “salvação”. Curiosamente, apesar de seu nacionalismo quase de caricatura, o homem do bordão “meu nome é Enéas” não se entendia com a tur-

ma do “petróleo é nosso”. De Monteiro Lobato até os dias de hoje, o petróleo encontra defensores apaixonados, mas Carneiro sempre enxergou mais potencial no nióbio. Especialistas não dão ao nióbio esse estatuto de panaceia para os males brasileiros. O metal é, sim, muito valioso, como prova o patrimônio somado dos Moreira Salles. Mas ele está longe de ganhar a importância que o “ouro negro” segue tendo, mesmo que de maneira declinante, na geopolítica mundial. n PODER JOYCE PASCOWITCH 41


Claude Troisgros veste terno e camisa Ricardo Almeida; Batista usa terno, camisa e gravata Ermenegildo Zegna


ENSAIO

BAIÃO DE DOIS Gringo mais querido do Brasil, o chef francês Claude Troisgros se prepara para estrear um reality na Globo – sempre acompanhado de seu fiel Batista – e posa para estas “marravilhas” de fotos alegres, que casam bem com sua filosofia profissional: “Comida é felicidade!” por fábio dutra

fotos pedro dimitrow

“E

styling cuca ellias

u tô ou não tô a cara do deputado do A Praça É Nossa?!”, pergunta Batista, o fiel escudeiro do chef Claude Troisgros na vida e na televisão, para arrancar gargalhadas generalizadas antes de começar a posar para as saborosíssimas fotos deste ensaio. Troisgros, o mais carioca dos franceses – para usar o clichê, extremamente preciso neste caso –, abandonou a Roanne natal e a trajetória, digamos, mais linear à frente do restaurante que leva o nome de sua família e enverga as pesadas três estrelas Michelin desde os anos 1960, para vir tentar a sorte no Rio na década seguinte. Enganaram-se os que apostaram que sua carreira iria azedar ou passar do ponto: ele fez foi bonito ao usar o melhor da técnica francesa tradicional e uni-la ao mais inusitado da variedade de ingredientes tropicais. Combinação que levou a Nova York nos anos 1990, onde foi sucesso absoluto de crítica e provou para si mesmo e para quem mais duvidasse que tinha tamanho na gastronomia internacional. Foi no Olympe, restaurante que leva o nome de sua mãe, no Rio de Janeiro, que ele propôs a Marluce Dias, diretora da Globo e habituée da casa, levar à tevê fechada um programa de culinária gravado lá mesmo. Ela gostou e ele estreou no GNT, com sucesso imediato. Os chamados a “Batiste”, com forte sotaque francês, ganharam o público, que passou a pedir que o assistente participasse mais ativamente das gravações. Deu certo, e a dupla, depois de anos fazendo sucesso a cabo, terá um programa para chamar de seu na vênus platinada: Mestre do Sabor estreia em outubro num formato reality que terá, na primeira temporada, a participação dos chefs Leo Paixão, do belo-horizontino Glouton, Kátia Barbosa, do Aconchego Carioca, e o lisboeta José Avillez, fenômeno europeu recente. Todos focados em comida de verdade, que fala à alma: “Aprendi com o Paul Bocuse [um dos fundadores da nouvelle cuisine française ao lado de nomes como Pierre e Jean Troisgros, pai e tio de Claude,


Terno Hugo Boss, echarpe acervo pessoal. Na pรกg. seguinte, terno e camisa Ermenegildo Zegna, sapato Sapataria Cometa


“A comida pode ser extremamente criativa e continuar sendo uma porcaria�


Claude: terno, camisa e gravata Ricardo Almeida. Batista: terno, camisa e gravata Ermenegildo Zegna, relรณgio Jaeger-LeCoultre


respectivamente]: a comida pode ser extremamente criativa e continuar sendo uma porcaria!”, ri o chef mais querido da tevê. As coisas pra valer são mesmo a linha de alguém que viaja o Brasil de motocicleta todo ano para conhecer o sertão do país dormindo na casa das pessoas e aprendendo sua maneira de viver e de cozinhar, que diz que o enochato cheio de regrinhas é o pior tipo de cliente e que julga seu melhor restaurante o Chez Claude, casa carioca que não tem divisórias entre fogão e mesas, com 30 lugares e “comida na panela no centro da mesa pra compartilhar”. “Comida é felicidade!”, não cansa de repetir. Alguém assim, claro, gosta mesmo é de uma boa história. E é assim, com um causo desses de matar de rir o piadista Batista, que ele explica que seu sotaque não tem nada de forçado (e que quando ele está agitado ninguém em volta o entende): “Uma vez minha mulher foi a um médico que não sabia da nossa relação e o papo enveredou por televisão; o cara disse, com a maior certeza do mundo: ‘Sabe aquele cozinheiro que puxa os erres? É amigo de um amigo que me contou que quando desligam as câmeras ele fala normal!’”, diverte-se – rasgando bastante os erres, bien sûr. A jovialidade de Troisgros também chama a atenção: aos 63 anos, em meio a um quadro nacional tão conturbado econômica e politicamente – “acho um momento importante e delicado para o país, mas passageiro” –, ele emprega 400 pessoas, está pensando em abrir um restaurante em São Paulo e acaba de lançar uma linha de biscoitos de polvilho gourmet, uma espécie de biscoito Globo nos sabores curry, chocolate e pecorino a R$ 5. Deve ser pra homenagear a nova emissora. n

As marcas deste ensaio estão disponíveis nos shoppings Iguatemi SP, JK Iguatemi e Pátio Higienópolis Beleza: Ale Fagundes (Capa MGT) Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Produção de Moda: Jaqueline Cimadon Assistente de fotografia: Adrian Ikematsu


VIAGEM

SAVANA EM EQUILÍBRIO

48 PODER JOYCE PASCOWITCH


No coração de Laikipia, entre o Monte Quênia e o Rift Valley, o lodge Segera Retreat, do alemão Jochen Zeitz, se espalha por 55 mil hectares. Com suas vilas sofisticadas, proporciona uma experiência mais do que luxuosa na savana. Arte, gastronomia, bem-estar e sustentabilidade esperam o viajante no Quênia texto e fotos corinna sagesser

FOTO DIVULGAÇÃO

Imersão c ult das tribos ural com represent an lo a borana cais, como a samb tes e a turkan uru, a

Proteção à vida animal é mandatória. Nos passeios de jipe pelas extensas savanas é comum o encontro com elefantes, girafas, antílopes, leões e leopardos; para os hóspedes, as refeições são servidas sempre em lugares diferentes do Segera Retreat. Com direito a vista da planície dourada sem fim e de seus “protagonistas”, os bichos

PODER JOYCE PASCOWITCH 49


Incentivo à cultura local, às comunidades do entorno e ênfase na conservação da fauna e da flora são princípios máximos do lodge. Não é em qualquer lugar, afinal, que leopardos dão o ar da graça

Vinhos d e uma esta várias procedênc ias da no Qu ênia com para me il fau t

FOTOS DIVULGAÇÃO

O Ninho de Pássaro, torre com visão panorâmica da savana, e, nas fotos abaixo, o lodge e sua vista fascinante

50 PODER JOYCE PASCOWITCH


PODER INDICA

Cacciucco na Moqueca

FOTOS TADEU BRUNELLI/DIVULGAÇÃO

COZINHA ORIUNDI

Aos 30 anos, os feitos do chef LUIZ FILIPE SOUZA, do Evvai, assemelham-se mais aos de um velho alquimista da cozinha. Neste ano ele foi premiado com uma estrela no cultuado Guia Michelin e, fosse pouco tocar os céus, ainda representou o Brasil na final do Bocuse d’Or – concurso bienal realizado em Lyon considerado a Copa do Mundo da gastronomia. A fase saborosa vem na esteira do sucesso do Evvai, restaurante em São Paulo onde o chef explora o intercâmbio cultural surgido a partir das imigrações da Itália para o Brasil, unindo as tradições e receitas europeias a ingredientes nativos. “É a cozinha italiana transmutada, ‘oriundi’, que significa ‘originário’, termo usado para definir os imigrantes que vivem longe da Itália”, explica. Respeitando a sazonalidade das matérias-primas, a casa serve pratos contemporâneos, que têm como base ingredientes garimpados entre pequenos produtores, dos queijos aos méis nativos, em receitas de técnica elaborada e apresentação primorosa como o Cacciucco na Moqueca (foto), paralelo entre dois tipos de cozidos de peixe, um da Itália, o outro do Brasil.

“Desde que comecei como estagiário do [Salvatore] Loi no Fasano, isso em 2008, naquele boom da gastronomia, me debrucei na culinária italiana, em suas diferentes cozinhas. Fiquei realmente bitolado, li e pesquisei tudo, aprendi o idioma, fui estudar fora”, conta Luiz Filipe, que seguiu com o mestre no Girarrosto, Mozza Bar – onde teve seu primeiro cargo de subchef – Loi Ristorantino e Salvatore Loi – este último no local onde hoje funciona o Evvai. Moderno e provocativo, o cardápio de Luiz Filipe Souza no Evvai tem como principal menu-degustação o estrelado Oriundi, em nove tempos, e com pratos já clássicos como a bomba de vieira com lardo da Serra da Bocaina (SP) e plantas alimentícias não convencionais e o ravióli de porcini de Lages (SC) servido com um língua cozida à baixa temperatura – uma das especialidades do chef. O Oriundi sai por R$ 370 (pessoa) e pode ser harmonizado (R$ 230 extras). Há também uma degustação mais curta, com cinco etapas. +EVVAI.COM.BR


SOB MEDIDA POR FERNANDA GRILO

GEORGE MOURA Com sete indicações ao Emmy, o prêmio máximo da televisão mundial, o roteirista pernambucano se destaca ao assinar tramas elaboradas e polêmicas, entre elas, Amores Roubados e Onde Nascem os Fortes, da TV Globo. Em seus trabalhos mais recentes, trata da dependência química na série Onde Está Meu Coração e do universo do desejo no filme Crônica da Casa Assassinada PRIMEIRA LEMBRANÇA DO RECIFE?

O mar com arrecifes e minha casa de muros baixos. TV DO FUTURO?

Com mais histórias do Brasil profundo, mais universal. EM QUE MOMENTO SURGEM SUAS MELHORES IDEIAS?

Exausto após buscar muito por elas, num espanto. A MELHOR HORA DO DIA:

Quando tudo já foi feito e há espaço para o ócio lúdico. FRASE PREFERIDA:

Embaixo de um relógio analógico sem ponteiros no escritório da Hilda Hilst: “É mais tarde do que supões”. TEM VÍCIO?

Se tenho, não lembro. Devo acreditar que é virtude. GADGET PREFERIDO?

Livro de bolso. PEÇA DE ROUPA FAVORITA? SER BEM-SUCEDIDO É?

Não precisar agradar a todos e nem atender a todos os pedidos. ONDE E QUANDO É MAIS FELIZ?

De férias, cheio de nada para fazer. UM MEDO?

Uma doença paralisante. UMA PESSOA QUE TE INSPIRA?

Os que acreditam que não têm nada a perder. QUEM VOCÊ GOSTARIA DE SER?

O poeta Fernando Pessoa, por ser tantos em um só. LUGAR PREFERIDO NO MUNDO?

O deserto. COM O QUE SE PREOCUPA?

Com os filhos. E SE FICASSE INVISÍVEL POR UM MINUTO?

Tiraria a roupa e mergulharia num espelho d’água. SE POSICIONAR É?

Ser quem deseja, sem desrespeitar nem ser servil.

52 PODER JOYCE PASCOWITCH

FOTOS FÁBIO ROCHA/DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES; FREEPIK; REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

A que não aperta e tem cheiro suave.


NÃO PODE FALTAR NO CAFÉ DA MANHÃ?

Jornal impresso, café forte e beijo na boca. ARTISTA PREFERIDO?

Coreógrafa e bailarina Pina Bausch.

MAU HUMOR: UM ÍDOLO?

O poeta Ferreira Gullar.

Com gente que não se importa com o outro e acha que o espaço público é privado, vide bicicletas elétricas, os que não param no sinal e os que não coletam os feitos dos seus cachorros.

MELHOR FILME?

O Enigma de Kaspar Hauser, do diretor Werner Herzog, me tirou do eixo.

PERSONAGEM INESQUECÍVEL?

Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro Lampião. ESCRITOR:

O poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto de “Uma faca só lâmina”, “Cão sem plumas” e tudo o mais.

UMA MANIA?

Pontualidade. A PRIMEIRA COISA QUE FAZ QUANDO CHEGA AO TRABALHO?

Respiro e penso: vai ser bom e divertido. UM SONHO DE INFÂNCIA?

Dar a volta ao mundo de carro, sem um roteiro prévio nem prazo para o fim. O QUE SEMPRE FALTA NA SUA CASA?

MÚSICA QUE MARCOU A VIDA?

“Coqueiros”, de Geraldo Azevedo: “Na paisagem do teu corpo / Vou deixar meu sorriso”.

Algum item para aplacar a fome das bocas vorazes, que demanda uma ida ao mercado (ou à feira). MELHOR NOVELA DE TODOS OS TEMPOS?

Estúpido Cupido, de Mário Prata, por seu frescor e inocência. PODER JOYCE PASCOWITCH 53


LYDIA E JÉSSICA SAYEG

CONVIDADAS DO ALMOÇO DE PODER

INSPIRAÇÃO Uma turma de mulheres inspiradoras se reuniu no mês passado no La Tambouille em mais uma edição do Almoço de PODER. Edição, a propósito, especial. Anfitriã, Joyce Pascowitch falou sobre a alegria em juntar só mulheres: “Tivemos muitos almoços bacanas, mas por que não um apenas com o que temos de melhor, com tantas mulheres empreendedoras? Espero que este seja o início de uma longa série.”

SORAYA CORONA

ALICE COUTINHO, MARLY PARRA E MONICA BLATYTA

ESTHER SCHATTAN

BETE ARBAITMAN E DANIELA COLNAGHI

ADRIANA TRUSSARDI E ROSY VERDI

MAFOANE ODARA, JOYCE PASCOWITCH E ELIANE DIAS

MARIA LAURA TARNOW E VERONICA SERRA

FOTOS PAULO FREITAS; FERNANDO TORRES

FERVE


ADRIANA TRUSSARDI

LUIZIANA CARBONARO E JÉSSICA SAYEG

BRILHO ETERNO

Parceiro que não pode faltar nos eventos do Grupo Glamurama e com uma clientela formada por mulheres de extremo bom gosto, a Casa Leão Joalheria participou do almoço com seus presentes sempre especiais. Brilhou.

ELIANE DIAS

BETE ARBAITMAN

FOTOS PAULO FREITAS; FERNANDO TORRES

ALICE COUTINHO

ROSY VERDI

DANIELA COLNAGHI


LYDIA SAYEG ESTHER SCHATTAN

GABRIELA BAUMGART

BELEZA PURA

FOTOS PAULO FREITAS; FERNANDO TORRES

Fez sucesso entre o grupo de empreendedoras que esteve no La Tambouille o kit oferecido pela Davene. Do tipo de delicadeza que faz bem para o corpo e todo mundo gosta.

ANA MARIA IGEL BETE ARBAITMAN

ADRIANA TRUSSARDI

ALICE COUTINHO


DANIELA COLNAGHI

FOTOS PAULO FREITAS; FERNANDO TORRES

MONICA BLATYTA

LUIZIANA CARBONARO

VIDA LEVE

A Equaliv marcou presença no encontro de mulheres de PODER com produtos nutracêuticos destinados ao consumidor moderno, que busca o equilíbrio e o bem-estar. ADRIANA TRUSSARDI

REGINA GIACOMELLI

MAFOANE ODARA

MAIS EM GLAMURAMA.COM/FOTOS


CULTURA INC. POR LUÍS COSTA

ESCRETE DA TOGA Jornalistas contam em livro o dia a dia dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, corte que ganhou muita notoriedade nos últimos anos

Felipe Recondo, um dos autores do livro

“A

s pessoas acham que isso aqui é um grupo de amigos. Mas, na realidade, somos 11 ilhas.” A frase do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence revelava uma distância afetiva no mais importante colegiado

58 PODER JOYCE PASCOWITCH

da Justiça brasileira. “Hoje é diferente. Não há sensação da existência de um arquipélago”, afirma Felipe Recondo, jornalista e um dos autores de Os Onze: o STF, Seus Bastidores e Suas Crises (ed. Companhia das Letras). “Agora são 11 ilhas do ponto de vista

institucional”, afirma o autor. Há mais de dez anos cobrindo o Supremo, o repórter fez tabelinha com o ex-colega de redação Luiz Weber para narrar e analisar detalhes de processos que puseram a cúpula do Poder Judiciário brasileiro no centro do debate nacional. Do mensalão à Lava Jato, da célulatronco à união homoafetiva, o livro recupera casos rumorosos da história recente da corte. “Mesmo atentos ao mundo externo, os ministros sabem que não se podem deixar moldar pela pressão das ruas”, comenta Recondo, que salienta como a exposição atual alterou a relação do tribunal com o país. “Hoje, o tribunal fala, seus ministros falam, os votos proferidos pelos ministros conversam com a sociedade, com o telespectador da TV Justiça”, continua. “Nisso, não existe comparação entre o STF do passado e este Supremo televisionado.” A exposição fez com que o tribunal se tornasse também alvo frequente de ataque nas redes sociais. Enquanto o decano, Celso de Mello, tem feito a defesa pública da corte, Dias Toffoli, o presidente, assumiu uma postura mais contida, de negociação nos bastidores, na opinião do especialista. “Toffoli quer se colocar como quem consegue manter um bom diálogo com o Legislativo e com o Executivo, fazendo pontes”. Se uma menção a Nietzsche é cabível aqui, Recondo vê os 11 juízes como humanos, demasiadamente humanos. “Consideramos seus comportamentos, seus receios, suas histórias de vida, o fato de serem homens e mulheres comuns.”


EXPOSIÇÕES

POÉTICA DO DIVINO

Em exposição no MAM do Rio, o gaúcho Carlos Vergara procura a trilha da arte no sagrado

Vergara e os sinais do sagrado que leva agora ao MAM

Para Carlos Vergara, 77 anos, olhar para a frente é tentar resolver impasses. O artista gaúcho, radicado no Rio desde os anos 1950, volta ao Museu de Arte Moderna carioca uma década depois de sua última exposição ali. Prospectiva, que abre no dia 14 deste mês, refaz seu trabalho nos últimos 15 anos e expõe

uma ideia de porvir. Vergara também expõe na mostra a série Sudário, uma investigação sobre o sagrado. As mais recentes e inéditas peças são monotipias, fruto de uma viagem ao sul da França em maio deste ano, quando ele percorreu o caminho que teria sido trilhado pelas três Marias – Maria

Madalena, Maria Jacobé (ou Jacobina, mãe de Tiago), e Maria Salomé –, além de santa Sara, a escrava egípcia que se tornou padroeira dos ciganos. “Às vezes os sinais do sagrado são muito sutis, e esse é o trabalho da arte: revelar o invisível do visível”, afirma Vergara. Os 200 lenços da série, que remontam a uma busca iniciada em 2003, estarão suspensos na exposição, dispostos em um percurso labiríntico. A mostra tem ainda as pinturas de maior dimensão já feitas por Vergara: quadros de 5,40 x 5,40 m que retratam o bairro de Santa Teresa, onde tem seu ateliê no Rio, e o Cais do Valongo, maior entreposto de escravos africanos das Américas. “Momentos duros movidos pela voracidade de uns e o descaso de outros e que formaram a cultura brasileira com toda sua beleza e complexidade”, afirma. “Meu trabalho é deslocar essa imagem em escala real, impressa com a própria terra das escavações, para dentro do museu, e causar no público essa reflexão”, diz o artista.

PODER É

FOTOS DIVULGAÇÃO

MALUCO BELEZA Nos 30 anos da morte de Raul Seixas, o jornalista Carlos Minuano revisita a trajetória do roqueiro baiano em nova biografia. Em Raul Seixas: Por Trás das Canções (ed. BestSeller), o autor entrelaça as canções de Raulzito à sua vida e carreira. O livro conta com depoimentos de amigos, parceiros de trabalho e familiares de Raul, e ainda traz o relato de uma inusitada turnê do disco Ouro de Tolo por dois garimpos no Pará e fotos inéditas.

ARTE NO RIO A Feira de Arte Internacional do Rio de Janeiro reúne, de 18 a 22 de setembro, obras de 56 das mais importantes galerias do Brasil e do exterior. A feira terá quatro programas de exposições – Solo, Brasil Contemporâneo, Mira e Palavra –, além de debates com curadores, artistas, colecionadores e críticos de arte. PODER JOYCE PASCOWITCH 59


CONSUMO

DOWNLOAD

ANA LUIZA TRAJANO

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Quando ainda cursava administração de empresas, Ana Luiza Trajano rejeitou assumir o grande negócio da família – o Magazine Luiza – e foi estudar gastronomia. Hoje uma das chefs mais conceituadas do país, dedica-se a descobrir novos sabores nos rincões do Brasil Le Guide Fooding: Guia bacana de restaurantes e bares da França, também serve como ferramenta de reserva para bistrôs pelo país

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Strava: Com 44 milhões de usuários, é um dos preferidos de ciclistas e corredores, que podem se conectar e se desafiar por ele. Calcula o ritmo (pace) a cada quilômetro

A primeira rede social que você checa ao acordar e sem a qual não vive? Instagram. Checa quantas vezes por dia? Não tenho certeza, mas acredito que, em média, umas três vezes. Você usa algum aplicativo para se exercitar? Uso o Strava. E qual um aplicativo imperdível de gastronomia? Le Guide Fooding. Algum site ou app com dicas sobre educação e cuidados com filhos? Ou você participa de algum grupo de mães em redes sociais? Nunca usei aplicativo para cuidar dos meus filhos. E só participei de um grupo de WhatsApp uma única vez, para fazer uma vaquinha para comprar um presente para a professora. Quando viaja para lugares muito afastados para conhecer a cultura gastronômica brasileira, como você se comunica com a família? Nessas ocasiões é difícil se desconectar? Para mim não é nada difícil desconectar. Fico com comunicação restrita sem sofrer.

60 PODER JOYCE PASCOWITCH

Quando você normalmente se desconecta no dia a dia? Quando estou estudando e quando estou com a minha família. Prefere o livro físico ou aderiu aos digitais? Prefiro livro físico mesmo, gosto do papel. Como você se locomove em São Paulo? De carro ou táxi? Utilizo o Uber na maioria das vezes. Qual é a pessoa para quem você mais liga? Para a minha mãe e a minha irmã. Você é do tipo que prefere ligar ou mandar mensagem? Utilizo ambos na mesma proporção. Depende muito do momento e assunto. E música, como e quando ouve? Não me coloco na categoria daqueles que ouvem muita música. Gosto de ouvir um som na hora de pedalar e normalmente uso o Spotify para isso. Tem alguma dica de aplicativo ou site para quem não sabe quase nada de cozinha? No site do Instituto Brasil a Gosto tem muitas receitas fáceis para quem quer começar a cozinhar. Smartphone: bênção ou maldição? É uma bênção, mas pode ser maldição se não soubermos utilizar com moderação.

FOTOS DIVULGAÇÃO

BOLSA Salvatore Ferragamo no Iguatemi SP preço sob consulta ferragamo. com


CABECEIRA A LINGUAGEM DAS COISAS – DEYAN SUDJIC

O autor aborda os encantos de diversos coisas como carros, móveis e projetos arquitetônicos. E relembra como certos objetos, que se tornaram paradigmas do desenho industrial, continuam a influenciar a indústria, o comércio e o marketing. Dos excessos das passarelas aos utensílios de cozinha, mostra o quanto podemos ser manipulados e seduzidos.

FOTOS RAUL ARAGÃO/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

ESTANTE

Há mais ou menos dez anos, ANDRÉ CARVALHAL dava aulas em instituições renomadas – como a Fundação Getulio Vargas – e usava o seguinte método para orientar seus alunos: pedia a eles que escrevessem suas dúvidas em bilhetes. Em casa, lia as questões e se inspirava para preparar as próximas aulas. Como as perguntas se repetiam com frequência, percebeu que tinha um sólido material para embasar seu primeiro livro. A percepção não estava apenas correta como seria vencedora: A Moda Imita a Vida virou best-seller. Carvalhal já havia encontrado seu lugar ao sol à frente do marketing de grandes grifes da indústria da moda, como a Farm, mas não deixou de lado o gosto pelas letras e viu sua vida virar outra vez de cabeça pra baixo com o segundo livro: Moda com Propósito. Era exatamente o momento em que o setor vinha sendo acusado por suas conexões com o trabalho análogo à escravidão. “Entrevistei 50 marcas autorais e isso mudou a minha vida, a minha relação com o consumo. Depois de conhecer tantas histórias inspiradoras, pedi demissão da marca para a qual eu estava trabalhando, aquilo perdeu sentido para mim. Saí e decidi empreender com esse novo olhar”, conta ele, que hoje está à frente da Ahlma, “uma marca que contesta o formato tradicional, em que a moda é vista como expressão do ser humano e não de tendências”. Em seu terceiro livro, Viva o Fim, André Carvalhal mapeou exemplos positivos de mudanças em diversas áreas, tais como ciência, política e educação. Atualmente, ele está preparando a quarta obra, que promete ser de ficção. POR ALINE VESSONI

O FUTURO CHEGOU – DOMENICO DE MASI

ANSIEDADE: COMO ENFRENTAR O MAL DO SÉCULO – AUGUSTO CURY

Entender o que te aflige é um dos passos mais importantes do autoconhecimento. É preciso identificar e entender nossos sentimentos. O autor fala sobre problemas internos e externos que desgastam nossa mente. Diante do excesso de informações que vivemos, é importante aprender a superar o cansaço físico e emocional.

UM NOVO MUNDO – ECKHART TOLLE

A humanidade está vivendo um momento único: o despertar de uma nova consciência. Aqui, o autor procura mostrar que o salto para essa nova realidade depende de uma mudança interna radical em cada um. Enquanto busca desvendar a natureza dessa mudança de consciência, Tolle nos ensina a vencer as artimanhas que o ego utiliza para isolar as pessoas.

O sociólogo estudou 15 modelos de sociedade até o momento presente, pósindustrial. O objetivo era extrair o melhor de cada um desses modelos para assim construir um modo de vida global e inédito. O modelo brasileiro é, para o autor, o que mais se aproxima desse do futuro. É no mínimo curioso. A ERA DO CONHECIMENTO – MARC HALÉVY

Tão profundo quanto cativante, fala sobre o fim da visão moderna e antropocêntrica do mundo e sugere uma mudança radical de olhar, em que o espírito, a inteligência e o conhecimento suplantam as visões econômicas e políticas. Para ele, o homem não é mais o centro do mundo, ele está a serviço de sua evolução e tem como missão fazer essa caminhada. GAIA: CURA PARA UM PLANETA DOENTE – JAMES LOVELOCK

Lovelock apresenta neste livro a teoria de Gaia, segundo a qual a Terra é viva e pode ser considerada um superorganismo gigantesco, e ainda faz um check-up da saúde do planeta. Como qualquer outra forma de vida antiga, Gaia sofreu vários golpes, alguns sérios, e, ao que parece, a humanidade é parte do problema. O livro nos desperta para esse fato.

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TREINAMENTO CORPORATIVO por sergio chaia 2. Construa um plano para potencializar seus diferenciais. Para o empresário desta história, eles são a visão e o relacionamento com grandes clientes. Assim, essa visão especial pode virar alto engajamento dos liderados. Um novo modelo de relacionamento também deve ser adotado, com sacrifício das reuniões esporádicas e informais. A hora é de entrar com uma estrutura com roteiro, calendário e temas específicos;

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ecebi outro dia um grande empresário, desses que constroem impérios. Ele estava angustiado e, aparentemente, não tinha motivos para tanto. Afinal, há dois meses havia recebido um aporte de um fundo de private equity para reforçar o caixa e acelerar o crescimento da empresa. Ou seja, tudo para comemorar, mas seu sentimento era outro. Um misto de angústia, ansiedade e insegurança. Com o fundo vieram um novo modo de governança e dois diretores com currículos platinados. “Tenho a sensação de que meu papel ficou pesado, estes diretores me colocam uma expectativa grande como líder. O fundo quer tudo muito mais organizado e com detalhes, a gestão sofisticou. Será que eu sou a pessoa certa para essa nova fase?”, questionou. A insegurança é bem mais comum do que se pensa entre grandes líderes. Promoções, mudanças socie-

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tárias ou a simples chegada de um novo membro na equipe podem ser o início de um momento difícil. Neste caso, a sugestão natural para lidar com a situação é uma avaliação dos gaps e um plano para preenchê-los, de modo a fazer do líder o profissional completo que a empresa demanda. Mas, no mundo corporativo não vale a pena querer ser super-herói, e a indicação vai exatamente na direção oposta: deixe de ser quem você não é, foque nas suas fortalezas e monte um plano para levá-las a outro patamar. Siga estas regrinhas: 1. Faça um P&L (Profit & Loss Statement), ou seja, procure formalizar quais das suas competências geram o maior impacto possível – e não são 50 competências! Desidrate a lista para no máximo três. Depois, valide-as com pessoas que o conheçam bem. Faça o mesmo com suas fraquezas;

Do mesmo modo que a personagem desta história lidou com a insegurança, construa você o seu próprio plano e faça o movimento. Se o caso não é de insegurança, pense em como pode potencializar suas fortalezas e terceirizar as fraquezas. Certamente sua performance – e a da empresa – aumentará. n Sergio Chaia é coach de CEOs e atletas de alto rendimento e faz mentoria na Endeavor. Ex-CEO da Nextel e da Sodexo, é autor do livro Será que É Possível? (ed. Integrare)

ILUSTRAÇÃO FREEPIK; FOTO ARQUIVO PESSOAL

FORÇA NA FRAQUEZA

3. Reconheça as fraquezas e terceirize o que não faz bem: se não consegue – e nem pode – ser bom em tudo, pode aumentar a performance no que é débil. O caminho é delegar. Não se deve ter vergonha de admitir as próprias insuficiências e é salutar saber entregar a missão. No caso deste meu interlocutor que detestava rotina e detalhes, a solução foi fazer do diretor financeiro o responsável pelo gerenciamento de projetos críticos da empresa.


CARTAS cartas@glamurama.com

MENINO DO MUNDO

@daysenahas Maravilhosa foto (a de Marcos Valle, PODER 130).

FOTO MAURÍCIO NAHAS

@laurachiavone Foto mais linda. @carlaferraro Amei! Ficou bárbaro! @fernandatakai Excelente foto! /poder.joycepascowitch

DE VOLTA ÀS RAÍZES

Que história de vida inspiradora a do empresário Daniel de Jesus (PODER 130), ótima. É sempre bom lembrar: inteligência emocional é (quase) tudo no mundo dos negócios. Luiz Nunes, Curitiba (PR)

ALMOÇO DE PODER

Muito bom ler as sábias palavras do professor e ex@revistapoder

ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, sobretudo nestes tempos sombrios que vivemos (PODER 130). Luiza Macedo, São Paulo (SP)

AGENDA PODER

ERMENEGILDO ZEGNA + zegna.com JAEGER-LECOULTRE + jaeger-lecoultre.com RICARDO ALMEIDA + ricardoalmeida.com.br SAPATARIA COMETA + sapatariacometa.com.br HUGO BOSS + hugoboss.com

@revistapoder

O conteúdo da PODER na versão digital está disponível no SITE +joycepascowitch.com

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Já houve quem dissesse que Sigmund Freud (1856-1939) é hoje mais estudado nas faculdades de letras do que propriamente nas de psicologia. Para usar um termo freudiano, seria isso um chiste? E o pai da psicanálise se orgulharia dele? Aos 80 anos de sua morte, completados neste setembro, os textos de Freud mostram-se preciosos literariamente, mas não é, decantadas 12 décadas desde que publicou A Interpretação dos Sonhos e fundou a psicanálise, a estética que conta. Ainda. Freud segue atual naquilo a que dedicou sua vida e obra: o estudo do comportamento humano. Pena que os dias de hoje nos remetam mais à Psicologia das Massas e a O Mal-Estar na Civilização, títulos em que o neurologista austríaco tenta explicar como, em multidões ou em sociedades, cruzamos a linha para atravessar rumo ao lado negro da Força.

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FOTO KEYSTONE/GETTY IMAGES

DIVÃ


É com muito orgulho que o Grupo Glamurama apresenta seu caçulinha, o berinjela.com, onde selecionamos produtos de várias marcas pra lá de especiais – e, viva!, para comprar na hora. Com esmero, tentamos separar o joio do trigo, e elegemos o que cremos ser a cara de nossas leitoras. E vamos além do estilo: aqui só entra o que é feito de forma ética e sustentável. Clique e fique à vontade!



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