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AVES DA MATA ATLÂNTICA: UM MUNDO COLORIDO A DESCOBRIR

www.horizontegeografico.com.br

ano 29 nº 159 pesca sustentável · aves da mata atlântica · tartarugas · polinizadores · rio doce

Tragédia no RIO DOCE

ISSN 0104 - 6365

Revista Horizonte Geográfico

nº 159 | ANO 29 | R$ 14,90

Causas e consequências do desastre de Mariana

Especial: Dia mundial da Água

Pesca sustentável

O manejo indígena do pirarucu na Amazônia

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Polinizadores Mais abelhas, mais alimento

Tartarugas

A nova geração salva pelo Tamar

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LANÇAMENTO!!

O mais completo guia de campo de aves da Mata Atlântica do Sudeste com

424 páginas

Preço subsidiado. Saiba mais em

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927 espécies

mais de

1.300

ilustrações

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Editorial Caro leitor,

P

assados alguns meses da pior tragédia ambiental do país, em Mariana (MG), quando a emoção e a perplexidade já dão lugar à razão, começam a ficar claras e confirmadas as suas causas e

as consequências. Por meio do conhecimento e da percepção de dois especialistas e um jornalista, a Horizonte apresenta uma visão equi-

librada e analítica nesta edição especial, dedicada ao Dia Mundial da Água. Além de lamentar os incalculáveis prejuízos humanos e sociais e o impacto ambiental sem precedentes nas águas do Rio Doce, cresce a indignação pelas falhas de fiscalização e pelo menosprezo à preven-

Horizonte Educação e Comunicação Rua Deputado Lacerda Franco, 300 – 16º andar - CEP 05418-000 São Paulo, SP, Brasil. Tel. (11) 3022-5599

www.edhorizonte.com.br

Revista Horizonte Geográfico, edição de março/abril de 2016, é uma publicação da Audichromo Editora Ltda.

ção por parte dos órgãos governamentais e das empresas envolvidas.

Diretor geral: Peter Milko Diretor ADMINISTRATIVO: Mauro de Melo Jucá

Por outro lado, as águas também trazem boas notícias e boas práticas.

Conselho consultivo: Décio Zylberstajn, Luiz Eduardo Reis de Magalhães, Roberto Falzoni, Roberto S. Waack

Esses são atributos de duas reportagens que você tem em mãos agora. A pesca sustentável do pirarucu, na Amazônia, é um exemplo de como ter uma atividade econômica sem esgotar recursos naturais e ainda garantir renda para os indígenas. O mesmo sucesso é atribuído ao Projeto Tamar. A iniciativa de conservação de tartarugas completa 35 anos com a garantia de que as cinco espécies estão longe da extinção. O esforço trouxe ganhos sociais à população local, ao oferecer alternativas de trabalho, ao mesmo tempo que comemora 25 milhões de filhotes soltos na natureza. Boa leitura!

Redação Diretor de redação: Peter Milko Diagramador: Roberto Morgan Auxiliar de Redação: Ana Claudia Marioto redacao@edhorizonte.com.br

Colaboraram nesta edição: Adriano Gambarini, Blandina F. Viana, Breno M. Freitas, Carla Ninos, Denise A. Alves, Giulio Paletta, Kevin Damasio, Neuza Árbocz, Tereza V. Giannini, Vera L. Imperatriz Fonseca Capa: Mauricio Simonetti/Pulsar Imagens Publicidade Representante em São Paulo: Nominal Assistente comercial: Elaine de Fátima Ortis

Peter Milko

comercial@edhorizonte.com.br

administração e circulação Diretor administrativo: Mauro de Melo Jucá Serviços de apoio: Ane Coelho Ribeiro, Fernanda Rosa Miranda Alves, Circulação e assinaturas: Danilo Akira Distribuição Brasil: Dinap SA – Distribuidora Nacional de Publicações

Serviço de Atendimento ao Cliente Para aquisição de exemplares anteriores, exemplares atuais e outros serviços: (11) 3022-5599. De segunda a sexta, das 9 às 12h e das 13h30 às 18h. www.horizontegeografico.com.br

© giulio paletta

sac@edhorizonte.com.br

O rompimento da barragem em Mariana provocou a liberação da lama de resíduos de mineração, que percorreu todo o Rio Doce e atingiu o mar (acima)

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Horizonte Geográfico

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Sumário

As tartarugas brasileiras estão protegidas graças ao trabalho do Projeto Tamar

Paumaris consolidam o manejo sustentável do pirarucu na Amazônia Observação de pássaros na Mata Atlântica promove o lazer, o aprendizado e a preservação Projeto Tamar comemora 35 anos de existência e 25 milhões de filhotes soltos Como três especialistas viram o maior desastre ambiental brasileiro

Seções Horizonte em foco

06

Horizonte à vista

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Horizonte educacional

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Horizonte cultural

64

Memória Horizonte

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© banco de imagens projeto tamar

14 Guardiões de gigantes 22 Paraíso das aves 28 Tão grande quanto o mar 52 A tragédia no Rio Doce MAPA DE NAVEGAÇÃO

sites relacionados

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áudio disponível

mais fotos

acesso ao mapa

vídeo clique entrevista Horizonte Geográfico 5 disponível e ouça

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Horizonte em foco

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Horizonte Geogrรกfico

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Paraíso escondido Cachoeira da Fumacinha, na Chapada Diamantina, Bahia. Sua imponência de 290 m altura se torna visível com a escala humana, ao centro. Para chegar até ela, é necessário vencer uma trilha de 7 km dentro de um extenso cânion. As águas escuras são resultado do material orgânico em profusão. FOTO | andré dib/pulsar imagens

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Horizonte em foco Armadilhas de pesca No litoral da Tailândia, pescadores montam dezenas de armadilhas tradicionais feitas de bambu para capturar os peixes. FOTO | Henry AUSLOOS/agb photo

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Horizonte GeogrĂĄfico

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Horizonte Geogrรกfico

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Horizonte à vista

Uma

vida

melhor no futuro Engenheiro paulista constrói a primeira casa com selo sustentável do Brasil para deixar um mundo melhor para sua neta Texto | Ana Claudia Marioto

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oje diversos argumentos são usados para convencer as pessoas a se engajar na busca de uma cidade mais sustentável. Diminuir custos, combater a poluição, preservar recursos naturais, economizar água estão entre eles. Há muitas iniciativas nessa direção, mas a realizada pelo engenheiro Roberto Manini ganhou simbologia própria e uma motivação a mais: o exemplo para as gerações futuras.

© divulgação

Um castelo com certificado

A casa tem 450 m² e fica a 93 km de São Paulo (acima). A água da pia é filtrada e destinada ao reuso (abaixo)

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Roberto entendeu que sua neta precisaria de um castelo para que todos os seus sonhos pudessem se tornar realidade. Em vez de torres, dragões, fosso e ponte elevadiça, ele decidiu que as “atrações” seriam o reaproveitamento de água da chuva, lâmpadas do tipo LED, pisos e revestimentos produzidos com material reciclado, sistema de aquecimento solar para as águas e sistema de placas fotovoltaicas para a produção de energia.

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Certificação Leed for Homes Leed for Homes é um selo ambiental internacional reconhecido em 154 países. Ele atesta que a obra teve comprometimento com o meio ambiente e com os princípios da sustentabilidade, antes, durante e depois da sua conclusão. Para que uma construção receba este selo levam-se em conta os seguintes quesitos: uso racional da água; eficiência energética; redução, reutilização e reciclagem de materiais e recursos; qualidade dos ambientes internos; espaço sustentável; inovação e tecnologia; e atendimento às necessidades locais, definidas pelo CBCS (Conselho de Construção Sustentável do Brasil).

Placas solares garantem 70% da energia

Depois que a casa estava pronta, surgiu uma oportunidade: certificar a construção por meio de um selo internacional, o Leed for Homes. “Como os meus desejos coincidiram com os requisitos para a certificação, ela se tornou possível”, conta Manini. O selo acabou sendo concedido para a residência, atestando uma série de requisitos ambientais e um excelente exemplo para a geração de sua neta. “A produção de energia solar era uma das prioridades desde a concepção do projeto”, informa Manini. Os painéis geram 250 quilowatts por mês, mais do que a média de consumo das casas brasileiras.

Desenvolvimento agressivo A construção civil é o setor que mais consome recursos naturais e energia, gerando consideráveis impactos ambientais, segundo o próprio Conselho Internacional da Construção (CIB). Ainda existe o desafio de uma destinação adequada dos resíduos sólidos, líquidos e gasosos. Para minimizar esses impactos, o exemplo que Manini deixou para a neta nos enche de esperança. Existem soluções para uma construção civil mais sustentável.

A casa reutiliza toda a água pluvial

Benefícios da obra sustentável • Queda de 20% no custo das fundações • Sete meses mais rápida que no método tradicional • Queda de 80% no gasto com caçambas de lixo • Queda de 30% no custo de manutenção da obra • Economia de 67% no uso de água potável • 65% de economia de energia • 30% de valorização do imóvel

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ARTE SUSTENTÁVEL

Oitavo continente

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om mais de 5 mil garrafas retiradas do Oceano Pacífico, o coletivo de artistas espanhóis Luzinterruptus criou o “oitavo continente” na vila portuguesa Cascais. A intenção era replicar, em menor escala, a ideia de que, se juntarmos todo o lixo plástico que boia nos oceanos, poderíamos formar um novo continente. As garrafas totalizaram uma área de aproximadamente 150 metros quadrados, que foi iluminada com algumas lâmpadas e boiou pela região por sete dias. O Luzinterruptus pretende, por meio de sua arte feita a partir de materiais reciclados de origem local, denunciar os males de resíduos plásticos e do consumismo.

Segundo o Fórum Econômico Mundial de Davos, em

©1

2050 nossos oceanos terão mais plástico do que peixes

©2

RECICLAGEM

Desperdício vira energia ara dar um destino ainda mais correto às toneladas de alimento que diariamente são jogadas no lixo, uma startup israelense desenvolveu uma máquina que converte lixo orgânico em gás de cozinha limpo e também em fertilizante líquido para jardins. O equipamento pode gerar, por processo, 8 litros de fertilizante ou então gás suficiente para que um fogão funcione por 28 horas, ininterruptamente. A máquina já funciona em mais de 1.500 casas por todo o mundo e os interessados podem adquirir a sua pelo site de financiamento coletivo Indiegogo: http://bit.ly/20VLOGQ

O uso da máquina para a transformação de esterco de animal

© 1 lola martinez/divulgação; 2 divulgação; 3 Ana Elisa/Portal EBC

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doméstico está em fase de teste

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PATRIMÔNIO CULTURAL

Profetas de Aleijadinho ganham museu

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onhecida por abrigar os profetas de Aleijadinho, a cidade de Congonhas (MG) ganhou um museu dedicado à preservação das obras-primas do artista. O Museu de Congonhas conta com coleções de arte sacra e barroca e tem como principal objetivo estimular a preservação e a restauração de esculturas em pedrasabão, considerada símbolo da região. O material foi utilizado por Aleijadinho, entre 1794 e 1804, para formar a sua mais famosa obra: os 12 profetas. As esculturas em tamanho real ficam do lado de fora do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos. Ao ar livre, as obras se deterioram com rapidez, em razão da poluição e da fragilidade da pedra-sabão. O museu já recebe cerca de 10 mil visitantes ao mês, marca significativa para um empreendimento cultural brasileiro.

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O museu contribui com a valorização

©3

dos monumentos em pedra-sabão

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Paumari: o povo das águas consolida o manejo do pirarucu

Os benefícios alcançados tornam a técnica referência no sul do Amazonas Texto | Carla Ninos

Fotos | Adriano Gambarini

O pirarucu é o principal alimento e a mais importante fonte de renda da região sul do Amazonas

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Horizonte Geogrรกfico

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O

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s Paumaris, um povo de fala mansa

A ligação dos Paumaris com as águas

e cadenciada, conhecedor do mun-

se deve à própria característica da várzea

do aquático, deu uma grande volta

onde vivem, formada por 196 lagos e vários

por cima, reconquistou a autoestima e hoje

igarapés e praias, na bacia do Rio Tapauá.

é um exemplo a seguir quando se fala em

A grande maioria de suas casas é constru-

manejo pesqueiro. Depois de um intervalo

ída sobre flutuantes, feitos com toras de

de cinco anos, os indígenas voltaram a co-

madeira da floresta, e sua alimentação é à

mercializar o pirarucu, capturado nos lagos

base de peixe e de caça. À sua volta estão

das Terras Indígenas Paumari do Lago Ma-

ribeirinhos da foz do Rio Tapauá e do Rio

nissuã, Paumari do Lago Pancá e Paumari

Camaruã, comerciantes e pesqueiros de

do Caniuá, no sul do estado do Amazonas.

várias cidades do Amazonas.

Com apoio do projeto Raízes do Purus,

Por causa da pressão externa sobre os

da organização Operação Amazônia Nativa

recursos naturais, os Paumaris enfrentam

(Opan) e com o patrocínio da Petrobras, essa

muitos desafios e o pirarucu, uma das prin-

atividade se consolidou como uma alterna-

cipais fontes de sua alimentação e conhe-

tiva para as aldeias melhorarem sua quali-

cido como o gigante das águas doces, che-

dade de vida e a proteção do seu território.

gou a estar ameaçado de extinção. Alguns

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núcleos dos indígenas, por desconhecer

ceito de controle para além do pirarucu,

Muitos Paumaris

os riscos, arrendaram lagos e havia pesca

com espécies como acará-disco, matrinxã,

vivem em

predatória dentro da reserva. O trabalho de

jaraqui, tucunaré etc., mesmo quando a

pequenos

manejo desenvolvido alterou essa realidade

captura é para sua subsistência.

flutuantes feitos

ao unir as aldeias das três terras e fortale-

de madeira

cer a organização do povo. “Nós tínhamos

Boa pescaria

muitos problemas com os ‘invasores’, bar-

Na primeira pesca, realizada em se-

cos pesqueiros e ribeirinhos vizinhos, que

tembro de 2013, foram pegos 50 peixes,

frequentemente eram vistos pescando em

somando 3.500 quilos de pirarucu e renda

nossos lagos. Isso ficou no passado”, infor-

bruta total de R$ 26.422,50. Com os núme-

ma Clemildo Paumari, da TI do Lago Paricá.

ros positivos e os sinais de recuperação

O manejo pesqueiro se tornou uma das

dos peixes, os Paumaris abraçaram de vez

principais atividades para o povo, provocou

extraída da floresta

o projeto.

mudanças importantes na organização so-

A segunda pesca aconteceu em outubro

cial e na forma de gerir os recursos natu-

de 2014, por causa da demora na vazante

rais dentro das terras. Hoje, eles entendem

dos rios. Dos 39 lagos reservados pelo povo

que precisam conservar e aplicam o con-

para a recuperação dos estoques, três fo-

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Pirarucu sem

ram palco da experiência: Lago Redondo

dos trabalhos no Lago Redondo. O esforço

vísceras,

e Lago Comprido na TI Paumari do Lago

envolveu diretamente 84 indígenas, dividi-

pronto para ser

Paricá e Lago da Volta na TI Paumari do

dos em equipes: audiovisual, pescadores,

comercializado,

Lago Manissuã. Da cota de 99 peixes au-

transportadores, geladores, limpadores,

sendo colocado

torizados pelos órgãos ambientais, foram

responsáveis pelos registros de peso e me-

no gelo

pescados 89, sendo 85 pirarucus comer-

didas de cada peixe, monitores e a equipe

cializados, três destinados à doação e um

da cozinha, que reunia as mulheres e os

para a alimentação do povo.

meninos mais jovens.

Fogos de artifício, antes da alvorada,

Nos lagos, o trabalho era silencioso e

anunciaram de maneira festiva o início

exigia muita concentração dos experientes

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pescadores que, com redes apropriadas,

um estado que apresenta uma das me-

faziam a “comboiagem” – processo que

lhores estruturas de beneficiamento e de

busca separar os peixes jovens dos adultos

recebimento do produto. Em 2014, a pesca

e os leva para a cabeceira do lago, a fim de

rendeu 4.950 quilos, quase 5 toneladas de

facilitar sua retirada da água.

pescado. A média de peso foi de 58 quilos

A base de apoio foi montada nos flutu-

por animal, remunerados a R$ 7,50 o quilo.

antes de vigilância, onde os peixes eram

Os 85 exemplares geraram R$ 37.125,00,

pesados, medidos, eviscerados, limpos e

dos quais foram separados 30% para uma

era feita a análise do estágio gonodal, em

“caixinha” para investimentos futuros. O

que se identifica o sexo e se o peixe está

restante foi dividido entre os Paumaris por

maduro para a procriação. Na última etapa

meio do sistema de pontos, uma forma de

desse processo, o peixe recebe o lacre e é

tentar remunerar cada um de acordo com

resfriado no barco geleiro contratado pela

seu envolvimento no trabalho do manejo,

Cooperativa Mista Agroextrativista Sardi-

que envolve a vigilância territorial, reuni-

nha (Coopmas), do município de Lábrea,

ões, contagem e a pesca.

compradora do produto Paumari.

“Do ano passado para cá, houve esse

O zelo dos Paumaris com a manipulação

amadurecimento entre os Paumaris essa

do peixe é grande, desde o momento em

sistematização de pontos me parece algo

que ele é tirado do lago até chegar ao gelo,

mais justo e uma forma de mobilizar as

para manter sua qualidade e seu sabor.

pessoas a se envolver mais. O controle

Pirarucu e o mercado

social opera de forma muito interessante entre o povo e fez com que o processo de

Astrogildo Oliveira da Costa, diretor da

divisão de recursos fosse tranquilo e har-

Coopmas, explica que o produto pesquei-

monioso”, analisa o coordenador do Progra-

ro tem uma exigência muito rígida por ser

ma Amazonas da Opan, Gustavo Silveira. O pirarucu

perecível. “Temos procurado usar a melhor

Os Paumaris mudaram hábitos e cos-

técnica possível, inclusive os participantes

tumes, por conta do plano de manejo que

é um dos

são escolhidos por sua capacidade de zelar

escolheu as áreas de defeso e a natureza res-

maiores peixes

pela qualidade. O destino final também é

pondeu de forma incrível. Em cinco anos de

de água doce

analisado, e sempre escolhemos locais e pes-

retirada controlada em pontos específicos,

do Brasil,

soas que trabalham com responsabilidade

foi registrado um aumento significativo de

podendo

e dentro das normas de vigilância”, reitera.

todo o estoque pesqueiro na região, assim

chegar

O pirarucu do povo Paumari foi ven-

como de quelônios e de caça. Uma fartura

aos 200 kg

dido, por enquanto, para o Pará, por ser

que o povo não via há algum tempo dentro

e atingir 3 m

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do seu território. A iniciativa lhes trouxe

formas corretas de pesca mudou as nossas

visão de gestão territorial. Com ela, eles

vidas e nos deu reconhecimento e respei-

aboliram a pesca predatória de suas terras

to enquanto povo. Eu me sinto orgulhoso

e conseguiram fazer um aproveitamento

e quero ver a ideia do nosso manejo ser

sustentável de seus lagos.

espalhada para o Brasil inteiro”, comenta

Autoestima e o amanhã

Xila, de Cuniuá.

Com o sucesso do manejo do pirarucu

O povo Paumari do Rio Tapauá está con-

e com a autoestima elevada, o povo Pau-

fiante em que o manejo do pirarucu se torne

mari visa o comércio de outras espécies.

um conceito absorvido nas práticas diárias,

“Eu pensava que a gente não ia conseguir.

até mesmo pelas próximas gerações.

Agora eu me sinto feliz, e para o futuro eu

A experiência do manejo sustentável

espero que a gente maneje outras espécies

do pirarucu foi reconhecida como tecno-

de peixes”, explica Edicley Paumari da al-

logia social pela Fundação Banco do Brasil

deia Capanã, TI Paumari do Lago Manissuã.

e rendeu à Opan o Prêmio Nacional de Bio-

A felicidade de ver de volta a abundân-

diversidade na categoria Sociedade Civil,

são responsáveis

cia de peixes está estampada no rosto de

entregue pelo Ministério do Meio Ambiente

pela alimentação

cada um e traz o sonho de volta. “Quando

(MMA) em 2015. Ao receber o prêmio, em

de todos

eu olho para o futuro e me lembro de onde

Brasília, em companhia de Germano Pau-

os envolvidos

nós saímos, vejo que a gente estava no fun-

mari, Gustavo Silveira alertou: “A pressão

na pesca

do do abismo. Conhecer os períodos e as

externa é muito grande e a falta de apoio do

As mulheres

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Francisco de Oliveira Paumari da aldeia do

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governo tanto para as fiscalizações quanto

também é possível oferecer a proteína (o

O manejo

para a estruturação da cadeia produtiva são

alimento) e não degradar a natureza”. Para

em escala

dois dos principais gargalos para se man-

Germano Paumari, o prêmio vai incentivar

sustentável

ter um projeto como o nosso”. A ministra

ainda mais o povo a continuar o trabalho

recuperou

Isabella Teixeira respondeu à sua colocação

e a fortalecer o grupo. “A gente tem con-

a espécie

ao reconhecer: “A mensagem do vencedor

seguido estreitar o diálogo com a frente

e devolveu

aqui é importante em função de toda resis-

de proteção e fiscalização e, ainda neste

a alegria

tência que nós sentimos quando editamos

ano, devemos começar a mapear os locais

ao povo

uma lista de espécies ameaçadas de ex-

onde ocorrem mais invasões nas nossas

Paumari

tinção. Alegam que queremos inviabilizar

terras, para então desenvolver um trabalho

a pesca no Brasil. Essa iniciativa é prova

de conscientização e, posteriormente, acio-

de que o manejo, como noção de susten-

nar os órgãos competentes, de fiscalização

tabilidade, não só recupera espécies como

e apreensão”, informa.

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Em busca das aves da Mata Atlântica As aves de um dos biomas mais ricos do planeta estão reunidas no mais completo e encantador guia sobre a Mata Atlântica

P

ara milhões de aficionados da observação de aves, é pura emoção visualizar uma espécie diferente na mata

ou na cidade: a primeira reação é tentar identificá-la, observando a forma, as cores, o eventual canto. Em seguida o apaixonado

Beija-flor-tesoura

certamente irá consultar um guia que possa

Eupetomena macroura

confirmar qual ave é aquela, saber sobre seus hábitos e comportamento. Assim ele teria mais uma ave na sua valiosa lista de espécies observadas. A Mata Atlântica é um paraíso para os observadores de aves. São hoje 927 espécies catalogadas, conforme o segundo volume da série Aves do Brasil, da Wildlife Conservation Society (WCS), que acaba de ser lançado no Brasil pela Horizonte. Mas é fato que esse bioma está muito ameaçado, e as aves sentem isso. Atualmente a região tem 83 espécies em risco de extinção. Números tão elevados indicam a necessidade urgente de proteção das áreas ainda florestadas da Mata Atlântica. A despeito de todo o impacto dos ciclos de desenvolvimento do país, da cana-deaçúcar ao gado, passando pelo ouro e pelo café, até as estradas e as megalópoles, a Mata Atlântica conseguiu sobreviver. Mais de 100 milhões de pessoas vivem em seus domínios, dependendo dela para ter água e ar limpos. E, embora reduzida a uma fração

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João-velho

da extensão original, praticamente todas

Celeus flavescens

as suas espécies de aves ainda resistem.

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Papagaio-de-peito-roxo Amazona vinacea

Gaviรฃo-pato Spizaetus melanoleucus

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Para consolidar esses conceitos e per-

bientais. Entre elas estão os patrocinadores

mitir a identificação das aves, o recém-

nacionais do guia: a Fundação Grupo Boti-

lançado Guia Aves do Brasil: Mata Atlântica

cário e Fibria, e ainda a apoiadora Legado

do Sudeste destaca o vínculo entre as aves

das Águas Reserva Votorantim. Desejosos de impulsionar a cultura da

e seus ambientes. As magníficas ilustrações, são mais de

conservação no Brasil, por meio do estí-

1.300, fazem a imaginação “voar”. Se por

mulo à observação de aves, os autores do

um lado é bem sabido que a Mata Atlântica

guia acreditam que a publicação vai au-

sofreu uma redução de 90% desde 1.500,

mentar o apreço das pessoas pelas aves

poucos sabem da forte pressão humana

e, por consequência, pela conservação dos

sobre matas da baixada litorânea, do in-

seus habitats na Mata Atlântica. Afinal,

terior e das restingas. Diante da ameaça

quem não vai se encantar ao visualizar

persistente ao bioma, indivíduos, funda-

em um bosque da cidade o vistoso pica-

ções e empresas privadas têm assumido o

pau joão-velho, com sua tira vermelha no

que deveria ser a obrigação dos governos,

rosto, cutucando o tronco de uma árvore

desenvolvendo na região iniciativas am-

em busca de alimento?

Conservando a diversidade A preservação integral das aves da Mata Atlântica depende da proteção de todos os ambientes naturais que compõem este bioma, do litoral às serras, das florestas aos campos.

Maria-preta-de-topete

Campos de altitude

Canário-da-terra Grimpeiro Gralha-do-mato

Batuqueiro

Matas de araucária

Matas Cerrados

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Áreas rurais

semidecíduas

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Resistência Com sua riqueza extraordinária de

MATA

formas de vida, a Mata Atlântica consti-

ATLÂNTICA

tui um dos biomas de maior biodiversi-

DO SUDESTE

dade da Terra. Só de aves são quase mil espécies, muitas das quais exclusivas. Apesar de fragmentada e fragilizada, a Mata Atlântica do Sudeste resiste e suas aves estão mais próximas do que pensamos. Parques situados praticamente dentro das maiores cidades do país, como a

O bioma da Mata Atlântica em sua

Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, e a

porção central compreende os estados

Serra da Cantareira, em São Paulo, pre-

de São Paulo, do Rio de Janeiro e do

servam dezenas de espécies de aves. E

Espírito Santo, e ainda o leste de Minas

você pode ver algumas delas até mesmo

Gerais e o sul da Bahia

ao olhar por sua janela!

Este esquema mostra como variam as altitudes e os ambientes, em um corte imaginário que vai das baixadas costeiras de São Paulo – Rio de Janeiro (direita) em direção a Minas Gerais (esquerda). Cuiú-cuiú

Chaua

Para cada ambiente é dado um exemplo de ave característica.

Matas serranas

Tiê-sangue

Garça-azul

Matas de baixada

Manguezais

Oceano Atlântico

Restingas

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Bioma diversificado A Mata Atlântica é um mosaico de paisagens variadas, tanto florestais quanto não florestais. Ela se estende quase desde a linha do Equador até a região temperada, e do nível do mar até pouco menos de 3.000 metros de altitude. As encostas viradas para o oceano recebem muito maior quantidade de chuva e são mais úmidas do que as florestas do interior. Cada um dos ambientes que integram a Mata Atlântica tem suas próprias espécies de aves, cuja ocorrência também varia não só de norte a sul, mas também de acordo com a altitude, do nível do mar aos topos das serras.

Árvores emergentes

Dossel

Subdossel

Dentro da mata, diversas espécies ocupam alguns níveis. Essa partilha dos diferentes “andares”

Sub-bosque

da vegetação contribui para aumentar a diversidade de aves da Mata Atlântica. Chão da mata

Para saber mais e adquirir o seu guia de campo:

www.edhorizonte.com.br 26

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Horizonte Geográfico

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O que podemos fazer?

Quantas aves urbanas você consegue achar?

Não importa onde moremos, podemos nos unir a esforços de conservação e de recuperação do ambiente, criando novas reservas, reflorestando áreas desmatadas e plantando em nossa vizinhança árvores nativas que atraem as aves. Arquitetura: Boeri Studio

A observação de aves, também chamada de passarinhada ou birdwatching, pode ser praticada no local em que você mora, no caminho para a escola, em áreas verdes de sua cidade. Você pode também viajar para procurar espécies diferentes. Convide os amigos ou sua família para observar aves com você e fazer saídas de campo para lugares próximos. Espalhe essa ideia, ajude a proteger nossas aves e divirta-se! A maioria das cidades do Sudeste do Brasil tem mais ou menos as mesmas aves. Veja algumas das mais comuns Corruíra Beija-flor-tesoura Cambacica Tico-tico Periquito-verde Andorinha-pequena

Pardal

Bentevi

Gavião-carijó

Sabiá-laranjeira

Chupim

Imagine cidades com construções verdes e ar mais limpo, para onde as aves silvestres podem voltar Rolinha-caldo-de-feijão

Sanhaço-cinza

Horizonte Geográfico

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Nadar,

até vencer a correnteza

Reconhecido internacionalmente, pioneiro na proteção às tartarugas marinhas e exemplo de sustentabilidade, o Projeto Tamar completa 35 anos de serviço aos oceanos e à sociedade Texto | Ana Claudia Marioto

A Praia do Forte é o lar das tartarugas-de-pente e das cabeçudas

28

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Š banco de imagens projeto tamar

Horizonte GeogrĂĄfico

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A

década de 1970 estava no fim quan-

que em uma noite estrelada, em janeiro

do Guy e Neca Marcovaldi, um au-

de 1980, eles se depararam com a verda-

xiliar e dois estagiários estudantes

deira estrela daquela praia: uma tartaruga

de oceanografia revolucionaram a luta pela preservação de espécies ameaçadas. Até então, o Brasil não possuía nenhum tipo

cabeçuda desovando.

Os primeiros anos

de projeto de conservação marinha, mas

Chegar até os locais de desova não era

as tartarugas já constavam na lista de es-

tarefa fácil para a equipe. No início, não

pécies em risco de extinção.

existiam as modernas 4x4 que permitem aos pesquisadores chegar a qualquer ponto. Todas as trilhas eram feitas a pé. Conse-

No último ano,

dade, longas caminhadas pelo litoral atrás

guir um cavalo era luxo. Mas a dificuldade

mais de 7 mil

de sinais de desovas, e nada. Com a ajuda

não ficava por conta apenas da vontade da

tartarugas

de moradores da região, muitas vezes, pela

natureza. O maior inimigo da época era,

reproduziram

manhã, o grupo encontrava com porções

sem sombra de dúvida, o bicho homem.

em território

de terras remexidas, mas não fazia ideia

Era comum ver tartarugas sacrificadas,

brasileiro

do que aquilo realmente significava. Até

enroladas em redes e com anzóis presos.

© banco de imagens projeto tamar

Foram dias e noites de grandes expedições, feitas com quase nenhuma facili-

30

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A reprodução vivia sob ameaça constante.

Com o nascimento das primeiras tarta-

Uma das maiores iguarias da época era o

ruguinhas no cercado de encubação, veio

bordadeiras

ovo de tartaruga, grande colaborador da

mais uma surpresa: a região da Praia do

é vendido

economia caiçara.

Forte não era lar apenas das cabeçudas,

exclusivamente

mas também de tartarugas-de-pente.

nas principais

Depois de dois anos e muito trabalho, em 1982 foi iniciada a primeira campanha de proteção e pesquisa na Praia do Forte

O trabalho das

lojas do Tamar

Da pesca à proteção

(BA). Os jovens que lutavam pela preserva-

“Um bom exemplo da importância da

ção marinha, lutavam também contra obs-

conservação das tartarugas marinhas para

táculos sociais. “Era difícil fazer as pessoas

o ser humano é a tartaruga-de-couro. Ela

acreditarem que estávamos propondo algo

se alimenta de águas-vivas e as águas-vi-

sério e útil para a humanidade”, afirma

vas, por sua vez, se alimentam de peque-

Guy Marcovaldi, coordenador nacional do

nos peixes e de alevinos que se tornariam

Projeto Tamar. Para reverter isso, “o pesca-

grandes e de interesse comercial. Se na

dor que capturava tartaruga e ovos foi cha-

busca pelo pescado mata-se, acidental-

mado para trabalhar conosco. Trocamos a

mente, a tartaruga marinha, promove-se

tartaruga por salário. Essa decisão intuitiva

o aumento da população de águas-vivas

fez com que fôssemos bem recebidos nas

e, em consequência, a predação sobre os

vilas”, continua Marcovaldi. Com o apoio

pequenos peixes. Tirando-se a tartaruga do

dos pescadores, os ninhos não precisavam

início, prejudica-se a produção pesqueira

mais ser vigiados contra a ação humana, e

no final.” Foi com esta explicação que o Pro-

os 15 ninhos protegidos na primeira ação

jeto Tamar começou a sensibilizar e ganhar

originaram mil filhotes.

o apoio dos pescadores. Esles deixaram de

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caçar e/ou de omitir socorro para se tornar

te para que essas pessoas também tenham

guardiões do animal. Como afirma Neca

condições de proteger a natureza. “Os pro-

Marcovaldi, coordenadora técnica nacional

gramas de educação ambiental do Tamar

do Tamar: “Eles começaram a entender que

visam sensibilizar, informar e conquistar

uma tartaruga vale muito mais viva do que

aliados no enfrentamento às ameaças às

morta”. Fruto dessa iniciativa “em Ubatu-

tartarugas marinhas e à proteção aos oce-

ba, desde o início das atividades, mais de

anos. Nós temos atividades permanentes

10 mil tartarugas marinhas foram devol-

com as escolas locais, principalmente as

vidas ao mar. Os pescadores são grandes

do entorno das bases e das comunidades

parceiros do Tamar em Ubatuba”, afirma a

pesqueiras”, conta Maria Luiza, coorde-

coordenadora regional do Tamar, em São

nadora de educação ambiental do Tamar.

Paulo, Berenice Gomes. Já no Ceará, nos

Também fazem parte de trabalhos ligados

últimos 20 anos, foram salvas, das mais

à responsabilidade social do Tamar as bor-

variadas formas de pesca, 2.701 tartarugas

dadeiras que elaboram seus artesanatos

marinhas, em todo o litoral, graças à ajuda

para a venda nos centros de visitantes.

das comunidades pesqueiras.

Assim como a equipe que desenvolve as

Conexão com a comunidade Engana-se quem pensa que os traba-

roupas e os acessórios, em Pirambu (SE) apresentadas com orgulho como de confecção própria.

lhos do Projeto Tamar morrem junto às

Outro projeto de conexão com a socie-

ondas, na areia. O programa interage com a

dade é o Tamarzinho, que capacita jovens

comunidade de seu entorno, dando supor-

e crianças, de 10 a 14 anos, como guias

“Fazemos metáforas entre a vida da tartaruga e o ser humano, a interação do ser humano com a tartaruga e o trabalho que é feito com elas. De uma maneira, é sensibilizar divertindo”, desta forma May Rovahz, uma das cantoras convidadas, define o Tamarear. “O Projeto Tamar estava fazendo 30 anos e eu pensei: O que podemos fazer de novo? A música emociona, a música transforma”, relata Marcovaldi sobre a origem do projeto musical que conta com grandes artistas, como Milton Nascimento, Lenini, Dudu Lima Trio, Flávio Venturini e Luiz Caldas.

Tamarear é andar pela praia, descalço na areia, olhando o céu. Tamarear é mesmo molhado, mareado e cansado, não desistir. Tamareei, numa noite de estrelas te conheci, me apaixonei. Tamareamos quando juntos saímos pra conhecer esses oceanos

32

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Milton Nascimento lançou oficialmente seu disco

Tamarear, que homenageia os 35 anos do Projeto Tamar

© banco de imagens projeto tamar

Timbre, casco, cultura e tom

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ecológicos mirins. “O programa Tamarzi-

anos, estagiária do Tamarzinho de Fernan-

No último

nho mudou tudo em mim. Mudou minha

do de Noronha.

mês, o Tamar

convivência, aprendi a lidar com pessoas

comemorou

novas, meus conhecimentos todos se reno-

Rede de conservação

varam, meu modo de me expressar. Porque

Um modelo de gestão compartilha-

quando você convive com várias pessoas

da. Coordenadores nacionais e regionais,

de filhotes

de outros lugares, você aprende que cada

pescadores, biólogos, visitantes, rendei-

soltos ao mar

pessoa tem o seu tipo de expressão dife-

ras e vendedores possuem exatamente o

rente. E acho que isso mudou bastante a

mesmo valor, ninguém é mais ou menos, e

minha vida”, conta Daiane Caroliny, de 13

todos são partes importantes na evolução

a marca de 25 milhões

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Surgiu uma nova geração

8,4 milhões

Número de filhotes que nasceram a cada cinco anos

4,5 milhões 3,1 milhões 2,1 milhões 1,6 milhão 764 mil

83 mil

1980 a 1984

1985 a 1989 Ampliação dos esforços e área

34

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1990 a 1994

1995 a 1999

2000 a 2004

2005 a 2009

Ampliação das técnicas e respeito ambiental

2010 a 2014 Nova geração

de 83 mil filhotes protegidos, entre 1980 e

ou de um outro animal marinho qualquer.

1984, para os 8,4 milhões de tartarugui-

A sociedade pode muito mais do que ela

nhas contabilizadas entre 2010 e 2014.

imagina”, ressalta Berenice.

Todo tipo de suporte é válido e não exige

As cerca de 1.300 pessoas que hoje

muito esforço. “As pessoas podem ajudar o

trabalham para o projeto não aderiram

Tamar de várias formas. Desde nos visitan-

à causa simplesmente por questões fi-

do para entender um pouco melhor o que

nanceiras. Ser um colaborador do Tamar

fazemos, qual a situação das tartarugas

é poder sentir-se parte de algo, é ter a

marinhas, nos avisando se houver algu-

oportunidade de fazer um futuro melhor,

ma ocorrência de algum animal e até en-

“tem sentido, tem significado, para a co-

tendendo que o lixo que é jogado no chão

munidade, trabalhar para a conservação”,

pode parar no mar e, consequentemente,

conta Gonçalo Rostan, gestor do Centro de

no estômago de uma tartaruga marinha

Visitantes da Praia do Forte (BA).

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ESPECIAL www.horizontegeografico.com.br

Sedução

A importância dos

polinizadores na agricultura

Mais abelhas, mais alimento _01_CAPA_cliente.indd 1

Como é a arte de polinizar as plantas

Bom para o bolso Abelhas ajudam safras a render mais

Biodiversidade

Como proteger os ninhos e seus moradores

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Sumário Caro leitor,

C

om mais de 80% da população brasileira vivendo na zona urbana, fica cada vez mais distante lembrarmos da dependência que temos das zonas rurais para a produção de alimentos. E mais longe ainda fica relacionar essa dependência com os milhões de trabalhadores

incansáveis que garantem uma boa parte do que temos no prato a cada dia: os polinizadores. Representados principalmente pelas abelhas, eles são responsáveis pelo aumento da produtividade e da qualidade de dezenas de cultivos. Isso faz os polinizadores serem essenciais não só para o equilíbrio ambiental como também para o bem-estar de todos.

©1

Peter Milko

Horizonte Educação e Comunicação Rua Deputado Lacerda Franco, 300 – 16º andar - CEP 05418-000 São Paulo, SP, Brasil. Tel. (11) 3022-5599

www.edhorizonte.com.br Diretor geral: Peter Milko Diretor ADMINISTRATIVO: Mauro de Melo Jucá revista horizonte geográfico Edição Especial Polinizadores na Agricultura é uma publicação da Audichromo Editora Ltda.

III V VI VIII XII II

_02_05_polinizar.indd 2

A arte de polinizar Como acontece o transporte do grão de pólen

Por dentro das colmeias A casa das abelhas é muito mais do que mel

Abelhas prestando serviços Elas são importantes para muitas plantações

O valor econômico da polinização Produtividade e qualidade crescem

Diretor de redação: Peter Milko Diagramador: Roberto Morgan Auxiliar de redação: Ana Claudia Marioto Assistente comercial: Elaine de Fátima Ortis redacao@edhorizonte.com.br Colaboraram nesta edição: Neuza Arbocz (textos), Breno M. Freitas – UFC (entrevistas), Tereza C. Giannini – ITVDS (entrevistas), Blandina F. Viana – UFBA (entrevistas), Vera L. Imperatriz Fonseca – ITVDS e USP (conteúdo), Denise A. Alves – USP (conteúdo)

distribuição gratuita Parte Integrante da edição n0 159 da revista Horizonte Geográfico. Não pode ser vendido separadamente

© 2016

A abelha mamangava (Xylocopa) visitando flor de maracujá-amarelo

Capa: cristiano menezes/a.b.e.l.h.a./divulgação (abelha sem ferrão (Melipona scutellaris) na flor da pitanga);

Principais ameaças e soluções

©1 Fonte: Silva, C.I., Oliveira, P.E.A.M. & Garófalo. 2012. Manejo e Conservação de Polinizadores do Maracujazeiro Amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa).Documentos (Embrapa SemiÁrido. Online), 249: 163-178;

Como proteger as abelhas e seu habitat

©2 Latinstock/© Ralph Clevenger/Corbis/Terra by Corbis

Especial Horizonte Geográfico

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©2

A arte de polinizar Como funciona a atividade essencial para o bom desenvolvimento de vários produtos agrícolas

A

belhas e insetos em geral não são

de hermafrodita) ou separadas em flores

muito bem-vistos pelos seres huma-

masculinas e femininas, que podem, até

nos à primeira vista. Fazem logo pen-

mesmo, estar em pés diferentes da planta.

sar em picadas e riscos para a saúde. Contu-

Não dá para ver a olho nu, mas um

do, esses pequeninos animais têm um papel

microscópio prova que os gametas mas-

fundamental na corrente de vida do planeta.

culinos ficam nos grãos de pólen dos es-

Elas e outros insetos são os principais

tames. Para fecundar a planta, eles pre-

responsáveis pelo transporte do pólen en-

cisam chegar aos seus ovários através de

tre as flores de grande parte das plantas

estreitas passagens das flores femininas

que usamos como alimento e até de algu-

ou hermafroditas, chamadas de estigmas.

mas daquelas que são utilizadas para tecer

A meta é o encontro com os óvulos, a tal

nossas roupas, como o algodão.

“polinização”, que então permite gerar se-

Mas como a polinização acontece? Você

mentes e frutos.

já viu uma amoreira que nunca dá fruto?

Mas como o pólen viaja pelo ar, exa-

Pois isso ocorre quando o pé é “macho”.

tamente até a diminuta entrada do órgão

A Apis mellifera

Exatamente, as plantas têm “sexo”, ou

reprodutor da planta? Isso ocorre graças

é responsável

melhor, têm estruturas femininas (pisti-

ao vento e à chuva, mas, sobretudo, com

pela polinização

los) e masculinas (estames) presentes nas

a ajuda de pequeninos aliados como abe-

de mais de

flores. Essas estruturas podem estar juntas

lhas, vespas, besouros, beija-flores e outros

28 culturas

em uma mesma flor (chamada, por isso,

animais conhecidos como polinizadores.

no Brasil

Polinizadores na Agricultura

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III

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Para buscar seu próprio alimento, eles visi-

tam, cumprindo o papel de polinizadores e

tam centenas, às vezes milhares, de flores

auxiliando na multiplicação da vida.

e colaboram nessa silenciosa – mas essen-

Podemos considerar as abelhas in-

cial – tarefa de fecundação e reprodução

cansáveis “trabalhadoras” em benefício

das plantas.

da biodiversidade. Segundo a literatura

Os principais polinizadores são as abe-

especializada, das espécies conhecidas

lhas, que garantem a reprodução da maior

de plantas com flores, 88% dependem,

parte das plantas que conhecemos e con-

em algum grau, de animais polinizadores.

sumimos. Isso porque têm estruturas es-

Mais de 3/4 das espécies utilizadas pelo

peciais para retirar e transportar o pólen do

ser humano na produção de alimentos

qual se alimentam. Nessa tarefa, derramam

dependem da polinização para uma pro-

parte do precioso pó nas plantas que visi-

dução de qualidade e em quantidade.

Reprodução sexuada Para que ocorra a reprodução sexuada terá que se dar a união do grão de pólen, célula masculina, com o óvulo, célula feminina. Dessa união resultarão as sementes das novas plantas da mesma espécie.

Estame Estigma

óvulo

Ovário Flor hermafrodita

Flor masculina Flor feminina

Quem são elas

Outros polinizadores

Abelha é o nome popular dado a cerca de 20 mil espécies de insetos de uma ordem (Hymenoptera), a mesma das vespas e formigas. Existem em tamanhos e cores variados, com e sem ferrão. No mundo, a mais conhecida de todas elas é a Apis mellifera, aquela tradicional usada em desenhos e ilustrações de potes de mel, justamente porque esse produto foi o que aproximou a humanidade desses bichinhos – isso há milênios. Hoje já se sabe que as abelhas ajudam a alimentação humana ao garantir e intensificar a produção agrícola de diversas plantas, essenciais a uma boa dieta. Além disso, contribuem na manutenção de habitats naturais e fortalecem a biodiversidade ao polinizar plantas nativas.

As plantas contam com outros “ajudantes” para efetivar a polinização. Entre eles estão insetos como as vespas, as formigas, os besouros, as borboletas, as mariposas e as moscas. Pássaros também executam essa tarefa, como beijaflores, e ainda algumas espécies de morcegos que se alimentam do néctar das flores. Até mesmo o vento e a chuva se tornam agentes polinizadores quando balançam e sopram as flores.

IV

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©1

Especial Horizonte Geográfico

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Por dentro das colmeias C

erca de 80% das espécies de abelhas do mundo são solitárias. Apesar disso, a

notável organização social das demais foi transformada em marca do inseto. Algumas diferenças fundamentais evidenciam as peculiaridades de cada espécie. Enquanto a abelha jataí forma colmeias com cerca de 5 mil indivíduos, a Apis mellifera chega a ter 100 mil. A meticulosa divisão de tarefas na colmeia dessa espécie garante a produção do mel e de uma série de outras substâncias utilizadas na alimentação, no tratamento

Forma mais conhecida de produção de mel

de doenças e na indústria de cosméticos.

na apicultura brasileira

©2

Em uma colmeia racional padrão, as operárias ficam na melgueira e no ninho,

O mel é obtido por centrifugação dos qua-

enquanto as larvas, os zangões e a rainha

dros com placas de cera colocados na mel-

permanecem apenas no ninho, onde se

gueira, enquanto a própolis, usada como

localiza a entrada da colmeia (o alvado).

vedação, é extraída.

©1istockphoto; ©2 Gerson Gerloff/pulsar imagens; ©3 Du Zuppani/pulsar imagens; ilustrações: Morgan

O que vem das abelhas Mel - O que é: néctar das flores desidratado, ao qual as abelhas adicionam enzimas que quebram os açúcares e facilitam sua digestão Para as abelhas: alimento (fonte de energia) Para os homens: alimento natural e de grande valor nutricional Pólen - O que é: grãos colhidos das flores e compactados nos alvéolos dos favos Para as abelhas: alimento para a cria (fonte de proteína) Para os homens: substância nutritiva com propriedades medicinais utilizada para regularizar o metabolismo e o sistema hormonal

Própolis - O que é: substância produzida a partir da resina retirada das plantas Para as abelhas: veda a colmeia e, assim, a protege de predadores e regula sua temperatura Para os homens: antibiótico natural utilizado para tratar doenças como gripes e inflamações na garganta

Geleia Real - O que é: secreção produzida pelas abelhas jovens Para as abelhas: alimento exclusivo das larvas que se tornarão rainhas Para os homens: substância nutritiva com propriedades medicinais

Favos de Apis mellifera em ambiente natural

Polinizadores na Agricultura

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©3

V

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Abelhas prestando serviços Falta polinizador? Alugue uma colmeia. O negócio é indispensável para a produção de alguns alimentos, como maçãs e melões

S

em abelhas, a natureza não consegui-

A prática já é tão difundida nos estados

ria produzir algumas delícias como

de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul que

maçã e melão, por exemplo. Uma vez

alguns apicultores fazem dela sua principal

que os seres humanos requerem a produ-

fonte de renda. Josemar Toniel é um deles.

ção agrícola em grandes extensões, é neces-

“A região aqui é muito fria, então não é boa

sário garantir a presença dessas discretas

para produzir mel”, diz para explicar por que

trabalhadoras junto às plantações. Como

o aluguel é sua atividade mais lucrativa.

cuidar de abelhas demanda um saber especializado, a solução que muitos produtores

Migração forçada

encontraram foi alugar as colmeias. Prática

Nos Estados Unidos, esse tipo de comér-

A polinização

comum no Sul do país para as plantações

cio está disseminado por muitas culturas.

também pode

de maçãs e no Nordeste para os melões.

Para garantir a sobrevivência dos campos

ser feita

No Sul do Brasil, os agricultores alugam

de amêndoas da Califórnia, por exemplo,

manualmente,

colmeias para espalhar nas plantações de

responsáveis por 85% da produção mundial

mas isso

maçã, entre setembro e outubro, quando

desse alimento, colmeias chegam a atraves-

eleva o

as flores da fruta estão abertas. São entre

sar todo o território norte-americano em

custo para

duas e quatro colmeias por hectare para

caminhões no início de fevereiro. Depois

o produtor

garantir uma boa polinização.

seguem para polinizar pomares de maçã, ©1

cereja e pera, em Washington e no Oregon. Um negócio que envolve 10 bilhões de insetos por ano e garante a sobrevivência de várias culturas agrícolas. As longas distâncias, contudo, estressam as abelhas e matam de

Serviço gratuito É possível polinizar também de forma manual. Em um processo delicado, trabalhadores colocam um dedal de flanela e passam os dedos em todas as flores para transportar o pólen de uma para a outra. No Brasil, é comum na cultura do maracujá. Anderson Paula Fernandes cultiva essa fruta em Montes Claros, no norte de Minas Gerais. Ele explica que são necessárias quatro ou cinco pessoas, por hectare de plantação, para fazer esse serviço durante os 45 a 50 dias da floração. O processo se repete três vezes ao ano e seu custo equi-

VI

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©1 Antônio Gaudério/Folhapress.; ©2 Rubens Chaves/Folhapress

10% a 20% delas nessa migração forçada.

Especial Horizonte Geográfico

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©2

vale, segundo o agricultor, a algo entre 20%

aposentado da Universidade de São Paulo

Plantação

e 30% do preço da produção.

(USP), de Ribeirão Preto.

de maçãs do tipo gala,

No mesmo município, Geraldo Lopes

“Acho que agricultores que têm áreas cul-

Souto também cultiva maracujá, mas

tivadas próximas a reservas florestais deve-

em Vacaria (RS),

não faz nenhum trabalho de polinização

riam pagar para a manutenção dessas áreas,

onde se usa

manual. “Assim que as flores abrem, as

já que de lá saem os polinizadores das suas

colmeias

abelhas graúdas vão lá”, diz o produtor.

culturas”, diz Osmar Malaspina, professor

alugadas

As abelhas graúdas são as chamadas ma-

da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

mangavas. Comuns em todo o território

“Enquanto for de graça, ninguém vai perceber

brasileiro, elas são responsáveis por poli-

o valor desse serviço”, completa. Nos lugares

nizar quase 100% das plantas de maracujá,

onde a natureza não nos dá mais esse serviço,

de acordo com Evandro Camillo, professor

a polinização já tem valor de mercado.

Polinizadores na Agricultura

_06_07_aluguel.indd 7

VII

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©1

O trabalho das abelhas e de outros polinizadores melhora a qualidade e aumenta a produção agrícola

A

o transportar pólen de uma flor a

vimentaram US$ 162 bilhões por ano, en-

outra e aumentar a fecundação das

quanto o valor das que dependem atingiu

plantas, as abelhas geram um ganho

US$ 837 bilhões, ao redor do planeta. Ver-

de produtividade em diferentes culturas que

duras e frutas, cuja produção anual soma-

corresponde a quase 10% do valor da produ-

da foi estimada em US$ 110 bilhões, são os

ção agrícola mundial, segundo Vera Impe-

alimentos que mais dependem de insetos

Para garantir

ratriz Fonseca, professora da Universidade

para a polinização. Depois vêm oleagino-

boas safras,

de São Paulo (USP).

sas, estimulantes (café e chá), amêndoas

agricultores

Seu grupo de pesquisa estimou, em

e especiarias.

utilizam

2014, que, em média, as culturas que não

Uma pesquisa financiada pelo Fundo

colmeias

dependem da polinização por insetos mo-

Mundial para o Meio Ambiente (GEF) da Or-

VIII

_08_09_quanto vale.indd 8

©1 D Maehrmann/ Blickwinkel/AGB Photo Library; ©2 e 3 istockphotos

O valor econômico da polinização

Especial Horizonte Geográfico

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ganização das Nações Unidas para Alimen-

perto ou quando a plantação é feita ao lado

tação e Agricultura (FAO) e parte do Projeto

de áreas de vegetação nativa, de onde vêm

Polinizadores do Brasil, do Ministério do

outros animais polinizadores.

Meio Ambiente, analisou o rendimento de 33 cultivos dependentes de polinizadores

A influência na qualidade

(entre eles, maçã, pepino, caju, café, feijão,

O mesmo levantamento (publicado

algodão e canola) em 334 propriedades pe-

por Tereza Giannini, do ITVDS, na revista

quenas e grandes da África, Ásia e América

internacional Journal of Economic Ento-

do Sul durante cinco anos (2010-2014).

mology) detectou 85 culturas que depen-

Com a participação de 35 pesquisadores

dem da polinização por animais para se

de 18 países (14 do Brasil, em oito estados),

desenvolver bem, como gabiroba, goiaba,

o trabalho comprovou um ganho de 24% na

jambo-vermelho, murici, pepino, girassol,

produtividade de pequenas propriedades

guaraná, abacate, pinhão-manso, damas-

rurais (com até 2 hectares), graças à ação

co, cereja, pêssego, ameixa e araticum. Os

das abelhas e de outros polinizadores.

polinizadores não só aumentam o número

Estudos específicos sobre as culturas

de frutos como melhoram seu aspecto, seu

brasileiras, realizados por Tereza Giannini,

tamanho e sua qualidade, pois promovem

do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvi-

maior variedade genética.

mento Sustentável (ITVDS), e doutora em

Para 30 culturas, a contribuição dos

ecologia pela USP, e colaboradores, anali-

polinizadores é essencial, e não have-

saram as vantagens econômicas geradas

ria produção sem eles, caso da abóbora,

pelas abelhas para 44 culturas, cujo valor

da acerola, da cajazeira, do cambuci, da

da safra em 2013 alcançou US$ 45 bilhões,

castanha-do-pará, do cupuaçu, da fruta-

no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de

do-conde, da jurubeba, do maracujá, da

Geografia e Estatística (IBGE). Quase 30%

melancia, do melão e do urucum.

do total, US$12 bilhões, deveu-se à atuação das pequeninas trabalhadoras.

O uso da abelha jataí junto a morangueiros de ambientes protegidos, por

Até mesmo a soja, cujas flores são ferti-

exemplo, diminuiu a má-formação dos

lizadas por seu próprio pólen, produzem de

frutos em 70%. Os tomates cultivados em

20% a 40% mais grãos por hectare quando

ambientes protegidos também dependem

há colônias de abelhas Apis mellifera por

das abelhas para ser fertilizados.

©2

©3

Flores parcialmente polinizadas geram morangos com desenvolvimento incompleto (à esquerda). Morangos só ficam com boa formação graças às flores bem polinizadas (à direita)

Polinizadores na Agricultura

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IX

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Dependência e produção Conheça o grau de dependência das abelhas das principais culturas e o valor da produção anual no Brasil Fonte: IBGE, 2013

modesta

baixa

ja So

Dependência por polinização animal

3

fé Ca

2

o dã go Al

e at m To á uj ac ar M

co Co cia an el M

2

1,5

Valor aproximado da produção anual

essencial

2

As principais abelhas Estudo recente, publicado na revista internacional Apidologie, por Tereza Giannini, do ITVDS, identificou os polinizadores de 75 culturas agrícolas brasileiras. Eles se dividem em 250 espécies de animais, sendo que 87% delas são abelhas. As duas mais comuns e com presença em todas as regiões brasileiras são: a Apis mellifera, chamada de abelha do mel ou africanizada, citada como polinizadora de 28 culturas (a tradicional, com riscas amarelas pelo corpo), e a Trigona spinipes (a irapuá), citada para 10 culturas. Elas foram detectadas até mesmo em áreas degradadas e com baixa diversidade biológica.

= bilhões de dólares

Outras abelhas polinizadoras Centris: um gênero de abelhas solitárias, conhecidas como abelhas de óleo por coletarem óleo floral. Xylocopa: de grande porte, conhecidas como mamangavas ou abelhascarpinteiras, pois fazem seus ninhos cavando buracos na madeira. Bombus: abelhas também de grande porte conhecidas como mamangavas-de-chão. Melipona, Trigona, Tetragonisca, Scaptotrigona: abelhas sem ferrão, dóceis e fáceis de manejar, como a uruçu, a jataí, a mandaçaia e a mandaguari.

A Apis mellifera está presente em todo o território nacional e é a mais comum das abelhas

X

Fotos: © Istockphotos

0,4

o ijã Fe

0,4

a nj ra La

0,4

22

7

Especial Horizonte Geográfico

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As sete culturas De 2010 a 2015, o Projeto Polinizadores do Brasil estudou sete culturas para analisar o aumento da qualidade e da produtividade relacionadas à polinização Fonte: Projeto Polinizadores do Brasil

Algodão

Caju

Canola

Castanha Maçã

Melão

Tomate

Aumento de 12% a 16% no peso da fibra e de 17% de sementes por fruto

Cultivos a no máximo 1 quilômetro de mata têm produtividade superior aos de áreas distantes

A abelha africanizada (Apis mellifera) pode aumentar em 17% a 30% a produtividade de grãos

Grandes abelhas nativas são as principais polinizadoras. Sem polinização a árvore não frutifica

Aumento de até 15% na produtividade e 50% na qualidade do fruto

A frutificação sobe até 12%, os tomates pesam até 41% a mais e geram 11% mais sementes

O uso de abelhas sem ferrão em conjunto com as africanizadas resultou em produção 44% maior de frutos e 67% de sementes

Esforço mundial passa pelo IPBES

Para fazer frente aos desafios ambientais atuais, uma nova plataforma colaborativa foi lançada em abril de 2012, a IPBES (Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos), aberta a todos os países-membros das Nações Unidas (ONU). Seu extenso programa de trabalho elegeu dois focos iniciais: polinização e polinizadores associados à produção de alimentos

e simulação de cenários e análises da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. A iniciativa deseja inspirar uma visão integrada dos ciclos para compreender as causas dos principais desafios ambientais do momento e suas soluções, entre as quais está a manutenção da polinização. Mais informações em: http://www.ipbes.net/

Polinizadores na Agricultura

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XI

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©1

Principais ameaças e soluções

A

belhas polinizadoras são essenciais

primeira vez em 2006 nos países do He-

na cadeia da vida da Terra. No en-

misfério Norte. “Em 2014 e 2015, houve

tanto, sua presença está diminuin-

uma mortalidade média de 17,4% da abe-

do, a ponto de preocupar governos, cien-

lha Apis mellifera na Europa e de 40% nos

tistas e agricultores, que dependem delas

Estados Unidos”, informa Blandina Viana,

para colher boas safras.

professora de ecologia da Universidade Fe-

O desaparecimento das abelhas Apis

deral da Bahia (UFBA). Não se sabe ao certo

mellifera, que ficou conhecido como CCD

por que acontece esse desaparecimento.

na flor

(Colony Collapse Disorder – Síndrome do

As colmeias são encontradas com poucos

do açaí

Colapso das Colônias) , foi detectado pela

indivíduos (sem vestígio de abelhas mor-

Melipona

XII

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©1 Cristiano Menezes; ©2 André dib/pulsar imagens

O desaparecimento das abelhas gera preocupação no Brasil e no mundo. Várias recomendações buscam minimizar seu declínio

Especial Horizonte Geográfico

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tas), mas com os estoques de mel e pólen. Contudo, acredita-se que elas não sobrevivem após o abandono súbito de seus lares.

Como evitar o declínio das populações de abelhas

Em terras brasileiras, a ameça da di-

climáticas que estão provocando variações

• Conservar áreas naturais, mantendo a vegetação nativa próxima à área de cultivo; • Colocar e manejar os ninhos de abelhas próximos às áreas de cultivo, melhorando a qualidade da sua lavoura; • Revolver o mínimo possível o solo, mantendo a matéria orgânica, pois existem abelhas que fazem seus ninhos no solo; • Não aplicar defensivos nos horários de visita dos polinizadores ao cultivo (geralmente, pela manhã); • Recuperar a vegetação nativa utilizando plantas que atraem e mantêm os polinizadores; • Colocar gomos de bambu ou troncos de madeira morta para as abelhas fazerem seus ninhos; • Reduzir e, quando possível, eliminar o uso de agrotóxicos; • Cultivar plantas atrativas aos polinizadores nas proximidades da lavoura e em seu jardim; • Criar um canal direto de contato com os criadores de abelhas.

bruscas de temperatura e nos ciclos de chu-

Fonte: MMA

minuição das populações de abelhas foi detecta­da no início da década de 2010 e motivou a criação do Projeto Polinizadores do Brasil, coordenado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade e pelo Ministério do Meio Ambiente. “As mamangavas parecem ser sensíveis às alterações de ambiente e já há relatos de extinções localizadas recentes aqui no Hemisfério Sul, na Argentina e no Brasil”, observa Tereza Giannini, do ITVDS Embora não haja ainda uma conclusão sobre as causas do declínio das abelhas, uma série de fatores está sendo investigada por pesquisadores nos últimos cinco anos: o desmatamento em larga escala que elimina ninhos e habitats das abelhas nativas; as extensas monoculturas que restringem a diversidade de flores; o uso inadequado de herbicidas e pesticidas; e as mudanças

©2

Área de desmatamento na planície do Rio Araguaia

Polinizadores na Agricultura

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XIII

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va que afetam toda a cadeia da vida, até

cedência, sobre atividades de pulverização

mesmo as abelhas e seus ninhos.

aérea para que eles possam tomar medidas de proteção de suas abelhas.

Em busca de soluções

Ana Assad, diretora executiva da Asso-

O Ministério do Meio Ambiente, com

ciação Brasileira de Estudos das Abelhas

base nos dados levantados pelo Projeto Po-

(A.B.E.L.H.A.) considera que a realização

linizadores do Brasil, especificou as ações

de mais estudos e a ampliação do co-

necessárias para minimizar as ameaças

nhecimento sobre os polinizadores são

às abelhas e a seus ninhos.

essenciais para fortalecer as ações de

O órgão federal aconselha identificar

conservação e a convivência harmônica

e adotar práticas de manejo sustentáveis

com a produção de alimentos. Ela destaca

que diminuam os impactos negativos so-

também a importância da implantação de

bre os polinizadores; promover a conserva-

ações voltadas à conservação e recupera-

ção e a diversidade de polinizadores nati-

ção da biodiversidade.

vos e conservar e restaurar áreas naturais

A diretora da A.B.E.L.H.A. ressalta ain-

necessárias para aperfeiçoar os serviços

da que os agricultores precisam zelar pela

de polinizadores nas áreas agrícolas (veja

biodiversidade em suas propriedades. “É

o quadro, na página anterior).

importante conservar as matas nativas

Também foi definido que é responsa-

do entorno das plantações, conforme de-

Uso de colmeias

bilidade dos produtores rurais avisar os

termina a legislação vigente.” Além dis-

racionais em

apicultores presentes num raio de 6 quilô-

so, uma medida adicional para garantir a

Camamu (BA)

metros da cultura, e com 48 horas de ante-

visitação de abelhas seria a plantação de

©1

corredores de flora apícola nas extremidades das culturas. Tereza Giannini, do ITVDS, salienta que a maioria das pesquisas sugere que a qualidade do habitat é muito importante para os polinizadores, e aconselha a introdução de plantas que possam ser usadas como fontes de recursos (néctar e pólen) em vielas no meio da área de cultivo, ou na borda de cursos de água, em áreas de rotaribanceiras para evitar a erosão, nas bordas das áreas de cultivo, em barreiras contra o vento e em cercas vivas. As plantas devem ser nativas da região e florescer em épocas diferentes, de tal forma que sempre haja oferta de pólen e néctar ao longo do ano. A especialista acrescenta que a implementação de Manejo Integrado de Pragas (MIP) em cultivos reduz o impacto causado pelo uso de substâncias químicas. Lembra que áreas extensas de espécies exóticas são mais suscetíveis às pragas, que poderão atacar também as áreas de cultivo. Práticas mais agressivas de manejo, como o uso de

XIV

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©1 Zaida Siqueira/olhar imagem; ©2 Ricardo Teles/pulsar imagens

ção de cultivos, em linhas de contenção em

Especial Horizonte Geográfico

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maquinaria pesada, quando não puderem ser evitadas, devem ser implementadas apenas a cada dois ou três anos, em rotação, e idealmente em apenas 30% da totalidade da área. As queimadas devem ser evitadas ou, então, reduzidas a aplicações a cada quatro a seis anos, também em rotação e em até 30% da área total. Ela aconselha fazer esses manejos, preferencialmente, no fim do inverno, quando muitos dos polinizadores estão menos ativos. Breno Freitas, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca que muitos avanços foram feitos. “Antes, apenas ecólogos e biólogos estudavam a ação de polinizadores. Esse serviço ambiental

©2

passava despercebido pelos produtores.

ger plantas silvestres, manter áreas abertas

Defensivos

Hoje, já existe maior consciência no cam-

no solo (sem compactá-las com arado) para

agrícolas devem

po e pesquisas identificam qual espécie

ninhos das abelhas solitárias e algumas so-

ser aplicados no

de polinizador favorece qual cultura.”

ciais, proteger fontes de água para que os

horário em que

Ele defende que, dadas as condições ide-

animais saciem sua sede, fazer uso correto

os polinizadores

ais, o sistema comportará maior diversida-

dos defensivos químicos e estudar o horário

menos visitam

de de plantas e animais. “Somente proibir

de menor impacto para a pulverização.” “É

a plantação

inseticidas não resolve. É necessária uma

preciso incorporar a polinização como um

série de medidas como introduzir ou prote-

dos insumos da agricultura”, conclui.

Referências e bibliografia • Crop pollinators in Brazil: a review of reported interactions – Apidologie, 2015 • The dependence of crops for pollinators and the economic value of pollination in Brazil – Journal of Economic Entomology, 2015 • Projeto Polinizadores do Brasil – http://www.polinizadoresdobrasil.org.br – Ministério do Meio Ambiente e ONU • A.B.E.L.H.A.: Associação Brasileira de Estudos das Abelhas – http://abelha.org.br/ • Estratégias reprodutivas adotadas pelas angiospermas – Karasawa, 2005. • Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária • Guia Ilustrado de Abelhas de São Paulo – Universidade de São Paulo – http://www.ib.usp.br/beesp/ • BeeLab – Laboratório de Abelhas da USP – http://ecologia.ib.usp.br/beelab/home/ • Universidade Federal do Ceará – Grupo de Pesquisas em Abelhas – http://www.abelhas.ufc.br/ • IPBES – Intergovernmental Platform on Biodiversity and Ecosystem Services – http://www.ipbes.net/ • Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável – ITVDS • Funbio – http://www.funbio.org.br/base-de-dados-polinizadores-do-brasil/ • Catálogo Moure – http://moure.cria.org.br/ • Sem abelha, sem alimento – http://www.semabelhasemalimento.com.br • Bee Informed Partnership – https://beeinformed.org

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A tragédia do

Rio Doce causas e consequências

Palê Zuppani/pulsar imagens

Conheça a opinião de dois técnicos e um jornalista que viram de perto a maior tragédia ambiental do Brasil

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Em 228 municípios, 3,2 milhões de pessoas dependem das águas da bacia do Rio Doce

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U

ma avalanche líquida após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), no dia 5 de novembro de 2015, levou destruição, sofrimento e morte para uma das mais importantes bacias hidrográficas do Sudeste, nos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo. Em poucos dias, os rejeitos de minério que invadiram a calha principal do Rio Doce chegaram ao mar, matando peixes e interrompendo o abastecimento de dezenas de cidades. O desastre

O rompimento da barragem afetou 679 km do Rio Doce

afetou de forma muito grave o meio ambiente e a economia regional: a agropecuária, o turismo e o comércio das cidades ribeirinhas foram impactados. A cor marrom das águas tornou-se o símbolo da destruição e do medo. A Horizonte Geográfico abre espaço para três depoimentos que dão uma vi-

são inédita e analítica sobre a tragédia. Primeiro, a palavra da especialista em águas Malu Ribeiro, líder da expedição que percorreu 18 pontos diferentes da bacia para mensurar o grau de poluição. Em seguida o jornalista Kevin Damasio relata sua vivência e o impacto do desastre na vida da pequena vila turística na foz do Rio Doce. E, por fim, o promotor de meio ambiente Carlos Eduardo Pinto Ferreira, do Ministério Público de Minas Gerais, analisa as principais causas e falhas que provocaram a maior tragédia ambiental do Brasil. A esperança que nasce dos escombros, das lágrimas e da destruição é que os prejuízos sociais e ambientais possam ser de alguma forma compensados e que o desastre sirva de lição para que nada parecido volte a ocorrer em solo brasileiro.

©1 JOAO MARCOS ROSA/NITRO; ©2 Mauricio Simonetti/pulsar imagens

©1

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Prejuízo imensurável Com o pouco conhecimento anterior sobre o rio, e a demora para sua recuperação, é utopia dimensionar o dano causado ao meio ambiente Entrevista com Malu Ribeiro, coordenadora do programa Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica. Ela organizou a expedição que percorreu e analisou a qualidade da água em vários pontos da bacia do Rio Doce.

vão ser sérios problemas de saúde no futuro, a médio e longo prazos. E não estamos falando apenas do Rio Doce. Não se deve nadar nem no rio e nem no mar por um bom tempo. A água tirada diretamente do rio (dois meses depois do acidente) é completamente tóxica à vida.

Quanto tempo levará para que o Rio Doce

Quem tira sustento do rio, como viverá?

seja recuperado?

Essas pessoas estão com suas vidas

Não tem como dizer em quanto tempo

paralisadas. Estamos prestando atenção

a bacia estará recuperada. Vai demorar, e

também nos surfistas, nos comerciantes

muito. Mas o que precisa ser entendido é

ligados ao esporte, donos de pousadas e

que até agora a origem do problema não foi

toda a economia ligada à água. As cidades

sanada. O tempo todo estão saindo mais e

perderam seu principal sustento, bem na

A poluição

mais rejeitos de Fundão. E a natureza não

alta temporada. E não podemos falar ape-

do rio afetou

é uma matemática tão fácil assim.

nas destas pessoas que têm ligação clara

diretamente

com a água. E os criadores de gado que ti-

a agricultura

É possível dimensionar o prejuízo às espécies

ravam água do rio para seus animais?

e a pecuária

aquáticas dos rios da bacia?

©2

O conhecimento sobre a bacia, antes do acidente, era muito baixo, não havia detalhamentos. E o mais grave é que, antes do rompimento da barragem, a bacia já estava em situação crítica, até onde sabemos, muito já se havia perdido. Por isso fica difícil fazer um plano de recuperação da biodiversidade. Quais os riscos da poluição da água pela lama? Ela tornou-se imprópria para uso, ponto. Isso deve ficar muito claro para todo mundo. Todo mundo viu que as consequências para os animais foram imediatas, foram centenas de vídeos de peixes mortos. Também bois, vacas, porcos e aves morreram imediatamente ao entrar em contato com a água. Mas para a população é mais complicado: ninguém vai tocar na água e morrer. Trata-se de uma consequência cumulativa,

Horizonte Geográfico

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55

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Órfãos do Doce Como o desastre ambiental alterou a vida em Regência, uma pacata vila capixaba na foz do Rio Doce Texto I Kevin Damasio

Fotos I Giulio Paletta

O jornalista Kevin Damasio visitou a cidade litorânea de Regência (ES), onde o Rio Doce deságua no mar, um mês depois do acidente

N

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realidade do maior acidente ambiental da história do Brasil. Os rejeitos da mineração percorreram 662,3 quilômetros em 16 dias, de Mariana a

avegando pela foz do Rio Doce, na

Regência. A lama soterrou Bento Rodrigues

proa de um pequeno barco de ma-

e parte de Paracatu de Baixo, matou pelo

deira, observo à frente uma imensi-

menos 17 pessoas e rompeu o equilíbrio

dão de água marrom-alaranjada, que se es-

56

viam do rio e do mar. Nada fácil assimilar a

da vida dos que dependem do Rio Doce.

Ribeirinhos

tende até se perder de vista. Imagino como

Em pé no barco, o pescador Eduardo

perderam sua

era a vida antes da tarde de 21 de novembro

Barcelos, 33 anos, contorna uma ilhota e

principal fonte

de 2015, quando a lama tóxica chegou a

segue para o estuário. Ele não foi um dos

de renda:

Regência, uma pequena vila do litoral do

que foram contratados pela Samarco para

a pesca

Espírito Santo, onde os 1.200 moradores vi-

instalar e monitorar os 9 quilômetros de

Horizonte Geográfico

14/03/2016 14:43:59


boias de contenção na foz do rio, geralmente

tâncias presentes no mar só foram divul-

Até os surfistas

usadas em casos de vazamento de óleo. O

gadas em 5 de fevereiro, pela Universidade

tiveram de

jeito para aliviar o prejuízo foi realizar na-

Federal do Espírito Santo: alto teor de ferro,

deixar seu

vegações pelo Rio Doce, agora requisitadas

alumínio, manganês e cromo.

esporte para

pelos pesquisadores e jornalistas que vieram

Já Robson Barros, de 46 anos, não se ar-

conhecer a situação de perto. No estuário,

risca a pegar onda. Em 2003, ele mudou-se

peixes vez ou outra irrompem a superfície da

de Vila Velha para Regência e construiu o

água. “Pulam pra pegar oxigênio, e não por

Pontinha Surf Camp, onde vive com a mu-

estarem saudáveis. Estão infectados, não tá

lher e o filho pequeno. Nos últimos anos, o

pra consumo humano”, observa. “Quem vai

turismo de surfe tem movido a economia

ser o primeiro a arriscar? Eu não, e turista

local, e esperava-se que esse verão fosse

nenhum vai querer comprar peixe.”

o mais próspero da vila. “Quando falaram

Na manhã de 5 de dezembro, Índio de-

que a lama chegaria em Regência, a coisa

cidiu surfar, a exemplo de uma dúzia de

começou a desandar. Todo mundo cance-

nativos e locais. Na saída da foz, a onda

lou o réveillon, ninguém ligou mais”, conta

da Boca do Rio continuava marrom, mas 5

o presidente da associação de surfe local.

quilômetros ao sul, no Point 1, quebravam

“Com essa paulada, não tem renda, as con-

tubos esverdeados. Antes de cair na água,

tas estão chegando e a Samarco não dá po-

Índio ajoelhou-se na areia por alguns mi-

sição para o comércio.”

nutos, cabeça baixa e olhos fechados. Sua

A alguns minutos dali fica o Bocana Surf

preocupação tinha fundamento. As subs-

Camp. Eric Freitas, 29 anos, investiu todo

evitar o risco de contaminação

Horizonte Geográfico

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57

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©1

Na tarde de 21

seu dinheiro na pousada inaugurada em

se desenvolva e renove a vila. “A gente quer

de novembro a

setembro, na espera do retorno financeiro

recuperar não só a energia das pessoas,

lama tóxica se

durante a promissora temporada. Quando

mas também a atratividade de Regência,

encontrou com

a lama chegou, o oceanógrafo se viu em um

por meio de outras fontes de renda: turis-

o mar capixaba

cenário de poucos dados, muita especulação

mo sustentável, trilhas ecológicas, birdwa-

e sob a tentativa incessante de acobertar a

tching”, explica ele.

situação. Diante disso, ele ajuda a comu-

Em uma manhã de dezembro, Eric nos

nidade nas questões técnicas, ambientais

levou para Entre Rios, uma comunidade

e burocráticas e é representante do Fórum

ribeirinha. Nilton José dos Santos é um su-

Capixaba de Defesa da Bacia do Rio Doce.

jeito de meia-idade que mora no primeiro BAHIA

Eric também iniciou o movimento Re-

terreno, em uma pequena casa com a mu-

gência Viva, com a surfista nativa Thalena

lher, três filhos, quatro netos e uma nora. Ele

Pereira, a fim de que a própria população

tenta cavar um poço artesiano a cem metros

O caminho da lama Governador Valadares

MINAS GERAIS

Tumiritinga

Rio

D

Conselheiro Pena Resplendor Aimorés

ba ica Rio P i r ac

0

58

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50 km

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Rios afetados

an g Pir

Linhares

Rio Doc e

Colatina

ESPÍRITO SANTO

mo Car do

Ri

o

oce

a

RIO DE JANEIRO

Oceano Atlântico

©1 GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO/AE; mapa: daniel das neves

Parque Estadual do Rio Doce

io

Ipatinga

Do ce

R

Belo Oriente

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da margem do Rio Doce, na busca por uma

com o Ministério Público a pagar, para pes-

Centenas de

alternativa para irrigar a horta e a plantação,

cadores e ribeirinhos, um salário mínimo

tartarugas têm

mas o barro entope a tubulação. “Os trem

mais 20% por dependente. É suficiente? “Ra-

Regência como

tão morrendo devagarzinho”, diz, com ar

paz, esse total aí eu tirava pescando de vez

seu principal

triste e indignado, enquanto caminha por

em quando. E a plantação? Falo a verdade,

local de desova

bananeiras e pés de alface, chuchu e jiló que

não vai refrescar nada pra mim”, responde

se sustentam sobre o solo rachado.

seu Nilton. Na volta para casa, ele abre um

Até aquele momento, a família de seu

sorriso, surpreso, ao ver um grupo de jovens,

Nilton recebera apenas uma caixa d’água de

amigos de Eric, munidos de doações – um

15 mil litros, abastecida vez ou outra por ca-

gesto solidário, que gera esperança em meio

minhões-pipa bancados pela Samarco. Em

ao caos em que se transformou a antes pa-

dezembro, a mineradora se comprometeu

cata vila capixaba.

Horizonte Geográfico

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Um desastre anunciado Desde o dia da tragédia, esclarecer as causas e cobrar pelos danos gerados são tarefas do Ministério Público de Minas Gerais A lama, cujo percurso é visto no alto à direita, matou 18 pessoas e destruiu vilas, como Bento Rodrigues

Entrevista com Carlos Eduardo Ferreira Pinto, é coordenador da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente do Ministério Público de Minas Gerais. A entidade abriu inquéritos contra a Samarco, a Vale e a BHP pela tragédia, e está à frente das negociações de compensação dos prejuízos causados.

Quais os principais erros da iniciativa privada que possibilitaram que essa tragédia ocorresse? A Samarco não agiu com precaução em suas decisões. A barragem de Fundão, desde a sua concepção, passou por inúmeras alterações no seu projeto e, mesmo depois de construída, sofreu vários alteamentos (obra ©1

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para aumentar a altura). Quanto maior a

Fundão. A Santarém estava a cerca 2 qui-

produção de minério da empresa, maior

lômetros de Bento Rodrigues! Como pode

a produção do rejeito. O rejeito precisa ser

uma barragem nessa localização ter sido

depositado em barragem, sendo que muitas

licenciada sem plano de emergência? Isso

vezes os alteamentos têm de ser feitos com

é falha grave. Talvez se Santarém tivesse

grande velocidade para atender à demanda.

um plano de emergência mais robusto do

A escolha da Samarco de realizar altea-

que o de Fundão, poderia ter salvado mais

mentos a montante também evidencia que

vidas, mais bens, mais animais.

não foi escolhida a melhor alternativa téc-

A falha na fiscalização também é evi-

nica. Afirmo isso, pois em vários países do

dente. Nenhuma barragem rompe do nada.

mundo o alteamento a montante já foi até

Fundão já vinha dando sinais de instabili-

mesmo proibido. Aqui no Brasil, já houve

dade há muitos anos, tendo passado por

uma época em que a ABNT [Associação Bra-

problemas, por exemplo, no extravasor.

sileira de Normas Técnicas] não recomen-

Trincas foram vistas naquela região em

dava alteamento a montante. Essa, porém,

2013, mas tudo isso passou despercebido

é a técnica mais barata para as empresas.

pelo órgão ambiental fiscalizador.

Contudo, a com menos segurança. Como evitar futuros desastres desse tipo

©1 Acervo Ministério Público de Minas Gerais

Quais foram as falhas do Poder Público?

no Brasil?

Ele tem evidente responsabilidade no

Agora é necessário que Minas Gerais

que diz respeito às falhas enormes exis-

e todos os estados da federação se movi-

tentes no licenciamento da barragem de

mentem no sentido de criar um marco le-

Fundão, bem como em relação às falhas

gal sobre barragens mais rigoroso do que a

na fiscalização.

lei nacional que vige hoje. A construção e

O licenciamento da barragem tem gra-

operação de barragens precisam ser mais

ves omissões, principalmente no cumpri-

bem controladas, de modo que sejam ado-

mento de condicionantes ambientais. Em-

tadas as melhores técnicas de segurança,

bora a legislação mineira exija a averbação

mesmo que mais caras, pois se está lidando

[registro] do Projeto Executivo da barragem

com um relevante interesse coletivo. O que

no órgão ambiental, essa providência jamais

se vê hoje é que as empresas constroem

foi tomada pela empresa. A legislação am-

barragens adotando livremente técnicas

biental exige também a apresentação de as

que nem sempre são as recomendadas do

built [como construído] ao órgão licenciador.

ponto de vista da segurança da estrutura.

Todavia, a empresa apresentou um as built

Isso tem de mudar.

antes mesmo do fim das obras. A conse-

Além disso, a questão da escolha lo-

quência disso é que nem o Estado nem a

cacional do empreendimento é crucial. A

sociedade têm conhecimento da estrutura

grande tragédia ocorrida com o rompimen-

que foi construída ali. E isso é gravíssimo!

to da barragem de Fundão se deve muito ao

Os processos de licenciamento das ou-

fato de que ela se localizava logo acima de

tras barragens do complexo Germano tam-

concentrações populacionais. É necessário

bém estão repletos de vícios. A barragem

um marco legal rigoroso para que a escolha

Santarém, por exemplo, que se localiza logo

do local da barragem não seja livremente

a jusante da barragem de Fundão, não tem

feita pelo empreendedor e sob as vistas

plano de emergência. Embora essa barra-

permissivas dos órgãos ambientais.

gem não tenha rompido completamente, ela perdeu altura e seu rejeito também saiu da barragem quando do colapso de

LEIA A ENTREVISTA COMPLETA NO SITE http://bit.ly/especialmariana

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Horizonte educacional LITERATURA

Histórias que Ganham o Mundo é destaque no Prêmio Aberje Quem imaginaria que histórias simples, sobre lendas e mitos, causariam um grande impacto sobre 128 mil alunos do ensino fundamental e ainda ganhassem um prêmio de jornalismo? Com o intuito de incentivar a leitura, a criatividade, a produção de textos e resgatar a magia e o encantamento das histórias infantis, essa iniciativa educacional começou com a formação de 378 professores de vários municípios, em oficinas desenvolvidas pela especialista em língua portuguesa Celinha Nascimento, pedagoga associada à Horizonte desde 2012. Ela apresentou o gênero lendas e mitos na história da humanidade. Em seguida, os professores levaram aos seus alunos de 4º e 5º de 357 escolas o desafio: eles deveriam criar textos e ilustrações para um livro. Os melhores trabalhos de cada cidade ganharam espaço na obra, que encheu de orgulho os jovens leitores de 13 municípios, em Mato Grosso do Sul, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A publicação ganhou o Prêmio Regional Sudeste de Melhor

Projeto de Comunicação e Relacionamento com a Sociedade, da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). “É emocionante ver o resultado de um trabalho educacional impresso para a eternidade”, afirma Celinha. A iniciativa foi patrocinada pela Raízen, com o apoio da Lei Rouanet e realização da Horizonte Educação e Comunicação.

história

EmbalARTE atrai estudantes no Metrô De novembro de 2015 a janeiro de 2016, a exposição EmbalARTE – Arte, História e Design da Embalagem no Brasil surpreendeu os usuários das estações Luz e Santa Cecília do Metrô de São Paulo. Dezenas de objetos curiosos, obras de arte produzidas com embalagens usadas, vídeos, jogos interativos e centenas de imagens atraíram o interesse dos paulistanos, principalmente de estudantes de design, arquitetura, história, publicidade e jornalismo. A iniciativa foi patrocinada pela Bemis e Braskem, com apoio da lei estadual de cultura e produção da Horizonte. Para fazer uma visita virtual à exposição acesse: www.edhorizonte.com.br/embalarte

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150 mil pessoas passam, diariamente, pela estação Luz

©1 gustavo lourenção; ©2 istockphotos

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meio ambiente

Professora Amazônia Com o objetivo de proporcionar uma experiência de aprendizagem sobre sustentabilidade e educar novos líderes para essa mudança, a Escola de Verão da Amazônia oferece a chance de aplicar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para solucionar desafios reais. Os interessados em participar do projeto devem ter mais de 18 anos e disponibilidade para viajar, entre 12 de julho e 1º de agosto de 2016, para a Amazônia. A viagem para a comunidade Tumbira, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Rio Negro, será dividida nos seguintes módulos de ensino: Amor à natureza, Cuidados com as pessoas, Saber-como, Coragem e Conheça a si mesmo. Para saber mais, acesse: http://www.amazonsummerschool.com/

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O Rio Negro e o Solimões são objetos de estudo do projeto

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Horizonte cultural Cachoeiras reais Uma ferramenta digital que deixa de lado os mapas feitos à mão e as horas perdidas em trilhas, para apostar na ideia de guias turísticos virtuais. A equipe do aplicativo Cachoei­ras da Estrada Real mapeou, com drones e câmeras subaquáticas, 180 cachoeiras e mais de 100 pontos turísticos em 21 municípios de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. O aplicativo conta com mapa dinâmico, classificação de cachoeiras, localizador de GPS off-line e indicações de hospedagem, posto de saúde, locais para alimentação e postos de gasolina. A ferramenta está disponível nas lojas de aplicativos de iOS

Janela do Céu, Conceição do Ibitipoca

e Android e é completamente gratuita.

@ Pedaladas viram árvores A poluição atmosférica causou 3,7 milhões de mortes em 2012, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para que esses dados não se repitam no futuro, foi lançado o aplicativo Pedal de Atitude, que ajuda o plantio de árvores de acordo com os quilômetros pedalados. Para aderir à campanha, basta que o ciclista baixe o aplicativo (disponível para Android e iOS) e faça um vídeo, ou uma

Maravilhas subaquáticas

foto, ao final de suas pedaladas, para que elas

Com paisagens submarinas, detalhes e texturas dos

sejam comprovadas. O aplicativo, em parceria

seres marinhos, o oceanógrafo, fotógrafo e cinegrafista

com ONGs, desenvolveu a campanha que esti-

marinho, Marcelo Skaf, formou o livro que retrata seus

mula os usuários a, juntos, darem duas voltas

20 anos de carreira. Pelos Mares

no Brasil. A atividade proporcionará 46.172

do Mundo traz algumas das mais magníficas paisagens

quilômetros, que se transformarão em 4.500

em diversas regiões do planeta – como África

árvores nativas em áreas de reflorestamento.

do Sul, Antártida, Caribe, ilhas oceânicas brasileiras e Papua-Nova

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Guiné. Das mais de 35 mil fotos tiradas ao longo da carreira de Skaf, 130 foram selecionadas para revelar a maravilha e os perigos de quem apresenta a interação entre o continente e os ambientes submersos. Pelos Mares do Mundo | Marcelo Skaf. Editora Batel, 2015, 202 páginas.

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Crescimento em equilíbrio

@ Que espécie é essa? A Fundação SOS Mata Atlântica está catalogando as novas espécies da Mata Atlântica. Está achando que é mais do mesmo? Não! A fundação desenvolveu um web-série na qual apresenta personagens que contribuem para a preservação de um dos maiores biomas do mundo. Narrados por personalidades como Marcio Garcia, Mariana Ximenes e Luciano Huck, os vídeos mostram como

De forma simples e instrutiva, o professor da Universidade de São Paulo (USP), José Eli da Veiga, esclarece o que efetivamente significa “desenvolvimento sustentável”. Ele buscou o histórico do conceito e o aplica no contexto de crescimento global. Para Entender o Desenvolvimento Sustentável é uma obra que instrui sobre a urgência de conciliar o crescimento econômico com a preservação dos recursos naturais e a justa distribuição das oportunidades sociais.

pequenas atitudes podem ajudar o meio ambiente e mobilizar diversas pessoas. Como a história de uma mãe paulistana que da festa de aniversário da filha criou uma ONG de proteção às praças de sua região. Se você quer conhecer essas irreverentes espécies, ou mostrar que é uma de-

O que podemos entender por desenvolvimento sustentável? Desenvolvimento sustentável é a ambição de que as futuras gerações tenham ao menos tantas oportunidades e escolhas quanto as atuais.

las, acesse: http://www.gpsmataatlantica.org.br

@ Diversão e aprendizado O Instituto Nacional do Semiárido (INSA) lançou recentemente o livro de colorir

É possível unir desenvolvimento econômico e sustentável? Ainda não se pode afirmar que isso será realmente possível, existem estudos e especulações. Por enquanto, com as atitudes de organizações, países e civis é tão somente a mais generosa visão do futuro.

Flores da Caatinga. A publicação traz ilustrações de centenas de espécies de flores endêmicas do bioma, além de curiosidades

©1 ISTOCKPHOTOS; DEMIAS divulgação

sobre a floresta exclusivamente brasileira. O INSA acredita que, aderindo à moda dos livros de colorir, conseguirá levar divertimento e difundir o conhecimento e o interesse sobre a região semiárida brasileira. Este é o segundo livro de colorir do instituto, que anteriormente lançou

Por que as pessoas têm dificuldade de ver evolução conjunta nestes dois sentidos (economia e sustentabilidade)? Porque a questão é realmente muito complexa, de ver um crescimento do país sem precisar agredir o meio ambiente e sem a necessidade de grandes demandas de emissão de carbono. Daí a necessidade de um livro Para Entender o Desenvolvimento Sustentável, para que as pessoas consigam unir estes dois pensamentos e aplicar em seu dia a dia.

um sobre cactáceas. Flores da Caatinga está disponível apenas em versão digital e pode ser baixado e impresso em: http://bit.ly/1oqlwPc

Para Entender o Desenvolvimento Sustentável | José Eli da Veiga. Editora 34, 2015, 232 páginas

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Memória Horizonte

A edição nº 103, de fevereiro de 2006, retratava o sonho dos moradores de Nova Olinda (CE) com a transposição do Rio São Francisco. Para os sertanejos mais humildes, que vivem longe da fartura do rio, a obra correspondia ao sonho de ter água para beber e plantar. Hoje, dez anos depois, a obra ainda não foi concluída e as pessoas continuam sofrendo com os longos períodos de seca.

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O sonho da água

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