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CULTURA INC
POR LUÍS COSTA
Manifestação pela Anistia na Cinelândia, no Rio, em 1980
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PODER É
1 - LINHAS DE CHIHARU
Multiartista, conhecida por trabalhos em grande escala formados por emaranhados de linhas, a japonesa Chiharu Shiota é objeto de respectiva no CCBB paulistano. Entre os destaques estão a inédita instalação Além da Memória, com 13 metros de altura e inspirada no que imagina ser a diversidade do povo brasileiro, e A Chave na Mão.
2 - X-RATED
Um assassino e estuprador cruel e sanguinário. É a imagem que sobressai do perfil de João Acácio Pereira da Costa,
o famoso Bandido da Luz Vermelha, escrito pelo jornalista Gonçalo Júnior. Em Famigerado! (Ed. Noir), Gonçalo explora os 88 processos criminais que tiveram como protagonista o marginal que se tornou herói do cinema udigrudi brasileiro nos anos 1960.
3 - PRÉ-OSCAR
Em A Odisseia dos Tontos , longa argentino que representará o país no Oscar, Ricardo Darín atua pela primeira vez ao lado do filho, Chino. No filme, um grupo de amigos é vítima de um golpe financeiro e precisar encontrar uma estratégia para recuperar a grana e vingar-se dos fraudadores. De Sebástian Borensztein, de Um Conto Chinês.
4 - OUTRO OLHAR
Um guia com a diferença de apresentar São Paulo não por suas belezas, mas suas dificuldades. Este é o mote de Guia dos Lugares Difíceis, organizado por Renato Cymbalista, professor da FAU-USP. O compilado de 143 lugares destaca pontos que trazem à tona questões como violações de direitos, abusos por parte do Estado, desigualdade, mas também conquistas e mobilizações .
CARTAS DO BRASIL 79
Diretora do filme que representará o país no maior festival de documentários do mundo, Carol Benjamin vasculha arquivos da família para investigar o alcance da Lei da Anistia de 1979 “A ssim como os escritos da minha avó, meu filme também não dá conta de explicar o Brasil.” A frase é de Carol Benjamin, diretora de Fico Te Devendo uma Carta Sobre o Brasil, representante brasileiro na 32ª edição do Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, o maior do mundo dedicado ao gênero, que começa no dia 20. Neta de Iramaya e filha de César Benjamin – que, em 1971, aos 17 anos, foi preso e torturado por agentes da ditadura militar –, Carol mergulha na memória familiar para retraçar um pedaço da história do país.
O longa articula escritos íntimos, documentos históricos, reportagens de jornais e fotos de família como trilha para um passado, segundo Carol, ainda não suficientemente investigado. “O filme atesta que a Lei de Anistia promulgada em 1979 foi uma espécie de pacto de silêncio liderado pelos militares, mas aceito por amplos setores da sociedade brasileira”, diz a diretora, que concorre na categoria de autor estreante. “A lei perdoou não apenas aqueles que foram condenados por causas políticas, mas estendeu o benefício aos comandantes que cometeram crimes de lesahumanidade: torturaram e mataram pessoas em nome do regime.”
A história começa na Suécia, onde César Benjamin ficou exilado por dois anos após deixar a prisão. Lá, Carol reencontra Marianne Eyre, membro da Anistia Internacional com quem a avó Iramaya trocava cartas e de quem se tornou amiga – a frase que dá título ao doc vem de um de seus escritos.
O filme tem sua fonte mais fértil no acervo guardado por Iramaya, que morreu em 2012: ela deixou um vasto arquivo com notícias de jornais que serviram como pauta de reuniões do Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA). Carol também encontrou material inédito no Brasil, como uma gravação da TV sueca do momento do reencontro entre César e o irmão Cid, que não se viam há mais de dez anos em razão da clandestinidade.
Segundo a diretora, ao partir de uma busca pessoal, o filme acaba por atravesser os conflitos políticos do Brasil atual, especialmente na memória da ditadura. “Durante a minha vida vi e ouvi sobre a violência que ainda afeta minha família. E sinto a necessidade de transformar essas marcas pessoais em memória coletiva”, diz. “Essa falta de construção de memória permite que hoje uma parcela expressiva da população peça a volta do regime autoritário.” A perspectiva é que o filme seja lançado em circuito comercial no primeiro semestre de 2020.
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TINHA QUE
SER RAMÓN
Com arquivo pessoal inédito, filho e neto de Ramón Valdés divulgam série de vídeos sobre o ator que deu vida ao Seu Madruga, ícone pop da TV latino-americana
Édifícil encontrar quem não conheça o Seu Madruga – o morador do número 72 da vila do Chaves, que nunca encontra trabalho e deve 14 meses de aluguel ao Seu Barriga. Poucos, no entanto, conhecem Monchito, como era chamado em casa pela família o ator Ramón Valdés.
Produzida por Estéban e Miguel Valdés, respectivamente filho e neto de Ramón, uma série de vídeos no YouTube está revelando a intimidade da vida do ator que ficou célebre por dezenas de papéis na era de ouro do cinema mexicano e que se tornaria, a partir dos anos 1970, um dos ícones pop mais celebrados da TV na América Latina com o Don Ramón do seriado El Chavo del Ocho.
A primeira ideia era fazer um livro com histórias da vida de Ramón, que viria acompanhado de um DVD com entrevistas. No entanto, o projeto logo se revelou maior. “Quando nos demos conta, já tínhamos material suficiente para uma obra audiovisual”, explica Miguel.
Estéban e Miguel entrevistaram amigos, familiares e companheiros de trabalho do ator, como a atriz María Antonieta de las Nieves, a Chiquinha, filha do Seu Madruga no seriado. Eles também visitaram o Brasil e conversaram com membros de um fã-clube em São Paulo. Os vídeos têm material inédito de arquivo de família, com fotos e gravações caseiras da intimidade de Ramón, feitas em câmeras super-8. “Vamos ver como ele era em sua casa, com seus amigos, as coisas que ouvia, o que gostava de comer”, diz o neto do ator.
Ramón Valdés (ao lado) caracterizado como Seu Madruga (acima) e junto aos companheiros da histórica Turma do Chaves
Miguel conta que, quando Ramón morreu, em 1988, não tinham ideia do tamanho do carinho pelo ator na América Latina. “Também por isso quisemos fazer esse trabalho, em agradecimento às pessoas que, com seu amor, dedicaram tempo à imagem do meu avô. Queremos retribuir um pouco.”