Revista Poder | Edição 127

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MAIO 2019 N.127

SOM E FÚRIA

Como RODOLFO MEDINA ajudou o Rock in Rio a conquistar o mundo – e os americanos da gigante do entretenimento Live Nation

FORA DA CASINHA

Algumas esquisitices dos CEOs mais poderosos do planeta

EXTERNO DESEQUILIBRANTE

MAURO CEZAR PEREIRA,

o ponta de lança livre de impedimento da imprensa esportiva

QUER PAGAR COMO?

O bom e velho dinheiro perde espaço para as novas formas eletrônicas de pagamento

ESQUERDA LIVRE

Por que políticos que defendem pautas ambientais e de justiça social proliferam nos EUA

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LUÍS MIRANDA, o ator de mil faces; dispositivos para não se estressar; as afinidades eletivas do diretor FELIPE HIRSCH; e Mônaco muito além das curvas

ISSN 1982-9469

E MAIS

R$ 14,90


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54 SUMÁRIO 4 6 10

FOTOS MAURÍCIO NAHAS; GETTY IMAGES; ANA ELISA MEYER

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EDITORIAL COLUNA DA JOYCE SONHO ENORME

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Como os Medina transformaram o Rock in Rio num meganegócio

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ALMOÇO DE PODER

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Mauro Cezar Pereira, o enfant terrible da imprensa esportiva

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26

PAGUE AQUI

Cashless: o sistema que está aposentando o velho e bom dinheiro 29 30

DOWNLOAD A COMÉDIA DE LUÍS MIRANDA

O ator que enfrenta qualquer parada

SOB MEDIDA

Felipe Hirsch sem segredos SUPERMÁQUINAS

Das pistas para as ruas

SAÍDA PELA ESQUERDA

Agendas ambientais e pautas afirmativas na nova política americana

EXCÊNTRICO, EU?

As manias nada convencionais dos poderosos CEOs

RESPIRO A ousadia do artista

multifacetado Flávio de Carvalho 48

VIAGEM

Mônaco além das curvas 52 54 56 58 60 62 63 64

PODER VIAJA COZINHA DE PODER HIGH TECH CULTURA INC. ESTANTE UNIVERSO CARTAS ÚLTIMA PÁGINA

RODOLFO MEDINA POR ROBERTO SETTON

NA REDE: /Poder.JoycePascowitch @revistapoder @revista_poder


PODER EDITORIAL

N

enhum empresário hoje em dia enxerga na diversidade um ônus. Sinal de novos e bons tempos, tempos diferentes. O exemplo da família Medina, que sonhou, criou e realizou o Rock in Rio, um dos maiores festivais de música e entretenimento do mundo, hoje com edições no Rio de Janeiro e em Lisboa e com subprodutos como um evento de games e uma academia corporativa, é inspirador. E nele, certamente a diversidade – de público, de atrações, de palcos, de interesses – contou muito para o sucesso. Diversidade também é a cara, aliás, da nova esquerda americana, bem representada pelas dezenas de candidatos que disputam vaga na corrida presidencial de 2020 pelo Partido Democrata. Também o perfil dos fundadores de quatro das empresas mais valiosas do mundo – Tesla, Facebook, Twitter e Amazon – segue esse mesmo caminho: o interesse pela diversidade está no dia a dia dos negócios que eles criaram. Enquanto isso, em um momento em que a vida digital ocupa tantos espaços, deixar de usar dinheiro, trocando-o por gadgets eletrônicos que dão muito mais comodidade a consumidores e comerciantes, não surpreende muito – mas para isso foi preciso que alguém fizesse diferente primeiro. Já no jornalismo esportivo, quem tem feito a diferença é Mauro Cezar Pereira, nosso entrevistado no Almoço de PODER e ponta de lança contra o estado de calamidade do futebol nacional. E tem mais gente fazendo a diferença por aqui: em livro, com a história do diplomata e banqueiro mineiro Walther Moreira Salles, um daqueles homens com visão de Brasil raros hoje em dia; no Ensaio, o ator Luís Miranda, de volta aos palcos com a engraçadíssima Irma Vap. Ainda bem que tudo isso aqui está realmente diverso. E viva a diferença!

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PODER INDICA

FOTOS DIVULGAÇÃO

EXPANSÃO EM FOCO

Com mais de 1.200 lojas espalhadas pelo Brasil e um portfólio exclusivo com produtos de alta qualidade, a ÓTICAS CAROL prepara um grande passo em seu plano de expansão. A rede, a maior do setor com 20 anos de história, anunciou taxa zero de franquia por tempo limitado – entre maio e julho. Fundada em 1997, em Sorocaba, um dos focos da marca sempre foi o crescimento de suas lojas, o que colaborou para números expressivos: são 1.240 lojas no Brasil, sendo que dessas, 157 ficam na cidade de São Paulo. O sucesso para as vendas fica por conta da estratégia de pesquisa, o que faz com que cada loja venda marcas e modelos preferidos do público de cada região. Além disso, outra tônica do negócio são as facilidades de parcelamento e acesso a óculos de grifes como Bulgari e Prada. Com laboratório próprio 100% digital, o primeiro de uma rede óptica na América Latina, a Óticas Carol recebe o que há de melhor no mercado mundial de confecção de lentes, com equipamentos e tecnologias que chegam antes mesmo de serem lançados oficialmente no Brasil. OTICASCAROL.COM.BR


Uma revoada de tucanos da velha guarda foi vista na animada comemoração dos 70 anos de PHILIPPE REICHSTUL, ex-presidente da Petrobras, em abril, em um salão no Jardim Europa. Num convescote com poucos jovens, os convidados se jogaram na pista de dança sem medo de ser felizes. Reichstul e sua mulher, Tuta, filha do ex-senador Severo Gomes, conhecidos entre os amigos por se dedicarem a dança de salão há muitos anos, chamaram a Banda Glória para sacudir convidados como Regina Braga e Drauzio Varella, Martha Grostein e Andrea Calabi, Mitiko e Francisco Luna, Carmo Sodré e Jovelino Mineiro, Regina e Cássio Casseb, entre outros. O agito, extremamente alto-astral, também contou com a passagem rápida do senador José Serra. Um pouco abatido, ele foi conduzido ao carro que o esperava pelo amigo Andrea Calabi após poucos minutos por lá. Serra tem tido alguma dificuldade para andar por conta de problemas na coluna.

GLOBAL SAPIENS

“Os três problemas que acompanham as fronteiras nacionais só podem ser resolvidos por meio da cooperação global. São eles: guerra nuclear, mudança climática e ruptura tecnológica.” A afirmação é do historiador YUVAL NOAH HARARI, autor do best-seller Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, que desembarca no Brasil em novembro para palestrar na HSM Expo, no Transamérica Expo Center, em São Paulo.

ALUGA-SE

Com a crise instaurada entre os Odebrecht, o patriarca da família, Emílio, colocou para locação a mítica casa na praia de Busca Vida, nos arredores de Salvador. Trata-se de uma pérola acessível a poucos, com 12 suítes, todas com ampla varanda debruçada sobre o mar. A casa tem heliponto, quadra de tênis e uma piscina com raia, tobogã, cascata, ponte e área de hidroginástica. “Um verdadeiro resort”, segundo o site de imóveis de luxo Brazil Exclusive, que atende por aqui e em Portugal. O preço? A partir de R$ 15 mil a diária – na baixa temporada.

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FOTOS PAULO FREITAS; REPRODUÇÃO INSTAGRAM; REPRODUÇÃO; SILVIA CONSTANTI/FOLHAPRESS; ZANONE FRAISSAT/FOLHAPRESS; DIVULGAÇÃO

BALÃO MÁGICO


CERIMÔNIA DO ADEUS

Os amigos mais próximos ficaram sentidos com a morte do banqueiro ARMANDO CONDE, fundador do BCN (Banco de Crédito Nacional), em março passado. Como nos últimos tempos ele andava bastante recluso e vinha recebendo apenas pouquíssimas visitas – entre elas as de seu professor de tai chi chuan –, o funeral foi íntimo: a família optou por restringir a rápida cerimônia apenas aos mais próximos. Muitos de seus grandes companheiros não puderam sequer se despedir dele. Um dos maiores boêmios da história de São Paulo, Armando Conde tinha 86 anos.

ESTEIRA DO PENSAMENTO

Parceria produtiva é isso aí: sem muito tempo disponível para tratar dos assuntos da alma, o advogado RENATO OCHMAN resolveu essa questão de uma maneira original. Ele, que dedica pelo menos uma hora por dia aos exercícios físicos, convidou seu mentor espiritual – este, acima do peso e sem tempo para exercícios – para encontros regulares às terças-feiras de manhã. Ochman coloca nesses dias o seu rabino para se exercitar na esteira a seu lado, enquanto ele lhe conta histórias e parábolas inspiradoras. Detalhe: essa troca inusitada de expertises está dando certo.

ENVERGA, MAS NÃO QUEBRA

Vem barulho bom por aí. A jornalista RAQUEL LANDIM lança, no dia 23 de maio, Why Not, livro-reportagem explosivo sobre os bastidores do caso JBS. Alguns highlights: o medo de serem presos, a pressão do procurador Anselmo Lopes, responsável pela Operação Greenfield, e o pavor de verem o império ruir foram as causas para os irmãos Joesley e Wesley Batista buscarem o acordo de delação. “Marcelo Odebrecht vai ser acusado de quebrar a Odebrecht, mas eu não vou ser acusado de quebrar a JBS. Temos que mudar o rumo dessa história”, disse Joesley, proprietário do iate Why Not (Por que não) – escolhido, aliás, para título da obra – a seu advogado.

IPOFOBIA

A terra pode voltar a tremer na Califórnia, e não exatamente por conta da falha de San Andrés. É que 2019 vem sendo considerado o ano dos grandes IPOs das empresas de tecnologia. Em março, a Lyft, concorrente da Uber nos EUA, foi à bolsa e atingiu valor de mercado de US$ 22,4 bi. A expectativa agora é pelo IPO da própria Uber, que fez um movimento claro nesse sentido ao tornar público um número perturbador, o prejuízo de US$ 1,8 bi de 2018 (para um faturamento de US$ 11,3 bi). No Brasil, os empresários não querem muita conversa com a bolsa, e a venda na bacia das almas da Netshoes para o Magazine Luiza deve deixar a tigrada ainda mais assustada. PODER JOYCE PASCOWITCH 7


A arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo VLADIMIR MAIAKÓVSKI poeta, dramaturgo e teórico russo (1893-1930)

3 PERGUNTAS PARA...

HENRIQUE LUZ, presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Atuou por 43 anos na PwC, dos quais 32 como sócio e 24 como vice-presidente e membro do Comitê Executivo de Liderança no Brasil

A governança corporativa é um sistema de gestão de empresas e entidades que permite que elas construam sua trajetória baseada em quatro fatores: a) transparência: a entidade disponibiliza para todos os stakeholders as informações que sejam de seu interesse, não somente aquilo que a legislação impõe; b) equidade: tratar de forma justa e isonômica todos os stakeholders; c) accountability: os agentes de governança têm que prestar conta da sua atuação de maneira objetiva, clara, compreensível, atuando com diligência e responsabilidade; d) responsabilidade corporativa: zelar pela viabilidade econômica e financeira das suas empresas, reduzindo os efeitos potenciais de externalidades

que sejam negativas para suas operações e mantê-las positivas, contribuindo para a comunidade. E O QUE A GOVERNANÇA CORPORATIVA PODE ACRESCENTAR À GESTÃO PÚBLICA?

O Brasil tem um histórico de governança duvidosa nas sociedades de economia mista. Tivemos um episódio recente com a nomeação de executivos para estatais sem passar pelo conselho de administração, que é o órgão máximo de cada empresa; as melhores práticas de governança dizem que quem deve nomear o presidente executivo da empresa é o próprio conselho. Além disso, o histórico da relação do governo com as sociedades de economia mista nos leva a crer que o governo está lidando como se fora o único dono. É o caso da Petrobras. Esse tipo de interferência é ruim.

QUAL A IMPORTÂNCIA DA GOVERNANÇA CORPORATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO?

Com base no nosso código interno, em 2016, lideramos um grupo que envolvia dez entidades e lançamos o Código Brasileiro de Governança Corporativa - Companhias Abertas. Os investidores ficaram bastante satisfeitos, porque querem saber se as empresas nas quais investem são adeptas a melhores práticas dos princípios de governança. Trata-se de um fator de importância no mundo todo para desenvolvimento do mercado de capitais. Sem governança corporativa não há desenvolvimento do mercado de capitais.

NOVA ERA

Você se declara uma pessoa politicamente exposta? Esta pergunta, presente no questionário de novos investidores das principais corretoras do mercado, tem gerado confusão na cabeça de muita gente, sobretudo em tempos de Lava Jato. Por politicamente exposta, ou PEP (na sigla em inglês), entende-se quem, entre outras coisas, “seja representante, familiar, cônjuge, companheiro (a) ou enteado (a), estreito colaborador ou de relacionamento próximo de pessoas que desempenham, ou desempenharam, cargos, empregos ou funções públicas”. Com pente fino, corretores de plantão têm explicado tim-tim por tim-tim tal enquadramento.

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FOTOS REGIS FILHO/IBGC; DIVULGAÇÃO

QUAIS SÃO OS PRINCÍPIOS DA GOVERNANÇA CORPORATIVA?


EM MAIO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... OUVIR Paêbirú, o LP mais raro do

Brasil, de Zé Ramalho e Lula Cortês, relançado agora pela Polysom

Van Morrison. Em junho e julho, passando por países como Alemanha, Holanda, Irlanda e Inglaterra

QUESTIONAR

o progresso e outros mitos modernos com a leitura do novo livro do filósofo britânico John Gray, O Silêncio dos Animais (ed. Record) OUVIR os

discos de Nat King Cole em homenagem ao centenário do Nature Boy

RIR com as memórias do físico

americano Richard P. Feynman, no clássico Só Pode Ser Brincadeira, Sr. Feynman!, da editora Intrínseca. A animada introdução de Bill Gates leva o leitor até a última página DESCANSAR numa rede após a

exposição Vaivém, no CCBB, que mostra as redes de dormir nas artes e cultura visual no Brasil reunindo mais de 300 obras de diversos períodos históricos e diferentes linguagens artísticas

ASSISTIR ao lançamento da

Netflix, Brené Brown: the Call to Courage. Com humor e empatia, a pesquisadora e palestrante americana discute o que é preciso para trocar o conforto pela coragem em uma cultura definida pelo medo e pela incerteza

FOTOS DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO

DESCOBRIR o fim da saga

MARATONAR Big Little Lies antes da estreia da nova temporada da série. Na HBO GARANTIR ingresso para a

turnê europeia do lendário Sir

CONHECER The Four Horsemen, o wine bar do líder do LCD Soundsystem, James Murphy. O point do momento em Williamsburg, Nova York SEGUIR o @magnumphotos no Instagram. De retratos de guerra aos bastidores do cinema, fotos clássicas dos fundadores da agência, como Robert Capa e Henri Cartier-Bresson

ASSISTIR a Zuza Homem de Jazz,

dirigido por Janaína Dalri, sobre a vida e a obra do musicólogo e jornalista Zuza Homem de Mello. O documentário revisita sua trajetória profissional no Brasil e nos Estados Unidos, relembra festivais históricos e conversas com produtores e músicos. No Curta!

maiores artistas brasileiros de arte contemporânea da atualidade, com cerca de 60 peças que ocupam sete salas e vários espaços centrais do museu. Um must

PARTICIPAR de um dos cursos da Escrevedeira para ventilar as ideias, como o ministrado pelo escritor Rodrigo Lacerda – “Shakespeare e o mundo em transformação” APROVEITAR que ainda falta mais de um mês para a Festa Literária Internacional de Paraty e (re)ler Os Sertões, de Euclides da Cunha, o homenageado da 17ª Flip

Game of Thrones. Na HBO. É hora de saber quem ficará com Trono de Ferro VISITAR a exposição Ernesto Neto: Sopro, na Pinacoteca de São Paulo. A mostra é uma grande retrospectiva da obra de um dos

com reportagem de aline vessoni, dado abreu e fábio dutra PODER JOYCE PASCOWITCH 9


D

epressão econômica, desemprego, justiça seletiva, concentração de renda, xenofobia, desdém com o aquecimento global, inépcia. Vivemos no Brasil e no mundo uma época particularmente obtusa, que o historiador Eric Hobsbawm, caso ainda vivo, poderia, quem sabe, chamar de Era da Desinteligência – ou Era da Estupidez. Um pesadelo, enfim. Há, contudo, quem jamais veja o pesadelo, ou, avistando-o, siga a preferir o sonho. E, mais do que apenas preferi-lo, vá pras cabeças na tentativa de realizá-lo. Caso da família do publicitário carioca Roberto Medina, o criador do Rock in Rio, evento complicado hoje e impensável em 1985, naquela primeira edição, quando o máximo que o Brasil conhecia em termos de megafestival de música era Iacanga. Hoje o Rock in Rio, executado por Rodolfo Medina, à frente desse e de outros negócios da família (veja box na pág. 13), e pelo CEO Luis Justo (ex-Osklen), bate recordes de velocidade de vendagem de ingressos – em 2019, 15 dias –, agrega cada vez mais opções de entretenimento ao evento e multiplica-se em outros formatos, como um festival de games e uma academia corporativa que procura ensinar os macetes de um negócio como esse. Ou seja: ensinar a sonhar muito grande. Enorme, no caso. Na verdade, ninguém aprende a sonhar, mas pode vir a ser persuadido que o desejo – bom ou ruim – não precisa ser pequeno. E o exemplo de Roberto Medina era bom demais para que seus sucessores o desperdiçassem. Antes do Rock in Rio, o publicitário já havia convencido David Niven e Frank Sinatra a tomarem uísque Passport – apenas engarrafado no Brasil, o que já não ajudava muito – numa campanha te-

10 PODER JOYCE PASCOWITCH


EMBALO

SONHO

ENORME O sonho não acabou – virou plano de meganegócio para os empreendedores do Rock in Rio, que nasceu como um delírio e hoje, revezando-se principalmente entre Rio e Lisboa, tornou-se referência mundial, com ingressos esgotados em 15 dias. Agora com Rodolfo Medina à frente da empresa que conduz o evento, o Rock in Rio multiplicou-se também em festival de games e academia corporativa e seduziu a gigante global do entretenimento Live Nation, que aportou recursos ali POR PAULO VIEIRA FOTOS ROBERTO SETTON

Acima, Rodolfo Medina, presidente do Grupo Artplan, e, à esq. o CEO do Rock in Rio, Luis Justo

PODER JOYCE PASCOWITCH 11


levisiva que mitou. No caso do Ol’ Blue Eyes, fazê-lo depois cantar no Maracanã para mais de 170 mil pessoas sob um dilúvio – que por milagre passou na hora do show – foi tarefa até mais fácil para Medina: a gravação do comercial da bebida aconteceu no dia em que a mãe do cantor morreu num acidente aéreo. Medina ainda sobreviveria a 16 dias de cativeiro em 1990, rumoroso sequestro que talvez tenha vitaminado ainda mais seu potencial onírico. Significativamente, sua biografia, publicada em 2006, chama-se Vendedor de Sonhos. Pois é com o nível de ambição desse personagem, capaz de “ouvir 70 nãos até receber um sim”, que seu filho Rodolfo e Justo têm de se entender. Nenhuma edição do Rock in Rio pode repetir a anterior, o que significa criar uma nova experiência memorável a cada 365 dias. Após fazer incursões por Lisboa, Madri e Las Vegas, o evento estabeleceu uma frequência anual revezando-se entre o Rio e a capital portugesa. As tais experiências memoráveis significam para os organizadores um nível de preocupação exasperante com o detalhe. Limpeza de banheiros, diminuição de filas, criação de novas atrações, aumento do número de produtos licenciados, tudo tem de superar a vivência anterior. “Além de ser um sonhador e um realizador de sonhos, [Roberto Medina] tem muito cuidado com o detalhe, com a experiência, isso impacta toda a gestão do Rock in Rio, a gente está o tempo todo sendo cobrado”, disse Justo a PODER na sucursal paulistana da Artplan, a agência de publicidade do grupo. Em 2019, de volta ao Parque Olímpico do Rio, que hospeda o evento pela segunda vez (para alegria dos entes governamentais, locadores daquela linda

12 PODER JOYCE PASCOWITCH

e dispendiosa coleção de elefantes brancos esportivos), o festival ganha mais algumas atrações (veja box da pág. 14). A ida para o Parque Olímpico, em 2017, já havia significado dobrar o espaço tradicional da Cidade do Rock, e este ano são 60 mil metros quadrados além da área daquela edição. Mais espaço, mas não necessariamente mais gente, pois a limitação de 100 mil pessoas para cada uma das sete noites do evento impede que o festival bata recordes de afluxo de público – muvuca, como se sabe, não costuma ser amiga da boa experiência. O impacto direto e indireto na economia carioca é relevante, gerando uma receita, nos cálculos da organização, de R$ 1,4 bilhão. Governo e município oferecem certas contrapartidas, como manter o metrô aberto de madrugada, algo que, aliás, jamais aconteceria em São Paulo, onde as estrelas de festivais de grande porte como o Lollapalooza têm de encerrar os trabalhos no horário do trem do Adoniran.

LADY GAGA

Sonho grande, quixotesco ou inverossímil, a verdade é que, com-

‘‘Entregar mais do que a marca espera facilita renovar o patrocínio. Isso tem de estar na nossa cabeça: a gente tem de entregar mais” putada sua receita média anual, o festival Rock in Rio geraria menos de R$ 500 milhões para os organizadores numa estimativa de mercado, algo que não faria grandes empresários de outros setores espumarem na gravata para tirar o negócio das mãos da família Medina. Mas com o segmento de entretenimento puro-sangue a conversa é diferente e, com efeito, a Live Nation, companhia global com faturamento de US$ 10,8 bi em 2018 e detentora da ubíqua Ticketmaster (que comercializou entradas para 400 mil eventos no


ROCK E MARATONA

ano passado), comprou uma participação no Rock in Rio há cerca de um ano. Segundo Justo, mesmo com a estatura da Live Nation – conhecida nas internas por “Death Star” por asfixiar e engolir a concorrência –, nada mudou desde então na gestão dos vários negócios da casa, assim como nenhum sonho ainda mais potente saiu do papel. Entre eles, o de uma Cidade do Rock permanente, num formato de parque temático à Disney – ou à Ferrari, já que sua existência é cogitada para algum emirado árabe. O arranque com

a Live Nation pode ser menos espetacular, talvez um filme sobre o próprio festival, numa tabelinha com outra “vertical” da empresa, a divisão de TV e filmes, responsável pelo remake best-seller de Nasce uma Estrela, com Lady Gaga e Bradley Cooper, ambos indicados ao Oscar. Ironicamente, Gaga era a principal atração da edição de 2017, mas problemas de saúde a fizeram cancelar na última hora a vinda ao Rio, e o time de Rodolfo e Justo teve de se virar nos 30 para convencer os fãs que Maroon 5 era um substituto à altura.

A Rock World, empresa que monta o Rock in Rio e o evento Game XP, é a joia do Grupo Artplan, holding dos Medina, mas há mais negócios no balaio: a agência Artplan, que se diferencia da concorrência por, entre outras coisas, ter capital 100% nacional; a Pullse, agência focada em marcas do varejo; a Dream Factory, organizadora de eventos como a maratona do Rio e a versão carioca do famoso Montreux Jazz Festival; a Easy Live, plataforma de conversão de saldos de milhagem em ingressos de espetáculos; e a Musicalize, que comercializa indulgências em shows de música. O dia a dia do presidente do Grupo Artplan, Rodolfo Medina, que se divide entre Rio e São Paulo, é digno de maratonista – trata-se de uma metáfora. Rodolfo não corre e ficou surpreso em saber pelo repórter da PODER que os maratonistas, caso queiram largar no horário na prova que sua própria empresa põe de pé, não têm a opção de pegar metrô, que no Rio inicia a operação aos domingos só às 7 da manhã. E a largada é nos cafundós do Recreio, pra lá do Parque Olímpico. PODER JOYCE PASCOWITCH 13


A EXPERIÊNCIA

Seis palcos com programações diferentes, da música eletrônica ao funk e o pagode ouvidos nas comunidades do Rio; reconstruções cenográficas inspiradas nos parques temáticos da Flórida, como a da Rota 66 (customizado aqui para 1985, na primeira edição do Rock in Rio); performance dos argentinos do Fuerza Bruta, que voam sobre o público e fazem acrobacias à maneira do catalão La Fura dels Baus; espaço gourmet climatizado inspirado no Mercado da Ribeira, de Lisboa; roda-gigante, montanha-russa, tirolesa e um brinquedo que despenca de uma altura de 40 metros em 10 segundos, todos acessíveis por hora marcada. As atrações de entretenimento do Rock in Rio vão muito além da música para tentar oferecer ao público a tal “experiência” de que tanto fala Luis Justo. A estreia da Natura como patrocinador do Rock in Rio é outro feature poderoso, a Nave, concebido por Marcello Dantas, que idealizou museus como o da Língua Portuguesa e do Homem Americano, entre vários outros, e exposições de impacto como a do chinês Ai Weiwei.

‘‘Além de ser um sonhador e um realizador, [Medina] tem cuidado com o detalhe. Isso impacta toda a gestão” MUNDO MELHOR

Roberto Medina gosta de contar a história do momento em que quase abortou o sonho que o fez famoso em 1985. Com dívidas e atraso nas obras, diz que em dado instante decidiu que iria interromper a construção da Cidade do Rock mesmo já tendo vencido a desconfiança – e os “70 nãos” – das bandas que lhe diziam que “jamais”

14 PODER JOYCE PASCOWITCH

tocariam no Brasil. Mas um evento comezinho, o encontro naquele fim de mundo de Jacarepaguá com três rapazes “de um Passat” que o tinham na conta de ídolo justamente pela promessa do Rock in Rio, o fez desistir da desistência. É razoável especular o quanto essa coleção de eventos laterais um tanto improváveis e as muitas histórias de superação de seu criador acabaram por dar um toque algo

etéreo, para não dizer místico, ao festival. De alguma forma ele está no slogan “Por um mundo melhor” e também em eventos como os três minutos de silêncio observados no Brasil inteiro em 2001, Rock in Rio incluído, claro, e em Portugal depois. Medina vê na Cidade do Rock um espaço privilegiado para propagar e produzir mensagens. Muito mais do que festival de música – ou de games, em sua nova faceta –, o Rock in Rio é, como na definição expressa no site oficial, “um veículo de comunicação de emoção e causas”. A preocupação socioambiental é uma constante, com o festival, desde 2001, destinando parte de sua receita para o plantio de árvores na Amazônia, para a educação de 3.200 jovens de comunidades carentes do Rio e para a instalação de 760 painéis solares em escolas de Portugal, entre outros projetos. Perseguir ano a ano a redução da pegada de carbono do


FOTO DIVULGAÇÃO

festival é, assim, um objetivo natural, mas estimular que os muitos espectadores que vêm de fora do Rio troquem o avião, o grande vilão mundial na emissão de dióxido de carbono, por outros meios de deslocamento, aí já é pedir demais. O DNA em publicidade dos Medina – a Artplan, aliás, segue a navegar com capital 100% nacional no mercado brasileiro, onde todos os grandes players estrangeiros já fizeram suas aquisições – faz com que o Rock in Rio dê grande atenção às marcas patrocinadoras. Em 2019, o festival cresceu 20% em publicidade. Mais crítica é, contudo, a bilheteria, responsável por cerca de 65% do faturamento do evento. Dar tanta atenção ao “parceiro”, como preferem Rodolfo Medina e Justo, poderia tornar suave a tarefa de trazer dinheiro novo, mas Rodolfo protesta. “Dá um trabalho duro”. E pondera: “Entregar mais do que a marca espera facilita re-

Show ao entardecer no palco Sunset, um dos vários com atrações musicais do festival, na edição carioca de 2017

novar o patrocínio. E é mais fácil renovar com o Itaú do que explicar para o concorrente por que o Itaú não renovou. Isso tem de estar na nossa cabeça: a gente tem de entregar mais”, diz. A Natura, que em 2019 completa 50 anos, é uma das marcas que recebem essa tal entrega no Rock in Rio deste ano. O espaço que ela patrocina e ajudou a conceber, Nave, tem capacidade para que até 2.400 pessoas por sessão vivam uma “experiência imersiva” e se sintam estimuladas a refletir sobre a vida num planeta acossado por práticas predatórias. Para Andrea Alvares, VP de marketing, inovação e sustentabilidade da Natura, “Nave é um chamado poderoso para o engajamento das pessoas na transformação do mundo, tornando-o um lugar mais

bonito, empático e sustentável.” Para ela, a inédita parceria com o Rock in Rio faz sentido por ter o festival “impacto direto e indireto em milhões de pessoas”. Mesmo sem admitir qualquer pulsão planfetária – “o Rock in Rio é um evento apartidário, alinhado apenas com nossas crenças”, diz Justo –, pode ser que os espectadores saiam de lá bastante preocupados com as pautas ambientais regressivas que emanam de Brasília. O diabo é que logo depois vem o show do Foo Fighters, do Bon Jovi, do Drake. E como faz pra lembrar do engajamento depois disso? n PODER JOYCE PASCOWITCH 15


PONTA DE LANÇA

MAURO CEZAR PEREIRA

Livre de impedimento, Mauro Cezar Pereira é um dos mais críticos jornalistas da imprensa esportiva – que o digam dirigentes, treinadores e alguns craques paparicados do futebol brasileiro. Neste encontro com PODER, o “Rei do Block” falou sobre bola rolando, seus ídolos do passado, a vergonha do 7 a 1, Flamengo, Racing e bacalhau POR DADO ABREU E FÁBIO DUTRA FOTOS JOÃO LEOCI

P

ífias, patéticas, pragmáticas e sem imaginação. Não têm a menor capacidade de disputar um torneio jornalístico continental. Talvez tenham sido essas as impressões ( jamais externadas pelo gentleman que conhecemos, é bem que se diga) de Mauro Cezar Pereira sobre nossas reiteradas tentativas de colocá-lo como sucessor de Juca Kfouri na linhagem de grandes jornalistas esportivos que não se contentam com meras discussões sobre arbitragem, ou capacidade técnica dos atletas, e vão além: cobrem – e cobram – cartolas e autoridades sobre tudo que ocorre fora de campo, mas que têm consequências diretas sobre o espetáculo ou sobre o bem-estar dos cidadãos em geral. Explica-se: é que Mauro Cezar acredita que tem características próprias e, mesmo admitindo que é “guerrilheiro da reportagem” tal qual outros profissionais críticos, Kfouri incluso, diz que cada um tem seu estilo e caminho autônomo; e os adjetivos que abrem este texto são os prediletos desse fluminense que de tanto se destacar como incansável fiscal na imprensa dos dirigentes e das autoridades que orga-

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nizam o futebol já tem imitadores YouTube afora. Não por acaso está se tornando o predileto dos aficionados que acompanham o esporte, principalmente o futebol, de forma profunda. Na legião de seguidores – literalmente, pois sua rede social predileta é o Twitter, onde é preciso “seguir” alguém para ler o que essa pessoa escreve –, porém, não tem só amigos. Talvez pelas opiniões duras, que não aliviam para ninguém, ele atrai uma horda de detratores que não gostam do que ele diz. Se o atacante Fred, do Cruzeiro, se notabilizou como o “Rei dos Stories” no Instagram, Mauro Cezar Pereira poderia facilmente levantar o caneco de “Rei dos Haters” da internet brasileira. Quando o assunto é Flamengo, então, a chapa esquenta ainda mais. É que depois de ter sido flagrado na arquibancada por um fã que postou sua foto nas redes sociais, o jornalista assumiu ser flamenguista – tem, inclusive, tatuado na canela a imagem do ídolo rubro-negro Rondinelli, o “Deus da Raça”, protagonista do “dia mais feliz da vida” de Mauro aos 15 anos. Entretanto, ele se recusa a passar pano para o


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os que passam para ameaças e ofensas pessoais são denunciados para as autoridades – mais de 15 desses já tiveram que ir à delegacia prestar esclarecimentos e estão sendo processados. “É uma maneira de dizer que o sujeito não me interessa, não preciso que ele me siga. São 5 %, uma minoria chata, barulhenta, e muitos são robôs, haters, não são seres normais”, diz, sobres os bloqueados. Todas essas polêmicas não afetaram o ritmo de trabalho, ao contrário. Mauro Cezar acumula as funções de colunista do Estadão, comentarista da ESPN Brasil, novo colunista-blogueiro do UOL, as quase full-time redes sociais, e prepara um projeto ao lado de Lúcio de Castro, grande jornalista esportivo e investigativo que foi seu colega na ESPN Brasil, autor de obras-primas como a série “Dossiê Vôlei”, e que hoje se dedica à sua agência de notícias on-line Sportlight (nome que é uma brincadeira entre ‘spotlight’, a equipe de reportagem do jornal The Boston Globe que denunciou os escândalos de pedofilia na Igreja, imortalizada por um blockbuster hollywoodiano, e a palavra ‘esporte’). Eles não dão detalhes, mas pelas redes sociais dos envolvidos há indícios de que será um podcast, e que envolveria José Trajano, outro egresso da mesma emissora de televisão. É esperar para ver sobre o que eles tratarão nesses encontros. GAROTO ENXAQUECA Podem até reclamar do estilo “crica” de Mauro Cezar Pereira, mas fato

é que ele erra pouco. Em 2014, quando a imprensa e a opinião pública eram só oba-oba e elogios para a seleção brasileira que haveria de se sagrar campeã na “Copa das Copas”, ele foi o primeiro a notar o óbvio: o time estava mal e o treinador, Luiz Felipe Scolari, totalmente ultrapassado. Resultado: tomamos 7 a 1 da Alemanha, “a maior vergonha da história do futebol”, em suas palavras. Não foram poucas as outras que ele anteviu que o clima de “brodagem”, expressão sua, entre parte da imprensa e alguns dirigentes e treinadores ia acabar em tragédia desportiva ou financeira para os clubes e a seleção. Por conta disso, perguntou-se: e o Neymar, acabou mesmo? “Talvez ele não venha a ser tudo o que poderia ser, mas acho que vai fazer muita coisa ainda, condições para isso a natureza deu, mas são outras questões, uma pena, um desperdício”, lamenta, sobre as escolhas do atacante que envolveram, inclusive, sair do Barcelona para não ficar na sombra de Lionel Messi, uma tolice. “Quando o Messi parar vai haver uma polêmica, no Brasil ninguém vai aceitar, mas grande parte do mundo vai dizer que parou o maior da história. Como abrir mão de jogar

ILUSTRAÇÕES ISTOCKPHOTO.COM

time do coração e tem a mesma postura crítica de sempre a cada comentário. Na semana em que almoça com PODER no La Tambouille, tradicional restaurante no Itaim, em São Paulo, após a vitória do Flamengo sobre o Vasco (coincidência ou não, Mauro Cezar saboreou um bacalhau) que rendeu à equipe o título do Campeonato Carioca, ele avisava que os torneios regionais geram ilusão e que aquilo que foi mostrado em campo não era suficiente para dar bons frutos em torneios continentais. Dito e feito: a LDU venceu por 2 a 1 os rubro-negros e complicou a vida do clube na Libertadores apenas três dias depois. O técnico Abel Braga, segundo Mauro Cezar, não trouxe nada de novo para um dos times mais caros do Brasil, de ótimo elenco, e ainda desmanchou os poucos bons pontos da esquadra vice-campeã nacional em 2018. Assim, ele conseguiu um paradoxo difícil de entender: é detestado por parte do público de outros times por ser flamenguista; e é perseguido por flamenguistas por não exaltar o clube o tempo inteiro. Tudo isso seria engraçado não fosse por um detalhe: futebol e redes sociais são dois assuntos que descambam muitas vezes para a violência. Mauro Cezar já foi ameaçado fisicamente várias vezes, além de ser ofendido quase que diariamente. Para se defender lançou mão de duas armas, o block e o Direito Penal. Os meramente chatos e corneteiros são bloqueados (pode-se dizer que o “Rei dos Haters” se tornou o “Rei dos Blocks”) enquanto

“Não sou petista. Ou melhor, sou. O PT que deixou de ser”


do Santos, do Barcelona e está com problemas no PSG. Opiniões assim geram “haters” no mundo real também. Recentemente, o técnico Vanderlei Luxemburgo foi a um programa vespertino da ESPN Brasil e reclamou de como os treinadores eram tratados pelo comentarista. Mauro Cezar respondeu às acusações no Linha de Passe, programa de mesa-redonda do qual participa, no dia seguinte. Para esta reportagem foi sucinto: “Eu acho que ele quer um holofote, só que eu não sou iluminador de estúdio, sou um jornalista”.

com um cara desse? E com certeza escolheria ser o Robin do Messi, até porque esse Batman vai parar uma hora...” Ele segue o raciocínio para estabelecer que o maior problema, ainda mais para quem vive em uma bolha, num universo paralelo, como é o caso de Neymar, é tudo o que o cerca. “São familiares, parças, assessores que em vez de assessorar paparicam, é complicado”, encerra, lembrando que o atacante saiu brigado

GERALDINO Outra característica forte de Mauro Cezar Pereira é a de ser o representante nos estúdios daquele torcedor-raiz que não compactua com a série de proibições às festas nos estádios com canudos de fumaça colorida, bandeirões e arquibancada de cimento, na contramão das arenas modernas que viraram tendência no Brasil depois das obras para a Copa do Mundo de 2014. Ele acredita que o conceito brasileiro distorce um pouco a coisa, pois não entende que pode, sim, haver modernização, mas a festa da torcida tem que ser preservada. Para ilustrar, cita a muralha amarela, torcida sem assentos e que faz muito barulho nos jogos do Borussia Dortmund, independentemente da colocação do time no Campeonato Alemão. No estádio da equipe tem até setor com poltrona e garçom, mas a muralha segue intacta – “até porque o cara que paga caro pelo melhor assento quer aquele espetáculo dos fanáticos, aquela atmosfera”. Mauro lembra quando frequentava a geral do Maracanã na adolescência nos anos 1970 (ele tem 55 anos, apesar de parecer mais jovem): “Com o valor de um ingresso de arquibancada eu PODER JOYCE PASCOWITCH 19


CONSUMO

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POR ANA ELISA MEYER

JESSICA LANGE E SAM SHEPARD

A relação entre a talentosa e premiada atriz Jessica Lange, que debutou com King Kong, hoje aos 70 anos, e o ator, diretor e dramaturgo Sam Shepard (1943-2017) foi apaixonada, mas também não foi esse mar de rosas. “Sammy não era fácil, tinha seu lado negro, como todo mundo, mas lidava com ele com senso de humor”, Jessica disse uma vez. Os dois se conheceram nas filmagens de Frances, em 1982, e ficaram juntos por quase 30 anos. Jessica já tinha a filha Aleksandra, com Mikhail Baryshnikov. Com Shepard teria outros dois filhos.

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FOTOS DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES

pagava a condução, ida e volta, de Niterói, tomava um lanche e comprava a entrada da geral. O Maracanã antigo era tão genial que contemplava todas as classes sociais: tinha camarote, cadeiras mais caras, arquibancadas de preço médio e a geral para os mais pobres. Cabia todo mundo ao contrário de muitas arenas”, reclama, nostálgico. Não à toa, desde os anos 1990 passou a torcer para o Racing Club de Avellaneda depois de ter visto um jogo da equipe argentina contra o Cruzeiro narrado por Luciano do Valle, por quem tece elogios saudosos. “O Cruzeiro ganhara a primeira partida por 4 a 0 e a segunda estava para acabar em 0 a 0, ou seja, os argentinos já tinham perdido a taça, mas cantavam como se estivessem sendo campeões. Aquilo me marcou e passei a acompanhar o time, sou sócio, vou aos jogos”, conta, para deixar claro a mensagem em seguida: “Era como se eles estivessem dizendo ‘nós somos o Racing’, apesar de tudo. É como uma religião para eles: tem quem vá à missa aos domingos, eles vão ver o Racing e apoiar 90 minutos”. Todo esse tom contestador, esse elogio ao futebol socialmente inclusivo, igreja pagã dos desvalidos, e uma aversão a qualquer tipo de elitização boba nos faz pensar em alguém de esquerda, politicamente ativo. Mas Mauro Cezar não gosta de fazer proselitismo político. Segundo ele, na internet o nível de desinformação e de ódio faz com que seja impossível falar do tema, e seu foco na profissão o impede de tomar lados muitas vezes. Mesmo falando de futebol, apenas pela direção das críticas muitas vezes os detratores virtuais já começam o coro de “petralha” ou “esquerdista”, mas ele se defende: “Qualquer crítica que se faça já vem essa marca de ser desse ou daquele partido, mas eu não sou de nenhum, não me guio por orientações partidárias. Vivem me chamando de petista, mas eu não sou. Ou melhor: se bobear eu sou petista sim, como era o modo de pensar o do partido no início. O PT é que deixou de ser petista”, ri. n


ESPELHO

TUDO PELA MENSAGEM A tecnologia mudou drasticamente a forma como as pessoas se comunicam. E a publicidade, a boa publicidade, acompanha o movimento. Para FERNAND ALPHEN, um dos CEOs da F.biz, agência brasileira do portfólio da gigante WPP e que completa, em 2019, 20 anos de existência, a lógica agora é de “experimentação constante de formatos e conteúdos”. “É tentativa e erro até que se encontre uma maneira madura de transmitir uma mensagem.” A F.biz tem DNA digital desde 1999, quando “eram poucas as variantes” do negócio e as árvores de Natal eram desenhadas sobre uma letra “i” agigantada, na engraçada imagem do executivo. Naquele tempo, de toda forma, já se ouvia a promessa de que a conectividade mudaria a maneira como o anunciante iria, com o perdão da redundância, anunciar. De volta a 2019, Alphen constata: “A quantidade de formatos a ser experimentados é infinitamente maior do que tudo o que existia na mídia tradicional, o que exige esforços e recursos muito maiores”, diz. “E é por isso que o negócio começa a ser colocado em questão.” Com tudo isso, dá para dizer que o dístico mais famoso da comunicação, aquelo que diz que o meio é a mensagem, forjado há 52 anos pelo teórico Marshall McLuhan, continua de pé. “O que tem valor inestimável é a capacidade do ser humano de surpreender com a mensagem, de colocar alguém fora de seu raciocínio convencional. Enquanto isso existir as agências continuarão existindo, se adaptando, mudando o formato do trabalho. Isso nenhum algoritmo é capaz de fazer.” n por aline vessoni foto beatriz chicca

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SAÍDA PELA ESQUERDA


A

RINGUE

toda ação corresponde uma reação de mesma intensidade, diz o cânone da física. Na política americana, contudo, a terceira Lei de Newton parece estar operando de maneira disfuncional. Ali, o avanço do populismo de direita, representado pela eleição do republicano Donald Trump em 2016, vem sendo confrontado por uma reação inesperada – e de valor maior. Ou, se não isso, uma reação de multiplicidade maior. É o que se observa na proliferação de políticos de esquerda e centro-esquerda, cujas agendas são dominadas por temas ambientais, pautas afirmativas e inconformismo com a crescente desigualdade social dos Estados Unidos. Não ter medo de usar o dístico “socialista”, algo que aqui no Brasil talvez só o PSOL e o PCO assumam a bandeiras despregadas, é outra marca de um

ao nacionalismo xenófobo do presidente americano e de muitos outros expoentes da direita mundo afora. A revista The Economist, que em fevereiro deste ano destacou em reportagem de capa a popularidade crescente do socialismo entre os millennials, apresentou dados de uma pesquisa Gallup que embasam a tese. Na faixa dos 18 aos 29 anos, 51% dos respondentes afirmaram ter uma “visão positiva” do socialismo. Entre simpatizantes do Partido Democrata e de candidaturas independentes, o capitalismo perdeu 10 pontos dessa simpatia, para 45%. Isso em apenas dois anos. Muitos nomes dessa nova esquerda roubaram a cena para as eleições para o Congresso de mid-term, em 2018. Caso da sensação Alexandria Ocasio-Cortez, a AOC, deputada por Nova York que, aos 29 anos, tornou-se a mulher mais jovem a se eleger para o Congresso americano. Granjeou enorme popularidade entre os millennials ao mesmo tempo que

Políticos que não veem problema em se definir como socialistas, têm agendas ambientais e pautas afirmativas – e, horror dos horrores, falam em taxar os mais ricos – despontam nos Estados Unidos por paulo vieira

naco dessa “new left”. Para John Delaney, ex-deputado por Maryland e um dos inúmeros pleiteantes à candidatura democrata à sucessão de Trump, com efeito, as primárias do partido, em 2020, “podem ser uma escolha entre socialismo e uma forma mais justa de capitalismo”. Outra marca é a vontade de universalizar o plano Medicare, implantado por Barack Obama, garantindo acesso gratuito à rede médica a toda população americana. De certa forma, esse crescimento à esquerda não surpreende. Para Maurício Santoro, professor de relações internacionais da Uerj, “tanto a esquerda como a direita definem suas agendas política e ideológica em resposta ao grupo adversário”. O postulado vale também, por extensão, para o próprio sucesso de Trump, “reação conservadora a uma sociedade que se tornava cada vez mais progressista, liberal e cosmopolita”, segundo Santoro, algo que vai claramente de encontro

conhecia a face menos glamourosa do sucesso – AOC tornou-se um dos alvos prediletos dos haters de internet, a ponto de recentemente ter anunciado seu exílio do Facebook. No conjunto desses políticos há também duas dezenas de postulantes à candidatura presidencial de 2020 pelo Partido Democrata. Muitos ficarão logo pelo caminho por conta dos obstáculos financeiros e deverão desaparecer da mídia e do imaginário americano prematuramente. Disputam vaga, afinal, contra medalhões como Joe Biden, que foi vice de Obama, e Bernie Sanders, que mobilizou a população engajada nos movimentos da grife “occupy” após a grande crise de 2008. São esses dois nomes, aliás, que lideram a corrida pela candidatura democrata segundo as pesquisas mais recentes. Veja nos destaques da reportagem algumas das faces dessa nova ordem política americana. n PODER JOYCE PASCOWITCH 23


Fora desta corrida presidencial, ALEXANDRIA OCASIO-CORTEZ, a AOC, deputada por Nova York em primeiro mandato, filha de pais porto-riquenhos, cresceu no Bronx e se formou em Boston, em economia e relações internacionais. Escorada por pautas afirmativas que ela mesmo personaliza, dissociou sua campanha das corporações, aceitando financiamento apenas de eleitores e simpatizantes. Lançou o Green New Deal, alusão à campanha de recuperação econômica de Ted Roosevelt, o New Deal, encetada após a Grande Depressão de 1929. O New Deal verde propugna uma economia de baixo carbono, com utilização maciça de energia renovável, fim da importação de petróleo cru e a eliminação da gasolina como matriz energética da frota veicular americana até 2040, entre outras medidas.

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Aos 54 anos em seu mandato inicial como senadora pela Califórnia, KAMALA HARRIS foi a primeira afro-americana a ocupar a procuradoria-geral de seu estado. Ao anunciar a candidatura presidencial este ano, tomou um recorde de Bernie Sanders, o de alcançar a maior arrecadação nas primeiras 24 horas após o anúncio – Sanders, contudo, recuperou o “título” este ano, ao confirmar que estava de novo no páreo presidencial. Pró-aborto e com forte atuação na área ambiental – criou uma unidade especial de justiça para o tema quando procuradora de São Francisco –, endossou o Green New Deal de AOC. Filha de pai jamaicano e mãe indiana, tem usado sua própria história familiar para ilustrar uma visão sobre imigração diametralmente oposta à de Trump. Kamala pretende ainda beneficiar as classes mais baixas com uma política tributária, que, segundo ela, poderia gerar até US$ 500 mensais a cada família trabalhadora.


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Eleito com apenas 29 anos para a prefeitura da pequena South Bend, de 100 mil habitantes, no Estado de Indiana, PETE BUTTIGIEG, hoje com 37 anos, reúne algumas bandeiras que podem insuflar os democratas – e os jovens eleitores americanos. Veterano do Afeganistão, ele é o primeiro candidato abertamente gay a pleitear vaga numa eleição majoritária. Num país orgulhosamente monoglota, Buttigieg fala oito idiomas, toca piano e, talvez mais importante, é cristão praticante. O político é a favor do “capitalismo democrático” em que livre mercado, responsabilidade fiscal e estímulo ao pluralismo são os grande pilares.

Senadora reeleita por Massachussets, a ex-professora de Direito de Harvard ELIZABETH WARREN é outra que leva para a campanha presidencial a “ameaça” de taxar os mais ricos para tentar assim ajudar a fazer os motores americanos andarem. Sobre detentores de patrimônio líquido de US$ 50 milhões incidiria um imposto de 2%; sobre fortunas bilionárias, 3%. Com isso, sustenta, o país amealharia US$ 2,75 trilhões numa década. No lançamento de sua candidatura, em fevereiro, ela estressou a ideia, bastante conhecida no Brasil, da divisão de classes. O “nós” de Elizabeth é quem “trabalha duro”, a “classe média que mal pode respirar”, e o “eles”, as corporações gigantes.

BETO O’ROURKE, ex-deputado pelo Texas, perdeu por margem pequena a vaga para o senado pelo estado para o republicano Ted Cruz em 2018. Mesmo assim foi o recordista de votos entre os democratas no estado. Como Obama e depois Emmanuel Macron, na França, O’Rourke pretende ocupar um espaço ao centro – mas que diante de Trump deve soar como extrema-esquerda. Assim como AOC, tem força nas mídias sociais, mas também na imprensa convencional. O jornal Dallas News endossou sua candidatura ao Senado ao ver em O’Rourke enorme potencial de liderança, respeito ao contraditório e vontade de recolocar os Estados Unidos no Acordo de Paris, além de discutir amplamente uma reforma migratória. Nascido em El Paso, hoje, aos 46 anos, é também contrário ao muro na fronteira mexicana. Com uma curta carreira no show business quando universitário, mostrou envergadura para arrecadar muito bem na campanha ao Senado. Anunciou sua candidatura à corrida presidencial em março. PODER JOYCE PASCOWITCH 25


SERVIÇOS

O fenômeno cashless promete resolver problemas de operação no mundo do entretenimento: os consumidores ganham em conforto e as empresas podem informatizar um processo ainda analógico POR VICTOR SANTOS

ILUSTRAÇÃO FREEPIK

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E

m 2010, um grupo de adolescentes, fãs da banda pop Restart, ávidos para vivenciar a prometida tarde de autógrafos com seus ídolos, viram ruir suas expectativas quando o espaço do evento não abriu as portas. De maioria jovem, idealizavam uma experiência inesquecível, abraçar os ídolos, quem sabe até bater um papo com eles e realizar um sonho. Porém, a casa que receberia o evento não conseguiu suportar o volume de público – que soltou o verbo no Twitter. Em outro caso, em 2017, uma agência americana anunciou um festival sem precedentes: vendeu a imagem de dias nababescos em uma ilha paradisíaca nas Bahamas, com shows, muito luxo e festas sem fim, mas o projeto megalomaníaco não foi entregue. O Fyre Festival (tema de documentário disponível na Netflix) foi o espetáculo da fraude. Ambos os acontecimentos, apesar de extremos, expõem a dinâmica da produção do entretenimento. Para proporcionar melhores momentos ao público, as empresas do setor vivem em busca de caminhos para evoluir a tão comentada “experiência”. O desafio em otimizar cada etapa do processo é incessante, entre evitar a formação de filas, nas ativações de marcas, nos caixas e no momento de viabilizar o reembolso ao cliente. O aperfeiçoamento visa reduzir o que há de mais penoso para a produção: a perda de atenção do público onde ela deve estar: no espetáculo, em cima do palco. O setor de serviços é um terreno fértil para tecnologias disruptivas, como é o caso do streaming na área do audiovisual, e a indústria do entretenimento vive uma realidade parecida com o fenômeno de cashless, que atua na esfera de pagamento e tem servido de base para que as experiências atinjam outro nível, não só por evitar chateações, mas também por abrir as portas de um mundo de possibilidades e experiências. O cashless (“sem dinheiro”, em tradução livre) funciona da seguinte maneira: o sistema utiliza algum dispositivo como um cartão, credencial ou pulseira, que reúne os dados do consumidor e realiza transações por meio da “identificação por radiofrequência”, conhecida pela sigla RFID (acrônimo do inglês Radio-frequency identification), sem uso de senhas, apenas pelo contato. Bruno Lindoso, CEO da netPDV, empresa de soluções cashless, teve seu primeiro contato com a tecnologia no rodeio de Americana, em São Paulo. Atendeu ao chamado de um colega para trabalhar na operação do evento, estudou todas as partes do processo e encontrou falhas de planejamento e uma perda de faturamento de até 20% pela falta de controle na venda de produtos. A solução então foi

“Transformamos o cardápio para o menu de POS (point of sale), em que o cliente seleciona o produto e imprime um voucher com QR code” BRUNO LINDOSO, CEO DA NETPDV, EMPRESA DE SOLUÇÕES CASHLESS

aprimorar a operação. Desenvolveu o “ticket eletrônico”, meio utilizado durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016: “Transformamos o cardápio para o menu de POS (point of sale), em que o cliente seleciona o produto e imprime um voucher com QR code para que possa consumir”, explica. Em seguida, se aprofundou na tecnologia até chegar aos dispositivos cashless com transmissão via RFID, com destaque para a pulseira. O caminho do dinheiro segue a trajetória de sempre: consumidor, banco, bandeira, adquirente e estabelecimento. A parceria com a tecnologia se dá no último mediador. Em um primeiro momento, a companhia operava com dois terminais, um da própria empresa e outro de um adquirente em parceria. “Pegava o crédito com máquina do adquirente e depois colocava o crédito em um sistema de arranjo fechado”, explica Lindoso. “Trouxemos o pagamento para o nosso terminal. Hoje, ao encostar a pulseira, chamamos a plataforma de adquirência que transfere o dinheiro para o chip da pulseira.” A aplicação do sistema depende de diversas características do próprio evento, como o tamanho, se há ou não conectividade, entre outras etapas. Gigante do entretenimento, a Time For Fun (T4F) começou a trabalhar com a tecnologia em 2017, no festival Lollapalooza. Ainda que seja uma operação custosa PODER JOYCE PASCOWITCH 27


O QUE EU QUERO? SOSSEGO

Rock in Rio e Lollapalooza, dois dos maiores festivais do planeta, pioneiros no sistema cashless (acima); em Noronha, a moda praia tem novo acessório: as pulseiras Nada (abaixo)

e que exige grande esforço de pré-produção, o retorno, segundo a companhia, é satisfatório. “Para a empresa e parceiros do festival, o maior benefício é a experiência do cliente que fica muito mais rápida e ágil”, informa a T4F. A organização também tem seus ganhos. “Conseguimos relatórios muito mais consistentes em todos os níveis, o que ajuda a empresa e os parceiros a saber como planejar o evento da melhor forma.” Franklin Costa é um ávido frequentador de festivais, realiza consultoria (Fluxo), produz conteúdo (Pulso) e organiza viagens (OCLB) nesse universo. Enxerga o cashless como um caminho sem volta para a indústria e ressalta a facilidade e agilidade que ressignificam a experiência do consumidor. Além de conforto, traz segurança: “É possível se programar melhor e, se você beber algumas cervejas a mais, não precisa ficar lidando com dinheiro no bolso. Além disso, evita filas”. O movimento ainda pode aglutinar mais dois ativos promissores. O aprimoramento do cadastro prévio e tec-

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nologias de mapeamento via Bluetooth. Em festivais no exterior, já existem sistemas de check-in nos palcos com câmeras para registrar o momento e integrar com o perfil do consumidor nas redes sociais. “Existem festivais que pedem uma série de informações no pré-cadastro, inclusive em relação a gostos musicais”, explica Costa. “Dentro do evento, com a validação da pulseira, algumas pessoas são sorteadas e um drone sobrevoa a pessoa tocando as suas músicas prediletas”, relata. De fato, a era do cálculo e compra de fichas chegou ao fim. E do lado da organização, os profissionais se veem livres da chamada “sangria”, onde um produtor é responsável pela contagem de pedaços de papel com diferentes especificações e confere se o dinheiro recebido corresponde ao que foi vendido. A tecnologia, mais uma vez, apresenta um caminho de otimização dos processos para resolver gargalos e quem ganha com isso é o público, que, com comodidade, pode, enfim, curtir aquilo pelo qual pagou. O show começou. n

FOTOS REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

Foi-se o tempo das fichas coloridas dos clubes de férias. A paradisíaca Fernando de Noronha experimenta o início do cashless com a pulseira batizada Nada. O dispositivo funciona de modo off-line e apenas um instante de sinal é necessário para que carregue todas as compras do dia, libertando os estabelecimentos com problemas de conexão de internet. Já na Disney World, a experiência se encontra em outro nível com a MagicBand, que permite recarga prévia, serve de entrada em todos os parques, chave do quarto de hotéis do complexo, ativa o serviço de fura-fila (FastPass+), oferece o armazenamento de todas as fotos tiradas nas dependências da rede em um app, além de pagar as contas de restaurantes e lojinhas com um simples toque. Os pais ainda podem dar a pulseira aos filhos e definir limites de gastos – tudo pela experiência. Também nos EUA, o Venmo, do PayPal, gera um perfil on-line, assim como o das redes sociais: com interação virtual. Ainda não há integração com estabelecimentos comerciais, mas a tecnologia vem sendo utilizada para pagar serviços como diaristas, manicure, massagem. O app debita de uma conta corrente, ou cobra um cartão de crédito, e o valor recebido entra como saldo na plataforma, em arranjo fechado. O Venmo já se tornou até verbo (venmoing) nos EUA.


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CONSUMO

GABRIEL KOGAN Arquiteto graduado pela FAU-USP e mestre em Urban Water Studies pela Universidade Técnica de Delft, na Holanda POR ALINE VESSONI

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Pocket Light Meter: faz as vezes de fotômetro. Basta escolher o ISO e aproximar o celular da cena para determinar as opções de abertura e velocidade.

FOTOS REPRODUÇÃO INSTAGRAM; DIVULGAÇÃO

Snapseed: editor de fotos completo e profissional desenvolvido pelo Google.

Qual é seu aplicativo xodó do momento? Na verdade, uso poucos aplicativos. Estou muito conectado ao Instagram e gosto do Gboard, que é para iPhone cuja digitação se assemelha a de aparelhos Android, ou seja, não é preciso digitar letra por letra, ele segue o movimento gestual ou a voz. Primeiro app que checa ao acordar? Faço uma checagem de mensagens em todas as mídias: e-mail, Facebook, Instagram, WhatsApp, olho as notícias no UOL. É uma rotina que faço meio sem perceber. Mas como eu não gosto muito de bate-papo pelo celular – odeio digitar em smartphone – não recebo tantas mensagens, chegam mais e-mails mesmo. Você consegue sair de casa sem o celular ? Às vezes, tenho deixado o celular em casa quando saio para fotografar em bairros mais periféricos, mas não é fácil ficar muito tempo longe. Você não usa o celular para fotografar? Fotografia é meio hobby, tenho migrado do celular para a máquina analógica. Uso uma câmera herdada de meu avô cujo fotômetro não funciona mais. Então, acabo recorrendo ao app Pocket Light Meter que faz as vezes do fotômetro. Com ele, eu meço a luminosidade do ambiente e ele me diz que

ISO, abertura de diafragma e velocidade usar. Usa aplicativo para tratar fotos? Sim, tem o Snapseed que é muito bom. Algumas ferramentas desse aplicativo funcionam melhor e mais rápidas que no próprio Photoshop. E música? Tem algum app que te ajuda a encontrar bandas novas? O Shazam, mas não ouço muita música. Gastei muito tempo caçando bandas novas, mas cheguei a um ponto que tive que deixar a música de lado. E para dirigir? Eu não tenho carro, então nem tenho Waze. Uso o Google Maps para encontrar lugares, mas se preciso me locomover para lugares distantes eu chamo táxi pelo 99, Vá de Táxi e, raramente Uber. Por que não usa Uber, teve alguma experiência ruim com o aplicativo? Não, na verdade sou contra este sistema de precarização do trabalho que o Uber instituiu. Mas uso Uber Black em raras ocasiões, quando eles estão praticando um bom preço. E para viajar, o que costuma acessar? É muito prático em viagem poder acessar a internet para consultar o Google Maps, blogs de viagens, fazer reserva em restaurantes, comprar ingressos.

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ENSAIO

A COMÉDIA DE

LUÍS MIRANDA Com uma carreira sólida também no drama – atuou em longas como Bicho de Sete Cabeças e Meu Nome Não É Johnny –, o ator Luís Miranda não se incomoda em ter o nome associado ao humor. Independente do gênero, arte, para ele, é contestação por aline vessoni fotos maurício nahas styling cuca ellias (od mgt)


Look total Gucci, meia Lupo, relรณgio Jaeger-LeCoultre


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azer comédia pode parecer fácil. Afinal, rir é uma coisa que todo mundo gosta. Mas não é bem assim, como desmistifica o ator Luís Miranda, 49 anos, conhecido sobretudo por papéis hilários nas telas e palcos: teve o Moreno de Sob Nova Direção, o Pajé Murici em A Grande Família, mas impossível era não gargalhar até às lágrimas escorrerem com seus personagens do Terça Insana. Com a Dona Edith, por exemplo, personagem inspirado em sua própria mãe, Miranda faz um estereótipo das mãezonas superprotetoras e da dificuldade de alimentar os filhos nos lares mais simples. É um retrato cômico, porém sério, e sua maneira de trazer à baila assuntos poucos conhecidos pelas classes abastadas. “A minha comédia está muito ligada a uma crítica social. Quando eu faço esse tipo de humor, quero problematizar a Barbie preconceituosa que lutou para tirar o PT [Partido dos Trabalhadores], mas que não se comove com o assassinato de um pai de família pobre, preto e periférico, com 80 tiros cometido pelo Exército do país”, desabafa, em referência à ação que matou o músico Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, em abril no Rio de Janeiro. Fazendo dupla com Mateus Solano, na terceira montagem brasileira de O Mistério de Irma Vap, Miranda diz que só aceitou o papel ao se assegurar com o diretor Jorge Farjalla que a peça ganhasse uma releitura contemporânea. Afinal, “o Brasil de hoje não enfrenta os mesmos problemas de quando [Marco] Nanini e Ney [Latorraca] encenaram”, conta. Um tremendo sucesso, por sinal: permaneceu 11 anos ininterruptos em cartaz. A nova versão, que também está em alta, critica assuntos atuais como a reforma da previdência e os cortes na Lei de Incentivo à Cultura, agora não mais Lei Rouanet – o nome foi deixado de lado pela comunicação oficial do governo. “Precisávamos dar uma leitura da sociedade atual e não subir no palco com os mesmos paradigmas encarados por Nanini. Como eu e Mateus somos um negro e um branco, era preciso também abordar essa calamidade racial que o país está vivendo”, revela Luís Miranda que, entre outros papéis, também encara a governanta negra que é humilhada pela dondoca branca, interpretada por Solano. A única coisa que não mudou da primeira para a terceira versão de O Mistério de Irma Vap foi a boa receptividade do público. Sucesso total. Como dizem nas coxias: Merda! n


“Minha comédia está muito ligada à crítica social. Quando faço esse tipo de humor, quero problematizar”

Camisa e calça Hugo Boss, relógio IWC


Look total Hugo Boss, óculos Ray-Ban, corrente Liberty Art Brothers, sapato Sapataria Cometa Beleza: Alê Fagundes (Capa MGT) Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Produção de moda: Jaqueline Cimadon Assistentes de fotografia: Bruno Guimarães e Deborah Freitas


CASINHA

EXCÊNTRICO EU? Os CEOs das maiores companhias do planeta e seus hábitos estranhos indicam que ser diferente é a tendência no alto escalão

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ouve um tempo em que ninguém trabalhava na Tesla sem antes passar pelo crivo de Elon Musk, o cofundador e maior acionista da montadora de carros elétricos americana. Um excêntrico assumido, o bilionário sul-africano fazia questão de entrevistar todos os potenciais futuros subordinados só para desafiar cada um deles com seu enigma favorito: “Você está de pé na superfície da Terra, e então caminha uma milha para o sul, uma milha a oeste e uma milha ao norte. Você acaba exatamente no mesmo ponto onde começou. Onde você está?”, questionava Musk aos candidatos a lhe chamar de patrão, por vezes incrédulos diante da pergunta para a qual, na quase totalidade dos casos, não haviam se preparado. Musk, é claro, queria saber deles justamente como se sairiam diante do inusitado, afinal ele próprio criou todos os seus negócios fugindo do lugar-comum, uma vez que acredita piamente em um futuro no qual as empresas serão tocadas de uma maneira totalmente diferente daquela que se tornou o padrão, praticamente desde a revolução industrial, com cada um no seu devido quadrado. E ele não está sozinho entre aqueles que dividem a mesma percepção do que está por vir no

POR ANDERSON ANTUNES

mundo corporativo. O fato de que as empresas mais valiosas do mundo neste momento são líderes de indústrias que até poucas décadas atrás nem sequer existiam, como é o caso do comércio virtual, e de que todas são comandadas por “mentes brilhantes” como Musk não é mera coincidência: se no passado os em-


ILUSTRAÇÕES DAVID NEFUSSI; FREEPIK; FOTOS REPRODUÇÃO FACEBOOK


presários e industriais sonhavam em ter propriedades faraônicas ou até mesmo museus com seus nomes para chamar de seus, a moda hoje em dia entre esses poderosos é ser o mais diferente possível entre si, e de preferência tendo em comum apenas o olhar blasé em relação a tudo que é “over”. Um seguidor fiel dessa tendência do “menos é mais” é Mark Zuckerberg, cofundador do Facebook. Quinto homem mais rico do mundo com uma fortuna de quase US$ 70 bilhões, o jovem de 34 anos já deu o que falar pelos hábitos nada comuns que cultiva. Um deles, e talvez o mais estranho, diz respeito à dieta de proteínas de Zuck, que no caso das carnes só inclui aquelas dos animais que ele mesmo mata. Convidado por Zuckerberg e sua mulher, Priscilla Chan, para jantar na residência do casal em Palo Alto, na Califórnia, o cofundador do Twitter Jack Dorsey contou, numa entrevista que deu em 2018, que o rei das redes sociais mantém cabras

vivas no quintal de casa e trata pessoalmente de seu abate e preparação sempre que recebe convidados. Dorsey, aliás, é outro chegado em extravagâncias. Antes de seguir todos os dias para o quartel-general do Twitter, em São Francisco, o empresário de 42 anos toma um banho gelado e só então segue para a sede do microblog – o que faz caminhando, não importa o clima – que fica distante cerca de 5 quilômetros da casa dele. No mais, ele se alimenta apenas duas vezes por dia e faz jejum nos fins de semana, o que acredita ser o segredo da boa forma que exibe nas raras ocasiões em que é flagrado curtindo a vida, já que seu maior prazer é trabalhar. Ter um comprometimento total com o batente, no entanto, não é regra entre essa turma de revolucionários. Tome-se como exemplo Jeff Bezos, fundador da líder mundial em e-commerce Amazon e atual detentor do título de homem mais rico do mundo. Um dos segredos por trás de tantas conquis-

tas, segundo o próprio Bezos, está no fato de que ele sabe reservar um tempo diário para... não fazer nada! “Nunca marco reuniões antes das 10 ou depois das 17 horas, e minhas manhãs são reservadas para o ócio e para os meus filhos”. O maior bilionário do planeta disse em inúmeras ocasiões que nas folgas do escritório da Amazon, em Seattle, sai às ruas distribuindo bananas para os vizinhos, como se fosse um hobby. Uma pesquisa feita em 2017 pela consultoria McKinsey indicou que as profissões do futuro serão cada vez mais definidas pelos fatores que diferenciam as pessoas do que por destaques em currículos e até mesmo pela qualificação educacional dos trabalhos. A imigração e, sobretudo, a automação deverão ter papel fundamental na forma como os trabalhos são feitos. Em resumo, quanto mais diferente da média, como quer Musk, melhor. A propósito, há duas respostas possíveis para o enigma que ele costumava


propor nas entrevistas de trabalho que conduzia. A primeira é que o ponto misterioso é o Polo Norte, já que a Terra é esférica e uma caminhada em sentido triangular sobre sua superfície terminaria no ponto de partida. A segunda aponta para qualquer lugar fora de um raio de uma milha de circunferência ao redor do Polo Sul. Quem acertava as duas era contratado na hora.

SÓ NA BRISA

Se assumir o lado “diferentão” hoje em dia é tão importante para os trabalhadores quanto ter um currículo recheado de pós-graduações e MBAs, a americana Christine Meeusen, de 60 anos, é o melhor exemplo disso. Meeusen é cofundadora da Sisters of the Valley, uma fazenda localizada na pacata região de Christine, na Califórnia, que em nada difere das outras que existem por lá e são especializadas em flores, exceto por um detalhe: as plantas produzidas no local são as de Cannabis sativa.

E é tudo levado muito a sério, tanto que o nome da fazenda (Irmãs do Vale, em bom português) foi pensado para lembrar o de um convento, já que Christine e suas sócias que vivem lá adotaram o sistema de clausura para tocar o negócio, com direito ao uso de hábito e tudo, e para o qual se dedicam em tempo integral. Apesar de não terem nenhuma ligação com a Igreja Católica e de serem declaradamente contra qualquer tipo de religião, as “irmãs” (é assim que elas preferem ser chamadas) cultivam maconha não somente porque a erva virou praticamente uma commodity, mas sobretudo porque acreditam em seu potencial de elevá-las a um ponto de contato com um “poder maior”. É algo que pode parecer loucura à primeira vista, mas como estratégia tem funcionado muito bem, obrigado. Fundada em 2015, a Sisters of the Valley registrou vendas de US$ 60 mil em seu primeiro ano de atividade, cifra que saltou

para impressionantes US$ 1,1 milhão já nos 12 meses seguintes e parece estar acompanhando o alto crescimento do segmento de maconha legalizada nos Estados Unidos – uma estimativa da empresa Grand View Research Inc. apontou recentemente que esse mercado global da brisa amparado pela lei deverá movimentar US$ 146,4 bilhões já em 2025. Christine, que comanda tudo, optou por focar na produção de cannabidiol (CBD), uma das 113 substâncias presentes na composição da maconha e cuja procura resultou em um mercado à parte. É com CBD que se produz todos os outros produtos à base da erva que não se encaixam na descrição de um mero baseado, como cremes, chás, e, muito em breve, até cervejas, feitas pela gigante Anheuser-Busch InBev em parceria com a canadense Tilray, maior produtora de maconha do mundo. É uma sacada de fazer inveja a muitos CEOs engravatados. n


SOB MEDIDA POR DADO ABREU

SUA PEÇA DE ROUPA FAVORITA:

Doc Martens do Dover Street Market de Tóquio. DRESS CODE IDEAL:

Casual, camisa escura e calça escura. UM HOMEM DE ESTILO:

Serge Gainsbourg. UM INSTAGRAM PARA SEGUIR:

Mídia Ninja. UM SONHO:

Sescs São Paulo espalhados por todos os bairros do país. UM PERSONAGEM HISTÓRICO: UM PERSONAGEM DA FICÇÃO:

Stephen Dedalus. UMA LÍNGUA QUE GOSTARIA DE FALAR:

Alemão. SE VOCÊ NÃO VIVESSE EM SÃO PAULO, QUAL CIDADE ESCOLHERIA?

Nova York. CARACTERÍSTICA QUE ADMIRA EM VOCÊ:

Imaginação. CARACTERÍSTICA QUE DETESTA EM VOCÊ: Angústia. SUA MAIOR EXTRAVAGÂNCIA:

Colecionar móveis brasileiros. SUA MAIOR REALIZAÇÃO:

Viver de arte no Brasil. SER BEM-SUCEDIDO É:

Trabalhar. ONDE E QUANDO VOCÊ É MAIS FELIZ:

FELIPE HIRSCH premiado diretor de teatro e cinema, em cartaz no Brasil e no mundo com as peças Fim e Democracia. Nos próximos meses entra no set para rodar o longametragem Fazenda

O QUE FALTA NA SUA CASA:

Ouvindo música.

Uma mesa para comer.

UMA INSPIRAÇÃO:

ATIVIDADE FÍSICA QUE PRATICA:

Antonio Carlos Jobim.

Andar.

VÍCIO:

TIME DO CORAÇÃO:

Coca-Cola Zero com Rivotril.

Não tenho.

UM MEDO:

UMA PEÇA:

Avião.

NÃO PODE FALTAR NO CAFÉ DA MANHÃ:

Dias Felizes, de Samuel Beckett.

UM COMPROMISSO COM O SÉCULO 21:

Eu não tomo café da manhã.

UM DRINQUE:

Sobreviver.

A MELHOR HORA DO SEU DIA:

Coca-Cola Zero.

DESEJO PARA O FUTURO:

Madrugada, em casa.

UMA MÚSICA QUE LHE REPRESENTE:

Uma saída para o Brasil.

A PRIMEIRA COISA QUE VOCÊ FAZ QUANDO CHEGA AO TRABALHO:

Eu trabalho em todos os lugares.

“Saudade do Brasil”, do Tom Jobim.

O QUE FALTA REALIZAR NA SUA VIDA:

Viver longe rodeado por amigos, amores e cachorros.

FOTOS ARQUIVO PESSOAL; RENATO ROCHA MIRANDA/TV GLOBO; PAULO BELOTE/TV GLOBO; FREEPIK; UNSPLASH/CKTURISTANDO; DIVULGAÇÃO

Robert Johnson.


UM LUGAR NO MUNDO:

UM ATOR:

Paulo José.

São Paulo.

UM TEMPERO:

Manjericão.

UM LIVRO:

O Processo, de Franz Kafka.

GADGET INDISPENSÁVEL:

Toca-discos.

UMA MANIA:

Só assistir a filmes no cinema. UM DISCO:

UM DIRETOR QUE TE INSPIRA:

White Light, White Heat, do The Velvet Underground.

Antônio Abujamra.

UM APLICATIVO:

Spotify. UM RESTAURANTE NO MUNDO:

UMA ATRIZ:

Sweetings, Londres.

Fernanda Montenegro. UM ESPORTE QUE GOSTARIADE PRATICAR:

UM FILME:

Pilates.

Playtime, escrito, dirigido e estrelado por Jacques Tati.

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MOTOR

SUPERMÁQUINAS Eles saíram das pistas para as cidades, adaptaram-se bem nas estradas, mas com esses carros é preciso ter cuidado na hora de acelerar. Velocidade é o ponto forte da categoria – podem chegar a 100 km/h em menos de três segundos por aline vessoni 42 PODER JOYCE PASCOWITCH


LEXUS LC 500

Esse coupé é perfeito para que o motorista – piloto é uma palavra melhor aqui – se sinta como se estivesse com um verdadeiro carro de corrida nas mãos: além de ser alimentado por um motor V8 de 473,4 CV e ir de zero a 100 km/h em apenas 4,5 segundos, os bancos estão o mais próximo possível do centro de gravidade do veículo, tornando a viagem mais emocionante. A forma esportiva, robusta e refinada ao mesmo tempo, encontra o ponto de equilíbrio na postura rebaixada a fim de conjugar aerodinâmica e potência. LEXUS.COM.BR PREÇO SOB CONSULTA

FOTOS DIVULGAÇÃO

MERCEDES AMG GT

Com arrancadas explosivas, mas sem perder a ternura, digo, o conforto jamais, este Mercedes dá a sensação de condução do automobilismo esportivo sem o torcicolo básico do final da prova. O motor AMG com potência de 639 CV garante dirigibilidade e estabilidade e por isso cai como uma luva para condutores de estilo mais agressivo. O eixo traseiro, controlado eletronicamente, permite aceleração mais segura nas saídas de curva. O coupé vai de zero a 100 km/h em apenas 3,2 segundos e proporciona muito mais arrojo por conta do programa de condução adicional Race. MERCEDES-BENZ.COM.BR A PARTIR DE R$ 1,1 MILHÃO

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BUGATTI DIVO

A Bugatti não tem dúvidas em afirmar que o Divo é o carro mais ágil e dinâmico já criado pela companhia. Mas para ter essa joia rara na garagem é preciso desembolsar uma pequena fortuna e encarar fila de espera: a marca confirmou que deve produzir apenas 40 unidades entre 2019 e 2020 para celebrar 110 anos de tradição. O motor é o mesmo do Chiron, um W16 quadriturbo de 1.500 CV, porém é mais leve, podendo alcançar até 380 km/h. Aceleração: vai de zero a 100 km/h em 2,4 segundos. BUGATTI.COM A PARTIR DE R$ 21,2 MILHÕES

AUDI R8 COUPÉ V10 PLUS

Em sua versão plus, o R8 coupé aparece mais invocado. O look esportivo é reforçado pelos retrovisores de carbono brilhante, faróis de laser e a grade de proteção frontal em tom cinza luminoso. Isso sem mencionar o coração da coisa toda: o motor V10 de 610 CV, que entrega a maior potência e velocidade de todos os modelos da marca. É equipado com transmissão de sete velocidades e o sistema de navegação “cruising”, que faz o carro acelerar mesmo sem pressão sobre o pedal do acelerador. AUDI.COM.BR A PARTIR DE R$ 1,2 MILHÃO


FORD GT

A lenda das pistas ganhou uma roupagem supermoderna e tecnológica: a estrutura de fibra de carbono e o motor V6 3,5 l EcoBoost de 655 CV são provas disso. Tanto na estrada quanto nas pistas, os detalhes do Ford GT foram pensados com o objetivo de entregar velocidade e dirigibilidade excepcionais. A motorização garante velocidade máxima de 347 km/h. A tecnologia utilizada para melhorar a aerodinâmica garante a melhor entrega de força da categoria. FORD.COM A PARTIR DE R$ 1,4 MILHÃO

FOTOS DIVULGAÇÃO

MCLAREN 600LT

Uma autoestrada deserta à frente e um McLaren 600LT. Ligue os motores e sinta a adrenalina correr livremente nas veias. Como seus predecessores, a quarta geração dos longtails – LT – (rabo longo, em português) continua garantindo padrões superiores de performance e dirigibilidade. O espírito é o mesmo, com todo o charme de um LT, mas a suspensão mais baixa e rígida garante uma postura agressiva e maior capacidade dinâmica. Com o mesmo motor de base dos esportivos da marca, um V8 3.8 biturbo, ele vai de zero a 100 km/h em 2,9 segundos, podendo atingir a velocidade de 328 km/h. MCLAREN.COM.BR A PARTIR DE R$ 2,7 MILHÕES

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FOTO ACERVO UH/FOLHAPRESS


RESPIRO

VANGUARDA PAULISTANA Pintor, desenhista, arquiteto, cenógrafo, decorador, escritor, teatrólogo e engenheiro, na enumeração da abalizada enciclopédia do Itaú Cultural, Flávio de Carvalho (1899-1973) foi um vanguardista estrito – suas performances começaram umas quatro décadas antes de o gênero ser criado –, e um renascentista lato, dado seu talento multidisciplinar. Assim, ter colocado um elenco negro em cena em 1934, desenhado a impactante Série Trágica, que retratava a agonia e morte de sua própria mãe, e ter desfilado de saia e blusa folgada, o traje que ele queria que os homens paulistanos vestissem na década de 1950, pode até não surpreender. Não surpreender hoje em dia, bem entendido.


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VIAGEM

FOTO DIVULGAÇÃO

(RE)NASCE UMA ESTRELA Tal qual uma fênix, o principado de Mônaco renasce de tempos em tempos – e nunca sai de moda. Assim, como quando decidiu, em fins do século 19, erguer um belo cassino e grandes salões em Monte Carlo, o mais deslumbrante ponto da Côte d’Azur – por sua vez a mais lendária parte do litoral mediterrâneo –, mais uma vez o minipaís mais charmoso do mundo se reinventa: o príncipe Albert e a Société des Bains de Mer (SBM), a grande empresa nacional, acabam de anunciar a modernização que transformará aquele paraíso nos próximos 15 anos. E a mudança, deslumbrante, já começou: PODER fez parte do seleto grupo de jornalistas que visitou o mítico Hôtel de Paris, o mais antigo e tradicional, em primeira mão após a reabertura pós-renovação. E gostou muito do que viu texto e fotos fábio dutra PODER JOYCE PASCOWITCH 49


O conceito de spa, presente em quase todo grande hotel atualmente, faz parte do DNA de Mônaco. Não à toa, a grande empregadora local é a SBM, que nasceu junto com Monte Carlo numa época em que banho de mar era sinônimo de tratamento e não de esporte. A tradição está mais que preservada: as Thermes Marins, debruçadas sobre as falésias mediterrâneas – com acesso exclusivo para os hóspedes por dentro do Hôtel de Paris – continuam sendo um dos lugares mais especiais do mundo para cuidar de si mesmo. A piscina aquecida com vista para o Mare Nostrum é uma estrela à parte: os visitantes podem recarregar as energias a qualquer época do ano em um dos mais agradáveis cenários do globo terrestre; à esquerda, o salão privado do restaurante Le Vistamar do Hotel Hermitage.

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FOTOS DIVULGAÇÃO

Mônaco tem talvez a maior concentração de estrelas Michelin por metro quadrado. São os principais chefs do mundo cozinhando nos mais belos salões com as mais belas vistas. O Le Grill, no topo do Hôtel de Paris, e o Le Louis XV – este três estrelas, ulalá!, de Alain Ducasse, o chef vivo mais celebrado do mundo. No jantar comandado pelo chef Dominique Lory (acima), podemos provar uma cozinha moderna incrivelmente simples, onde importa o gosto real das coisas, ressaltado das mais sublimes formas e acompanhado dos melhores vinhos de uma das maiores adegas da Europa.


Não é para reles mortais, mas quem quiser fazer e acontecer, as suítes presidenciais do Hôtel de Paris são dignas de suspiros. Em homenagem aos pais do príncipe Albert, a princesa Grace Kelly e o príncipe Ranier (este, homenageado no quarto com a piscina privativa acima, bien sûr). Se ficar hospedado em alguma das duas, não deixe de fazer uma fezinha nos salões mais restritos do Cassino de Monte Carlo. Vale a pena: as rodadas de James Bond são pouco perto da grandeza desses salões que nos remetem a outros tempos.

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PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN

LA DOLCE VITA

Os fãs da Itália têm voltado seus radares para uma das cidades mais antigas do mundo, a charmosa Matera. Erguida à beira de um despenhadeiro, a vila tem cada vez mais restaurantes, galerias e hotéis escavados nas rochas de seus antigos bairros, mais conhecidos como sassi. A dica é desbravar suas ruelas sem pressa e com olhar atento para descobrir os esconderijos dos locais. Vale provar as massas do Osteria al Casale e os sorvetes orgânicos, feitos diariamente na gelateria I Vizi degli Angeli. Para se hospedar, o Sextantio Le Grotte della Civita, com 18 cavernas restauradas e velas por toda parte, é imperdível – o café da manhã é servido em uma capela do século 13. Em tempo: este ano, Matera foi eleita a capital europeia da cultura com várias programações ao longo dos meses e planos de uma nova escola de design e um museu ao ar livre. +LEGROTTEDELLACIVITA.SEXTANTIO.IT

ORIGAMI

São cinco andares e mais de 7 mil itens, entre roupas, produtos de papelaria, louças e utilidades mil, além de uma padaria artesanal. Trata-se da nova – e maior até agora – loja da Muji, em Tóquio, uma verdadeira perdição para os amantes da marca. E o melhor: nos cinco últimos andares do prédio, em Ginza, fica o hotel de mesmo nome. São 79 quartos bem minimal, mas repletos de móveis e daqueles utensílios Muji que os viajantes tanto adoram: toalhas felpudas, pijamas que quase não ocupam espaço na mala, luzinhas e muitos outros. Quem gostar, é só descer para comprar. O hotel ainda tem galerias de arte e livraria. +MUJI.COM

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BRISA

No próximo verão europeu, mais do que um pulinho nas praias do Algarve, vale reservar um dia para comer no Vila Joya. O restaurante mais sofisticado do hotel, comandado pelo chef Dieter Koschina – com duas estrelas Michelin –, faz sucesso, mas a dica é colocar o pé na areia. É ali, sob a brisa do mar e pertinho das dunas, que funciona um ‘chiringuito’ adorado pelos locais por conta do clima despretensioso. Vale garantir uma mesa no bar e curtir o fim de tarde enquanto o sushiman prepara niguiris e robatas, todos ótimos. Para acompanhar, mojitos e o pôr do sol. +VILAJOYA.COM

ALÉM DO TERRITÓRIO

FOTOS REPRODUÇÃO FACEBOOK; DIVULGAÇÃO; BRUNA GUERRA

EXTENSÃO

Não basta se hospedar em um dos incríveis hotéis Mandarin espalhados pelo mundo, é preciso desbravar os destinos com a mesma ótica diferenciada do grupo. Por isso, a rede se juntou à operadora de luxo Abercrombie & Kent para oferecer experiências customizadas aos seus hóspedes. Em Milão, por exemplo, é possível fazer um tour privado pela tela A Última Ceia, de Da Vinci, e finalizar o programa com jantar na Basílica Santa Maria delle Grazie. Mas a imaginação é o limite: tem encontro com os jogadores dos Knicks em Nova York, roteiro arqueológico na Tailândia, aula de astronomia em um museu de Miami, passeio sem muvuca no Louvre, as melhores tapas de Barcelona e muito mais. +MANDARINORIENTAL.COM

CAMILA NUNES CARNEIRO JOHNSON

DIRETORA COMERCIAL DA FLORENSE REBOUÇAS, D&D SHOPPING E LAR CENTER

“Adoro viajar. Morei por mais de seis anos em Miami e sempre curti a vida à beira-mar. Quando voltei ao Brasil, minha vontade era trabalhar bastante e curtir a praia sempre que possível. Acabei de chegar de São Miguel dos Milagres, em Alagoas. Um fim de semana que pareceu uma viagem no tempo, voltei apaixonada, especialmente pela praia do Marceneiro. A paz mora nos 23 quilômetros de litoral. Outro ponto forte é a gastronomia, com frutos do mar e peixes frescos em abundância. A simplicidade é o grande luxo!”

O Chile foi o país escolhido para abrigar a primeira empreitada fora da África do grupo &Beyond, famoso por seus safáris. O Vira Vira fica na região dos Lagos, em uma fazenda orgânica com vista para o vulcão Villarrica. Com janelões e muita madeira, o projeto inclui antiguidades e artesanato dos moradores locais, os mapuches. Todos os dias, os hóspedes se reúnem com guias que customizam as experiências: raftings, caminhadas na neve, cavalgadas e trilhas de bike incluídas. Na volta, desfrutam de spa, piscinas aquecidas, ioga, adega com centenas de rótulos e observatório de estrelas. No melhor esquema farm-to-table, a culinária é outro destaque do local, que também tem uma fábrica de queijos. +ANDBEYOND.COM

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COZINHA DE PODER POR FERNANDA GRILO

SEMENTE VERSÁTIL

Pouco popular no Brasil, mas muito utilizado na culinária asiática, o cardamomo é semente da família do gengibre de aroma intenso que joga nas 11: enfatiza o salgado dos pratos e o doce da sobremesa e ainda perfuma o drinque da hora Ele veio da Índia e, antes de temperar de tudo um pouco, servia de “pasta” de dente para os egípcios e como fragrância para os gregos. O cardamomo está em alta e pode ser facilmente encontrado em pratos salgados, doces e muitos cocktails. Quem já experimentou o bolo de cenoura com bastante cardamomo do Futuro Refeitório, em São Paulo, não se arrependeu. E o melhor é que você pode usar e abusar dessa especiaria que é pequena, mas lotada de benefícios cientificamente comprovados. A nutricionista holística Fernanda Scheer é quem explica o que ele tem de bom: “Como vem da família do gengibre, destaco sua ação antioxidante, além de ser diurético, controlar a pressão arterial, conter substâncias anticancerígenas, mas o principal é que auxilia no processo digestivo, diminui os gases e também age contra o mau hálito, entre tantos outros pontos positivos”, afirma. A única restrição é para grávidas e lactantes, que devem ter a autorização de seus médicos para o consumo. Encontrado em dois tipos, a Elettaria (cardamomo verde) e a Amomum (preto, branco ou vermelho). Para aproveitar mais suas vitaminas, o melhor é moer a semente na hora do uso. n

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TIRADITO

RENATA VANZETTO, CHEF DO MARAKUTHAI INGREDIENTES: • 120 g de filé de tilápia • Cardamomo em pó a gosto • Molho de pimenta verde a gosto • Flor de sal a gosto • Suco de limão-siciliano a gosto • Azeite extravirgem a gosto • 1 colher de sopa de chips de batata-doce • Ciboulette a gosto MODO DE PREPARO: Em um prato retangular, cobrir a superfície com o peixe cortado em lâminas finas e polvilhar o cardamomo por cima. Tempere também com o restante dos ingredientes. Para os chips de batata-doce, cortar o tubérculo em lâminas finas no descascador de legumes e fritar em óleo quente até dourar. Finalize a montagem do peixe com os chips triturados e ciboulette picada.

GT BASÍLICO

FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

TALITA SIMÕES, BARTENDER DO MOMA MIA INGREDIENTES: • 60 ml de gim • 15 ml de limoncello artesanal • 25 ml de suco de limão-siciliano • 350 ml de água tônica • 1/2 fatia de abacaxi fresco • 5 sementes de cardamomo • Manjericão a gosto MODO DE PREPARO: Juntar o gim, água tônica, limoncello e suco de limão em uma coqueteleira. Mexer e servir na taça com o abacaxi, cardamomo e o manjericão. PODER JOYCE PASCOWITCH 55


HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI

DE BEM

PIP

O Pip é um monitor de estresse que promete tornar sua vida mais saudável e feliz. O pequeno dispositivo avalia o seu estado por meio dos poros das pontas dos dedos. Os resultados e variações podem ser acompanhados pelo smartphone, em aplicativo disponível para iOS e Android. O app ainda oferece sessões guiadas de relaxamento.

COM A VIDA Com estes aparelhos você pode controlar o nível de estresse, monitorar a hidratação do seu corpo e até a qualidade do ar que respira

THEPIP.COM PREÇO: R$ 582

LVL HYDRATION MONITOR Este gadget consegue medir simultaneamente hidratação, ritmo cardíaco, qualidade do sono e treino diário – monitorando passos, distâncias e calorias queimadas. Os alertas são disparados em tempo real para você saber se é hora de beber água ou intensificar a atividade, por exemplo. O monitoramento de hidratação utiliza luz infravermelha para medir a quantidade de água no sangue e sugerir a quantidade de líquido que você precisa ingerir para se sentir melhor. Com base nos dados coletados, o aparelho ainda indica como deve estar o seu humor. ONELVL.COM PREÇO: R$ 586

AROMA THERAPEUTICS AROMACARE

Para quem quer relaxar e dormir melhor, a startup francesa Aroma Therapeutics criou um difusor que usa cápsulas de aroma feitas de misturas orgânicas de óleos de alfazema, hortelã, limão, eucalipto, laranja doce e alecrim. Segundo a empresa, cada cápsula contém uma mistura estudada de óleos essenciais orgânicos desenvolvida em parceria com um laboratório especializado em aromaterapia. Para usar, basta escolher uma delas, inserir no aparelho e começar sua sessão pessoal de bem-estar que dura 20 minutos. Cada cápsula vale para dez sessões. AROMA-CARE.FR PREÇO: R$ 437 (PACOTE DIFUSOR + 2 CÁPSULAS)

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UPRIGHT GO

Um wearable discreto que funciona como grande aliado para quem costuma descuidar da postura. Para usar, você precisa apenas grudar o aparelhinho nas costas (ele tem adesivos de silicone). Toda vez que você estiver com uma postura prejudicial para a saúde, ele vai vibrar suavemente para dar o alerta. A intensidade da vibração pode ser ajustada e o dispositivo pode ser utilizado enquanto você estiver sentado, em pé ou andando. O fabricante afirma que melhorar a postura, reduz dores nas costas, aumenta a produtividade e o bemestar em geral. UPRIGHTPOSE.COM PREÇO: R$ 312


ATMOTUBE 2.0

ROGÉRIO ANDRADE

CEO da Avantto “Criamos na Avantto um app no qual os clientes podem planejar viagens, acompanhar os voos em tempo real e compartilhá-los com outros proprietários de aeronaves da nossa frota. Facilidades para ganhar tempo, além da possibilidade de economizar, com o compartilhamento de assentos vazios com outros cotistas, por exemplo. No final, a tecnologia acaba tornando essas modalidades de prestação de serviço mais amigáveis.”

O Atmotube monitora a qualidade e a segurança do ar que você respira. Pequeno e portátil – pesa 38 gramas – o aparelhinho avalia em tempo real a poluição do ar causada por gases nocivos e uma ampla gama de compostos orgânicos voláteis (VOCs), como acetona, metanol, benzeno, etanol, tolueno, xileno e formaldeído. Também mede pressão atmosférica, temperatura e umidade. Quando há algum perigo para a saúde, ele alerta imediatamente. Pode ser conectado ao smartphone via Bluetooth. ATMOTUBE.COM PREÇO: R$ 387

FOODSNIFFER

Um “focinho” portátil que é perito em avaliar se carnes bovinas, de frango ou peixe estão frescas e indicadas para consumo. Conectado ao smartphone, o FoodSniffer mede os níveis de gás da carne crua, analisa os resultados e entrega tudo imediatamente por meio de um aplicativo. Que alívio, hein?!

* PREÇOS PESQUISADOS EM MARÇO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES FOTOS DIVULGAÇÃO

MYFOODSNIFFER.COM PREÇO: R$ 508

WITHINGS SLEEP TRACKING MAT

Você dorme bem? Para saber a resposta exata, experimente colocar este tapetinho sob o colchão. O Sleep Tracking oferece uma visão detalhada de suas noites, monitorando ciclos do sono, frequência cardíaca e até o ronco (se houver, claro). Os dados coletados são sincronizados automaticamente com o app via wi-fi e todas essas informações indicam parâmetros que afetam a qualidade do seu sono, como duração, profundidade, interrupções, horários e tempo necessário para adormecer e acordar. WITHINGS.COM PREÇO: R$ 390

LOW-TECH

SÉRIE BOTÂNICA

Assinada pela artista Marcia Limmanii, a Série Botânica da dpot objeto é composta de bowls em formato de pétalas, pratos, cabaças e tigelas. Todas as peças são modeladas à mão e finalizadas, uma a uma, com argila líquida na cor areia. “Apesar de serem idênticas, o esmalte – ou a ausência dele – faz com que as peças nunca sejam iguais umas às outras, assim como nós”, explica a ceramista. Os objetos são adornados com imagens que remetem à beleza da flora brasileira e garantem design e utilidade no mesmo produto. INSTAGRAM - @DPOTOBJETO

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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA

UM PROJETO DE PAÍS Em biografia, o jornalista Luis Nassif conta como o banqueiro e embaixador Walther Moreira Salles ajudou a pensar, construir e promover o Brasil

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alther Moreira Salles tinha 16 anos quando recebeu do pai uma carta com um conselho: o destino do grande empresário tem de estar ligado ao destino do país. A história do mineiro de Pouso Alegre que cresceu em Poços de Caldas, viveu a efervescência do Rio nos anos 1940, liderou como embaixador a renegociação da dívida brasileira em três governos e transformou a economia do país chega às livrarias. Walther Moreira Salles: o BanqueiroEmbaixador e a Construção do Brasil (Companhia Editora Nacional, 448 págs., R$ 74,90) é resultado de um trabalho de três décadas do jornalista Luis Nassif. Com depoimentos do próprio biografado e dezenas de entrevistas e material de arquivo, o livro reconstrói a trajetória daquele que talvez tenha sido o mais importante homem de negócios do país. Walther Moreira Salles (19122001) foi testemunha e construtor de uma metamorfose: do país agrário da Primeira República ao

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Brasil que se insinuava na área petrolífera, no rodoviarismo, no mercado de capitais, na produção de papel e celulose. Banqueiro que herdara do pai uma casa de finanças – que transformaria em um dos mais importantes grupos bancários do país, o Unibanco – Moreira Salles foi acima de tudo, segundo Nassif, um pensador do Brasil. “Apesar das grandes crises políticas do período, todo mundo tinha um projeto de país na cabeça”, diz o biógrafo. “O sonho dele era ser um grande empresário de um grande país. Embora seja o mais internacional dos brasileiros de seu tempo, ele nunca deixou de lado o orgulho de ser brasileiro e a defesa do interesse nacional.” Em meio às costuras no mundo dos negócios e da política, a biografia reserva lugar para as histórias saborosas de sua vida privada, como uma farra com Ary Barroso na adolescência e um affaire nos anos 1950 com a diva do cinema

Greta Garbo. A intimidade do homem tido como frio e reservado foi aos poucos sendo rompida pelo biógrafo. “Ele levou de dois a três anos para falar da Elisinha”, lembra Nassif. Elisa Moreira Salles, segunda mulher do biografado, foi uma figura fundamental na vida dele. “Era um apaixonado”, diz Nassif. Elisinha, conta o biógrafo, criou uma rede de relacionamentos própria, tão ou mais ampla que a do marido. “Ela encarava os jantares como se encara na diplomacia: é um lugar para você planejar contatos e negócios”, afirma. Criador do termo “cabeça de planilha”, usado para se referir a economistas que se detém em cálculos e projeções frias, Nassif encontra em Moreira Salles a antítese desse seu modelo. “Tinha a visão do todo”, afirma. “Quando você tem as grandes mudanças de padrão que exigem intuição e dedução, aí entra o gênio do grande empreendedor, que é similar ao do grande estadista.”


PODER É 2 - CHINA EM MOVIMENTO O Balé Nacional da China está de volta ao Brasil com dois espetáculos: Lanternas Vermelhas, dirigido pelo mesmo cineasta Zhang Yimou que transpôs a obra para o cinema, e o clássico O Lago dos Cisnes. Integrada por 70 bailarinos, a companhia foi fundada em 1959 e é a mais prestigiada do país. As apresentações acontecem de 23 de maio a 9 de junho, no Rio, em São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte.

FOTOS DIVULGAÇÃO

1 - A NOVIÇA REBELDE A história real de uma mulher acusada de criar um convento clandestino no Brasil colonial foi o mote para o mais recente romance de Maria Valéria Rezende. Carta à Rainha Louca (Companhia das Letras, R$ 39,90) narra a história de uma religiosa que, confinada em um convento de Olinda no fim do século 18, escreve à rainha de Portugal, D. Maria 1ª, avisando-lhe dos destemperos dos homens da coroa e do malfadado lugar da mulher naquele contexto de hostilidade. O livro articula trama de romance e uma extensa pesquisa em arquivos. Na linguagem, os trejeitos do século 18 estão lado a lado com a língua moderna.

3 - ARTE RESISTE O MAM-SP expõe trabalhos que ressaltam movimentos de contestação da ordem nos anos 1960. A exposição Os Anos em que Vivemos em Perigo põe em cena as obras do acervo do museu que mostram a potência dessa década marcada pela efervescência política no Brasil e no mundo. São 50 obras de artistas como Anna Maria Maiolino, Antonio Henrique Amaral e Claudio Tozzi, feitas em técnicas e suportes diversos. Até 28 de julho. 4 - FANTÁSTICO REAL Los Silencios, filme de Beatriz Seigner, conta a história de Amparo (Marleyda Soto), refugiada colombiana que, ao deixar o país, encontra o pai de seus filhos (Enrique Díaz), dado como desaparecido e vivendo numa ilha do rio Amazonas povoada por fantasmas. O longa é feito quase todo por não atores. Tal como vivos e mortos, ficção e real convivem na ilha. “Sempre vi o filme nessa borda entre fronteiras. Acho potente essa mistura de cocriação. Não gosto quando o ator memoriza e parece mecânico”, explica Beatriz. Los Silencios foi exibido em Cannes e considerado pela revista Hollywood Reporter um dos 20 melhores filmes do festival. PODER JOYCE PASCOWITCH 59


CABECEIRA

A PAIXÃO SEGUNDO G. H. – CLARICE LISPECTOR

Parafraseando Clarice, foi onde eu aprendi que nem a pergunta eu sabia fazer e por causa da resposta que sempre existiu em mim, fui obrigada a descobrir a que pergunta ela correspondia. Essa obra influenciou minha produção a posteriori que se desdobrou no meu livro Elogio da Diferença: o Feminino Emergente.

ESTANTE

POR ALINE VESSONI

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MEMÓRIAS DE ADRIANO – MARGUERITE YOURCENAR

Com esta obra aprendi que todo corpo é nosso melhor amigo e também um traidor, que um dia nos trairá. É ele que nos mata.

MEMÓRIAS DA EMÍLIA – MONTEIRO LOBATO

Emília tornou possível o direito a má-criação. [Uma das personagens principais do Sítio do Picapau Amarelo, obra infantil de Monteiro Lobato.]

ANTÍGONA – SÓFOCLES

Aqui eu aprendi tudo sobre a vida, a liberdade e a dimensão trágica do viver. GRANDE SERTÃO: VEREDAS – GUIMARÃES ROSA

“O diabo na rua, no meio do redemoinho”, a frase que é repetida inúmeras vezes nessa obra, que está entre as maiores da nossa literatura, é uma boa definição do que é a vida, ou de como a gente se sente nela.

MEMÓRIAS DE UMA MOÇA BEM-COMPORTADA – SIMONE DE BEAUVOIR

Este livro ensinoume a ser uma moça malcomportada. [A filósofa existencialista, é considerada uma das maiores representantes do movimento feminista.]

FOTOS DIVULGAÇÃO

Antes mesmo de aprender a ler, a jornalista, escritora e advogada ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA já viajava nas histórias contadas pela irmã mais velha. Ela se lembra de narrações fascinantes que chegavam daquela voz e, mesmo se os livros tinham figuras, o que lhe interessava era a trama. Assim que se tornou habilitada para juntar as letras e formar frases, Rosiska passou a arriscar os primeiros versos. Aos 9 anos, já escrevia pequenas histórias. “O mundo imaginário sempre foi muito presente para mim tanto quanto o real. Convivi com personagens literários como com gente de carne e osso. O Marquês de Rabicó na infância, Antígona na vida adulta. Me acompanharam a vida inteira”, conta. Inclusive, ao ser eleita para a Academia Brasileira de Letras, em 2013, ela falou sobre a “amizade” de escritoras como Marguerite Duras e os personagens citados. “Apresentei minha família secreta no discurso, pois o mundo da literatura fez com que eu criasse presenças tão reais quanto meus amigos.” Como uma das grandes vozes do feminismo, boa parte de sua obra versa sobre corpo, liberdade e mulheres em movimento. Ferrenha opositora da ditadura militar, ela foi para o exílio em Genebra, onde viveu cerca de dez anos e foi justamente lá que escreveu seus dois primeiros livros – Le Féminin Ambigu e La Culture des Femmes: Tradition et Innovation – e, apesar de ter tido uma experiência “dolorosa” para escrever em outro idioma, é apreciadora da literatura universal: “Sou capaz de amar A Obra em Negro, de Marguerite Yourcenar, como eu amo A Paixão Segundo G. H., de Clarice”.


ESPELHO

FOTO DIVULGAÇÃO

MESA MÁGICA

Na ausência do verbo “mesar”, vale a expressão “fazer uma mesa” para descrever o trabalho da Mesa, empresa sonhada e fundada pela jornalista mineira BARBARA SOALHEIRO. É uma espécie de consultoria que age de maneira pontual e heterodoxa para solucionar uma questão empresarial. O formato é exatamente esse, o de uma mesa, que dura uma semana. “O cliente me traz um problema e ele pode ser de qualquer complexidade – aliás, quanto mais difícil, melhor. Montamos um time com gente de dentro da empresa, parceiros e especialistas de fora. Todo o conhecimento necessário se senta a uma cadeira de distância para resolver o problema. Quando a

mesa termina não temos uma ideia, mas a solução”, diz Barbara. No começo, o modelo proposto tinha cunho educativo: a ideia era que a mesa contasse com a visão criativa de artistas. “Quando você os vê tomando decisões e resolvendo problemas inesperados, aprende de fato.” Barbara ainda monta mesas educativas, mas o foco está totalmente voltado para o mercado. Com muitos cases de sucesso, como a mesa montada, em 2018, para a Kellogg’s mexicana, que culminou com o lançamento de novos produtos, a jornalista tornada empresária acabou convidada para levar sua expertise para o SXSW, o famoso festival de Austin que mapeia as novas tendências das relações de

consumo, este ano. Em sua fala, sublinhou a necessidade de encontrar formas de fazer as pessoas “amarem” seu trabalho. O que significa, numa visão mais administrativa, aumentar a produtividade. Assim, no tempo de sete dias que a Mesa pede para encontrar soluções para os clientes, a principal missão é entender como as pessoas se conectam com o trabalho e descobrir o elemento que as deixam verdadeiramente recompensadas. Embora tivesse passado por cargos importantes na editora Abril, foi depois, estagiando na revista Colors, mantida pela marca italiana Benetton, que ela começou a descobrir o que de fato a recompensava. Estava germinando ali as sementes da Mesa. n

por aline vessoni PODER JOYCE PASCOWITCH 61


UNIVERSO PARTICULAR O curador e diretor artístico Marcello Dantas transita pelo mundo da arte – do erudito ao popular. A novidade agora é a curadoria de Nave, espaço no Rock in Rio com uma tela de projeção sensorial de 5 mil m² que pretende fazer o espectador repensar sua desconexão com a natureza, a humanidade e o próprio tempo

Ele começou estudando diplomacia, depois migrou para história da arte e, na sequência, para o audiovisual. A carreira de mais de três décadas que se construiu a posteriori envolve uma trajetória multifacetada, de um artista que se considera curioso. Curiosidade esta que culminou com a idealização do Museu da Língua Portuguesa e Museu Catavento, que ocupam o topo do ranking brasileiro no que se refere à interatividade e inovação. “O não saber me motiva. Meu desejo na vida sempre foi o de contribuir criando linguagens. Eu sempre me interessei em estar em lugares cujos parâmetros de linguagem não estivessem criados”, conta Dantas, que já foi curador de exposições bastante diversas – de Ai Weiwei a Bill Viola, passando pela popular Hebe Camargo (Hebe Eterna, em cartaz até 2 de junho, no Farol Santander). “Estou sempre movido a me meter em territórios desconhecidos, e se eu não sei como resolver as equações, elas provavelmente valem a pena se-

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rem investigadas.” Por essa razão é que, apesar de parecerem diametralmente opostas, Hebe Camargo e Ai Weiwei não deixam de ter um caráter político: o chinês, com sua retórica sobre a pecha excludente da própria arte contemporânea, e a apresentadora, que, a sua maneira, conseguia questionar preconceitos sociais em um veículo de mídia de massa. Se com Hebe ele espera atrair um público que costumeiramente não vai a uma exposição e com Ai Weiwei a ideia é produzir uma linguagem mais inclusiva, para Dantas o que muda de um para o outro é a forma de

contar, afinal, ele se considera um contador de histórias: “Eu só conto histórias, eu não sei inventar nada. Você me dá uma história e eu arrumo um jeito de contá-las para um público que não a conhecia”. Aí vai um spoiler do próximo capítulo: o espaço da Natura no Rock in Rio Nave – Nosso Futuro é Agora vai colocar em pauta a desconexão da humanidade com a natureza, e com os seus pares, e vai criar a oportunidade de os participantes se ressincronizarem com o espaço e o tempo. Vale levar a reflexão de dentro da Nave para a vida. n

POLÍTICA: um mal necessário FÉRIAS PERFEITAS:

cozinhando

CIDADE: uma para ser, São

Paulo. Uma para olhar, Cape Town ARTE: a que me interessa é aquela que me causa dúvida: isso é arte? BRASIL: sou a pessoa menos nacionalista que existe, não defendo um conceito de nação. Sou terráqueo antes de ser brasileiro. O Brasil não está acima de todos

UM ARTISTA: brasileiro, Cildo Meireles; estrangeiro: Bill Viola UM MUSEU: Museum of Old and New Art (Mona), na Tasmânia, Austrália LIVRO: The Language Instinct, de Steven Pinker

HOBBY: passear em mercados de comida pelo mundo, dois em especial: La Boqueria, em Barcelona, e o Tsukiji, em Tóquio MÚSICA: Bobby McFerrin

FOTOS PAULO FREITAS; SUNSPLASH; REPRODUÇÃO INSTAGRAM; CAROL FRIEDMAN/DIVULGAÇÃO

POR ALINE VESSONI


CARTAS cartas@glamurama.com

COLUNA DA JOYCE

FOTO PEDRO DIMITROW

Parabéns pela entrevista com Patrícia Ellen da Silva, a secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo (PODER 126). @palomalibanio, via Instagram

DURA NA QUEDA

Incrível, demais! Parabéns pelo Ensaio com Elza Soares (PODER 126). @vammagazine, via Instagram

/poder.joycepascowitch

Dá orgulho ser mulher quando minha inspiração vem dessa deusa maravilhosa! Quanta atitude e coragem em uma só mulher, que passou a vida denunciando machismo e racismo! Ótima escolha! Patricya Rizzo, Sorocaba (SP), via e-mail

EMPATIA PARA DAR E VENDER

Obrigada por essa reportagem sobre o festival SXSW (PODER 126) e todas as dicas de leitura que ela

@revistapoder

traz. A forma como trabalhamos está mudando e precisamos acompanhar essas mudanças. João Antonio de Melo, Macaé (RJ), via e-mail

AGENDA PODER

COMETA + sapatariacometa.com.br GUCCI + gucci.com HUGO BOSS + hugoboss.com IWC + iwc.com JAEGER-LECOULTRE + jaeger-lecoultre.com LIBERTY ART BROTHERS + libertyartbrothers.com LUPO + lupo.com.br RAY-BAN + rayban.com RICARDO ALMEIDA + ricardoalmeida.com.br

@revistapoder

O conteúdo da PODER na versão digital está disponível no SITE +joycepascowitch.com

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O que você prefere: um palhaço na política ou ser feito de palhaço pela política? Às vezes da primeira alternativa decorre também a segunda, mas sejamos minimamente otimistas. Na Ucrânia, a falta de experiência política parece ter contado na hora de o eleitor apoiar o comediante Volodymyr Zelensky, cuja vivência no metiê consistia em representar na TV um... presidente. Sua plataforma (fora da TV) não o distanciava de seu oponente, o presidente Petro Poroshenko, que tentava a reeleição: aproximação com a União Europeia, fim das escaramuças com a Rússia e, bidu, combate à corrupção endêmica. Em abril, no segundo turno eleitoral, o ator teve o dobro da votação de Poroshenko. Num país em que a afirmação da nacionalidade tornou-se questão de vida ou morte, brincar em serviço pode não ser uma escolha. Melhor Zelensky não se inspirar em congêneres tropicais, como Tiririca.

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FOTO REPRODUÇÃO FACEBOOK

PÃO E POLÍTICA


É com muito orgulho que o Grupo Glamurama apresenta seu caçulinha, o berinjela.com, onde selecionamos produtos de várias marcas pra lá de especiais – e, viva!, para comprar na hora. Com esmero, tentamos separar o joio do trigo, e elegemos o que cremos ser a cara de nossas leitoras. E vamos além do estilo: aqui só entra o que é feito de forma ética e sustentável. Clique e fique à vontade!


ins pi ra ção •

(substantivo feminino)

1 Do latim INSPIRATIO. Ação ou efeito de inspirar; que tem efeito animador e estimulador da criatividade. 2 Motivação dos negócios, encorajando e valorizando o desenvolvimento do capital humano alinhado à estratégia de talentos e negócios. Mobilização da cultura interna e aceleração do seu potencial, criando um ambiente de oportunidades e desafios que impactam diretamente o desempenho da empresa e as experiências criadas para os clientes. Termos relacionados: transformar o capital humano, criar experiências diferenciadas para os clientes, crescer e criar vantagem competitiva.

O mundo pede novas leituras. www.pwc.com.br/imperativos-negocios

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