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o rg a ni z ação C É L I A M E L O R O S Â N G E L A N A S C I M E N T O M A I S E S I LVA
E DI TOR A AU TOGRAFIA
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Educação para além do século XXI Organizadoras:
melo, Célia nascimento, Rosângela silva, Maise isbn: 978-85-518-0000-0 1ª edição, agosto de 2017. revisão de texto: Célia Melo, Rosângela Nascimento e Maise Silva capa: Luciana Aquino editoração eletrônica: Fabricio Vale Editora Autografia Edição e Comunicação Ltda. Rua Buenos Aires, 168 – 4º andar, Centro rio de janeiro, rj – cep: 20070-022 www.autografia.com.br Todos os direitos reservados. Com base na Lei º 9610 de 19/02/1998 é proibida a reprodução deste livro com fins comerciais, sejam quais forem os meios empregados, sem a prévia autorização por escrito dos autores e da Editora Autografia.
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INSTITUTO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO (INBRAEDH) Dra. Maria Célia C. de Melo do INBRAEDH
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CONSELHO EDITORIAL Camila Oliver Autora do Livro Chico Buarque: o tempo, os temas e as figuras Docente da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus II - Alagoinhas – Bahia Célia Melo Diretora Geral do Instituto Brasileiro de Educação e Desenvolvimento Humano INBRAEDH. Diretora Acadêmica da Faculdade de Ciências da Bahia -FACIBA Diretora Presidente do Instituto de Ciências Gênesis -ICG Éverton Nery Carneiro Docente da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Autor do Livro Filosofia, Teologia e Poesia Maise Silva Editora-Chefe da Revista Diálogos & Ciência Docente Titular do Programa de Pós-Graduação em Bioenergia da Faculdade de Tecnologia e Ciências. Rita Cristina Santiago Doutoranda em Difusão do Conhecimento Autora do livro “Mais de cem respostas para você ficar sem dúvidas” Rosângela dos Santos Nascimento Mestre em Ciências da Educação Docente da Faculdade de Ciências da Bahia (FACIBA)
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AUTORES
Ana Carolina V. Cardoso Bacharel em Física Mestranda do Programa de Pós-Graduação mestrado Profissional em Tecnologias Aplicáveis à Bioenergia da Faculdade de Tecnologia e Ciências Especialista em Competências Educacionais Docente da Rede Pública de Ensino da Secretaria do Estado da Bahia anacarolcd@gmail.com Célia Melo Doutora em Ciências da Administração Mestre em Desenvolvimento Humana e Responsabilidade Social Bacharel em Economia profceliamelo@inbraedh.com.br
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Dayse C. Ackerman de Souza Licenciada em Pedagogia Especialista em Gestão de Pessoas Analista Pedagógica Sênior da Faculdade de Tecnologia e Ciências dayseackerman@hotmail.com Edvando Fernandes Gomes Doutor em Ciências Administrativas Mestre em Administração de Empresas Bacharel em Administração de Empresas admefg@gmail.com Hilton Freire do Nascimento Doutor em Ciências Administrativas Mestre em Engenharia de Produção Graduado em Administração. Diretor Executivo na UNICORP Pós-Graduações – CIE Centro Integrado de Educação LTDA. hiltonfreire@gmail.com
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Jarbas Santos de Oliveira Doutorando em Ciência da Educação Mestre em Ciência da Educação Especialista em Administração Pública Bacharel em Direito Docente da Faculdade de Ciências da Bahia (FACIBA) jarbas.oliveira@terra.com.br Jeruza Rocha Lima Arcanjo Mestranda em Ciências da Educação Especialista em Gestão educacional Graduada em Filosofia Docente da Secretaria de Educação do Estado da Bahia jeruzapei@hotmail.com José Clodoar da Silva Lima Mestre em Ciências da educação Especialista em Direito Constitucional Graduado em Direito Docente da Secretaria de Educação do Estado da Bahia jcsl_lima@yahoo.com
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Jurandir Silva Rodrigues Santos Mestre em Ciências da Educação Bacharel em Direito Especialista em Psicopedagogia Docente da Prefeitura de Dias Davila jurandir12rodrigues@hotmail.com Lucia Maria Matos Silva Santos Doutora em Ciências da Educação Mestre em em Ciências da Educação Especialista em Psicopedagogia Graduada em Educação Artística e Matemática Docente da Prefeitura de Simões Filho-Bahia Coordenadora de arte na Prefeitura de Dias D’Avila luciamar.21@hotmail.com Maise Silva Doutora em Ciências Biológicas (Zoologia) Mestre em ciências Biológicas (Botânica) Bacharel em Ciências Biológicas (Recursos Ambientais) Licenciada em Biologia Docente do Programa de Pós-Graduação em Bioenergia da Faculdade de Tecnologia e Ciências msilva_santos@outlook.com
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Marcelo Silva Borges Mestre em Educação Bacharel em Pedagogia. Coordenador Pedagógico da Secretaria de Educação da Prefeitura de Salvador. violao.celo@gmail.com Rita Cristina Santiago Doutoranda em Difusão do Conhecimento Mestre em Teologia com ênfase em Educação Especialista em Metodologia do Ensino Superior Licenciada em Sociologia Bacharel em Letras e Teologia Autora do livro “Mais de cem respostas para você ficar sem dúvidas” monografiaorientada@gmail.com Rosângela dos Santos Nascimento Mestre em Ciências da Educação Especialista em Metodologia do Ensino Superior e Gestão Educacional Licenciada em Pedagogia Bacharel em Direito rosa_educ@hotmail.com
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Simone Andrade Alvarenga Mestre em Administração Especialista em Desafios Globais Graduada em Empreendedorismo e Inovação Graduada em Serviço Social andradealvarenga@gmail.com Viviane Matos Galvão Doutora em Biotecnologia Mestre em Física Licenciada em Física Docente do Programa de Pós-Graduação em Bioenergia da Faculdade de Tecnologia e Ciências. vivgalvao@mail.com
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SUMÁRIO ALICERCES PARA A PRODUÇÃO ACADÊMICA: ATITUDES MOTIVADORAS E INIBIDORAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Célia Melo ANÁLISE COMPARATIVA DE JOGOS EDUCATIVOS SOBRE BIOENERGIA: APRENDENDO NOVOS CONCEITOS DE MANEIRA LÚDICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Ana Carolina V. Cardoso Dayse C. Ackerman de Souza Maise Silva Viviane Galvão GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E AS INTERFACES COM O GESTOR CRÍTICO E REFLEXIVO. . . . . . . . . . . . . 50 Rita Cristina C. de A. Santiago Rosângela dos Santos Nascimento RELAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS: MARCOS REGULADORES DO SÉCULO XX. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 Simone Alvarenga POLÍTICAS EDUCACIONAIS: REFLEXÕES ENTRE O EFETIVO E O PALIATIVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 Marcelo Silva Borges A MANIFESTAÇÃO DA INDISCPLINA EM SALA DE AULA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 Lucia Maria Matos Silva Santos
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REDE DE EMPRESAS E COMPETITIVIDADE COMO FATORES DE DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL, SOCIAL E ECONÔMICO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 Hilton Freire do Nascimento CAPACITAÇÃO POLICIAL NO ESTADO DA BAHIA PARA O ATENDIMENTO DA SEGURANÇA DESEJADA PELO CIDADÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 Jarbas Santos de Oliveira INCLUSÃO DIGITAL NAS SERIES INICIAS DO ENSINO FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE BARRA DO ROCHABAHIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Jeruza Rocha Lima Arcanjo CENTROS DE DISTRIBUIÇÃO: ASPECTOS CONCEITUAIS E PROBLEMAS PARA MEDIÇÃO DO DESEMPENHO . . . . . 166 Edvando Fernandes Gomes RELAÇÕES COMERCIAIS ENTRE O BRASIL E A ALEMANHA: CONTEXTUALIZANDO O SÉCULO XX E NOS PRIMEIROS ANOS DO SÉCULO XXI . . . . . . . . . . . . . . . . . 188 Simone Alvarenga A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO SISTEMA PRISIONAL . . . . . . . 205 Jurandir Silva Rodrigues Santos CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO COMBATE A VIOLÊNCIA ESCOLAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221 José Clodoar da Silva Lima O PAPEL DO PROFESSOR DIANTE DA TECNOLOGIA DA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235 Afonso Santana de Miranda
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ALICERCES PARA A PRODUÇÃO ACADÊMICA: ATITUDES MOTIVADORAS E INIBIDORAS Cél i a M el o p ro fcel i am e l o @ i nbra e dh . c o m . br
Resumo O artigo ora apresentado, intitulado: Alicerces para a produção acadêmica: atitudes motivadoras e inibidoras tem a finalidade de provocar um diálogo acadêmico sobre os aspectos considerados semeadores de um trabalho de conclusão de curso, seja ele de graduação ou pós-graduação. Surgiu com a seguinte indagação: preliminarmente, o estudante percebe que existem alicerces de sustentação ou norteadores que podem proporcionar atitudes motivadoras ou inibidoras nele, enquanto pesquisador/autor de um trabalho acadêmico? A resposta a essa indagação aponta para a necessidade de, inicialmente, perceber a importância do projeto de pesquisa, enquanto planejamento do trabalho, que indica a projeção do que será elaborado no trabalho final de conclusão de curso. Do exposto, o objetivo desse artigo foi o de investigar a percepção dos estudantes quanto ao entendimento do u 15 U
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significado da elaboração do projeto de pesquisa, muitas vezes confundidos com a construção propriamente dita da sua obra final, ou seja, se eles enxergam a distinção entre o planejamento das ideias que subsidiam que reúnem toda a matéria-prima ou elementos estruturantes necessários para a elaboração do trabalho acadêmico. Assim sendo, esse artigo se debruça em apresentar aspectos referentes à dinâmica inicial, muitas vezes percebida como dificultosa pelos estudantes, visto que o entendimento dessa edificação do planejamento de pesquisa está nebuloso no entendimento de que esse é o momento que possibilita a reunião dos aspectos necessários e suficientes para que os alunos o realizem de forma segura e harmoniosa a etapa da elaboração propriamente dita do seu TCC. Palavras-chave: Alicerces. Produção acadêmica. Sustentação. Atitudes motivadoras e inibidoras.
Intro dução Ao longo de alguns anos desenvolvendo atividade profissional docente em cursos de graduação e de pós-graduação lato sensu e stricto sensu e de formação docente venho observando em disciplinas relacionadas a metodologia de pesquisa situações inconsistentes de percepções sobre o que é projeto de pesquisa (PP) e trabalho de conclusão de curso (TCC). Surgem situações em que o estudante, no momento da escolha de uma temática que, preferencialmente, lhe seja prazerosa para elaborar seu TCC e daí passe a construir seu plano de trabalho para atingir o objetivo final não se apercebe da u 16 U
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diferença entre a elaboração do que seja o projeto de pesquisa e o trabalho final. Verifiquei que, quer sejam alunos de cursos de graduação, lato sensu, de especialização, ou cursos stricto sensu, de mestrado e doutorado, essas dificuldades de interpretação estão quase sempre presentes. A atuação em instituições de ensino superior dentro e fora do Brasil, em especial em universidades do MERCOSUL, me proporcionou experiências que me instigaram a alimentar um crescente interesse em proporcionar uma reflexão sobre a importância de discernir sobre as diferenças existentes entre a etapa de projeção (etapa 1), da etapa de elaboração do trabalho final do curso (etapa 2). Assim sendo, esse artigo intitulado: Alicerces para a produção acadêmica: atitudes motivadoras e inibidoras, que tem a finalidade de compartilhar com o leitor aspectos considerados semeadores de uma produção acadêmica facilitadora. Surgiu então a seguinte indagação: preliminarmente, o estudante percebe que existem alicerces de sustentação ou norteadores que podem proporcionar atitudes motivadoras ou inibidoras nele, enquanto pesquisador/autor de um trabalho acadêmico? A resposta a essa indagação aponta para a necessidade de, inicialmente, perceber a importância do projeto de pesquisa, enquanto planejamento do trabalho, que indica a projeção do que será elaborado no trabalho final de conclusão de curso. Do exposto, o objetivo desse artigo foi o de investigar a percepção dos estudantes quanto ao entendimento do significado da elaboração do projeto de pesquisa, muitas vezes confundidos com a construção propriamente dita da sua obra final. Assim, pretende-se verificar se o estudante percebe a distinção entre o planejamento das ideias que u 17 U
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subsidiam, ou que reúnem toda a matéria-prima ou elementos estruturantes necessários para a elaboração do trabalho acadêmico. Desse modo, esse artigo se debruça em apresentar aspectos referentes a dinâmica inicial, muitas vezes percebida como dificultosa pelos estudantes, visto que o entendimento do que seja esse momento de edificação para apontar o que será o TCC está inserido no planejamento do projeto de pesquisa, que é uma fase que possibilita a reunião dos aspectos necessários e suficientes para que o aluno o realize, de forma segura e harmoniosa.
1. Alicerces para a pro dução acadêmica: atitudes motivadoras e inibidoras O desenvolvimento das capacidades do homem para o trabalho, em sentido amplo, ocorre sob os auspícios de certa configuração de ideias centrais, que respondem, de certo modo, a direção da aprendizagem, a qual serve de padrão às ações de aquisição de conhecimento. Essa configuração de ideias centrais, circunscrita no mundo acadêmico fornece significados e orienta os modelos para as aprendizagens, guardando relação direta com um determinado contexto histórico, econômico, social e tecnológico do homem que formatam sua capacidade intelectiva como um dos determinantes do desempenho. Do exposto, buscar-se-á discorrer sobre as bases dessas capacidades que direcionam as práticas de estudos e que dão, sentido ao trabalho do estudante universitário, no que diz respeito a construção do passo a passo para a elaboração de um trabalho acadêmico. u 18 U
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A concepção relacionada à centralidade das capacidades intelectivas são postas pela verificação de períodos anteriores do seu desenvolvimento, nos quais tais capacidades não eram vistas como relevantes no sentido de explorar as ideias sobre a necessidade do desenvolvimento da integralidade das capacidades humanas para o êxito no desempenho do papel de estudante. Em meio a inúmeros compromissos pessoais, cada estudante, para garantir o atendimento das práticas dos processos de estudos, em direção à meta de conclusão de trabalho de curso, deverá ser mais focado e seu entendimento sobre as etapas a serem desenvolvidas nos trabalhos acadêmicos deve ser mais sistêmico. Desse modo, necessário se faz interpretar, analisar e processar informações e conhecimentos, de forma a entender as estratégias e metas a serem alcançadas. Do exposto, o conceito de competências, vem a se constituir num vigoroso aliado, no sentido de instrumentalizar e implementar as práticas educativas inerentes a esse processo. Os conhecimentos constituem-se em objetos decorrentes da delimitação do assunto e a produção acadêmica vem a ser a imagem desses objetos, percebidos pelo espelho das capacidades mentais, que passam a ser valorizados na aquisição do conhecimento adquirido, firmando a construção epistemológica. Isto significa que uma bagagem maior de entendimentos deverá necessariamente e incessantemente ser adquirida pelas pessoas nas situações de estudo. A aprendizagem adquirida pelo planejamento pela gestão de etapas necessárias a construção do conhecimento, se transforma em riqueza para quem a possui. Essa aquisição de conhecimentos, alicerçada u 19 U
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em bases motivadoras tem o poder de atuar como facilitadora de outros processos de aprendizagem. Desse modo, o atingimento de uma respectiva meta de estudo, seja na realização de um curso de nível superior ou não, sempre depende de um esboço de metodologias, para que seja possível alcançá-la.
2. Alicerces de sustentação da meto dologia de pesquisa para construção do trabalho acadêmico Quando se decide por realizar um curso, tem-se uma ideia inicial do como fazê-lo, mas de maneira aleatória, sem necessariamente, levar em consideração noções epistemológicas do conhecimento científico, métodos, técnicas e instrumentos de verificação da elaboração, com base no projeto de pesquisa científica. É nessa etapa que o mundo das ideias se alarga, em forma de escolhas de temas que possam ser contextualizados, com base em experiências pessoais, profissionais ou mesmo embasado no desejo de desenvolver um objeto de estudo que agregue valor ao aprendizado. Vale registrar que, enquanto orientadora de trabalhos acadêmicos é imensamente prazeroso e saudável conviver e compartilhar preocupações, conhecimentos, investigação etc, com o discente que precisa atender ao referido requisito final para a obtenção do seu certificado ou diploma. Assim, a etapa de elaboração de trabalhos de conclusão de curso (TCC), pode ser considerada como uma viagem imaginária em um mundo que, ao mesmo tempo pode ser motivadora ou inibidora do processo de aprendizagem. u 20 U
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Diante de uma busca de conhecimentos, muitas vezes emergente da curiosidade, ou da vivencia de uma determinada situação do ambiente de trabalho, muitas vezes tem vista a dinâmica de vida profissional, assim como de determinado ponto de vista de interesse pessoal. De qualquer ângulo que venha a ser escolhido: pessoal ou profissional, a continuidade dos estudos pode ser motivadora ou inibidora, visto que cenários desconhecidos e, necessariamente, serão explorados para a composição do arcabouço teórico que será associado, tal como peças de um quebra cabeça, que precisa ser montado, ponto por ponto, a fim de tornar a dispersão em um resultado concreto do objeto de estudo. O fato é que, sendo considerados, tanto do ponto de vista dos aspectos motivadores, como dos aspectos inibidores, é certo que será obtido um resultado final que representará uma forte ou fraca produção acadêmica. Desse modo, melhor será buscar uma alternativa que transforme o atendimento dessa exigência rica, salutar e prazerosa. Sabe-se que uma grande arvore teve origem de uma pequena semente que precisou ser semeada, irrigada e cuidada. O mesmo se pode afirmar sobre um TCC, visto que precisa ser semeado, irrigado e cuidado, para que possa se transformar em um excelente trabalho acadêmico, o que pode ser realizado por meio da utilização das técnicas da gestão ou administração da qualidade para sua consolidação.
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3. Utilizando conceitos de administração Para que uma finalidade seja alcançada, necessário se faz utilizar os meios para esse alcance, em outras palavras, necessário se faz a utilização das técnicas de gestão ou administração. Nessa vertente, segue abaixo apresentado os seguintes conceitos: • Conceito de HAROLD KOONTZ: Administração é a arte de realizar coisas com e por meio de pessoas em grupos formalmente organizados. • Conceito de WILLIAM H. NEWMAN: Administração consiste em orientar, dirigir, e controlar os esforços de um grupo ou indivíduos para um objetivo comum. Esses conceitos, ao invés de apenas buscar sequências de passos pré-estabelecidos, traz a tona a importância das pessoas na busca do objetivo final pela solução de problemas, metodologia, métodos e técnicas, enquanto instrumentos utilizados em um panorama concatenado por ideias, que devem ser fortemente calcadas em fundamentos teóricos. A construção desses conceitos passeou por seis Escolas de Administração: escola do processo administrativo; escola empírica ou de observação, escola do comportamento humano, escola do sistema social; escola da teoria e das decisões e u 22 U
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escola matemática. Cada uma delas definindo a administração a seu modo, porém a maioria delas estando de acordo que a administração procura fazer alguma coisa com e por meio de pessoas. Para efeito de recorte dessas exposição, será exposto o processo da escola de administração. De acordo com Silva: Escola do Processo administrativo (também conhecida como tradicional o universalista). A administração é um processo de realizar coisas por meio de pessoas. Este processo é valido universalmente e de sua análise resultam os princípios ou normas que facilitam o ato de administrar. (SILVA, 1999, pag. 19).
Silva explica que, de acordo com Harold Koontz: A arte administrativa compreende a aplicação de diversas técnicas práticas, as quais, por sua vez, estão baseadas em conhecimento de varias ciências (Psicologia, Sociologia, Economia, Matemática e outras ci6encias). (SILVA, 1999, pag. 20).
Um gestor assim como um pesquisador lida com situações que reúnem um conjunto de atividades orientadas para a busca de um determinado conhecimento. Uma pesquisa deve ser feita de modo sistematizado, utilizando para isso método próprio e técnicas específicas, procurando um conhecimento u 23 U
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que se refira a uma realidade empírica. Assim sendo, a pesquisa científica se distingue de outra modalidade qualquer de pesquisa pelo método pelas técnicas, por estar voltada para uma realidade empírica, ou seja, para tudo que existe e que pode ser conhecido através da experiência e pela forma de comunicar o conhecimento obtido. (RUDIO, 1986, pags. 9, 10). Um pesquisador assim como um administrador lida com trabalho ou uma investigação que deve ser executada. Da mesma forma que um administrador, o pesquisador desempenha funções através de quatro processos administrativos: • Planejamento – determinando o que se deve fazer. • Organização – estruturando e reunindo as condições, equipamentos e pessoas, necessários a sua efetivação. • Direção – conduzindo e coordenando os trabalhos. • Controle – verifica se está tudo sendo feito de acordo com o que foi planejado.
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Processo de administração x desempenho do pesquisador1
Nesse panorama, o processo de administração sinaliza o porquê elaborar um projeto de pesquisa, que conforme Gil consiste em: Como toda atividade racional e sistêmica, a pesquisa exige que as ações desenvolvidas ao longo de seu processo sejam efetivamente planejadas. De modo geral, concebe-se o planejamento como a primeira fase da pesquisa, que envolva a formulação do problema, a especificação dos objetivos a construção da hipótese, a operacionalização dos conceitos etc. GIL, 2002, pag 19).
1. Embasado no livro Administração e controle. Autoria de Adelphino Teixeira da Silva; Atlas, 1993. u 25 U
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Ao longo do tempo, na dinâmica de ensino-aprendizagem ouve-se que um trabalho de pesquisa é algo que, para ser corretamente expresso, precisa de uma linguagem complicada, é enfadonho, é difícil, cansativo etc., concordam comigo? Certamente muitos dirão que sim, outros dirão, “só que não”. O aperfeiçoamento da ciência vem, pela reunião da contribuição das academias, instituições de ensino superior, pesquisadores etc, visando a eficácia deste, ou daqueles resultados, que, por um lado, proporcionam um padrão reconhecido por outros pesquisadores e pelo público geral e , por outro lado, precisam proporcionar uma linguagem mais factível, enquanto um guia prático de estudos. É, justamente, a compreensão e o domínio da metodologia científica em algo acessível, tanto para alunos de graduação ou pós-graduação, mestrandos ou doutorandos, o grande mérito desta obra que é, portanto, a simplicidade com que se apresenta esse complexo, constituindo, assim, ferramental útil e de fácil acesso ao ambiente acadêmico. Na mesma proporção do planejar está o bem conduzir o trabalho que será exigido pelo TCC, seja uma simples monografia, um artigo acadêmico uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado. A trilha ou o “Caminho das Pedras” é iniciado pela compreensão de que o “mapa não é o território” ou seja, o projeto de pesquisa não é o trabalho de conclusão de curso e sim, um roteiro que engloba o tema, foca o passo a passo ou os procedimentos essenciais para a elaboração de cada uma das etapas dessa construção. Assim, o projeto de pesquisa é o documento que representa as fases construtivas de um TCC. u 26 U
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4. Resoluções e normas técnicas brasileiras (ABNT) Se apenas for citada a necessidade do alinhamento com Resoluções do MEC e utilização das normas técnicas brasileiras (ABNT) persistirá a ideia de quão aborrecida é a elaboração do referido trabalho. Contudo, é provável que essa situação esteja relacionada com a interpretação equivocada da importância dessas necessidades, visto que necessário se faz a definição de um padrão para cursos, em especial, aqueles em processo de revalidação e reconhecimento etc. Vale registrar que, recentemente, em 22 de junho de 2016, o Ministério da Educação (MEC) homologou a resolução nº 3, do Conselho Nacional de Educação (CNE). A seguir, registra-se um recorte do que ela estabelece para a revalidação e reconhecimento de diplomas de ensino superior obtidos em instituições estrangeiras. De acordo com a resolução do CNE, a revalidação dos diplomas de graduação e o reconhecimento dos títulos dos cursos de mestrado e doutorado devem ser feitos, seguindo as exigências da resolução, por universidades públicas e privadas, que ofereçam o curso. A norma também estabelece o prazo de 180 dias para que a universidade analise o documento e decida pela admissão ou não da adequação do diploma. Expressa, também, que as instituições que não respeitarem este prazo estarão sujeitas a abertura de processo administrativo. A resolução determina ainda que, os interessados poderão requerer a revalidação de seus diplomas a qualquer
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tempo, sendo vedado ao estudante, entretanto, fazer o pedido em mais de uma universidade concomitantemente. O processo de revalidação de diplomas poderá ser substituído ou complementado pela realização de prova ou exame. Estes deverão ser realizados em língua portuguesa, pela universidade revalidadora ou pelo MEC. (...). Os estudantes que tenham a revalidação negada poderão fazer apenas uma nova solicitação em outra universidade. Cursos de pós-graduação estrangeiros, cujos diplomas tenham sido objeto de reconhecimento nos últimos dez anos, receberão a tramitação simplificada, que deverá se ater exclusivamente ao exame da documentação comprobatória da diplomação nos cursos. O prazo para o reconhecimento pela universidade avaliadora encerrar o processo de reconhecimento é de 90 dias. A mesma regra se aplica aos diplomados em cursos estrangeiros que tenham recebido estudantes com bolsa concedida por agência governamental brasileira e participantes do Programa Ciências sem Fronteiras.
4. Alinhamento com resoluções e normas técnicas (ABNT) Em atendimento as resoluções CNE/MEC, as universidades brasileiras estão em processo de adaptação para o acolhimento dos títulos que necessitam ser revalidados ou reconhecidos, onde se verifica o alinhamento dos cursos realizados. Esses alinhamentos são definidos por resoluções internas das instituições brasileiras, a exemplo da Resolução nº 04/2016/UFBA, que dispõe sobre normas referentes à u 28 U
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revalidação de diplomas de cursos de graduação e ao reconhecimento de diplomas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), expedidos por instituições estrangeiras de ensino superior e pesquisa, onde analisam documentos indicativos da reputação, da qualidade, dos serviços prestados pelo curso e pela instituição, Do exposto, fica evidente a necessidade de garantir a qualidade das produções acadêmicas quer seja em cursos realizados dentro ou fora do Brasil. Para isso e, diante de tantas bases legais que são exigidas, o esforço pessoal de cada estudante na elaboração do seu TCC é uma gota no oceano e pode ser entendido como o alicerce motivador, visto que são a distinção entre o imperativo e o opcional, produzido pela vontade de cada um.
5. Compreensão conf lituosa entre estruturas de projeto de pesquisa e TCC A experiência pessoal da autora em orientação e participação em bancas de defesas de trabalhos academicos permite fazer algumas considerações, de forma a registrar que, o estudante pode ter um sentimento inibidor ou motivador diante do processo de elaboração do seu TCC, advindo, muitas vezes, de ideias preconcebidas ou do nivel de complexidade que tenha dessa elaboração. Um fator essencial está na compreensão da diferenciação do que seja um projeto de pesquisa e um trabalho de final de curso, com uma exposição de um estudo científico retrospectivo, de tema único e bem delimitado em sua extensão. Essa compreensão evita o conflito existente, até mesmo na u 29 U
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montagem da estrutura de cada uma dessas etapas, embora sejam semelhantes em alguns aspectos, como mostra o comparativo das estruturas das normas ABNT/NBR 14284/2011 - Informação e documentação - Trabalhos acadêmicos Apresentação e ABNT/NBR 15287/2005 - Informação e documentação - Projeto de Pesquisa - Apresentação; a seguir: Comparativos entre Elementos integrantes: ABNT/NBR 15287/2005 - Informação e documentação - Projeto de pesquisa – Apresentação X ABNT/NBR 14284/2011 - Informação e documentação - Trabalhos acadêmicos – Apresentação. Condição projeto de pesquisa
Condição trabalho final
Partes
Elementos integrantes
Opcional
Obrigatório
Parte externa
Capa
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Lombada
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Obrigatório
Folha de rosto ou contra capa
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Lista de ilustrações
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Lista de tabelas
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Lista de abreveaturas e siglas
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Considerações finais Referencias Pós Textual
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Apêndice
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Anexo
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Fonte: Normas da ABNT 15287/2015 e 14724/2011.
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Enfim, para que o trabalho de conclusão de cursos seja permeado por atitudes motivadoras precisa, desde o início ser percebido como uma apresentação conclusiva, que será subsidiado por um projeto de pesquisa. Assim sendo, ele tem a finalidade de fornecer um mapa ou uma visão global e contextualizado do assunto a ser tratado, apresentando um conjunto de aspectos, definidamente claro, conciso e objetivo sobre a escolha do tema, delimitando basicamente, as fronteiras por meio de um problema de pesquisa, hipótese, objetivos, metodologia etc. Essa trajetória, então passa a funcionar com um guia ou um conjunto de conhecimentos que serão desenvolvidos, tendo como base referenciais teóricos de diferentes autores, para o atingimento do propósito maior, que é a obtenção do trabalho de final de curso.
Considerações f inais O estudante ao considerar os benefícios da distinção entre o projeto de pesquisa e o trabalho acadêmico em cursos de graduação ou pós-graduação, estará trilhando uma expressiva e importante via de acesso ao atendimento das demandas de cada uma dessas etapas de produçao academica. A percepção das finalidades de cada uma delas pode gerar a confiança no planejamento das ideias que subsidiam, ou que reúnem toda a matéria-prima ou elementos estruturantes necessários para a elaboração do trabalho acadêmico e que, por consequencia, pode fortalecer as atitudes motivadoras do autor na compreensão do estudo. Flui assim, a comunicação desejada a cada etapa do trabalho na atividade discente, onde u 31 U
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se pode concluir que, a finalidade de contextualizar o trabalho pode ser encontrada e facilitada a partir dessa macro visão dessa construção.
Referências: ABNT NBR 14724/2011 – Apresentação de Trabalhos Acadêmicos. ABNT NBR 15287/2005 – Informação e documentação - Projeto de pesquisa - Apresentação. BOITEUX, Colbert Demaria. Administração de projetos = 5 Ed. – Rio de Janeiro: Interciência, 1979. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa . 4 Ed – São Paulo: Atlas, 2002. LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projetos e relatórios, publicações e trabalhos científicos – 7 ed. – são Paulo: Atlas, 2011. NETO, João Augusto Mattár. Metodologia Científica na era da Informática – Rio de Janeiro: Ed. Saraiva, 2002. RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica – Petropolis, Vozes, 1986. SILVA, Adelphino Teixira da. Administração e controle. 8 Ed. Rev e ampl. – São Paulo: Atlas, 1993.
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ANÁLISE COMPARATIVA DE JOGOS EDUCATIVOS SOBRE BIOENERGIA: APRENDENDO NOVOS CONCEITOS DE MANEIRA LÚDICA An a Caro l i na V. C a rdo s o an acaro l cd @ g m a i l . c o m Day se C. Ac k e r m a n de So uz a d ay seack er m a n@ h o t m a i l . c o m M ai se Si l v a msi l va_ sant o s @ o ut l o o k . c o m Vi vi an e G a l v ã o vi vg al vao @ g m a i l . c o m
Resumo O Brasil possui matriz energética bem diversificada e apresenta demanda crescente por combustíveis de fontes renováveis. O termo Bioenergia é amplo e tem sido compreendido como toda forma de energia proveniente de fontes biológicas. Contudo, ainda são necessários investimentos em pesquisa e educação para o desenvolvimento de consumo u 33 U
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consciente dos recursos energéticos por parte da população em geral. Assim, a popularização adequada de conceitos relativos ao Meio Ambiente e, em particular Bioenergia, tem sido escasso. A utilização de jogos é um recurso didático que auxilia no aprendizado de forma direta, desafiadora e estimulante. Estudos indicam que jogos educativos possibilitam o entretenimento e influenciam no desenvolvimento sócio-afetivo e cognitivo. Alguns autores afirmam que os jogos têm a capacidade de facilitar o aprendizado que, de outra maneira, seria difícil de ser compreendido e assimilado. A técnica do aprendizado com diversão pode evidenciar dúvidas conceituais que, dentro da perspectiva lúdica, podem ser solucionadas de maneira atrativa e criativa, seja na sala de aula ou nos espaços de brincar em grupo. Desta forma, este trabalho apresenta uma análise comparativa dos jogos educativos com o tema bioenergia visando o uso da ferramenta (jogos) como técnica de educação ambiental para ensinar conceitos de Bioenergia e a importância do uso de energias alternativas para diminuir o impacto ambiental sobre os recursos naturais como processo para o desenvolvimento sustentável do planeta Palavras-chave: Educação Ambiental. Ludicidade. Biocombustível. Energia.
1. Intro dução A lei 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabelece no seu artigo 32 que um dos objetivos da educação básica é a “formação do cidadão mediante “o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; a compreensão u 34 U
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do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade. ” Logo o processo educativo deve incluir técnicas e instrumentos que permitam ao indivíduo transformar sua própria realidade, e do seu próximo. Essa realidade deve ser alterada a partir do autoconhecimento e compreensão crítica, das próprias necessidades e do sujeito coletivo. Via de regra, a percepção do mundo para o estudante depende de vários fatores como o familiar, social, autoconhecimento, e da relação cotidiana entre a teoria e prática. No contexto social e escolar atual é evidente que para fundamentar uma educação de qualidade o docente precisa ter múltiplas habilidades para desenvolver uma educação “vivenciada” no sistema educacional muitas vezes intitulado de caótico e desestimulante. Mas, a também precisa ser compreendida como um espaço coletiva para desconstrução e reconstrução, do conhecimento e do sujeito. Este capítulo coloca em foco os jogos educativos como ferramenta que deve ser utilizada pelo educador para despertar o prazer do conhecer no estudante. A educação no século XXI deve perceber que a geração atual tem boa habilidade para absorção rápida de conteúdo e interesse crescente em desafios. Entretanto como despertar nos estudantes responsabilidade ambiental e os educar quanto a importância do uso de fontes alternativas de energia? Ou mesmo como apresentar temas mais complexos como Bioenergia? Os jogos educativos podem boas ferramentas para exercitar a habilidade mental e a imaginação. Esta técnica é conhecida, pois toda atividade lúdica entretém, prende a atenção, u 35 U
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entusiasma e fomenta novas ideias com eficácia. Assim, a brincadeira tende a transmitir informações subjetivas e estimular diversos sentidos com a vantagem de não ser cansativa. Desta forma, este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise comparativa dos jogos educativos com o tema bioenergia. Esta comparação visa o uso da ferramenta (jogos) como técnica de educação ambiental para ensinar o conceito de Bioenergia e a importância do uso de energias alternativas para diminuir o impacto ambiental sobre os recursos naturais como processo para o desenvolvimento sustentável do planeta.
2. Contextualizando a matriz energética utilizada pela humanidade A partir do século XXI, o fornecimento de energia do mundo era principalmente fornecido através de combustíveis fósseis utilizando o carvão, o petróleo e o gás natural. Devido a evolução tecnológica, necessidade de sobrevivência, alterações climáticas e a volatilidade dos preços do petróleo surgiram novas formas de energia para resolver o problema do aquecimento global e rever a matriz energética usada pelo homem até o momento. Neste contexto, a o surgimento da utilização das energias renováveis. (PRETO, A. et al., 2010) Ao contrário dos combustíveis fósseis, as fontes renováveis de energia são recursos naturais com quantidades ilimitadas e não são susceptíveis ao esgotamento em curta escala de tempo (ANEEL, 2009). A Bioenergia é um termo amplo que se refere a qualquer forma de energia renovável produzida a partir de materiais derivados de fontes biológicas. Este u 36 U
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engloba não só os biocombustíveis líquidos para os transportes, mas também a biomassa sólida e o biogás. Logo, os biocombustíveis renováveis são uma maneira econômica e ambientalmente sustentável para os países reduzirem suas emissões de gases do efeito estufa e dependência do petróleo. O Brasil é um país de dimensões continentais, com características climáticas e geográficas peculiares. Devido a suas grandes extensões de terras agricultáveis e produção de biomassa, tem grande potencial para produção de biodiesel. Contudo, a elevada biodiversidade também permite a produção de bioenergia a partir de ampla variedade de espécies vegetais oleaginosas. Há quase meio século o Brasil vem desenvolvendo pesquisas sobre o biodiesel, e foi o pioneiro ao registrar a primeira patente sobre o processo de produção e uso do biodiesel através do pesquisador Expedito Parente (BARDAWIL, 2005). A divulgação de investigações sobre temas atuais, como a Bioenergia, em aulas de ensino de Ciências é bastante escassa no âmbito nacional, fato que pode ser comprovado a partir de pesquisa de artigos científicos sobre estes temas. Assim, apesar - do tema bioenergia ser bastante atual e permitir que sejam abordadas questões tecnológicas, ambientais, sociais e econômicas, muito pouco é conhecido em qualquer nível da esfera educacional. Nesse sentido, os jogos educativos podem auxiliar na apresentação deste tema transversal de uma maneira lúdica permitindo uma apropriação do conhecimento, e auxiliando na formação cidadã com uma visão sistêmica e ambientalmente comprometida com o desenvolvimento sustentável (BRASIL, 1999).
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3. Um p ouco do histórico sobre jogos educativos No mundo contemporâneo não basta apenas transmitir conteúdos e valores ao aluno, mas isso tem que ser feito valorizando os interesses das crianças. Ao trabalhar com jogos as crianças sentem-se em seu próprio mundo e tornam-se menos frustradas diante da gama de informações e conhecimentos que a sociedade moderna lhes impõe. Assim, o lúdico é um instrumento de desenvolvimento da linguagem e do imaginário, como um meio de expressão de qualidades espontâneas ou naturais da criança, um momento para observar a criança que expressa através dele sua natureza psicológica e suas inclinações (Kishimoto, 1994). Segundo o dicionário Aurélio, a palavra jogo vem do latim e quer dizer jocu que significa gracejo, zombaria. Mas que, tardiamente substituiu a palavra ludus. Adicionalmente, jogo também significa “uma atividade física ou mental organizada por um sistema de regras que define a perda ou ganho”. Esse dicionário também apresenta vários exemplos conjunto de palavras e suas significações para jogos. A exemplo de jogo cênico, jogo de azar e jogar limpo. Entretanto, não apresenta significado ou citação para a expressão “jogo didático”. Desse modo, como pode-se definir jogo didático? Neste trabalho, o jogo educativo ou didático é definido como uma atividade mental lúdica com um conjunto de regras que determina o aprendizado de maneira divertida (mesmo significado de ludus no latim). Essa atividade recreativa proposta no contexto educacional deve assumir um seu aspecto educativo-reflexivo-transformador (Huizinga 2003; Kishimoto 1994). u 38 U
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O conceito de jogo pode ser extensivo a todas as culturas e em todas as suas formas possíveis, uma vez que suas características são as mesmas. O jogo é vigente em nossa sociedade de várias maneiras: o brincar pode ser considerado um de seus sinônimos, mas existem também os jogos de linguagem, os políticos, de amor, e tantos outros (Huizinga, 2003). Todos os jogos possuem quatro elementos fundamentais, são eles: representação, interação, conflito e segurança. • Representação: o jogo fornece uma representação simplificada e subjetiva da realidade, tendo um conjunto de regras explícitas. Os jogos apresentam essencialmente representações subjetivas, mas originadas e sustentadas pela realidade. Além disso, essa representação fornece um ambiente completo e autossuficiente, pois seus elementos não dependem de nenhuma referência presente no mundo externo ao do jogo. • Interação: o ponto crucial na representação da realidade situa-se na forma como ela se altera e a representação interativa, da qual os jogos são sustentados, apresenta-se como a forma mais completa de representação. Nela, o expectador é capaz de provocar alterações e verificar suas consequências, sendo assim capaz de modificar a realidade apresentada. • Conflito: o conflito surge naturalmente a partir da interação do jogador e esse elemento está presente em todos os jogos. O jogador busca ativamente atingir algum objetivo e existirão obstáculos que impedirão que esse objetivo seja alcançado facilmente. u 39 U
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Essa força de oposição se dá de várias formas, podendo ter, por exemplo, a forma de agentes ativos, que através de ações, tentam impedir o sucesso do jogador, ou de elementos mais subjetivos, como um cronômetro. • Segurança: uma vez que o conflito tende a criar um cenário de perigo, dele surge uma situação de risco físico. Entretanto, o jogo permite que o jogador seja submetido à experiência psicológica do conflito e do perigo sem os danos físicos, possibilitando assim dissociar as consequências das ações. Crawford ressalta que essa dissociação não significa que não existam consequências nos jogos, mas que as penalidades para a derrota de um jogador podem ser elementos de dissuasão ou a ausência de alguma recompensa. O jogo e a atividade de jogar devem tornar-se uma alternativa de realização pessoal que podem possibilitar a manifestação de sentimentos e emoções, propiciam a aprendizagem de comportamentos adaptativos, aumentando a possibilidade de êxito na aprendizagem. Além de oportunizar a descoberta de soluções para os mais variados problemas, através do estabelecimento de estratégias e implicações, encorajando os estudantes a resolvê-los. Um dos intuitos fundamentais dos jogos é educar. Todo tipo de contato com os jogos tende a agregar novos conhecimentos e experiências ao jogador. Os jogos educacionais têm como objetivo possibilitar entretenimento para o usuário, podendo influenciar o seu desenvolvimento sócio-afetivo e cognitivo. Muitas vezes os jogos ensinam de maneira mais fácil e divertida alguns assuntos u 40 U
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que seriam difíceis de serem entendidos através da utilização de outros meios. A essência do jogo educacional é aprendizagem com prazer e a criatividade com diversão (Oliveira (2001). Os jogos pedagógicos são recursos bastante importantes para o desenvolvimento de diversas habilidades desde que estes sejam bem explorados. É uma ferramenta muito boa, pois os mesmos podem atingir diversas áreas do conhecimento. Além disso, jogos podem ser considerados ótimas ferramentas de ensino, na medida em que proporcionam uma situação de aprendizado através de situações prazerosas, valorizando o trabalho em grupo e a afetividade. Categorias de jogos Os jogos podem ser categorizados em cinco tipos distintos: jogos de tabuleiro, jogos de cartas, jogos atléticos, jogos infantis e jogos digitais. Jogos de tabuleiro Estes jogos compreendem um plano jogável e delimitado dividido em setores, e um conjunto de peças que podem ser movidas no decorrer do jogo. As peças devem estar associadas aos jogadores, sejam elas em forma ou cores. Os objetivos de cada jogo de tabuleiro, assim como as estratégias vencedoras, podem variar significativamente: conquistar as peças de outros jogadores, conquistar um ou mais territórios, pontos ou valores agregados. Entretanto, estes jogos geralmente podem ser representados por jogos dinâmicos de informação perfeita. u 41 U
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Jogo de cartas Jogos de cartas são aqueles em que há interação entre os jogadores através de um baralho. Nestes jogos as estratégias giram em torno da análise combinatória das cartas visíveis a todos (portanto, “na mesa”) e aquelas em nossas mãos. Em muitos tipos de jogos de carta também existe a interação através da comunicação entre parceiros e blefe. Pode-se deduzir facilmente que os jogos de cartas são quase sempre jogos dinâmicos (ou sequenciais) de informação imperfeita, representáveis na forma extensiva. Jogos atléticos Jogos atléticos são aqueles em que a disputa se dá “corpo a corpo”, num contexto em que a aptidão física e a coordenação motora prevalecem. Nestas modalidades aplicam-se os principais conceitos da Teoria de Jogos, e por isso deve-se ter cautela com a diferenciação entre jogos e competições. Estes conceitos diferenciam-se no grau de interatividade entre os jogadores e na capacidade que um jogador tem em influenciar diretamente no desempenho de seus oponentes. Jogos infantis Nesta modalidade, a motivação principal não é a de desafiar os participantes, mas sim introduzir mecanismos para que os mesmos possam se desenvolver física e mentalmente. Há questionamentos sobre a qualificação destes como jogos, já que em geral não existe uma disputa claramente declarada entre os participantes.
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Jogos digitais Um jogo eletrônico é uma atividade lúdica formada por ações e decisões que resultam numa condição final. Tais ações e decisões são limitadas por um conjunto de regras e por um universo, que no contexto dos jogos digitais, são regidos por um programa de computador ou aplicativo para celular. O universo contextualiza as ações e decisões do jogador, fornecendo a ambientação adequada à narrativa do jogo, enquanto as regras definem o que pode e o que não pode ser realizado, bem como as consequências das ações e decisões do jogador. Além disso, as regras fornecem desafios a fim de dificultar ou impedir o jogador de alcançar os objetivos estabelecidos. Jogos no campo da Bioenergia Existem alguns jogos educativos que trabalham com temas como: bioenergia, bicombustível e biomassa. Como exemplos, podem-se citar: jogos de carta (Bioenergy: a DEMOCS game e BioCHEMBustíveis), jogos de tabuleiro (The Race To The Pump e The Bioenergy Farm Game), jogos de computador (Fields of Fuel Computer Game) e aplicativos (Biodiesel simulation e Road Trip Challenge). Um exemplo de jogo de cartas é o Bioenergy: a DEMOCS game. Ele foi criado por New Economics Foundation and Edinethics Ltd. (NEF) como parte de um kit de ferramentas sobre bioenergia desenvolvido na Inglaterra pelo Biotechnology and Biological Sciences Research Council (BBSRC, 2011). Este é um jogo de cartas que tem como proposta a discussão do tema bioenergia. Ele se concentra principalmente na abordagem sobre biocombustíveis. O objetivo do jogo é u 43 U
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substituir os combustíveis fósseis por biocombustíveis. Esta alteração pode contribuir para segurança energética, ajudar a combater as alterações climáticas pela redução das emissões de gases do efeito estufa e facilitar o desenvolvimento da economia. O jogo “BioCHEMBustíveis” (Waechter et al., 2013) é um jogo de tabuleiro que começou a ser elaborado em 2013 por um grupo de estudantes do PIBID (Programa de Bolsas de Iniciação à Docência) do curso química da Universidade Regional. Ele consiste em um tabuleiro central com cartas de perguntas/respostas e curiosidades, sendo que as cartas estão paralelamente correlacionadas com as perguntas/respostas. Este jogo tem em como objetivo abordar os conhecimentos relacionados a alguns tipos de biocombustíveis, como por exemplo: biogás, biodiesel e etanol. De um modo geral esse jogo tenta abordar os principais conteúdos dos três biocombustíveis dando ênfase aos seus benefícios e malefícios, vantagens e desvantagens, utilizando conceitos das mais variadas disciplinas. O jogo de tabuleiro “The Race To The Pump” foi desenvolvido por pesquisadores da Cornell University (Estados Unidos da América). Ele tem como objetivo ensinar os conceitos e os processos envolvidos na conversão de matérias-primas para produção de biocombustíveis. O jogo ilustra os conceitos de sustentabilidade, o ciclo de vida do carbono, as fontes de energias renováveis e a ligação das redes de indústria e com a economia mundial. Ele foi pensado para estudantes do ensino fundamental II.
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O jogo de tabuleiro The Bioenergy Farm Game foi desenvolvido pela University of Wisconsin-Madison para ser utilizado pelo público em geral. Nele os jogadores assumem o papel de agricultores, e cultivam matérias-primas que podem produzir bioenergia. Esse fato faz com que esse jogo sirva como uma forma atraente para explorar uma gama de questões ambientais e interações ecológicas relacionadas com a mitigação das alterações climáticas, conservação da biodiversidade, qualidade da água e agricultura sustentável. O jogo digital “Fields of Fuel Computer Game” foi desenvolvido pela University of Wisconsin-Madison para ser utilizado pelo público geral. Os jogadores podem assumir o papel de agricultores que trabalham no cultivo sustentável de vegetais, para ganhar renda e melhorar os serviços ecossistêmicos. O jogo demonstra a complexidade envolvida com a produção sustentável de culturas bioenergéticas e facilita o envolvimento com pesquisa e sustentabilidade atual. Um aplicativo com caráter educacional chamado “Biodiesel simulation” foi desenvolvido na Cornell University em 2015. Neste jogo é possível descobrir as melhores formas de desenvolver biodiesel. Com esse aplicativo é possível abastecer um veículo virtual com o tipo de biodiesel criado pelo usuário e simular a autonomia deste após o consumo desse biocombustíve. O aplicativo “Road Trip Challenge” foi desenvolvido por Creative Discovery Museum em 2013. Ele permite ao usuário explorar o combustível de maneira eficiente, pois é possível simular durante uma viagem os impactos ambientais causados devido a escolha de um determinado tipo de combustível. u 45 U
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Durante - o deslocamento é possível aprender sobre fontes alternativas de energia. Ele pode ser utilizado em museus e/ou escolas através de quiosques interativos. A tabela abaixo apresenta síntese dos jogos didáticos publicados com a temática Bioenergia.
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Geral
Geral
Jogo Digital (aplicativo para celular)
Jogo Digital (aplicativo para celular)
Biodiesel Simulation
Road Trip Challenge
Fonte: sistematização dos autores
Geral
Geral
Biocombustíveis
Biodiesel
Bioenergia e Sustentabilidade
Bioenergia
Biocombustível
Estudantes do Ensino Fundamental II
Jogo Digital
Jogo de Tabuleiro
The Race To The Pump
Biocombustível
Bioenergia e Biocombustível
ASSUNTO
Geral
Fields of Fuel Computer Game
Jogo de Tabuleiro
BioCHEMBustíveis
Geral
Jogo de Tabuleiro
Jogo de Cartas
Bioenergy: a DEMOCS game
PÚBLICO
The Bioenergy Farm Game
TIPO DE JOGO
NOME DO JOGO
Simular durante uma viagem os impactos ambientais causados pela escolha de um determinado tipo de combustível.
Simular o processo de produção de biodiesel.
Compreender a Agricultura Sustentável
Explorar interações ecológicas relacionadas com a mitigação das alterações climáticas, conservação da biodiversidade, qualidade da água e agricultura sustentável.
Creative Discovery Museum
University of Wisconsin-Madison
University of Wisconsin-Madison
University of Wisconsin-Madison
Cornell University
Grupo de estudantes do PIBID (Programa de Bolsas de Iniciação à Docência)
Abordar conhecimentos relacionados a alguns tipos de biocombustíveis, como por exemplo: biogás, biodiesel e etanol Trabalhar conceitos de sustentabilidade, o ciclo de vida do carbono, as fontes de energias renováveis
New Economics Foundation and Edinethics Ltd.
AUTORIA / DIVULGAÇÃO
Substituir a utilização dos combustíveis fósseis por biocombustíveis
OBJETIVOS
Considerações f inais Diante do que foi exposto, houve a identificação de alguns jogos de tabuleiro, jogos de carta e aplicativos que trabalham com a temática bioenergia e a biomassa. Embora saibamos da importância desse tipo de energia renovável não existe uma preocupação por parte das empresas, escolas e dirigentes em trabalhar com o tema bioenergia e conscientizar a população sobre os impactos causados pela matriz energética atual no meio ambiente.
Referência ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Disponível em: <www.aneel.gov.br>. Acesso em: julho de 2015. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio: bases legais/ Ministério da Educação – Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Médio e Tecnológica, 1999. Bardawil, Olga. “Cearense registrou primeira patente de produção de biodiesel em todo o mundo.” Fortaleza, CE. Especial 1 (2005): 21. BBSRC’s Bioenergy Dialogue toolkit, 2011. CRAWFORD, Chris. Chris Crawford on game design. New Riders, 2003. Huizinga, J. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5o. ed. [S.l.]: Perspectiva, 2003. p. 256 u 48 U
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MEDEIROS, Monalisa Cristina Silva; RIBEIRO, Maria da Conceição Marcolino; FERREIRA, Catyelle Maria de Arruda. Meio ambiente e educação ambiental nas escolas públicas. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 92, set 2011. OLIVEIRA, C. C. DE; COSTA, J. W. DA; MOREIRA, M. Ambientes Informatizados de Aprendizagem: Produção e avaliação de software Educativo. Campinas: Papirus. 2001. PRETO, Elio Veit e MORTOZA, Gladson Lima, Geração De Energia Elétrica Utilizando Biomassa. BRASLIA,2010. PNPB - Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel: Governo do Brasil. Biodiesel: O novo Combustível do Brasil. Página principal. Disponível em: <http://www.biodiesel.gov. br> Acesso em: 25/07/2015. KISHIMOTO, T. M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1994. Kotliarenco, M. (2002). El Juego como possibilidad de refuerzo a la Resiliencia. Em: Santos, S. (Org.) Brinquedoteca (pp 41-43). Rio de Janeiro, Vozes. (Trabalho original publicado em 1997) Schuytema, Paul. Design de games: uma abordagem prática. Cengage Learning, 2008. WAECHTER, S. R., DE LIMA, T. M., NUNES, M. M., HUBERT, M. A., DA SILVA, F. P., PEDROLO, C., PIRES,F. L. B., ELLENSOH, R.M. Biocombustíveis: uma proposta lúdica e interdisciplinar como ferramenta mediadora no Ensino de química. Anais do 330 EDEQ - Encontro de Debates para o Ensino de Química. Ijuí/RS: Editora UNIJUÍ, 2013. u 49 U
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GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E AS INTERFACES COM O GESTOR CRÍTICO E REFLEXIVO Ro sân g el a d o s S a nt o s Na s c i m e nt o ro sa_ ed u c@ h o t m a i l . c o m Ri ta Cr i sti na C . de A. S a nt i a go ti n n asan ti a go @ g m a i l . c o m
Resumo Discute-se sobre a função social da escola e, principalmente, do gestor, enquanto educador crítico e reflexivo. Buscou-se entendimento sobre como os impactos das inovações tecnológicas e do desenvolvimento acelerado do conhecimento afetam o perfil do gestor escolar e como ele pode contribuir para o fortalecimento das identidades locais e comunitárias, haja vista sua função social pressupor considerar os aspectos contextuais mais amplos que determinam a realidade contextual e cotidiana da escola. Alinha-se ao conteúdo dessa discussão, o eixo temático educação para além do século XXI, como uma forma de debater questões instigantes da prática escolar. Foram propostas algumas recomendações e sinalizados alguns u 50 U
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desafios a serem objetos de reflexão tanto para a comunidade escolar mais ampla quanto para gestores e educadores. A partir de uma abordagem qualitativa, fez-se uso da metodologia de revisão de literatura, a qual a partir de autores como Dermerval Saviani , José Carlos Libâneo, Vitor Henrique Paro e Mª Lúcia de Arruda Aranha foi efetiva no atendimento ao objetivo proposto de se discutir sobre gestão escolar democrática e as interfaces com o gestor crítico e reflexivo. Como resultados, constatou-se que o papel do gestor da escola pública demanda por um perfil de liderança que se expresse na sua vivência, na perspectiva da gestão democrática, e isso implica atuar ao mesmo tempo como líder e como educador reflexivo que contribui para uma educação de qualidade; também da necessidade de se reconhecer a sua dedicação e tempo às questões administrativas, como idas e vindas à Secretaria de Educação, além da burocracia de preenchimentos de vários documentos solicitados por esse órgão. Evidenciou-se que fatores como esses dificultam sua maior atenção e atuação eficaz ao aspecto pedagógico e à qualidade de aprendizagem na unidade escolar. Diante dessas reflexões e constatações, foram propostas, ao final do texto, algumas recomendações e desafios para serem consideradas pelo gestor. Palavras-chave: Escola; Qualidade; Democracia; Gestor.
1. Intro dução Este artigo objetiva promover reflexões sobre a função social da escola e, principalmente, do gestor, enquanto educador crítico e líder reflexivo. Nessa perspectiva de discussão, a escola é compreendida como espaço institucional fundamental u 51 U
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para promover a inclusão ou reduzir a exclusão social através da formação para a cidadania e, sendo assim, diversos desafios são postos tanto para a escola quanto para o gestor que precisa rever sua função social e sua forma de atuação. A temática aqui delineada tem sua relevância como pauta discursiva para o entendimento de que as organizações produtivas e os impactos das marcantes inovações tecnológicas e do desenvolvimento acelerado do conhecimento afetam o perfil do gestor escolar, exigindo deste mais qualificação, enquanto sujeito formador das estruturas do trabalho pedagógico, administrativo e financeiro. A gestão da escola pode ser um estímulo à formação de sujeitos coletivos, na medida em que investe na construção de um projeto para a escola. O diretor pode contribuir para o fortalecimento das identidades locais e comunitárias, organizando significados sobre a importância da escola na vida das pessoas nela envolvidas. A gestão escolar pressupõe considerar os aspectos contextuais mais amplos, os quais determinam a realidade cotidiana da própria escola. Nesse sentido, este artigo alinha seu conteúdo ao eixo temático Educação para além do século XXI, como uma forma de debater questões instigantes da prática escolar e propor algumas recomendações e desafios a serem objetos de reflexão tanto para a comunidade escolar mais ampla, quanto mais estritamente para gestores e educadores.
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2. O debate sobre a função social da escola no cenário atual A discussão sobre a gestão escolar no Brasil ganhou relevo nos anos 80, no bojo da discussão sobre a função social da escola frente às lutas sociais pela democratização da sociedade brasileira que, no campo da educação, se cristalizou através da luta pela democratização do acesso ao conhecimento. Mais claramente, esse processo se afirma a partir da primeira eleição para os governos dos estados em que foram assumidos, majoritariamente, por partidos de oposição ao governo estabelecido. É nesse contexto, que nos anos 80, vários estados empreendem movimentos educacionais para investir na reforma e viabilizar o compromisso social que a escola deve ter. Apesar dos esforços, as mudanças introduzidas na direção escolar não conseguiram garantir a melhoria da qualidade do ensino e promover o acesso e a permanência dos alunos nas escolas públicas. (ARANHA, 1996). Afirmava-se que as propostas construídas, nos âmbitos dos estados e dos municípios, elaboradas a partir das décadas de 80 e 90, se vinculavam às tendências pedagógicas que precisavam ser revistas e superadas. Dentre elas foram indicadas a tradicional, a renovada, a libertadora e a crítica social dos conteúdos. Assim, a necessidade de superação dessas tendências estava atrelada à incapacidade delas para enfrentar os problemas da organização pedagógica da escola, em função das exigências do mundo contemporâneo.
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As mudanças ocorridas na direção da escola, propostas a partir das diretrizes governamentais na atualidade, têm suas raízes nos processos de mudanças que ocorreram na década de 80. Esse processo foi liderado por estados das regiões Sudeste e Sul que tiveram governos eleitos em oposição ao regime militar. A marca do discurso, nesse novo momento político, era a da defesa de conduta democrática em relação aos destinos do país e à definição e à implementação de políticas públicas. Nesse período, que ficou conhecido como de transição democrática, verificou-se uma ampla mobilização da sociedade civil e o debate político de questões das mais diversas ordens, destacando-se, entre elas, o importante papel atribuído à escola e ao gestor, como promotores da mudança social. (ARANHA, 1996). Ainda como destaques desse debate, no cenário nacional, ganhavam força os aspectos da descentralização das políticas públicas que visavam à recuperação da importância dos poderes estaduais e municipais e à questão da participação democrática vista como uma das consequências naturais desse processo. Afirmava-se, nesse contexto, a necessidade e a possibilidade de ampliação do exercício da cidadania e buscava-se legitimar os marcos que redefiniriam as regras do jogo democrático na sociedade, criando-se os canais institucionais pelos quais se expressariam e se consolidariam as reivindicações dos movimentos populares e de outros segmentos sociais. Nessa perspectiva, buscava-se chamar atenção para o caráter social do processo de produção do conhecimento – para o qual contribui toda a sociedade - destacando o fato de que poucos vinham dele se apropriando. De acordo com as u 54 U
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formulações da pedagogia crítico-social dos conteúdos, representada, no Brasil, principalmente por Dermerval Saviani e José Carlos Libâneo, a escola deveria buscar, no seu interior, soluções pedagógicas adequadas às características e às necessidades dos alunos, visando assegurar a todos condições vantajosas para reivindicarem os próprios direitos e lutarem por uma sociedade mais justa (SAVIANI, 1986; LIBÂNEO, 1985). A escola deveria ser tratada como o local privilegiado de transmissão de saberes aos segmentos majoritários, de um tipo de saber valorizado socialmente, aos quais não se teria acesso de outra maneira. Isso demanda uma política cidadã, por uma escola que tenha educadores comprometidos, qualificados e satisfeitos; uma escola com estrutura adequada e alunos engajados. Os novos processos de produção e competitividade exigem dos gestores formas de cooperação, criatividade, iniciativa e conhecimento, as quais favorecem o aumento do nível de educação, em escala global, o que se torna imprescindível à formação de um ambiente integrador no cotidiano da escola.
3. O importante papel do gestor da escola As novas exigências de qualificação do gestor implicam competências mais amplas em curto e longo prazo, quando a aquisição de conhecimentos passa a exigir a capacidade para pensar em dimensões abstratas, lógicas e de planejamento; além da capacidade de solucionar problemas, operar criativamente, com capacidade de cooperação, de diálogo e de comunicação.
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Algumas novas tarefas passam a ser exigidas do gestor e da escola. Com relação ao diretor da escola, afirma-se que é preciso aprender a valorizar o conhecimento e os bens culturais; a selecionar o que é relevante, aprendendo a investigar, questionar e pesquisar suas causas, comparando e estabelecendo relações. Processo que deve conduzir a aquisição da confiança na própria capacidade de pensar e encontrar soluções. Além disso, valores morais devem ser trabalhados visando à construção de novas relações sociais, sendo necessário aprender a respeitar diferentes pontos de vista, exercitando o pensamento crítico e reflexivo, assumindo responsabilidades com a construção social coletiva. (PARO, 1997). As novas exigências que surgiram, principalmente a partir dos anos 90, demandam um tipo de gestor com perfil flexível, mais informado, devendo atender às exigências e estar na base da explicação para o intenso movimento de reformas educacionais que vêm atingindo todos os níveis do sistema educacional brasileiro (ARANHA, 1996). Portanto, administrar uma escola, com êxito, não depende apenas do domínio de teorias de administração, uma vez que elas podem ser conduzidas apenas pela prescrição de regras decorrentes de uma teoria. Nesse sentido, é preciso considerar a complexidade que permeia as relações de trabalho. Do contrário, corre-se o risco de se utilizar uma determinada teoria para prescrever regras que acabarão se constituindo em mais um modismo no campo da educação que, por si mesmo, não conseguirá resolver os problemas. Há um esforço para sistematizar aspectos importantes do debate, visando contribuir com as mudanças necessárias no u 56 U
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processo formativo do gestor, buscando adequar sua atuação às novas exigências do mundo contemporâneo, sem, contudo perder de vista a preocupação com uma perspectiva crítica sobre os processos de escolarização de nosso país, os quais têm sido marcados pela exclusão, principalmente, através das dificuldades de acesso a uma escola de qualidade. Nunca se falou tanto na importância do papel da escola diante da exclusão social como nos dias de hoje. Nessa discussão, a escola é entendida como espaço institucional fundamental para se promover a inclusão ou reduzir a exclusão social, através da formação para a cidadania. Essa discussão torna-se bastante complexa, na atualidade, considerando-se a nova configuração da sociedade no que se refere às formas de organização produtiva que têm sofrido os impactos das marcantes inovações tecnológicas e do desenvolvimento acelerado do conhecimento (LIBÂNEIO, 1985). Essa tem sido uma temática discutida em óticas diversas, muitas vezes, conflitantes. É preciso considerar, no entanto, que independentemente do ponto de vista que se defenda, existe quase uma unanimidade sobre a importância da autonomia da escola quanto aos processos de gestão pedagógica, administrativa e financeira. Cobra-se da escola a tarefa de socializar, entre os diversos segmentos sociais, o saber produzido no processo de aceleradas mudanças das mais diversas ordens. Outro importante desafio colocado para a escola está relacionado às necessidades decorrentes do respeito às diversidades socioculturais. Há que se considerar o espaço de autonomia da escola e o lugar de sua gestão a quem cabe um importante papel, que u 57 U
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vai além da mera racionalização dos recursos financeiros destinados à escola pelos planejadores das políticas educacionais. Nessa direção, se poderia apontar como aspectos fundamentais a serem considerados no processo de gestão da escola: a) Sua importância estratégica para a organização da sociedade, na medida em que se pauta como um paradigma de gestão democrática; b) A possibilidade de estímulo à formação de sujeitos coletivos, na medida em que investe na construção de um projeto para a escola, dando significado às experiências; c) A contribuição para o fortalecimento das identidades locais, comunitárias, organizando significados sobre a importância da escola na vida dos sujeitos nela envolvidos. Dessa forma, a discussão sobre a gestão da escola pressupõe considerar tanto os aspectos contextuais mais amplos que, em certa medida, determinam a realidade cotidiana, quanto, também, os determinantes internos da escola que, nesse caso, são de fundamental importância. Quando se fala dos determinantes internos se refere, principalmente, ao fato de que a escola pode ser vista como um espaço de conflitos onde convivem interesses variados e, muitas vezes, divergentes. Só tomando o caso específico do setor administrativo da escola é preciso observar que este pode tanto estar organicamente articulado aos interesses dos demais profissionais da educação ou se assumir como representante oficial do governo que o nomeia. Esses interesses, necessariamente não são opostos, podendo, em alguns momentos, se buscar a construção de certos consensos. u 58 U
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A pluralidade de interesses que se expressam nas convivências instituídas dentro da escola e na sua relação com os gestores do sistema pode apontar alguns impasses, mas também constituir grande riqueza para o debate interno da escola que precisa investir na definição de consensos possíveis para elaborar e implementar seu projeto político-pedagógico, seu regimento escolar e o conselho escolar, além construir espaço para o debate permanente. Nesse contexto, o lugar do gestor da escola passa a ser estratégico enquanto mediador e líder do processo de construção do projeto de escola que se pretende construir.
Considerações f inais Entende-se que o papel do gestor, da escola pública, demanda um perfil de liderança, de educador que se expresse na construção da administração, por meio de um projeto de democratização da escola, que se revele nas vivências com os sujeitos e no cotidiano com a comunidade. Há problemas específicos a serem repensados pela escola, tais como: A escola é entendida como espaço institucional fundamental para promover a inclusão ou reduzir a exclusão social através da formação para a cidadania? As inovações tecnológicas e o desenvolvimento acelerado do conhecimento afetam o perfil do gestor escolar? As novas exigências de qualificação do gestor, enquanto sujeito formador de estruturas de trabalho pedagógico, administrativo e financeiro, têm sido cumpridas? Há contribuição para o fortalecimento das identidades locais, comunitárias, organizando significados sobre u 59 U
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a importância da escola na vida dos sujeitos nela envolvidos? A discussão sobre a gestão da escola pressupõe considerar os aspectos contextuais mais amplos, os quais determinam a realidade cotidiana? Algumas hipóteses poderão ser pensadas: A escola pode ser entendida como um espaço institucional fundamental para promover a inclusão ou reduzir a exclusão social, através da formação para a cidadania, e esse aspecto pode ser verificado, em um primeiro momento, por meio da investigação teórica. As formas de organização produtiva e os impactos das marcantes inovações tecnológicas e do desenvolvimento acelerado do conhecimento afetam o perfil do gestor escolar. A qualificação do gestor, enquanto sujeito formador das estruturas do trabalho pedagógico, administrativo e financeiro, pode ser vista como base para produção da escola e esse dado pode ser verificado pelo currículo do gestor e pela análise que a comunidade escolar faz da sua atuação. A gestão da escola pode ser um estímulo à formação de sujeitos coletivos, na medida em que investe na construção de um projeto para a escola. O diretor pode contribuir para o fortalecimento das identidades locais e comunitárias, organizando significados sobre a importância da escola na vida dos sujeitos nela envolvidos. A gestão da escola pressupõe considerar os aspectos contextuais mais amplos, que determinam a realidade cotidiana da escola. Destarte, ao finalizar esse trabalho, percebe-se que o papel do gestor da escola pública, demanda um perfil de liderança e de educador que se expresse na sua vivência, na perspectiva da gestão democrática, e isso implica atuar ao mesmo tempo como líder e como educador reflexivo, mas para isso é u 60 U
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necessário que o mesmo tenha conhecimento e compromisso com sua atuação e que domine as esferas política, administrativa e pedagógica, contribuindo, assim, para uma educação de qualidade. Todavia, é necessário reconhecer que o gestor dedica muito tempo às questões administrativas, como idas e vindas à Secretaria de Educação, além da burocracia de preenchimentos de vários papéis solicitados por esse órgão. Esses fatores dificultam, muitas vezes, que se tenha um olhar mais atento ao aspecto pedagógico e à qualidade de aprendizagem. Desse modo, esse trabalho não se esgota, sendo imprescindíveis novas pesquisas acadêmicas que aprofundem a temática abordada. Diante da reflexão sobre a função social do gestor em prol de uma escola democrática, propomos algumas recomendações e desafios para a equipe gestora, a saber: 1. Encontros mensais com a comunidade para sensibilizá-la e discutir os projetos, considerando a disponibilidade dos envolvidos, com o objetivo de envolvê-los na dinâmica da escola; 2. Conhecer o nível de escolaridade da comunidade para pensar em estratégias de inclusão e facilitar a comunicação; 3. Pensar em temas que atraiam a comunidade, com a apresentação de vídeo, palestra, dramatização e jogral. 4. Planejar eventos culturais para os pais e familiares, socializando o calendário com antecedência;
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5. Produzir material pedagógico para atrair os alunos, tais como: gincanas, torneios e excursões; 6. Criar estratégias que estimulem e valorizem os professores, como a comemoração no dia do aniversário; acolhimento e apoio à categoria; reuniões para decidir, coletivamente, eventos importantes; 7. Apresentar, à secretaria de educação, projeto de qualificação para o corpo docente e de apoio; 8. Criar eventos esportivos, culturais e científicos nos finais de semana no espaço da escola, com a participação da comunidade; 9. Conhecer a carência da comunidade e propor cursos de capacitação e qualificação profissional para ingresso no mercado de trabalho e construir atividades com a comunidade para promover a melhoria do bairro; 10. Disponibilizar, na escola, uma urna na qual a comunidade, alunos, pais, professores e a equipe técnica possam fazer críticas e propor sugestões; 11. Convidar palestrantes para tratar de temas, como: Limites, Amor, Drogas, Orientação Sexual, Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo; 12. Encaminhar, depois de ouvir os professores, os casos que revelam mais atenção e cuidados para uma equipe multidisciplinar; 13. Conduzir a equipe escolar a fazer autoavaliação regularmente; u 62 U
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14. Induzir a equipe a fazer a avaliação coletiva do trabalho realizado a cada unidade; 15. Ficar atenta e discutir com a equipe de colaboradores sobre as avaliações, visando superar as dificuldades encontradas; 16. Procurar sempre identificar as dificuldades de aprendizagem dos alunos e colaborar com o pedagógico para sanar as barreiras; 17. Promover palestra de autoestima para os professores, com sorteio de brindes; 18. Estimular campanhas de donativos para doação em abrigos carentes juntamente com os alunos e, assim, conscientizá-los com ações cidadãs; 19. Solicitar, da Secretaria de Educação, a permanência do gestor por mais tempo na escola; 20. Exercitar a prática da autoavaliação nas várias situações da sua atuação como gestora, inclusive solicitando ao grupo que exerça a avaliação da sua gestão e, ainda, que procure se atualizar, pesquisando novas formas para o exercício permanente de uma atuação democrática.
Referências ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Moderna,1996.
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RELAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS: MARCOS REGULADORES DO SÉCULO XX Si mo n e Al v a re nga an d rad eal v a re nga @ g m a i l . c o m
Resumo: Este artigo é dedicado ao tema das relações comerciais internacionais, face a uma contextualização documental, tendo como base os marcos histórico-reguladores do século XX. Teve como antecedente o fato de ser um tema, fruto de um interesse que se construiu, durante a experiência profissional da autora, na área de comércio internacional. Em seu marco teórico, abordou os aspectos das relações comerciais, em nível internacional, partindo do ponto histórico da diminuição de barreiras comerciais, a partir da década de 1930. Visou, portanto, identificar alguns pontos importantes que viabilizaram a expansão e a dinamicidade do comércio internacional. Foi proposta também uma revisão de um tema central do comércio internacional, a saber, a chamada zona de livre comércio, por meio de uma abordagem teórica e explanação de um estudo de caso, como exemplificação. Teve como u 68 U
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desenho metodológico a pesquisa bibliográfica e documental, bem como visitas à sites das organizações que regulam o comércio internacional na atualidade, adotando, assim, o enfoque qualitativo, descritivo, As considerações finais e as recomendações encerraram esse trabalho acadêmico. Palavras-chave: Comércio Internacional. Negócios Internacionais. World Trade Organization.
1. Intro dução O tema: Relações Comerciais Internacionais: Marcos Reguladores do Século XX foi pensado para ser um documento voltado para a atenção, em especial, daqueles que se interessem pela dinâmica do comércio internacional. Desse modo, foi moldado, para atender demandas de leitores que se empenham em exercitar uma leitura voltada para a compreensão dos marcos reguladores do comércio internacional na nossa recente história socioeconômica, com base em alguns fatores chave, que remontam ao início do século passado. Como resultado, este artigo procurou apresentar o conhecimento acerca das relações comerciais e sua evolução, bem como entender como são criadas as agendas de discussão das questões que permeiam os aspectos reguladores do comércio internacional. Dada a vastidão de conteúdos referentes a este assunto e a complexidade histórica do mesmo, este documento teve como recorte temporal as primeiras décadas do século XX, até nossos dias. Dessa forma já é possível compreender a atual base regulatória do comércio internacional. Portanto, foi dedicado ao tema das relações comerciais internacionais, por u 69 U
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meio de uma contextualização documental, que pretendeu resgatar historicamente pontos que, mesmo em nossa contemporaneidade, impactam na dinâmica do comércio internacional vigente. Além disso, foram apontados alguns acontecimentos que proporcionaram as estruturações reguladoras, de cunho sócio-político-econômico, com embasamento legal, que balizam, até os dias de hoje, o movimento ininterrupto e crescente do comércio internacional.
2. Relações comerciais internacionais: marcos reguladores do século XX É possível iniciar a reflexão, então proposta nesse trabalho, partindo de uma análise histórica face as primeiras décadas do século XX, pela contextualização teórica sobre as relações comerciais internacionais. Para Suranovic, autor dedicado a este tema: O crescimento do comércio internacional e do investimento tem sido estimulado, em parte, pelo declínio das barreiras comerciais desde a Grande Depressão dos anos 19302. No pós-II Guerra Mundial, o Acordo Geral sobre Tarifas e 2. “A Grande Depressão, também chamada por vezes de Crise de 1929, foi uma grande depressão econômica que teve início em 1929, e que persistiu ao longo da década de 1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande Depressão é considerada o pior e o mais longo período de recessão econômica do século XX. Este período de depressão econômica causou altas taxas de desemprego, quedas drásticas do produto interno bruto de diversos países, bem como quedas drásticas na produção industrial, preços de ações, e em praticamente todo medidor de atividade econômica, u 70 U
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Comércio, ou GATT, que levou a negociações regulares entre um corpo crescente de membros para reciprocamente reduzir tarifas de importação (impostos) sobre as mercadorias importadas (SURANOVIC, 2010, p. 31).
De acordo com o autor supracitado, as relações internacionais vêm estreitando seus laços entre países, especialmente, entre países de blocos econômicos similares, fator que colaborou com a liberalização do comércio internacional, com a propagação de acordos regionais de livre comércio. Mais de 200 acordos comerciais regionais ao redor do mundo têm sido formalizados, sendo a Organização Mundial do Comércio – (OMC), única organização internacional global que trata das regras do comércio entre as nações. As raízes desses tratados estão nos acordos da OMC, negociados e assinados pela maioria das nações comerciais do mundo e ratificados em seus parlamentos. O objetivo da OMC é colaborar com os produtores de bens e serviços, exportadores e importadores a conduzirem seus negócios. (Fonte: http://www.wto.org/english). Precedente ao surgimento da OMC houve o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – (GATT). Ainda segundo Suranovic: O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) nunca foi projetado para ser um acordo
em diversos países no mundo.” Fonte: Veja,Outubro de 1929, disponível em http:// www.webcitation.org/64az0Jjtl. u 71 U
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stand-alone. Em vez disso, ele foi concebido para ser apenas uma parte de um acordo mais amplo para estabelecer uma Organização Internacional do Comércio (...) A OIC foi destinada a promover a liberalização do comércio com o estabelecimento de diretrizes ou regras que os países membros concordam em adotar. A OIC foi concebida durante a conferência de Bretton Woods, com a presença dos principais países aliados em New Hampshire, em 1944, e foi vista como complementar à outras duas organizações também concebidas por lá: o Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. O FMI deveria monitorar e regular o sistema de taxa de câmbio fixa internacional, o Banco Mundial ajudaria com empréstimos para a reconstrução e desenvolvimento, a OIC iria regular o comércio internacional. (SURANOVIC, 2010, p. 21).
Do exposto, o GATT teve a finalidade de ser um acordo pioneiro na questão do comercio internacional, sem pretender ser o único e sim um catalisador das ações que se fizessem necessárias para a ampliação do comércio internacional. O objetivo do GATT é tornar o comércio internacional mais livre, ou seja, promover a liberalização do comércio, por meio de acordos entre os países, que impliquem em redução das barreiras comerciais. Assim sendo, o GATT consiste em um conjunto de promessas ou compromissos pactuados entre países por meio de regulamentos, respeitando suas próprias políticas comerciais. u 72 U
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Os países que assumem estes compromissos e assinam estes acordos são chamados de países signatários. As discussões realizadas antes da tomada dos compromissos são chamadas rodadas de negociação onde, geralmente, cada rodada tem o nome ligado à localização das reuniões ou a uma figura proeminente. Foram oito rodadas de negociação no âmbito do GATT: 1. Rodada de Genebra – Suiça (1948) 2. Rodada de Annecy - França (1950) 3. Rodada de Torquay – Inglaterra (1951) 4. II Rodada de Genebra - Suiça (1956) 5. Rodada Dillon - Genebra – Suiça (1962), em homenagem ao chefe da equipe de negociação dos Estados Unidos, o subsecretário de Estado Douglas Dillon, que resultou em 4.400 reduções de tarifas. 6. Rodada Kennedy Genebra – Suiça (1967) em homenagem ao presidente John F. Kennedy, dos Estados Unidos. Ela resultou no Acordo Antidumping do GATT, estabelecendo as normas para a regulamentação nacional contra a exportação de bens a preços desleais. 7. Rodada Tóquio – Japão (1979) 8. Rodada Uruguai (1994). Outro fator importante é que os acordos são firmados por consenso. A rodada só termina quando todos os países u 73 U
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envolvidos na negociação externam sua satisfação, ou seja, quando ha o consenso nas proposições de todos os seus envolvidos. O slogan usado é “Nada está acordado até que tudo esteja acordado” (idem). A rodada do Uruguai, em 1994, a última realizada a quase duas décadas, teve como resultado a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), legitimada em janeiro de 1995. A estrutura dessa nova organização, no que diz respeito à sua complexidade é mais extensiva do que a estrutura do GATT, que tratou principalmente do comércio de bens. A OMC e seus acordos passaram a cobrir o comércio de serviços, intenções em negociação, criações e design (propriedade intelectual), conforme se verifica no exposto abaixo: Os acordos da OMC são longos e complexos, porque são textos legais que abrangem uma vasta gama de atividades. Eles lidam com: agricultura, têxteis e vestuário, serviços bancários, telecomunicações, compras governamentais, padrões industriais e de segurança do produto, alimentos regulamentos de saneamento, propriedade intelectual, e muito mais. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO, 2011, p.10).
O GATT tratou principalmente do comércio de bens e a OMC se sustenta em princípios que devem reger o comércio internacional, que são (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO, 2011): u 74 U
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• Não discriminação - um país não deve discriminar entre o seu comércio parceiros e não deve discriminar entre seus próprios produtos e produtos estrangeiros, serviços nacionais ou estrangeiros (dando-lhes “tratamento nacional”); • Livre – queda de barreiras através de negociação; • Previsibilidade- empresas estrangeiras, investidores e os governos devem estar confiantes que as barreiras comerciais (incluindo as tarifas e barreiras não-tarifárias) não devem ser aumentadas arbitrariamente, tarifas e compromissos de abertura de mercado são “obrigatórios” na OMC; • Mais competitiva – desencorajando “Injustas” práticas de comércio, tais como subsídios à exportação e dumping de produtos abaixo do custo para ganhar quota de mercado; • Mais benéfico para os países menos desenvolvidos dando-lhes mais tempo para se adaptar, maior flexibilidade e privilégios especiais. São fundamentais para o bom fluxo do comércio exterior o estabelecimento e a aplicação de tarifas de forma igualitária para todos os parceiros comerciais. A OMC, por meio de seus acordos, defende estes princípios, mas também permite algumas exceções, dentro de certas circunstâncias. As ferramentas mais conhecidas para trabalhar as exceções às regras da OMC são os chamados “trade remedies”, que são ferramentas da política comercial que permitem aos governos a tomar medidas u 75 U
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corretivas contra as importações que estão causando prejuízo à indústria doméstica. Tais “trade remedies”, ou “remédios comerciais” são divididos em (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO, 2011): • Medidas antidumping; • Medidas compensatórias e de subsídio • Salva-guarda. De acordo com Suranovic (2010): Leis antidumping fornecem proteção às empresas de produtos domésticos concorrentes da importação que podem mostrar que os produtos estrangeiros importados estão sendo “despejados” no mercado interno. Sendo dumping muitas vezes considerado uma prática desleal de comércio, antidumping é conhecida como lei do comércio desleal. Dumping é definido de várias maneiras diferentes. Em geral, dumping significa vender um produto a um preço injusto, ou menos do que o preço, razoável. Mais especificamente, o dumping é definido como (1) as vendas em um mercado estrangeiro a um preço inferior ao de mercado interno, (2) as vendas em um mercado estrangeiro a um preço que é menor do que os custos médios de produção, ou (3) se as vendas no mercado doméstico não existem, as vendas em um mercado estrangeiro a um preço menor que o preço cobrado em outro mercado externo. A percentagem em que o preço real deve ser elevado para alcançar o u 76 U
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preço justo ou razoável é chamada de margem de dumping (SURANOVIC, 2010, p. 25).
No que diz respeito às medidas compensatórias e de subsídio, a OMC disciplina o uso de subsídios, e regula ações as quais os países podem tomar para combater os efeitos de subsídios. Esta medida diz que um país pode usar o procedimento de solução de controvérsias da OMC para buscar a retirada do subsídio ou a remoção dos seus efeitos adversos. O país pode até mesmo lançar sua própria investigação e, finalmente, cobrar imposto adicional, conhecido como “direito de compensação” em importações subsidiadas, que podem prejudicar os produtores nacionais. O direito de compensação só pode ser cobrado após o país importador ter conduzido uma investigação detalhada, que comprove os efeitos do subsídio (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO, 2011). Para o caso das medidas de salvaguarda, a OMC estabelece que um país membro da OMC pode restringir as importações de um produto, temporariamente, tomando ação de “salvaguarda”, se sua indústria nacional estiver ameaçada por um aumento das importações. Essas ameaças precisam ser maiores do que as consideradas nas medidas antidumping e na medida compensatória e de subsídios. Outra situação comum, que é uma exceção aos acordos da OMC são as áreas de livre comércio, que é um bloco comercial cujos países membros assinam um acordo de livre comércio, que elimina as tarifas, quotas de importação e preferências sobre os bens, na sua maioria se não todos e serviços comercializados entre eles (SURANOVIC, 2010). u 77 U
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Como exemplos de áreas de livre comércio temos o MERCOSUL e a União Européia. O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) foi criado no dia 26 de março de 1991, por meio do Tratado de Assunção, firmado na capital paraguaia pelos presidentes do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai e seus respectivos ministros de Relações Exteriores. O tratado constituiu uma importante etapa para a integração econômica na América Latina. De acordo com o tratado, o MERCOSUL foi estabelecido em 31 de dezembro de 1994 e implicaria em (CONGRESSO NACIONAL COMISSÃO PARLAMENTAR CONJUNTA DO MERCOSUL REPRESENTAÇÃO BRASILEIRA, 1991): • Livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países, através, entre outros, da eliminação dos direitos alfandegários e restrições não-tarifárias à circulação de mercadorias e de qualquer outra medida de efeito equivalente; • Estabelecimento de uma tarifa externa comum, a adoção de uma política comercial comum em relação a terceiros Estados e a coordenação de posições em foros econômicos/comerciais regionais e internacionais; • A coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados-Partes de comércio exterior, agrícola, industrial, fiscal, monetária, cambial e de capitais, de serviços, alfandegária, de transportes e comunicações e outras que se acordem, a fim de assegurar condições adequadas de concorrência entre os países-membros; u 78 U
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• E o compromisso dos Estados-Partes de harmonizar suas legislações, nas áreas pertinentes, para lograr o fortalecimento do processo de integração. O objetivo do MERCOSUL era buscar uma integração mais competitiva das economias dos quatro países-membros, favorecer as economias de escala, reforçando as possibilidades de cada um dos países-membros com o incremento da produtividade, estimular os fluxos de comércio com o resto do mundo, tornando mais atraente os investimentos na região, promover a abertura das economias, buscando a integração global da América Latina, demarcando as ações dos setores privados, que deverão ser os principais agentes da integração. Segundo o Tratado se Assunção, o com a constituição do MERCOSUL, os Estados-Partes devem promover o desenvolvimento científico e tecnológico, modernizando suas economias para ampliar a oferta e a qualidade dos bens e serviços disponíveis, a fim de melhorar as condições de vida de seus habitantes, o que se pretende alcançar igualmente pelo aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis CONGRESSO NACIONAL COMISSÃO PARLAMENTAR CONJUNTA DO MERCOSUL REPRESENTAÇÃO BRASILEIRA, 1991). O MERCOSUL não é um mercado estático no que diz respeito à composição dos seus países-membros; ele é jovem e em desenvolvimento. O mercado teve um alargamento com a adesão da Venezuela ao MERCOSUL, que se iniciou com o protocolo firmado em julho de 2006. Tal adesão foi promulgada em 12 de agosto de 2012 e prevê etapas e prazos para a u 79 U
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plena incorporação do normativo MERCOSUL; para a adoção da Tarifa Externa Comum (TEC) e da Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM), bem como para alcançar o livre comércio (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR, 2013). A adesão da Venezuela pode ser atribuída pela participação ativa do Presidente Chávez e pelo grande interesse da liderança argentina para a adesão da Venezuela, tendo em vista que esse país é o maior comprador individual de títulos da dívida pública argentina (TERUCKIN, 2006). Além de ter estabelecido normas regulatórias para a livre circulação de mercadorias, o MERCOSUL produziu dois instrumentos de política regional fundamentais para a livre circulação de pessoas: o Acordo Multilateral de Segurança Social do MERCOSUL, aprovado por Decisão do CMC N.º 19/97 e o Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes do MERCOSUL, aprovado por Decisão do CMC N.º 28/02. O Acordo Multilateral de Seguridade Social do MERCOSUL assinado em 1997, entrou em vigor de forma multilateral a partir de junho de 2005. Ele assegura o direito à Seguridade (Previdência) Social aos trabalhadores que prestem ou tenham prestado serviços em quaisquer dos Estados Partes, reconhecendo-lhes, bem como aos seus familiares e assemelhados, os mesmos direitos e estando sujeitos às mesmas obrigações que os nacionais dos referidos Estados Partes. O objetivo deste Acordo é que as contribuições previdenciárias feitas ao sistema de seguridade social por um trabalhador em qualquer dos países signatários do Acordo, se acumulem como se tivessem sido efetuados em um mesmo país. u 80 U
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O Acordo de Residência para Nacionais dos Estados Partes do MERCOSUL, assinado no âmbito das Reuniões de Ministros do Interior do MERCOSUL (RMI) em 2002, foi ratificado pelos quatroEstados Partes. Este Acordo permite que uma pessoa que seja cidadão de um dos Estados Partes do MERCOSUL e que deseje residir em outro Estado Parte, possa obter uma residência legal neste último, conforme os termos deste Acordo, mediante a comprovação de sua nacionalidade. Isto quer dizer que o critério essencial para outorgar uma residência legal que permita trabalhar e/ou estudar é somente ter a nacionalidade de um dos países do bloco (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO et al, 2010).
Considerações f inais O caráter pedagógico desse artigo viabilizou o entendimento e a identificação dos pontos importantes da expansão e dinamicidade do comércio internacional, visando, portanto, compreender como se deram os marcos reguladores do comércio internacional da nossa história recente. Teve por base fatores históricos, que remontam ao início do século passado, assim como a revisão do tema referente ao comércio internacional. Também foi possível revisar, a saber, a chamada zona de livre comércio, apresentando, então, uma exemplificação, da região sul-americana. Teve como desenho metodológico a pesquisa bibliográfica, documental, de enfoque qualitativo, descritivo. u 81 U
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Do exposto, este artigo buscou proporcionar aos seus leitores as bases para um entendimento acerca das relações comerciais e sua evolução. Pretendeu também entender como são criadas as agendas de discussão das questões que permeiam os aspectos reguladores do comércio internacional. Por ser um tema complexo, obedeceu a um recorte temporal, utilizando como ponto de partida a análise das primeiras décadas do século XX, estendendo-se aos nossos dias atuais, sendo possível compreender a base regulatória vigente do comércio internacional. Novos cenários geopolíticos estão surgindo, como o movimento Brexit, onde, por meio de um plebiscito, o Reino Unido votou pela saída da União Europeia, pela criação de restrições a imigrantes e pelo exercício de uma política econômica independente. A complexidade deste tema requer um acompanhamento sistemático e dinâmico, com atenção as mudanças político-sociais do cenário internacional e a contínua e constante revisão, da dinâmica do comércio internacional.
Referências: CONGRESSO NACIONAL COMISSÃO PARLAMENTAR
CONJUNTA DO MERCOSUL REPRESENTAÇÃO BRASILEIRA. MERCOSUL. Brasília, 1991. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Adesão da Venezuela ao MERCOSUL. Disponível em: u 82 U
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< http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna. php?area=5&menu=4124>. Acesso em: 01 dez. 2013. _____. Negociações MERCOSUL - União Europeia. Disponível em: < www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=2635&refr=1893>. Acesso em: 13 out. 2013. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO (MTE) et al. Como trabalhar nos países do MERCOSUL. Guia dirigido aos nacionais dos Estados Parte do MERCOSUL. Brasília: MTE, 2010. MOREIRA, Vagner, Rangel; MIRANDA, Gabriel Vinícius Mamed de. O papel do Brasil no MERCOSUL. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 96, jan 2012. Disponível em: <www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_ leitura&artigo_id=11029&revista_caderno=19>. Acesso em 01 dez. 2013. SURANOVIC, Steven. International Trade: Theory and Policy. George Washington University, Washington, 2010. TERUCHKIN, Sônia Unikowsky. Ampliação do MERCOSUL: a adesão da Venezuela. Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 3, dez. 2006. WORLD TRADE ORGANIZATION. Understanding the World Trade Organization. World Trade Organization. Information and External Relations Division. Genebra, Suiça, 2011. u 83 U
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POLÍTICAS EDUCACIONAIS: REFLEXÕES ENTRE O EFETIVO E O PALIATIVO M arcel o Si l v a B o rge s vi o l ao . cel o @ g m a i l . c o m
Resumo O presente texto é uma análise no âmbito das políticas educacionais. Apresenta posição conceitual sobre Estado, Política e Governo. Esboça críticas relacionadas a não efetividade das políticas de educação nacional. Demarca o papel dos organismos internacionais surgido no pós-guerra e a influência sobre os Estados Nacionais. Delimita exemplificações em relação às políticas de educação no Brasil. Utiliza de revisão bibliográfica como metodologia. Por fim, tece considerações indicando a importância da educação nos contextos de fragilidade do Estado democrático de Direito. Palavras-chave: Educação. Estado. Governo. Política.
1. Intro dução O cenário da educação brasileira, no que diz respeito às fragilidades de sua estrutura é o caminho de debate neste texto. Implica com isso refletir que a política educacional no Brasil tem no regime de colaboração entre os entes federados, na u 84 U
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descentralização e municipalização do ensino, o alicerce para o desdobramento de diversas ações, a exemplo: a manutenção do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Programa Brasil Alfabetizador (PBA), Programa Nacional de Transporte Escolar (PNATE), Programa Nacional Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e outros. Para isso, no itinerário que segue este texto, nos é caro discorrer sobre as importantes bases que precedem e sustentam as ações educacionais, que são os conceitos basilares de Estado, Governo e Política. Os conceitos acima mencionados representam parte do legado de tradições europeias clássicas e anglo-saxônicas modernas, no escopo constitucional da nação brasileira; são observados na forma como se organizam as instituições nacionais e como se engendra a estrutura socioeconômica do país. No cerne deste processo a Educação formal, pública, se apresenta de forma difusa, com um arcabouço de ensino que prioriza ações que marcam a passagem de governos e terminam por desprezar políticas efetivas de desenvolvimento dos sujeitos dentro de um Estado democrático de direito. A ideia de Estado, Governo e Política, diz dos limites e das possibilidades do desenvolvimento educacional, que tem a sociedade civil organizada como ponto de partida e chegada, tanto no acolhimento de proposições de forma passiva, como por meio de lutas e tensionamentos para a participação na construção de demandas. Em contextos democráticos isto ocorre com uma frequência mais regular, já em circunstâncias ditatoriais a verticalidade da Política sob os ditames de Governos hostis, fragiliza a efetividade das ações de Estado.
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A educação pública, no contexto da jovem democracia brasileira, busca firmar-se entre as diversas esferas de poder, com demandas que indicam necessidades da pós-modernidade, porém em uma estrutura que ainda é fincada em uma arquitetura de séculos passados.
2. ESTAD O, GOVERNO E POLÍTICA: velhas estruturas entre novas demandas. Toda a lógica de construção e manutenção de políticas públicas/sociais de uma sociedade, principalmente no caso da República Federativa do Brasil, tem no Estado a sua principal fonte de sustentação. Por este caráter busca-se uma compreensão sobre o mesmo como uma ocorrência fundante das sociedades contemporâneas. Mediante alusão jurídica, em princípio, destaca-se Sahid Maluf quando afirma que: Com efeito, o Estado [...] não é somente a organização fática do poder público, nem simplesmente a realização do fim da convivência social, como também não se explica só pela sua função de órgão produtor e mantenedor do ordenamento jurídico. É a reunião harmônica desses três momentos ou fatores, enquanto dialeticamente se compõem na unidade concreta do processo histórico-social (2009, p.6).
Maluf (2009), bem como Reale (2000), em suas abordagens sobre a Teoria Geral do Estado, legaram importantes definições sobre o papel e o caráter da natureza do estatal. O u 86 U
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conceito de Estado aqui importa porque os arranjos sociais, políticos e jurídicos são demonstrados a partir dele, como um ente produtor, mantenedor e organizador. A concretude do processo histórico-social se concebe dialeticamente, na medida em que se harmoniza produção, manutenção e a organização da res pública, para o bem da convivência em sociedade. Neste sentido a importância da ideia de Fato, Valor e Norma, em vista de uma realidade sócio-ética-jurídica, pois se tornam pilares estruturantes do Estado. Devido a isto é que Maluf didaticamente expõe: a) o Fato de existir uma relação permanente de Poder, com uma discriminação entre governantes e governados; b) um Valor ou um complexo de valores, em virtude do qual o Poder se exerce; c) um complexo de Normas, que expressa a mediação do Poder na atualização dos valores da convivência social. (REALE 2000 apud MALUF, 2009, p. 6).
Como podemos observar, a noção de Poder contorna a função e natureza do Estado. Assim, é possível entender que há sempre um governo, que de forma subalterna implica o papel de governados. Por seu turno, nas teorias que diminuem de forma unilateral a ideia de Estado, existe a desconsideração de todas estas nuances, advindas de correntes puramente monistas, segundo os autores, que percebem somente a realidade de fato: a realidade da vida concreta. Por outro lado também outras correntes destacam implicações axiológicas, como em
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tendências idealistas; e há correntes normalistas, que percebem o Estado como ordenador regimental somente. O contexto deste debate emerge da Teoria Geral do Estado que apresenta esta concepção tridimensional, embasada no seguinte tripé: a) Sociológico, quando estuda a organização estatal como fato social; b) Filosófico, quando estuda o Estado como fenômeno político-cultural; c) Jurídico, quando aponta o Estado como órgão central de positivação do Direito. (MALUF, 2009). O entendimento do conceito de Governo (poder e soberania) é primordial para avançar nestas reflexões. De forma positiva, do ponto de vista do Direito, o Governo “é o conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem jurídica e da administração pública” (MALUF, p. 27, 2009). Contudo, as implicações históricas e sociais que aponta o caráter da governabilidade (para além dos arranjos institucionalistas, burocráticos) parece mais pertinentes para o conjunto destas reflexões. No geral, a ideia de Estado, poder e soberania implica a relação governante e governados. Assim, do ponto de vista do Estado puro, a soberania é máxima, pois existe um poder de decisões e governabilidade inalienável. Contra-argumentos indica como frágeis tais premissas, apontando um caráter de abstração no conceito de Estado e Soberania, na busca pela compreensão da natureza da governabilidade. Por isso é que se torna recorrente o subsídio histórico e sociológico para a compreensão destes fenômenos. Do ponto de vista histórico várias formas de governos que, mediante seus contextos, procuravam mediar as relações na (res) pública entre governantes e governados, ricos e u 88 U
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pobres, latifundiários e camponeses etc. A exemplo do que é explorado nos estudos de Karl Marx (1818-1883). A visão ontológica e epistemologicamente de Marx, em sua crítica a propriedade privada, importa neste texto pela referência autoral, que analisa as relações de poder observadas ao longo da história da humanidade, desde as formas mais remotas de organização comunitária até os governos mais “sofisticados” dos seus dias. Desta maneira, pode-se dizer que tudo que se produz com relação à ideia de poder, por meio das perspectivas históricas e sociais das organizações socioeconômicas, tem em Marx ponto de partida e/ou de chegada. As lutas de classes, no contexto da crítica ao sistema capitalista é o maior legado da teoria marxista (AZEVEDO, 2004; LIBÂNEO, 2010; MÉSZAROS 2005; TRIVIÑOS, 1987; SAVIANI 2008; ALTHUSSER, 2003; MALUF, 2009; CASTEL, 1998; HOBSBAWM, 2009; FREIRE, 2005; MARX, 1999; POULANTZAS, 1977 e 1978). A ideia de desigualdade de classes apontada pela teoria marxiana (1999) se apresenta como um fenômeno inerente a muitos governos, sistemas políticos. Assim, entende-se que esta desigualdade é de natureza primeiramente econômica, na medida em que a relação com o capital diz da posição de cada indivíduo (e/ou grupo) no seio de uma sociedade. As instituições estatais e/ou privadas se relacionam com estes indivíduos e/ou grupos partindo deste pressuposto, delineando assim papéis, bem como marcos funcionais dentro de uma sociedade (DURKHEIM, 1960). A apoteose do capital, na interface do sistema capitalista que vigora, consolida a perspectiva de interpretação durkheimiana a partir das u 89 U
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relações de produção. Sendo assim, a bivalência trabalho e capital se torna notória na distinção de papeis sociais. Em Mészáros (2005), o mesmo aprofunda esta reflexão indicando que: Um sistema que se apoia na separação entre trabalho e capital, que requer a disponibilidade de uma enorme massa de força de trabalho sem acesso a meios para a sua realização, necessita, ao mesmo tempo, socializar os valores que permitem a sua reprodução. (p. 15).
A exposição de Mészáros é salutar na medida em que compreende as relações de poder dos governantes que delimitam, como porta-vozes de determinados grupos privilegiados, as premissas axiológicas dos sistemas econômicos, políticos e educacionais. A subordinação neste sentido se institui através de um processo educativo das massas, com a regulação da vida social por meio das instituições que a maioria da população acessa, com propunha também Althusser (2003). No sistema excludente atual, governar é atender ao interesse de poucos, entendendo-se isto como um modo que assegura privilégios de minorias detentoras dos meios de produção. A governabilidade fragilizada, excludente é a que atinge a maioria das sociedades atuais, de grandes massas populares, e é permeada por ações de acomodação através da manutenção básica das necessidades humanas. A (res) pública, deste modo, se torna o conjunto de políticas de um governo para de um lado suprir a necessidade de uma grande população, de forma u 90 U
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básica e precária, e de outro emparedar os privilégios de pequenos grupos elitistas, que acumulam bens de consumo e, principalmente, detêm os meios de sua produção. A desobediência civil de Thoreau (1986) pode ser citada como reforço as críticas aqui apresentadas sobre Estado e Governo quando afirma que O governo, no melhor dos casos, nada mais é do que um artifício conveniente; mas a maioria dos governos é por vezes uma inconveniência, e todo governo algum dia acaba sendo inconveniente [...] sua conveniência máxima só ocorre quando os governados são minimamente molestados por seus governantes. (p. 35-36).
Esta análise, não implica anarquismo, ou qualquer outro tipo de apologia ao não-governo. Antes evidencia a valorização do indivíduo inserido no coletivo social, diante do Estado, na busca por uma governabilidade plausível (THOREAU, 1986). Esta ideia também havia sido corroborada por Nietzsche (2005), em suas proposições que indicam uma transvalorização de todos os valores disseminados no contexto ocidental: possibilidade de governança social, em direção ao coletivo, mas sem desconsiderar a perspectiva da individualização. Falaciosa é a ideia de coletividade na democracia dos governos modernos, com caracteres constitucionais, os quais começam a se configurar na segunda metade do século XXIV, sob os olhos atentos do filósofo alemão. Para ele u 91 U
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O Estado é uma prudente organização que visa proteger os indivíduos uns dos outros: se exagerarmos no seu enobrecimento, o indivíduo será enfim desabilitado e mesmo dissolvido por ele – e então o objetivo original do Estado será radicalmente frustrado. (NIETZSCHE, 2005, p. 150).
O discurso democrático neste contexto se institui como uma forma histórica do declínio do Estado para o autor, assim também como modus de governabilidade. No pensamento de Nietzsche e Thoreau, a abstração da ideia de Estado e Governo se personifica no papel dos estadistas, constituídos por sujeitos concretos, ou seja: por aqueles que governam. No bojo destas críticas, a visão de Maquiavel (1996) também contempla esta personificação notória do papel dos estadistas e suas tiranias. A ação diretiva dos estadistas no controle do Estado, no que diz respeito ao contexto educacional, revigora estas reflexões, pois a política de educação se referenda como elemento integrante do conjunto das políticas públicas estatais. Nas correntes liberais é notório observar que há uma ideia de “sistema político” em detrimento da ideia de Estado, e isto incorre como um suposto problema, primeiramente, axiológico. Porque uma ação concreta de política pública, de caráter educacional, perde status de efetivação na medida em que o Estado ideal, absolutamente soberano, pode ser supostamente fantasioso. Com a relativização da soberania estatal pode-se avaliar que todas as ações que partem deste modo u 92 U
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de organização social, são ações de validade efetivamente relativa, paliativa. Esta (des) valoração, em detrimento do conceito de “sistema político” talvez seja válida, pois em um “sistema” fica evidentes as relações de poder, os tensionamentos políticos e partidários, as pressões sociais etc. pulverizando-se a ideia de ações de natureza permanente, efetiva. Neste sentido, não existe uma invalidação a priori, contudo a burocracia, mediante a multiplicidade de instâncias e de setores das estruturas administrativas estatais, termina por estancar a efetivação de intervenções, criando uma dicotomia entre institucionalização formal versus as culturas políticas. O destaque sobre política que Nietzsche expressa é importante, especialmente quando afirma que: [...] os homens e os partidos mudam rápido demais, derrubam uns aos outros montanha abaixo, de maneira selvagem demais, quando mal alcançaram o topo. A todas as medidas executadas por um governo falta a garantia de duração; as pessoas recuam ante empreendimentos que necessitariam décadas, séculos de crescimento tranquilo, para produzir frutos maduros. (NIETZSCHE, 2005, p.229).
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3. Políticas educacionais brasileiras no contexto de uma jovem demo cracia inconstante A crítica quanto à permanência e efetividade de ações nos contextos educacionais, na estrutura do Estado, caracteriza-se pela alternância de governos, porta-vozes de diversos grupos, fato inerente a uma República Federativa presidencialista. No conjunto das políticas públicas sociais, a Educação na contemporaneidade tem sua finalidade com acentuada complexidade, talvez em terreno mais árido do que nas políticas do Sistema de Saúde por exemplo, que implicam objetos mais concretos. É difícil encontrar objeções por parte de especialistas quanto às políticas de vacinação, tendo em vista o cuidado em relação ao bem-estar da população para fortalecimento da defesa imunológica no combate a diversas virologias. Isto se resolve numa chamada pública simples destinada à aplicação de vacinas. Concluída esta, a realização de uma política de saúde é efetivada em micro ou macro escala. Entretanto, uma ação de qualquer ordem educacional, para o atendimento em qualquer esfera, implica em si conflitos ideológicos, discordâncias políticas e divergências históricas muito mais divergentes. No esteio da jovem democracia brasileira é possível observar que o processo constitucional do regime de colaboração, a descentralização do ensino e as ações associadas, aparecem com a marca das políticas educacionais de diferentes governos. Cada grupo político ao assumir o comando do sistema de educação seja ele federal, estadual e/ou municipal, imprime em suas gestões o emaranhado ideológico que u 94 U
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o caracteriza. E de forma despótica as ações implementadas por grupos antecessores (na maioria dos casos) são sobrepostas por “novas” ações, com novos arranjos conceituais, novo corpo administrativo, novas linhas de financiamento etc. O caráter de descontinuidade é perceptível de diversas formas, como nos exemplos de abuso do poder dentro do sistema público de ensino; fator que deveria ser superável por meio da garantia de políticas de Estado, na tentativa de avanço das inconstantes políticas propostas pelos governos. Exemplo que vale destaque pelo caráter de descontinuidade, observado nas últimas décadas, está na ação do governo federal brasileiro, que lançou em 2007 (na gestão do então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva) um Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) sobrepondo as ações do Plano Nacional da Educação (PNE / 2001-2011), que é constitucionalmente validado e implantado pelo Congresso Nacional, como indica a CF de 1988 (SAVIANI, 2009). Houve nisto uma incoerência administrativa desnecessária, a qual poderia ter sido superada apenas pela composição de ações estratégicas que dessem conta do que já constava nas metas do PNE (2001-2011) e não no lançamento um outro plano de metas, por meio de marketing governamental. Outro exemplo estarrecedor diz respeito às campanhas de alfabetização de jovens e adultos. Do antigo MOBRAL (1968) ao Programa Brasil Alfabetizado (2007), existe uma população adulta e idosa que transitou por estas e tantas outras campanhas em mais de 3 décadas. Com a implementação do FUNDEB (2003) é que a Educação de Jovens e Adultos entra de fato no cenário das modalidades educacionais vinculada u 95 U
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à estrutura da educação básica, o que impulsionou estados e municípios a contabilizarem no Censo Escolar sujeitos jovens e adultos, para receberem assim recursos pelos mesmos, que definhavam por anos nos programas descontínuos de alfabetização ou na extensão do ensino diurno. Resolvida a efetividade do financiamento, a EJA tem buscado uma efetividade de proposta pedagógica – original – para além das orientações curriculares ofertadas no ensino fundamental e médio cujo público tem particularidades diferentes das dos jovens, adultos e idosos da EJA. Em meio a este debate, é imprescindível uma breve explanação quanto às implicações globais que incidem sobre o Estado Nacional (e seus ‘sistemas políticos’), em especial, sobre as que incidem no Brasil. Para tal empreitada, de fato, não se pode escapar da crítica ao modelo global pós-guerra: a Globalização. Esta se constitui como uma ferramenta do grande capital para suprimir ainda mais a ideia de Estado Nacional, que já definhava, se liquidificando desde a modernidade clássica (BAUMAN, 2001; HOBSBAEW, 2009; MAQUIAVEL, 1996). Este fator corrobora com a análise e posição de Bobbio (2010), que identifica, em sua teoria, diversos contextos nos quais o tensionamento de “sistemas políticos” tenta suplantar a ideia de Estado. No século XX, com a reconstrução de várias nações pelo mundo (consequências de duas grandes guerras mundiais) o capitalismo se instrumentalizou através do pano de fundo de uma aldeia global, delineando e consolidando os ideais neoliberalistas, por meio do apogeu do livre comércio, bem como (e interessa mais neste momento) através da criação de u 96 U
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organismos internacionais de regulação político-monetária. Estes organismos tinham intenção inicial de propor tal regulação através de acordo cambial, ambiental, fiscal, cultural etc., por meio não só de normatizações entre países, mas também de políticas de empréstimo-descentralização de recursos às nações em recuperação no pós-guerra e para os países emergentes. Mediante este fato é que, no contexto econômico foram criados nos Estados Unidos em 1944 dois órgãos reguladores das relações econômicas entre as nações: o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) (HADDAD, 2008). Tendo em vista um direcionamento com caráter economicista, BM e FMI outorgaram um suntuoso montante de empréstimos aos países em reconstrução do pós-guerra e aos países em desenvolvimento, como no caso do Brasil. Tais empréstimos, se tratando dos países em desenvolvimento, consolidaram-se não só com a descentralização de recursos, mas com o envio de cartilhas de recomendações, as quais os governos acolhidos pela ajuda destes organismos deveriam seguir. Dentre muitas as sugestões: o enxugamento da máquina pública, o equilíbrio da inflação interna, aberturas dos mercados, austeridade fiscal e a clara mercantilização das políticas sociais. No contexto do Estado da Bahia se destaca o caso específico do Programa ‘Educar para Vencer’, programa de educação dos governos de Antônio Carlos Magalhães lançado em 1999, o qual seguiu estas cartilhas de forma categórica, implantando no estado o ideário de gestão educacional para a qualidade e a informatização das redes de ensino, porém, mantendo a u 97 U
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precarização das carreiras dos profissionais da educação como forma de enxugamento da máquina. O discurso da qualidade educacional se desdobrou fortemente também nos governos do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), entretanto, contraditoriamente, houve o sucateamento das universidades públicas e a privatização do ensino superior como grande imperativo de seus mandatos presidenciais. Todo este quadro seguiu-se de uma premissa economicista, mediante esta interface neoliberal enxertada nas políticas educacionais do Brasil. O sucateamento da educação pública, mediante o esvaziamento do papel do Estado é delineamento básico destes organizamos internacionais, e isto se dá por causa da prevalência da lógica financeira sobre a lógica social e educacional e a falácia de políticas que declaram o objetivo de elevação da qualidade de ensino enquanto implementam a redução dos gastos públicos para a educação e a se mantém indiferentes à carreira e ao salário do magistério. (TOMASSI; WARDE; HADDAD, 2007 apud HADDAD, 2008, p. 10).
No cenário atual observado, se percebe que tal lógica não foi superada, mesmo com os governos popular-democráticos dos últimos anos. O que permite inferir que, para além de um julgamento sobre possíveis vícios e virtudes, nas ações em políticas educacionais, o sistema educacional vigente está u 98 U
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intrinsecamente atrelado a uma lógica global; isto é reforçado até mesmo quando se analisa o sistema de avaliação nacional, que segue as regras do padrão avaliativo internacional: SAEB, SINAES, ENADE etc. possuem no seu escopo toda a base referencial das premissas globais do PISA: educação de sucesso sob parâmetros universalistas.
Considerações f inais O percurso destas análises buscou um caminho árido, porém necessário devida a complexidade da temática vinculada às políticas educacionais. Debates sobre Estado, Governo e Política urgem diante de um cenário mundial que acena para tendências do conservadorismo moral e econômico de extrema direita, o que acelera de forma assustadora o desmonte das jovens democracias populares e até mesmo os ideais progressistas liberais. No caso do Brasil, como exposto nos parágrafos acima, todas estas reflexões reforçam o histórico clientelista e provinciano de nossas ações em educação, que mesmo no contexto do regime de colaboração entre a União, os Estados e os Municípios, distorcem a ideia de descentralização e contamina os diversos acordos de cooperação técnica entre estes entes, a sociedade civil organizada e os movimentos sociais no desenvolvimento da educação pública. O cenário, assim analisado, desnuda-se: Estado exaurido por causa de incursões econômicas insustentáveis e por diversas demandas precarização do sistema público; governos ávidos à corrupção, principalmente na implementação de u 99 U
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agendas que favorecem apenas os interesses de um sistema político que é tutor das elites econômicas (termômetro para as tensões dos mercados); sociedade dividida e pouco esclarecida diante dos fatos (a qual a educação nunca lhe foi plena), que toma como base o filtro dos meios de comunicação de massa para julgamento das questões socais; por fim, tudo isto num contexto Político no qual a educação – que deveria ser o caminho para superar as crises – é negligenciada propositadamente, por meio de ações paliativas, que além de frágeis reforçam as críticas aqui postas quanto ao que se espera de uma nação que deveria educar para permanente emancipação social e em direção à autonomia dos sujeitos, para viverem uma democracia em amadurecimento.
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A MANIFESTAÇÃO DA INDISCPLINA EM SALA DE AULA Lu ci a M ar i a M a t o s Si l v a S a nt o s l u ci amar. 2 1 @ h o t m a i l . c o m
Resumo Este artigo analisa a indisciplina, suas principais causas, suas diferentes manifestações e atores que contribuem para o aumento de tal problema. Verifica caminhos favoráveis para a postura indisciplinar, que se estende, desde o ambiente familiar até a instituição escolar. O comportamento agressivo do aluno pode se manifestar de inúmeras formas e os educadores podem ter dificuldades em perceber determinados fatores que contribuem para a indisciplina em sala de aula, inclusive porque ações praticadas no meio social acabam influenciando a prática do ato indisciplinar. Sabe-se que a instituição escolar está inserida em um contexto formado pela tríade escola, aluno e família, ou seja, ela não está isolada, pelo contrário, está inserida em contextos que sofrem influências diretas de comunidades interna e externa. Baseado em estudo bibliográfico, esse trabalho procura: destacar alternativas para u 104 U
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que o professor possa repensar a sua prática enquanto mediador do conhecimento que, associadas à boa convivência dentro da instituição e a participação dos pais possa fortalecer a função de educar, para formar um aluno autônomo e crítico. Palavras-chave: Indisciplina na Escola. Causas da Indisciplina. Prevenções. Família.
1. Intro dução O conceito de indisciplina não é estático, uniforme e tampouco universal. É um ato que leva o educando a desordem, a desobediência e se manifesta no contexto sociocultural, onde os discentes tendem a resistir, com mais frequência quando em situações de autoritarismo do professor ou como expressão de sua falta de autoridade. impedindo a dinâmica habitual do trabalho escolar. Toda moral pede disciplina, mas nem toda disciplina é moral. O que há de amoral em ordenar para permanecer em silêncio em determinado momento ou fazer fila? Nada, evidentemente. Entretanto, ao se abordar a questão da disciplina pela dimensão da moralidade não está se pensando que toda indisciplina seja condenável moralmente falando, nem que o aluno que segue as normas escolares de comportamento seja necessariamente um reservatório de virtudes. Contudo, certos atos de indisciplina podem ser genuinamente morais, por exemplo, quando um aluno é humilhado, injustiçado e se revolta contra as autoridades que o vitimaram. Portanto, é necessário que haja o cuidado em condenar a indisciplina, sem antes ter examinado a razão de ser, das normas impostas e dos comportamentos esperados. u 105 U
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Feitas essas ressalvas da ligação entre a disciplina em sala de aula e a moral, verifica-se de início que, tanto a disciplina como a moral colocam o problema da relação do indivíduo com um conjunto de normas, onde vários atos de indisciplina traduzem-se pelo desrespeito, seja ao colega, seja ao professor, seja contra a própria instituição escolar (depredação das instalações etc). Os aspectos desrespeitosos provocados por certos comportamentos discentes preocupam os educadores no mais alto grau. Muitos docentes têm medo de entrar em sala de aula, não simplesmente por temerem a falta de êxito na tarefa de ensinar, mas, sobretudo, porque já pressupõem que receberão tratamento agressivo, de indisciplina por parte de seus alunos, que, frequentemente é sentida como desmotivadora. O comportamento agressivo do aluno pode se manifestar de inúmeras formas e os educadores podem ter dificuldade de perceber determinados fatores que contribuem para a indisciplina em sala de aula. Sabe-se que a instituição escolar está inserida em um contexto formado pela tríade escola, aluno e família, ou seja, ela não está isolada, pelo contrário, está inserida em um contexto que sofre influência direta de uma comunidade. Não se pode ignorar que na atualidade, no cenário da vida social, as pessoas sofrem com a exploração, alienação e massificação dos meios de comunicação. Em decorrência disso, são ressaltados os valores do individualismo, do consumismo e da competição, legitimados pelos meios de comunicação social, enquanto principais veículos de divulgação da ideologia que renega a educação para o segundo plano, na mentalidade familiar. u 106 U
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A família é diretamente atingida por este modelo social, principalmente as famílias desprovidas de bens financeiros que sofrem desagregação pela carga excessiva de trabalho, sendo obrigadas, a trabalhar para sua sobrevivência, abrindo mão de elementos fundamentais ao seu equilíbrio, a exemplo do acompanhamento da vida escolar dos seus dependentes. A escola, por sua vez, sofre os reflexos de um modelo social, perceptível, precário, nas condições materiais, nos baixos salários da sua equipe de profissionais, dentro outros reflexos, que geram certo descrédito no seu desempenho, transformando-a num “faz-de-conta”. Portanto, a sociedade, a família e a própria escola refletem fatores que contribuem para a indisciplina na sala de aula.
2. A manifestação da indiscplina em sala de aula A família é entendida como o primeiro contexto de socialização e, indubitavelmente, de acordo com Vygotsky, exerce uma grande influência sobre a criança e o adolescente, pois as atitudes dos pais e suas práticas de criação e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e, consequentemente, influenciam o comportamento da criança e adolescente na escola. A disciplina no contexto escolar pode ser entendida como escola e professor precisando juntos estabelecer, sem autoritarismo, mas com autoridade, uma relação transparente com toda comunidade escolar. Na maioria da visão do professor, o aluno disciplinado é aquele que faz o que o professor deseja. Repentinamente, u 107 U
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a vontade do professor é que o aluno fique quieto, assista às aulas com atenção, faça todas as atividades, mostre que assimilou “direitinho” o que aprendeu etc. e, dessa forma, o professor se sente realizado. Isto porque a sua competência será medida de acordo com o bom domínio da classe, diante dos meios metodológicos utilizados para alcançar tal resultado. Vasconcellos (1995, pag. 31) resume que os diversos envolvidos na relação escolar percebem a indisciplina na sala de aula de forma diferente, a depender dos objetivos de cada um: “professor: o aluno deve ficar quieto, para que ele possa dar sua aula; Aluno: terminar logo a aula, ter nota; Administração: não ter problemas, Pais: filho passar de ano”.
Note que o conceito de disciplina vem associado a obediência e ao controle do comportamento. Nesse sentido E para isto, uma alternativa de solução que resta à escola é: lembrar e fazer lembrar em alto e bom tom a seus alunos e à sociedade como um todo que sua finalidade principal é a preparação para o exercício da cidadania. 2.1 Indisciplina e violência: a ambiguidade dos conflitos na escola Refletir a escola enquanto palco de destaque de violência e de indisciplina, é percorrer por um caminho ambíguo: de um lado, pelas ações que visam ao cumprimento das leis u 108 U
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e das normas determinadas pelos órgãos centrais e, de outro, pela dinâmica dos seus grupos internos que estabelecem interações, rupturas e permitem a troca de ideias, palavras e sentimentos numa fusão provisória de afeição e conflitos. A instituição escolar pode ser vista como reprodutora tanto de experiências de afeto como de opressão. Todavia, a tendência da opressão supera, na maioria das vezes, o afeto, gerando violência e conflitos que perpassam pelo plano macroestrutural. Desse modo, é importante salientar que, apesar dos mecanismos de reprodução social e cultural, as escolas também produzem sua própria carga de violência e sua própria indisciplina. Para dar-se conta de algumas formas de violência e de indisciplina que dinamizam a vida cotidiana da escola, é preciso captar a ambiguidade desses fenômenos e seus modos específicos de manifestações. Não é objetivo valorizar esteticamente a violência nem defender uma escola sem regras e limites, mas apontar a existência de uma lógica interna, diante de fatos que ofereçam pistas ou alternativas pedagógicas de negociação dos conflitos. A escola como qualquer outra instituição está planificada para que as pessoas sejam iguais. Há quem afirme: “quanto mais igual, mais fácil de dirigir”. A homogeneização é exercida através de mecanismos disciplinares, ou seja, de atividades que esquadrinham o tempo, o espaço, o movimento, gestos e atitudes dos alunos, dos professores, dos u 109 U
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diretores, impedindo aos seus corpos de uma atitude de submissão e docilidade.” (GUIMARÃES, 1992:66).
Assim como a escola tem o poder de dominação que, muitas vezes, não tolera as diferenças, também é atingida por formas de resistência que não se submetem às imposições das suas normas. Se ensinar é mais do que transmitir conteúdos, ou seja, é poder gerir relações por meio do ensino-aprendizagem, então, implica dizer que, a construção do saber está atrelado as formas de poder imposto pela escola para o ato de aprender, porque a sala de aula é um lugar onde se tece uma complexa rede de relações. Na medida em que o professor não consegue perceber essa teia, então concentra os conflitos na sua pessoa ou em alguns alunos, não os deslocando para o coletivo e, dessa forma, cada um passa a ser movido por uma ordem, por uma obrigação que é imposta, mas não é incorporada. O professor imagina que a garantia do seu lugar se dá pela manutenção da ordem, mas a diversidade dos elementos que compõem a sala de aula impede a tranquilidade dessa permanência. Ao mesmo tempo em que a ordem é necessária, o professor desempenha um papel violento e ambíguo, pois, se de um lado tem a função de estabelecer os limites da realidade, das obrigações e das normas, de outro desencadeia novos dispositivos para que o aluno, ao se diferenciar dele, tenha autonomia sobre o seu própio aprendizado e sobre sua própria vida.
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O grande problema talvez esteja no fato de o professor se concentrar apenas na sua posição normalizada achando que, com isso, ele conseguirá eliminar os conflitos. Quando o professor experimenta a ambiguidade do seu lugar, consegue, juntamente com os alunos, administrar a violência intrínseca ao seu papel. Isso não significa que a paz reinará na escola, mas que os alunos e professores, por força das circunstâncias, sejam obrigados a se ajustar e a formular regras comuns - os limites de fechamento e de tolerância. É preciso deixar de acreditar que paz signifique ausência total de conflito. Os múltiplos confrontos e o viver ambíguo (entre a harmonia e o conflito) integrado a uma ação coletiva, não atomizada, são os fatores que concretizam a paixão do estar junto, o gostar da escola, ainda que apenas para encontrar os amigos 2.2 Um novo olhar na indisciplina
“Eu sempre sonho que uma coisa gera, nunca
nada está morto”. O que não parece vivo, aduba. O que parece estático espera. (Adélia Prado).
Olhando-se o problema da indisciplina é muito mais profundo e complexo do que a superficialidade com que tem sido considerado nas escolas. É preciso aprofundar o conhecimento das causas da indisciplina e conhecer as raízes dos problemas daqueles que são rotulados de indisciplinados, depois, é muito importante o posicionamento em relação a questões u 111 U
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como: O que é a escola? Tem ambiente silencioso, sem nenhum vestígio de comportamento infantil, ou um ambiente social vibrante, que comunica alegria e predispõe a concentração de todo o esforço no ato de aprender? Pensar-se que não ser ideais alunos encaminharem para a sala de aula perfilada, sentarem-se simultaneamente e dirigirem o olhar na mesma direção, como se fossem robôs ou intencionalmente robotizados. Nem sempre o silêncio é revelador de disciplina ou garantia de aprendizagem. No entanto, a disciplina do silêncio é amplamente divulgada em nossas escolas. Não se apercebem de que o “barulho” pode ser fruto da participação ativa das tarefas escolares, expressão de energia e do entusiasmo próprios da idade. Cabe ao professor ser o orientador e o incentivador dos alunos para quererem aprender, como também orientar o relacionamento de todos no grupo, estabelecendo um clima de sala de aula ao mesmo tempo calmo e desafiador. Muitos professores sentem dificuldades em trabalhar com os alunos quando eles não estão em silêncio, travando verdadeiras batalhas na tentativa de obter deles o comportamento tido como disciplinado e coerente com a metodologia tradicional e pouco criativa, onde não são consideradas as diferenças individuais, o ambiente próprio do adolescente, as suas dificuldades em situar-se no ambiente escolar. A escola precisa evitar a rotina e a mecanização, pois esses aspectos se constituem, muitas vezes, em causas do desinteresse, podem gerar a indisciplina, causando o insucesso do aluno na aprendizagem. O fato de o aluno não aprender e, consequentemente, o seu insucesso, podem causar a indisciplina. u 112 U
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Por outro lado, não raro ao avaliar os alunos, considera-se tanto a disciplina pessoal quanto o rendimento escolar, confundindo-se o desempenho intelectual com a postura comportamental. Compreende-se que é fundamental que a escola estabeleça relações e regulamentos para que o trabalho educativo seja realizado de forma organizada e coerente. Entretanto, o que se preocupa é que tais normas partem quase sempre do nível institucional da organização escolar, sem a participação do aluno e, muito menos, sem levar em conta a sua realidade sócio- cultural. Não se pode aqui discutir a legitimidade ou não dessa participação, mas o que se quer deixar claro é que a escola se organiza nesses regulamentos como um meio de resguardar a segurança de todos e estabelecer os limites de cada um, isto é, estabelecendo uma sistemática de funcionamento que permita a sua continuidade enquanto agência educativa. Há necessidade que haja o envolvimento de todos em contribuir para a organização de um ambiente agradável e alegre, onde as pessoas se sintam bem e sejam estimuladas a cooperar, reduzindo os problemas gerados pela falta de recursos materiais e humanos que são a tônica dominante em nossas escolas. Assim, a atuação do professor é de suma importância diante do adolescente e da escola como um todo. A ele cabe orientar o educando, levando-o a compreender que certas normas da escola não são imposições e tem como objetivo ajudá-lo a garantir os seus direitos e deve ser respeitado para criar condições de trabalho, manter o ambiente limpo, tranquilo, agradável, bonito, dispor de material em perfeitas condições de uso. u 113 U
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A escola deve organizar-se para trabalhar de forma científica, através de propostas concretas de ação que possibilitem a todos os educadores alcançar os objetivos educacionais. Isso implica criar as condições físicas e psicológicas favoráveis para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra com sucesso. Está implícita nesse trabalho educativo a orientação do comportamento dos educadores, uma vez que a prática pedagógica se faz entre seres humanos que se reúnem na escola para a conquista do saber e a troca de experiências. À medida que o diálogo se estabelece, é possível ao professor penetrar no mundo da criança e do adolescente para melhor conhecê-los e envolve-los no processo educacional, tornando-se acessíveis à influência do professor. Professores e educadores em geral devem rever os seus planos, recolocar os seus objetivos e, acima de tudo, reconsiderar a sua própria conduta, pois bom comportamento só é incorporado quando vivido em situações concretas da vida cotidiana. A compreensão de que a disciplina é importante na escola, não apenas como um conjunto de normas que organizam o ambiente escolar, mas também como objetivo educacional a ser atingido, é fundamental para orientar a ação pedagógica. Faz-se, necessário que se tenha um novo olhar para a educação e a indisciplina para que se possa começar uma transformação na escola, desmistificando o conceito de (in) disciplina e colocando-o em sintonia com o que realmente se pretende alcançar frente à educação, a fim de que nossos adolescentes possam desenvolver-se plenos e conscientes tornando-se cidadãos dignos, responsáveis para este novo século. u 114 U
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Considerações f inais A educação é, sem dúvida, uma vertente prioritária em qualquer sociedade, sendo um fator de desenvolvimento socioeconômico, ou seja, a educação é um componente fundamental para o desenvolvimento social, econômico e político dos cidadãos e da sociedade. Freud, na contramão, acreditava que o homem tem inerente a si uma natureza agressiva, violenta, pois tende-se a destruir uns aos outros para que não se destrua a nós mesmos. A compreensão do processo de construção da moralidade do educando pelo adulto possibilitam ao menos teoricamente, a organização das condições necessárias para que ele venha a construir os princípios morais que regem toda e qualquer sociedade, a partir da elaboração e estruturação dos estágios do desenvolvimento moral. Tendo em vista que a educação foi pautada pelo medo, pela obediência cega e que, evidentemente, não seria essa a forma que se utilizaria para educar os filhos e educandos, devem-se procurar construir outra forma de educar e isso significa que pais e professores devem reconstruir seus próprios valores. Tem-se que retomar o significado dos conceitos morais e sociais que foram transmitidos como valores instrumentais e encontrar juntas formas alternativas para trabalhar com o processo de desenvolvimento da moralidade. O educando, como ser social, vive em uma sociedade normativa e tem que se adaptar às normas, leis, regras, valores, hábitos e costumes que a rege. Essa adaptação é interpretada, na maioria das vezes, como sendo a obediência às leis, sem levar u 115 U
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em consideração o processo pelo qual se desenvolve e se constroem o respeito para com essas normas, regras, leis e valores, extremamente necessário a uma convivência social, ao processo de socialização e ao processo de construção da autonomia moral. Essa autonomia poderá ser abordada de maneira real partindo das interações sociais, ou, de uma forma ilusória, resultante das lições de moralidade em que os princípios morais não são discutidos, questionados e construídos, mas tidos como valores instrumentais que devem ser transmitidos como verdades universais. Estipular normas para o educando é prepará-lo para conviver com o mundo e suas diferentes realidades e também é uma forma de ajudá-lo a se organizar afetivamente, aprendendo, por exemplo, a saber, escolher e priorizar suas vontades. Sem regras o educando se torna déspota. Seu desejo é lei. Ele não aprende a conviver com os diferentes, mas regras e limites ele irá necessitar. Isso porque ainda tem muita dificuldade para organizar sua rotina, seu comportamento e suas emoções. Se desde cedo o jovem aprende que há limites a serem respeitados, aos poucos ele próprio vai compreendendo que as regras são como contratos estipulados para que todas as partes sejam beneficiadas. Mas se conseguir que a maioria aprove as regras será uma grande vitória e um comprometimento mútuo. E neste caso o professor terá pouco trabalho na exigência da disciplina na escola e, consequentemente, na sala de aula. Em vez de ser uma obrigação, há um comprometimento de todos.
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Portanto, busca-se construir uma nova disciplina “que deixe de ser a expressão das relações sociais alienadas”. O objetivo é conseguir o autogoverno dos sujeitos participantes do processo educativo, onde haja o desenvolvimento da autonomia e da solidariedade, ou seja, as condições para uma aprendizagem significativa, crítica, criativa e duradoura. Almeja-se uma disciplina consciente e interativa, marcada pela participação, respeito, responsabilidade, construção do conhecimento, formação do caráter e da cidadania.
Referências FREUD, S. Teoria psicanalítica, por prof. Laerte M. Santos, Disponível em: www.cefetsp.br, em 9 de maio 2010. GUIMARÃES, A. M A dinâmica da violência escolar: conflito e ambiguidade. Campinas Autores Associados, 1992. LA TAILLE, Yves de. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In: AQUINO, Júlio. (Org.). Indisciplina na escola: Alternativas teóricas e práticas. 7. Ed., São Paulo: Summus, 1996, p. 09-23. VASCONCELLOS, Celso dos S. Disciplina: Construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. Cadernos Pedagógicos do Libertad; volume 4, São Paulo. Libertad, 1995. VIGOSTSKY, L.S. (1998) Formação Social da mente. 6. Ed. São Paulo: Martins Fontes. VIGOTSKY L. S: LURIA, A. R. (1996) Estudo sobre a história do comportamento. u 117 U
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REDE DE EMPRESAS E COMPETITIVIDADE COMO FATORES DE DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL, SOCIAL E ECONÔMICO H i l to n Frei re do Na s c i m e nt o h i l to n frei re @ g m a i l . c o m
Resumo Os temas redes de empresas e competitividade tornaram-se, imprescindíveis ao desenvolvimento empresarial, social e econômico dos Países, pois, além de uma preocupação empresarial, se tornaram um grande desafio organizacional, inovando o conhecimento comum sobre produção e produtividade, remodelando a forma de pensar do administrador atual, transformando modelos administrativos já conhecidos e promovendo mudanças significativas na busca por maiores chances de sobrevivência no mercado. Nesse sentido, estudos que contemplem esses temas ganham força no meio acadêmico e ajudam as empresas a se tornarem mais competitivas. Em função disso, delimitou-se o tema desta pesquisa, que teve como objetivo: apresentar fatores relacionados à rede de empresas e competitividade que podem ser imprescindíveis ao desenvolvimento empresarial, social, econômico e educacional de u 118 U
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uma Região. Para tanto, realizou-se uma pesquisa com característica descritiva e bibliográfica, utilizando-se como principal fonte de informações a Tese de Doutorado intitulada Competitividade e Rede de Empresas: Um Estudo Multicaso em Micro e Pequenas Empresas da Indústria de Confecção de Vestuário da grande João Pessoa – PB. A pesquisa foi de natureza qualitativa, com textos e análises de conteúdos expostos comumente por meio de software word. Os resultados da pesquisa foram obtidos, principalmente por meio dos estudos relacionados à Ribault (1995), Cândido (2001), Nohria (1992), Henriques (1999), Coutinho e Ferraz (1994), Soto (2005), Santos (2003) e Contador (2008), ratificando o alcance do objetivo desejado ao responder a questão de pesquisa, que assegura que, além de ter alcançado o objetivo, coloca os fatores identificados e apresentados como preponderantes à capacidade das empresas obterem resultados sustentáveis superiores ao das concorrentes, assegurando uma rentabilidade satisfatória pelo alcance de uma ou mais vantagens competitivas. Palavras-chave: Rede de Empresas; Competitividade.
1. Intro dução Diversos aspectos relacionados ao tema desenvolvimento empresarial, social e econômico têm sido estudados no mundo inteiro em face da sua importância, mas principalmente por ser um fator de sobrevivência para muitas organizações. Em função disso, observa-se que os temas Redes de Empresas e Competividade têm instigado diversas organizações a repensarem os seus modelos de gestão, assim como u 119 U
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as maneiras de se tornarem mais competitivas em mercados cada vez mais difíceis. Observa-se que este tem sido também um relevante desafio aos gestores das áreas industriais, comerciais e prestadoras de serviços, uma vez que podem ser imprescindíveis ao sucesso das organizações. Neste sentido, coloca-se que as perspectivas de redes de empresas deveriam ser utilizadas com mais frequência por organizações, visto que esse já não é um termo e desconhecido em obras científicas. Cândido (2000) ratifica que os conceitos e as aplicações de redes realmente não são novos. Além disso, afirma que esses conhecimentos aplicados devidamente, podem ser fundamental ao sucesso de muitas organizações. O autor afirma ainda que desde os anos 30, conhecimentos relacionados à rede de empresas são, sistematicamente, utilizados por diversas áreas de conhecimento, como a sociologia, a antropologia e a psicologia, enfocando as mais diferentes formas de relacionamentos e interações entre pessoas com pessoas, pessoas com grupos e grupos com grupos sociais, num dado panorama social, assim como em relação ao papel social representado pelas pessoas, no desenvolvimento dos grupos sociais. Já em relação aos aspectos relacionados à competitividade, observa-se que estes são fatores críticos de sucesso para muitas organizações, pois muitas delas não possuem o desejado conhecimento sobre esses aspectos, uma vez que muitos empresários empreenderam, com base apenas no seu conhecimento empírico, negligenciando as melhores práticas, formas e maneiras de terem maior chance de sucesso.
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Neste sentido, o fato desse início de século ter trazido consigo uma grande transformação socioeconômica, as ações organizacionais, sejam elas localizadas em cidades, estados ou países, impactam e podem interferir, de forma real e definitiva, nas atividades de empresas locais. Um exemplo disso é a democratização da comunicação e da informação, trazendo causando significativo impacto na competitividade entre empresas. Como consequência, estudos sobre competitividade tornaram-se imprescindíveis à Educação para além do século XXI, assim como uma matéria de primeira necessidade para cursos universitários, pois sabe-se que estudos dessa natureza têm ganhado notoriedade em diversas abordagens teóricas a esse respeito. Portanto e em função do exposto acima, a questão de pesquisa que permeia esse artigo é: Fatores relacionados à rede de empresas e competitividade são imprescindíveis ao desenvolvimento empresarial, social, econômico e educacional de uma Região? Em consequência, essa pesquisa se justificou pela necessidade de se identificar e apresentar fatores que podem contribuir para o desenvolvimento empresarial, social, econômico e educacional de uma Região, contribuindo para o aumento do nível de competitividade de micro e pequenas empresas atuantes na indústria, em especial, de vestuário no Brasil. Todavia, é importante registrar que o Brasil ainda sofre sérios impactos causados pela entrada de produtos oriundos de outros países e que isso compromete seriamente alguns segmentos, impactando, significativamente, no desenvolvimento empresarial, social e econômico de várias Regiões. Neste sentido e objetivando responder à questão de pesquisa, elaborou-se o u 121 U
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seguinte objetivo geral: apresentar os fatores relacionados à rede de empresas e competitividade que podem ser imprescindíveis ao desenvolvimento empresarial, social, econômico e educacional de uma Região.
2 Desenvolvimento: fundamentação teórica e pro cedimentos metodológicos Alguns estudos são importantes acerca do termo rede de empresas e Competitividade, visto que neles são indicados, sem a pretensão de se esgotar os achados sobre os dois temas, pontos teóricos importantes a realização desta pesquisa. 2.1 Rede de Empresas Nos primórdios da civilização, quando não havia ainda a preocupação acadêmica de estabelecer conceitos, rede significava para os caçadores uma pequena armadilha para capturar pássaros, composta por um conjunto de fios entrelaçados cujos “nós” eram formados pelas intersecções desses fios (MARCON e MOINET, 2000). Essa imagem de fios entrelaçando-se em nós e formando um novo objeto, , tais como as redes de pesca e as redes de descanso. Segundo Loiola e Moura (1997), etimologicamente, o termo “rede” é derivado do latim e significa entrelaçamento de fios, cordas, cordéis, arames, com aberturas regulares fixadas por malhas, formando uma espécie de tecido no qual os fios e as malhas dão a forma básica da rede e, que os fios podem corresponder às linhas ou às relações entre atores e organizações, os quais representariam as malhas ou os “nós”.
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No século XX, esse termo adquiriu um sentido mais abstrato, passando a denominar todo conjunto de pontos com mútua comunicação. Assim, começou a ser empregado, na sociologia, para explicar o fenômeno das relações de reciprocidade entre seres humanos. Somente a partir da virada da década de 1960 para 1970 é que surgiram as primeiras tentativas de definir o conceito de rede. Portanto, cabe enfatizar que a associação de empresas em rede possui vantagens e inconvenientes (RIBAULT et al., 1995), pois combinam vários fatores preponderantes ao seu resultado, como clima propício para a prática da cooperação entre as empresas, conhecimento recíproco das empresas, existência de políticas internas de apoio, envolvimento e comprometimento dos integrantes da rede com os objetivos coletivos. Desse modo, varia, também, o desempenho da própria rede (LASTRES, 1999; LIPNACK e STAMPS, 1994 apud CÂNDIDO, 2001). Além da possibilidade de obter vantagens ou da obrigação de superar possíveis inconvenientes, as organizações que pretendem se estruturar em forma de redes devem atentar para outros fatores que podem interferir no bom desempenho da sua definição estrutural. Tentando colaborar com essa expectativa, Nohria (1992) aponta três razões para a utilização do paradigma de redes no ambiente organizacional, são elas: 1. A emergência de um novo padrão de competitividade, que podem fazer com que as organizações busquem ao invés de relações competitivas, relações colaborativas que as unam em redes de interligações u 123 U
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laterais e horizontais tanto interna quanto externamente; 2. Os recentes desenvolvimentos no campo da tecnologia da informação, visto que esses têm proporcionado uma revolução de amplo escopo nos arranjos, operações e interligações das organizações em todo o mundo. 3. O amadurecimento da análise de redes como disciplina acadêmica. Considerada tal perspectiva, as alianças devem ser vistas como meio de alcance dos objetivos estabelecidos, estrategicamente, pelas organizações, respeitando as condições e interesses individuais de cada uma, sendo relevante a estratégia de trabalho conjunto, no qual a parceria deve fazer parte da estratégia para que se alcance o sucesso esperado. (GOMES, 1999). Portanto, as diferentes abordagens teóricas podem contribuir para o entendimento do paradigma de redes. Já em relação à competitividade, deve-se observar os aspectos apresentados a seguir. 2.2 Competitividade Desde os primórdios dos tempos que o termo competitividade faz parte do cotidiano da humanidade, uma vez que o homem compete entre si por diversos motivos, mas, primordialmente pela necessidade eminente de sobreviver, fazendo com que a competitividade seja uma característica intrínseca a ele. O início do século XX trouxe consigo uma grande u 124 U
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transformação da economia mundial e, por consequência, os Países, principalmente os Países capitalistas, passaram a adotar como forte princípio econômico, serem competitivos. Devido ao fato da competitividade ter conseguido o status de garantidora da sobrevivência das empresas no mercado, transformações estruturais ocorreram nas organizações, como por exemplo, a criação das Escolas corporativas, que são espaços criados dentro das empresas com o principal objetivo de educar funcionários e demais stackholders para lidarem com aspectos relacionados à competitividade. Neste sentido, Belohlav (1993) afirma que, por décadas, os principais periódicos de negócios registraram as várias faces da competitividade corporativa, fazendo com que empresas entendessem que esse é um tema que merece ser discutido como forma de educação. 2.3 Conceitos de competitividade A definição do que seja, especificamente, competitividade gera controversa discussão. Vários autores citam a dificuldade de definir competitividade, por ser um termo muito amplo, que pode expressar comparação, competição, rivalidade, vantagem, entre outros. Barbosa (1999) comenta acerca da dificuldade dos autores chegarem a definições que abordam os mesmos fatores, relacionados à competitividade. Diz que diferentes autores enfatizam diferentes fatores e, algumas vezes com conceitos totalmente singulares da competitividade. O problema é decidir quais fatores qualitativos e quantitativos deveriam
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ser enfatizados. Apesar desses obstáculos semânticos, alguns autores desenvolveram suas definições acerca da competitividade. Segundo Porter (1993), a competitividade é a habilidade ou talento resultante de conhecimentos adquiridos capazes de criar e sustentar um desempenho superior ao desenvolvido pela concorrência. A definição de Coutinho e Ferraz (1994) diz que competitividade é a capacidade da empresa em formular e implementar estratégias concorrenciais que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado. Para Soto (2005), a competitividade, contrariamente ao termo competição, significa uma medida de satisfação do consumidor em um mercado globalizado, sendo os principais parâmetros de medição a qualidade, o serviço, o preço, o desenho e a capacidade e oportunidade de satisfazer novas necessidades de clientes e mercados. Nesse sentido, Santos (2003) acrescenta que, o termo competitividade alimenta-se de outras perspectivas usuais no mercado, devendo destacar o planejamento estratégico, a produção, a gestão de pessoas, a gestão de marketing, entre outras. Acrescenta ainda que estes são termos correlatos de outros termos bastante conhecidos, tais como vantagem competitiva, estratégia competitiva, diferencial competitivo, vantagem estratégica e capacidade competitiva. A importância da melhoria da competitividade pode ser traduzida pela preocupação que algumas instituições têm em estudá-la e/ou conceituá-la, a exemplo da Financiadora u 126 U
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de Estudos e Projetos (FINEP), que realizou um importante estudo denominado de Competitividade da Indústria Brasileira – ECIB. Como resultado, esse estudo traduz a importância e a preocupação da competitividade para as empresas e para os países. No entanto, Henriques (1999) adiciona que é condição fundamental no estudo da competitividade, investigar as causas reais do sucesso ou do fracasso competitivo de uma empresa ou indústria e que isso seja feito a partir de uma análise minuciosa de todos os fatores que exercem influência direta ou indireta sobre a competitividade. O autor afirma ainda que o desempenho competitivo de uma empresa depende tanto do sucesso interno em termos de administração, estratégia e inovação, como pelos fatores determinantes de ordem sistêmica que determinam o ambiente onde as empresas competem. Contador (2008) também define competitividade que, de acordo com ele, é a capacidade da empresa em obter resultado sustentável superior ao das concorrentes, medido por um indicador de crescimento de mercado que possa assegurar uma rentabilidade satisfatória pelo alcance de uma ou mais vantagens competitivas. Diante do exposto, foram apresentados fatores relacionados à rede de empresas e competitividade que podem ser imprescindíveis ao desenvolvimento empresarial, social, econômico e educacional de uma Região.
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Apresentação dos resultados Assim e atendendo ao objetivo desse estudo, coube enfatizar que a associação de empresas em rede possui vantagens e inconvenientes (RIBAULT et al., 1995) que interferem no desempenho da mesma, a medida que variam fatores preponderantes de sucesso. Entre eles, devem-se citar os seguintes: 1. clima propício para a prática da cooperação entre as empresas; 2. conhecimento recíproco das empresas; 3. existência de políticas de apoio; 4. envolvimento e comprometimento dos integrantes da rede com os objetivos coletivos, entre outros fatores que podem ser imprescindíveis ao desenvolvimento empresarial, social e econômico de uma Região (LASTRES, 1999; LIPNACK e STAMPS, 1994 apud CÂNDIDO, 2001). Nohria (1992) colaborou com essa expectativa, apontando mais três fatores para a utilização do paradigma de redes no ambiente organizacional: 1. emergência de um novo padrão de competitividade; 2. avanço do escopo nos arranjos, operações e interligações das organizações; 3. amadurecimento da análise de redes como disciplina acadêmica.
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Sobre os fatores considerados imprescindíveis ao desenvolvimento empresarial, social, econômico e educacional de uma Região relacionado à Competitividade, a abordagem de Henriques (1999) veio a contribuir, com a afirmação sobre a condição fundamental no estudo da competitividade em investigar as causas reais do sucesso ou do fracasso competitivo de uma empresa, feito a partir de uma análise minuciosa de todos os fatores que exercem influência direta ou indireta sobre a competitividade. De acordo com a afirmação do autor, o desempenho competitivo depende tanto do sucesso interno em termos de administração, estratégia e inovação, como pelos fatores determinantes de ordem sistêmica que determinam o ambiente onde as empresas competem. Com base nessa afirmação, adicionam-se os seguintes fatores, considerados por alguns autores, imprescindíveis ao desenvolvimento empresarial, social e econômico de uma Região: 1. Coutinho e Ferraz (1994) apontam a capacidade formular e implementar estratégias; 2. Soto (2005) aponta medir a satisfação do consumidor; 3. Santos (2003) aponta os fatores relacionados a planejamento. São eles: 3.1 planejamento estratégico; 3.2 planejamento da produção; 3.2 planejamento da gestão de pessoas; 3.3 planejamento da gestão de marketing, entre outros.
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Considerações f inais Por fim e após a exposição dos resultados do objeto dessa pesquisa, adotou-se como considerações finais a afirmação de que estudos relacionados a esses fatores externam a importância e a preocupação da competitividade para as empresas e para os países, uma vez que, segundo Contador (2008), esses fatores definem a capacidade da empresa em obter resultado sustentável superior ao das concorrentes, assegurando uma rentabilidade satisfatória pelo alcance de uma ou mais vantagens competitivas. Além disso, deve-se entender que melhorias relacionadas ao desenvolvimento empresarial, social, econômico e educacional de organizações que atuam na área industrial, têm sim, forte relação com conhecimentos sobre rede de empresas e competitividade, mas para que se tenham os resultados esperados, as organizações devem investir mais em Escolas Corporativas e Escolas de Negócios, uma vez que empresas que ensinam também aprendem e tornam os processos, não uma questão de obrigação corporativa mas, essencialmente, uma questão de educação humana. Segundo Paulo Freire (2001), ensinar e aprender faz parte da existência humana, como dela fazem parte à linguagem, o amor, o ódio, o medo, a curiosidade, então, não há como ensinar e aprender sem essas atividades humanas. Os espaços, corporativos ou não, se fazem educativos pela própria necessidade de educar, de aprender, de ensinar, de criar, de conhecer, pois, quem investe na educação com certeza tem como resultado pessoas inteligentes, que pensam antes de tomar decisão, e, consequentemente são mais assertivas em suas atividades. u 130 U
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UNICAMP, 1999. (Dissertação de mestrado em ciências econômicas). LOIOLA, E. R; MOURA, S. A economia globalizada e o desenvolvimento revistados. In: Gestão em debate, Salvador, NPGA/EAUFBA, 1997. MARCON, M.; MOINET, N. La stratégie-réseau. Paris: Éditions Zéro Heure, 2000. NOHRIA, N.; ECCLES, R. Networks and organizations: structure, form and action. Boston: Harvard Business School Press, 1992. PORTER, Michael. Estratégia Competitiva: Técnicas para Análise de indústrias e da concorrência. 7. ed., Rio de Janeiro: Campus, 1993 RIBAULT, M.; MARTINET, B. & LEBIDOIS, D. A gestão das tecnologias. Coleção gestão & inovação. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1995. ROCHA, Alexandre Varanda et al. Gestão da qualidade. Rio de janeiro: FGV, 2007. SANTOS, Milton dos. Contribuição à Compreensão do Conceito de Competitividade nas Organizações. VII SEMEAD – Seminários em Administração, FEA/USP, São Paulo, 2003. SOTO, Eduardo. Comportamento organizacional: o impacto das emoções. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. 1ª reimpr. da 1ª ed. de 2005. u 132 U
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CAPACITAÇÃO POLICIAL NO ESTADO DA BAHIA PARA O ATENDIMENTO DA SEGURANÇA DESEJADA PELO CIDADÃO Jar b as San t o s de O l i v e i ra jar b as. o l i v e i ra @ t e r ra . c o m . br
Resumo O artigo ora intitulado Capacitação Policial para o Fortalecimento da Segurança Desejada pelo Cidadão no estado da Bahia, buscou responder aos Problemas da qualificação Policial enquanto aspecto importante para avaliar a importância da policia para a segurança social. Assim sendo, sua hipótese versou sobre a capacitação policial para o atendimento da segurança desejada pelo cidadão. O objetivo geral visou a demonstrar a necessidade de capacitar o contingente da policia militar, por meio de um programa específico de segurança, buscando a salvaguardar vidas humanas e bens. O conhecimento adquirido por meio de capacitação continuada como medidas preventiva e ostensiva são formas que comummente afastam o improviso, dando lugar a planos estratégicos, u 133 U
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verificando os aspectos e meios que compõem um modelo de capacitação de segurança pública. Palavra-chave: Segurança desejada. Qualificação profissional. Medidas preventiva e ostensiva. Inteligência. Controle.
1. Intro dução Os modelos de segurança pública mundial e nacional, analisado pelo viés da capacitação profissional, aponta para a necessidade de uma política de valorização a ser instalada nessas instituições, a fim de contribuir para a formação permanente dos perfis profissionais dos agentes envolvidos que, por certo minimizará as consequências de riscos a vida humana que hoje ocorre de forma avassaladora. O Governante em regra é o responsável direto pela gestão de segurança pública, visando um bem-estar da população, devendo usar as ferramentas de preparo de capacitação para alcançar através dos prepostos da segurança pública a sua missão de defesa, entretanto sabe-se que, se materializam apenas como promessas de campanhas eleitorais, as quais, muitas vezes, são estabelecidas em planos de governo para garantir com o intuito maior de obter o apoio popular. Embora a constituição aponte para a responsabilidade direta dos governantes na matéria de segurança pública, percebe-se que não existe uma continuidade na preparação dos comandantes e comandados, até porque, o sentido da individualidade governamental é a regra do jogo, retratando sobretudo a vontade do governante. u 134 U
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Todavia, verifica-se que a criminalidade é um caminho que vai na via direta das ações individualista de governo, espaço, local e condição social. Ou seja, quanto maior for a desatenção com as questões de segurança, maior será as brechas e oportunidades deixadas pela gestão do governo para o aumento da criminalidade.
2. Atendimento dos anseios da so ciedade com a segurança “O Dever Ser do Estado”, deve prevalecer em todos os sentidos, desde que não ultrapasse as garantias individuais e direitos líquidos e certos, previstos na Constituição brasileira e os meios para promoção da segurança alimentam o potencial que se instala para o Dever Ser do Estado pela governança. Embora a teoria do direito possa expressar, em tese, que está se cumprindo com o previsto em lei, nota-se, na atualidade, que o jogo político se ocupa de benefícios e da manutenção de oligarquias independente em defesa de quem anda na contramão da lei ou de quem a polícia deve combater, dando mais importância aos que erram, em detrimentos da própria lei. Isto é uma verdade cruel, chegando ao ponto expor e por em risco e até as Instituições. Reconhece-se que para ocorrer uma ação em prol de um povo é necessário que exista à vontade Política do Governo. No entanto, em regra essa referida vontade sempre vem precedida de uma motivação apontada por um aproveitamento de interesses de cunho pessoal para o futuro político governante. A visão jurídica, em decorrência de ser considerada a clava forte da lei, se coloca em sua plenitude, no aguardo de uma u 135 U
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manifestação legal. Entretanto, no curso dos processos, varias interferências são admitidas em lei, que não deixam de ser um entrave jurídico e formas de escape dos que tentam procriar a longevidade dos desvios do direito pois, admite-se que, para fazer justiça é esperado riscos de acidentes de percursos, visto que a capacidade humana não é robotizada. Para se falar de capacitação policial, antes de tudo, necessário se faz conhecer o seu significado etimológico. Capacitar significa “preparar a pessoa para enfrentar as situações provenientes do meio ambiente pressupondo o uso das faculdades humanas de desejo e lógicas”. (Dicionário Aurélio), Embasado na definição acima, no material técnico do Prof. Dr. Hercules Farnesi da Cunha (2013) e em varias situações de investigações realizadas no decurso do mestrado em Ciência da Educação, na universidade San Carlos, foram permitidas analises direcionadas para essas vertentes. Farnasi, citando Spinoza (2013), em uma reflexão, registra que: “Deus falando com você”, dá uma noção de fortalecimento da certeza de que tudo é possível, de acordo com a forma que tenha sido utilizada no plano e na execução. Em seguida, utiliza o termo da teoria da janela quebrada. Na conjunção dessas duas expressões de pensamento buscou-se um equilíbrio do que pode ser consentido e do que pode ser não tolerado. Com essa convicção, procedeu-se a reflexão das ações praticadas pelo ex-prefeito de Nova Iorque, Rudolph Giuliani que, após a análise dos altos índices da criminalidade na década de 80, registrado no parecer do livro de Malcolm Gladwell (ano?), implantou um sistema intitulado “tolerância zero”. u 136 U
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Esse nível de tolerância partia do principio de que o combate a pequenos delitos era uma porta aberta para que a população tomasse medidas duras nos pequenos delitos que, por certos seriam mais eficazes quando da necessidade de combate aos delitos maiores, funcionou até determinado período. Nesse cenário, traçando um paralelo entre a ação praticada pelo ex-prefeito de Nova Iorque, com e a polícia do estado da Bahia, surge a seguinte questão: A real condição financeira e os interesses políticos associados a ações de modernização por meio de um limite de tolerância atenderiam os anseios da sociedade no combate a criminalidade. Percebe-se que o que aparece na mídia é o combate aos transgressores das leis do idoso, do menor infrator, da mulher etc, ou seja, percebe-se o combate de delitos de menor intensidade, a exemplo de furtos, roubos e outros que, analisado de forma educacional, mantem uma distancia do que se considera “tolerância zero”, adotada em Nova York. Todavia, é possível que o estímulo esperado seja o desenvolvimento tecnológico e a educação profissional dos departamentos de polícia e a interação entre eles, diante de suas atribuições, dentro de suas realidades específicas, seja um caminho alternativo para atingir a excelência profissional no combate ao crime. A criminalidade vem crescendo tanto, que o dialogo entre as especificidades técnica da ação policial, poderá fazer a diferença no seu combate, principalmente quando se percebe a existência de uma boa correlação entre as Policias Especializadas, que podem promover uma mudança significativa na diminuição dos segmentos criminosos. u 137 U
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3. Asp ectos que compõem um modelo de capacitação de segurança pública Os governos quando amparados por doutos ou pensadores filosóficos se revestem de conhecimentos que independem de condições do local, espaço geográficos, tipo de governo, culturas, costumes e religião. Há uma certeza de formas de pensar e de agir mais condizente, ou seja, ao por em pratica uma ação, a mesma pode transmitir, certezas e credibilidades humanizadas, visto que, a política ao ser pensada pela via da educação poderá obter resultados mais confiáveis. Ressalte-se que, na forma do Estado do Direito de um povo, constituído de forma democrática, as instituições ganham credibilidade e flexibilidade para atender e designar propostas, observadas pelas sociedades civis organizadas. 3.1 Educadores e recursos, modeladores da realidade A dinâmica social conduzida pela educação, a curto, médio ou longo prazo, abre espaços de avaliações da conduta humana do que seja policia e delinquente. Por esse motivo que, não se pode pensar em combater criminalidade se não houver, também, recursos financeiro, administrativo e operacional para, efetivamente, trazer para a realidade instalada, de forma clara e objetiva, a ação de cada governo, com recursos priorizados no contexto de cada responsabilidade pela gestão. A falta desses recursos ou a falta de verbas enfraquece a vontade política de combate á criminalidade e para melhor estender o alcance desse objetivo vale lembrar a lenda de Robin Hood que, no passado, a margem da lei, defendia os u 138 U
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fracos e oprimidos. Lamentavelmente, na atualidade, os chefes de gangues procuram, também, trabalhar na proteção dos necessitados a partir do atendimento das suas necessidades básicas de sobrevivência, no sentido de contarem com a proteção social contra os crimes cometidos dentro dessa mesma sociedade que se sente por eles protegida. 3.2 Ações da policia especializada As ações das Policias Especializadas demandam pela criação de um sistema de comunicação que prime pelo relacionamento entre as unidades de atuação. Cabe registrar que a epecificidade é o estudo das informações adquiridas e transformadas em plano de ação para o combate especifico. Ao existir entre o elenco de especialidades a interrelação de sua funções, na prestação dos seus serviços, ganha os policias na condução mais ágil e mais eficaz, ganha o serviço público e ganha a sociedade como um todo. A promoção da capacitação tem como consequências: • a interação entre profissionais, • a troca de ideias sobre especialidades, que vao fornecendo dados comparativos e até mesmos subsídios para inquéritos que se encontram em andamento, • a discussão sobre medidas de prevenção, • novas formas de agir, naquilo que se tem a fazer, • diminuição das dificuldades que são frequentemente encontradas, • a captação de ações de combate a criminalidade, u 139 U
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• a inibição de ações criminosas • a transmitirão da confiança e o apoio da sociedade e da imprensa etc. Nesse cenário, deve-se levar também em consideração que o clima e a necessidade de um local condizente, também fazem a diferença. A programação da capacitação e a avaliação de desempenho devem agir como um estimulante, no sentido de constituir o início de uma nova Policia, com mais maturidade e dinamismo. A capacitação policial continuada vai criar uma cultura dentro de uma política de combate austero a criminalidade. “Nâo existe policial mal educado, despreparado, currupito e aptos a cometeres atos inseguros. O que se percebe é a utilização da condição insegura praticada pelo governate. As ideias do célebre educador brasileiro, autor da pedagogia do oprimido, Paulo Freire, defendiam o objetivo principal da escola: ensinar o aluno a ler o mundo para poder transformá-lo. E, de Rui é possível compreender os principios diretivos de uma capacitação policial, com a sua celebre frase: educai a criança e não precisarás reprimir o homem.
4. Diretrizes para ensinamentos continuados Capacitar a mão de obra que vai combater a criminalidade, não pode ficar sujeito somente a processo de treinamento
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inicial, devendo seguir “diretrizes de ensinamentos continuados”. Necessário se faz, também, o acompanhamento psíquico pedagogo, dos conselhos de segurança, da imprensa, do povo através dos seus representantes, entre outros segmentos superiores, para formatarem o que pode haver de melhor no uso da atuação preventiva, corretiva e ostensiva da segurança pública, principalmente diante do pessoal de ponta da polícia. Desse modo, abaixo é apresentada uma pesquisa qualitativa, relativa a temática: treinamento continuado em segurança hoteleira”, que subsidiou a elaboração de um trabalho dissertativo de conclusão do curso de mestrado em Ciências da Educação, o qual buscou delimitar o espaço de uma investigação que foi realizada no período 2014-2015. O trabalho foi intitulado de “A pertinência da educação formal: análises da necessidade da capacitação para a segurança hoteleira” e foi realizado em uma instituição de especializados em segurança corporativa, no segmento de hotelaria. A conclusão dessa pesquisa gerou ações e atitudes proativas para a melhoria do desempenho da segurança no segmento de hotelaria, enquanto segmento que requer especial atenção dos níveis de segurança. Participaram da pesquisa: Profissionais de segurança - 5 pessoas: 2 mulheres e 3 homens. Gestores hoteleiros- 5 pessoas: 4 homens e 1 mulher. Opinarios gestores - 12 Opinarios: 28 u 141 U
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Contagem geral: 50. Aspectos resumidos da pesquisa: Nível: Predominaram apenas, 2 níveis de escolaridades: nível médio e nível de graduação. Metodologia: foi utilizado o método da investigação qualitativo-quantitativo, descritivo e explicativo, em decorrência da necessidade de estudar os fenômenos, além da explicação casuística, encontradas nos entraves de aplicações de determinações e execução da tarefa em situações de emergências, no Município de Salvador, Bahia, Brasil, no período de 2014 a 2015. População: Foram aplicados pesquisas para um total de 60 pessoas onde nem todas direcionaram informações. Amostragem: Foi aplicado questionário para coletas de dados, associado a referenciais teóricos sobre o assunto, com 50 respondentes do questionário aplicado, mas a amostra foi formada por 40 nível médio e 20 nível superior e 5 profissionais de seguranças que auxiliaram nos desdobramentos das informações. Diante da análise verificou-se que o problema geral que direcionou essa pesquisa, ou seja, que a falta de segurança no segmento de hotelaria tem como causa a deficiência na aplicação de medidas adequadas de Segurança nos hotéis. Teve a sua hipótese confirmada, ou seja, que: a falta de segurança no segmento de hotelaria tem como uma das causas, a deficiência na aplicação de medidas de Segurança nos hotéis, dentre as quais a falta de capacitação, de plano de contingência e de emergência. u 142 U
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Desse modo o objetivo geral de: verificar se a falta de segurança no segmento de hotelaria tem como uma das causa à deficiência na aplicação de medidas de Segurança nos hotéis, dentre as quais a falta de capacitação, de plano de contingência e de emergência foi confirmado. Aos hotéis fica a oportunidade de utilizarem-se desse conhecimento a fim de promoverem as mudanças necessárias. Da pesquisa aplicada aos gestores dos hotéis e profissionais de segurança, destacou-se os comentários de três especialistas da hotelaria, com respostas que produziam convergência ou divergência, de forma a contribuir com a investigação, tal como seguem: A área de segurança sempre foi considerada um tanto quanto machista. Isso pode ser verificado no começo da história hoteleira e confirmado através desta pesquisa, em posicionamentos que sustentam esta tese. O percentual de participação masculina que foi de 74% evidencia e de 26% da participação feminina apontaram na pesquisa que, gradativamente, a participação feminina mais especifica no segmento da segurança hoteleira vem ocupando lugar de relevancia. É necessário, mais do que nunca, o monitoramento de ações, visando a manutenção, o incentivo a retidão de caráter dos profissionais que atuam na esfera policial. A educação continuada produz mais transmissão e aquisição de conhecimento. Ela é o cultivo lógico que envolve valores práticos e comportamentais, reforçando o caráter formado pelas emoções, mas, ciente do dever de ser, acima de qualquer ato, pois, é assim que a lógica entende. u 143 U
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Quanto menor for o número de corruptos e corruptores em uma Instituição, nesse particular, na polícia, maior será seu nível de credibilidade. Mas, para chegar a este nível é preciso uma corregedoria forte e alinhada com a maioria dos seus componentes, independentemente de funções, ai sim, se justifica corrigir na própria carne, até porque os procedimentos serão vistos, abordados e embasados nos princípios do treinamento continuado. Do ponto de vista social, acredita-se e espera-se um alivio para o sofrimento social e a diminuição de riscos peculiares no dia a dia dos cidadãos, acreditando no político como pessoa física, que entende que uma eleição, não é considerada um favor ou uma troca disponibilizada pelo voto em uma eleição, mas como algo que possa trazer desenvolvimento de uma comunidade diante de uma representatividade. Quanto ao educador, que sejam dotados de conhecimentos técnicos, históricos, filosóficos e contemporâneos, que favoreçam o desenvolvimento ético de cargos e funções exigidos pelo social.
Considerações f inais Do que ora analisamos concluímos que existe a buscar por ações de combate imediato aos desvios sociais, criminalidades etc, em médio ou longo prazo. Ocorre que a política, mais uma vez afirmamos é de gestão, é nesse passo, que sentimos a sensação térmica que a criminalidade esta a beira de virar o jogo. Resposta para isto está na certeza de que o ser humano é único na diversidade humana. Como é mais fácil u 144 U
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juntar grupos menores, percebemos que entra governo e sai governo e o crime continua, ás vezes mudando de roupa mais com o mesmo objetivo. A bem da verdade os dados estatísticos representam números reais de fatos ocorridos e, caminhando lado a lado com esses números estatísticos segue a necessidade de ações, educadoras, no sentido de antever o que pode ocorrer no amanhã, preparando ações para futuros paradigmas. Por falar em paradigmas, é uma consequência natural e fruto da globalização diante da inquietação humana na busca do saber, que fortalece o ser humano na continuidade da sua presença física em seu espaço demarcado. Onde esta a nossa felicidade, precisamos perceber os outros e traçarmos a nossa realidade. Ser feliz, podemos comparar com a própria fiscalização da lei e de si mesma. Para pensar em fazer segurança Pública, precisamos pensar em planejamento e efetivação de ações que atravessem décadas, tendo a frente à escola, o saber ser, saber conhecer, saber viver juntos, com professores comprometidos com a qualificação profissional.
Referências ALMEIDA, Jr. A. Lições de Medicina Legal. 19ª edição revisada e ampliada. Ed. Nacional. São Paulo.1987.
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CAVALCANTI, Ascendiro. Criminalística Básica. Edição Raiz. Pernambuco. 1985. F.B.I. Law a Enforcemente, Bulletin – Volume 67 – nº 02, FBI, EUA, 1998. GIRALDI, Nilson. Tiro Defensivo na preservação da vida. M-19 PMESP. Matarazzo, Claudia – Etiqueta Sem Frescura – 2ª Edição. São Paulo, Brasil - 2011. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de Processo Penal Interpretado & Código Penal Interpretado. Editora Atlas. Ano 2000. OLIVEIRA, Jarbas Santos. A Visão de Segurança Hoteleira – ________ A Arte da Investigação e Contos Investigados na Hotelaria. RIBEIRO, Haroldo A Base para a Qualidade Total, 5S, 2ª. Edição de 1994. SILVA, Cel. JORGE, Controle da Criminalidade e Segurança Pública, na nova ordem constitucional. 2ª. Edição. De 1999. SOUZA, Arminda Mendonça e CORREIA, Marcos Vinicius M. Turismo, Conceitos, Definições e Siglas. 1998.
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INCLUSÃO DIGITAL NAS SERIES INICIAS DO ENSINO FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE BARRA DO ROCHA-BAHIA Jer u z a Ro c h a Li m a Arc a nj o E mai l : jer uz a p e i @ h o t m a i l . c o m
Resumo Um imenso avanço tecnológico no contexto social provoca transformações nas diferentes áreas, seja: cultural, social, econômica, política, educacional o que requer da sociedade adaptação, aquisição e ampliação urgente das possibilidades de informação e comunicação, ficando evidente a necessidade da inclusão digital em todas as camadas sociais. Esse processo vem sendo desenvolvido nas escolas através de programas do governo no intuito de capacitar os profissionais da educação para o uso das novas tecnologias na prática pedagógica, entretanto no cotidiano escolar das escolas públicas não presenciamos as tecnologias digitais como ferramentas facilitadoras que contribuem para a melhoria do processo ensino aprendizagem. Partindo desse contexto a presente pesquisa pretendeu analisar e compreender como o processo de u 147 U
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inclusão digital ocorre nas séries inicias do ensino fundamental do município de Barra do Rocha para intervir na elaboração de estratégias capazes de propiciar o uso adequado das tecnologias na promoção da aprendizagem dos alunos. Palavras-chave: Inclusão digital. Educação. Políticas públicas.
1. Intro dução Atualmente é quase impossível falar em educação sem citar o uso das novas tecnologias de informação e comunicação na valorização e na melhoria da educação, bem como fazer uso das mesmas em sala de aula, considerando que estas tornam-se cada vez mais necessárias as discussões e reflexões acerca dessa inclusão. É bem visível o avanço rápido das tecnologias, o que torna cada vez mais urgente a necessidade da inclusão digital em diferentes meios sociais, impelindo os profissionais a acompanharem esse ritmo de desenvolvimento para o atendimento das novas exigências da sociedade globalizada. Isso requer que os profissionais de educação se posicionem mais rapidamente a respeito do seu uso, já que a inclusão digital está presente no dia a dia das pessoas, se colocando como um recurso atraente, inovador, dinâmico, que facilita a compreensão da realidade e, consequentemente, gerando novas possibilidades de mediação entre indivíduo e conhecimento. Sobre essa questão Teixeira e Marcon (2009, p.117) e Pozo (2002, p.32) alertam que estamos mergulhados na sociedade da aprendizagem. Todos somos, em maior ou em menor u 148 U
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grau, alunos e professores e é essa atitude que diferencia a situação da aprendizagem na sociedade contemporânea. As práticas educacionais, portanto, precisam ser pensadas como formas por meio das quais o sujeito possa ser estimulado a participar ativa e significativamente de todos os processos de construção do conhecimento. Cabe à escola repensar suas práticas e adaptar-se para uma possível inserção nesse processo de construção do conhecimento por meios virtuais, que vai mais além do que a oralidade e a escrita, como também, de recursos tradicionais como: giz, lousa e cartilha ou livro didático. Faz-se necessário promover e desenvolver o conhecimento tecnológico entre os alunos e profissionais, mediante a utilização de mídias, como hardware e software, hipermídia, redes de computadores, aplicativos e bancos de dados, dentre uma infinidade de opções capazes de favorecer a educação para hipermídia. Em plena era da informação é imprescindível o aproveitamento dos benefícios propostos pelos avanços demandados, principalmente pela globalização, no sentido de preparar as pessoas para o campo profissional, que exige cada vez mais das pessoas essa assimilação. A partir dos questionamentos sobre o uso das tecnologias digitais nas escolas, emergiu o interesse pela presente pesquisa, que objetivou investigar como ocorre o processo de utilização de tecnologias digitais nas séries iniciais do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino de Barra do Rocha-BA, na perspectiva da inclusão digital. Para que o citado objetivo fosse alcançado observou-se: a forma como é tratada a inclusão digital na rede municipal de ensino do município. u 149 U
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Assim sendo, promoveu-se uma pesquisa qualitativa, com levantamento de dados nas escolas municipais, visando conhecer a existências de laboratórios de informática nas escolas e seu devido funcionamento, assim como buscou-se identificar possíveis empecilhos que poderiam dificultar a inclusão digital nas escolas.
2. Os avanços tecnológicos e as transformações na so ciedade Os avanços e transformações no campo tecnológico, principalmente das tecnologias digitais vêm mudando, significativamente a sociedade e, ao tempo em que lhe é exigida adaptação às novas vivencias, pelas transformações cada vez mais crescentes, lhe é exigida, naturalmente, conhecimentos e capacidades que permitam ao indivíduo interagir com o mundo. Moran (2007, p.167) afirma que: Quanto mais avançadas as tecnologias, mais a educação precisa de pessoas humanas, evoluídas, competentes, éticas. São muitas informações, visões, novidades. A sociedade torna-se cada vez mais complexa, pluralista e exige pessoas abertas, criativas, inovadoras, confiáveis. A vida na sociedade contemporânea, denominada por Lemos e Costa (2005, p. 2) “Sociedade da Informação” requer conhecimentos e aprendizagens que possam refletir nas mais variadas áreas existentes na sociedade. Existe na sociedade da informação e da comunicação uma variação de informações que, uma vez compartilhadas, criam no indivíduo a capacidade de organização e de autonomia para construção do próprio conhecimento. O acesso às tecnologias digitais está sendo cada vez mais rápido e fácil, sendo necessário as escolas u 150 U
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acompanharem esse ritmo, já que as tecnologias têm se tornado ferramentas de grande importância para a geração de indicativos de desenvolvimento econômico e inclusão social no país. E as redes de comunicações atuais oferecem a cada instante momentos de interação que podem satisfazer as necessidades do indivíduo em um curto período de tempo. Assim sendo, cabe à educação repensar seus projetos pedagógicos, intencionando a sua adaptação às exigências, tanto do mercado tecnológico, quanto da sociedade que vive ativamente o avanço dessas tecnologias. Não resta dúvida sobre a importância do uso das tecnologias digitais na educação para uma efetiva melhoria na qualidade e avanço da mesma, mas também se apresenta como um grande desafio por sabermos da forma como são introduzidas na maioria das vezes. De nada adianta defendermos a inserção e utilização dessas tecnologias se as mesmas não forem trabalhadas dentro do contexto escolar e por pessoas preparadas, ou seja, de forma adequada e suficiente para preparar todos os envolvidos, e assim, realizar o que se pretende com o uso desses recursos tecnológicos, evitando cair num equívoco grande: “o modismo tecnológico”. 2.1 Influência das tic’s na sociedade da informação e nas políticas públicas de inclusão digital Hoje com o advento da revolução tecnológica se exige de todas as esferas da sociedade uma adaptação urgente às novas demandas e aos novos meios de comunicação que têm assumido papel principal na construção do conhecimento. O uso das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) u 151 U
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atualmente tem facilitado a busca pelo aprender, contudo o indivíduo participa ativamente dessa construção do conhecimento, intencionando a busca de respostas para suas indagações pessoais e cotidianas. Nesse sentido, Corso (2007, p.17) declara que: Pela enorme influência que essas TICs, especialmente a computação, têm exercido atualmente na educação, é que se torna necessária uma reflexão sobre a concepção de aprendizagem que deverá perpassar a utilização dessa tecnologia na prática educativa. A democratização do acesso às tecnologias digitais perpassa por políticas públicas coerentes que valorizem e percebam a inclusão digital como um dos elementos fundamentais na inserção do indivíduo na sociedade atual e deve ser disponibilizado a todos os indivíduos independente de cor, credo, raça ou grupo social, necessitando apenas de políticas coerentes com a contemporaneidade e que possam enxergar a inclusão digital como fundamental para a inclusão do indivíduo no mundo atual. Corroborando com a ideia acima, Teixeira e Marcon (2009, p.17), afirmam que: o papel fundamental de políticas públicas que fortaleçam todos os envolvidos no processo educacional e que considerem universidades parceiras na busca de uma educação baseada na lógica das redes, reconhecendo processos de inclusão digital como fundamentais para o exercício da cidadania e possibilitando aos professores a vivência e o desenvolvimento de uma cultura de rede. Entendemos que a utilização das tecnologias digitais no intuito de fortalecer o indivíduo, nos mais diversos aspectos, acontece somente quando há a inclusão digital. u 152 U
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Em afirmação, Grispun (2009, p.37) diz que: Como as tecnologias são complexas e práticas, ao mesmo tempo elas estão a exigir uma nova formação do homem que remeta à reflexão e compreensão do meio social em que ele circunscreve. Esta relação – educação e tecnologia - está presente em quase todos os estudos que têm se dedicado a analisar o contexto educacional atual, vislumbrando perspectivas para um novo tempo marcado por avanços acelerados. Entendemos que além de utilizar os instrumentos tecnológicos, para a inclusão digital acontecer é de fundamental importância que os profissionais envolvidos e responsáveis pela formação do indivíduo, para o posterior exercício da cidadania, sejam capacitados e capazes de compreender e refletir sobre o meio social, no qual vivemos, se utilizando das tecnologias digitais. Diante do avanço acelerado das TIC’s (Tecnologias da Informação e Comunicação) percebe-se que há uma grande quantidade de indivíduos não alfabetizados digitalmente, principalmente profissionais de educação que tem como desafio promover a inclusão digital. Sabemos que não é fácil, também, entre os profissionais da educação promover tal inclusão quando temos docentes que resistem a fazer parte desse novo cenário tecnológico. Todavia, são impelidos pelo próprio sistema social a entender as novas tecnologias que invadem o mundo com força e rapidez que deixa-nos perplexos com tanta inovação. Para fazer a citada inclusão digital no país, fazendo com que um direito proporcionado ao aluno e intencionando a capacitação de professores e corpo técnico responsáveis diretos pela inclusão digital no âmbito educacional foi que o u 153 U
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MEC criou alguns programas de inclusão digital, a exemplo de: Proinfo Integrado (Programa Nacional de Formação Continuada de Tecnologia Educacional); As tecnologias da informação e comunicação – TIC – no cotidiano escolar, articulado à distribuição dos equipamentos tecnológicos nas escolas e à oferta de conteúdos e recursos multimídia e digitais oferecidos pelo Portal do Professor, pela TV Escola e DVD Escola, pelo Domínio Público e pelo Banco Internacional de Objetos Educacionais (MEC, 2011), entre outros que vem contribuir para a formação tecnológica aliada as práticas educativas. As tecnologias da informação e comunicação (TICs) vêm ganhando espaço no setor educacional, com fortes expectativas de melhorias para a economia do país em curto prazo. Sabemos que, em momento de expansão tecnológica, a educação não pode negar ou simplesmente ignorar o que se passa fora da escola, já que é indispensável à utilização das tecnologias digitais para a inovação e interação com o mundo. Contudo, se faz imprescindível a inclusão de todos, tanto digitalmente quanto socialmente. Para isso, Moran (2007, p. 39) diz que: Uma educação inovadora se apoia em um conjunto de propostas com alguns grandes eixos que servem de guia e de base. As tecnologias favorecem mudanças, mas os eixos são como diretrizes fundamentais para construir solidamente os alicerces dessas mudanças. As bases ou eixos principais de uma educação inovadora são o conhecimento integrador e inovador; o desenvolvimento de autoestima/autoconhecimento; a formação do
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aluno empreendedor; a construção do aluno-cidadão, e o processo flexível e personalizado. É bem visível que o favorecimento de uma educação inovadora requer muito mais do que simplesmente querer ou utilizar as Tecnologias em sala de aula. Entendemos que fazer educação de qualidade no país está atrelando a uma série de necessidades fundamentais, como: proposta de políticas públicas eficientes, valorização do profissional da educação, melhoria da qualidade de vida dos educandos, melhores condições de trabalho, logística e infraestrutura das escolas etc. Tudo isso pode acontecer quando a prioridade política passar a ser a Educação do nosso País, mas esperança é o que nos resta depois de uma história de tantos desmandos e descrédito que nos marca profundamente. 2.2 Como as novas tecnologias podem contribuir nas práticas educativas das séries iniciais Investir numa metodologia de ensino capaz de fazer imergir as novas tecnologias em favor da interação dos alunos nesta sociedade da informação anulando, assim, as diferenças sociais e diminuindo as distâncias do saber. Ao se utilizar diferentes mídias que contribuem para a apropriação de um ambiente de comunicação dinâmico e atraente que desperte no educando o interesse, curiosidade em aprender os conteúdos. Portanto, o tema inclusão digital no ambiente escolar envolve, principalmente, o professor que necessita capacitar-se para o uso adequado e preciso dos recursos tecnológicos atrelados as disciplinas; enquanto o aluno como sujeito ativo, construtor do conhecimento que ao interagir u 155 U
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com as mídias desenvolve novas capacidades e alcança as habilidades necessárias de maneira significativa e efetiva permitindo novas formas de colaboração, interatividade, conhecimento e cidadania. Para Menezes (2010, p.122) não se pode cobrar um bom desempenho das escolas se elas estiverem décadas atrás do que já se tornou trivial nas práticas sociais, e isto é uma realidade, pois há escolas com salas de informática onde a estrutura física aparentemente sustenta a ideia de escola munida de tecnologias, porém não há apropriação das mesmas, o que acaba tornando o uso obsoleto, uma vez que os professores muitas vezes não estão preparados para utilizar estas tecnologias. Atualmente a interatividade que os alunos têm com as tecnologias são mais avançadas do que possuem seus professores ou pais, isto, pois já nasceram na era da informação e compreendem melhor a linguagem virtual do que a textual, devido a interagir com as ferramentas tecnológicas desde bebes. Enquanto, a maioria dos professores por ser emergentes nesse processo de novas tecnologias fica, muitas vezes, distante dessa prática seja por medo, comodismo ou dificuldade em adaptarem-se as mídias tecnológicas. Isso não significa que a educação atual seja pior ou ultrapassada, mas a realidade em que o aluno está imerso está mudando e a escola precisa acompanhar esta evolução. Pode-se considerar que algumas tecnologias digitais, como computadores, já estão familiarizadas na escola, sendo que muitas destas focam em laboratórios de informática no espaço escolar como meio de captar alunos, uma estratégia de u 156 U
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marketing. Porém seu uso muitas vezes não funciona como deveria: uma ferramenta a serviço da melhoria do ensino e aprendizagem. Em muitas escolas públicas, principalmente, esses laboratório ficam obsoletos, nunca foram utilizados. O que leva a deterioração dos materiais por falta de uso, isto acontece na maioria das vezes devido: espaço inadequado para funcionamento dos recursos tecnológicos; profissionais não capacitados para interagir com as ferramentas tecnológicas e disciplinas; gestão escolar rígida, descompromissada que não otimiza os recursos que possuem, dentre outros. Entretanto, deveriam, sim, ser considerados como tecnologias de informação e comunicação que possuem grande contribuição para um ensino estruturado e inovador. De acordo com Alba (2006, p.144) as novas tecnologias baseadas nas telecomunicações abrem possibilidades de utilização para gerar novas formas de comunicação, interação com a informação e socialização em contextos educativos. Ignorar as tecnologias digitais, se os próprios alunos não ignoram e elas estão amplamente acessíveis, é algo inconcebível na atual realidade, ao passo que com a evolução tendemos a avançar cada vez mais tecnologicamente. Por exemplo, hoje em dia é difícil um estudante de ensino fundamental ou médio que não possua celular, computador que utiliza constantemente as redes sociais, então porque não incluir os recursos midiáticos nas atividades didáticas como forma de promover uma dinamização no ensino e aprendizagem. As tecnologias abrem um imenso leque de recursos didáticos para educadores.
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Muitas escolas, por enquanto, não a utilizam por, ainda, estarem presos a metodologias tradicionais, onde os recursos são simplesmente: lousa, giz, aulas expositivas que cansam e desinteressam os alunos a permanecerem em sala de aula. Contudo, os jogos ou brinquedos pedagógicos desenvolvidos com a intenção explícita de provocar uma aprendizagem significativa, estimula a construção de novos conhecimentos e amplia a capacidade cognitiva que possibilita uma melhor intervenção do indivíduo no meio social e cultural que está inserido, ajudando-o a ampliar as conexões. Sendo assim, segundo Antunes (1999) os jogos ou as atividades didáticas podem vir a estimular mais explicitamente as inteligências, conforme abaixo: • Inteligência Linguística – Estimula: Vocabulário; Fluência verbal; Gramática; Alfabetização e Memória verbal. • Inteligência Lógico-Matemática – Estimula: Conceituação; Sistemas de numeração; Operação e conjunto; Instrumentos de medida e Pensamento lógico. • Inteligência Espacial – Estimula: Percepção auditiva; Orientação espacial; Orientação temporal; Criatividade e Alfabetização cartográfica. • Inteligência Musical – Estimula: Percepção auditiva; Discriminação de ruídos; Compreensão de sons; Discriminação de sons e Estrutura rítmica. • Inteligência Cinestésico Corporal – Estimula: Motricidade e coordenação manual; Coordenação viso u 158 U
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motora e tátil; Percepção de formas; Percepção de fundo; Percepção de peso e tamanhos; Paladar e audição. • Inteligência Naturalista – Estimula: Curiosidade; Exploração; Descoberta; Interação e Aventuras. • Inteligência Pictórica – Estimula: Reconhecimento de objetos; cores; formas e tamanhos; Percepção de fundo e Percepção viso motora. • Inteligência Pessoal – Estimula: Percepção Corporal; Autoconhecimento e relacionamento social; Administração das emoções; Ética e empatia; Automotivação e comunicação interpessoal. Portanto, o uso adequado dos recursos oferecidos pelas tecnologias digitais, através de materiais educativos multimídia, pode auxiliar nesse processo educativo, para tanto faz-se necessário capacitar os professores urgentemente nessa área. Segundo Vygotski (1988) a Educação não fica a espera do desenvolvimento intelectual da criança e que a função da escola, tendo o professor como mediador da aprendizagem, é levar o aluno adiante, pois quanto mais ele aprende mais se desenvolve mentalmente. 1.3 Multimídia e atividades digitais A multimídia é a combinação de texto, som, imagem, animação e vídeo, ou seja, incorpora todas as mídias existentes para representar uma informação. É, por isso, uma forma poderosa de comunicação, pois ganha e mantém a atenção e o interesse do aluno e com isto promove a retenção da u 159 U
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informação. Para a Educação, uma atividade didática multimídia bem empregada, é um recurso poderoso, pois, estimula todos os sentidos e pode oferecer uma experiência melhor que qualquer outra mídia sozinha. As atividades digitais multimídia, na sua maioria, possuem grande apelo visual, acabam encantando pelo layout com cores vibrantes, som e movimento e fascinando até o professor que muitas vezes tem um conhecimento limitado de computação e se impressiona com a interface colorida, o áudio e os vídeos, principalmente nos produtos direcionados às crianças. Os empresários contam com isto para venderem seus produtos. Portanto, é preciso uma análise criteriosa, antes de se usar materiais multimídia, ditos educacionais, pois, muitos destes produtos são desenvolvidos sem a orientação de profissionais como pedagogos, psicólogos, tecnólogos educacionais e por isso mesmo não possuem o comprometimento com o processo educativo. Baseados em Piaget e Vygotski, 1988 os estudos, sobre a psicogênese da língua escrita, desenvolvidos por Ferreiro e Teberosky (1994) comprovam que a criança reconstrói o código linguístico e reflete sobre a escrita. Sendo assim, conhecendo-se os diversos níveis conceituais linguísticos da criança, existem no mercado digital diversas aplicações com atividades lúdicas envolventes e desafiadoras para que a criança possa construir o conhecimento da base alfabética. A exemplo, podemos verificar certos jogos e brincadeiras virtuais que muitas crianças são estimuladas desde casa pelos pais a utilizar determinados recursos tecnológicos, haja vista o mercado virtual investe na promoção de vendas de tais recursos, conforme apresentado abaixo: u 160 U
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Sites educativos que estimulam o aprendizado interativo e dinâmico que encantam e desafiam as crianças bem mais que apenas lousa e giz, conforme apresentado abaixo:
De acordo com Levy (1993, p.23) o grande desafio que os educadores modernos enfrentam está relacionado à aplicação prática do computador, não como ferramenta, mas como u 161 U
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elemento integrador do processo de ensino-aprendizagem. Percebe-se que não há investimento nessa área, sendo fundamental criar um espaço para promover a interação entre os elementos midiáticos com objetivo de propiciar a autonomia do aluno e a construção de conhecimento de distintas áreas do saber, por meio de ferramentas pedagógicas educativas que desenvolvam as habilidades referentes a cada etapa do desenvolvimento da criança para a melhor compreensão e aquisição dos novos conhecimentos.
Considerações f inais Na sociedade contemporânea convivemos com avanços tecnológicos contínuos que têm provocado mudanças aceleradas, o que exige novas adaptações as demandas que vão surgindo. Assim, a escola não poderia ficar a parte desse processo de transformações, tendo que adaptar-se para que possa rapidamente qualificar e tornar os sujeitos aptos, inclusive, para o mercado de trabalho, o qual está muito bem preparado para o uso dessas tecnologias, isto porque facilita e promove maior e melhor produtividade. A tentativa de inclusão digital nas escolas ainda não tem sido bem definida, é preciso pensar em políticas públicas que favoreçam a inserção desses novos recursos midiáticos, já que não se tem uma finalidade didático-pedagógica clara e bem orientada. A mediação feita através de tecnologias digitais na escola requer entendimento e reflexão antecipada sobre a realidade, o que requer profissionais bem preparados para lidar com as tecnologias de informação para que não aconteça um uso a u 162 U
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crítico desses meios gerando uma desestruturação do saber, incorrendo a um erro considerável. Dessa forma, o professor pode utilizar essas ferramentas tecnológicas para propor estudo de temas de outra maneira dando subsídios à criança para construir o conhecimento conforme seu ritmo, de forma agradável, agregando entretenimento, informação e ludicidade. Percebemos que as escolas do município dispõem de ferramentas tecnológicas básicas para uso com enfoque pedagógico, mas em sua maioria estão sem uso por falta de incentivo, infraestrutura inadequada ou até mesmo por falta de preparação técnica pedagógica para a utilização dessas tecnologias na prática docente. Assim será possível um novo olhar a respeito das TIC’s na busca por uma educação inclusiva que atenda as demandas da sociedade, evitando a exclusão digital que permitirá mais valorização e menos alienação.
Referências CORSO. Silvia Andréa. Interligação digital: uma alternativa para inclusão digital em escolas das redes públicas de ensino. 122p - Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Administração) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2007. CRUZ, Renato. O que as empresas podem fazer pela inclusão digital. São Paulo: Instituto Ethos, 2004. Disponível em: <http://www.cdi.org.br/manual/inclusao.pdf>. Acesso em: 11/Out./2011. u 163 U
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CENTROS DE DISTRIBUIÇÃO: ASPECTOS CONCEITUAIS E PROBLEMAS PARA MEDIÇÃO DO DESEMPENHO E d van d o Fe r na nde s G o m e s ad mefg @g m a i l . c o m
Resumo O rápido desenvolvimento tecnológico e a consequente necessidade de desenvolver sistemas que racionalizem o uso dos recursos existentes sejam físicos, humanos ou financeiros, por meios de processos que reduzem os custos e maximizem os benefícios, tem acarretado constantes mudanças nas organizações, para que elas obtenham sucesso. Os Centros de Distribuição (CDs) são responsáveis pela agilidade e eficiência no abastecimento das lojas e, a complexidade de suas operações, se não bem definidas, pode gerar um resultado inverso, ou seja, aumentar os custos e causar a falta de produtos nas gôndolas dos supermercados por atraso nas entregas. Autores afirmam que investir em CDs deixou de ser uma questão operacional para se tornar uma questão estratégica e, quem sair na frente vai ganhar diferencial competitivo para conquistar u 166 U
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o mercado, já quem não apreender essa percepção vai ter que dificuldades para sobreviver no mercado competitivo. Sobressair-se nessa guerra significa oferecer produto, marca, preço e quantidade certa na hora que o consumidor desejar, e isso só é possível via um CD. Dificuldades para a medição de desempenho em centros de distribuição são recorrentes por não existirem estudos concisos frente a esse aspecto no que tange a medição de desempenho de um setor tão relevante para a movimentação da economia. Palavras-chave: Centro de distribuição. Operações. Medição de desempenho.
1. Intro dução Os b enef ícios de um Centro de Distribuição em uma organização são inúmeros: redução dos estoques e da estrutura de retaguarda nas lojas, mão de obra, falta de produtos e varias, ganho de escala, eliminação de atividades que só agregam custos, melhor acuidade no controle de estoques, otimização no carregamento dos veículos de transportes de cargas, maior eficiência operacional de toda a rede, entregas palatizadas e centralizadas. Desta forma, torna-se uma necessidade a busca por uma excelente localização de um Centro de Distribuição que contenha um galpão nas condições necessárias e suficientes para atendimento à organização. A operação de um centro de distribuição (CD) envolve uma coordenação detalhada de suas diversas atividades. Para atingir uma eficiência maior nas operações, os CDs u 167 U
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costumam investir em tecnologia de ponta. No entanto, algumas vezes se deixa de lado um dos pontos mais críticos para a eficiência e redução de custos: os processos. Claro que a tecnologia tem um papel crucial na otimização das atividades, mas sem os processos adequados o CD não terá bons resultados. Conforme aumenta a complexidade das operações (mais fornecedores, clientes e itens), aumenta também a importância do gerenciamento dos processos. Deve-se monitorar a mudança na realidade operacional do CD para modificar os processos de forma correspondente. Usar os mesmos processos antigos para uma operação que cresce em complexidade somente levará a um maior índice de erros, baixa produtividade e atraso nas entregas.
2. O CD e os pro cessos documentados Um dos aspectos a considerar em um CD é a entrada de materiais. Se a área de recebimento é um gargalo, é necessário encontrar a causa raiz. A ineficiência na entrada multiplicará seus efeitos ao longo da operação, e as outras áreas sempre terão que correr atrás do prejuízo. Ao cometer erros na entrada de materiais, a pressão aumenta nas fases seguintes e aumenta também o risco de mais erros adiante. Custos maiores e uma má qualidade de serviço para o cliente será o resultado final. O CD deve ter processos documentados, detalhadamente, nas áreas de: • Agendamento da chegada de materiais – para evitar picos de trabalho, onde deve-se ter um processo que u 168 U
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coordene a chegada de materiais de forma distribuída ao longo do período de trabalho; • Planejamento de Pré-Recebimento e Documentação – devem-se definir quais processos podem ser realizados antes da chegada do material, e a documentação que deve ser preparada previamente. • Procedimentos de Chegada e Descarga de Veículos – detalhar estes procedimentos evitará erros de colocação e danos aos materiais, além de aumentar a segurança (física e contra roubos). • Procedimentos de Controle de Qualidade – as atividades de controle da qualidade devem seguir estritamente os padrões definidos. Estes padrões devem ser documentados e seguidos nos procedimentos de entrada. Com esses processos definidos será mais descomplicado avaliar se os procedimentos estão sendo seguidos. Assegurar que os funcionários estão bem treinados e sabem que serão beneficiados (financeira ou profissionalmente) com a eficiência dos processos de entrada. Para coleta de itens no armazém podemos utilizar o sistema de Picking, ou separação e preparação de pedidos é, normalmente, a atividade de maior custo na operação de um CD. Portanto, até melhorias incrementais gerarão benefícios na produtividade como um todo. O principal componente do tempo de picking é a distância percorrida pelos funcionários para coletar os itens, com uma definição dos processos que u 169 U
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reduzam as distâncias percorridas, podem-se obter melhorias consideráveis na produtividade da operação. Alguns processos que podem ser implementados com este objetivo são: Análise ABC, para definir os itens com alta, média e baixa rotatividade, e redistribuir o layout de materiais para que os de maior rotatividade fiquem mais próximos entre si e à saída de materiais. Usar “flow racks” para itens pequenos, que podem estar ocupando espaços de paletes normais, aumentando o espaço ocupado e as distâncias entre os materiais. Para itens de baixa rotatividade, usar armazenagem e picking multi-nível, otimiza o espaço no armazém e reduz as distâncias percorridas. Para pedidos de baixo volume, usar “batch picking”. Este sistema faz com que o funcionário colete o material para várias ordens de uma vez, ao invés de fazer uma viagem para cada ordem pequena. Novamente, o treinamento da equipe é essencial para que estes processos surtam os efeitos desejados na operação. Analisar como são estocados os materiais entrantes. Existe um processo claro que é seguido? Ou existe uma correria e a armazenagem é feita de forma quase aleatória? Desta forma os indicadores mostram-se indispensáveis para mensuração e analise dos processos logísticos inerentes aos CDs. A frase “você não pode melhorar o que não pode medir” já é conhecida por todos. No entanto, muitas vezes ainda são utilizados os indicadores incorretos para a operação u 170 U
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do CD. Por exemplo, um CD pode ter como seu indicador principal o “Custo por Palete Processado”. Esta é uma boa medida para a alta gerência, mas não é um bom indicador para os responsáveis pela execução da operação e definição de processos. Além disso, um fator externo pode tornar este custo mais alto, enquanto a equipe fez um ótimo trabalho ao minimizar o aumento dos custos. Os indicadores da operação devem refletir a verdadeira produtividade da organização. Deve-se sempre procurar um equilíbrio entre indicadores de alto nível e indicadores que podem ser entendidos pelos agentes da cadeia logística e servir como referência para as ações de melhoria.
3. Medição de desempenho: asp ectos conceituais Apesar da relevância do tema, medir o desempenho organizacional é algo ainda não totalmente solucionado pelos pesquisadores da área de Administração, os quais estão constantemente em discordância quanto à utilização de apenas fatores objetivos, apenas fatores subjetivos ou ambos. Veremos a seguir opiniões que norteiam esse tema. De acordo com Crozatti e Guerreiro (2003) os processos de gestão empresarial, responsáveis pela condução das atividades tanto em nível estratégico como operacional tem recebido atenção de maneira mais intensa nos últimos anos, principalmente no que tange a diversidade de conceitos e modelos de mensuração e de avaliação do desempenho construídos no intuito de preparar as organizações para enfrentarem os desafios do ambiente competitivo. u 171 U
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Segundo Kaplan e Norton (1997), as organizações têm tentado se inserir no mercado competitivo lançando mão de diversas iniciativas de melhoria. Entretanto melhorias de desempenho exigem mudanças também nos sistemas de mediação e gestão utilizados pelas empresas, pois é impossível atingir a excelência empresarial controlando apenas as medidas financeiras do desempenho passado, visto que os executivos necessitam de indicadores sobre vários aspectos do ambiente e desempenho organizacional. Para os autores, o ideal seria que o modelo de contabilidade financeira se ampliasse de modo a incorporar a avaliação de ativos intangíveis e intelectuais de uma empresa, porém existe a dificuldade de se atribuir um valor financeiro confiável a esses ativos. Segundo Machado et al (2003), as empresas, no passado, tomavam decisões baseadas unicamente em informações financeiras, porém atualmente, as tomadas de decisões envolvem um maior número de variáveis, exigindo uma grande preocupação entre os gestores com indicadores como: satisfação de clientes, qualidade dos produtos, participação no mercado, retenção de clientes, fidelidade dos clientes, inovação, habilidades estratégicas e outros. Wanderley et al (2003) dizem que os métodos de avaliação do desempenho empresarial, que se baseiam apenas em indicadores contábeis e financeiros, vêm se tornando insuficientes. É esse contexto que explica o surgimento de diversos modelos de mensuração de desempenho, com o propósito de gerenciar eficientemente as informações corporativas (financeiras e não financeiras) que dão suporte à tomada de decisões. Um grande número de empresas está na busca u 172 U
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incessante por tais sistemas, gerando assim a necessidade de maiores estudos sobre sistemas de medição de desempenho. De acordo com Kaplan e Norton (1997), o Balanced Scorecard seria uma possível solução para esta problemática, pois representa um sistema de mensuração com indicadores financeiros e não financeiros. Suas medidas focalizam o desempenho organizacional sob quatro perspectivas: financeira, do cliente, dos processos internos e de aprendizado e crescimento; equilibrando-se entre medidas objetivas, de resultado e facilmente quantificáveis, e vetores subjetivos, até certo ponto arbitrários, das medidas de resultado. Os autores destacam que o Balanced Scorecard conserva a perspectiva financeira, pois estas medidas indicam se a estratégia de uma empresa, sua implementação e execução estão contribuindo para a melhoria dos resultados. Quanto à perspectiva do cliente, estão entre as medidas essenciais de resultado a satisfação, a retenção, a atração e a lucratividade dos clientes. Sendo assim, esta torna-se imprescindível, então, para a fidelização destes. Por meio das perspectivas dos processos internos, os gestores identificam os processos internos críticos nos quais a organização deve alcançar a excelência. As medidas estão voltadas para a qualidade, tempo de resposta, custo e lançamento de novos produtos. Já a perspectiva do aprendizado e crescimento identifica a infraestrutura que a empresa deve construir para gerar crescimento e melhoria à longo prazo. Cabem aqui medidas de resultado baseadas nos funcionários, tais como satisfação, retenção, treinamento e habilidade destes.
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Diante do cenário atual o aumento da competitividade faz com que as empresas busquem constante inovação em seus processos utilizando-se de novas metodologias, como ferramentas de melhoria de produção e de qualidade de serviços prestados aos seus clientes, objetivando alcançar a excelência em seu empreendimento. De acordo com Gonçalves (2002), a característica essencial para uma organização é a capacidade de aplicar com sucesso seus indicadores para a medição de seu desempenho, possibilitando um maior conhecimento de seus processos, relacionados com os pontos críticos de sucesso, permitindo uma avaliação contínua da eficiência de seus processos e pessoas. Complementando, a gestão organizacional deve estar embasada na indicação apontada por suas medidas de desempenho. Segundo Slack et al. (1997), não existe possibilidade de reduzir a complexidade do desempenho de um negócio a um único indicador, há necessidade real de aplicar diversos indicadores para atingir os mais variados aspectos onde a estratégia de negócio se realiza. É necessário também compreender que os indicadores devem interagir para que se constituam em instrumentos eficazes de gestão.
4. Meto dologias para medição de desempenho organizacional As metodologias de avaliação de desempenho sempre estiveram presentes no processo evolutivo da humanidade. O ser humano está constantemente sendo avaliado pelos u 174 U
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membros da sociedade em que está inserido. Obviamente, este processo toma formas variadas de acordo com sua finalidade e objetivos dos avaliadores. Nas organizações a medição de desempenho é um processo presente e de grande importância para a vida dos funcionários, poder determinar o sucesso ou fracasso pessoal, profissional ou organizacional. A razão de ser objeto de estudo pesquisado cada vez mais no âmbito das empresas e da academia mostra que sem a avaliação de desempenho adequada não há sistema integrado e eficaz de gestão empresarial. As mudanças em nossa sociedade ocorrem com uma grande velocidade, principalmente na área da Administração, que por ser uma ciência nova seus conhecimentos sofrem transformações e alterações. Assim, essa área de conhecimento transmite aos seus integrantes (pesquisadores e profissionais) a impressão de estarem constantemente obsoletos. Ao longo dos últimos anos verificamos um processo acelerado de transformações (tecnológicas, culturais, organizacionais, sociais e econômicas), rápidas exigindo mudanças culturais e comportamentais das organizações e seus membros. As empresas necessitem descobrir e desenvolver procedimentos que envolvam e comprometam os funcionários com os objetivos da corporação. A qualidade, como um modelo administrativo, atualmente aplicado pelas organizações deve ser estudada e analisada, pois exerce influência sobre o desempenho organizacional. As transformações de ordem organizacional são sentidas em diversos níveis, tanto no nível estrutural como operacional. Ao nível estrutural as organizações precisam tornar mais u 175 U
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flexíveis e ágeis para poderem competir no mercado, a medição de desempenho, exerce influência de variáveis externas que atuam sobre as organizações. Essas variáveis podem ser classificadas de diversas formas, por exemplo, os clientes, os fornecedores, o Governo, os concorrentes e demais organizações. Existem diversas maneiras de classificar os indicadores de desempenho em uma organização, conforme será apresentado a seguir: Garvin (1998) propôs uma estrutura temporal para o gerenciamento dos processos organizacionais, classificando-os como: “processos de trabalho” buscam desenvolver novos produtos ou produção de bens e serviços, onde na sua maioria são considerados de curto. Os demais processos foram classificados como “processos de comportamento”, em sua maioria de médio prazo, envolvendo tomadas de decisão, comunicação, aprendizagem organizacional e em “processos de mudança”, na sua maioria de longo prazo, envolvendo criação, crescimento, transformação e declínio da organização. Parmenter (2002) classifica hierarquicamente os indicadores de desempenho, como: • Indicadores de Desempenho: são obtidos pela união de indicadores chaves de desempenho, como quando se pretende apresentar o desempenho de um departamento; • Indicadores de Resultado: da mesma forma, os indicadores de resultado da empresa são junções dos u 176 U
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indicadores de desempenho citados acima, com o objetivo de analisar o desempenho global da empresa. Alguns exemplos de indicadores de resultado segundo Parmenter (2002): satisfação do cliente, participação no mercado, satisfação de funcionários, lucro líquido, retorno de capital aplicado. • Indicadores Chave de Desempenho: ocorrem em maior número e podem ser obtidos nos locais onde os processos são executados. Rummeler e Barche (1994) definem três níveis passíveis de medição do desempenho organizacional: nível da organização que prioriza o relacionamento da organização com o mercado além de enfatizar as principais funções da empresa; nível do processo onde todos os processos definidos pela organização; e nível do trabalho/executor neste nível identifica-se o recurso executor das atividades correlacionadas ao nível de processos, incluindo a contratação, promoção, responsabilidades, treinamento e as recompensas. De acordo com as variáveis de desempenho apresentadas por Rummler e Brache (1994), os níveis de organização, processo e trabalho/executor precisam identificar e definir os padrões que reflitam as expectativas do cliente. No item Projeto, os três níveis precisam atingir de forma eficiente os objetivos propostos. Dentro de gerenciamento deve assegurar que os objetivos sejam atuais e que estejam sendo alcançados. E, por fim, Hronec (1994) classifica as medidas de desempenho através de três dimensões: u 177 U
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• Dimensão 1 - Qualidade: quantifica a excelência do produto ou serviço; • Dimensão 2 – Tempo: quantifica a excelência do processo; • Dimensão 3 - Custo: é o lado econômico da excelência. Depois de expostos os conceitos de medição de desempenho e sua importância e complexidade de efetivação, no próximo capitulo está exposto a problemática dos indicadores de desempenho dos processos logísticos, que norteiam esse estudo.
5. Indicadores de desempenho dos pro cessos logísticos: o que def inir? O que mensurar? Como a competição não acontece entre uma organização e outra, mas entre cadeias de suprimentos, a medição do desempenho logístico assume papel relevante na avaliação da cadeia. Um excelente desempenho, nos níveis de serviço oferecido ao cliente, tende a aumentar de modo substancial o valor agregado em toda cadeia de suprimentos. O nível de serviço, prestado pelos fornecedores, pode ser medido por indicadores de desempenho como a quantidade ou percentagem de entregas realizadas dentro do prazo, o tempo de entrega, o recebimento do pedido de acordo com as especificações ou a percentagem de entregas devolvidas parcial ou integralmente. u 178 U
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Portanto, torna-se necessário conduzir pesquisas com o objetivo de investigar como os elos (organizações) estão avaliando o nível de serviço logístico prestado pelos seus fornecedores, assim como pesquisar os indicadores mais apropriados para mensurar o desempenho dos processos logísticos nas organizações. Segundo Daugherty et al. (1996), não há nenhum consenso universal sobre a definição de desempenho. Similarmente, não há nenhum consenso considerando quais fatores constituem os melhores indicadores de desempenho. Em algumas pesquisas, o desempenho tem sido mensurado pela análise das informações dos relatórios das empresas. Entretanto, os indicadores de desempenho, utilizados nessas análises, podem não ser apropriados e relevantes, quando o objetivo da análise é medir o desempenho de uma atividade, um negócio ou um processo específico como a logística (STANK et al., 1999). Outro problema relatado na literatura é quais indicadores devem ser utilizados para medir o desempenho. Fica explícito a necessidade de acabarmos de vez com essa fragmentação, essa forma genérica que é apresentado o conceito de logística. E, para que isso aconteça se faz necessário cada vez mais estar mensurando o desempenho dos processos logísticos para percepção de nuances intrínsecas que o apresentam como um conjunto de atividades dependentes dentro da cadeia ao qual estão inseridos, em busca de uma otimização do desempenho organizacional. Autores como Razzolini (2000), Rey (1999), Ballou (1993), Lambert et al. (1998) e Cristopher (1997), apresentam várias abordagens sobre Sistemas de Medição de Desempenho u 179 U
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logístico (SMDL), apresentados por Santana (2004), e nos trazem as seguintes considerações. Razzolini (2000) apresenta parcialmente um plano de ação para a geração dos indicadores de um SMDL, baseado em questões, tais como: por que medir, o que medir como medir, quando medir e completa sua abordagem levantando uma última questão que é a que fazer com os resultados. Estruturam-se em medidas gerenciais, tais como: monitorar, controlar e direcionar as operações. De forma semelhante, Rey (1999) abordou o desenvolvimento de indicadores de um SMDL, baseados em quatro diferentes etapas, no entanto só se assemelha a proposta de Razzolini (2000), quando questiona: por que medir e como medir? Assim, completa sua abordagem realizando uma análise dos indicadores desenvolvidos, quando questiona “que indicadores usar” e apresenta como última etapa à necessidade de utilizar os indicadores de desempenho como parâmetros de benchmarking. Vale ressaltar que os processos logísticos apresentados por Rey (1999), divergem um pouco do conceito apresentado por Ballou (1995) e considerados, nesta Tese, como norteadores, pois a autora considera o suprimento físico e a distribuição física como atividades e não como processos logísticos. Quanto as contribuição de Lambert et al. (1998) e Christopher (1997), não será necessários maiores comentários, a não ser o fato de ambos abordarem a gestão financeira e de custos como um ponto forte para a geração de indicadores de um SMDL. u 180 U
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Um fato relevante consiste nas abordagens de Bowersox e Closs (2001), Rey (1999) e Christopher (1997), onde o Benchmarking é considerado como uma ferramenta importante na composição de SMDL. Realizando uma análise do que foi apresentado por Bowersox e Closs (2001), pode-se entender que as categorias de indicadores de Gestão de Ativos, Custo e Produtividade, formam um conjunto de indicadores de eficiência e a categoria de indicadores de Qualidade, formam um conjunto de indicadores de eficácia, e que ambos os conjuntos pertencem à perspectiva de medição baseada na atividade. Neste contexto, o conjunto de indicadores que abordam o serviço ao cliente, pertence à perspectiva de medição baseada nos processos logísticos. Assim, a abordagem apresentada por Bowersox e Closs (2001), trás uma estrutura que facilita a visualização dos indicadores desenvolvidos. No entanto, o autor foca sessenta por cento das categorias de indicadores em atividades internas de eficiência, o que pode gerar um SMDL não balanceado. Dentre as abordagens estudadas, iremos adaptar a abordagem descrita por Rey (1998), que estruturou uma um sistema de medição de desempenho logístico voltado para operadores logísticos do setor agrícola, dividida em quatro etapas: A primeira etapa consiste em determinar o porquê de se medir o desempenho logístico nas organizações. Segundo a autora, as atividades logísticas dentro de uma empresa são altamente interdependentes, a ponto das relações entre a política de serviço ao cliente, a política de estoques, materiais, transporte e distribuição e as políticas de armazenagem serem tão u 181 U
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intrínsecas que só podem ser explicadas através de indicadores de desempenho apropriados. Neste sentido, Rey (1999) destaca que a implementação e justificativa na tomada de decisões da logística, necessita de um conjunto de indicadores como um todo e que tenham sinergia entre eles. A implantação de um SMDL com indicadores interdependentes possibilita à gerência da empresa a administração da estrutura organizacional da logística e possibilita uma visão confiável das interfaces entre os diferentes processos logísticos envolvidos. No entanto, para que se tenha uma inter-relação funcional no sistema de medição da empresa, os indicadores devem possuir características financeiras, produtivas, qualitativas e de tempo, que venham a otimizar o fluxo do material, da informação e do dinheiro, e que também permitam administrar a estrutura organizacional logística. De acordo Rey (1999), os indicadores devem ser construídos com base nos elementos que contribuirão para melhorar a posição competitiva da empresa, sendo propostos quatro elementos básicos: • Custo: é a habilidade de produzir bens ou serviços ao menor custo possível; • Produtividade: é a habilidade de produzir o melhor resultado possível com a menor quantidade de recursos disponíveis;
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• Qualidade: é a habilidade de gerar bens e serviços que satisfaçam ou excedam as expectativas dos clientes; • Tempo: é a capacidade da empresa de responder às mudanças no menor tempo possível (Flexibilidade). A segunda etapa desta abordagem consiste em desenvolver um conjunto de indicadores que aporte o subsídio para a gerência ter claro como será medido o desempenho da função logística. Assim, os quatro elementos básicos devem ser avaliados de forma simultânea, já que a dedicação ou esforço para melhorar os resultados de um dos grupos de indicadores pode afetar o desempenho de outro se não estiverem sendo avaliados de forma integrada. O conjunto ótimo de indicadores de desempenho pelo ponto de vista logístico, segundo Rey (1999), incluiria indicadores que considerassem os quatro elementos básicos de cada um dos cinco processos básicos que compõe a logística e que são: • Suprimentos e manufatura; • Serviço ao cliente e processamento de pedidos; • Planejamento e administração de materiais; • Transporte e distribuição; • Armazenagem.
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A terceira etapa dessa abordagem envolve critérios de seleção dos indicadores. O objetivo é o de preencher a tabela com os indicadores necessários. Porém, que indicadores devem ser usados? Os critérios definidos pela autora para escolher esses indicadores foram: • Deve satisfazer as necessidades de medir o desempenho individual de cada um dos processos; • Devem medir as inter-relações de cada processo com os demais; • Devem quantificar as contribuições de cada processo específico para a otimização da estratégia de logística em geral; • Devem ser de fácil medição dos resultados e que possam ser medidos em espaços regulares de tempo. A quarta e última etapa desta abordagem, envolve a comparação dos indicadores escolhidos com indicadores externos. O foco é dado no benchmarking de indicadores de desempenho logístico, de forma a permitir à empresa realizar uma comparação dos resultados de suas atividades logísticas com os melhores de sua área ou os melhores de outros setores. A comparação com as concorrentes faz com que se busquem oportunidades de ganhar vantagem competitiva através da liderança na prestação de serviços. Já a comparação aos não concorrentes serve para identificar oportunidades para adoção de estratégias de ponta na prestação de serviços fora do mercado em que se atua. u 184 U
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Considerações f inais Os aspectos conceituais apresentados aqui nesse ensaio cientifico nos mostra que os métodos de medição de desempenho devem ser estudados e desenvolvidos de acordo com a área que se pretende avaliar. No caso especifico dos centros de distribuição, os aspectos a considerar em um sistema de medição de desempenho se configuram bastante complexos por existirem muitas variáveis a considerar nesse ramo especificamente. Há de se ter um estudo mais aprofundado sobre o tema para que possamos evoluir no sentido da criação de sistemas de medição de desempenho que sejam inerentes aos CDs e que contemplem os vários tipos de CDs existentes com seus mais diversos processos e produtos. Os estudos sobre o tema demonstram o quanto se faz importante medir o desempenho de qualquer processo dentro das organizações. Desde a medição de desempenho dos recursos humanos até a medição de eficiência da aplicação de recursos financeiros e tecnológicos implementados para ofertar um melhor nível de serviço que a organização propõe.
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RELAÇÕES COMERCIAIS ENTRE O BRASIL E A ALEMANHA: CONTEXTUALIZANDO O SÉCULO XX E NOS PRIMEIROS ANOS DO SÉCULO XXI Si mo n e Al v a re nga si mo n eal va re nga @ h o t m a i . c o m
Resumo Este artigo é dedicado ao tema das relações comerciais entre o Brasil e a Alemanha, desde o século XX até os primeiros anos do século XXI, bem como a questão dos acordos comerciais entre o Brasil e a Alemanha e o diálogo em torno de propositura de tais acordos. Esta temática teve como antecedente o fato de ser um tema, fruto de um interesse que se construiu, durante a experiência profissional da autora, na área de Comércio Internacional. O trabalho apresenta uma contextualização sobre os aspectos teóricos da relação comercial entre Brasil e Alemanha, identifica alguns acordos comerciais bilaterais existentes entre os dois países que legitimaram as transações de comércio exterior nesse período. Como resultado este artigo procura o conhecimento acerca das relações u 188 U
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comerciais entre os dois países, tendo em vista a evolução da conjuntura vigente da economia internacional e serve como instrumento para subsidiar as tomadas de decisões de organizações públicas e privadas, para ambos os países. Foram abordados no marco teórico o tema central, que seja, as relações comerciais Brasil – Alemanha e acordos comerciais. Teve como desenho metodológico a pesquisa bibliográfica, documental, descritiva, com investigação voltada para o enfoque qualitativo. Como métodos e técnicas ou estratégias de coleta de dados foi adotado o estudo documental: relatórios, planilhas e acordos bilaterais entre Brasil e Alemanha. Como instrumento de coleta de dados foi usado a pesquisa bibliográfica, documental: fichas de relatórios, planilhas e acordos bilaterais. As considerações finais e as recomendações encerraram esse trabalho acadêmico. Palavras-chave: Comércio Internacional 1; Cooperação técnica 2; Brasil 3; Alemanha 4.
1. Intro dução A história comercial de Brasil e Alemanha remete à primeira metade do século XX. A partir desde momento, os países começam um diálogo que se desenvolve até a nossa contemporaneidade. Nesse sentido, este trabalho propõe uma revisão histórica desse relacionamento bilateral, remontando aos anos 40 do último século, até nossos dias atuais, relatando os fatos mais importantes desta história.
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2. Relações comerciais entre o brasil e a alemanha no século xx e nos primeiros anos do século xxi – contextualização histórica Na década de 40, com o início do processo de substituição de importações3, a Alemanha consolidou uma série de acordos comerciais com o Brasil, os quais eram parte da tática do então III Reich4, para se projetar na América Latina. Esses acordos pautaram-se em esquemas de trocas pagas, com poder de compra limitado a produtos vindos da Alemanha. De acordo com Soares (2000), a Alemanha desempenhou um papel ativo no processo de desenvolvimento da economia brasileira durante todo o século XX. Mas já nas décadas de 20 e 30 registrou-se a presença alemã, de início, nos meios de transporte aéreo brasileiro, com a fundação das filiais da Lufthansa e Condor (1927), da Varig (1927) e Vasp (1934), todas com capital nacional e alemão. De acordo com Menezes (MENEZES apud SOARES, 1995):
3. O processo de substituição de importações, que teve origem no Brasil com o Governo Vargas pode ser caracterizado por uma industrialização fechada, ou seja, ser voltada para dentro visando prioritariamente o mercado interno e dependente de políticas governamentais que protegessem a indústria nacional em relação aos seus concorrentes internacionais. (FONSECA E SOUZA, 2009). 4. Terceiro Reich é o nome que se dá ao período do governo que se estabeleceu na Alemanha entre 1933 e 1945, enquanto era liderada por Adolf Hitler e o Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores (NSDAP). O nome Terceiro Reich (em alemão: Drittes Reich) refere-se ao Estado sucessor do Império Alemão (18711918), sendo este o Segundo Reich e o Sacro Império Romano Germânico o Primeiro Reich. Fonte: Ascensão e queda do Terceiro Reich Triunfo e Consolidação. u 190 U
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As economias dos dois países se completavam: a Alemanha era carente dos produtos brasileiros e tinha, em uma conjuntura de corrida armamentista, suas necessidades multiplicadas. Se circunscrevia neste quadro a necessidade do Governo brasileiro de expandir o comércio exterior para escoar o excedente de produção, sobretudo de café, que não encontrava comprador internacional e que era queimado para diminuir os estoques (MENEZES apud SOARES, 1995).
O Brasil representava para a Alemanha uma fonte de produtos agrícolas e de suprimento de matérias-primas. Por outro lado, a Alemanha representava para o Brasil uma alternativa à dependência dos Estados Unidos (AZEVEDO, 2010, p.1): A Alemanha passou a buscar novos parceiros comerciais, incluindo a América Latina. Em junho de 1934 foi formada a “Delegação Alemã de Comércio para a América do Sul”, expressando a importância e o interesse com que o governo alemão via, no sistema de compensação de mercadorias, a possibilidade de penetração em países como o Brasil, importador de manufaturados e exportador de produtos agrícolas. A economia dos dois países complementava-se à medida em que as indústrias - e o próprio desenvolvimento econômico alemão - precisavam de matérias-primas. O Brasil, por sua parte, procurava escoar seus excedentes de produção e tinha grande interesse nos materiais u 191 U
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bélicos alemães e nos produtos de consumo recentes, como era o caso dos aparelhos de rádio, que passaram a alterar, sensivelmente, o cotidiano da população (AZEVEDO, p. 1, 2010).
O comércio entre os dois países se intensificou e a Alemanha tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil na década de 1930, com ênfase nas vendas de algodão. Entretanto, a relação entre os dois países começa a se deteriorar na década de 40. Em 1942 o Brasil rompe com as relações diplomáticas e comerciais com os países do Eixo, declarando guerra à Alemanha e à Itália. Passada a Segunda-Guerra5,a partir da década de 1960,a então recém-criada República Federal da Alemanha – RFA se tornou a maior exportadora de capitais líquidos do mundo, participando de maneira ativa na estruturação do que viria a se tornar a União Europeia – UE. No contexto de então, novamente o Brasil fez parte da estratégia alemã de buscar fontes de suprimento de matérias-primas e produtos agrícolas, como outrora ocorrido na década de 30, motivada pelas restrições de acesso ao mercado do Leste Europeu, fruto da formação da “Cortina de Ferro6”. Com o restabelecimento do comércio 5. Após a 2ª Guerra Mundial, as relações diplomáticas entre os dois países foram restabelecidas em julho de 1951, com a construção da sede da Embaixada Alemã em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Fonte: Site http://www.brasil.diplo.de 6. Cortina de Ferro foi uma expressão usada no Mundo Ocidental para designar a fronteira que dividiu a Europa em duas áreas de distintas influências política e econômica, no final da Segunda Guerra Mundial até ao final da chamada “Guerra Fria”. Durante este período, a Europa Oriental esteve sob o controle político e influência da União Soviética, enquanto que a Europa Ocidental esteve sob o controle político e influência dos Estados Unidos da América. Era apenas uma linha imaginária, ao contrário do Muro de Berlim, que se constituiu numa barreira física. A expressão foi criada em u 192 U
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com a RFA, o Brasil viu novamente a alternativa de suavizar a dependência comercial em relação aos Estados Unidos, novamente resgatando a estratégia dos anos 30. Neste momento os investimentos alemães desempenhavam um papel fundamental para a estratégia brasileira de aprofundar o processo de substituição de importações, que demandava a implantação de máquinas, equipamentos, material de transporte e de um setor automobilístico (SOARES, 2000). O governo Vargas tinha por um de seus objetivos nacionalizar a produção de automóveis no Brasil. No Governo de Juscelino Kubitschek empresas alemãs como a Volkswagen7 e Mercedes-Benz8 se instalam no Brasil, quando é implantada por JK a política de incentivos e isenções às empresas estrangeiras que transferissem sua fábricas para o Brasil. Nesse período, conforme sublinhou o historiador Moniz Bandeira, as companhias norte-americanas 1946 pelo ex-primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, para designar a política de isolamento adotada pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e seus estados-satélites após a Segunda Guerra Mundial. Fonte: Site http://www.bbc.co.uk 7. A Volkswagen tem 58 anos de Brasil. Essa história de sucesso teve início em um pequeno galpão alugado na rua do Manifesto, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, com apenas 12 funcionários. Apenas seis anos depois, em 18 de novembro de 1959, a empresa já inaugurava a unidade Anchieta, com a participação do então presidente Juscelino Kubistchek. Em 1976, a Volkswagen iniciou a operação da fábrica de Taubaté, erguida com o propósito de produzir o Gol, carro mais vendido há 24 anos consecutivos. Vinte anos depois, em 1996, a empresa inaugurou a fábrica de São Carlos, uma das três maiores produtoras de motores do Grupo Volkswagen no mundo. E, em 1999, iniciou a operação da moderna unidade de São José dos Pinhais. Fonte: Site http://www.vw.com.br 8. A Mercedes-Benz do Brasil presente a mais de 50 anos no País é a maior fabricante de veículos comerciais da América Latina. Fonte: Site http://www.mercedes-benz.com.br u 193 U
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que detinham montadoras no país não mostraram interesse – até a chegada das concorrentes alemãs – em produzir veículos no Brasil. Outra medida relevante para promover o aprofundamento do relacionamento entre os dois países foi a decisão tardia do governo brasileiro, em 1956, de decretar a restituição dos bens de empresas alemãs, confiscados durante a guerra. Isso tudo permitiu ao Brasil se tornar o segundo maior receptor de investimentos alemães no exterior, atrás apenas dos Estados Unidos, com 40% do total enviado na década de 1960 (SOARES, p. 88, 2000).
O auge da cooperação bilateral foi na década de 70, onde a parceria se volta para a estruturação do setor energético brasileiro, dando atenção especial na produção de energia atômica para fins pacíficos. Tal interesse em energia nuclear foi documentado através do acordo firmado entre Brasil e Alemanha em 1975. De acordo com o diplomata Thompson-Flôres Netto: a Alemanha foi o único país a aceitar a transferência de tecnologia na abrangência desejada pelo Brasil, inclusive, logicamente, o indispensável domínio do ciclo do combustível. Para a Alemanha, tal parceria foi estratégica ao permitir acesso mais seguro a fornecimentos de urânio brasileiro, enquanto obtinha abertura a um promissor mercado para a sua indústria nuclear (FLORES NETO apud SOARES, 2000, p. 89)
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Entretanto, a partir dos anos 80, essa parceria começa a perder força. Observa-se que o mercado alemão começa a destinar os seus investimentos para o mercado asiático. Registra-se também a globalização dos processos produtivos de empresas alemãs, que começam a dividi-los em escala mundial, através da consolidação de redes multinacionais. Na década de 90, a Argentina passa a ser o maior parceiro bilateral do Brasil, ocupando a posição que era da Alemanha. Uma das razões para este fato foi a própria evolução do MERCOSUL. Outra explicação é o início do período de privatizações vivido pelo Brasil nesta década, onde se percebeu que os investimentos alemães caíram, sendo substituídos por investimentos norte-americanos. Os setores bancário e de telecomunicações viram-se ausentes de novos investimentos alemães (SOARES, 2000). No início dos anos 2000, já no governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva, se verificou que as relações econômicas entre Brasil e Alemanha se firmaram, dando destaque para o ano de 2003, quando o comércio entre os dois países movimentou em torno de US$ 7,3 bilhões. Naquele período, o Brasil atingiu o maior valor exportado para a Alemanha em todo o histórico da relação bilateral: cerca de US$ 3,1 bilhões. Em 2004 a tendência de crescimento se confirma, com a movimentação atingindo o valor de US$ 9,1 bi. Em 2005, até o mês de maio, os números apontam transações comerciais girando em torno de US$ 4,3 bilhões. Da mesma forma, as importações brasileiras também cresceram de 2003, situada em US$ 4,2 bi, para US$ 5 bilhões, em 2004 (Fonte: FIEC, 2005). A perspectiva é que nos próximos anos as relações comerciais entre o Brasil e a Alemanha possam continuar se u 195 U
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desenvolvendo e se fortalecendo. Em entrevista ao Correio Brasiliense, o embaixador alemão no Brasil, Wilfried Grolig, foi assim questionado: “Mas o campo comercial e econômico ainda continua sendo o motor das relações entre os dois países?”, o embaixador alemão respondeu que: Temos uma relação de longa data no campo econômico, mas também no campo político, da ciência, da cultura, entre outros. Em todo o Brasil, há 1.200 empresas alemãs, e 10% do PIB da grande São Paulo é resultado das atuações das empresas alemãs naquela área. No fim de maio, tivemos, na Alemanha, um fórum econômico Brasil-Alemanha, que reuniu cerca de 800 pessoas, entre empresários e políticos, para discutir como essa relação, que já é excelente, pode ser melhorada. A Alemanha investiu muito no Brasil nas últimas décadas, e ao olhar empresas como a Siemens, a Bosch, a Volkswagen, é como olhar para empresas brasileiras, porque elas estão aqui há muito tempo, são dirigidas por brasileiros aqui. A Volkswagen criou modelos especificamente para o mercado brasileiro, outras empresas proporcionam a troca de experiências entre engenheiros alemães e brasileiros, trocando tecnologias. Isso mostra que há uma parceria, uma cooperação que vai além do comércio. (Correio Brasiliense, 2010).
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Desta forma, entende-se que há um desejo por parte da Alemanha em melhorar a relação existente com o Brasil, que nas palavras no embaixador “já é excelente”. A abordagem da questão dos acordos comerciais entre o Brasil e a Alemanha é tratada a seguir.
3. Acordos comerciais entre brasil e a alemanha: desenvolvimento de diálogos econômico -so ciais na contemp oraneidade Após realizado este aporte teórico, deu-se continuidade ao trabalho, que discute a questão dos acordos comerciais bilaterais existentes entre o Brasil e a Alemanha. Foi realizada uma pesquisa junto ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, por meio de contato via e-mail depla.cgpe@mdic.gov.br, que responde pela Coordenação de Produção Estatística – Coordenação Geral de Estatística - CGES – DEPLA – Departamento de Planejamento e Desenvolvimento do Comércio Exterior Secretaria de Comércio Exterior - SECEX - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC. Também foi consultado a Comissão da União Europeia de Comércio Internacional, por meio do e-mail citizen_reply@ edcc.ec.europa.eu. Com relação à Comissão da União Europeia de Comércio Internacional, quando questionados a respeito dos acordos estabelecidos entre o Brasil e a Alemanha, o órgão afirmou que é responsável por estabelecer acordos comerciais entre países terceiros e membros da União Europeia. O órgão também afirmou que existe uma negociação em andamento u 197 U
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entre a União Europeia e o MERCOSUL para um acordo de livre comércio entre os blocos. Um futuro Acordo de Associação UE-MERCOSUL - atualmente em fase de negociação - deve fornecer um impulso para a integração comercial regional entre os países do MERCOSUL e estimular novas oportunidades de comércio e investimento com a UE através da remoção de tarifas e barreiras não-tarifárias ao comércio (...). O Acordo de Associação UE-MERCOSUL irá abranger, entre outras questões, o comércio de bens e serviços, investimento, direitos de propriedade intelectual (DPI), incluindo aspectos de proteção das indicações geográficas, compras governamentais, barreiras técnicas ao comércio e aspectos fitossanitários. (Fonte: http://ec.europa.eu/trade/policy/countries) No que diz respeito ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a Coordenação de Estatística informou que o Brasil faz parte dos seguintes acordos bilaterais: Preferência Tarifária Regional entre países da ALADI - Associação Latino-Americana de Integração (PTR-04) Acordo de Sementes entre países da ALADI (AG-02) Acordo de Bens Culturais entre países da ALADI (AR-07) Brasil - Uruguai (ACE-02) Brasil - Argentina (ACE-14) MERCOSUL (ACE-18) MERCOSUL - Chile (ACE-35) MERCOSUL - Bolívia (ACE-36) Brasil - México (ACE-53) u 198 U
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MERCOSUL - México (ACE-54) Automotivo MERCOSUL - México (ACE-55) MERCOSUL - Peru (ACE-58) MERCOSUL - Colômbia, Equador e Venezuela (ACE-59) Brasil - Guiana (ACE-38) Brasil - Suriname (ACE-41) Brasil - Venezuela (ACE-69) - AINDA SEM VIGÊNCIA MERCOSUL - Cuba (ACE-62) MERCOSUL/ Índia MERCOSUL/ Israel MERCOSUL/ SACU - AINDA SEM VIGÊNCIA MERCOSUL/Egito - AINDA SEM VIGÊNCIA MERCOSUL/Palestina - AINDA SEM VIGÊNCIA Em 1999, ano da criação do Euro e de forte influência econômica e política europeia, iniciou-se as negociações entre o MERCOSUL e União Europeia sobre um acordo de livre comércio (denominado Acordo de Associação Bi regional). Tais negociações foram interrompidas em 2004. (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR, 2) As negociações voltaram a ser pauta entre os líderes dos dois blocos em 2010. Desde então foram realizadas oito reuniões do Comitê de Negociações Bi Regionais (CNB). O foco das negociações tem sido a elaboração de um marco normativo “acesso a mercado em bens, defesa comercial, solução de controvérsias, concorrência, investimentos, serviços, barreiras u 199 U
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técnicas, medidas sanitárias e fitossanitárias, entre outros” (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR, 2013). Nesta negociação, O Brasil e a Alemanha tomam papéis muito importantes, devido às suas posições em seus respectivos blocos locais. O Brasil representa até então um papel de destaque não só no MERCOSUL, bem como no cenário internacional, representando não apenas o bloco do Sul mais também as economias emergentes que formam o BRICS.9 O papel do Brasil no MERCOSUL é, portanto, cada vez mais integrador, reafirmando sua posição de líder, em função de suas características econômicas, populacionais, geográficas etc. (MOREIRA & MIRANDA, 2012). A Alemanha por sua vez também possui uma posição importante nas decisões a serem tomadas dentro da esfera da União Europeia. Durante o ano de 2010 a Alemanha conduziu significantes intervenções no direcionamento da crise que afetou a Grécia. Em termos econômicos, a Alemanha representou 20,9% do PIB de uma União Europeia (BULMER & PATERSON, 2010). Como um exemplo atual dos investimentos alemães no Brasil, ainda este ano, a operadora de aeroportos alemã Fraport arrematou a concessão de dois aeroportos brasileiros. 9. “A ideia dos BRICS foi formulada pelo economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O´Neil, em estudo de 2001, intitulado “Building Better Global Economic BRICs”. Fixou-se como categoria da análise nos meios econômico-financeiros, empresariais, acadêmicos e de comunicação. Em 2006, o conceito deu origem a um agrupamento, propriamente dito, incorporado à política externa de Brasil, Rússia, Índia e China. Em 2011, por ocasião da III Cúpula, a África do Sul passou a fazer parte do agrupamento, que adotou a sigla BRICS.” Fonte: http://www.itamaraty.gov.br/ u 200 U
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Pelos próximos trinta anos, a administradora alemã terá a concessão do aeroporto de Fortaleza. Por vinte e cinco anos, ela também administrará o aeroporto de Porto Alegre. Ambas concessões são prorrogáveis por mais cinco anos. A operadora arrematou as concessões por um valor superior a 1.8 bilhões de reais, por meio de um leilão realizado em março de 2017. Isso mostra que, a parte de toda crise econômica e política, os negócios entre os dois países ainda avançam.
Considerações f inais Após essa revisão histórico-documental, este trabalho identificou que existem acordos comerciais estabelecidos entre a Alemanha e o Brasil, que promovem o intercâmbio de produtos, serviços e tecnologias entre os dois países. Contudo, apesar da posição que Brasil e Alemanha ocupam respectivamente no MERCOSUL e na União Europeia, até o momento não se chegou à criação de um marco normativo ou acordo comercial bilateral entre os países ou blocos, no sentido de eliminação tarifária, ou a criação de uma área de livre comércio entre as regiões. Os resultados apontaram que essas normas ainda estão em fase de negociação, porém não se avançou muito. É notório que ambos os países já se consolidaram como grandes parceiros comerciais desde o início do século XX, como constatado ao longo do presente trabalho. Após as considerações anteriormente citadas, diante das questões de fomento da indústria no país, do intercâmbio de tecnologias, esse artigo recomenda uma ação mais enfática dos órgãos competentes, u 201 U
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para a efetivação de um marco regulatório em direção ao estabelecimento de uma área de livre comércio entre Brasil e Alemanha, tendo em vista o incentivo ao investimento para a expansão do setor industrial, isso significa um avanço para o caminho ao desenvolvimento econômico e tecnológico brasileiro. Espero que este trabalho seja ponto de partida para novas investigações e, possivelmente seja fonte de pesquisa para profissionais e agentes do governo brasileiro.
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A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO SISTEMA PRISIONAL Ju ran d i r Ro dr i g ue s ju ran d i r 1 2 ro dr i g ue s @ h o t m a i l . c o m
Resumo Existem trabalhos de ressocialização em todo sistema pe-
nitenciário do país, informação que significativa parte da sociedade desconhece. Dentre eles, está o educacional para alunos/detentos que se encontram privados de liberdade no sistema prisional. Desta forma o ensino-aprendizagem se dá com a finalidade de reinserção social desses presos, onde o papel do professor é fundamental, principalmente nesse ambiente, necessitando uma reavaliação constante de suas práticas. Este trabalho é de extrema importância visto que pode oportunizar maior inclusão social aos presos, servindo também como uma alternativa em que sejam propícias a redução dos índices de reincidências desses detentos em regime fechado, com a real possibilidade de reintegração à sociedade após o cumprimento da pena. A educação de Jovens e Adultos u 205 U
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é um trabalho importante seja no ambiente escolar ou em qualquer outro, por isso, o estudo dentro do sistema carcerário torna-se um dos mais promissores caminhos para que pessoas privadas de liberdade retornem à convivência social, com crescimento pessoal suficiente para alcançar objetivos benéficos para si e para a sociedade. Palavras-chave: Formação de Professores; Sistema Penitenciário; Educação Restaurativa.
1. Intro dução A educação abrange outras áreas da sociedade, entre elas a de pessoas que se encontram fora do convívio social (aparentemente), ou seja, em reclusão no sistema carcerário. Neste caso é preciso conhecer as políticas públicas que favorecem a ressocialização dos detentos, através da educação. Além disso, o professor que atua neste segmento educacional precisa ter plena consciência de seu papel enquanto profissional transformador, que tem por finalidade a reinserção social de seus alunos/presos através. educação, o que não é uma tarefa fácil e está longe de ser a mais comum para esse profissional. Ser capaz de reinserir uma pessoa que cometeu delitos e infrações (muitas vezes graves) à sociedade abrange uma compreensão maior do que esse trabalho educacional indica que precisa ser feito, principalmente porque o profissional deve, em primeiro lugar, libertar-se de preconceitos e julgamentos.
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Em segundo lugar é necessário verificar se as condições para a realização dessa tarefa são propícias, como: a existência de infraestrutura para as aulas, segurança e banheiro para o professor, a existência de biblioteca para eventuais pesquisas e consultas dos alunos/presos, entre outras. É perceptível que as dificuldades encontradas pelos professores são muitas, mesmo que tenha sido instituído através da Lei de Execuções Penais de 1984, que os estabelecimentos prisionais, mantenham em seu interior, escolas ou núcleos educacionais, ainda existem lugares onde isso não é possível por falta de estrutura. É muito importante que os detentos tenham acesso a educação, ao conhecimento, já que favorece também que eles ocupem todo o tempo ocioso existente, enquanto em reclusão. Muitos envolvidos na educação de jovens e adultos que estão reclusos no sistema prisional muitas vezes nem acreditam que essa educação é benéfica e positiva à sociedade. Por conta disso, é preciso que o trabalho educacional nesses ambientes seja executado de forma satisfatória, principalmente porque essa é uma função básica do sistema carcerário: a ressocialização. Por ressocialização o dicionário de sociologia (JOHNSON, 1997), define como: Uma parte do processo contínuo de socialização que se estende pelo curso de vida e implica aprender e, às vezes, desaprender vários papéis. Papéis adultos podem cobrir uma larga faixa – de cônjuges, pais, viúvos (as), pais solteiros e divorciados a u 207 U
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internos em prisões e empregados em diferentes ocupações. Todas essas transições envolvem algum tipo de ressocialização. (JOHNSON, 1997, p.198).
Para que o professor saiba lidar com o ambiente diverso do sistema prisional, é fundamental que esteja preparado para lidar com situações adversas numa instituição carcerária. Então, se a graduação deve preparar o docente a agir ao trabalhar no papel de educador, formador de consciência, dentro do sistema prisional, isso poderá colaborar na reinserção destes cidadãos, sendo jovens ou adultos, à sociedade. O educador Paulo Freire desenvolveu a proposta de Educação para Jovens e Adultos, após verificar que o sistema de ensino de sua época não era eficiente e nem eficaz. Criou uma pedagogia de certa forma simples, que revelava sua preocupação com a vida humana e o valor do outro no processo pedagógico. De acordo com Ângela Lima (2008), nas suas pesquisas de campo Paulo Freire confirmou que as metodologias e os materiais didáticos utilizados, desmotivavam os alunos, que demoravam a apresentar resultados e acabavam abandonando os estudos. Então ele elaborou seu método e começou a implantar uma alfabetização além das cartilhas, onde o educador deveria saber ouvir o educando em suas experiências e através delas elaborar seu roteiro de ação. Assim ele atuou na Educação de Jovens e Adultos, incentivando mais o diálogo e o trabalho em grupo, além de valorizar mais os conhecimentos que os educandos também poderiam passar. u 208 U
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Nessa área é preciso que o educador assuma uma postura menos ingênua e seja mais consciente a respeito da educação de jovens e adultos, inclusive no que diz respeito a esses cidadãos que estão presos. É importante também visualizar que no aspecto da ressocialização não há quem esteja isento de colaborar, como bem explicado por Freire (2001): “Acredito que seja nosso dever criar meios de compreensão de realidades políticas históricas que dêem origem a possibilidades de mudanças. Penso que seja nosso papel desenvolver métodos de trabalho que permitam aos oprimidos (as), pouco a pouco, revelarem sua própria realidade”. (FREIRE, 2001, p. 35).
Percebe-se que é necessário a existência da educação para Jovens e Adultos dentro do sistema carcerário, pois, ainda com todas as dificuldades existentes, sem isso a construção do saber e de um ambiente favorável à vida fica cada vez menos humanizado. Torna-se mais efetiva a reinserção social dos presos, além de contribuir para a preparação do docente com o trabalho educacional de Jovens e Adultos que estejam em regime de reclusão por sistema prisional. Além disso, é preciso conhecer a estrutura e as políticas públicas que regem o país e o sistema penitenciário do município de Salvador-BA, para que seja mais viável fazer considerações de como a educação pode contribuir no processo de reinserção social desses presos e na prevenção da reincidência criminal. Para melhor definir as u 209 U
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diretrizes desse estudo, será observada a penitenciária Lemos de Brito no município de Salvador-BA, verificando as dificuldades dos professores em atingir aos objetivos educacionais propostos, e dos presos em assegurar seu direito de aprendizado, bem como seu interesse na construção de conhecimento.
2. As práticas pedagógicas para a eja dentro da penitenciária As práticas pedagógicas requerem mais do que o esforço do profissional de ensino em inovar e alcançar objetivos, deste modo, não significa que apenas os métodos de ensino utilizados pelo professor devem ser analisados, mas também o seu comportamento enquanto educador em relação à sua prática pedagógica (NEGROMONTE, 2009). É nítido que o professor inserido no ensino para o educando preso precisa de um preparo, desde a sua graduação, para lidar com a diferenciação ambiental e institucional, a fim de conseguir promover uma adaptação a este ambiente e a repensar sua práxis pedagógica enquanto reflexiva e formadora de cidadãos despertos e críticos. Ao analisar-se o Anexo I, constata-se que os professores da Escola Especial da Penitenciária Lemos Brito (PLB), promoveram um trabalho interdisciplinar através do projeto Novembro Negro – Mês da Consciência Negra, cujo objetivo era possibilitar aos estudantes conhecimentos a partir de conceitos e referenciais étnicos distorcidos historicamente, com olhar para as mudanças de forma crítico-reflexiva sobre a imagem dos/as afrodescendentes, através das relações intrapessoais e interpessoais. u 210 U
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Isso é apenas um exemplo de que o professor precisa dominar algumas teorias e conceitos a fim de melhor embasar sua prática pedagógica, ainda que sejam teorias articuladas em torno de um bem comum. Destarte, quando se pretende mudar algo é necessário conhecimento e consciência de que cada posicionamento tomado irá interferir diretamente nessa mudança. Portanto, a atuação do professor dentro do sistema penitenciário deve possuir o desprendimento de antigos paradigmas e implementar uma educação voltada para a reflexão, que desenvolva a visão crítica dos alunos/detentos, uma vez que não se pode ignorar a especificidade da educação para a ressocialização. Essas atividades complementam o próprio ensino em sala de aula de disciplinas gerais, tornando multidisciplinar o aprendizado e o resgate por valores existentes e necessários aos relacionamentos sociais, através da realização de atividades lúdicas, esportivas e culturais. Portanto, é perceptível que a visão da educação dentro do presídio deve ser constantemente aprimorada, pois, apenas conceitos apreendidos durante a vida acadêmica do professor são insuficientes quando ele se depara com desafios diferenciados, dos quais não houve qualquer preparo durante o período da licenciatura cursada.
3. A formação do prof issional de educação para a eja inserida no sistema p enal No Brasil, o sistema educacional sofre com políticas mal implementadas gerando problemas indiscutíveis na formação educacional de milhares de jovens da rede pública de ensino. u 211 U
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A influência da escola na formação da personalidade e caráter do jovem ou adolescente é bastante significativa. A economista Kalinca Léia Becker comprovou em 2012, através de seus estudos de doutorado, que o ambiente escolar possui um imenso potencial de influência no comportamento dos alunos podendo contribuir na redução ou aumento da violência. De acordo com JACINTO (2013): A pesquisa comprovou a influência da educação no comportamento dos alunos. Constatou-se no primeiro ensaio que quando ocorre o investimento de 1% na educação, 0,1% do índice de criminalidade é reduzido. Porém, para isso, é necessário que a escola funcione como um espaço para desenvolver conhecimento, pois, no segundo ensaio, foi observado que escolas com traços da violência, como depredação do patrimônio, tráfico de drogas, atuação de gangues, entre outros, podem influenciar a manifestação do comportamento agressivo nos alunos (p.1).
Sendo assim, infere-se que a educação pode ser uma forma de política social de prevenção à criminalidade, pois contribui no desenvolvimento de noções morais e cívicas nos educandos (BECKER, 2012, p.12). A autora reitera que para que isso aconteça, o ambiente escolar deve fornecer o exemplo necessário para o desenvolvimento do conhecimento e da boa conduta de seu corpo discente.
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Se a educação é capaz de transformar o ambiente escolar e também o seu meio externo, é necessário que haja uma política educacional apropriada e em vigência para a garantia da formação de cidadãos que não escolherão a criminalidade como forma de vida e renda.
4. O currículo do prof issional de educação para atuar em presídio. A definição de currículo não é muito bem definida pela literatura, contudo, FEITOSA e DIAS (2015, p.14-15), contribuem para iluminar sobre um entendimento adequado do mesmo: [...] representa os temas educacionais e conteúdos escolhidos para um determinado fim formativo. Ele não precisa estar explicitado num documento formal; ele apenas existe [...], pois currículo supõe um programa de estudos/ de ensino organizado e ordenado, uma sala ou uma classe (um local) com estudantes sob a coordenação de um (a) professor (a), uma instituição escolar com um percurso (início, meio e terminalidade). Além disso, supõe uma forma didática de se apresentar os tópicos do programa.
Para formar o profissional de educação é preciso que os objetivos em educar estejam muito claros. Basicamente, espera-se que a educação integre os homens, enquanto prática institucionalizada seja no trabalho, na vida social ou cultural (SEVERINO, 2003). u 213 U
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Preparar o profissional de educação para a EJA significa contribuir no desenvolvimento crítico de cidadãos, exercendo o significado da educação, e permitir a formação de um profissional qualificado para o desenvolvimento humano e social dos seus educandos. Deve-se permitir que o futuro educador se supra de conhecimentos técnico-científicos, bem como de metodologias para a produção dos saberes (e do fazer), para que consiga lidar com a realidade sociocultural diversa e, muitas vezes, diferente da sua própria. Dentro do presídio ocorre mais do que uma educação para adultos. É preciso que o profissional esteja preparado para delimitar o processo educativo que ele almeja e que será, definitivamente, moldado à institucionalização do regime carcerário, da sociedade existente dentro do presídio. É preciso que o educador tenha a certeza de que a EJA no cárcere não simboliza, como jamais deveria ter sido considerada, uma educação para compensar os que não tiveram chance de estudar em época oportuna. Portanto, é preciso refletir sobre a EJA para os presos de maneira criativa e inovadora. Repensar não só a prática pedagógica do professor em exercício, mas, remodelar o currículo do professor em formação. A prática para a EJA foi como transformadora por Paulo Freire, e deve ser nesse contexto que a educação dentro do ambiente carcerário se fundamentar em uma prática desenvolvida dentro da prisão e não para ela. O conteúdo ensinado ao futuro profissional de educação pode se apresentar de maneira ineficiente, deixando lacunas no currículo e ignorando a postura investigativa a ser u 214 U
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incorporada no processo de formação pedagógica. O estágio curricular é, muitas vezes, mal executado tornando-se uma limitação no processo de formação do educador, em que o mesmo recebe elementos técnicos e teóricos insuficientes e acaba por realizar o estágio em situações precárias, pouco significativas e com poucas horas de duração (SEVERINO, 2003). A grade curricular do futuro educador necessita ser sólida em objetivos e deve apresentar a flexibilidade necessária ao desenvolvimento de um profissional que busca práticas construtivistas ou transformadoras. A prática do profissional com a EJA é que vai lhe beneficiar na aquisição de saberes pedagógicos, mas não se pode desmerecer o aprendizado do seu histórico, suas influências, contradições e práticas, pois são estes os fatores que determinarão a compreensão do educador para os objetivos desta modalidade de ensino. De acordo com JEFFREY; CAMARGO (2015): Uma proposta interdisciplinar de formação inicial e continuada de professores para atuarem na EJA requer uma concepção abrangente do currículo, do ensino e da aprendizagem e da organização didático pedagógica que possibilite a articulação dos conhecimentos, de sua problematização, da flexibilidade das práticas educativas e da construção de uma práxis educativa de caráter crítico reflexivo (p.124).
As demandas educacionais dessa modalidade exigem humanidade e conscientização do sujeito, futuro mediador da u 215 U
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educação e um profissional habilitado e capacitado para agir e refletir nos mais diversos espaços educativos, inclusive no sistema penitenciário. Cabe ao professor, enquanto servidor do sistema penitenciário, estar preparado para o diálogo com o público a que está direcionado, buscar conscientizar sem impor palavras imperativas, pois a conscientização deve abrir caminhos para que o outro expresse suas insatisfações, uma vez que ele passa a perceber a realidade em que está inserido (FREIRE, 2004). O preparo do profissional para educar, está em considerar cada uma das especificidades dos seus alunos, mas no ambiente carcerário ele deverá observar o grupo e as peculiaridades do ambiente prisional. Uma vez que seja preparado na graduação para este trabalho, talvez se consiga um resultado menos traumático para o professor quando se deparar com esse espaço educacional diferenciado.
Considerações f inais Esse estudo representou mais do que o pesquisador esperava sobre a Educação para Jovens e Adultos dentro de uma instituição prisional. As transformações possibilitadas na educação deste professor foram enriquecidas com a visão de outros trabalhos que, voltados para um público específico, permitiram conhecer não só um ambiente do qual não estou acostumado, mas a visualizar as possibilidades intrínsecas da educação, do planejamento pedagógico e do valor do trabalho do profissional de educação. u 216 U
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Entende-se que o preparo do profissional para a EJA está previsto em seu currículo de formação inicial, mas o trabalho dentro do presídio não pode ser submetido a pouco ou nenhum treinamento/preparo do profissional que atuará com uma demanda específica. Além disso, diante do contexto apresentado, é notável que estar em um ambiente onde se compõe uma outra sociedade, com suas próprias regras e leis, diretrizes e normas que devem ser cumpridas, é como aprender uma nova cultura. Essa adaptação existe em qualquer ambiente de trabalho, mas, nesse caso, o fator de exposição aos mais diversos riscos torna-se um preocupante agravante. Não há que se fazer indiferente quanto aos riscos existentes no ambiente prisional, pois eles existem. Contudo, é evidente que a maioria das medidas de proteção, tomadas dentro dessa instituição, são superestimada e muitas vezes não possuem tal objetivo. Ficou claro em diversos depoimentos que se faz valer a regra, a lei, do que têm o maior poder (nesse caso, os agentes carcerários). O professor mantém o seu trabalho, mas se vê impossibilitado por regras em demasiado impositivas que prejudicam e desalinham os objetivos da Educação de Jovens e Adultos difundida por Paulo Freire, que incentiva a criatividade, a inovação, a transformação. Os professores não são, de fato, preparados para atuar em escolas inseridas em presídios durante a graduação, ainda que seu currículo compreenda a EJA, pois o contexto de aplicação é totalmente diferenciado e coberto de vetos. Ainda assim, os educadores estão sempre em busca de melhorias para u 217 U
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o desenvolvimento de sua prática, participando de cursos promovidos pela Secretaria ou Ministério da Educação, ou desenvolvendo projetos dentro da própria penitenciária para os seus alunos. Diante do exposto, acredito que este estudo pode contribuir em diversas pesquisas sobre a EJA em Escolas Penitenciárias, auxiliando professores ou futuros educadores a acreditarem e aprimorarem as suas práticas pedagógicas enquanto ações transformadoras. Além disso, as mudanças que ocorrerão sobre o atual plano estadual de educação para os presos, demonstra que este estudo não finda aqui e muito há que ser avaliado para melhorar as condições de trabalho ao docente e aos internos da PLB. Deve-se atentar que a formação dos docentes deve ser voltada para todo tipo de especificidades em ambientes e diversidades culturais em sala de aula. Essa formação é importante tanto para quem vai à escola, ou para quem está recluso numa penitenciária, seja em Salvador-BA ou em qualquer outro estado do Brasil. Portanto, para a realização desse estudo considera-se sua importância como forma de reintroduzir pessoas que já cometeram infrações criminais na sociedade civil, de forma mais digna e com a intenção de fazer com que não reincidam nas violações da lei. Mais uma vez o papel do professor merece todo o destaque, por sua importância e fundamental participação na formação de cidadãos, bem como na colaboração para uma sociedade mais consciente da realidade em que vive, e que busque cada vez mais mudanças e melhoria de vida. u 218 U
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Referências FEITOSA, Raphael Alves; DIAS, Ana Maria Iorio. Ensino, currículo(s) e formação docente: Mandala(s) como expressão da unilateralidade e das ciências. Jundiaí: Paco Editorial, 2015. JACINTO, Lucas. Investimento em educação reduz criminalidade. Assessoria de Comunicação da Assessoria de Comunicação da Esalq (Esalq). Disponível em: < http://www.usp.br/ agen/?p=138948>. Acesso em: 14 jun. 2015. JEFFREY, Debora Cristina; CAMARGO, Poliana da Silva Almeida Santos. Formação de professores para a educação de jovens e adultos: desafios e possibilidades. IN: PARENTE, Cláudia da Mota Darós. (et al). (Orgs.). A formação de professores e seus desafios frente às mudanças sociais, políticas e tecnológicas. Porto Alegre: Penso 2015. JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Tradução, Ruy Jungmann; Consultoria, Renato Lessa. Zahar: Rio de Janeiro, 1997. FREIRE, Paulo. Pedagogia dos sonhos possíveis. Ana Maria Araújo Freire (org.). São Paulo: Editora Unesp, 2001. LIMA, Ângela Adriana de Almeida. O método de alfabetização de adultos de Paulo Freire. 2008. Disponível em: <http:// www.soartigos.com/artigo/500/O-Metodo-de-Alfabetizacao-de-Adultos-de-Paulo-Freire/>. Acesso em: 20 set 2012. NEGROMONTE, Suzan Kelly. As práticas de leitura presentes na população carcerária do Presídio de Igarassu. 2009. u 219 U
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Universidade Federal da Paraíba. Disponível em:<http://bdtd. biblioteca.ufpb.br/tde_busca/arquivo. php?codArquivo=537 >. Acesso em: 16 jun. 2015. SEVERINO, Antônio Joaquim. Preparação técnica e formação ético-política dos professores. IN: BARBOSA, Raquel Lazzari Leite. (Org.). Formação de educadores: desafios e perspectivas. São Paulo: UNESP, 2003.
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CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO COMBATE A VIOLÊNCIA ESCOLAR Jo sé Cl o d oa r da Si l v a Li m a jcsl _ l i ma@ ya h o o . c o m
Resumo Este artigo propõe investigar as possíveis contribuições da Educação Física no Combate a Violência, buscando compreender as causas, problemas, levantando hipótese e discussões sobre o tema, apresentando a formação dos profissionais da Educação Física através de uma metodologia adaptada que motive, desenvolva valores morais, sociais e atitudináis para uma boa relação do educando com a escola. Como problema investigativo, fez o seguinte questionamento: quais as possibilidades pedagógicas para uma proposta à formação humana do ensino-aprendizagem do esporte nas aulas de Educação Física que possa contribuir para a formação de cidadãos que se respeitem entre si e, a partir daí minimizar as questões de violência na escola? A violência escolar é um processo negativo capaz de inviabilizar o principal objetivo da escola que é a formação de cidadãos críticos, qualificados para o exercício u 221 U
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profissional e da cidadania. A pesquisa com característica qualitativa surgiu da necessidade de uma melhor compreensão sobre a violência na escola e o seu combate, para o qual é necessário um trabalho de conscientização com todos os envolvidos no processo educacional, por meio de novas práticas pedagógicas. Nesse sentido, a Educação Física a partir do esporte na escola é uma forte alternativa para minimizar a violência escolar, em especial, no 6º ano do ensino fundamental do Colégio Estadual Úrsula Catharino, localizado no Centro de Salvador/Bahia, conhecido pelos altos índices de violência física, social, familiar, trafica de drogas, desemprego, gravidez na adolescência. Palavras-chave: Violência Escolar. Cidadania. Aprendizagem. Educação Física. Esporte.
Intro dução Este Artigo tem a finalidade de promover o debate sobre os aspectos da Educação Física, a partir da prática do esporte. Teve como campo de investigação o 6º ano do Ensino Fundamental no Colégio Estadual Úrsula Catharino, localizado no centro da cidade de Salvador/Ba, conhecido pelo alto índice de violência, cujo público, em sua maioria, é constituído por alunos com idade entre 11 e 14 anos, moradores da Gamboa, bairro com alto índice de violência, tráfico de drogas, desemprego, gravidez na adolescência etc. A relevância deste trabalho se dá no contexto das políticas públicas para a educação brasileira, que sempre foi um dos temas importante no cenário educacional e, por isso, se faz u 222 U
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necessário, o envolvimento de todos na identificação das necessidades das crianças e/ou adolescentes. O termo violência provém do latim “violentia-rais, semântiva vis = força” e significa opressão ou imposição de alguma coisa a outra pessoa(s) por intermédio do emprego da força, qualquer que seja o seu tipo, substância, forma ou sentido, ou seja, força dos poderes sociais, econômicos, jurídicos, políticos, das armas, física, simbólica ou de qualquer natureza (MURAD, 2007). A violência como atividade humana praticada na escola e na sociedade em geral tem origem desde os primórdios dos tempos, até a atualidade, com sua histórica trajetória inserida e identificada na permanência e na repetição constante de atos cada vez mais destrutivos da vida de crianças e adolescentes. Nesse sentido, as escolas públicas, em face de sua dimensão e importância, vem inviabilizando a formação de cidadãos críticos, de indivíduos conscientes de seus direitos e deveres para uma relação harmônica com a sociedade, além de não qualificar para o exercício de atividades profissionais. A violência escolar, não é um acontecimento contemporâneo, mas um processo sempre presente na educação brasileira que se agrava substancialmente ao longo do tempo. Um motivo desta contravenção à “Norma” decorre da desestruturação da família, do fracasso das instituições públicas de ensino, da falta de emprego e do crescimento desordenado da população, tendo como consequência o dano físico, psíquico da população e do patrimônio público. Segundo Adorno (2008), “a reincidência do delito ou indisciplina escolar, tem como uma das principais causa a u 223 U
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omissão das pessoas próximas aos que praticam, pais ou responsáveis, potencializado pela certeza da impunidade”. A insegurança dos profissionais da educação no exercício da função decorrentes das constantes ameaças física, psíquica e moral praticado por alunos, familiares, comunidades do entorno da escola, causa pânico e medo. Por se tratar de violência causada por crianças e adolescentes os profissionais da educação evitam comprometerem-se com a justiça, pais, administração pública e com a sociedade em geral, visto que, não importa quem deu causa, se a criança ou o adolescente pois, em geral eles serão sempre a vítima à vista do poder público. A ampliação da violência escolar se expressa não somente pela agressão física, mas dentre outras, pela humilhação, exclusão, ameaças, desrespeito, bullyng, indiferença, omissão etc, com fortes implicações no cotidiano, fazendo-se necessário uma avaliação permanente no projeto pedagógico da escola. Ao refletir sobre o nível de violência no 6º ano do ensino fundamental, o resultado da pesquisa procurou caracterizar o educando do Colégio Estadual Úrsula Catharino, dando pistas sobre a contribuição da Educação Física no combate a Violência Escolar, mediante práticas educativas que valorizassem e reconhecessem a necessidade do uso de regras, disciplina, normas, e sentido de cooperação. A prática pedagógica da Educação Física não pode ser enfrentada somente como uma recreação, lazer ou atividades sem objetivo ou como uma série de exercícios físicos para conquistar determinado papel. (DARIDO, 2004). u 224 U
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Para (BRASIL, 1998; DARIDO, 2004) a Educação Física é amplamente reconhecida como eficiente ferramenta de inclusão social e, seu conteúdo é passivo de ser adaptado às necessidades, dificuldades e anseios, especialmente das crianças e dos adolescentes. Daí, a importância em apresentar um problema investigativo com a seguinte questão: quais as possibilidades pedagógicas para uma proposta à formação do ensino-aprendizagem do esporte nas aulas de Educação Física que possa contribuir para a formação de cidadãos que se respeitem entre si, e a partir daí possa minimizar as questões de violência no 6º ano do ensino fundamental do Colégio Estadual Úrsula Catharino.
1. Asp ectos da violencia em relação à educação A violência escolar é um tema de estudo que nos últimos trinta anos ganhou significativa relevância. Nos anos 80 se estabeleceu como campo de investigação e, nos anos 90, a Europa, os Estados Unidos e a América Latina, demonstrou ser um problema transnacional (PACHECO, 2006). Em 1988 ganhou relevância acadêmica no Brasil, em face de definição constitucional em favor da criança e adolescente como “prioridade absoluta” – um comando legal repetido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os anos 80, 90 e 2000 foram marcados pelo aumento da violência entre jovens. De acordo com algumas pesquisas (PACHECO, 2006), são os jovens que mais morrem. O referido autor toma como referência o Brasil, entre os anos de 1980 e 2000, verificando que houve um aumento de 367% u 225 U
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no número de adolescentes assassinados. No Mapa da Violência: os jovens do Brasil IV, registra que, entre 1993 e 2002, o número de homicídios entre jovens de 15 a 24 anos aumentou 88,6%. Isso demonstra que os jovens estão mais vulneráveis à violência, em comparação com a demais faixa etária (MURAD, 2007). A expectativa com relação à educação é de que as análises a respeito do futuro sirvam de base para as reformas educacionais. O efeito multiplicador e socializador das ações das instituições de ensino da educação básica, por meio de uma política de mudança social é uma demanda inquestionável, que se relaciona com o processo de socialização e produção material para a sua existência. Sendo assim, a escola pode incorporar, reproduz e refletir na sociedade, seus aspectos de mudança, refletindo o contrário do que se percebeu nos últimos anos, ou seja, que a sociedade mundial, entre elas a brasileira, estão assistindo o crescimento dos índices de violência nas escolas, convivendo com ameaças a professores e alunos, ocupação de espaço da escola pelo crime organizado, lutas entre grupos rivais de jovens, depredação, desrespeito à autoridade de gestores e docentes, fatos esses que estão se tornando comum no cotidiano escolar. (CHAVES apud CARVALHO, 2004).
2. Visão dos professores em relação à violência escolar Para os professores do Colégio Estadual Úrsula Catharina a violência escolar tem se configurado como um dos principais desafios do processo de educação e, deve ser debatido e investigado amplamente por se tratar de um motivo de u 226 U
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estresse nas relações interpessoais, principalmente quando associado a situações de conflito em sala de aula. A violência e a indisciplina escolar são fenômenos intensamente vivenciados na escola, apresentado como uma fonte de estresse nas relação interpessoais, dificultando ou inviabilizando o cumprimento do papel da escola, que é a formação de cidadão críticos e consciente, além de formar profissionais competentes para o exercício do trabalho laboral (Garcia 1999.p 101). Vale dizer que esse tipo de violência não tem a sua origem e o seu término dentro da sala de aula, ela é apenas uma das facetas que cercam crianças e adolescentes diariamente, em outros ambientes: a violência familiar, verbal, física, comportamental, social etc. Outrossim, vale salientar que o aluno influenciado por diversos tipos de violências em casa ou na rua torna-se um meio transmissor para que esta violência adentre nas escolas. Os professores pesquisados apontaram a vulnerabilidade no exercício profissional, a desvalorização profissional, os baixos salários, a falta de qualificação profissional, como elementos desmotivadores e agravantes para a ampliação da violência. Pesquisa feita por Carvalho (2004) a respeito da insatisfação profissional dos professores demonstrou que, dentre as cinco coisas que o profissional da educação menos gosta, o que veio em primeiro lugar foi a aula, e em segundo, os alunos. Para Garcia (1999, p. 105) há uma: ... necessidade de as escolas desenvolverem uma diretriz disciplinar de base pedagógica ampla, legitimada pela comunidade escolar, consonante u 227 U
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com seu projeto político-pedagógico. Tal diretriz deve incluir o desenvolvimento de orientações (regras e procedimentos) disciplinares claras e de base ampla, as quais ganham em legitimidade à medida que são desenvolvidas com a participação dos estudantes, tornadas claras e conhecidas de toda a comunidade envolvida com a escola. A participação dos alunos é um elemento importante, pois favorece o sentimento de pertença e implica o exercício de algum grau de poder sobre as disposições coletivas, bases na criação de um senso de responsabilidade comum e um elemento de motivação. É necessária, ainda, uma disseminação ampla destas orientações comuns, que assegure que todos os estudantes, pais e profissionais da escola tenham claras as expectativas sociais e pedagógicas que estarão sendo praticadas pela escola. Em oposição ao enfoque autocrático, a abordagem democrática tende a oferecer melhores resultados não apenas em termos das atitudes, mas também do envolvimento e participação dos estudantes na escola.
Para uma grande parte dos docentes a culpa da violência escolar está na família, em face do desinteresse com seus filhos, que são encaminhados para a escola, como solução para seus conflitos de educação doméstica. A maioria dos professores creem que se faz necessário avaliar constantemente a política pedagógica da escola e a atuação docente em sala, demonstrando sempre que a união entre a educação familiar e u 228 U
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escolar são pilares importantíssimos para o exercício da cidadania e a consequente produção do respeito ao próximo.
3. Visão dos professores, co ordenadores e diretores em relação à pratica desp ortiva na escola com elemento de combate a violência escolar Os professores do Colégio Estadual Úrsula Catharino afirmaram que a prática do esporte é de grande importância porque promove o desenvolvimento integral do aluno, a socialização, a vida saudável, espírito de equipe, etc. Outrossim, a prática esportiva é um dos melhores mecanismos de mediação de conflitos, porque trabalha a obediência às regras, disciplina, valores morais, trabalho em grupo, inclusão, respeito às diferenças, superação, autoestima, dentre outros valores, possibilitando uma relação respeitosa e garantindo a troca de experiência. A pratica desportiva em seu mais amplo conteúdo exerce um papel fundamental na reeducação da criança e do adolescente, na relação interpessoal, na disciplina, quando voltada para o processo de ensino-aprendizagem e adaptada a realidade na qual o educando está inseridos, podendo tornar-se algo prazeroso, por ser um fator de relevância para o combate a violência na escola (FERREIRA, 2003). Para os educadores a pratica esportiva não deixa de ser uma atividade lúdica, pois a grande maioria dos alunos se envolve com as atividades, em face da interatividade e competitividade e, nessa dinâmica é que a obediências, as regras e a
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disciplina deve ser implementadas, possibilitando o respeito as diferenças, a inclusão e o trabalho em equipe.
4. Visão dos alunos quanto ao uso do esporte como elmento de combate a violência escolar Os alunos na faixa etária entre 11 e 14 anos, ao serem entrevistados, responderam que a aula de Educação Física era o momento mais esperado do dia, porque: a gente brincava, gritava e bagunçava, mas hoje o professor quer cobrar disciplina, regras, valorização do colega que não sabe ou não quer jogar. Perguntado aos alunos do Colégio Estadual Ursula Catarino, como o Esporte poderia ajudar no combate a violência na escola, os mesmo responderam: sim porque esta atividade trabalha com a disciplina, desperta o interesse dos praticantes, ajuda a melhorar o comportamento, o desempenho, a obediência, ajuda a ter uma visão melhor das coisas e proporciona o bem estar, mas para tanto, os professores deverão usar materiais diferenciados que instiguem a curiosidade, maior quantidade de competição, etc. Diante da fala dos entrevistados é possível observar que a prática esportiva deve ser adaptada, com uso de estratégias cujo objetivo é uma reflexão que possibilite melhor visão de mundo em face de aplicação de regras, valores, cooperação, inclusão e disciplina, com vista a mudanças no comportamento dos educando. Outrossim, esta é uma nova realidade, pois enxergavam a aula de educação física como um momento mais esperado para brincar e gritar, pois o único objetivo é o divertimento e não somente a obediência as regras. u 230 U
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Considerações f inais Constatou-se que a violência escolar não é um problema fácil de ser resolvido porque é uma situação histórica de grande complexidade com origem multifacetada e está diretamente relacionada com a desestruturação familiar. Vale dizer que a violência está entranhada em nosso dia a dia, ao ponto de ser vista pela sociedade como algo natural, aceitável que não pode ser mudado, gerando conformismo. A violência dentro da escola aumenta a cada dia e, retira da instituição de ensino a possibilidade de cumprimento de seu papel que é a formação de cidadão crítico, consciente de seus direitos e deverem, além da capacitação para o exercício profissional. A intimidação dos docentes, pelas ameaças físicas, psíquicas e morais realizadas pelos alunos, pais e comunidade é agravado pelos baixos salários e pela falta de segurança policial e jurídica que consideram a criança e o adolescente em estado de vulnerabilidade e vítima de uma sociedade violenta, fragilizando assim a autoridade do educador em sala de aula, diminuindo bruscamente a possibilidade de intervir para a construção de uma sociedade pacífica, educada e capacitada para o exercício profissional. A mudança dessa realidade não é tarefa fácil e nem há uma fórmula que garanta a erradicação desse problema, por isso se faz necessário que a escola fique atenta a esta realidade e promova constantemente reuniões, debates sobre esta realidade e formação continuada com todos os profissionais envolvidos na busca de solução. Nesse sentido, o professor de Educação Física como parte integrante desse processo pode u 231 U
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contribuir significativamente, usando, durante suas aulas, regras do esporte como estratégia para implementar a disciplina, a inclusão e o respeito ao próximo e, como isso contribuir para o combate a violência escolar. Evidencia-se que a Educação Física, a partir do esporte, tem um papel muito importante no campo da formação humana do educando e da comunidade, com reflexo positivo para a sociedade, pois além de trabalhar a coletividade, como fator importante para que a criança possa interagir com outras numa convivência social, passa a facilitar a inclusão social dos alunos. O estudo se inclinou a investigar a prática desportiva pautada em princípios significativos com possibilidades de uma intervenção pedagógica no campo da formação humana, partindo de uma realidade, trabalhada no coletivo, com vista à cidadania dos alunos, dando ênfase para a minimização da violência escolar, a partir do convício social, privilegiando as relações de auto organização e reconstrução dos processos de aprendizagem e produção do conhecimento. Os princípios pedagógicos se estabelecem a partir das mediações produzidas pelo professor de Educação Física, quando adota metodologias pautadas em problematizações, que partem da realidade social e promove no trabalho pedagógico, vencendo desafios por meio de uma proposta voltada a formação humana, com atividades que devem promover o lúdico como fator de enriquecimento das relações cooperativas. Mediante essas considerações finais entendemos que os professores de educação física que transmitem conhecimento acerca do esporte em geral devem ter conhecimento dos princípios metodológicos a serem aplicados na iniciação u 232 U
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esportiva. Isso porque, tais conhecimentos apresentam uma relação determinante com o aprendizado do aluno, considerando a seleção das atividades corporais a serem propostas, com as diretrizes pedagógicas, e princípios voltados à formação do aluno / cidadão. A escola, diante do quadro de violência, deve ter profissionais com habilidades específicas e técnicas que facilitem a implantação de estratégias de prevenção e combate a este fenômeno, dentre elas, a valorização dos integrantes da comunidade escolar, a possibilidade da abertura de um canal de expressão para alunos, professores, técnicos, familiares e outros, na qual favoreça o diálogo e a difusão de uma cultura de e para a paz. Conclui-se que o esporte é uma das melhores alternativas hoje instituídas em várias modalidades de ensino por ser um fenômeno social de grande relevância, haja vista que revela um mundo de possibilidades refletidas nos benefícios de quem os praticam.
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O PAPEL DO PROFESSOR DIANTE DA TECNOLOGIA DA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO Afo n so Sa nt a na de M i ra nda afo n so mi ra nda 7 7 7 @ g m a i l . c o m
Resumo: A análise da prática pedagógica tem demonstrado que só será possível mudanças significativas na educação brasileira, à medida que o professor apresentar uma compreensão profunda da razão de ser da sua prática e uma clara opção política acerca do seu ato pedagógico. É indiscutível a importância da motivação na aprendizagem. Um aluno pode ser inteligente, mas se ele não quiser aprender, ninguém poderá fazê-lo aprender. Se submetido a uma situação de aprendizagem como, por exemplo, uma aula, ele provavelmente dedicará sua energia e atenção a fins menos desejáveis. Por outro lado, um aluno altamente motivado provavelmente fará melhor do que tivesse previsto um teste de inteligência. Convém considerar que a motivação é algo interior. As pressões externas podem aumentar o desejo de aprender, mas é necessário primeiramente o desejo de aprender. Os psicólogos lembram u 235 U
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que a motivação tem origem numa necessidade, que determina a direção do comportamento para alvos apropriados à sua satisfação. Assim, quando alguém tem necessidade de obter determinado conhecimento, dirige sua atenção e energias para leituras, cursos, palestras e outras ações capazes de satisfazer aquela necessidade. Os recursos audiovisuais são muito importantes para manter o grupo atento. A eficiência obtida com esses recursos torna-se maior quando sua utilização é diversificada. A fim, de facilitar a aprendizagem dos alunos, o professor faz uso destas estratégias para a obtenção de seus objetivos. Palavras-chave: Novas Tecnologias, Informática, Ensino-Aprendizagem, Escola, Docência, Educação.
1. INTRODUÇÃO A análise da prática pedagógica tem demonstrado que só será possível mudanças significativas na educação brasileira à medida que o professor apresentar uma compreensão profunda da razão de ser da sua prática e uma clara opção política acerca do seu ato pedagógico. É indiscutível a importância da motivação na aprendizagem. Um aluno pode ser inteligente, mas se ele não quiser aprender, ninguém poderá fazê-lo aprender. Se submetido a uma situação de aprendizagem como, por exemplo, uma aula, ele provavelmente dedicará sua energia e atenção a fins menos desejáveis. Por outro lado, um aluno altamente motivado provavelmente fará melhor do que tivesse previsto um teste de inteligência.
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“Como qualquer outra estrutura social, a escola precisa ser aceita por seus participantes (...)” (PAPER, 1994, p.13).
Os recursos audiovisuais são muito importantes para manter o grupo atento. A eficiência obtida com esses recursos torna-se maior quando sua utilização é diversificada. Assim, este trabalho tem como objetivo refletir a respeito da importância das novas tecnologias no processo de ensino-aprendizagem.
2. O PAPEL D O PROFESSOR DIANTE DA TECNOLO GIA DA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO Para facilitar a aprendizagem dos alunos, o professor faz uso destas estratégias para a obtenção de seus objetivos. As estratégias de ensino são diversas. Entretanto, muitos são os professores universitários que dominam uma única estratégia, que é a exposição pelo uso do projetor de imagens (data show). Também há muitos professores que, embora conhecendo outras estratégias, não as aplicam por não se sentirem seguros para tal. E ainda há os professores que diversificam suas estratégias unicamente pelo desejo de diversificar, sem saber se são ou não adequadas aos seus propósitos. Ao escolher determinada estratégia, deverá o professor certificar-se de que esta é adequada à sua clientela e também aos objetivos que pretende alcançar. As tecnologias são importantes, mas apenas se soubermos utilizá-las. E saber utilizá-las não é apenas um problema técnico. As tecnologias sem u 237 U
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a educação, o conhecimento e a sabedoria que permitam organizar o seu real aproveitamento, levam-nos a cometer mais rápido e em maior escala os mesmos erros. As transformações que atualmente varrem o planeta vão muito além de uma simples mudança de tecnologias de comunicação e informação. O mundo atual constitui ao mesmo tempo um desafio para a educação, e uma oportunidade. Um desafio, porque o universo de conhecimento está sendo revolucionado tão profundamente, que ninguém sequer se pergunta sobre a importância da atualização da educação. A mudança é hoje uma questão de sobrevivência e a contestação não virá de “autoridades”, e sim do crescente e insustentável “saco cheio” dos alunos, que diariamente comparam os excelentes filmes e reportagens científicas que surgem na televisão e nos jornais com as mofadas apostilas e repetitivas lições da escola. Frente às transformações tecnológicas que varrem o planeta, o mundo da educação permanece como que anestesiado. A realidade é que, pela primeira vez, a educação se defronta com a possibilidade de influir de forma determinante sobre o nosso desenvolvimento. Partindo das tendências constatadas em diversos países, vislumbramos um conceito de educação que se abre rapidamente para um enfoque mais amplo. Desta forma, não é apenas a educação que se defronta com as novas tecnologias: estas mesmas tecnologias estão impactando todo o universo social e gerando novas dinâmicas aonde o conhecimento vai se tornando gradualmente central. u 238 U
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É necessário repensar de forma mais dinâmica e com novos enfoques a questão do universo de conhecimento a se trabalhar: ninguém mais pode aprender tudo, mesmo que seja de uma área específica. O velho debate que data ainda do século XVI, sobre se a cabeça deve ser bem cheia ou bem feita, torna-se mais presente do que nunca. “Encher” a cabeça tornou-se inviável, além de inútil. Se o século XX foi o século da produção industrial, dos bens de consumo duráveis, o século XXI será o século da informação, da sociedade do conhecimento. É essencial tomar consciência de que a existência das tecnologias modernas de comunicação tornam-se atualmente simples e baratas. Na escola, o processo é diferente, mas envolve igualmente esta lenta assimilação e os dilemas organizacionais. Gera-se um “laboratório” de informática, com chave, horários restritos ao uso e uma “disciplina” de informática, como se fosse mais uma área de estudo. De acordo com Moran: Todo conhecimento constitui, ao mesmo tempo, uma tradução e uma reconstrução, a partir de sinais, signos, símbolos, sob a forma de representações, idéias, teorias, discursos. A organização dos conhecimentos é realizada em função de princípios e regras; comporta operações de ligação (conjunção, inclusão, implicação) e de separação (diferenciação, oposição, seleção, exclusão). O processo é circular, passando da separação à ligação, da ligação à separação, e, além disso, da análise à síntese, u 239 U
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da síntese à análise. Ou seja: o conhecimento comporta, ao mesmo tempo, separação e ligação, análise e síntese (MORAN, 2003, p. 24).
Nesse cenário, a aquisição da informação, dependerá, cada vez mais, da interação em função de princípios, regras e tecnologia que, na atualidade, podem associar dados voltados para a aquisição do conhecimento, a todo o aparato tecnológico, de forma rápida e atraente, encantando o alunado e facilitando a atuação do professor. A facilidade crescente de consulta aos professores via internet muda igualmente a organização de trabalho. Muitos professores hoje já disponibilizam material científico de consulta em sites pessoais, ou na homepage da escola, em vez de recorrer aos tradicionais escaninhos com fotocópias. E os alunos se acostumam gradualmente a consultar os professores via e-mail, a submeter os seus trabalhos a uma apreciação intermediária e assim por diante. É importante ter em mente que as novas tecnologias criam desafios organizacionais na escola, mas também apontam desafios institucionais mais amplos ao sistema educacional em geral. As transformações que nos interessam mais diretamente se dão sem dúvida com ênfase na própria escola. Esta visão, por sua vez, deve apoiar-se ativamente nos avanços tecnológicos recentes que estão gerando uma transformação qualitativa nas áreas do conhecimento em geral, exigindo uma ampliação dos nossos enfoques, e em particular um trabalho de análise para sabermos como incorporar estas inovações u 240 U
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na perspectiva de uma educação progressista e menos excludente. Os avanços tecnológicos mencionados estão gerando novos espaços de conhecimento, que exigem tratamento diferenciado e articulado. Há hoje uma guerra pelo controle destes segmentos que tendem a formar, cada vez mais um espaço interativo comum: a cultura, a informação, a educação, a pesquisa e a comunicação. Este eixo está se tornando a espinha dorsal de uma série de transformações estruturais no planeta. Não se pode mais falar de uma ilha no meio do processo do universo educacional, sem se referir ao processo de transformação maior. A pressão por um nível mais elevado de conhecimentos atinge todos os setores: agricultura, indústria, bancos, saúde e a própria educação. Com isto, a educação deixa de ser uma breve passagem pelos “bancos” escolares, na preparação para a vida profissional. Trata-se de aprender, reaprender em todas as fases da vida, e de reorganizar a educação em função do novo universo. Não basta assimilar conhecimentos em informática, internet e outras tecnologias. As novas tecnologias trazem transformações nas maneiras de trabalhar o conhecimento e exigem por sua vez, novas formas de organização do tempo, do espaço e das relações internas da escola: são as chamadas mudanças organizacionais. O espaço que procuramos ocupar com a escola e as novas tecnologias não é mais um espaço vazio. Poderosas corporações da mídia, da informática, de pesquisa e desenvolvimento, buscam controlar estes espaços. O desafio das novas u 241 U
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tecnologias não é apenas técnico e pedagógico, é também um desafio de “poder”. Este novo universo de “poder” não pode ser ignorado e sim enfrentado e domado. E como registra Masetto: A internet é um recurso que poderá ajudar a nós professores e aos alunos em seu processo de aprendizagem a superar duas dificuldades no incentivo à leitura e à pesquisa: certa rejeição dos alunos em ler livros, preferindo substitui-los por apostilas, e alguma resistência em se dirigir à biblioteca para pesquisar. (MASETTO, 2003, p. 137).
Logo, o processo educacional no Brasil há que atender a situações de ensino e aprendizagem, ou seja, superar dificuldades com o uso d tecnologia fazendo dela um recurso facilitador do processo educacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se que, a tecnologia no processo de ensino aprendizagem, promove mudanças de comportamentos sociais, culturais e cognitivos. Essas mudanças estão ocorrendo em todas as áreas e, se fazem necessárias ainda mais no âmbito da educação, tendo em visto que são importantes instrumentos facilitadores ou veículos que auxiliam a Competência pedagógica e a prática docente.
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Este livro foi composto em Sabon Next LT pela Editora Autografia e impresso em papel offset 75 g/m².
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