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ESTANTE
ESTANTE Basta uma rápida olhada no portfólio do cineasta LUIZ FERNANDO CARVALHO para perceber seu fascínio pela literatura. Carvalho levou para as telas obras de Ariano Suassuna e Clarice Lispector. Sua transposição para o cinema de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, é impactante. A relação com as letras começou na infância, incentivado por seu pai, um engenheiro ferroviário que tinha uma estante repleta de romances. “Ele era um humanista com grande apreço pela literatura”, disse a PODER. Pais e filhos não apenas se serviam dos livros da estante, como costumavam comentar entre si suas leituras. Mas havia regras. Os filhos só podiam ler os livros que alcançassem com sua altura. Nas prateleiras inferiores estavam as obras infantis e, à medida que se afastavam do chão, os romances iam ganhando reflexão, subjetividade e questionamento. Carvalho diz que tentou burlar a norma algumas vezes, mas foi descoberto. “Essa forma de ir galgando a estante fazia com que eu ficasse imaginando o que encontraria lá em cima. Isso aguçou meus sentidos e formou minha leitura.”
POR ALINE VESSONI
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INFÂNCIA – GRACILIANO RAMOS
Lavoura é o livro da minha vida, sem exagero. Alguma coisa mudou aqui depois e até mesmo durante a leitura. Alguma coisa que não sei dizer o que é. E como não sou mais nenhum rapazote é bem provável que a obra não perca esse posto.
DOM QUIXOTE – MIGUEL DE CERVANTES
Obra precursora do romance moderno. Nada menos do que isso. Dom Quixote narra as andanças de um visionário, capaz de enxergar a decadência dos valores de uma sociedade que escolheu rir dos outros e não olhar para si própria. O mais emocionante e central livro do escritor – não para os críticos. Mas como entender Graciliano sem passar por Infância? Obra de enorme delicadeza, que me ajudou e continua a ajudar a compreender o Nordeste por meio de uma emoção profundamente
LAVOURA ARCAICA – RADUAN NASSAR
brasileira e universal.
O SOM E A FÚRIA – WILLIAM FAULKNER
Lendo você entende por que tantos escritores dizem-se influenciados por Faulkner. Ele quebra as noções de tempo, espaço, casualidade, alterando sintaxe, pontuação, tudo. Citando Shakespeare: “A vida é uma história cheia de som e fúria, contada por um idiota e que não significa nada”.
A DIVINA COMÉDIA – DANTE ALIGHIERI
Impossível parar de ler e reler. Abro em qualquer parte e sigo até o final. A mais extraordinária obra daquele que foi um dos maiores poetas. Emocionante aventura, em que se misturam os caracteres ardentes e reflexivos, narrada com infinita imaginação visionária.
O IDIOTA – FIÓDOR DOSTOIÉVSKI
Falando em idiota, aqui vai uma obra máxima, que traz a definição do comportamento humano. É a bíblia da moral do autor, que diz algo assim: “O Bem, quando inserido em um contexto corrupto e precário, é logo visto como um bobo, um idiota!”. Em Dostoiévski não há crônica, coloquialidade, tudo o que existe é concentração, crise, preparação para a epifania.