Vanessa Labarrere
Alice no fundo do mar Ilustraçþes de Severino Ramos
Alice no fundo do mar
Dedico esse livro a minha m達e, que me ensinou a amar, e a meu pai, que me ensinou a amar a natureza.
Vanessa Labarrere
Alice no fundo do mar Ilustrações de Severino Ramos
1ª edição - São Paulo - 2014
© Copyright, 2014 – Vanessa Labarrere Em conformidade com a Nova Ortografia. Todos os direitos reservados. Editora Volta e Meia Rua Engenheiro Sampaio Coelho, 111 04261-080 – São Paulo – SP Fone/fax: (11) 2215-6252 Site: www.editoravoltaemeia.com.br Agente literário: Andrey do Amaral Coordenação: Marco Haurélio Leitura crítica: Jeosafá Fernandez Gonçalves Ilustrações: Severino Ramos Projeto Gráfico, capa e editoração eletrônica: Viviane Santos
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Labarrere, Vanessa Alice no fundo do mar / Vanessa Labarrere; ilustrações de Severino Ramos. - São Paulo : Editora Volta e Meia, 2014. 52 p. : il., color. ISBN: 978-85-65746-37-3 1. Literatura infantojuvenil 2. Meio Ambiente 3. Poluição I. Título II. Ramos, Severino 14-0602
CDD 028.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura infantojuvenil
Apresentação Com Alice no fundo do mar, Vanessa Labarrere chama a atenção para um problema da maior gravidade: a ocupação desenfreada do litoral brasileiro e a falta de controle na produção e descarte de lixo, comprometendo o equilíbrio ecológico até debaixo d’água. Alice é filha de um biólogo e, muito curiosa, se interessa pelos seres vivos do oceano, em especial pelas tartarugas. E é com uma tartaruga marinha, Madu, que a curiosa menina travará contato. A convite da nova amiga, com quem se comunica, ela descobre as belezas do fundo do mar. Conhece, ainda, o efeito da ação humana, que polui os oceanos, causando sérios danos à vida subaquática. Alice ainda se envolve em várias aventuras que mais parecem histórias de pescador, na tentativa de fazer uma faxina nos corais, em que é auxiliada por prestativos e inteligentes golfinhos. Apesar de tratar de um tema sério, a história que a Vanessa nos conta é leve e bem-humorada. A primeira tentativa de Alice de se comunicar com um golfinho rende momentos
engraçados. Há espaço também para a reflexão, quando tomamos contato com os danos que o lixo jogado no mar pode causar a animais como as baleias e os golfinhos, que confundem plástico com alimento. O nome da protagonista e a aventura fantástica que ela vivencia mostram que a autora homenageia, neste livro, o clássico da literatura infantil Alice no País das Maravilhas, do escritor inglês Lewis Carrroll (1832-1898). Mas a Alice imaginada pela Vanessa, ao contrário da sua xará, vive entre o sonho e a realidade, e, quando conversa com os animais, se aproxima de outro personagem clássico, o Dr. Dolittle, criado pelo escritor inglês Hugh Lofting (1886-1947), que tinha o dom de entender a linguagem dos bichos. Aprendemos, com Alice, que não é possível viver num mundo perfeito, mas podemos fazer do planeta Terra, a nossa casa, um lugar muito melhor. Marco Haurélio
Capítulo 1 — É hora de acordar! Passados alguns minutos, Luís Carlos volta e encontra a filha, Alice, dormindo exatamente como antes. — Vamos! Acorda! Ele bate palmas e assovia. Ela resmunga: — Ah, não. Tá escuro. Nem abri os olhos ainda. — Se você abrir os olhos perceberá que já está claro. Anda logo. Hora de levantar. Nenhum sinal de que a garota vá obedecer. — Chega de moleza! Quer ver as tartarugas marinhas ou não? Tou indo. Tchau. Ela, então, se levanta da cama num pulo. Nem parecia a mesma preguiçosa de um minuto atrás. Troca de roupa, pega a mala e dispara para a sala. — Paiêêêêêê, tô proooonta!
Nada. “Será que ele já foi?” — ela pensou. Eis que o pai aparece no corredor. — Você vai sair assim descabelada? E essa roupa do avesso? — A minha roupa não tá do avesso coisa nenhuma. — É brincadeira. Vamos tomar o café da manhã. A caminho da cozinha, o pai faz um carinho nos cabelos da filha. Alice adora as tartarugas marinhas. Ela já viu muitas em fotos e vídeos, mas queria vê-las pessoalmente, tocá-las e falar com elas. — Alice, eu já te disse que as tartarugas não falam. — Mas eu quero falar com elas, papai. A viagem não é longa. Alice e seu pai vão passar uma semana de férias na praia do Forte, na Bahia. Ao chegarem à vila, o pai conta para a filha que ali perto existe um castelo antigo. — Lá tem princesa? – Alice brinca com o pai. — Acho que não. Mas vai ter no dia em que nós estivermos lá, porque a princesa é você. Alice sorri. O vilarejo parece uma cidade encantada. Alice pensa que faz muito sentido existir um castelo ali perto. É um cenário perfeito para contos de fadas, com reis, vilões e bruxas... — É só um castelo em ruínas, Alice. — É proibido imaginar? O pai fez que não ouviu a pergunta meio malcriada.
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Então, os dois saíram do carro, com suas maletas, e foram para o quarto do hotel guardar as coisas. A praia estava logo ali na frente e Alice podia ouvir o barulho das ondas do mar. — Pai, vamos brincar na água? — Boa ideia, Alice. A caminho da água, na areia, Alice viu uma latinha de refrigerante e uma fralda descartável e, nas ondas, um papel de picolé e uma garrafa pet boiavam. — Pai, por que as pessoas jogam essas coisas na água? — A maior parte das vezes elas não jogam na água: elas deixam o lixo na areia mesmo, então, a maré sobe e leva tudo para o mar. — E por que elas não jogam na lixeira, pai? — Porque quase nunca há lixeiras por perto, e porque muitas pessoas não se educaram para recolher seu próprio lixo. — Nossa! — Mas não é só o lixo dos banhistas que poluem o mar, não. Outras vezes, o pessoal que trabalha nos navios joga o lixo no oceano e as correntes marítimas levam para praia. E também o lixo que as pessoas jogam no chão nas cidades pode vir para o mar. — Como? — Quando chove, a enxurrada carrega o que está no chão para as tubulações das ruas. Essas tubulações mandam tudo para o rio, que deságua no mar. Alice ficou pensativa. Tudo parecia tão ligado. Ela nunca imaginou que uma latinha de refrigerante jogada na rua poderia ir tão longe.
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O pai, vendo a preocupação da filha, disse: — Por isso a gente deve sempre jogar o lixo nas lixeiras. O lixo que se joga nelas é recolhido pelos garis e levado em caminhão para o lugar certo, onde será tratado. Agora que tal um desafio? — Qual? — Está vendo aquelas pessoas nadando ali? — Sim. — Vamos ver quem chega primeiro perto delas? Alice ficou com um pouco de medo da distância. Luís Carlos deu um pulo e saiu correndo pela água. Ela viu que não tinha perigo e se apressou para alcançá-lo. Alice ainda não tinha visto nenhuma tartaruga marinha, por isso olhava atenta para todos os lados da praia, procurando alguma. Sabia que, quando filhotes, elas cabiam na palma da mão, mas que, quando adultas, podiam ser maiores do que uma criança. Enquanto brincava na água, Alice imaginava como seria estar no fundo do mar entre peixes, caranguejos, moluscos, mexilhões, medusas e algas. Devia ser emocionante vê-los em seu habitat. Luís Carlos era biólogo e por isso ela gostava de lhe fazer perguntas sobre as tartarugas marinhas. — Pai, as tartarugas ficam mais tempo fora ou dentro da água? — Elas ficam debaixo d’água durante muito tempo. Em repouso, a tartaruga pode ficar até quatro horas dentro d’água sem respirar. Mas em atividade precisa subir e respirar a cada vinte minutos.
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— Puxa, que tempão! E você, de quanto em quanto tempo precisa respirar? — O tempo todo, né, pai? Luís Carlos explicou a Alice que as tartarugas são migratórias, isto é, elas podem atravessar oceanos e ir de um continente a outro. Ele disse ainda que as tartaruguinhas nascem de ovos que são postos na areia da praia e que, ao nascerem, elas correm imediatamente para o mar. — Elas põem seus ovos em qualquer praia? — Não, quando a tartaruga adulta vai ter filhotes, ela retorna à mesma praia em que nasceu. Na hora de desovar, as tartarugas saem do mar e caminham até a areia da praia, onde cavam um buraco bem grande com suas nadadeiras e colocam seus ovos lá no fundo. O ovo de tartaruga é redondinho e se parece com uma bolinha de pingue-pongue. Assim, os filhotes das tartarugas sempre nascem na mesma praia em que suas mães nasceram. — E o que as tartarugas marinhas comem, pai? — Plantinhas e animais menores, como peixinhos. Luís Carlos explicou para Alice que o lixo que vai parar no mar é muito perigoso, pois as tartarugas e outros animais marinhos o confundem com alimento e o ingerem. — E o que acontece se os animais marinhos comerem lixo, pai? — Eles podem ficar doentes e até morrer. Por isso é tão importante jogar o lixo sempre na lixeira. Alice tinha se divertido muito na praia durante o dia e estava realmente feliz com a deliciosa aventura de férias.
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PorÊm toda essa agitação a tinha cansado demais. O resultado foi que, logo depois do jantar, cedo da noite, diante da TV, ela caiu no sono.
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