Erly Vieira Jr (org.)
MARCUS VINÍCIUS A PRESENÇA DO MUNDO EM MIM
2016
MARCUS VINÍCIUS A PRESENÇA DO MUNDO EM MIM performance | fotografia | vídeo
2007-2012
Erly Vieira Jr (org.) Editora Pedregulho | Galeria de Arte Espaço Universitário
FICHA TÉCNICA Organização Erly Vieira Jr P rodução Editorial Aline Alves Leonardo Vais Marília Carreiro C apa, Diagramação e P rojeto Gráfico Paulo Prot Foto de C apa É NO MEU OLHO QUE O MUNDO DIMINUI (Is in my eye that the world decreases) Yury Aires A presentação Neusa Mendes T extos Aline Alves Erly Vieira Jr Kenny Neoob Leonardo Vais Marcus Vinícius Ricardo Maurício Gonzaga R evisão Aline Alves Marília Carreiro T radução Thiago Veronez R evisão de T radução Waldir Segundo P esquisa Érika de Souza Erly Vieira Jr
Fotos* Al Paldrok, Amanda Freitas, Andrea Cristina dos Santos, Annika Kronqvist, Denise Alves-Rodrigues, Domix Garrido, Elina Rodriguez, Fabrice Ziegler, Federico Feliziani, Fuensanta Balanza, Ghustavo Távora, Jimmy Rangel, Johannes Blomqvist, Juan Calle, Julio Callado, Kimmo Hokkanen, Luara Monteiro, Marcus Vinícius, Maria Fedorova, Maria José Trucco, Mariana Alvarez, Mariusz Marchewa, Marne Lucas, Michico Totoki, Monique Mossefin, Rubiane Maia, Sandra Baziz, Santy Gasquet, Shima, Valeria Cotaimich, Veera Nummi, Ville Karel, Verónica Meloni e Yury Aires *As fotos utilizadas neste livro ou foram cedidas pelos autores ou fazem parte do acervo da Galeria de Arte Espaço Universitário - Ufes. Desenhos Josefina Muslera Marcus Vinícius P rodução Executiva Aline Alves Erly Vieira Jr Leonardo Vais Marília Carreiro A ssistência de P rodução Érika de Souza Waldir Segundo Comunicação Aline Alves Leonardo Vais R ealização Baile – Ufes Editora Pedregulho Galpão Produções Galeria de Arte Espaço Universitário – Ufes
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ······ 11 As múltiplas estratégias do corpo segundo Marcus Vinícius ······ 15 Do salto de um trampolim ······ 25 Dentro de um tem o outro ······ 33 A Fundação de um Corpo ······ 39 Limites e Rasuras ······ 51 El Cuerpo Extraño ······ 67 El Cuerpo-Paisaje ······ 85 Outros Contatos ······ 105 Diários de Passagem ······ 111 O Horizonte é o Limite ······ 125 O Devaneio, Aqui e Agora ······ 139 Presenças ······ 157 Sobre Marcus Vinícius ······ 163 English Version ······ 185
“Cualquier destino, por largo y complicado que sea, consta en realidad de un solo momento: el momento en el que el hombre sabe para siempre quién es” ( Jorge L. Borges, biografía de Tadeo Isidoro Cruz) “Identity is a journey that is unfinished” (Andrea Kroksnes e Sabrina Van Der Ley, 2012)
Fotografia de (photo by) Federico Feliziani
Meus trabalhos partem da observação e interpretação do espaço que me rodeia, enfrentando os embates éticos e estéticos de pensar esses espaços e as narrativas de intimidade. Defender o silêncio, o poético e a invisibilidade. Após essa aproximação aos lugares, intervenho com/no meu corpo em performances que estabelecem um diálogo entre o real e o imaginado. Inclina-se, desta maneira, pelo vivencial, as experiências próprias dos lugares habitados dia a dia. Quero estar conectado e explorar a relação entre o eu e seu entorno num mundo dilacerado pelas transformações urbanas e midiáticas, criando ações que manifestam transitoriedade e instabilidade. Tentativas de fazer um mundo para sobreviver... e viver minhas obsessões. Entender o cotidiano não só como espaço de sociabilidade, mas como paisagem. Uma busca de transcendência dos meus limites e de conexão com a totalidade, com a natureza idealizada, com o meu universo simbólico. Meus trabalhos traçam um mapa psíquico pessoal que expressa quem eu sou. Contudo, não são apenas sobre mim nem para mim. São profundamente tanto pessoais como arquetípicos. Tratam do escuro desejo que se desconhece. É uma busca de uma poética do cotidiano que vislumbra no limiar o excepcional, a transfiguração, o sublime, mas sei que esses são apenas instantes que ficam guardados em desenhos, instalações, fotografias e vídeos. Por ter vivido momentos-limite de tanta intensidade, esse homem, personagem, ser, segue caminhando, não se consome; e por mais que caminhe, olhe, viva, sofra, é um homem comum. Afinal, tudo é tão simples... e, de uma forma ou de outra, é autobiográfico. Marcus Vinícius Buenos Aires, janeiro de 2012
Fotografia de (photo by) Jimmy Rangel
APRESENTAÇÃO Alma que permanece a andar sob a luz Não teria como começar este texto senão agradecendo. Aliás, ele é um “quase nada” perante o gesto de generosidade da família de Marcus Vinícius (especialmente sua mãe Kelsia e sua irmã Érika) e a importância pessoal e histórica do acervo do artista. Este acervo, doado pela família à Galeria de Arte Espaço Universitário, órgão vinculado à Secretaria de Cultura/Ufes, constitui todo o espólio artístico do artista, e pode aqui ser reconhecido como uma escrita de MV, como era conhecido pelos amigos. O livro Marcus Vinícius: a presença do mundo em mim, organizado por Erly Vieira Jr, que também assina boa parte dos textos, e a exposição, sob a curadoria de Júlio Martins, apresentam uma instigante produção de arte contemporânea e trazem uma reflexão pioneira para os ambientes responsáveis pela preservação de obras de arte e da cultura no campo da história da arte, da memória e da era digital. Em relação aos dados em mídias digitais (que compõem a maior parte do acervo do artista), trata-se de um mundo novo na gestão de referências para museus e arquivos, que começa a surgir com o avanço das possibilidades de novas estruturas da informação e do conhecimento, propondo-nos novas técnicas de ver, estudar e armazenar. Essas técnicas podem ajudar a melhorar as coisas no ir e vir por geografias e paisagens diversas, neste ir e vir por tempos diversos, tendo em vista que a característica principal da obra de Marcus Vinícius é a transdisciplinaridade. O artista desenvolveu uma pesquisa de forma híbrida e potente, tendo em vista os diálogos entre objetos, vídeos, fotografias, site specific, land art e performance. Todo o espólio de Marcus Vinícius, ainda no aguardo de ser inventariado, é um importantíssimo patrimônio artístico e científico e está sob a direção da Coordenação de Artes Plásticas da Secretaria de Cultura/Ufes para perenização dessa coleção relevante à sociedade, sua importância, significado e identidade das artes visuais no cenário capixaba e nacional; soma-se ao acervo da Galeria de Arte Espaço Universitário, que corresponde, hoje, ao maior acervo de arte contemporânea do estado, com cerca de mil e seiscentas obras – localizadas na Seção de Acervos e Coleções, cuja proposta é inventariar, documentar, higienizar, registrar, descrever analiticamente e disponibilizar as fontes preservadas do acervo da Ufes. Espaço de convergência, a Galeria de Arte Espaço Universitário está a serviço da arte, do conhecimento e da cidadania. Totalmente sintonizada com os movimentos contemporâneos, objetiva promover uma reflexão sobre preservação da memória crítica da produção plástica e visual contemporânea, abrindo um diálogo qualificado entre pesquisadores, estudiosos, professores, alunos, técnicos, cientistas, profissionais e públicos em geral. Encontrei uma única vez com MV, por ocasião da exposição Transcendências, em 2010. Ele era alto, magro, tinha uma voz calma e lúcida, sempre em busca das palavras certas, o que destoava da aparição que encontramos em seus trabalhos. Sua carreira foi bruscamente interrompida aos 27 anos, em setembro de 2012, na Turquia, quando estava
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em viagem de trabalho pela Europa e Ásia. MV possui um currículo invejável, desde exposições em importantes cidades brasileiras, nas Américas, além dos continentes já relacionados acima, até participações em salões, bienais e festivais internacionais. Não consigo descrever a impavidez que senti ao vasculhar o arquivo do artista diante da força do poder memorativo de sua poética. É possível confirmar e ratificar o poder evocativo dessa poética no memorial descritivo feito por Marcus Vinícius em meados de 2007 e enviado para ingresso no doutorado na cidade argentina La Plata, no qual o artista detalha sua formação e seu percurso artístico até então. A narração em primeira pessoa é subjetiva, pois trata da historiografia de Marcus Vinícius e é, também, um inventário das suas obras. A função do memorial é garantida pela identidade de um jovem com apenas 22 anos, iluminado por uma alma que permanece a andar sob a luz, cujo signo mágico e seu referente identificam-se paradoxalmente. Marcus Vinícius era extremamente organizado. Parte daquilo que ele lançou nos seus arquivos não foi jogado aleatoriamente. Documentos foram colocados em pastas, envelopes, listas, correspondências, agendas, programações de viagens, encontros. Tudo o que considerava importante referência para o seu trabalho (objetos, fotografias, documentos oficiais, trabalhos realizados, projetos futuros em HDs e arquivos diversos) lhe favorecia como guia. Colados em agendas de registro – que mais lembram diários, o acervo é recheado pelos documentos que o artista armazenou. Marcus Vinícius não deixava de apontá-los, o que facilita certa ordem ou sequência, da mesma forma que a história nos ensina a ler pistas deixadas nas obras de arte. Há um pouco dos seus devaneios cotidianos. É uma obra à parte.
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Organizar a vida é um processo. É um olhar interior que caracteriza a memória como um fenômeno individual, são as minhas memórias e as dos outros – são as impressões individuais vividas e a continuidade temporal de cada um de nós, passado, presente e futuro, que nomeamos identidade, e a memória é uma experiência interior. A questão torna-se, assim, o cerne da vida de alguns indivíduos que se dedicam a elaborar formas de conquistar a imortalidade, mesmo que inconscientemente. Marcus Vinícius operava à maneira de um arquivista, sistêmico, sempre preocupado com a posteridade, mesmo na possibilidade de conservar o transitório.
1 Trecho extraído do catálogo da MONGOLIA 360 2nd Land Art Biennial, 2012, publicado pela Mongolia National Modern Art Gallery, sob tradução livre da autora.
A surpresa do silêncio é petrificante, o silêncio da espera. Eu senti uma forte energia andando no deserto, em busca de um lugar para a performance, encontrei um ramo dourado caído no chão entre pedras e flores. Eu senti uma força brilhante e intensa, olhei ao redor e me vi em volta de árvores douradas. Essas plantas nascem em todo o deserto, mas não crescem mais que 50cm e nunca devem ser removidas da terra pois as árvores são a proteção de famílias que vivem lá. [...] Defini que este seria o lugar que eu deveria performar. [...] A performance me colocou em um lugar do visível, convergindo o inconsciente em uma aproximação exploratória da minha vulnerabilidade física e psíquica... numa tentativa de entender meu caminho de ação e vida. Eu acredito que uma sensação de melancolia jaz debaixo de cada movimento da experiência artística: os projetos de arte e o ideal de beleza que toca momentaneamente o eterno1.
Rever e reviver tornam-se, assim, uma coisa só para o artista. É bem verdade que o vocabulário encontrado nos arquivos de MV soma tudo isso e o que interessava ao artista era a vida como estímulo. Ao mesmo tempo, há a construção de analogias (metáforas) e transbordamentos (metonímias) daquilo que foi, na sua potência, o que já lhe pertenceu e o que só a arte foi capaz de assolar. A obra de Marcus Vinícius revela-nos o que, invariavelmente, somos: matéria, corpo, carne, fluidez e natureza, e que, para a viagem do futuro, levamos apenas o que veste a alma. Neusa Mendes Coordenadora de Artes Plásticas/Ufes
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Fotografia de (photo by) Jimmy Rangel
As múltiplas estratégias do corpo segundo Marcus Vinícius Erly Vieira Jr Um homem jovem, de pé, no alto de uma cachoeira, em meio à mata, posicionado a menos de dois metros de uma queda d’água e de costas para a mesma: sua silhueta esguia, vista de longe, permanece silenciosa durante quase três horas, atada aos galhos flexíveis da vegetação por duas frágeis tiras de tecido, como se naquele momento também pudesse ser rocha atravessada pela correnteza. É esse mesmo corpo, aliás, que percorre, em marcha apressada, as ruas de Bogotá e Buenos Aires, revestido de pequenos alto-falantes que emitem ruídos estridentes e causam estranhamento nos transeuntes em meio ao caos sensorial urbano; e que, coberto da cabeça aos pés com uma fita adesiva com a palavra frágil, caminha lentamente pelas ruas de Ipanema, no Rio de Janeiro, como se fosse uma presença alienígena e hipnótica em pleno fim de tarde num calçadão à beira-mar. De olhos vendados, ele apreende os sons, vozes, aromas e texturas de uma cidade anciã, que ainda desconhece: São Petersburgo. Em meio à solidão de uma ilha lacustre na Patagônia, emoldurado pela cordilheira dos Andes, faz-se deslizar lentamente num outro espaço-tempo, em que o próprio desejo e o processo de sua descoberta permitem que ele se confunda com a placidez da paisagem. Recolhido em um ninho por ele escavado no deserto de Gobi, na Mongólia, tendo como únicos companheiros os arbustos de galhos dourados e os raros animais dos arredores, permanece por longas horas seguidas experimentando estados perceptivos e emocionais que confundam o consciente, o inconsciente e a letargia, bem como o eu e o seu entorno – e dali sai para um passeio imprevisível, do qual retornará tão dourado quanto os caules da vegetação. Um corpo que nasce de uma explosão, na Ilha da Pólvora, e que, durante os cinco anos seguintes, irá se colocar à prova em diversas situações, testando seus limites, suas potências, abrindo-se aos encontros possíveis e às temporalidades e afetos dos mais diversos rituais – inclusive dialogando, na força poética das próprias cicatrizes e tatuagens, com o traçado estriado das paredes desfiguradas, nas diversas edificações abandonadas pelas quais, de maneira recorrente, costuma perambular em sua solidão. Soberano – no sentido batailleano do termo, ou seja, no gastar-se sem restrição e sem servir a ninguém senão a si mesmo – esse corpo, ainda que ciente de sua frágil presença, deixa-se atravessar pela irrefutável constatação da presença do mundo em si. E afirma, com algum mistério e deliciosa ironia: É no meu olho que o mundo diminui. Marcus Vinícius (Vitória, 1985 – Istambul, 2012) fez de seu corpo o principal objeto e meio de sua arte. Durante cinco anos de uma carreira tão fugaz quanto de intensa luminosidade, o performer, que dividia sua residência entre Vitória (Espírito Santo, Brasil) e Buenos Aires (Argentina), percorreu o mundo com suas performances, vídeos e fotografias, sempre reinventado o próprio corpo através das mais diversas experiências.
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1 Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Filipinas, Finlândia, França, Inglaterra, Itália, Latvia, México, Mongólia, Noruega, Palestina, Peru, Polônia, Portugal, Rússia e Suécia. Inclui-se, ainda, uma homenagem póstuma realizada durante a 1st Venice Art Performance Week (Veneza, Itália, 2012).
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Seus trabalhos foram apresentados (presencialmente ou sob a forma de vídeos e transmissões em live stream) em eventos de 22 países1 – incluindo três turnês realizadas na Europa, duas em 2010 e uma em 2011, e a participação na 2nd Land Art Biennial, em UlaanBataar, na Mongólia, onde apresentou seu derradeiro trabalho, denominado The visible and the unconscious. Também participou de diversas residências artísticas, como a PAiN – Performance Art in Norbotten (nas cidades fronteiriças de Haparanda, na Suécia, e Tornio, na Finlândia, em 2011), o projeto Interacciones Florestales en Red (Isla Victoria, Patagônia, Argentina, 2011), e o V::E::R 2011 – Encontro de Arte Viva, realizado em Terra Una (Liberdade, Minas Gerais, Brasil), do qual foi também um dos articuladores. Explorando os limites físicos e mentais do seu ser, suportava a dor, o cansaço, o silêncio e o perigo na busca da transformação emocional e espiritual, em performances de longa duração. Graduado em Artes Visuais (2007) pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Marcus Vinícius cursou Doutorado em Arte Contemporânea Latino-Americana na Universidad Nacional de La Plata (UNLP), entre 2008 e 2012, tendo falecido pouco antes da conclusão do curso. Publicou diversos textos em revistas especializadas em arte contemporânea, como a chilena Escáner Cultural (da qual foi colaborador entre 2009 e 2012) e as brasileiras Reticências... crítica de arte e Tatuí. Marcus também teve uma relevante atuação como articulador no campo da performance e da intervenção urbana brasileiras, à frente do LAP! (Laboratório de Ação em Performance). Foi organizador e curador, junto à artista Rubiane Maia, do Trampolim_ Plataforma de encontro com a arte da performance, evento que reuniu mais de 50 artistas brasileiros e estrangeiros em suas dez edições realizadas entre outubro de 2010 e março de 2011 – sendo seis delas em Vitória e outras quatro em formato itinerante, nas cidades de Belo Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro e Bogotá (Colômbia). Antes disso, com o Coletivo Entretantos (do qual foi integrante entre 2004 e 2007), realizou duas edições do Multiplicidade (2006 e 2007), evento que buscava integrar uma nascente e fértil rede composta por diversos artistas e coletivos brasileiros centrados em ações de intervenção urbana, instigando diversos questionamentos acerca dos usos e apropriações possíveis dos espaços públicos. Diante de um conjunto de ações tão prolífico e multifacetado, vários poderiam ser os enfoques assumidos por este livro para tentar compreender as principais linhas de força que moveram a carreira de Marcus Vinícius. Todavia, optamos por nos centrar em sua produção artística, especificamente nos campos da performance, da fotografia e do vídeo – áreas nas quais ele fez de seu corpo objeto e meio ao mesmo tempo. Se, neste caso, separar arte e ativismo seja quase impossível, queremos dar ênfase a uma pesquisa estética bastante intensa: o acervo doado, em 2015, por sua família à Galeria de Arte Espaço Universitário conta com 170 trabalhos, entre performances, vídeos e fotografias, quase todos tendo o artista como protagonista – além de uma série de desenhos realizados a partir da queima de pólvora. Há, ainda, nove projetos concebidos e não-realizados, cujos textos constam desse acervo – sete performances, um projeto de videoperformances e um de curadoria, os dois últimos aprovados em editais da Secult-ES no ano de 2012, mas interrompidos, ainda em fase inicial, por conta de sua repentina partida.
Ainda que por vezes essa produção artística possa ter sido eclipsada em prol do intenso ativismo de Marcus como articulador ou mesmo empreendedor cultural, sua importância é inegável – de modo que esse acervo se encontra à espera de novos mergulhos, novos recortes que possam colocar novamente em circulação tais obras (bem como seus registros fotográficos e audiovisuais) e reacender o debate acerca das contribuições que o trabalho de Marcus Vinícius trouxe ao campo da performance. E esse debate se faz urgente, uma vez que ele foi um dos mais importantes nomes das artes visuais capixabas surgidos nos últimos 15 anos e que, no momento em que sua carreira foi subitamente interrompida, já começava a se firmar como uma voz relevante dentro da geração de performers brasileiros à qual pertenceu – tendo trilhado, inclusive, os estágios iniciais de uma promissora carreira internacional. Este livro, portanto, se propõe a fazer uma leitura da obra de Marcus Vinícius a partir de algumas questões e elementos que nos parecem mais recorrentes nesse conjunto de trabalhos, referentes ao estatuto que ele confere ao seu próprio corpo e sua presença no ato performático. O percurso está dividido em oito capítulos, que incluem registros fotográficos de performances e frames de vídeos, além de algumas epígrafes recolhidas nos memoriais descritivos dos mesmos, textos de autoria do próprio Marcus refletindo sobre seu fazer artístico e ocasionais textos críticos sobre sua obra, de modo a contextualizar e ampliar as possíveis leituras acerca dos trabalhos incluídos, sem que nos prendamos à cronologia dos eventos – mas sim operando por blocos de afinidades, ainda que por vezes intuitivos. Acompanhadas de breves textos de minha autoria, que buscam evidenciar ou ao menos sugerir os parâmetros que costuram tais seções, elas estão assim denominadas: A Fundação de um Corpo, Limites e Rasuras, El Cuerpo Extraño, El Cuerpo-Paisaje, Outros Contatos, Diários de Passagem, O Horizonte é o Limite e O Devaneio, Aqui e Agora. Há, ainda, um nono capítulo, intitulado Presenças, que reúne os memoriais descritivos de três dos trabalhos inéditos de Marcus, e que, junto ao capítulo anterior, convidam o leitor a vislumbrar alguns dos possíveis rumos que seu trabalho estaria tomando a partir dos últimos meses de sua produção. Marcus havia dado ao conjunto de trabalhos realizados entre 2007 e 2011 o nome de Estratégias do Corpo. Num statement (espécie de carta de intenções que sintetiza sua proposta artística), bastante utilizado durante esse período2, ele declarava: Minhas estratégias operam como um pequeno dispositivo que desperta a sensibilidade a partir do mais íntimo, do pequeno gesto, usando recursos materiais simples e cotidianos, criando encontros casuais e de furtiva possibilidade de uma aventura poética. Os trabalhos de Marcus exploravam os limites do corpo, muitas vezes lançando-o em situações extremas, que lhe causavam dores, feridas ou o conduziam à total exaustão física. É curioso notar que a sensação transmitida ao espectador é raramente associada ao sofrimento. Pelo contrário: palavras como leveza e sutileza (as mesmas que ele usou para descrever o trabalho dos artistas de sua pesquisa Cartografía de lo sensible) são frequentemente mencionadas nos depoimentos de pessoas que assistiram às suas performances (presencialmente ou através de vídeos). Em lugar do choque e da violência, implícitas, por exemplo, no contato com a cera quente de velas acesas ou das explosões com pólvora e fogos de artifício, ou do cansaço que envolve ações em cachoeiras, desertos ou mesmo
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2 Esse statement seria substituído, em 2012, por um novo texto, que se encontra reproduzido nas páginas iniciais deste livro, reafirmando alguns pontos centrais da investigação empreendida pelo artista e evidenciando um olhar mais amadurecido sobre o seu próprio trabalho.
uma jornada de 28 dias numa reserva florestal na Patagônia, temos a delicadeza do sussurro, do gesto comedido, sem excessos: ora intuitivo, ora bastante calculado – sensação reforçada pela presença silenciosa do corpo ritualizado a instaurar o ato performático. Tales Frey, em seu artigo A(s)cender: Considerações sobre a vida e a obra de Marcus Vinícius (publicado na revista Perfomatus, n. 2, 2013), pensa os recursos utilizados nesses trabalhos como análogos a rituais carregados de religiosidade, porém sem pregar qualquer espiritualidade exacerbada, o que talvez nos aproximaria das cerimônias sem crenças mencionadas por Jorge Glusberg no livro A arte da performance. Todavia, é evidente o desejo confesso de se flertar, mesmo que de forma bastante idiossincrática, com alguma experiência espiritual, ou pelo menos clarividente, nos últimos trabalhos realizados pelo artista (e inclusive mencionada nos memoriais descritivos dos mesmos). São exemplos disso as performances When the dreams die...?, Fragmentos de pequeños pensamientos (ambas de 2011), The visible and the unconscious (2012) e o vídeo Everything imaginable can be dreamed (2012), nos quais as esferas do onírico e do imaginário são concebidas como possibilidades de acesso, ainda que inconsciente, a uma dimensão espiritual primordial. Contudo, como o foco de boa parte da obra de Marcus Vinícius está na dimensão mundana/sensível que promove os encontros cotidianos, constantemente ressignificados pelo artista, essa similaridade com o ritualístico apontada por Frey se mostra bastante evidente – a ponto dele afirmar, acerca de Everything imaginable can be dreamed, que os códigos expostos soam ambíguos: mundanos e transcendentais de uma só vez. 22
Tales Frey também resgata, em seu artigo, o trecho da célebre frase de Marina Abramovi (The artist is a warrior), que Marcus havia tatuado em seu antebraço (nesse caso, com a oportuna supressão do artigo), para lembrar que o ofício do artista-guerreiro, segundo a performer sérvia, não está só na conquista de novos territórios, mas também na de si mesmo e das próprias fraquezas. Essa busca pelo autoconhecimento e pelo reconhecimento da própria fragilidade e efemeridade, uma reflexão bastante presente nos objetivos de transformação emocional/afetiva atrelados às performances de Marcus Vinícius, tem na vida cotidiana (e na apropriação/ressignificação de seus elementos) um dos pontos de partida primordiais. No artigo Cotidiano: reflexões atuais e (in)oportunas, publicado pelo artista na revista Tatuí (n.8, 2010), descreve-se o cotidiano como terreno fértil para a reflexão, a percepção e a imaginação dos modos e das experiências do real, uma vez que ele nos remete à prodigiosa diversidade da vida diária e ordinária, agindo como a medida de todas as coisas, do entendimento, ou melhor, do desentendimento das relações sociais e do uso do tempo vivido. Não à toa, a maioria dos trabalhos de Marcus Vinícius parte de situações e objetos ordinários, apropriando-se da banalidade desses signos para reinventá-los sob o olhar sensível de sua inquietude. E, assim, tentar conferir densidade a esse corpo que performa silenciosamente, tornando-se uma espécie de centro gravitacional da situação dada, um agente a partilhar uma experiência sensível junto às expectativas que surgem no público que testemunha a ação. Isso nos remete a um outro trecho do livro de Glusberg, cuidadosamente grifado no exemplar que pertenceu ao artista: O performer mede seu próprio tempo, seu tempo consciente, através da sensitividade do corpo humano. Por meio desse tempo de consciência, pode alcançar o outro.
Daí também o interesse de Marcus em investigar, a cada nova cidade que visitava, os ritmos e gestos corriqueiros e os espaços percorridos pelos habitantes em seu dia a dia. Sentir atentamente suas idiorritmias com o próprio corpo, para propor, em seguida, outra interpretação desses gestos e ritmos, muitas vezes reforçando o aspecto de transitoriedade e precariedade dessa presença. Aliás, ainda que o termo turnê possa evocar um certo glamour de popstar ao ser usado pelo artista para se referir às suas frequentes viagens para apresentar seus trabalhos em diversos eventos e festivais ao redor do planeta, cabe lembrar que estamos nos referindo a uma mise-en-scène muitas vezes minimalista, calcada em esparsos recursos financeiros, quase sempre em ações autofinanciadas, numa espécie de espelhamento material da própria consciência do artista acerca de sua precariedade no mundo. Observa-se, contudo, uma preocupação extrema em documentar seus trabalhos e fazê-los circular em mostras, festivais audiovisuais e plataformas de vídeo e fotografia na internet (canais no Youtube e páginas de Facebook em que se privilegiava a postagem de fotografias horizontais, portfólios on-line de livre acesso e até mesmo a recorrente participação em festivais performáticos calcados no live streaming). Tais procedimentos de difusão dessa produção também são largamente utilizados por diversos performers de sua geração, que muitas vezes atuam em esquemas de produção independente, autofinanciada e com ocasionais patrocínios através de editais públicos. Ao mesmo tempo em que permitem que essas obras circulem junto a públicos mais amplos, num contexto global, também explicitam a consciência da própria condição de espetacularização (para evocar o termo proposto por Guy Debord) inerente à economia contemporânea das imagens – muito embora, no caso de Marcus, inverta-se a usual mecânica sensacionalista que deixa o espectador boquiaberto pela exuberância do evento, espetacularizando-se, em seu lugar, a leveza, o silêncio, a presença precária não só do corpo que desencadeia a situação, mas também dos próprios vestígios com os quais o próprio mundo se faz presente no corpo do artista, seja em sua concretude, seja em sua esfera simbólica. Diversos elementos costumam ser recorrentes na poética de Marcus Vinícius. A própria ideia do risco corporal está presente desde os trabalhos iniciais, como nas séries de performances Território Expandido (2007), em que seu corpo foi inserido em trilhas e círculos traçados com pólvora, muitas vezes sofrendo diretamente na pele o impacto das explosões. Diversos registros dessas ações foram reunidos no final de 2007 na primeira exposição individual do artista, denominada Ilha da Pólvora, realizada na Galeria Virgínia Tamanini, em Vitória (ES). A essa espécie de mito fundador de um corpo – posteriormente renovado no projeto O imprevisível, o acaso e o que não se sabe (2010), realizado em parceria com o fotógrafo Yury Aires e a videomaker Monica Nitz – seguem-se diversos desdobramentos, verdadeiros exercícios de exploração dos limites e potencialidades desse corpo. Cabem aqui, por exemplo, desde o risco calculado de sufocamento em Plastic bags can be dangerous I e II (2008), ao registro dos efeitos cutâneos da intolerância à lactose, no vídeo (in) tolerance (2008), passando pela ingestão, em quantidades excessivas, de substâncias a princípio inofensivas, como suco de flores ou gelatina – respectivamente, em Nem tudo são flores [suco], de 2009, e Através da essência do devaneio (2010), um dos trabalhos da
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série CONTAGION_project, apresentada durante a primeira tour europeia, ocorrida no primeiro semestre de 2010. Os limites da resistência continuam a ser testados em provas de longa duração, como as quase três horas do já mencionado experimento à beira da cachoeira (Espera, 2011), ou por períodos mais longos ainda (The visible and the unconscious, no deserto de Gobi, em 2012), chegando a atingir 24 horas de duração em Before the dawn... that be endless (2011), trabalho que dialogava diretamente com a ideia dos “dias sem noites” do verão nas regiões mais setentrionais do planeta. O desejo exploratório também se dá através de uma série de mapeamentos empreendidos pelo artista. Isso se inicia ainda nos tempos de faculdade, com os exercícios de prática de deriva urbana, influenciados pela leitura de textos dos Situacionistas (novamente Debord), em longas caminhadas sem rumo, registradas em vídeos e fotografias, fossem pela Grande Vitória, fossem pelas cidades visitadas em congressos estudantis ou em eventos de intervenção urbana dos quais participou como integrante do Coletivo Entretantos. Daí vieram as descobertas de espaços arquitetônicos abandonados, prestes a serem mapeados, ou seja, experimentados por todo o corpo (muitas vezes nu), como as ruínas da Ilha da Pólvora e do Edifício das Fundações (ambos em Vitória, para a série Território Expandido) ou os casarões abandonados de São Luís (Maranhão), cenários do trabalho fotográfico Cicatrizes (2010).
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Podemos pensar como uma extensão poética desse desejo de mapeamento os trabalhos reunidos para a segunda (e última) exposição individual do artista, Un ciel pour moi, realizada em 2008, em La Plata, Argentina. Nela, foram apresentados os registros da performance Escalera: um ato de subir, repetidas vezes, uma escada montada ao ar livre, para se deter por longos instantes em seus últimos degraus e admirar o céu. Também foram apresentadas as fotografias da série Silencio y nubes e o vídeo que dá nome à mostra, ambos retratando o lento fluir de nuvens sem contorno nem limites, descritas, no texto de apresentação da exposição, como um desvio para os olhos, que nunca se interrompe: Continuam a voar... para mim. Esse ímpeto cartográfico, uma constante no trabalho de Marcus (inclusive em espaços longe do perímetro urbano, como Isla Victoria ou Terra Una), deu-se, durante boa parte da carreira do artista, como uma espécie de contraparte a um mapeamento das potências do próprio corpo, nas performances que testavam seus limites – e que encontra também na série Cartografias do corpo (2008-2009) uma fértil metáfora dessas empreitadas. Há, ainda, toda uma série de trabalhos que partem de elementos autobiográficos para ressignificar esse corpo, como as ações do projeto Casi (9 acciones para volar), realizadas na residência artística ocorrida no começo de 2009 na Casa Meloni, num momento em que o artista ainda se adaptava à vida num país estrangeiro, bem distante de sua cidade natal – o que pode ser observado, por exemplo, na primeira versão da performance Frágil, apresentada nas ruas de Córdoba. Frágil é uma das diversas propostas de se percorrer o espaço urbano, ensejando um encontro dos transeuntes com um corpo proteticamente modificado, promovendo um choque que afeta ambos os lados. Isso também ocorreria nas diversas edições de Cuerpo extraño, com sua vestimenta de pequenos alto-falantes, emitindo ruídos estridentes
diversos – projeto originalmente concebido em parceria com o artista Marcelo Gandhi e que recebeu menção honrosa no Prêmio Abraham Palatnik, no II Salão Nacional de Artes Visuais, realizado em 2008 em Natal (Rio Grande do Norte). Já Beyond (2011), em que o artista convida as pessoas a regarem um vaso de plantas atado à sua cabeça, propõe um encontro pautado por uma oferta delicada – assim como os diversos cartões-postais, com votos e mensagens destinados a Marcus, enviados por amigos ao endereço em Madrid, onde seria realizada a performance Viagem sentimental (2010) – os postais seriam colados uns aos outros, confeccionando-se, assim, uma espécie de traje para revestir afetivamente o corpo do performer. Aos mapeamentos arquitetônicos, também se contrapõe um desejo de ser arquitetura (melhor detalhado pelo artista em seu texto O corpo entre a performance e a arquitetura, de 2010, republicado neste volume), evidenciado nas séries fotoperformáticas Ocupação Experimental Urbana I e II (2007). São os marcos iniciais da carreira de Marcus Vinícius como performer, realizados poucos meses antes dos trabalhos da série Território expandido. Após o já citado ato na Ilha da Pólvora, que inaugura seu corpo performático, e à medida que esse novo corpo vai sendo tensionado e posto à prova em performances de resistência, tais integrações espontâneas e efêmeras aos elementos arquitetônicos vão cada vez mais se expandindo para um desejo de misturar-se à paisagem e seus fluxos. Há, por exemplo, a série de fotografias Estudos de contemplação (2009-2010), em que o artista aparece de costas para a câmera, fitando as águas de rios, lagos e mares – e, para o espectador, o próprio corpo do artista passa a ser parte da paisagem que lhe é permitida contemplar. Há também toda uma série de trabalhos fotográficos em que Marcus busca uma aparente invisibilidade ou pelo menos integração de sua figura ao ambiente: seja um quarto onde se guardam equipamentos de limpeza, em Domestic Reactions, a estante da biblioteca em The Horizon’s Edge, ou os departamentos de uma megastore de decoração como a IKEA, em Behind, todos realizados em 2011. Em outros casos, valoriza-se a estranheza de sua presença, como nas Acciones invasivas (intervenção clandestina realizada durante a feira ArteBA 2009) ou no vídeo Las orillas sin rio (2011), que traduz a ideia de isolamento a partir de um olhar silencioso sobre um corpo imóvel, diante das águas que separam a Suécia e a Finlândia. É no encontro com a natureza, especialmente nas temporadas passadas em Isla Victoria e Terra Una, que estão os trabalhos que melhor exploram o amálgama entre corpo e paisagem natural, como as séries Cuerpo-Paisaje, Extensiones, Deseos e Bicho do mato (todas de 2011)3, culminando com o trajeto deslizante do barco iluminado na noite patagônica em El ultimo deseo (2011) e na presença quase pictórica, registrada em proposital baixa resolução, do corpo rastejante do artista, tomado por uma espécie de devir-animal, no plano geral do vídeo Landscape (2011), como se esse amálgama atingisse, talvez, uma espécie de presença espectral a atravessar a paisagem4. Há toda uma série de trabalhos que exploram esse desejo de um devir-animal, em especial na seção do livro intitulada Outros contatos. Trabalhos como Contato (2009), Cervo, Untitled e Bicho do Mato (todos estes realizados em 2011) muitas vezes não se contentam em somente incorporar posturas, gestos e comportamentos animais, mas
3 Essa integração entre corpo e natureza pode ser observada com maiores detalhes no conjunto de 61 ações performáticas realizadas durante a residência de 28 dias no Parque Nacional Nahuel Huapi, em Isla Victoria (na Patagônia argentina), articulando o desejo cartográfico/exploratório do espaço desconhecido e a experimentação de seus vestígios, com uma série de exercícios de inserção do corpo do artista na paisagem. Exatamente por isso, a série fotográfica Deseos, que inclui mais de 250 imagens e que neste livro comparece com alguns de seus momentos mais icônicos, é um dos cernes da seção denominada El Cuerpo-Paisaje. 4 Parte dessas obras, bem como de alguns trabalhos citados no parágrafo seguinte, havia sido selecionada por Marcus Vinícius para compor o que seria sua terceira exposição individual, denominada Los paisajes que hice míos, cuja proposta havia sido elaborada no começo de 2012, e que deveria ter sido realizada ainda naquele ano.
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também em experimentar algumas ossadas como se fossem máscaras rituais ou mesmo armaduras de combate. 5 Talvez isso seja uma herança do convívio familiar dentro do universo das escolas de samba, nos quais Marcus ocasionalmente desfilou como destaque (tendo inclusive trabalhado como figurinista da Comissão de Frente da escola Novo Império), ou dos flertes com a estética dos transformistas e drag queens, que tanto lhe fascinaram durante a adolescência.
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6 Ou, nas palavras de Danilo Moreira Xavier, em seu artigo Marcus Vinícius e o percurso do acúmulo ao corpo injeto, publicado na revista Palíndromo (n.13, 2015): Tirar a cabeça dentre essa matéria – no limite que seu corpo tolera para manter-se vivo – é como a primeira respiração que lhe abre os pulmões (descolandoos), aproximando-o do nascimento.
Inúmeras são as máscaras que Marcus Vinícius fez uso em diversos momentos de sua obra para a criação de personagens5, tanto em trabalhos de lúdica inocência, como a série fotográfica Os outros (2008), quanto para a construção de um rosto mashup, híbrido de masculino e feminino, elaborado a partir da colagem de recortes de revistas e panfletos publicitários (como em No one, ação realizada cinco vezes entre 2010 e 2011) e de chicletes consumidos pelas pessoas a seu redor (Se não houvesse a diferença, 2011). Citamos aqui também os galhos recolhidos durante a caminhada-mapeamento de um trecho da mata em Força-bruta (2011), renovando a ideia já mencionada de armadura, que também reaparece de forma irônica na melancolia solitária de Frágil. Há também a ressignificação da máscara em diversos trabalhos de CONTAGION_ project, cuja premissa parte do contato entre corpos (do artista e do público) como possibilidade de mútua ativação, transformação ou ameaça – ilustrado, por exemplo, pela moléstia imaginária materializada nas manchas pretas adesivadas no rosto (vide a fotografia que foi utilizada como teaser de divulgação do projeto), ou no rosto coberto pela farinha branca, como se estivesse exposto à contaminação dos efêmeros afetos desencadeados ao final das performances de curta duração Nas nuvens e Corpóreo no próprio ocultar-se (ambas de 2010). Também podemos incluir nesse rol, ampliando o sentido da ideia de máscara, o uso de adereços que encobrem a visão, como se fossem um convite a se enxergar o mundo por outras vias, para além da materialidade sensível – processo que, inclusive, foi se intensificando a cada novo trabalho, nos dois anos finais da trajetória do artista: o pedaço de musgo que remete, ao mesmo tempo, a um tapa-olho e um elemento geográfico no rosto-mapa fotografado em É no meu olho que o mundo diminui; a máscara-cabeleira de fitas plásticas, que convida a um intenso “bate-cabelo” no vídeo Everything imaginable can be dreamed. Também cabe aqui a moldagem da cera de vela derretida na face, em A presença do mundo em mim (partes I e II), e que talvez assuma o mesmo caráter de rito iniciático e primordial dos fluidos (mel, leite, ovos) nos quais o artista mergulha o rosto, na série Not only in this world – sendo que a respiração que se segue ao se imergir dessas substâncias soa como se fosse um respiro de um corpo renovado em um novo parto, de caráter metafórico e transcendental6. Os olhos vendados em Imensidão íntima (2010) convidam a uma partilha: se ao performer só é possível ouvir e sentir a paisagem em seu entorno, cabe às pessoas com quem ele interage em seu percurso a missão de registrar fotograficamente os arredores desse encontro. A cegueira, ainda que temporária, também é possibilidade transcendente no olhar que se fixa, obsessivo, na intensa luz dos refletores, o corpo em posição meditativa, numa das variações de Distant Closeness (2011-2012). É também com os olhos cobertos que se conclui a performance Fragmentos de pequeños pensamentos, enquanto uma pilha de pedras encobre o rosto do artista, deitado no chão, ao início de When the dreams die...?, dois ritos embriagados dos quais emana, do corpo do artista, uma descarga energética de alta intensidade.
Experimentos como esses assumem variações possíveis daquilo que Marcus escreveu acerca do projeto Not only in this world, sobre ser necessário, na busca das respostas às nossas questões existenciais, não apenas vermos com os olhos, mas também através dos sonhos, para além das limitações sensíveis do mundo físico. Após cartografar as possiblidades que o corpo oferece e tomar consciência de sua própria precariedade para ressignificá-la como potência, acredito que esse conjunto de trabalhos (especialmente os realizados nos últimos 15 meses de sua carreira) nos convide a um misterioso encantamento cuja potência letárgica permita-nos vislumbrar, ainda que por alguns instantes, um mergulho no inconsciente de nossos próprios corpos, para além da própria concretude. Um mergulho capaz de nos aproximar a sensações quase intraduzíveis, como aquela descrita na sinopse do vídeo Las orillas sín rio: Um outro lado: o reverso do rio sem margens, as margens sem rio, a totalidade impossível, invertida. E que assim seja.
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Fotografia de (photo by) Julio Callado
Do salto de um trampolim Texto: Aline Alves Entrevista Aline Alves e Leonardo Vais
Fevereiro de 2011, Rio de Janeiro. Após 24 horas em jejum, Rubiane Maia entra na sala em silêncio e joga ao chão um vaso de vidro contendo várias rosas vermelhas – a mesma cor da roupa que veste. Sobre os cacos espalhados, despetala cada uma dessas flores. Em seguida, recolhe-as com a boca. Mastiga. Engole. À flor da pele foi a primeira performance individual de Rubiane, realizada durante uma das edições itinerantes do festival Trampolim - Plataforma de Encontro com a Arte da Performance. Marcus Vinícius impulsionou esse salto. A relação entre a dupla foi marcada pelas vivências artísticas. Enquanto Rubiane ainda descobria a performance, Marcus compartilhava suas experiências e estimulava a amiga. Do mesmo modo, ele dividia com ela ideias e anseios. Foram cúmplices, como em uma sociedade, ou casamento. Um tinha no outro a segurança. Rubiane é, hoje, um dos expoentes da performance no Brasil, além de experimentar incursões no cinema e na literatura. Participou de diversos encontros, festivais e residências na América Latina e na Europa e, em 2015, foi selecionada para integrar a exposição Terra Comunal – Marina Abramovi + MAI, em São Paulo, uma das maiores retrospectivas já realizadas sobre a carreira da artista sérvia. A exposição exemplifica algumas das mudanças vividas no cenário da performance nos últimos anos, principalmente no que se refere à divulgação e circulação dessa arte. Diferentemente de Rubiane, Marcus não chegou a ver essa transformação acontecer. Do Trampolim para cá, muito mudou. Num pulo. Como você conheceu o Marcus Vinícius? A gente se conhecia de Ufes. Eu terminei o curso de Artes em 2004, e ele estava começando. A gente se conheceu primeiro de se esbarrar no corredor, mas o contato mesmo a gente foi ter bem depois. Porque, em 2006 e 2007, ele fez o Multiplicidade. Em 2006, eu fui para assistir os trabalhos de outras pessoas e, em 2007, eu inscrevi um trabalho de intervenção. Foi aí que a gente se aproximou. Mas a gente ficou anos sem se ver e, no início de 2010, eu estava fazendo mestrado e ia oferecer um curso de extensão ligado à performance e intervenção. Na proposta do curso tinha uma parte, um desejo meu, de convidar pessoas que trabalhassem na área para poder falar do próprio trabalho pra turma. O Marcus estava morando na Argentina e, por coincidência, ele viria para cá. Eu escrevi um e-mail perguntando se ele gostaria de falar um pouco do processo de trabalho dele, e ele me respondeu super afetuoso, dizendo que sim e que tinha ficado muito feliz com o convite. Ele foi, fez uma fala linda, super cuidadosa, sobre o processo de criação das performances. A partir desse dia, a gente nunca mais se desconectou. Eu tinha uma pesquisa que era muito mais teórica do que prática na época, porque eu não
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estava produzindo. Eu tinha feito um ou dois trabalhos de performance e o Marcus já tinha toda uma trajetória. Ele ficou muito animado com essa proposta do curso de extensão e passou a frequentar toda semana. E ele contribuía muito com o conhecimento dele. A gente se aproximou e, pouco tempo depois, ele já estava com a ideia do festival Trampolim. Ele também tinha uma residência fora do Brasil e, antes de ele voltar para lá, a gente conversou e ele disse pra mim: ‘ah, eu tenho um projeto que é um sonho e eu queria muito fazer e queria muito dividir esse projeto contigo’. A partir disso, a gente se conectou completamente e nesse momento nasceu uma amizade muito profunda. O projeto era o Trampolim?
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Era o Trampolim. Nessa época, ele viajou, escreveu o projeto durante a viagem e me mandou. A gente ia trocando e-mail, recado de Facebook… Quando ele voltou da residência, começou a desenvolver o projeto junto comigo. Ele passou no edital de microprojetos da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo, que disponibilizou uma verba muito pequena pra fazer o Trampolim da maneira como a gente desejava, mas aconteceu assim mesmo. A partir do segundo semestre de 2010, o Trampolim teve seis edições mensais aqui em Vitória. Em cada edição a gente tinha a presença de oito artistas, muitos artistas internacionais vieram pra cá. Esses artistas custeavam as próprias vindas e a gente auxiliava com hospedagem solidária na minha casa, na casa dele, na casa de amigos, na sua, inclusive (risos). E a gente ajudava com alimentação também. Hoje, eu diria que a gente tinha um espírito muito amador, mas eu acho que esse espírito amador foi imprescindível para que esse projeto fosse muito afetuoso. A gente tinha uma equipe enorme de amigos, que ajudavam em tudo. Produção, fotografia, vídeo, hospedagem, pessoas para buscar e levar os artistas. A gente tinha uma equipe enorme, mas todo mundo não recebia nada, fazia de coração. De certa forma, o Trampolim uniu duas coisas: o nosso desejo de troca e de construir juntos esse processo, e uniu, eu acho, uma necessidade da própria cidade, onde eventos como esse nunca tinham acontecido. Talvez o mais próximo tenha sido o próprio evento do Marcus em 2007, o Multiplicidade, que trouxe muita gente pra cá também. Existia um desejo muito grande e a gente tinha um terreno muito fértil pra fazer o que a gente fez. Vocês tinham alguma referência de outros eventos? O Marcus tinha a referência dos próprios festivais que ele participou como artista em vários lugares do mundo. Mas acho que ele nunca tinha feito um evento da forma como o Trampolim foi feito, um evento muito grande, com muita gente, com edição mensal. Terminava uma edição, a gente já estava pensando na outra. Foram seis meses muito intensos de trabalho constante. Eu nunca havia participado de um festival, e essa oportunidade foi um aprendizado enorme. Aprendizado de relações, aprendizado artístico. Um evento com quase 50 artistas de vários lugares do mundo, você vendo performance da Europa, da América Latina, do Brasil… Eu acho que é um estudo muito grande de performance e arte contemporânea. Para mim, o Trampolim foi um aprendizado enorme. E pro Marcus também, porque participar de um festival e organizar um festival
são coisas muito diferentes. Marcus sempre foi muito concentrado, ele criava uma meta e trabalhava em cima disso de uma maneira muito focada. E acho que eu também. A gente teve um encontro, um casamento que foi muito fértil e a gente se assustou um pouco com isso, sabe? Porque foi bem surpreendente encontrar uma pessoa que eu pudesse trocar tanto e estar num nível para trabalhar e trocar informações, de misturar amizade e trabalho de uma maneira que nunca tive com outra pessoa. Mas vocês chegaram a se apresentar no Trampolim em algum momento? Além das seis edições que rolaram aqui em Vitória, a gente criou o Trampolim Itinerante, que foi um desdobramento por ocasião de ter muito artista estrangeiro vindo para o Brasil. A ideia do Trampolim Itinerante começou do pensar que, se um artista estrangeiro está vindo para cá, é interessante para ele poder conhecer outras cidades. No Trampolim Itinerante, Marcus fez alguns contatos com outros artistas e instituições de outros lugares, e também de uma forma ainda mais independente do que no Trampolim aqui, nós oferecemos o projeto para quem tivesse interesse em organizar na sua cidade. O festival também aconteceu em outros quatro locais: Belo Horizonte, Bogotá, depois no Rio de Janeiro e em Fortaleza. No primeiro, não foi nenhum de nós, a gente teve a presença do Shima, que também era um dos organizadores, junto com Marcus, principalmente na parte de curadoria. Depois, Marcus foi para Bogotá fazer uma residência ou participar de um festival, e ele juntou as duas coisas. E aí, no Rio de Janeiro, nós dois apresentamos performance, junto com outros artistas, a maior parte estrangeira. O último foi em Fortaleza, que foi realizado no Centro Cultural Banco do Nordeste, e a gente teve um apoio financeiro, um suporte que a gente não teve em nenhum outro. Esses custos eram de cada local que ia receber o Trampolim Itinerante, certo? E aqui em Vitória? De quanto foi essa verba? Isso. Eu não lembro se foi oito mil… (risos). Mas acho que não foi mais de dez mil. É uma loucura pensar isso hoje. Essa é a parte boa da gente sonhar e não ter muita noção do quanto as coisas podem ser difíceis. Porque, se esse encontro fosse hoje, eu acho que nenhum de nós dois faria. A gente não teria nem coragem de fazer. Como você vê a importância do Trampolim enquanto evento de performance e para o Brasil? Eu vejo que o Trampolim foi muito importante. Foi muito surpreendente, e tem sido, encontrar o Trampolim dentro dessa história. No ano passado participei de um festival em São Paulo, um encontro que reunia organizadores de festivais independentes do Brasil e da América do Sul. E, nesse encontro, pude ter uma perspectiva muito interessante da localização do Trampolim na história da performance no Brasil. A gente está vivendo um momento em que tem se discutido muito a performance no caminho de uma institucionalização, começando a circular muito forte através de festivais independentes.
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E criar uma coisa dessas aqui em Vitória foi completamente chocante para a cidade. Mas, ao mesmo tempo, no Brasil e em outros lugares, aconteciam eventos semelhantes. Um dos diferenciais do Trampolim acabou sendo a possibilidade da presença de muitos artistas estrangeiros. Como evento independente, ele foi um dos maiores do Brasil, de artistas participantes e de artistas vindos de fora. Você já pensou em realizar uma nova edição do Trampolim?
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Não sei. Eu já pensei nisso algumas vezes. Na verdade, o Marcus chegou a rascunhar um projeto de continuação do Trampolim e eu tenho esse projeto comigo. Mas, depois da morte dele, existe a necessidade de um tempo. Vem o desejo de retomar algumas coisas, principalmente agora que a obra do Marcus está sendo mexida para este livro, para uma exposição individual… A gente está vivendo um momento muito importante de resgate de quem foi Marcus Vinícius. Da mesma forma que o Trampolim não foi reconhecido dentro do Espírito Santo, Marcus também não foi um artista reconhecido aqui. Ele foi muito mais falado, citado, assistido em outros lugares do que aqui. É um momento muito importante pro artista Marcus Vinícius, importante também para se pensar performance, viver a junção dessas coisas e trazer à tona processos que foram muito fortes, não só no sentido individual, mas no sentido de abrir caminhos pra quem tá vindo, para discutir isso nas universidades, pra conversar mais sobre experiências, arte contemporânea, a importância de festivais… Às vezes eu fico pensando que o Trampolim está aí. Ele está neste momento de não acontecer. Mas é um projeto que deu muito certo e tem tudo pra poder ser retomado, sem necessariamente ser no mesmo formato. Há maturidade para olhar pros pontos fortes do Trampolim e pensar sobre isso. Eu tenho muito desejo de fazer. Mas hoje, por exemplo, eu acho que o Trampolim pode acontecer com uma organização ainda mais coletiva. Ainda sobre o Trampolim: como foi o processo de curadoria dos artistas participantes? Metade dos artistas foi convidada. Eram pessoas que tinham alguma relação com o Marcus, relação de já ter participado do mesmo festival, relação de afeto... ele fez uma lista e convidou essas pessoas. E nós também tivemos uma convocatória internacional e foram selecionados artistas que enviaram os projetos. Shima, Marcus e eu selecionamos a outra metade. Foi enviada uma carta-convite pra eles tentarem conseguir um financiamento para vir a Vitória. Foram muitas inscrições? Nós selecionamos 25, mais ou menos, mas nós tivemos mais de cem inscrições. Foram 48 artistas participantes. A cada edição, nós convidávamos algum artista daqui para participar, mas naquela época era super difícil, as pessoas ainda estavam começando a fazer performance aqui.
Como você vê o Marcus Vinícius enquanto curador? Eu sinto que o que motivava o Marcus a se colocar na posição de curador era o afeto. Ele tinha um conhecimento de campo muito grande, aliado a um conhecimento teórico, uma curiosidade - não só em relação à própria pesquisa, mas ao trabalho de outras pessoas. Eu acho que ele acabou encontrando no caminho da curadoria uma maneira de conciliar esse desejo de mostrar um pouco para as pessoas para o que ele estava olhando. Eu sinto que existia um grau de afeto muito grande. Afeto no sentido de ser afetado e de uma relação afetiva com a curadoria, com a função, que ele fez no Trampolim e em outros eventos. Passava muito mais por esse caminho do que pelo desejo de se profissionalizar como curador. Vocês fizeram outro trabalho juntos? Não, mas a gente sempre se ajudou. Eu saí de Vitória algumas vezes para poder assistir performances do Marcus - no Rio, por exemplo. Fiquei lá o tempo inteiro auxiliando no que ele precisava para realizar a performance, e aconteceu o mesmo em relação a mim, numa residência que eu fiz em Buenos Aires na época em que ele morava lá e ele me deu suporte. Sempre aconteceu essa troca de maneira muito espontânea. Era uma convivência. Mesmo estando distante fisicamente, a gente estava sempre muito conectado. O Marcus me dava muito projeto para ler, a gente tinha constantemente essas conversas sobre os conflitos da arte, da vida, e como manejar todas essas coisas, como lidar com esse caminho profissional que é esse quebra-cabeça... você não sabe direito onde colocar todas as peças, porque é tudo muito misturado. Eu tive no Marcus e ele acabou tendo em mim. Foi recíproco. O Marcus era muito intenso. Se eu tivesse que escolher palavras para descrever a nossa amizade seriam essas: intensidade e reciprocidade. Como você vê a presença dele na sua construção enquanto performer? Foi super importante. Eu acho que, aproveitando a palavra, a intensidade dele me arrastou para o abismo (risos). Porque depois disso, tudo mudou. Ele transformou muito a minha vida. E é engraçado, porque vários artistas que estiveram no Trampolim já me falaram que o evento também mexeu com a vida deles. É uma reação em cadeia. Eu tinha uma experiência muito pequena com performance, mas eu tinha ideias anotadas. E Marcus não tinha medo de colocar em prática as ideias. Ele arriscava, se jogava. A presença dele trouxe, de forma bem significativa, essa desconstrução da insegurança e do medo na minha vida. De pensar que não importa se deu certo ou se deu errado, tudo é processo. Ele acreditava muito no meu trabalho, acreditava em mim como pessoa. Ter alguém do seu lado, trabalhando continuamente contigo e com confiança absoluta em você, sempre é algo muito transformador. O outro deposita uma confiança em você que às vezes nem você tem. A partir do encontro com Marcus e com o trabalho de outras pessoas eu tomei coragem e disse que era isso que eu queria fazer. A primeira performance que eu fiz sozinha foi no Trampolim Itinerante no Rio de Janeiro. Eu já tinha varias ideias, o desejo de fazer. Foi uma época muito produtiva pra mim, até por conta do mestrado. Quando surgiu o Trampolim Itinerante veio a dúvida se eu
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participava ou não como artista e, quando eu vi, Marcus já tinha colocado meu nome na programação. Já tinha dia, horário e local para fazer (risos). E como era o trabalho? Era a performance À flor da pele, na qual eu estava completamente vestida de vermelho, segurando um vaso de rosas vermelhas. Eu quebrei esse vaso no chão, despetalei todas as rosas por cima dos cacos de vidro e comecei a comer as rosas que estavam misturadas ao vidro, sem tocar com as mãos, só com a boca, tentando separar as pétalas. Quando o Marcus assistiu, ele quase me matou (risos)! Uma coisa que achamos interessante, vendo o trabalho do Marcus Vinícius e o seu trabalho, é que, ao mesmo tempo em que têm algo de brusco e tenso, têm também a delicadeza, o afeto, a sensibilidade. Você acha que o trabalho de vocês dialoga?
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É difícil responder essa pergunta, porque eu acho que, no lugar da ação performática, a nossa conversa era sempre muito mais silenciosa. A gente se compreendia nesse lugar e conseguia acessar a necessidade do outro. De vez em quanto alguém pergunta: “por que você faz isso?” Eu acho que existe uma necessidade muito grande de fazer isso, e eu acho que o Marcus sentia uma necessidade muito grande de fazer isso. Chega um momento na vida da gente que é essa necessidade que vai ditar o seu caminho. De certa maneira, a nossa cumplicidade sempre esteve nesse lugar. Compreendemos profundamente as necessidades do outro. E claro que isso vai no lugar de proteção, de cuidado… o que é muito bonito e acontece com a arte e com a performance de maneira geral. Entre artistas de performance, a tendência é sempre um cuidar do outro, porque a gente se entende. E não é que o público não veja, mas o público demora um pouco mais a entender… “Ah, tá comendo vidro!, tá mastigando e cortando a boca...” Pro artista de performance, que se coloca muito no lugar do risco, ele vai entender que aquilo ali é muito sério e ele está pronto para proteger e interferir no momento que for necessário. A gente é meio caçador das zonas de fronteira. Essa delicadeza que meu trabalho suscita e que os trabalhos do Marcus também suscitavam, estão nesse lugar de cumplicidade e na fronteira. Muitas vezes, a delicadeza só é possível dessa forma. O lugar do risco é justamente o que vai trazer a ativação desse processo. O que me fazia, por exemplo, criar esse corpo delicado que comia as rosas no chão, era a necessidade de lidar com o vidro. O fato de ter as rosas misturadas ao vidro e ao pó de vidro é o que fazia eu ter o corpo mais delicado possível pra que esse vidro não me cortasse tanto. Então, não sei se posso dizer isso, mas o trabalho do Marcus tinha um pouco disso. Eu acho que ele era mais extremo do que eu, mas talvez ele só encontrasse as frestas nesse lugar, esse lugar que era, às vezes, muito duro, o lugar da dor. O lugar da dor eu acho que era muito próximo do lugar do sonho. Em que lugar você acha que ele estaria hoje? Difícil. Eu acho que ele estaria produzindo freneticamente. Ele não viveu para ver
várias coisas, vários projetos acontecerem. A partir de 2014 e 2015, a performance tem estado muito presente, tem expandido muito as possibilidades, tem circulado muito mais. Ele estaria num processo de reconhecimento maior do trabalho dele - no sentido de expansão. E não sei o que ele acharia disso tudo, não consigo imaginar (risos). Ele teria visto uma transformação muito grande. Foi tudo muito rápido... está sendo ainda. E como você vê a importância do Marcus Vinícius para a performance? Eu estou muito contente com esse resgate do trabalho dele. Hoje, muitos jovens artistas seguem o caminho da performance, e isso é incrível, maravilhoso. Todo mundo que cai na performance é dissidente de alguma coisa, sofreu algum tipo de ruptura, de algo anterior a isso. E eu acho que o Marcus foi um dos artistas que começou a abrir caminhos nesse lugar e o trabalho dele precisa circular mais. Ele circulou muito enquanto era vivo, o trabalho dele continua vivo, continua com força, com capacidade de circulação que ainda não foi reconhecida e é necessário trazer isso à tona. Marcus Vinícius é uma referência importantíssima aqui do estado, como artista e articulador. Uma pessoa que esteve em vários países, um artista que produzia muito, produzia intensamente. O trabalho dele é um trabalho muito vivo.
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Fotografia de (photo by) Mariusz Marchewa Marchlewivcz
Dentro de um tem o outro Texto Leonardo Vais Entrevista Aline Alves e Leonardo Vais
O artista Shima tem seu registro de nascimento em São Paulo, residência em Minas Gerais e os dois pés na estrada. Como performer atuante, construiu laços e pousos em várias partes do mundo por meio de 12 mostras individuais e inúmeros trabalhos coletivos na Espanha, Itália, Chile e Estados Unidos – e também por várias cidades brasileiras. Shima é um usuário ativo das redes sociais. Foi dessa forma, no extinto Orkut, que conheceu Marcus Vinícius. Ele, dando os primeiros passos como artista e MV, como Marcus era conhecido por sua rede de amigos, já um realizador cultural. Foi a internet que alimentou e sedimentou a amizade entre eles, mesmo antes do primeiro encontro in loco, três anos depois de muitas trocas de mensagens e textos em um festival na Polônia. Embora os dois não tenham elaborado nenhum trabalho juntos, a parceria que se estabeleceu desde o primeiro momento fez com que os projetos individuais de cada um tivesse muito da presença do outro. 37
Como você conheceu o Marcus Vinícius? Conheci o MV por e-mail, na época em que ele tinha um Hotmail: MVRockstar (risos). Ele estava em Vitória desenvolvendo uma pesquisa e estava correndo atrás de performers, pedindo portfólios. Isso foi em que ano? 2007, talvez. Na época eu estava viajando, morava em São Paulo. Talvez tenha sido antes, em 2006, que ele fez contato. Até então você não o conhecia? Não conhecia nada. Ninguém. Nem ele, nem de performance. Que trabalho você fazia na época? Eu trabalhava como fotógrafo na área de cultura. Nessa época, morava em Recife e estava fazendo a transição da fotografia para a performance. Eu estava rodando com três trabalhos de performance entre 2006/ 2007. Ganhei uma bolsa e pesquisava uma galera que fazia performance no Brasil. MV tinha realizado o trabalho Ilha da Pólvora, o mais falado dele.
No contato por e-mail ele queria saber mais sobre o seu trabalho? Ele queria saber o que eu fazia, ver meu portfólio. Só tinha Orkut na época. A gente ficou amigo e foi conhecendo as pessoas da performance. Em 2009, ele fez uma curadoria para a (Galeria) Homero Massena, com uma exposição sobre a solidão e o mar, que eu participei com um vídeo. Mas a gente só se conheceu pessoalmente em 2010, na Polônia. O que havia na Polônia? Um festival internacional de performance que eu tinha participado no ano anterior, em 2009, e no ano seguinte ele foi convidado e eu estava lá. Aí eu avisei que estava próximo – em Bruxelas – e nos encontramos. Do primeiro contato por e-mail até vocês se conhecerem pessoalmente... Nenhum trabalho? Só mesmo o vídeo da exposição que eu participei com a curadoria dele. Você lembra o nome do seu trabalho? 38
Resgate. Era uma exposição sobre solidão e mar, não lembro o nome todo. Depois de 2010, aconteceram outros projetos. Trampolim foi um deles. A gente também se encontrou em Terra Una. Não me lembro se foi antes ou depois do Trampolim. Vocês chegaram a fazer algum trabalho juntos? Não (pausa). Não… Mas participaram de trabalhos em comum? Participamos de várias exposições. Ou os dois como artista, ou ele como curador. Ou, ainda, eu indicava o trabalho dele. Mas nunca fizemos um trabalho juntos. Pensamos muito em trabalhar juntos. Mas, por sermos muito amigos, tínhamos o feeling de perceber que estávamos trabalhando por linhas diferentes. As poéticas eram diferentes, eu acho. Estávamos mais conectados com o mito pessoal, com a ideia de mito pessoal, de desenvolver trabalhos muito pessoais, muito dentro de cada poética, construindo a imagem do artista que trabalha com coisas específicas. Acho que a gente se ajudou muito no processo de reflexão, de pensar as dificuldades, o desafio do outro. Às vezes era uma dificuldade técnica mesmo, de resolver o trabalho. E tinham essas diferenças também, de como o Marcus resolvia o trabalho. A vontade dele em fazer era maior do que a preocupação com ele mesmo. Ele se jogava. E eu também me jogava, mas eu gostava de pensar muito antes e prever o que poderia acontecer, as implicações, as questões de segurança mesmo. O Marcus sempre foi assim, de fazer e depois eu vejo. Ele dava conta da ressaca e eu sempre preveni a ressaca.
Pelo que percebo, a amizade de vocês se estendia da vida para o processo de criação, no qual Marcus parecia ser muito mais intuitivo e você racional. Era assim mesmo? O processo do Marcus era mais pautado pelo desejo. “Eu quero fazer isso”, e ele realizava. Olhava para a situação e já queria fazer tudo. Falava meio por cima o que era o trabalho. “Eu vou ficar ali amarrado”. “Eu quero uma coisa que mude de cor quando molha”. Então o trabalho já era uma charada. Jogar cera na cara. Ficar preso numa cachoeira. Ele já ia fazer. “Você vai se amarrar com o quê? Com gaze!” A dois metros de distância de uma queda d’água de dez metros de altura que não tinha poço, só pedra. Acho que ele perseguia mais a imagem, a forma, a apresentação. Eu puxava muito a orelha dele. Mas era o jeito dele, o jeito de cada um. Não existe um jeito certo. Por que você acha que ele se jogava tanto? Sempre buscava o limite nos seus trabalhos? Tem coisas da vida dele que invadiam o trabalho. Ele tinha uma urgência com o tempo, ele tinha questões com o tempo, desse tempo com a vida. A própria juventude era uma questão para ele. Ele gostava muito de fazer trabalhos duracionais, de ficar horas e horas executando as performances. Eu percebo que tem a ver com essa… eu ia dizer aproveitamento do tempo, mas eu ia falar da própria vida, com esse tempo que passa da vida. Esse tempo é relativo e durante a performance pode ficar muito longo ou muito curto. As questões que passavam por ele, e eu acho que iam para o trabalho. O Ilha da Pólvora talvez traga isso: aquele corpo que é envolto por uma fumaça, que se desfaz no ar e que transmuta. Estou me lembrando desse trabalho que mexe mais com o tempo. Se o Marcus estivesse aqui, talvez eu falaria outras coisas. Por exemplo, daria para falar do que eu vejo que ele não trabalhou: questões de gênero, sexualidade. Ele ficou com temas mais abstratos, como o tempo, o espaço, o corpo. Não era um corpo discutindo gênero, era um corpo discutindo a existência. Eu sempre falo que o artista vai deixando pistas, como se abrisse páginas de um labirinto. Se a gente consegue desvendar o artista, consegue desvendar um pouco do universo que tem a ver com a humanidade, passa pela humanidade, passa por uma humanidade. Eu fico vendo os trabalhos dele e a sensação é de que ele foi deixando as pistas da própria vida. Tem algum trabalho que tenha marcado você? Esse trabalho que ele escreve “tempo” no chão foi o primeiro que vi e me marcou de cara. Ele estava vestido com um macacão, como se fosse um operário. Teve outro que foi em Terra Una, que ele ficou horas amarrado e de costas para a queda d’água, com duas tirinhas de gaze. Não era uma correnteza muito forte, a água estava batendo nas canelas e não tinha risco de tromba d’água. Mas, de qualquer forma, ele ficou quase três horas de pé, segundo registros oficiais.
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Mas era um risco. Vai que a gaze rompe, um imprevisto acontece… A gaze era só um enfeite. Tendo a gaze ou uma corda eu acho que não faria muita diferença, porque ele estava muito próximo da queda e era uma queda alta, mas ele permaneceu ali, parado. Acho que o humano deu o suporte para o artista. Eu quero fazer um documentário sobre ele anterior à sua morte, com gravações de celular, áudios, as bobagens, as palhaçadas… porque para mim esse é o grande artista. Eu não vejo diferença entre o Marcus da galeria apresentando trabalho do Marcus sambando na (rua) Sete. Essa história do Marcus Vinícius ir até o limite, tanto no trabalho quanto na própria vida... Será que não era uma intuição do finito?
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Eu acho que sim. Ele deixou trabalhos muito fortes, que tinham a ver com resistência, persistência. Ele nunca tratou da morte nos trabalhos que ele fez, mas o tempo já é isso, que vai acabando e nunca volta. Ele já é a morte anunciada. De certa forma, ele foi um rockstar da performance. Ele abriu portas em vários lugares, foi o primeiro artista brasileiro a pisar em vários festivais internacionais. Antes de morrer, estava no Nepal. Eu não conheço nenhum artista brasileiro que foi para o Nepal. Também esteve na Rússia e em quase toda a América. Ele viveu esse tempo. Quando começou a viajar, foi uma grande turnê (nos registros de Marcus Vinícius, as viagens profissionais estão identificadas como “tour”). Foi um artista do rock na performance. Como eu falei do mito pessoal, ele virou um mito também. MV tinha uma relação quase antagônica entre a fragilidade e a força, porque ele era uma figura muito frágil. Que estava de cama, desmaiava, tinha uns acessos e, ao mesmo tempo, fazia mil coisas. Você participou de dois trabalhos em que o Marcus Vinícius foi o curador (na Galeria Homero Massena e no Trampolim). Como era o Marcus como produtor cultural? Ele fez as coisas de uma forma que eu gostaria de fazer. De um jeito mais aberto, mais livre, mais anárquico. Convidar as pessoas e hospedá-las na casa dos amigos era a condição dada, não era exatamente como ele queria, mas era como dava para fazer e isso não se tornava um problema. Ele fazia aquilo de um jeito muito generoso, querendo construir algo. Gostava de oferecer, prover, abraçar – tanto que ele convidou artistas muito diferentes e abriu, com isso, um panorama muito heterogêneo para o evento. Ele ofereceu algo que era muito comum nos festivais que ele participou. A performance não está no topo da lista das técnicas artísticas mais valorizadas. Ainda é muito marginal. MV era um dos poucos curadores que eu via se incluindo nas curadorias e isso mudou muito meu pensamento, porque a forma como ele pensava e a forma como ele fazia isso não era oportunista. Era coerente fazer parte daquilo que ele estava propondo porque ele não estava descolado daquilo. Ele conseguia mostrar que fazia parte, não sendo nem maior nem menor do que ninguém.
Olhando cronologicamente para o trabalho do Marcus, a impressão é de que essas curadorias eram prolongamentos dos trabalhos que ele executava. Por isso, talvez, soe natural a inclusão dos trabalhos dele nas mostras. E, ao mesmo tempo, ele se conectava com outros artistas que dialogavam com seu pensamento. O Trampolim foi o evento em que vocês dois trabalharam juntos, você como artista e ele como curador. Qual a sua análise sobre o evento? A meu ver, o Trampolim foi o primeiro grande festival internacional de performance do Brasil. Artistas do mundo inteiro estiveram em Vitória. E Marcus, como curador, nunca disse não. Eu acho que ele conseguiu propor um formato diferente. Cada coisa estava na sua caixinha, com uma série de protocolos. Funcionava de acordo com as demandas de cada artista e com a estrutura que se tinha. A força dele como figura política e cultural de chegar e convidar os artistas e oferecer comida, hospedagem amiga e amor. E aí ele traz um casal da Venezuela, outro de Veneza. Todos os artistas que chegaram à cidade foram pessoas que tiveram muita garra pra chegar. Todo mundo que participou do projeto teve que se virar para chegar aqui. E MV conseguiu realizar tudo com mérito. A que você atribui o interesse dos artistas para participar do Trampolim? Eu acho que existem vários fatores. Primeiro, nunca teve um evento desse porte no Brasil. Existem outros festivais, mas não com essa anarquia, nesse sentido de abertura que o Marcus propôs. Uma coisa é um evento dentro de uma galeria de arte comercial, uma das maiores de São Paulo, por exemplo. O local não te oferece nada, apenas o espaço, e as pessoas se estapeiam para participar. Outra coisa é você vir para Vitória, dentro de uma galeria não comercial, que não promovia nada com esse tipo de proposta. Só que o evento alimentou uma rede de artistas que zelam pela arte e pela performance. Eu acredito que tanto a plataforma quanto a figura do Marcus, que já era muito conhecido no meio, resultaram em um festival de performances com tantas edições. Só o Trampolim que teve um formato mensal. E foi este o marco: os artistas se divertiram, conheceram a cidade, levaram um pouco deste lugar. Você foi uma pessoa que testemunhou, ao vivo, as performances do Marcus Vinícius. Quais eram as sensações que lhe atravessavam e qual era a reação da plateia que, na maioria das vezes, não sabia quando as performances iam acabar? Eu tive sorte de ver um trabalho curtinho dele, no Festival da Polônia, porque o tempo era delimitado. A sensação era de uma retroalimentação e de uma metáfora do momento, da coisa falando da coisa, e de uma contemplação, de assistir aquilo. Sempre me atravessou assim, no sentido de contemplar o que ele estava fazendo, de observar, não com a necessidade de significação, mas de assistir aquela paisagem e deixar que as
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coisas viessem à mente. Já foi um vício meu querer dar sentido para tudo. E os trabalhos que o Marcus fazia não caminhavam por aí. Assistindo as performances em vídeo, não é perceptível a sensação de dor ou cansaço, levando em consideração as situações limites em que Marcus Vinícius se colocava. Você que testemunhou algumas dessas performances, como era isso? A sensação de sofrimento? Não existia. Na performance de Terra Uma – que ele ficou na cachoeira –, por exemplo, ele não expressou esses sentimentos durante o processo, mas a coisa toda em volta fazia a gente ficar com medo. Por isso que eu falo desse contrassenso entre a fragilidade dele e a força em fazer. Acho que tem essa mensagem dentro dos trabalhos que ele realizava: vamos, podemos, não desistimos, conseguimos. Fazendo um exercício de projeção: onde você acha que o artista Marcus Vinícius estaria hoje?
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Talvez ele já tivesse feito uma grande exposição individual. Outros artistas da geração dele apresentaram uma projeção e poderia estar junto. Ao mesmo tempo acho que ele poderia estar fazendo as mesmas coisas, fazendo turnês mundiais (risos). Ele tatuou The artist is warrior e ele foi isso mesmo, um guerreirão até o fim. Marcus era a figura do guerreiro, do artista desbravando mares, desbravando terras, indo para lugares inóspitos, indo para lugares desconhecidos, fincando bandeiras. E a gente fica fazendo essas leituras da passagem apoteótica dele e tentando desvendar.
A FUNDAÇÃO DE UM CORPO
Um território que se expande por meio de uma explosão. O fogo que devora os desenhos de pólvora, em que os grafismos viram mapas imaginários na superfície retorcida do papel, e o corpo que se posiciona perto demais das faíscas, a ponto de sair frequentemente chamuscado: ora sentado em posição meditativa, ora agachado como se fizesse traquinagem, ora de pé, numa atitude de solene contemplação. O ato minucioso de percorrer e investigar os espaços, sentir os afetos que emanam das ruínas, abrir a caixa com os refis de pólvora e desenhar trilhas e círculos das mais variadas dimensões, estende-se por longos minutos, às vezes horas – em contraste com o pequeno instante em que se dá a combustão e tudo é consumido até esvair-se em fumaça. As ações Território Expandido I [Ilha da Pólvora] e Território Expandido II [Edifício das Fundações] são desdobramentos de investigações anteriores: sobre a utilização da pólvora como agente de intervenção artística no papel (na série Territórios) e o armazenamento dos resíduos da queima, em pequenos frascos, no trabalho Territórios (im)permanentes. Entre as referências artísticas com as quais Marcus Vinícius confessamente dialoga, temos as intervenções com papel e pólvora do chinês Cai Guo-Qiang e do gaúcho Marlon de Azambuja, as instalações da sino-brasileira Chang Chi Chai, e os objetos com palitos de fósforo do carioca Felipe Barbosa.
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Série Territórios (im)permanentes (Marcus Vinícius, 2007)
Hospital do Isolamento Oswaldo Monteiro
Esse simbolismo da combustão como transfiguração do sofrimento e ignição de um corpo capaz de resistir à dor reflete-se também na escolha dos locais onde ocorrem as performances e naquilo que cada um evoca. Um deles é o Hospital do Isolamento Oswaldo Monteiro, localizado na Ilha da Pólvora, nos arredores de Vitória (aliás, também uma ilha), em que foram realizadas 19 ações utilizando a pólvora como agente ativador. Fundado em 1925 e desativado no começo da década de 1990, foi durante décadas um local de tratamento de hanseníase e tuberculose – reforçando um imaginário que remete à ideia de isolamento, morte e purificação. De lá, a cidade de Vitória é vista pelas frestas: tudo se volta para fora, dá para o mar, lança-se para longe. A luz atravessa os andares elevados, deixando esses espaços ainda mais devassados. Em meio ao caos urbano, sigo para a ilha em busca de momentos de reflexão, produção e introspecção, afirma o artista em seu texto Dos mapas à ilha: novas descobertas e possíveis descobrimentos (2007). Observado por Marcus a distância, durante anos, da sacada de sua casa, no alto de um morro próximo, o hospital, hoje em ruínas, continua a ser acessado somente pelas águas, nas pequenas embarcações que partem do Cais do Hidroavião, tal como
O Edifício das Fundações Professora Georgina Ramalho, onde foi realizada a segunda investigação, foi construído na década de 1970, no coração do centro de Vitória – mais exatamente, nas cercanias dos prédios onde se situam a sede do Governo do Estado, o Fórum e a antiga Assembleia Legislativa. Durante três décadas, abrigou diversos órgãos e secretarias de Governo, inclusive os estúdios da emissora pública TV Educativa, estando quase totalmente desativado e em ruínas há cerca de quinze anos – à exceção da Galeria Homero Massena, espaço expositivo que funciona no seu térreo, mantendo um pequeno anexo no primeiro andar. O prédio já havia sido explorado pelo Coletivo Maruípe, numa intervenção artística realizada em 2004, que chegou a trazer parte do entulho espalhado pelos andares superiores para dentro da galeria, como parte de uma videoinstalação. Isso instigou Marcus a mapear a edificação no começo de 2007, para, no final do ano, empreender a segunda intervenção do projeto Território expandido, na qual foram realizadas 17 ações de combustão: Percorri todos os pavimentos do edifício, mais uma vez munido da pequena caixa trazendo pólvora e fósforo. Caminhava nu e descalço pelos andares devastados. Lá pisei em cacos de vidro e fezes de animais. Desviei de restos mortais de pombos, invadindo esse lugar por eles há tempos habitado, antes da morte. Não via e não sentia nada. Cortes e arranhões não eram sentidos. Sentia apenas a energia pulsante daquele lugar e o calor da pólvora junto ao meu corpo. Já estamos diante de um novo corpo, ainda em formação, despertando as potências de resistência e sujeição ao risco que darão a tônica de boa parte da carreira do artista. Em julho de 2010, movido por um desejo de regresso e renovação de forças desse corpo que o próprio artista definia como marcado pelas feridas abertas de nadar só e sem rede, temos uma nova incursão à Ilha da Pólvora, dessa vez em parceria com os artistas Yury Aires (fotografia) e Monica Nitz (vídeo). Dela, resultaram os vídeos O desejo é o rastro e O acaso, o imprevisível e o
A Fundação de um Corpo
faziam as almas com dias contados, em busca de uma cura muitas vezes impossível. Nas palavras de Marcus, a performance aparece como proposta/instante de encontro, encontro com o outro, com a vida, com a morte, fagulha efêmera, busca de outros processos de subjetivação. Naquele espaço onde antes havia funcionado o hospital, só restara a antiga edificação ruída pelo abandono, as tensões do esvaziamento, os vestígios da destruição empreendida pelo tempo e por moradores do entorno que dia após dia transformaram o lugar e a triste memória dos corpos que ali arderam à espera de cura, de um novo destino. Vídeo O desejo é o rastro (2010), realizado em parceria com Monica Nitz (fotografia de Yury Aires)
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Vídeo O imprevisível, o acaso e o que não se sabe (2010), realizado em parceria com Monica Nitz (fotografia de Yury Aires)
que não se sabe (acompanhados de suas respectivas séries fotográficas) e os trabalhos fotográficos A propósito da pele e É no meu olho que o mundo diminui. Nesses últimos, destaca-se a imagem do musgo tomando conta do corpo do artista, como se agregassem novos acidentes geográficos ao mapa já traçado por tantas e tão intensas performances, seus resíduos e cicatrizes no decorrer dos três anos que separam essa empreitada da primeira. Ao sintetizar tal experiência, Marcus conclui: Corpo que arde, queima e sente a explosão da pólvora junto de si. Ardência que age silenciosa num vazio que se agiganta e se comprime. Escuridão íntima, breu. (...) Na Ilha da Pólvora, o tempo não passa. Congela. Vive-se o Outro, o outro tempo! Erly Vieira Jr
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TERRITÓRIO EXPANDIDO I [ILHA DA PÓLVORA Expanded Territories I [Ilha da Pólvora] 2007 Performance Registro fotográfico por (photo by) Luara Monteiro Hospital do Isolamento Oswaldo Monteiro – Vitória, Espírito Santo, Brasil
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TERRITÓRIO EXPANDIDO I [ILHA DA PÓLVORA] - Expanded Territories I [Ilha da Pólvora] 2007 Performance Registros fotográficos por (photo by) Luara Monteiro Hospital do Isolamento Oswaldo Monteiro – Vitória, Espírito Santo, Brasil
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Descobrindo as Ilhas da Pólvora Riscos, resíduos, resquícios 1 Rosa, Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964.
2 Barthes, Roland, O terceiro sentido. In: O óbvio e o obtuso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
Viver é muito perigoso1 dizia o Rosa pela boca de Riobaldo, o Tatarana, rápido no gatilho como seu criador o era na invenção verbal. Fazer arte também. E muito arriscado. Porque se não for arte, não é nada: fumaça que se dissipa no vento, salto no vazio, que, às vertigens abismais iniciais, sucederá o encontro frustrado com o chão duro da previsibilidade. Como descobrir a pólvora: realizar o óbvio, aquele sentido que segundo Barthes, vem à frente 2 e, terra descoberta, já está lá à nossa espera. Marcus Vinícius, como Marco Pólo, aceita o desafio dessa aventura perigosa. Entre o transe e o jogo, o risco e a queda, convida o acaso para dançar, brincar com fogo e fazer artes com ele. Na série de desenhos, a pólvora incandescente, coautoral, incontrolável e imprevisível, desvela, descobre as cartografias de novos mundos: ilhas, penínsulas, golfos, enseadas e baías, acidentes geo-gráficos que devoram o papel, lambendo sua pele com língua de fogo e fazendo surgir reentrâncias e saliências, resíduos e resquícios da terra virgem originária – a folha em branco -, para fascínio e deleite, penso, do próprio descobridor, MV, neste momento único, de revelação, do processo de criação.
Dos mapas à Ilha 50
São primeiros ensaios, no entanto, estes mapas, que preparam a grande aventura de descobrimento que se seguirá. Arriscada aventura: a conquista da Ilha da Pólvora. Isola. Isla. Ilha. Na esperança de uma cura incerta, se não, na maioria dos casos, impossível, era isso que hansenianos e tísicos – ou mais cruamente: leprosos e tuberculosos - encontravam na ilha, desde que fora destinada a recebê-los: isolamento.
TERRITÓRIOS (L7, L3, L13 e L11) 2006-2007 Desenhos (drawings) 30 cm x 40 cm cada (each)
Lá, João e Maria, guiado exclusivamente por intuição e sensibilidade, delineará um trajeto que irá se definindo ponto a ponto por pequenos círculos desenhados com pólvora lugares específicos.
3 Rosa, Guimarães, discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, 16 de novembro de 1967.
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A bordo de um pequeno barco e munido apenas de uma pequena caixa que, aos poucos, revelar-lhe-á seus verdadeiros poderes, Marcus Vinícius chega à ilha. Não sabe ainda, mas lá irá enfrentar os voláteis mas perigosos calibãs espirituais, os gênios residentes (as pessoas não morrem. Ficam encantadas3), contando unicamente com o apoio de sua pequena equipe de trabalho.
Se nos desenhos, figuradamente, antecipava protegido as surpresas da descoberta e da invenção, aqui, na ilha, MV se expõe às vicissitudes e acidentes do destino que se propôs enfrentar. Agora, nu de corpo e alma, vulnerável como um diadorim sem disfarces, vivenciará a experiência explosiva da criação: como atóis de coral incandescentes, esses, de pólvora, anéis à espera de saturnos devoradores, invocarão as chagas e sufocamentos dos antigos habitantes da ilha, incendiando-se para libertá-los talvez – o que sabemos? – de suas cadeias de perene sofrimento. À beira do transe MV cai: uma explosão especialmente forte e imprevista o derruba ao chão, deixando marcadas em sua pele resíduos do risco vivido. Dirige-se então ao cais em ruínas, resquício do antigo portal de desembarque, para realizar uma última combustão. Lá, me diria depois, mostrando-me as fotos, viu a fumaça resultante retornar à ilha: nada do que não pertencesse à ilha sairia de lá, me diria, querendo, no entanto, dizer o contrário: nada do que pertencesse à ilha sairia de lá. Ato falho a meu ver significativo. Mais até, revelador: parece apontar para a difícil posição da arte e do artista em relação a estas outras “ilhas”: até que ponto o Einfühlung que nos projeta sobre elas pode nos confundir com e até nos levar a nos perder e aprisionar nelas?
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Do transe ao jogo, será preciso sair de si para receber o Outro? Não: às ilhas o que são das ilhas. É preciso levantar e estar em si para aceitar o Outro sem se perder nele. Prósperos, libertar Ariel e compreender as tempestades. Que se dissipem as fumaças dos isolamentos passados, presentes e futuros. Que lancemos pontes, aproximemos ilhas e arquipélagos, mas que possamos sempre retornar, sãos e salvos ao nosso continente: o da arte. Planejando sempre novas descobertas e descobrimentos. Mesmo que seja muito perigoso. Como a vida. E arriscado. Como a arte. Ricardo Maurício Gonzaga 4 Por coincidência – acreditem-me – ou sincronicidade, quarenta anos do nascimento (perdão, ato falho: falecimento) de Guimarães Rosa.
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19 de Novembro de 20074
A Fundação de um Corpo
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A PROPÓSITO DA PELE - To purpose for skin 2010 fotografia digital (digital photography) 50 x 70 cm cada (each) Fotografia de (photo by) de Yury Aires
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É NO MEU OLHO QUE O MUNDO DIMINUI - Is in my eye that the world decreases 2010 fotografia digital (digital photography) 50 x 70 cm cada (each) Fotografia de (photo by) Yury Aires
LIMITES E RASURAS
Uma vez concluída a inauguração ritual, Marcus desenvolve, principalmente nos anos imediatamente posteriores (2008 e 2009), uma série de trabalhos que investigam os limites e potências desse novo corpo. Um primeiro desejo de cartografia é dado pela metáfora literal do ato de se desenhar linhas na própria pele com lápis dermatológico (O mapa do meu corpo e série Cartografias do corpo I, II e III, todos realizados em 2008). Para Marcus Vinícius, a linha não preexiste, é preciso traçá-la, traçar infinitos percursos – aqueles nos quais, em trabalhos futuros, ele irá se aventurar a percorrer de forma mais concreta e visceral, conferindo, assim, um caráter premonitório ou de carta de intenções a um trabalho ainda um tanto quanto inocente em sua ludicidade.
MY WINGS 2010 Fotografia digital (digital photography) 43 x 56 cm cada (each) Fotografia de (photo by) Maria Fedorova 56
NEM TUDO SÃO FLORES [SUCO} - It’s not all about flowers [ juice] 2008 Performance (10 minutos) Registro fotográfico por (photo by) Verónica Meloni PLAY V - International Video & Performance Festival Fundación Casa de la Cultura, Pergamino, Argentina
Esse mesmo aspecto lúdico é retomado na delicadeza do vídeo A place for the heart shine (2010), em que um desenho de miçangas adesivas demarca um coração imaginado para o metafórico homem de lata que jamais retorna ileso de tantas experiências física e emocionalmente extenuantes – posteriormente, a intervenção seria incorporada sob a forma de uma tatuagem permanente no peito do artista. Outros jogos, menos inocentes, são experimentados sucessivamente: do provocativo Play me (2010), em que o corpo de costas, emoldurado pela sintética auréola das luzes de um fliperama, é oferecido para quem quiser “jogá-lo” eroticamente, à clandestinidade das Acciones Invasivas (2009), em que o artista faz questão de inserir sua figura como elemento alienígena (potencializado pelo uso de sua vestimenta às avessas) diante de obras de artistas consagrados (como a dobradinha Andy Warhol/Maria Minujín), expostas numa feira de arte de grande porte em Buenos Aires. A empreitada mais recorrente nesse conjunto de obras é a de assumir o risco corporal, numa gradação que começa com as irônicas imagens de asfixia na série de vídeo e fotografias Plastic bags can be dangerous (2008/2009), ou a deliberada provocação de uma reação alérgica ao ingerir leite em (in)tolerância (2008), até chegarmos ao desafio da cachoeira, em Espera (2011) e aos trabalhos com cera de vela derretida sobre o próprio corpo imobilizado com um nó górdio (Nudo, 2012), materializando, gota a gota, uma espécie de asa incapaz de conferir-lhe a possibilidade do voo – e os desenhos de Josefina Muslera, realizados durante a execução da performance, ampliam a dura poesia dessa condição. Mesmo um trabalho aparentemente inofensivo pode levar a reações físicas extremas, como o exercício de renovada des/ reterritorialização dos espaços percorridos em seus trânsitos e viagens, proposto por Nem tudo são flores [suco], de 2008. Nele, o
Nas fotografias da série Cicatrices (2010), o corpo nu do artista, com suas tatuagens gráficas, busca dialogar com as rachaduras, buracos e escombros de casas abandonadas que são agora corpos desfigurados: nas palavras do artista, temos uma comunhão entre as marcas dos tempo nas edificações e aquelas deixadas na pele, após inúmeras performances, agora sem a efemeridade do desenho com lápis dermatológico. Resíduos de um corpo que é posto em circulação pelo mundo, sem medo de dialogar com o devir da própria vida. No texto O tempo sem horas, que relata a experiência da residência artística realizada em Terra Una, Marcus Vinícius escreve, a respeito da performance Espera: O rio corre, passa por mim, me corta. Sinto medo, mas ao mesmo tempo me vejo seguro. Não penso na possibilidade de queda. De costas, vejo tudo cair. Na verdade, sinto. Mas será que realmente não vejo? O meu olhar é intenso, fugidio, lacrimoso. Chorei. Sim, eu vejo.
Limites e Rasuras
artista incorpora a memória afetiva adquirida a cada nova cidade, ao ingerir um suco que ele mesmo prepara a partir da coleta de flores nativas da região, cuja difícil digestão pode levar ao vômito ou outras reações alérgicas mais graves.
PLASTIC BAGS CAN BE DANGEROUS 2008
Erly Vieira Jr
Performance Registro Fotográfico por (photo by) Mariana Alvarez Centro de Artes, Ufes – Vitória, Espírito Santo, Brasil
OS OUTROS - the others
(IN)TOLERÂNCIA - (in)tolerance
2008
2008
Série fotográfica digital (digital photography series)
Vídeo (frame) dirigido por (directed by) Marcus Vinícius
Fotografias de (photos by) Marcus Vinícius
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CARTOGRAFIA DO CORPO I - Body cartography I 2008 Performance Registro Fotográfico de (photo by) Mariana Alvarez Centro de Artes, UFES – Vitória, Espírito Santo, Brasil
Limites e Rasuras
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O MAPA DO MEU CORPO - The map of my body 2008 Fotografia digital (digital photography) 40 x 60 cm cada (each) Fotografia de (photo by) Mariana Alvarez
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A PLACE FOR THE HEART SHINE - Um lugar para o coração brilhar 2010 Vídeo (frame) dirigido por (directed by) Marcus Vinícius 09’08”
Limites e Rasuras
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PLAY ME 2010 Ação para câmera (Action for camera) Registro fotográfico (photo by) por Shima SKKY Pub – Piotrków Trybunalski, Polônia
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Limites e Rasuras
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ACCIONES INVASIVAS Invasive Actions 2009 Ação para câmera (Action for camera) Registro fotográfico (photo by) Pablo Avelar Intervenções realizadas em espaços expositivos diversos, Buenos Aires, Argentina
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ESPERA - Wait 2011 Performance (2 horas e 49 minutos) Foto por (photo by) Julio Callado V::E::R – Encontro de Arte Viva Terra UNA, Liberdade, Brasil
Quando chegou à idade de preocupar-se com a liberdade de pensamento, o autor quitou sua cidade, seus hábitos urbanos e subiu a montanha em direção à Terra Una, um lugar onde a natureza impera: cachoeiras, rios, florestas e seres humanos com suas paixões. Apenas inventar personagens não era suficiente, o autor desejava viver um personagem. Assim, passou a utilizar um heterônimo (...).
Limites e Rasuras
UM PERSONAGEM CONCEITUAL
Fontoura percebe alguém sob uma árvore ao longe. — Você está sozinho? Vou subir a colina, quer vir comigo? Qual o seu nome? – pergunta Fontoura. — Marcus Vinícius. — O que veio fazer aqui? — Vim fazer um trabalho que está em processo... um processo muito intenso, muito livre. Chama-se Espera. Fala de fluxo, de fluido. De tudo o que se esvai. — O fluxo sempre me interessa! — O trabalho fala de mim e de tudo o que me rodeia. As pessoas fazem parte desse fluxo que é minha vida. Levo meu corpo pelo mundo e minha passagem por Terra Una é uma transformação. Sinto-me transformado de uma maneira que não sei qual é. Sou do mundo e vou experimentando o mundo: como a água que passa no rio. Eu me sinto água. — Você é um fluxo dentro de um fluxo. — Existe uma tentativa de reter esse fluxo, mas não é possível: é como a água! O que eu espero desse fluxo? Não sei. — O que o leva a fazer este trabalho? – insiste Fontoura. — Sempre tive uma relação afetiva com a água, de contemplação. Sou extensão da água. O fluxo me faz pensar... a água... é um agente transformador da vida. Tudo o que faço, chamo de estratégias do corpo. — Eu também sou fluxo, um fluxo que se atualiza no corpo – afirma Fontoura. Os dois se abraçam. Silêncio. Fontoura continua sua caminhada, deixando a figura longelínea sob a copa da árvore. Trecho do texto Fontoura: um personagem conceitual, de autoria de Kenny Neoob, realizado a partir de conversa gravada entre Marcus Vinícius e o heterônimo da autora. Texto completo publicado no Catálogo V::E::R 2011: Encontro de Arte Viva, Terra Una. Janeiro de 2011
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NUDO 2012 Live streaming performance (12 minutos) Registro fotográfico por (photo by) Verónica Meloni Lone Star Explosion – AvantGarden, Houston, Estados Unidos
Limites e Rasuras
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NUDO 2012 Live streaming performance (12 minutos) Desenhos (drawings) Josefina Muslera
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CICATRIZES - Scars 2010
Série fotográfica digital (digital photography series) 50 x 70 cm cada (each) Fotografias de (photo by) Ghustavo Távora
Minhas cicatrizes são como linhas que revelam lugares em contornos imprecisos, como se a memória pudesse ser impressa na pele de quem a leva. São desenhos que a vida vai fazendo: alguns se desvanecem, outros se mantêm iguais.
Limites e Rasuras
CICATRIZES
Minhas cicatrizes são como casas abandonadas que, cegas e mudas, são agora corpos desfigurados. Guardam silenciosas algo que já não existe, exceto naquelas lembranças que ficaram impressas nas desconstruções. A cidade é meu estudo, meu lugar de ação e lugar de reflexão no qual meu corpo atua como objeto de registro e memória. Muito além de uma ferramenta de trabalho, seus desdobramentos avançam em imagens multiplicadas, registros temporários de uma ação infinita, de caráter mais filosófico que físico, resultado de minha condição flâneur. Talvez seja a arte da fantasmagoria, da construção a partir da imaterialidade das coisas por meio da materialidade do desejo, conforme Agamben (2007). A poética posta em cena é a da reconstrução da imagem de um corpo perdido, da identidade borrada, da memória obscurecida. O espaço e a transitoriedade expandidos no corpo. Em minhas incursões através dos labirintos da cidade, casas singulares, que apresentam transposições de significados em comum, isoladas de suas funções, tornam-se corpos desprovidos de vida, pontuando relações entre o escuro do lado de dentro e o invisível do lado de fora. O reverso do corpo é revelado por alguma fresta que deixa entrever a poeira da alma, os vestígios e as memórias de quem ali um dia habitou. Somos olhados por esse passado e por essa perda e somos remetidos às palavras de Didi-Huberman (1998): devemos fechar os olhos para ver quando o ato de ver nos remete, nos abre a um vazio que nos olha, nos concerne e, em certo sentido, nos constitui. Marcus Vinícius 2011
Referências AGAMBEN, Giorgio. Estâncias: a palavra e o fantasma na cultura ocidental. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 34, 1998.*
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CICATRIZES - Scars 2010 Série fotográfica digital (digital photography series) 50 x 70 cm cada (each) Fotografia de (photo by)Ghustavo Távora
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Ao se referir ao seu projeto A presença do mundo em mim, Marcus Vinícius afirmou que o corpo não está jamais perfeitamente integrado nem à coletividade, nem à própria individualidade. Daí, em alguns trabalhos, pensar num corpo tomado por próteses diversas, que problematizem a ideia de contato e alteridade e lançá-lo irremediavelmente à esfera cotidiana. No já mencionado artigo publicado na revista Tatuí, Marcus reconhece, na esfera cotidiana, um terreno repleto de saberes microscópicos, que permitem discernir tendências sociais, culturais e políticas – diante dessa riqueza latente, por que não experimentar os encontros a partir dessas novas corporeidades?
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2011 Performance (77 minutos) Registro audiovisual por (video by) Rubiane Maia TRANSPERFORMANCE – Oi Futuro, Rio de Janeiro, Brasil
CONTÁGIO - Contagion 2010 Fotografia digital (digital [photography) Fotografia de (photo by) Mariana Alvarez Centro de Artes (UFES), Vitória, Espírito Santo, Brasil
Realizado entre 2008 e 2010, o projeto Corpo estranho/ Cuerpo extraño (e aqui é impossível não pensar na dupla acepção do termo em espanhol, que também remete à nostalgia de algo que se descobre ausente), consistia no uso de uma vestimenta/ equipamento sonoro composta por um conjunto de quinze altofalantes acoplados ao performer, a emitirem ruídos estridentes à medida que ele dobrava esquinas, cruzava praças, atravessava pontes. Um corpo que invadiu, em marcha atlética a aparente calmaria cotidiana, para romper o isolamento individual urbano. Outra invasão ocorre em Frágil (2009-2011), cuja indumentária de fita adesiva deixa marcas não somente na pele – mas também através dos pregnantes olhares de perplexidade de alguns transeuntes, que persistem na memória do artista, mesmo decorridas tantas horas após concluir-se a ação. Se, por um lado, os dizeres impressos na fita pedem cuidado, apoio e talvez carinho, a vestimenta assusta e afasta, fazendo do corpo do performer uma espécie de alienígena, cujo andar vagaroso pelas ruas da cidade potencializa um contato prolongado com pessoas das quais ele mal vê os rostos, desconhece os toques e sequer sabe os nomes, numa das mais intensas e difíceis experiências emocionais proporcionadas por um trabalho seu. Já o CONTAGION_project (2010) centra-se na concepção do corpo do artista como zona de contaminação de desejos. Empreendido durante a primeira turnê europeia, no primeiro semestre de 2010 (Polônia, Portugal, Espanha e Itália), constituiu-se de um conjunto de ações-vírus, fazendo uso de referências pessoais e cotidianas, contendo e expondo noções de humor, jogo, dor, absurdo, ausência e fragmentação. Sobre o tempo, por exemplo, inicia-se com Marcus munido de luvas e macacão branco, a filtrar a água que pinga dos baldes perfurados, suspensos no teto, em direção às tinas espalhadas pelo
O aspecto jocoso e irônico de vários desses trabalhos ganha outro sentido quando lembramos que sua realização é feita durante o período da pandemia da gripe H1N1, que inclusive trouxe de volta ao imaginário midiático o pânico da contaminação a partir dos fluxos migracionais globais. Vale lembrar que se trata de um artista que iniciou viagem na Argentina, um dos países afetados pelo surto. Isso confere outro sentido, inclusive à descrição que ele fez de seu projeto: CONTAGION_project trata de nossas feridas e nossos danos, de nossas neuroses e nossos medos, de nossos corpos e nossos afetos, mas, acima de tudo, de nossos prazeres e nossos desejos. Apresenta um corpo alterado, ameaçado e transformado pela presença ou ausência do outro. Assinala as múltiplas formas pelas quais o contágio, como metáfora e estratégia, abre a possibilidade de novas intervenções, metodologias, formas de sociabilidade e práxis política. O desejo de estar em movimento, não parar. Há também desdobramentos que vão pensar as fronteiras e trânsitos globais através de outros encontros possíveis, como na
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chão. Segue-se a paciente observação desse gotejamento, a fruição lenta de seu ruído metálico, até subitamente o artista abandonar sua postura asséptica e começar a lamber a gelatina em pó espalhada pelo chão, formando a palavra time, evidenciada com a mudança de cor à medida que a substância entra em contato com a saliva. Em Através da essência do devaneio, novamente a roupa branca e as luvas de borracha, dessa vez para o performer encher com água um pote de vidro redondo e dissolver gelatina em pó, diante de uma atenta plateia reunida ao ar livre. Sentado a dois metros do frasco, ele começa a sorver o líquido vermelho através de um longo tubo de plástico fino, até a exaustão, para em seguida levantar-se e acender um sinalizador marítimo do bolso, criando uma nuvem de fumaça, também vermelha, a encobrir todo o seu corpo. Já Corpóreo no próprio ocultar-se traz Marcus vestido com os mesmos trajes e sentado a uma mesa, na qual vemos um pequeno monte de farinha branca. Após observar o espectador por dez minutos, de um lado ao outro do recinto, com extrema atenção, ele mergulha o rosto subitamente no pó e retira um pequeno relógio que nele estava oculto durante todo esse tempo. Por fim, Action Painting (without canvas) é um registro em vídeo do artista, novamente com seu macacão branco, pintando uma parede do seu próprio quarto com tinta branca, um ato de debochada profilaxia, embalado pelos beats de Just dance, megahit da cantora pop Lady Gaga, ícone da cultura gay então no ápice de sua popularidade.
SE NÃO HOUVESSE A DIFERENÇA - If there was no difference 2011 Performance (25 minutos) Registro fotográfico do (photo by) projeto Trampolim TRAMPOLIM _itinerante Rio de Janeiro – Castelinho38, Rio de Janeiro, Brasil
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CORPÓREO NO PRÓPRIO OCULTAR-SE - Embodiment in the act of being occults itself Performance Registro fotográfico por (photo by) Domix Garrido ABIERTO DE ACCIÓN _ Murcia (LAB Laboratorio de Arte Joven, Murcia, Espanha)
ação-vírus Viagem sentimental, que convidava amigos e conhecidos de diversas partes do mundo a enviarem cartões postais para o endereço em Madrid, Espanha, onde seria realizada a performance. Esses, bem como os diversos votos e felicitações neles escritos, seriam colados uns aos outros, formando uma espécie de armadura moldada diretamente no corpo do artista. Sobre esse trabalho, Marcus chegou a escrever: Acredito que as fronteiras entre corpo e cidade se confundem na medida em que nos movemos e nos contaminamos não apenas de paisagens, mas também de ritmos, sorrisos, amores, sabores. De olhares, gestos e desejos de ser além de outro território. De vontades que se expandem para fora do corpo, saem da pele, dos poros e se perdem pelo ar para se encarnarem em lugares incertos e não conhecidos. A pele, fronteira última e primeira, é a única que não podemos transpassar. É a maior fronteira que pode existir porque não podemos absolutamente cruzá-la. A pele nos contém de tal maneira que é a partir dela que começamos a existir. É ela que nos denota e nos contorna. E é através dessa fronteira de carne e pelos que se desenvolverá a performance Viagem sentimental.
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Na segunda turnê europeia (Rússia e Finlândia), realizada menos de três meses depois, nasce o projeto Ninguém. A proposta, aparentemente despojada, era a de construir um rosto multifacetado sobre o rosto do performer a partir de fragmentos de outros: recortar, em silêncio, olhos, narizes, bocas e orelhas e colá-los ao rosto lentamente, como se fosse algum desses tratamentos estéticos aplicados em spas e clínicas de beleza. Ao final do processo, concretiza-se um corpo híbrido, ciborgue e midiático, elaborado a partir da apropriação de imagens publicitárias e/ou fotográficas, mesclando elementos masculinos e femininos. O excesso de elementos, todavia, não remete à ideia modernista do Frankenstein, mas busca discutir a constante e instável reinvenção de identidades na contemporaneidade, emprestando-se o corpo para construir distintas personas, ou mesmo nenhuma. Além da primeira apresentação, no VIII International Festival of Experimental Arts, em São Petersburgo, a performance foi realizada, nos meses seguintes, no Spa das Artes ’10 (Recife), no Festival Performance Arte Brasil (MAM-RJ) e no Centro Cultural Banco do Nordeste (Fortaleza). Na quinta (e última) execução do projeto, durante o Performa Paço – Ações Extremas (Paço das Artes, São Paulo, 2011), Marcus Vinícius, em meio a sua terceira tour europeia, não pôde estar presente. O trabalho foi então performado por Mavi Veloso, a convite do próprio Marcus – que partiu da semelhança física e de uma série de coincidências entre ambos (como terem o mesmo prenome de batismo e a
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mesma idade), bem como da consciência das diferentes construções corporais que norteiam o trabalho de cada um dos dois artistas. Esse flerte com a ideia do duplo inspiraria Marcus a conceber um projeto denominado MV/Mavi: As fronteiras do eu, que, embora não tenha se concretizado, previa que Mavi realizasse uma série de remakes de performances do CONTAGION_project (como, por exemplo, Corpóreo no próprio ocultar-se, Através da essência do devaneio e Resistance), bem como do trabalho Plastic bags can be dangerous. Por outro lado, trabalhos como a série fotográfica Espaços de contemplação (2009-2010) e o projeto curatorial Sobre as águas, a solidão, o olhar ofereciam momentos de respiro e reflexão, buscando na solidão um contraponto para tantos extenuantes encontros. Neles, também percebemos aflorar um desejo de se estar na imagem, de ser paisagem, que se desdobrará pelos trabalhos que são apresentados na seção seguinte deste livro, denominada El Cuerpo-Paisaje. Erly Vieira Jr
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FRÁGIL - Fragile 2011 Performance (113 minutos) Registro fotográfico por (photo by) Santy Gasquet <<URBE>> Brote Urbano | Encontro de arte de acción y vídeo – Buenos Aires, Argentina
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CUERPO EXTRAÑO - Strange body 2009 Performance Registro fotográfico por (photo by) Verónica Meloni Self Fiction ’09 – Buenos Aires, Argentina
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CONTAGION project _spreading the contagion
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2010 Série de performances 1. SOBRE O TEMPO About the time Performance - Registro Fotográfico por (photo by)Mariusz Marchewa Marchlewivcz - XII Festival Interakjce (Galeria OFF, Piotrków Trybunalski, Polônia) 2. NAS NUVENS On the clouds Performance - Registro Fotográfico por (photo by) Małgorzata Polakowska – Wieczor Performance (Galeria Działa /Gallery of Action, Warsaw, Polônia) 3. FAGOCITOSE Phagocytosis Performance - Registro Fotográfico por (photo by) Fabrice Ziegler – EPIPIDERME: encontros à volta da performance (Fábrica Braço de Prata, Lisboa, Portugal) 4. CORPÓREO NO PRÓPRIO OCULTAR-SE Embodiment in the act of being occults itself Performance - Registro Fotográfico por (photo by) Domix Garrido – ABIERTO DE ACCIÓN _ Murcia (LAB Laboratorio de Arte Joven, Murcia, Espanha)
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5 e 6. ATRAVÉS DA ESSÊNCIA DO DEVANEIO Through the essence of the escape Performance - Registro Fotográfico por (photo by) Fuensanta Balanza – ABIERTO DE ACCIÓN _ Cartagena (Festival Mucho+Mayo, Cartagena, Espanha) 7. VIAGEM SENTIMENTAL Sentimental journey Performance - Registro Fotográfico por (photo by) Michico Totoki – ARTe en AcciON (Espacio Espora, Madrid, Espanha) 8. ACTION PAINTING (SEM TELA) Action painting (without canvas) Registro audiovisual dirigido por (video by) Marcus Vinícius
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NINGUÉM - No one 2011 Performance Registro fotográfico por (photo by) Julio Callado Performance Arte Brasil – MAM-RJ, Rio de Janeiro, Brasil
NINGUÉM - No one 2011 Performance Registro fotográfico por (photo by) Verónica Meloni Trampolim_ Itinerante Fortaleza – CCBNB, Fortaleza, Brasil
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NINGUÉM - No one 2011 Performance Registro Fotográfico por (photo by) Julio Callado Performance Arte Brasil – MAM-RJ, Rio de Janeiro, Brasil
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SOBRE O TEMPO - About the time CONTAGION project _spreading the contagion 2010 Performance Registro fotográfico por (photo by) Mariusz Marchewa Marchlewivcz XII Miedzynarodowy Festiwal Sztuki INTERAKCJE – Galeria OFF, Piotrków Trybunalski, Polônia
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FRÁGIL III 2011 Performance (77 minutos) Registro audiovisual por (video by) Rubiane Maia
DEIXOU MARCAS NA SUA PELE Ontem (quinta-feira, 17 de novembro), foi desses dias em que tenho consciência absoluta da importância de viver. Uns me sorriem, outros me encaram com hostilidade. Um homem me ofereceu um sorriso. Creio que tudo terminou naquele instante em que olhei seus olhos e agradeci. Não podendo falar, asfixiado em mim mesmo, pensava na necessidade de ter que fazer um esforço tão horroroso. Mas o silêncio é tão certo, tão verdadeiro. Por esse caminho, sigo. Estou só e caminho. Não, não estou só. Alguém – talvez muitos – está a meu lado. Gente que não conheço, gente com realidades distintas e com a qual não deveria me importar, dada sua natureza invisível. Mas ainda creio nos rostos e na sensibilidade dos olhares. Me apresento: te dou, sou você. Rostos por todos os lados. Estranheza. Meus olhos buscavam a saída desses rostos. Rostos que olhavam um espetáculo móvel, variável e veloz, que reordenava e entrecruzava a imaginação e os desejos de caminhar comigo. Rostos que, em meio a tantas velocidades e intensidades, às vezes não conseguem parar nesse desvio.
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Alguns instantes antes, eu me olhava no espelho e tinha medo. Depois de muito tempo, terminava o processo de “fragilização” do meu corpo. Já não podia ver minha pele. Da cabeça aos pés, tudo era frágil. Tudo isso me angustia porque agora é inexplicável. Doem-me os pés, a memória, os olhos, os braços e até mesmo o espelho em que me olhava há pouco. Deixou marcas na sua pele, disse Lucas após tocar minhas feridas com extrema suavidade, colorindo meu silêncio e dando-nos tempo de descobrirmos, redescobrirmos, enquanto me beijava na boca. Dizer que sou masoquista não resolve nada. Se a alegria no sofrimento não é possível, então que se faça o possível e o impossível para enfrentar a cidade. Faz anos que estou criando a partir do meu cotidiano, em performances, vídeos, diálogos e escritos. Minha vida é interessante, cheia de emoções, paixões e peripécias. Na verdade, só vivo enquanto sofro – essa é minha maneira de viver. Mas algo em mim não quer sofrer. Algo quer observar e calar. Às vezes, minha vida me dá vertigens. Me vejo no passado, me imagino no futuro, e tudo começa a girar, tudo é demasiado grande, não dá pra ser abarcado. Minha vida é demasiado grande pra mim. Penso naquele rosto. Um rosto do qual não me recordo, que já não está mais em minha memória. Confusa tarde de verão primaveril. Dei a ele tudo que tinha naquele momento. Dei tudo o que os anos não me tomaram, o que tenho, o que sempre tive. Vida. Fui junto a esse rosto que não encontro, que não mais lembro. Agora já é tarde para andar outra vez invadido por uma presença muda. Fico com seu rosto cravado em mim. Dentro de mim há um vazio. Ou dor. E também há vida. Marcus Vinícius Buenos Aires, 2011, após realizar a performance Frágil
A Juan Manuel Sogo, que comigo compartilha o fluir da vida e a quem amo profundamente.
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GESTOS DE MEMÓRIA: INVISÍVEIS E SILENCIOSOS, EFÊMEROS
I. De certa forma, estou de regresso. Estas imagens me trazem ao lugar que conheci primeiro, ao lugar onde comecei a exercitar o ofício de viver, aprender, criar, amar, esquecer... Ainda que queira, não poderia obedecer aqui a formalidade das apresentações, porque há uma conexão direta com a minha própria biografia. Nesse caso, essas imagens - que se não paisagens, deslocamentos de um lugar ao outro, de uma situação a outra, de um tempo a outro -, traduzem a mudança da ordem simbólica a ordem do real experimentado em pouco mais de um ano de trabalho com os artistas aqui reunidos. O projeto, que passou por diversas etapas de expansão e ajustes, evoca a condição de quem habita a instabilidade e a partir dela cresce e se manifesta, gerando processos íntimos, poéticos e colaborativos. Quando surgiu a ideia do projeto curatorial de Sobre as águas, a solidão e o olhar, voltei ao lugar de minha infância. Durante os últimos anos tenho viajado bastante, conhecido outros céus, mas sempre regresso... E quando me perguntam de onde sou, tardo a responder. E essa é uma situação frequente nas nossas vidas, artistas nômades. Com vivências em São Paulo, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Córdoba, Bogotá ou Recife, em momentos formadores do próprio crescimento, é difícil estabelecer com claridade um lugar de pertencimento. Essas anotações respondem ao espírito travelling, visto como metáfora da escritura: o texto como um tecido de memórias ou, como queria Proust, um tecido do esquecimento. Uma viagem sem retorno que transcreve um olhar nostálgico sobre tudo que já foi vivido. Esta exposição é um tecido em que se enredam e tramam histórias. Um projeto colaborativo concebido a partir da coincidência de interesses na natureza, na paisagem e no território de artistas que transitam e habitam espaços e tempos, propondo ao espectador novas perspectivas ao olhar a partir das possibilidades poéticas da relação corpo artista com as águas, sejam essas como mar, rio, chuva, sonho ou desejo. Isso se vincula com a viagem e com a escolha de uma morada: o lugar da vida, dos costumes, dos valores. E o trânsito: a migração, o movimento, o fluir constante, o fugir.
II. Nasci na ilha de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo. Vivi sempre perto do mar. A minha sede pelas águas sempre foi intensa, constante e fundamental. Conheci águas de rios, de mares, de cachoeiras, de lagos e de piscinas. Ah, adorava as piscinas de plástico com ondas em tons de azul! A minha relação com o mar sempre foi de
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contemplação e de bastante curiosidade por saber o que havia na profundeza das águas de Iemanjá. Encantava-me sentar diante da imensidão e admirar o cair da tarde embebido na maresia. Ainda pequeno me divertia durante as longas férias na cidade de Linhares, no norte do Espírito Santo, e depois, adolescente, admirava as águas agitadas que banham a vila de Regência. Lembro-me também das falas da vovó, que desejava que seu neto se tornasse a mítica figura do marinheiro, destemido e solitário. Crescia o meu corpo de menino e crescia a admiração pelo mar. Há quase dois anos, decidi navegar para águas longínquas e fui viver na cidade de La Plata, na Argentina. Lá, caminho ao lado do imenso Rio de La Plata que navega entre o Uruguai e a Argentina. Infelizmente “o rio não está pra peixe” e a poluição impede os mergulhos que aquelas águas prateadas poderiam proporcionar. O que me resta é contemplação e nostalgia. Sento-me por horas a admirar e encher o coração de lembranças, sonhos e desejos. Contemplo aquelas águas prateadas com a sensação de olhar o mais profundo, no mais secreto de mim mesmo; e sorrio, porque nunca havia sonhado tão puro, tão grande, tão bonito! E tudo é meu, está dentro de mim, não tem realidade fora do meu corpo. Quando me sentia só e abandonado frente ao mar, pensava em qual deveria ser a solidão das águas, nas noites, e a solidão da noite neste universo sem fim. Seria como um duo de um sonhador com o mundo, fazendo do mundo e de mim, duas criaturas conjuntas paradoxicamente unidas no diálogo da solidão. Durmo tranquilo. 86
Em La Plata, me sinto um menino do interior para quem o mar, assim como o céu, é uma vaga e inalcançável imensidão azul com que dialogo em pensamento. Deixo, então, por instantes, de me sentir desconfortável com o súbito conforto de que gozo em tardes de domingo. Absorvo e alcanço os meandros de um universo que me rodeia. Aqui, na minha imaginação, me inundo deste mar ilusório. Vivo em uma imersão inventada. Caminho dentro de uma matéria fluída, luminosa, densa, que é a água do mar, as lembranças da água do mar. O silêncio, a solidão, tudo se transforma. “O mundo é grande, mas em nós ele é profundo como o mar.” Rilke.
Marcus Vinícius Vitória, La Plata, Bogotá e São Paulo, 2009
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ESPAÇO DE CONTEMPLAÇÃO IV - Contemplative spaces IV 2009 Fotografia digital (digital photography) 40 x 60 cm cada (each) Fotografia de (photo by) Valeria Cotaimich
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PONTES, ILHAS E ARQUIPÉLAGOS - Bridges, islands and archipelagos 2010 Fotografia digital (digital photography) 60 x 45 cm cada (each) Fotografia de (photo by) Andrea Cristina dos Santos Píer de Santo Antônio, Vitória, Espírito Santo, Brasil
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A conexão mundo-natureza começa a ganhar força dentro da produção de Marcus Vinícius a partir de 2009, especialmente numa série de ações que promovem a inserção desse corpo nas paisagens naturais, a partir do desejo de se integrar a elas e deixar-se atravessar por seus ritmos, sons e pulsações. Nesse rol, incluem-se trabalhos como Habitar, Fronteras, Flor, Forçabruta, e séries fotográficas mais extensas, como Cuerpo-Paisaje, Extensiones e Deseos.
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HABITAR - Inhabit 2010 Série fotográfica digital (digital photography series) 50 x 70 cm (cada) Fotografia de (photo by) Maria Fedorova
O ápice desse processo se dá no primeiro semestre de 2011, com a participação nos projetos de residência artística V::E::R 2011 – Encontro de arte viva (Terra Una, Liberdade, Minas Gerais) e Interacciones Florestales em Red (Isla Victoria, Patagônia, Argentina): duas imersões de considerável fôlego (12 e 28 dias, respectivamente) nos ritmos e devires de espaços ainda distantes da urbanidade. O primeiro consiste em algumas investigações iniciais nos fluxos da floresta, embora a solidão exatamente não seja sua tônica – pelo contrário, ele possui como ênfase a dimensão comunitária proporcionada pela troca entre os participantes. Já o segundo concretiza o tão desejado mergulho solitário e silencioso na natureza intocada: dessa residência, participam apenas três artistas, cada qual num projeto bastante pessoal – além de Marcus, temos os colombianos Katherine Patiño Miranda e Jimmy Rangel Acosta. Jimmy, aliás, foi o autor da maioria dos registros fotográficos e videográficos das 61 ações empreendidas por Marcus Vinícius durante toda a empreitada. Ao apresentar seu projeto ao Centro Rural de Arte, instituição argentina promotora do projeto Interacciones Florestales en Red, o
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artista descreve suas intenções investigativas: Atrever-se a acumular o desejo. Aguentar a respiração e olhar para os lados sem esperar nada. Falta, excesso, proteção, buscas, temor. A solidão no sentido mais puro e real. (...) O meu corpo e o meu tempo são os verdadeiros protagonistas do projeto, que divaga entre a fricção de sentimentos gerados pelas particularidades de trabalhar afastado dos centros urbanos e o afã por descobrir o que virá. O projeto se nutre de imagens próximas da paisagem, colocando o desejo no ponto de início de um sentimento interno representado pelo mundo mesmo, pelo que se vê desde a perspectiva da ausência. Sentimento tratado do lado mais pessoal do ser artista, acentuando a própria visão do desejo como conceito, do verbo desejar como impulso necessário e do meu desejo como motor indispensável. A residência em Isla Victoria conclui-se com a performance O último desejo: um barco iluminado com velas, a flutuar pelas plácidas águas do lago Nahuel Huapi, tendo os Andes ao fundo, enquanto a noite cai. Para Marcus, faz-se essencial banhar-se na escuridão que lhe devora, para enfim conhecer a profundidade de seu próprio desejo. Erly Vieira Jr
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CUERPO-PAISAJE - Landscape Bodies 2011 Série fotográfica digital (digital photography series) 50 x 70 cm (cada) Fotografia de (photo by) Denise Alves-Rodrigues V::E::R – Encontro de Arte Viva - Terra Una, Liberdade, Minas Gerais, Brasil
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EXTENSÕES - Extensions 2011 Série fotográfica digital (digital photography series) 70 x 50 cm (cada) Fotografia de (photo by) Jimmy Rangel Interacciones Florestales em Red – Isla Victoria, Patagônia, Argentina
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DESEJOS - Desires 2011 Performance (28 dias) Registro fotográfico por (photo by) Jimmy Rangel Interacciones Florestales em Red – Isla Victoria, Patagônia, Argentina
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FLOR - Flower 2011 Fotografia digital (digital photography) Fotografia de (photo by) Amanda Freitas V::E::R â&#x20AC;&#x201C; Encontro de Arte Viva - Terra Una, Liberdade, Minas Gerais, Brasil
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FORÇA BRUTA (OU BUSCA EXAUSTIVA) - Brute-force (or exhaustive search) 2011 Performance (50 minutos) Registro fotográfico por (photo by) Denise Alves-Rodrigues & Bernardo Mosqueira V::E::R – Encontro de Arte Viva - Terra Una, Liberdade, Minas Gerais, Brasil
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FORÇA BRUTA (OU BUSCA EXAUSTIVA) - Brute-force (or exhaustive search) 2011 Performance (50 minutos) Registro fotográfico por (photo by) Denise Alves-Rodrigues & Bernardo Mosqueira V::E::R – Encontro de Arte Viva – Terra Una, Liberdade, Minas Gerais, Brasil
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DESEJOS - Desires 2011 Performance (28 dias) Registro fotográfico por (photo by) Jimmy Rangel Interacciones Florestales em Red – Isla Victoria, Patagônia, Argentina
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CUERPO-PAISAJE Landscape Bodies 2011 fotografia digital - série (digital photography - series) 50 x 70 cm cada (each) Fotografia de (photo by) Jimmy Rangel Interacciones Florestales em Red – Isla Victoria, Patagônia, Argentina
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CUERPO-PAISAJE - Landscape Bodies 2011 fotografia digital - série (digital photography - series) 50 x 70 cm cada (each) Fotografia de (photo by) Jimmy Rangel Interacciones Florestales em Red – Isla Victoria, Patagônia, Argentina
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DESEJOS - Desires 2011 Performance (28 dias) Registro fotográfico por (photo by) Jimmy Rangel Interacciones Florestales em Red – Isla Victoria, Patagônia, Argentina
“Precisa-se da escuridão para se encontrar, para encontrar o que se deseja” (Fabiana Wielewick)
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O ÚLTIMO DESEJO
Cada desejo tem sido uma viagem. Uma viagem de olhos fechados. A cada novo desejo, um medo. Porque sabia que viajaria de novo, e que estaria sozinho em um mundo que dói e rechaça. Meu personagem não tem culpa de tudo isso, mas tem que seguir. Meus desejos não vêm de lugar algum. E não é loucura. Agora, sei que estou na penumbra e me alimento com a própria e vital escuridão. Minha escuridão é uma larva que talvez contenha uma mariposa. Tudo é tão escuro que estou cego. E viver me deixa trêmulo. Esta noite, desaparecerei nas trevas de onde emergi. Escuridão pulsante, lava úmida de vulcão em fogo intenso. Escuridão cheia de vermes e mariposas, gatos e estrelas. Banho-me em toda a escuridão devorante, quero conhecer a profundidade de meu desejo. Quero conhecer a todos os meus sentimentos. Tenho que experimentar essa força maldita que me torna outra pessoa. Aqui, escondido dentro de mim, há rincão obscuro. Meu segredo é a vida. E não digo a ninguém que estou vivo. O silêncio invade todos os interstícios de minha escuridão. E se não há risco? A noite se definiu sob o céu e a altura das constelações. A pequenez e a transitoriedade do homem com ânsias de estrelas. A curvatura austral é um jardim de luzes. O ânimo sente a dor que leva as coisas para além da medida do ordinário. Hão de morrer as estrelas para dar lugar às novas e supernovas... Prodigiosa noite patagônica, que nos faz marchar sob as asas do tempo. Marcus Vinícius
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DESEJOS - Desires 2011 Performance (28 dias) Registro fotográfico por (photo by) Jimmy Rangel Interacciones Florestales em Red – Isla Victoria, Patagônia, Argentina
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DESEJOS – Desires 2011 Performance (28 dias) Registro fotográfico por (photo by) Jimmy Rangel Interacciones Florestales em Red – Isla Victoria, Patagônia, Argentina
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O ÚLTIMO DESEJO - The last desire 2011 Performance (37 minutes) Registro fotográfico por (photo by) Jimmy Rangel Interacciones Florestales em Red – Isla Victoria, Patagônia, Argentina
OUTROS CONTATOS
Em Contato (2009), série fotográfica realizada em Lezama, na Argentina, em meio a cavalos e ossadas de boi, temos o primeiro de vários trabalhos em que Marcus, para além da imersão física na paisagem, flerta com a possibilidade de se experimentar um devir-animal, esse “desejo de ser bicho”, ainda que por alguns instantes: nas fotos, ele interage com as ossadas, oculta-se em buracos cavados na terra, improvisa máscaras, mimetiza movimentos e gestos do gado e dos cavalos. Sobre essa experiência, ele comenta: Os animais se deslocavam calmamente, estando desde muito cedo naquele sol de inverno. E cada um trouxe sua beleza. Pude vê-los bem de perto, movendo-se pela vegetação. Um passeio tranquilo. Alguns o faziam a intervalos cada vez mais lentos, enquanto os primeiros deles comiam milho a meu lado. Habitávamos o mesmo espaço. (...) A busca do contato com a totalidade, com a natureza – uma natureza idealizada – está sempre presente em minha obra, tanto nas performances quanto no registro fotográfico. Esta seção reúne alguns desdobramentos desse flerte com a animalidade, ora espontâneo e intuitivo, como descrito acima, ora de forma assumidamente fetichista. Completam o conjunto alguns trabalhos realizados durante o ano de 2011, tanto em residências artísticas no campo e floresta, como nas séries Bicho do mato e Cervo, quanto em incursões isoladas, como Untitled, projeto videográfico e fotográfico no qual, em meio ao gado, o artista se oculta por alguns instantes, fazendo-se confundir como uma pedra ou outro obstáculo qualquer, até emergir subitamente, num rompante que surpreende o rebanho.
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CONTATO III - Contact III
Temos também o vídeo Landscape, cuja baixa definição da imagem videográfica tem papel fundamental, como se redimensionasse corpo e paisagem numa espécie de pintura em movimento, na qual os pixels aparentes são pinceladas imprecisas, partes de uma mesma matéria e sob um devir único. Nas palavras de Marcus, o vídeo nos conduz a essa paisagem em ritmo lento, com objetivo centrar seu foco no corpo, bem como nos sentidos do público e na experiência de interação entre performer e meio ambiente, construindo uma linguagem poética de imagens, gestos e espaços que convidam a audiência a um diálogo silencioso.
2009 fotografia digital - políptico (digital photograph - poliptyc) 40 x 60 cm cada (each) Fotografias de (photo by) Juan Calle
Erly Vieira Jr
Outros Contatos
CONTATO IV (ausência/presença) - Contact IV (absence/presence) 2009 fotografia digital - políptico (digital photograph - poliptyc) 40 x 60 cm cada (each) Fotografias de (photo by) Juan Calle
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CONTATO I - Contact I 2009 fotografia digital - políptico (digital photograph - poliptyc) 30 x 45 cm cada (each) Fotografias de (photo by) Juan Calle
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CERVO - Deer 2011 Fotografia digital - tríptico (digital photography - triptych) 50 x 70 cm cada (each) Fotografia de (photo by) Maria José Trucco Interacciones Florestales em Red – Isla Victoria, Patagônia, Argentina
Outros Contatos
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UNTITLED 1, 2 & 3 2011 Vídeo (frame) dirigido por (directed by) Marcus Vinícius (vídeo não-finalizado)
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LANDSCAPE 2011 Vídeo (frame) dirigido por (directed by) Marcus Vinícius 05’05”
DIÁRIOS DE PASSAGEM
O espaço sempre me fez silencioso: a citação de Jules Vallès, retomada por Gaston Bachelard em seu A poética do espaço, sempre foi uma espécie de farol para as estratégias com as quais Marcus Vinícius elaborava performaticamente seu corpo. Um corpo sempre em trânsito, mas apto a saborear os silêncios e murmúrios de cada ambiente, a cada nova cidade visitada: desde o desejo impetuoso de ser arquitetura que orienta seus primeiros atos como performer (na série Ocupação Experimental Urbana, de 2007) até propostas de trocas afetivas com transeuntes, pautadas pela delicadeza, como em Beyond (2011), realizado numa pequena cidade estoniana. Aqui, ao contrário do corpo estranho em fricção com os ritos e ritmos urbanos, tão comum em trabalhos anteriores, temos um corpo também forasteiro, mas que agora se coloca em oferta, com toda sua leveza, sem a intenção de causar medo ou asco ao transeunte. Que pede para ser regado, partilhado, preparado para uma futura colheita, cujos frutos ainda nos são desconhecidos. OCUPAÇÃO URBANA EXPERIMENTAL II [DIAMANTINA] - Experimental urban occupation II [Diamantina] 116
2007 Intervenção (intervention) realizada na Paróquia de Santo Antônio da Sé – Diamantina, Minas Gerais, Brasil Registro fotográfico por (photo by) Henrique Teixeira
A leitura do capítulo A imensidão íntima, no livro de Bachelard, inspiraria o trabalho homônimo, realizado em 2010 na cidade de São Petersburgo, na Rússia. Ao responder à provocação lançada quase duzentos anos atrás pelo artista romântico Caspar David Friedrich, que propunha primeiro fecharmos o olho corpóreo para podermos enxergar através do olho espiritual, Marcus percorre, de olhos vendados, as ruas da imponente ex-capital do império russo, com sua arquitetura tricentenária. Ao visitar, às cegas, lugares em que nunca esteve antes, ele encontra pessoas, que lhe descrevem, com suas próprias palavras, aquilo que se descortina diante deles. Por fim, elas produzem o que Marcus denomina paisagens cegas: fotografias daquilo que o artista não pode contemplar com os olhos, mas ouve e sente, deixandose atravessar por seus afetos diversos, inclusive na sonoridade das palavras ditas em russo, cujo significado também lhe é desconhecido. Retomando Bachelard, o trabalho nos sussurra: A imensidão está dentro de nós. Erly Vieira Jr
OUTROS ESPAÇOS - Other Spaces 2010 Intervenção (intervention) realizada no MARCO – Museo de Arte Contemporaneo de Monterrey – Monterrey, México Registro fotográfico por (photo by) Carlos Salazar Lermont
Diários de Passagem
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OCUPAÇÃO URBANA EXPERIMENTAL I [BEIRA-MAR] - Experimental urban occupation I [Beira-Mar] 2007 Performance Registro fotográfico por (photo by) Mariana Alvarez Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, Vitória, Espírito Santo, Brasil
O CORPO: ENTRE A PERFORMANCE E A ARQUITETURA Há quatro anos, enquanto realizava um percurso cotidiano pela cidade de Vitória, no Espírito Santo, fui surpreendido por um considerável desejo de ser arquitetura. Resolvi realizar tal ação e pensar em novas possibilidades de relação com o espaço a partir de tal inesperada experiência. Vivi silêncios desdobrados na invisibilidade do meu corpo. O desafio de um corpo que vence um pequeno vão. Leveza lírica contraposta a um peso dramático. 1 Em 2007 realizei duas ações da série Ocupação urbana experimental, sendo a primeira na Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, popularmente conhecida como BeiraMar, em Vitória; e a segunda em frente à Paróquia Santo Antônio da Sé, na cidade de Diamantina, em Minas Gerais – por ocasião da residência artística no projeto ACasa. 118
2 Venho empregando o termo Estratégias do corpo em processo poéticos desde 2007 até os dias atuais. O termo possui forte relação com o campo das ciências, mas o meu interesse é o ilimitado de estratégias lançado no campo da arte, suas novas e contínuas possibilidades. Minhas estratégias operam como um pequeno dispositivo que desperta a sensibilidade a partir do mais íntimo, do pequeno gesto, utilizando recursos materiais simples e cotidianos, criando encontros casuais e de furtiva possibilidade de uma aventura poética.
O que me ocorreu naquela tarde de junho de 2007¹, na Avenida Beira-Mar, enquanto quase desnudo, silencioso e em posição fetal durante 44 minutos, foram as minhas primeiras experiências com os limites do corpo e de relação com o espaço, com os percursos cotidianos e as minhas práticas na cidade. Desde então, ações, improvisações, intervenções, apropriações, exploração do espaço urbano, seus fluxos e sentidos são proeminentes de minha produção poética, que trata de reinventá-los. Tal processo foi, posteriormente, denominado Estratégias do corpo². Nele, o meu corpo tem sido o sujeito e o meio. Explorando os meus limites físicos e mentais, procuro (res)significar as práticas cotidianas, o olhar e os caminhos inscritos nas e pelas cidades em que transito. Vivemos tempos em que a prática do espaço urbano define e redefine o espaço social, histórico e geopolítico das cidades. As avenidas, ruas, calçadas e mercados sustentam uma circulação de pessoas, mercadorias e códigos oficiais e alternativos incomparáveis às expectativas dos planejamentos urbanos modernos. Novos sujeitos inserem-se na cena urbana contemporânea, contracenam com a arquitetura da cidade e com os discursos oficiais e reconfiguram as políticas das cidades. A arte se desloca dos espaços fechados aos espaços abertos. Deixando para trás o tom expressivo e individualista de décadas anteriores, encontra novas vias de produtividade artística na confrontação com os lugares da vida cotidiana e das pessoas. Os artistas encontram a esfera pública como espaço produtivo, como terreno de debate, análise e construção. Assim, apropriamonos de forma crítica dos espaços percorridos através do olhar artístico, da apreensão subjetiva e objetiva produzindo registros, anotações, mapas, textos e, posteriormente, propondo novas relações com esses lugares, redesenhando a postura do artista em face da complexidade da realidade do espaço. Começo a refletir e esmiuçar as sutilezas de cada um desses campos de expressão do ser humano e apontando a diferença óbvia, que pode ser enunciada de forma quase tautológica, dizendo-se que performance é performance e arquitetura é arquitetura. Por outro lado, ao olhar com mais cuidado as questões colocadas atualmente pela performance e pela arquitetura, percebo que há evidentes mostras de uma convergência ou, talvez possa dizer até mesmo, de uma superposição entre os domínios das duas atividades. Isso se faz notar quando observo que profissionais de ambas as áreas começam a usar os mesmos termos e as mesmas estratégias para tratar do corpo, de sua existência no espaço e de sua relação com o tempo. Na verdade, podemos dizer que o corpo, o espaço e o tempo sempre foram tópicos centrais no desenvolvimento da performance e da arquitetura e não é difícil levantar
Uma questão que me preocupava era qual o grau de liberdade dado ao habitante, usuário de espaços que prescrevem usos e modos de comportamento. Sigo sem resposta, mas acredito no uso da indeterminação como abertura para a possibilidade de criação. Essa parece ser também uma questão essencial para a performance – a relação entre a predeterminação de um espaço e a liberdade de invenção no tempo da ação, acrescentando ainda a participação do público. A consideração dessa tensão entre um desenho prévio e a ação, na verdade, aponta para uma consideração do tempo como algo irreversível (a flecha do tempo como nos recorda Ilya Prigogine), trazendo em si a possibilidade da criação.
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uma série de similaridades entre os dois campos. De imediato me vem à mente o fato de que ambas, performance e arquitetura, lidam com o corpo no espaço, ou para ser mais preciso, lidam também com a imagem desse corpo que se movimenta pelo espaço.
Diante da irreversibilidade do tempo, o corpo se transforma em peça-chave da arquitetura como o agente que articula o tempo e o espaço na performance, dentro de uma relação cada vez maior com a indeterminação. Se no início do século XX Le Corbusier, um dos expoentes da arquitetura moderna, propunha o “passeio arquitetural” como uma grande inovação, no qual o habitante desvelaria a arquitetura ao percorrê-la, vemos hoje arquiteturas onde o corpo não só desvela o espaço, mas na verdade altera as qualidades do próprio espaço quando nele se movimenta. Aqui, o corpo passa efetivamente a “construir” a arquitetura, certamente uma arquitetura que se faz e refaz na relação com o habitante. Nessa participação, no ver e ser visto, está o estabelecimento de uma distância crítica entre o público e o performer. A rigor, o surgimento dessa linha divisória é que distinguiu o ritual das outras manifestações, como o teatro e dança. Nesse sentido, o ato de habitar se aproximou mais do ritual do que da performance, já que na arquitetura o habitante é performer e audiência simultaneamente, operando um intercâmbio fluido nessa função de ver e ser visto. Assim, o ato de habitar se assemelharia ao ritual, enquanto reafirmação de uma visão de mundo, e a performance enquanto reinstalar de uma visão de mundo outra. Penso que a arquitetura reafirma e assegura o lugar do meu corpo no mundo e a performance indaga e repropõe o lugar desse corpo no mundo. Tal irreversibilidade criou um momento particularmente frutífero no que concerne à inserção do corpo no mundo, à nossa existência como seres habitantes de um tempo e espaço singularizados e assim parece sinalizar uma inclusão mais vasta de meu corpo na totalidade do mundo, inclusive na totalidade de um mundo que esse próprio corpo reinventa e constrói. Marcus Vinícius Buenos Aires, abril 2011 (Texto originalmente publicado na revista Reticências… Crítica de Arte, n.3. Fortaleza, 2011)
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SEM TÍTULO (da série A IMENSIDÃO ÍNTIMA) - Untitled (from the series Intimate Immensity) 2010 Fotografia digital (digital photography) 97,5 x 130 cm cada (each) Fotografia de (photo by) Marcus Vinícius Nevsky Prospekt, Saint Petersburg, Rússia
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SEM TÍTULO (da série A IMENSIDÃO ÍNTIMA) - Untitled (from the series Intimate Immensity) 2010 Fotografia digital (digital photography) 97,5 x 130 cm cada (each) Fotografia de (photo by) Marcus Vinícius Bolsheokhtinskly Bridge, Saint Petersburg, Rússia
DIÁRIO DE PASSAGEM – RÚSSIA “Se acerca mi turno. Otra vez, estoy en la frontera.” Gonzalo Beladrich Bolivia, p. 124 Ontem, 13 de agosto de 2010, caminhando sem rumo pelas ruas da magnífica cidade de Saint Petersburg, finalmente a ficha caiu. Após dez dias na cidade, sobrevivendo com meu inglês meia boca, me dei conta de que realmente estou na Rússia. Sim, na Rússia! Outro continente, outro hemisfério, outra realidade. Estando aqui, pude sentir que aquele menino que sonhava voar, criou asas. E voou! É, eu consegui. Estou distante, mas não apenas pela distância geográfica que existe entre o meu atual país de residência e o lugar em que estou. Mas digo isso porque agora posso ver (e sentir) a proporção que o meu trabalho ganhou, logo depois de tantos anos de criação, projetos, experiência.
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Como num filme, caminhava pela Bolsheokhtinskly Bridge e me lembrava nostálgico de todos os lugares, pessoas e paisagens que conheci. Estar na Rússia é como um sonho, algo nunca imaginado. Mas já faz um tempo que eu aprendi que “viver é melhor que sonhar”. Então vamos lá... sigo meu caminho... aprendendo, sorrindo, desejando, buscando e encontrando. Chegar até aqui não foi fácil, não apenas pelas 16 horas de viagem. Chegar aqui, encontrar-me com Marcus Vinícius, não foi fácil. Quanta coisa teve que acontecer. Foram muitas lágrimas escorridas dos meus olhos (e não só dos meus), muitos abraços foram compartilhados, muitas cervejas foram tomadas. E, além disso, muitas horas sentado em frente ao meu velho companheiro escrevendo e criando a poesia que me faz feliz... a arte que me leva cotidianamente a buscar o meu horizonte nômade. Ontem, escutei a voz do meu coração dizer baixinho que era hora de compartilhar. Num estado de euforia, voltei pra casa sorrindo como um menino em dia das crianças e conectei-me ao bom e velho Skype e aos poucos fui ligando para aqueles seres tão especiais na minha vida. E escutar aquelas vozes, aqueles sorrisos surpresos ao me ouvir de tão longe... Ah, isso não tem preço. Ao escutar o choro de minha grande amiga Soledad Velazquez, a euforia de Verónica Meloni, interromper uma reunião de Carol Veiga, romper o silêncio de Juan Manuel Sogo, as tiras de humor de Julio Pitek, a graciosa (e bonita) surpresa mexicana de meu tão querido Miguel, as perguntas bobas da minha pequena irmã Thaís, a surpresa da minha querida mãe Kelsia e tantas outras reações que ouvi nesta noite, me fizeram ver o quanto essa vida tem sido generosa comigo. Alguns não puderem me atender, de outros não tinha o número aqui, mas sintam-se muito queridos e lembrados. Por onde andei, me encontrei com a alegria, com o amor, com a gratidão. Aos amigos e amores, obrigado por fazerem parte da minha vida e também por fazerem parte do caminho que percorri até chegar aqui. O mais engraçado de tudo foi ouvir de quase todos vocês: “Marcus, você é um louco!”. Sim, sou louco pela vida. Louco pela arte. Louco de vontade de viver a vida intensamente, buscando sempre o
Dias atrás, concedi uma entrevista para o jornal Сahkt Петербургские ведомости – um dos principais jornais da cidade de Saint Petersburg e, num momento, a jornalista perguntou o que, para mim, significava fazer performance. Silenciei. E não tardei a responder que, para mim, fazer performance é simplesmente viver. É estar conectado com o mundo, com o outro, com o espaço, com o tempo. E é simples assim. Aqui em Saint Petersburg estou realizando o projeto A imensidão íntima, no VIII International Festival of Experimental Arts. Esse projeto nasceu ainda na cidade de La Plata, mais precisamente na tarde do dia 14 de junho de 2009, quando subi “la terraza” daquela casa em que fui tão feliz e me dei conta de que eu poderia romper o silêncio da paisagem e provocar ruídos surdos que pudessem reverberar sobre outros olhares. O projeto A imensidão íntima, título extraído do livro A Poética do Espaço, do filósofo francês Gaston Bachelard, trata da cotidianidade do homem e da construção de si mesmo numa permanente e natural relação de afeto com o seu próprio corpo, o seu entorno, a natureza, os espaços, as coisas. A ideia era percorrer caminhos da cidade, visitando lugares, paisagens, conhecendo pessoas, compartilhando vivências, produzindo encontros, acumulando e registrando visões e construções desse ser e seus vínculos. Num dado momento, silencio e um Outro veda os meus olhos com um tecido de cor preta que impede completamente a minha visão. Esse outro me concede a sua mão e juntos caminhamos pela cidade por um tempo indeterminado. Tal caminho é o encontro com a minha imensidão íntima. Feche o seu olho carnal para ver a imagem primeiro com o olho do espírito; então traga à luz do dia aquilo que viu na escuridão, para que a imagem gerada possa existir sobre as demais de fora para dentro. (Caspar David Friedrich) Em muitos momentos, me emociono. Não consigo conter as lágrimas. E insisto, para mim, é uma emoção imensa estar aqui. A atitude de entrar em minha memória pessoal e configurar um olhar atento para dentro se torna um movimento de resistências contra a apatia e a amnésia geradas por um avassalador panorama externo de excessos. A imensidão íntima fala do desejo. Do desejo como lugar de transformação do nosso ser, ainda que seja somente por poucos segundos, para abrir um universo que unifica passado e futuro, quando criamos uma zona intermediária (timeless), quando podemos ser tudo que quisermos. E mais, me permito dizer que o desejo está posto no corpo. O corpo, por ser o locus do desejo, produtor de sentidos, se torna potência em si: um corpo vibrátil, político, sem necessariamente ser violento, que não se submete à imobilização ou a ser domesticado, escapando dos mecanismos de dominação e controle. Na minha imensidão íntima, o corpo é o lugar da inflexão da realidade. E a imensidão está em nós. Agradeço imensamente à minha família que, aos trancos e barrancos, estará sempre ao meu lado. Por que em mim eles aprenderam a confiar e hoje são os meus principais incentivadores. Obrigado por tudo que vocês fizeram e ainda continuam fazendo por mim. E amor é uma coisa que não tem preço.
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lado claro das coisas. Sei que temos muito pouco tempo aqui, e tudo passa tão rápido... e aí vem aquela sábia frase: “Se correr o bicho pega, e se ficar o bicho come!”. Então...
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Agora estou aqui, sozinho, no 6º andar de um velho edifício no centro de Saint Petersburg. É o estúdio da divina artista local Maria Casan, que ainda acredita na força da pintura e pratica tal exercício lindamente. Através de uma pequena janela, vejo uma grande quantidade de grades, arames e fios. Tudo aqui é tão seco, tão duro, tão áspero. Lembro-me muitos dos dias incríveis em que estive na Polônia, aquele país imensamente lindo e cheio de história para contar; mas com uma tristeza arraigada no cerne. Saint Petersburg talvez também seja assim. Coisas da tal História, né. Lembro-me de ter aprendido nas aulas de Geografia que a Rússia era um país frio, algo congelante só de pensar. E aqui, pisando nestas terras, me dei conta de que fui enganado durante todo esse tempo; porque o inferno é aqui. Alguém pode imaginar uma temperatura de 40ºC na Rússia? Não. Nem eu, até o momento em que vivi tal experiência. Saint Petersburg 40ºC, cidade da beleza e do caos. Mas lhes digo uma coisa: essa cidade é imensamente linda! E é de uma magnitude inexplicável. Os meus olhos têm visto tantas coisas lindas, tanta gente linda. Tudo aqui é tão grande! A todo tempo, caminho olhando para cima. A beleza inigualável dos edifícios antigos, o caos no trânsito, as peles brancas que parecem saltar de uma pintura, os olhos verdes que se multiplicam, a elegância feminina, a arrogância na maior idade herdada da antiga União Soviética, a extrema beleza masculina. Está tudo aqui, guardado em minha memória. 124
E explicação nenhuma isso requer, se o coração bater forte e arder... Marcus Vinícius São Petersburgo, 14 de agosto de 2010
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BEYOND - Além Performance (35 minutos) 2011 Registro fotográfico por (photo by) Ville Karel Diverse Universe Performance Festival – Pärnu Visitor Centre, Pärnu, Estônia
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BEYOND - Além 2011 Performance (35 minutos) Registro fotográfico por (photo by) Veera Nummi (fotos 1 e 3) e Ville Karel (foto 2) Diverse Universe Performance Festival – Pärnu Visitor Centre, Pärnu, Estônia
OU ONDE QUEBREI O SILÊNCIO DO HORIZONTE E PROVOQUEI RUMORES QUE REVERBERARAM EM OUTROS PONTOS DE VISTA A viagem é sempre uma busca e fornece a ilusão de olhar para a vida, para encontrar algo que baste; talvez a ilusão de buscar a si mesmo. A viagem aqui é apresentada como o ‘intérprete’ de uma geografia anímica, uma paisagem interior, em vez de física. (Daniel Capano. El errático juego de la imaginación: La poética de Antonio Tabucchi)
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AS PAISAGENS QUE TORNEI MINHAS
Agora estou em uma cidade, uma outra cidade, um pouco alheia, quente, uma cidade onde ninguém me conhece. Estou aqui a passear. Visito um amigo generoso, um amigo que está sempre me convidando para vir. Falo de mim, a arte que eu sei muito bem que é, do amor, da complexidade dos sentimentos. Meus pais estão fora, eu penso na minha irmã, que está perto e de longe me acompanhando na memória, o que é sempre nostálgico, assim como os meus amigos insistem em perguntar quando eu voltarei. Tudo é intenso como o mar e as ondas. E eu me pergunto: até quando? Até sempre. Caminho por suas ruas, dobro esquinas, cruzo praças, acho pedaços de mim naquela cidade, longe de minhas outras peças que estão espalhadas, distantes umas das outras. Será por isso que me vejo expandido, crescendo em tamanho, tomando a forma das paisagens que percorro para reunir meus pedaços? Às vezes não me reconheço, preciso ficar distante de mim, voar, planar rasante sobre o território que ocupo. A partir desse ponto eu me vejo e assim me vi nesta sexta-feira, fragmentado em uma cidade estranha e cinza, reencontrando as minhas peças, que são essenciais para apoiar o coração pleno que nunca se completa. Esses pequenos pedaços percorrem com seus olhares minhas cicatrizes: em que outro ponto nos encontramos? Hoje eu me lembro das cidades do passado, e juntos desenhamos o esboço dessa jornada para então pensarmos o futuro em silêncio. Marcus Vinícius Texto elaborado em 2012 para o projeto da exposição fotográfica Los paisajes que hice mios, não-realizada.
Cartão postal enviado por Marcus Vinícius à sua irmã Érika (Istambul, 2012)
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INTIMATE INMENSITY - A imensidão íntima 2010 Performance Registro fotográfico por (photo by) Maria Fedorova VIII International Festival of Experimental Art – Manege, the Central Exhibition Hall, Saint-Petersburg, Rússia
O HORIZONTE Ã&#x2030; O LIMITE
Aqui, reúnem-se trabalhos que lidam com aquilo que Marcus Vinícius dizia ser uma consciência confusa de estar no mundo, o reconhecimento da própria precariedade: Sempre me perco no silêncio que o meu corpo me faz escutar, e em que me escuto, escreveu o artista, referindo-se ao trabalho A presença do mundo em mim. Trata-se de um conjunto de obras realizadas durante a terceira turnê europeia (2011), iniciada na residência artística ocorrida nas cidades vizinhas de Haparanda (Suécia) e Tornio (Finlândia). Além desses dois países, a turnê percorreu cidades da Estônia, Noruega, Letônia e do sul da França.
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Começamos o percurso pela série fotográfica Domestic Reactions, que envolve microintervenções realizadas numa casa-estúdio em Tornio. Em comum, temos um senso de humor peculiar a atravessar o conjunto de imagens e o aspecto de obra caseira, aproveitando-se da naturalidade e espontaneidade que um espaço privado pode proporcionar, num diálogo que, segundo o artista, envolve diversos momentos da história da arte do século XX (artistas como Bruce Nauman, Oskar Schlemmer, Alexander Calder e Fischli & Weiss), além de elementos do imaginário coletivo e da cultura pop. Já a série Behind aplica parte desse imaginário numa ação realizada dentro de uma filial da IKEA (megastore escandinava de decoração e utilidades domésticas), na cidade de Haparanda. Em ambos os trabalhos, a própria ideia de máscara, tão presente no universo de ações de Marcus, também é subvertida: menos como um processo de individuação de afetos condensados no corpo e rosto do artista durante o ato performático e mais como parte de um jogo camaleônico consciente de sua espontaneidade, de seu caráter fugidio – algo que também podemos perceber em The Horizon’s Edge. Por outro lado, o uso das velas (inclusive como máscaras) na série A presença do mundo em mim – partes I e II assume-se como parte de um rito iniciático de exploração desses limites, inaugurando uma série de intervenções em que a superação da própria carne é um ponto de partida para uma intensa transformação emocional e espiritual. Não à toa, um dos trabalhos seguintes é Before the dawn... that be endless, uma maratona de 24 horas, num dia sem noite do verão sueco, um processo de autoconhecimento tão necessário para a construção de um mundo onde o artista possa apaziguar suas próprias obsessões. Nas palavras de Marcus: Eu tateio a escuridão para me encontrar. (...) Há uma ligeira trepidação e é inaudível, mas eu posso ouvir a trepidação com o corpo. (...) Durante 24 horas, calar-me. Transportar um brilho úmido nos meus olhos. No isolamento de meu
m nenhum lugar o silêncio absoluto da luz, a opacidade negra do E mundo: este é o encantamento que engendra Distant Closeness. Nesse trabalho, desafia-se o risco da própria cegueira física, ao se confrontar obsessivamente a luz e o calor dos intensos refletores acesos ao redor do corpo nu e solitário do performer. Luzes intensas que invadem seu corpo, ferindo-lhe os olhos e a pele, mas também abrindo para outras possibilidades perceptivas, desencadeadas por essas sensações extremas. A disposição dos refletores (nas três variações realizadas, foram usados, respectivamente, seis, um e quinze deles) diante do corpo sentado e imóvel, contemplado pelo espectador como forma escultural, pretende produzir, ao mesmo tempo, fascínio visual e aversão. O foco é o próprio corpo, como via através da qual se percebe e se é percebido, situação levada ao extremo quando se permite ao público vislumbrar o lento e gradual desgaste do corpo do artista, submetido ao contato prolongado com tão altas temperaturas. Claridade ilimitada, transparência inesgotável do mundo, do ser. Claridade, transparência – para si mesmo, só para si mesmo, afirma o texto no qual Marcus verbaliza as impressões decorrentes dessa experiência. Se Las orillas sín rio ainda nos remete às ideias de isolamento e contemplação imóvel, When the dreams die...? é um projeto definido pelo artista como uma tentativa de cruzar uma fronteira, a necessidade desesperada para cancelar alguma coisa, a fim de reconstruí-lo. Um ritual que parte de um rosto coberto por dezenas de pedras, uma cegueira inicial capaz de deslanchar um fluxo desejante – afinal, é com essas mesmas pedras que ele constrói, como num transe, o traje-armadura que o auxiliará nessa travessia dos limites da própria consciência, e quiçá experimentar o que se encontra além do sentido. Erly Vieira Jr
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mundo, sem olhar para trás. O brilho da cera. Naquele cubículo coberto com plástico, eu apresento um pedaço de mim e meu vazio. Silêncio. Agora, cicatrizes. Pequenas queimaduras. Dor por todo o corpo. No entanto, o desejo de fazer tudo para a noite brilha ... é a poesia. E antes do amanhecer, que seja interminável.
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DOMESTIC REACTIONS - Reações domésticas 2011 Série fotográfica digital (digital photography series) 50 x 70 cm (each) Fotografia de (photo by) Johannes Blomqvist PAiN Midnight Sun Residency – Tornio, Finlândia
BEHIND - Atrás 2011 Série fotográfica digital (digital photography series) 50 x 70 cm cada (each) Fotografia de (photo by) Johannes Blomqvist PAiN Midnight Sun Residency– Haparanda, Suécia
O Horizonte é o Limite
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THE HORIZON’S EDGE - O horizonte é o limite 2011 Performance (19 minutos) Registro Fotográfico por (photo by) Annika Kronqvist PAiN - Performance Art in Norrbotten – SVEFI, Haparanda, Suécia
THE PRESENCE OF THE WORLD IN ME (PART I) - A presença do mundo em mim (parte I) Performance (28 minutos) Registro fotográfico por (photo by) Monique Mossefin Diverse Universe Performance Festival – Stiftelsen 3,14 (International Contemporary Art Foundation), Bergen, Noruega
Olhar de dentro para fora. E olhar também de fora para dentro: assim eu me transformo. Eu sou o meu próprio espelho. Sempre me perco no silêncio que o meu corpo me faz escutar, e em que me escuto. Me assombra a profundeza desse vazio que reclama a presença do outro e que me surpreende, mas que constitui um contínuo processo de encher-se. 134
Na frente daquele espelho embaçado vejo movimentos internos do meu corpo, o ritmo do meu sangue, das vísceras, toda essa vida impressa de uma maneira indelével em minha consciência penumbral daquilo que eu sou, marca de um ser a cada instante desaparecido e, no entanto, sempre eu mesmo. Ora, o corpo tem alguma coisa de indomável, de inapreensível. O mundo tal como existe fora de mim não é em si mesmo intocável, ele é sempre, de maneira primordial, da ordem do sensível: do visível, do audível, do tangível. Desperto em mim essa consciência confusa de estar no mundo, consciência confusa, anterior a meus afetos, a meus pensamentos, e que é como uma impureza sobrecarregando o pensamento puro... que, em minha condição humana, se impõe ao meu corpo. Corpo sem limites, para além dos quais se estende uma zona de individuação propriamente impenetrável. O lado da descoberta, da aventura, o aspecto necessariamente inacabado, incompleto, como de todo prazer. O corpo não está jamais perfeitamente integrado nem no grupo nem no eu. Perde-se. Permanece estranho à consciência de sentir. É o ambiente em que me desenvolvo. Os fatos corporais não são jamais dados plenamente nem como um sentimento, nem como uma lembrança; no entanto, não tenho senão o meu corpo para manifestá-los. Toda presença é precária, ameaçada. Minha própria presença para mim é tão ameaçada como a presença do mundo em mim, e minha presença no mundo. Marcus Vinícius sobre o projeto The presence of the world in me (2011)
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THE PRESENCE OF THE WORLD IN ME (PART II) - A presença do mundo em mim (parte II) 2011 Performance (37 minutos) Registro fotográfico por (photo by) Al Paldrok Diverse Universe Performance Festival – Platform Stockholm, Stockholm, Suécia
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BEFORE THE DAWN... THAT BE ENDLESS - Antes que amanheça... que seja sem fim 2011 Performance (24 horas) Registros fotográficos por (photo by) Johannes Blomqvist IKRA Dance & Performance Art Festival – Haparanda-Tornio, Suécia
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138 WHEN THE DREAMS DIE...? - Quando os sonhos morrem...? 2011 Performance (42 minutos) Registro audiovisual por (photo by) Jean-Luc Lupieri + SI AFFINITÉ 2011 – Place du Four, Fiac, França
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DISTANT CLOSENESS - Proximidade distante 2011 Performance (109 minutos) Registros fotográficos por (photo by) Veera Nummi Myymälä Gallery, Helsinki, Finlândia
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LAS ORILLAS SÍN RÍO - The banks without river 2011 Vídeo (frame) dirigido por (directed by) Marcus Vinícius 03’10” PAiN Midnight Sun Residency - Tornio, Finlândia
O DEVANEIO, AQUI E AGORA
As respostas para as nossas perguntas existenciais não podem estar limitadas ao mundo físico que percebemos. Não só vemos o mundo com os olhos, mas também com os sonhos. Com essas palavras Marcus Vinícius descreve a tríade de performances do projeto Not only in this world (2011), mas que também poderiam soar como um lema para boa parte dos trabalhos da fase final de sua carreira. As tentativas de se transporem as fronteiras do corpo, tão frequentes no decorrer da trajetória do artista, vão se desdobrando em tantas e tão distintas camadas de sentido que chegam ao ponto de se transmutarem num irremediável desejo de se saborear a própria inconsciência. Depois de desafiar a possibilidade da cegueira física, o que lhe resta senão abrir-se às imprevisíveis potências da clarividência e da imaterialidade?
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Fragmentos de pequeños pensamentos (2011), que evoca o deviranimal da humanidade concebida por Antonin Artaud já é um convite a se experimentar o devaneio. Já d.olor (2011) propõe purgar o corpo ao se exalar a dor, escavada no tronco da árvore aromática. You must change your life, performance inspirada no último verso de um poema de Rainer Maria Rilke sobre o torso de Apolo, fala de uma escultura sem cabeça, que parece olhar para nós com rigor e força, ainda que seus olhos não estejam lá, graças ao brilho que ela parece emanar, por mais que seu corpo petrificado seja, a princípio, sólido e opaco. Everything imaginable can be dreamed (2012) é um vídeo inspirado em Ipásia, uma das cidades invisíveis de Italo Calvino (1990, p. 47), que assim a definiu: De todas as mudanças de língua que o viajante deve enfrentar em terras longínquas, nenhuma se compara à que o espera na cidade de Ipásia, porque não se refere às palavras, mas às coisas. Trata-se de um lugar marcado por uma linguagem cujos signos não compreendemos, uma vez que seus objetos e situações, também presentes na banalidade de nosso mundo cotidiano, reaparecem nessa localidade de maneiras que nos soam nem um pouco familiares. O desejo do artista de buscar um lugar inventado, elaborado segundo regras deveras idiossincráticas, enfim alcançado após tão longa e extenuante travessia, também tem como forte referência o livro Espéces d’espace, retrato das andanças do escritor Georges Perec na Paris dos anos 1970 – e que já era uma forte referência para os exercícios de deriva urbana dos primórdios da carreira de Marcus Vinícius, quando ainda era estudante na faculdade de Artes Visuais. Já O visível e o inconsciente (2012) parte de um trecho dos diários da poetisa argentina Alejandra Pizarnik, em especial a seguinte passagem, datada de 18 de dezembro de 1960: Que pode sonhar
O Devaneio, Aqui e Agora
uma náufraga, senão que acaricia as areias da praia? Essa imagem de absoluta solidão e algum devaneio encontra eco na imagem proposta pela versão inicial (e não-concretizada) do projeto, onde o performer, enterrado até o peito, permaneceria imóvel no centro de uma sala tomada pelas areias do deserto. Marcus descreveu tal imagem como uma paisagem alucinante, situada num mapa de sonhos: um diálogo entre interior e exterior, mundo natural e artificial, que, a meu ver, nos remete a um desejo pessoal e sensível do fantasmagórico. Transpondo-a dos limites da sala para a vastidão do deserto de Gobi, onde a performance foi efetivamente realizada, Marcus constrói, pacientemente, uma espécie de ninho (ou seria um canteiro?) com as pedras colhidas nos arredores. Nele, seu corpo repousa febril sob o sol por um longo período, a pele tingida do dourado dos raros arbustos que crescem na região, para então empreender sua jornada através dos limites da razão, como no encontro com o indizível de que tanto nos falava o filósofo Georges Bataille, em seu livro A experiência interior. E, uma vez exaurido o corpo físico e deslimitada a consciência, talvez possa se experimentar a sensação de que não é apenas o deserto que se move. E, quem sabe, acariciar outras areias ainda não-imaginadas.
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Erly Vieira Jr
O VISÍVEL E O INCONSCIENTE - The visible and the unconscious 2012 Site Specific/Performance Registro fotográfico por (photo by) Marne Lucas 2nd Land Art Biennial Mongolia LAM 360º – Reserva Ikh Gazriin Chuluu (Dundgobi) e Ulaanbaatar, Mongólia
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EGG (NOT ONLY IN THIS WORLD) 2011 Performance (16 minutos) Registro fotográfico por (photo by) Ville Karel Parnu Kutsub Kulla – Old Town, Tallinn, Estônia
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HONEY (NOT ONLY IN THIS WORLD) 2011 Performance (14 minutos) Registro fotográfico de (photo by) Kimmo Hokkanen Perfo! – Telakka Club, Tampere, Finlândia
MILK (NOT ONLY IN THIS WORLD) 2011 Performance (11 minutos) Registro fotográfico por (photo by) Sandra Baziz Diverse Universe Performance Festival – Klubs Piens, Riga, Letônia
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SEM TÍTULO (da série BICHO DO MATO) - Untitled (from the series Bicho do Mato) 2011 Fotografia digital - díptico (digital photography - diptych) 60 x 80 cm cada (each) Fotografia de (photo by) Denise Alves-Rodrigues V::E::R – Encontro de Arte Viva – Terra Una, Liberdade, Minas Gerais, Brasil
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O Devaneio, Aqui e Agora
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D.OLOR - Pa i n 2011 Intervenção (intervention) 90 x 60 cm cada (each) Registro fotográfico por (photos by) Marcus Vinícius PAiN Midnight Sun Residency – Haparanda, Suécia
O Devaneio, Aqui e Agora
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NECESITAS CAMBIAR TU VIDA - You must change your life 2011 Performance (34 minutos), Em colaboração com Mário Perez (MarioKissme) Registro audiovisual por (video by) Elina Rodríguez Enlaces (8o Festival Universitario de Cultura Y Arte) – UNTREF, Buenos Aires, Argentina
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FRAGMENTOS DE PEQUEÑOS PENSAMIENTOS - Fragments of small thoughts 2011 Performance (19 minutos) Registro audiovisual por (video by) Andrés García Intensivo de Performance – La Grieta (Galpón de Encomiendas y Equipajes), La Plata, Argentina
E existe uma nostalgia de não só ordenar o pensável, mas também de pensar o vivido e viver o pensado. Quero viver a presença do real, não sua representação. Tudo é devir. Movimentos sem concessões. Repito com novos brios a experiência: esse estranho fluir da vida que nasce no centro – vazio misterioso que não pode ser detido por minha escritura.
O Devaneio, Aqui e Agora
Regresso.
Ruído. Aqui, tudo é oblíquo, tudo é turvo. O caminho paradoxal daquilo que se encontra sem buscar se confirma na performance Fragmentos de pequenos pensamentos, na qual revelo o animal que vive, “o animal inteligente que procura, mas não busca a procura”, como disse Antonin Artaud. O animal humano que vive é o que pressente o espaço. O espaço onde opera o infinito. E a experiência desse poder desmedido e inesgotável necessita de outro corpo. Com perspicácia e obsessão, um corpo sem órgãos. Uma intuição acerca de outra corporalidade, que é também outra experiência de ser, aquela pensada por Foucault ou Deleuze. Meu dizer é unicamente motivo de assombro e divertimento; ou, lógico, de indiferença. Não se escuta meu chamado à transformação. Não se escuta essa voz sibilina, nem esse corpo reinventado, sem órgãos. E que baixa entre muitos turbilhões. 153
Não termina de ser. Marcus Vinícius sobre Fragmentos de pequeños pensamientos, novembro de 2011
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EVERYTHING IMAGINABLE CAN BE DREAMED... 2012 vídeo digital dirigido por Marcus Vinícius (com a colaboração de Diego Stickar) 07’42” Registros fotográficos por (photo by) Federico Feliziani Action Art Now, OUI Performance – Space 109 Community Arts, York, Reino Unido
O Devaneio, Aqui e Agora
Gostaria que existissem lugares estáveis, imóveis, intangíveis, intocados e quase intocáveis, imexíveis, enraizados. Lugares que servissem de referência, de ponto de partida, de forças: Minha terra natal, o berço de minha família, a casa onde teria nascido, a árvore que eu teria visto crescer (que meu pai teria plantado no dia de meu nascimento), o sótão de minha infância repleto de recordações intactas... Lugares assim não existem, e é porque eles não existem que o espaço se torna questão, deixa de ser evidência, deixa de ser incorporado, deixa de ser apropriado. O espaço é uma dúvida: é preciso sem parar marcá-lo, designá-lo; ele não é jamais meu, ele não me é nunca dado, é preciso que eu faça a conquista. (Georges Perec, Espéces d’espaces) As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas, e que todas as coisas escondam uma outra coisa. (Italo Calvino, As cidades invisíveis)
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EVERYTHING IMAGINABLE CAN BE DREAMED... 2012 vídeo digital dirigido por Marcus Vinícius (com a colaboração de Diego Stickar) 07’42” Registros fotográficos por (photo by) Federico Feliziani Action Art Now, OUI Performance – Space 109 Community Arts, York, Reino Unido
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O VISÍVEL E O INCONSCIENTE - The visible and the unconscious 2012 Site Specific/Performance Registro fotográfico por (photo by) Marne Lucas 2nd Land Art Biennial Mongolia LAM 360o – Reserva Ikh Gazriin Chuluu (Dundgobi) e Ulaanbaatar, Mongólia
Quando cheguei ao deserto de Gobi, a surpresa de silêncio. Um silêncio petrificado. O silêncio da espera. Eu senti uma forte troca de energias com o lugar e sinto que o desafio de se estar na Mongólia é confrontar essa emergência de assuntos, energias e informações explodindo ao meu redor e que me obrigam a abrir mais ainda os olhos, os ouvidos e a mente. Corpo aberto. Corpo entregue ao deserto.
O Devaneio, Aqui e Agora
O VISÍVEL E O INCONSCIENTE
Magicamente, caminhando pelo deserto à procura de um lugar para minha performance, encontro um ramo de ouro caído no chão, entre pedras e flores. Sinto um brilho intenso, olho em volta e percebo estar cercado por árvores douradas (Altan Hargana). Esses arbustos dourados, espalhados por todo o deserto, não crescem mais que 50 cm e nunca devem ser removidos da terra porque as árvores são a proteção das famílias que vivem aqui. Definitivamente, esse seria o lugar em que eu iria performar. No deserto, não vemos árvore alguma, exceto esses arbustos dourados e, por um momento espiritual e poético, eu quis ser também um desses arbustos. Lembro-me de Manoel de Barros, dizendo que há nas árvores isoladas uma maior assimilação dos horizontes. Então, lá estava eu, sozinho. A performance me lançou em um espaço onde o visível e o inconsciente convergem em uma abordagem exploratória da minha vulnerabilidade física e psicológica, como uma tentativa de entender minha maneira de agir ou viver. Eu acredito que um sentido de melancolia jaz sob toda experiência de arte em movimento, apesar da temporalidade da beleza imaterial. Os projetos de arte são um ideal inatingível, esse ideal de uma beleza que toca momentaneamente o eterno. As pedras que coloquei ao redor do buraco são imagens e marcas de passos. A paisagem que rodeia o meu corpo reflete sua possível ação sobre ele. As pedras articulam a força da terra em volta do meu corpo. O movimento, o equilíbrio e a escala são sentidos pelo corpo inconscientemente, sob a forma de tensões. Numerosas sensações corporais e espirituais foram vividas durante o processo deste trabalho. O autor argentino Jorge Luis Borges disse que a iminência de uma revelação que não se produz talvez seja o fato estético. Nesta performance, percebo a sensação de absorver a iminência do movimento, como se ele fosse estático e, no entanto, tão impressionante e eterno quanto possa parecer – prestes a quebrar, como se fosse um instante congelado, intenso de coisas inertes. Não é apenas o deserto que se move. A performance The visible and the unconscious resulta em um caminho que atravessa espaços interiores ruidosos, mas cheios de vida sensível, combinando seus encantos em uma ilusão de dança da beleza, indiferente e solitária. O artista é guerreiro. E a Guerra nunca termina. Marcus Vinícius, agosto 2012
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Fotografia de (photo by) Marne Lucas
PRESENÇAS
(PROJETOS NÃO-REALIZADOS)
NINGUÉM SABERÁ, NEM SEQUER EU (performance, 2011) As artemias são seres inquietos por natureza, pequenos, nunca param de se mover. Têm uma vida efêmera de aproximadamente dois meses e meio. O performer permanecerá dentro da banheira durante um tempo indeterminado. A banheira pode ser substituída por uma caixa de vidro de 220 x 100 cm, com base de madeira. A performance Ninguém saberá, nem sequer eu surge da ideia de um corpo difuso, que perde definição em suas ações. Imagino um corpo de limites imprecisos ou inexatos para o qual a intenção de seu acionar é vaga e quase sem sentido. Quero indagar no modo em que este corpo se expressa, e abandonar sua coleção de gestos e habilidades aprendidas. Imergir e submergir num mundo outro.
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Materiais Banheira branca ou caixa de vidro 10 porções de artemias
(performance, 2011)
Presença
ORDEM
O relógio, usado como tijolo, é o mínimo denominador comum em um diálogo multidimensional na performance Ordem: o simbolismo do muro, a transformação arquitetônica, a construção da sociedade, a urbanização das massas e as técnicas de produção. Essas ideias são jogadas no corpo do performer nesta performance, na qual ele enche o espaço de uma porta com centenas de relógios e termina quando ele destrói todos. Abre-se a porta. O performer se deita no chão e relógios são então descarregados de uma caixa grande. Com os relógios, um muro é construído nas pernas do performer, na altura do tornozelo. Os relógios marcam o ritmo, ao mesmo tempo que sublinham a natureza temporária do próprio muro. Espaço de tempo. Não só, desde o seu início, a parede mantém a sua própria destruição: a liberdade do corpo não é concluída ao se alcançar a consciência do tempo – ela também implica a sua repetição. É necessário aguardar a chegada do público que vai construir coletivamente o muro, relógio a relógio. Examinado de perto, o intervalo corpo-relógio-tijolo busca uma temporalidade sem amarras, para além da mera progressão, vinculando-a a uma experiência subjetiva do tempo. O movimento obsessivo colide com os tijolos-relógios para libertar o corpo deitado no chão. No final, tudo se reduz a escombros. Ordem fala de uma repetição simbólica, anarquia, o engendramento contínuo do trabalho no plano temporal e dentro da deformação das ordens existentes. Materiais 100 pequenos relógios chineses Um cômodo com uma porta Duração Uma hora (aproximadamente)
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LINHA DE FUGA (performance-instalação, 2011) A performance-instalação apresenta as aproximações entre homens e animais como uma busca por liberdade, à luz do conceito deleuziano de devir e dos contos A metamorfose, de Franz Kaf ka e Meu tio o iauretê, de Guimarães Rosa. A performance deve ser realizada na abertura da exposição. Durante toda a exposição, será apresentado um vídeo-registro da performance, além dos materiais nela utilizados. Num primeiro momento, tudo em meu mundo parece triste, e ando sozinho no escuro. No entanto, o encantamento e a suspensão caracterizam a performance. Tudo está vazio, os peixes são janelas, casas são ruas.
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A linha de fuga, uma saída alternativa para o homem (o voo esquizoide) superou certa dimensão existencial. De acordo com Deleuze & Guatarri, o “tornar-se animal” é uma viagem imóvel e no mesmo lugar, que só pode viver e compreender a si mesmo como uma superação do limiar de intensidade, daí a relevância do enunciado de Kaf ka: “eu moro aqui apenas para existir, dentro de uma pequena palavra que perde a inflexão por um momento, minha cabeça inútil (...)” o que eu sinto é semelhante ao peixe. Não é semelhança ou analogia entre o comportamento de um homem e um animal: para Deleuze, não há nem homem nem animal, já que cada um dos dois desterritorializa uma conjunção de fluxos, um continuum de intensidades irreversível.
Presença
Descrição O performer entra numa sala escura carregando 10 quilos de peixe. No centro da sala encontram-se uma cadeira e, ao lado, uma planta de tamanho médio. O performer senta na cadeira e começa a perfurar todos os peixes e costurá-los ao seu corpo, lentamente. Quando todos os peixes estiverem costurados ao seu corpo, o performer se levanta e se dirige até a árvore, retirando-a do vaso e colocando a sua cabeça e cobrindo-a com a terra. Quando termina a performance, o performer corta a linha que une os peixes ao seu corpo e deixa a sala. Materiais Um corpo, uma cadeira, uma pequena árvore, dez quilos de peixe, uma agulha de pesca, 50m de nylon 6m x 2,20m Duração Uma hora
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Fotografia de (photo by) Julio Callado
SOBRE MARCUS VINÍCIUS
MARCUS VINÍCIUS Vitória, Brasil, 1985 – Istambul, Turquia, 2012 FORMAÇÃO ACADÊMICA 2002-2007
Licenciatura em Artes Visuais
Universidade Federal do Espírito Santo, UFES, Brasil 2008-2012
Doutorado em Arte Contemporânea Latino-Americana [não-concluído]
Universidade Nacional de La Plata, UNLP, Argentina
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EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS 2008
Un ciel pour moi | Espacio Museo Galería de Arte – Tienda MACLA | La Plata, Argentina (23/09 a 10/10) Silencio y nubes (Série fotográfica,10 fotos) Un ciel pour moi (vídeo) Escalera (registro de performance em vídeo) 2007
Ilha da Pólvora | Galeria de Arte Virginia Tamanini | Vitória, Brasil (27/11 a 21/12) Curadoria de Ricardo Maurício Gonzaga Territórios (performance) Territórios (desenhos) Registros da performance Território Expandido I [Ilha da Pólvora]
2012
Venice Performance Art Week | Palazzo Bembo | Veneza, Itália (08 a 15/12)
Sobre Marcus Vinícius
EXPOSIÇÕES COLETIVAS E OUTROS PROJETOS
Everything imaginable can be dreamed... (vídeo) Curadoria de VestAndPage (Verena Stenke e Andrea Pagnes) (Homenagem Póstuma com a apresentação das performances The Transfer. Maybe the birth of tears, de Rubiane Maia e Memorial for Deceased Performance Artists, de BBB JOHANNES DEIMLING) 2nd Land Art Biennial Mongolia LAM 360º | Ikh Gazriin Chuluu, Dungobi, Mongólia (05 a 18/08) Curadoria de Anna Brietzke, Orna Tsultem e Fumio Nanjoara The visible & the unconscious (performance/ site specific) On pins and needles: A collection of performance vídeos and live art documentations | PWU SFAD Gallery (School of Fine Arts and Design – Phillippines Women’s University) | Manila, Filipinas (23/07 a 09/08) Curadoria de Jef Carnay The presence of the world in me (part I) e The presence of the world in me (part II) (vídeos) Gaza International Festival for Video Art | Gaza, Palestina (16/07) Everything imaginable can be dreamed... (vídeo) I Mostra de Performance Art - Convergência | Sesc-TO | Palmas, Tocantins, Brasil (30/06) Curadoria de Vone Petson The presence of the world in me (part I) e The presence of the world in me (part II) Low Lives 4 - International Festival of Live Networked Performances | Utah Museum of Fine Arts | Salt Lake City, Utah, EUA (27 e 28/04) Curadoria de Jorge Rojas Distant Closeness (Variation II) (live stream performance)
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BANG – V Festival Internacional de Videoarte | Centre Cultural La Casa Elizade | Barcelona, Espanha (19 a 21/04) Landscape (video) Lone Star Explosion | Houston International Performance Art Biennale 2012 AvantGarden, Houston, Estados Unidos (07 a 09/03) Curadoria de Nestor Topchy e Myk Henry Nudo (live stream performance realizada em 09/03) Abertura da exposição “Transmutación”, de Steve Lévesque Casa Brandon | Buenos Aires, Argentina (29/02) Amor al cubo (performance de Acento Frenetico – Julio Lago, Marcus Vinícius e Diego Stickar) Action Art Now | Space 109 Community Arts | York, Reino Unido (11/02) Curadoria de Victoria Gray e Nathan Walker 170
Everything imaginable can be dreamed... (vídeo) 2011
Transperformance | Oi Futuro Ipanema | Rio de Janeiro, Brasil (16 a 18/12) Curadoria de Lilian Amaral Frágil (performance, realizada em 16 /12) Reticências... crítica de arte 3 | Espaço Dança no Andar de Cima | Fortaleza, Brasil (08/12) Texto e foto de capa (Ocupação urbana experimental I [Beira-Mar], 2007) Festival Libercine | Espacio INCAA km3 | Buenos Aires, Argentina (28/11) Amor al cubo (performance de Acento Frenético – Julio Lago, Marcus Vinícius e Diego Stickar) << Urbe >> Brote urbano | Centro Cultural de la Cooperación | Buenos Aires, Argentina (17/11), Curadoria de Daniel Acosta Frágil (performance)
Curadoria de Perpetua Rodriguez Distant Closeness (Variation I) (performance)
Sobre Marcus Vinícius
IN IDA - the 1st Live Streaming Meeting | 4th Biennial DEFORMES 2012 | Santiago, Chile (12 e 13/11)
Experiencias de la Carne – Encuentro de Performance | Centro Cultural España en Lima | Lima, Peru (18 a 30/10) Resistencia (live stream performance, realizada em 27/10) Intensivo de Performance | La Grieta – Galpón de Encomiendas y Equipajes | La Plata, Argentina (15/10) Fragmentos de pequeños pensamientos (performance) Enlaces – 8º Festival Universitario de Cultura y Arte | UNTREF | Buenos Aires, Argentina (08 a 10/10) Curadoria de Ezequiel Romero e Lorena Pinilla You must change your life (performance, com MarioKissMe) 7º FESTIFREAK | Centro Cultural Pasaje Dardo Rocha | La Plata, Argentina (30/09 a 09/10) Landscape (video) + SI AFFINITÉ : Anarchisations | AFIAC | Place du Four, Fiac, França (25/06) Curadoria de Jean-Luc Lupiere e Patrick Tarres When the dreams die…? (performance) IKRA Dance and Performance Art Festival | Haparanda-Tornio, Suécia (16 a 19/06) Curadoria de Johannes Blomqvist Before the dawn, that be endless... (performance/ site specific, realizada durante 24 horas, entre 16 e 17/06) Exibição da mostra audiovisual Landscape Bodies – Videoperformances in Latin America, com curadoria de Marcus Vinícius
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Performa Paço – Ações Extremas | Paço das Artes | São Paulo, Brasil (10 e 11/06) Curadoria de Lucio Agra No one (performance apresentada por Mavi Veloso) Diverse Universe Performance Festival | Platform Stockholm | Stockholm, Suécia (09/06) The presence of the world in me (Part II) (performance) Diverse Universe Performance Festival | Stiftelsen 3,14 | Bergen, Noruega (07/06) The presence of the world in me (Part I) (performance) Outsider project | Tou Camp | Stavanger, Noruega (06/06) Curadoria de 2visual4arts (Agnes Btffn e Wolf Wolfsmoon) Maling Pågår (performance) 172
Non Grata & Diverse Universe | Myymälä2 Gallery | Helsinki, Finlândia (04/06) Distant Closeness (performance) Nomadic Travellers | Ptarmigan Project Space | Tallinn, Estônia (03/06) Absence (performance) Diverse Universe Performance Festival | Pärnu Visitor Centre | Pärnu, Estônia (02/06) Beyond (performance) Pärnu Kutsub Külla | Old Town | Tallinn, Estônia (29/05) Egg (Not only in this world 3) (performance) Diverse Universe Performance Festival | Klubs Piens | Riga, Letônia (27/05) Milk (Not only in this world 2) (performance)
Honey (Not only in this world 1) (performance) PAiN Midnight Sun Residency | Artist Residence Vipola | Haparanda, Suécia e Tornio, Finlândia(16/05 a 20/06)
Sobre Marcus Vinícius
Perfo! | Telakka Club | Tampere, Finlândia (19/05)
Residência artística (41 dias) Curadoria de Johannes Blomqvist Durante a residência, foram realizados os trabalhos The Horizon’s Edge (performance, realizada na Svefi - Sverigefinska folkhögskolan, em Haparanda, Suécia). Behind, Domestic Reactions e d.olor (fotoperformances), Las orillas sín rio (vídeo) e Contágio II (vídeo não-editado). Interacciones Forestales en Red | Centro Rural de Arte | Isla Victoria - PN Nahuel Huapi, Patagônia, Argentina (14/04 a 11/05) Residência artística (28 dias) Curadoria de Elina Rodriguez, Maria José Trucco, Luciano Bianchi e Pablo Ramos. Durante a residência, foi realizado o projeto El deseo es el rastro, contendo 61 ações artísticas, a maioria delas registrada na série fotográfica Deseos. Também foram realizados trabalhos para as séries fotográficas Cuerpo-Paisaje, Contato II, Extensiones, Bicho do mato (Cervo) e a performance El ultimo deseo (Playa del Toro, 05/05). TRAMPOLIM _itinerante Fortaleza | Centro Cultural Banco do Nordeste | Fortaleza, Brasil (28 a 31/03) Curador convidado: Júnior Pimenta No One (performance, 30/03) Festival Performance Arte Brasil | Museu de Arte Moderna | Rio de Janeiro, Brasil (22 a 27/03) Curadoria de Daniela Labra No One (performance) TRAMPOLIM _itinerante Rio de Janeiro | Castelinho38 | Rio de Janeiro, Brasil (13/02) Curador convidado: 13 Numa Noite Se não houvesse a diferença (performance)
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V::E::R - Encontro de Arte Viva | Terra UNA | Liberdade, Brasil (22 a 30/01) Residência artística (9 dias) Durante a residência foram realizadas as performances Força bruta (ou busca exaustiva) e Espera, além do vídeo Tudo o que eu vi e dos trabalhos fotográficos Meu coração é uma cuia que transborda, Flores (da série Extensiones) e parte da série fotográfica Bicho do mato. 2010
TRANSCENDÊNCIAS | Palácio Anchieta | Vitória, Brasil (13/12 a 14/03/2011) Curadoria de Almerinda Silva Lopes e Maria Helena Lindenberg O imprevisível, o acaso e o que não se sabe (vídeo) Imensidão íntima (fotografias) TRAMPOLIM _itinerante Bogotá | Fundación Nexos Urbanos | Bogotá, Colômbia (27/11) Curador convidado: Adrián Gómez 174
Las coincidencias tienen poder (performance) II Encuentro de Artes Relacionales | Facultad de Artes ASAB | Bogotá, Colômbia (26/11 a 1/12) Residência artística (6 dias), promovida pelo Grupo OKAN Campana Artística CélulaMATER | São Luís, Brasil (outubro) Residência artística (13 dias) Durante a residência foi realizado o trabalho fotográfico Cicatrizes e a performance O momento em que (com os olhos fechados) começo a ver, apresentada na V Mostra SESC Guajajaras de Arte (Sesc Deodoro, 29/10) I MOLA – Mostra Osso Latino-Americana | Salvador, Brasil (26 a 29/09) Exposição de registros fotográficos das performances Cuerpo Extraño (2010), Through the essence of escape (2010) e Intimate Immensity (2010) ArteVa | Florencio Varela, Argentina (16 a 18/09) Curadoria de Ana Lindner
SPA das Artes Recife 10 | Recife, Brasil (17/09)
Sobre Marcus Vinícius
Exposição de registros fotográficos de performances Through the essence of escape (2010) e Frágil (2008)
No one (performance) PERFORMANCE Evening | Galleria 3h+k | Pori, Finlândia (20/08) “Sometimes, I can fly” (performance) VIII International Festival of Experimental Art | Manege - the Central Exhibition Hall, São Petersburgo, Rússia (6 a 16/08) Curadoria de Larissa Skobkhina No one (performance realizada em 06/08) Intimate Inmensity (performance) Studio 32 | São Petersburgo, Rússia (agosto) Residência artística (16 dias) Durante a residência foram realizados os trabalhos fotográficos Habitar, Portrait in flowers (to Melissa García), Others Borders, My wings e Landscape Bodies II (fotografados por Maria Fedorova) Projeto O imprevisível, o acaso e o que não se sabe | Ilha da Pólvora, Vitória, Brasil (27/07) Realizado em parceria com Yury Aires e Monica Nitz. Nele, foram realizadas três séries fotográficas (A propósito da pele, O desejo é o rastro, É em meu olho que o mundo diminui) e os vídeos O desejo é o rastro e O imprevisível, o acaso e o que não se sabe Action Painting (performance) | Vitória, Brasil ( junho) Gemelos en Pugna. Eros y Tánatos. | ECuNHi | Buenos Aires, Argentina (05/06) Curadoria de Pablo de Monte e Marcelo Pelissier Plastic bags can be dangerous II (vídeo)
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Live Performers Meeting | Brancaleone, Roma, Itália (27 a 30/05) Resistance (vídeo) ARTe en AcciON | Espacio Espora | Madrid, Espanha (28/05) Curadoria de Ana Matey Viagem sentimental (performance, CONTAGION Project_Spreading the contagion) Abierto de Acción Cartagena | Festival Mucho+Mayo 2010 | Cartagena, Espanha (22/05) Curadoria de Domix Garrido Através da essência do devaneio/Through the essence of the escape (performance, CONTAGION Project_Spreading the contagion) Abierto de Acción Murcia | LAB _ Laboratorio de Arte Joven de Murcia | Murcia, Espanha (20/05) 176
Curadoria de Domix Garrido Corpóreo no ato de ocultar-se/Embodiment in the act of being occult itself (performance, CONTAGION Project_Spreading the contagion) Epipiderme: encontros à volta da performance | Fábrica Braço de Prata | Lisboa, Portugal (19/05) Curadoria de Nuno Oliveira Fagocitose (performance, CONTAGION Project_Spreading the contagion) INTERAKCJE 2010 - XII Miedzynarodowy Festiwal Sztuki | Galeria OFF | Piotrków Trybunalski, Polônia (10 a 14/05) Curadoria de Malgosia Butterwick (Polônia) and Ángel Pastor (Espanha). About the time (performance, CONTAGION Project_Spreading the contagion) Wieczór Performance | Galeria Działa /Gallery of Action | Warsaw, Polônia (maio) Curadoria de Fredo Ojda & Wojciech Kwiatek On the clouds (performance, CONTAGION Project_Spreading the contagion)
Curadoria de Lara Sosa em [caixa] (performance apresentada por João de Ricardo)
Sobre Marcus Vinícius
Plataforma Performance | Galeria de Arte do DMAE | Porto Alegre, Brasil (13 a 16/05)
Low Lives 2 - International Festival of Live Networked Performances | Museo del Barrio | New York, United States (30/04) Curadoria de Jorge Rojas Resistance (performance live stream) Desconexiones: registros de acciones interiores | Galería Interferencial | Ciudad de México, México (abril) El vacío: para llenarlo con vivencia (performance) Nuevas Rutas | La Perrera: laboratorio de arte re-activo | Oaxaca, México (26/04) Fagocitosis: intervenciones espontaneas (performance) HORASperdidas: performance art en espacio público | Monterrey, México (21 a 26/04) Curadoria de Melissa García Aguirre Cuerpo Extraño (performance) Conversaciones (performance) Deseos (performance) Habitar, fantasiar, relacionarse (Balloon head) (performance) Espacios vacios (fotoperformance) 3ro Encuentro de Arte Acción Performancear ó Morir 2010 | Norogachi, México (29/04 a 04/05) Curadoria de Gustavo Álvarez Fronteiras (fotografia) 2do Encuentro de Acción en Vivo y Diferido | Usaquén, Colômbia (27 e 28/03) Curadoria de TziTzi Barrantes e José Ricardo Delgado Franco Frágil (Vídeo, registro de performance)
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2009
Poética Móvil 09 _ 2da Feria de Arte Contemporáneo en Patagonia | Puerto Madryn, Argentina (05 a 08/11) No se descubre sino lo que se ha imaginado (performance) Sobre as águas, a solidão e o olhar | Galeria Homero Massena | Vitória, Brasil (16/10 a 13/11) Museu do Colono | Santa Leopoldina, Brasil (Novembro/Dezembro) Curadoria de Marcus Vinícius O projeto reúne 29 obras, entre elas fotografias de Marcus Vinícius, Valeria Cotaimich, Flavia Vivácqua, Renan Araújo, Jean Sartief, Verónica Meloni, Henrik Hedinge, Fabiana Wielewicki e Alexandre Mury; frames de vídeo de Oriana Duarte; vídeos de Barbara Rodrigues, Waléria Américo e Shima e também desenhos de Marcelo Gandhi. Nele, Marcus Vinícius expôs a série fotográfica (des)encuentros.
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SELF FICTION ’09 | Fondo Nacional de las Artes | Buenos Aires, Argentina (11/09) Curadoria de Jorge Sepúlveda T. Cuerpo extraño (performance) Intercambio de Procesos Artísticos | UNA.CASA | Buenos Aires, Argentina (07 a 12/09) Coordenação de Mônica Garcia e Nelda Ramos Llenarse (performance) VII Encuentro Hemispheric Institute of Performance and Politics | Bogotá, Colômbia (21 a 30/08) Curadoria de David Lozano e Mercedes Angola Cuerpo extraño (performance) SOS Tierra ’09 | Museo Histórico Provincial Guillermo E. Hudson | Florencio Varela, Argentina (20 a 26/04) Curadoria de Daniel Acosta Tensiones (performance)
Participação na performance diA-gnostics, de Verónica Meloni
Sobre Marcus Vinícius
Saturnalia: Efecto Mowgly | Centro Cultural España Córdoba | Córdoba, Argentina (30/03)
Meloni’s House | Córdoba, Argentina (28/03 a 15/04) Residência artística (19 dias) Performances do projeto (casi) 9 acciones para volar: Vaciarse, Volver, Todo en blanco y negro, Sin assunto e Piel (realizadas na Meloni’s House) Identidades (realizada na Peatonal 25 de Mayo) Frágil (Realizada em Real Visuales – Teatro Real) Foram também realizadas as fotoperformances Tengo un corazón mas grande que yo para donar e TRANSformance, (ambas na Meloni’s House), o ensaio fotográfico Residencia e a ação No todo son flores [sopa] (realizada na Casa13, em 11/04). 2008
ZONADEARTENACCION ’08 | CHELA - Centro Hipermediático Experimental Latinoamericano | Buenos Aires, Argentina (01 a 29/11) Babydoll (performance, realizada em 29/11) PLAY V - International Video & Performance Festival | Junín-Pergamino, Argentina (12 a 15/11) Performances: Cuerpo extraño (realizadas pelas ruas de Junín) No todo son flores [licuado] (Realizada na Fundación Casa de la Cultura) (co)existencia (em colaboração com Verónica Meloni, realizada na Estación Ferrocarril Mitre) Cartografia do corpo III (em colaboração com Kim Kang, realizada no Archivo y Museo Histórico Municipal) II Salão de Artes Visuais - Prêmio Abraham Palatnik | Natal, Brasil (14/11 a 10/12) Menção Honrosa (categoria Mídias Contemporâneas) pelo projeto Corpo Estranho (em colaboração com Marcelo Gandhi)
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4º FESTIFREAK | Centro Cultural Pasaje Dardo Rocha | La Plata, Argentina] (18 a 26/10) Ilha da Pólvora (vídeo) Cine MoLA | Circo Voador | Rio de Janeiro, Brasil (23/10) (in)tolerância (vídeo) MoLA - Mostra Livre de Artes | Circo Voador | Rio de Janeiro, Brasil (09/08) Cartografia do corpo II (performance, em colaboração com Marcelle Cristhi) Encuentro con Artistas: Regina José Galindo | Centro Cultural España Córdoba | Córdoba, Argentina (04 a 07/08) Escalera (performance) Etéreos: proyecto Homines | Málaga, Espanha (01/06 a 28/10) Performance Internacional Virtual (fotoperformance) envolvendo 19 artistas Cartografia do corpo I (performance) | Centro de Artes, Ufes, Vitória, Brasil (maio/2008) 180
Cuando el cuerpo se silencia I e Cuando el cuerpo se silencia I (performances) | Paseo del Bolque e Sarajevo, La Plata, Argentina (18/03) 2007
Território Expandido II: Edifício das Fundações (performance) | Edifício das Fundações Professora Georgina Ramalho, Vitória, Brasil (dezembro) Território Expandido I: Ilha da Pólvora (performance) | Ilha da Pólvora, Vitória, Brasil (novembro) SPA das Artes Recife 07 | Recife, Brasil (16 a 30/09) Residência artística no Prédio Ocupação (15 dias) ACasa | 39º Festival de Inverno da UFMG | Diamantina, Brasil (15 a 28/07) Residência Artística (14 dias) Ocupação urbana experimental II [Diamantina] (performance), realizada na Paróquia de Santo Antônio da Sé Ocupação urbana experimental I [Beira-Mar] (performance) | Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, Vitória, Brasil ( junho)
Sobre Marcus VinĂcius
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Fotografia de (photo by) Jimmy Rangel
PRÊMIOS 2012
Edital 002 - Prêmio para bolsa ateliê em artes visuais (projeto Short Performance Films) | Secretaria de Estado da Cultura - SECULT através do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo - Funcultura | Vitória, Brasil Edital 003 - Prêmio para produção de mostra de artes visuais para itinerância no Estado do Espírito Santo (projeto A casa em pedaços) | Secretaria de Estado da Cultura - SECULT através do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo - Funcultura | Vitória, Brasil 2010
Edital de projetos culturais de pequeno porte (projeto TRAMPOLIM _plataforma de encontro com a arte da performance) | Secretaria de Estado da Cultura - SECULT através do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo - Funcultura | Vitória, Brasil 182
2009
Beca ECuNHi - Espacio Cultural Nuestros Hijos y FNA Fondo Nacional de las Artes | Buenos Aires, Argentina 2008
Menção Honrosa | II Salão de Artes Visuais Prêmio Abraham Palatnik | Natal, Brasil
PROJETOS CURATORIAIS 2012
Rastros por la noche de la vida: un encuentro con la obra Toti Caceres | Satori | Paraná, Argentina 2011
Landscape Bodies | IKRA Dance & Performance Festival | Haparanda, Suécia TRAMPOLIM _itinerante Fortaleza | Centro Cultural Banco do Nordeste | Fortaleza, Brasil
V::E::R - Encontro de Arte Viva | Terra UNA | Liberdade, Brasil
Sobre Marcus Vinícius
TRAMPOLIM _itinerante Rio de Janeiro | Castelinho38 | Rio de Janeiro, Brasil TRAMPOLIM #6 | Cemuni 4 - Centro de Artes da UFES | Vitória, Brasil TRAMPOLIM #5 | Galeria de Arte e Pesquisa da UFES | Vitória, Brasil TRAMPOLIM #4 | Galeria Homero Massena | Vitória, Brasil 2010
TRAMPOLIM _itinerante Bogotá | Fundación Nexos Urbanos | Bogotá, Colômbia TRAMPOLIM #3 | Galeria de Arte Espaço Universitário | Vitória, Brasil TRAMPOLIM #2 | Galeria de Arte Virginia Tamanini | Vitória, Brasil TRAMPOLIM #1 | Escola de Teatro e Dança FAFI | Vitória, Brasil Still Life: seeking to freeze time | ZONADEARTENACCIÓN ‘10 | Buenos Aires, Argentina 183
2009
Sobre as águas, a solidão e o olhar | Museu do Colono | Santa Leopoldina, Brasil Poética Móvil 09 _ 2da Feria de Arte Contemporáneo en Patagonia | Puerto Madryn, Argentina Sobre as águas, a solidão e o olhar | Galeria Homero Massena | Vitória, Brasil 2008
Permanente Transitório | SESC | Santos, Brasil Lugares (Raphael Vargas) | Sala 420 | La Plata, Argentina 2007
Dedo de Moça | Casa Porto das Artes Plásticas | Vitória, Brasil multipliCIDADE: projeto de ações e intervenções urbanas | Vitória, Brasil Circulação Interna | EREA Leste | Vitória, Brasil
2006
Registros do multipliCIDADE | Galeria Virginia Tamanini | Vitória, Brasil Diversidades | Galeria de Arte e Pesquisa da UFES | Vitória, Brasil multipliCIDADE: projeto de ações e intervenções urbanas | Vitória, Brasil
PALESTRAS, FALAS, SIMPÓSIOS e SEMINÁRIOS 2012
“Everything imaginable can be dreamed...” Exibição de vídeo e debate com as artistas convidadas Priscilla Davanzo (Brasil), Josefina Muslera (Argentina) e a curadora Lucila Bodelón (Argentina) | CCBA - Centro Cultural España Buenos Aires | Buenos Aires, Argentina (09/04) 2011 184
iA escena, Iberoamerica! | Centro Cultural España Córdoba | Córdoba, Argentina Encuentro de Autogestión de las Artes Escénicas CCPE - AECID | Rosario, Argentina Urbanismo, espacio público y derecho a la ciudad Galería Arcimboldo | Buenos Aires, Argentina Estrategias del cuerpo | Un amor cayó del cielo | Buenos Aires, Argentina Diverse Universe International Performance Congress Academia Non Grata | Pärnu, Estônia Limites e Extremidades: mesa de debate do Performa Paço | Paços das Artes | São Paulo, Brasil TRAMPOLIM _plataforma de encontro | Centro Cultural Banco do Nordeste | Fortaleza, Brasil 2010
TRAMPOLIM _plataforma de encontro | Fundación Nexos Urbanos | Bogotá, Colômbia HORASperdidas: performance art en espacio público | Facultad de Artes Visuales | Monterrey, México
Cartografía de lo sensible: poética de cuerpos en acción | Poética Móvil 09 | Puerto Madryn, Argentina Sobre as águas, a solidão e o olhar | Galeria Homero Massena | Vitória, Brasil
Sobre Marcus Vinícius
2009
2006
Ações e intervenções artísticas no espaço público Departamento de Comunicação Social/UFES | Vitória, Brasil Intervenção, videoarte e performance: correntes contemporâneas | X ENEARTE | São Luís, Brasil
ATIVIDADES EDUCATIVAS (CURSOS, WORSHOPS e OFICINAS) 2011
Taller-laboratorio Cotidiano: reflexiones actuales y (in)oportunas Interacciones Forestales en Red | Isla Victoria - PN Nahuel Huapi, Argentina 2010
Oficina-laboratório Cartografia do sensível: poéticas de corpos de ação | CFAV | Recife, Brasil Taller-laboratorio CASA - CUERPO | El Carromato | Madri, Espanha Taller-laboratorio CUERPO - CIUDAD: (re)inventando espacios cotidianos | Monterrey, México 2009
Cartografía de lo sensible: poéticas de cuerpos en acción Casa13 | Córdoba, Argentina Cartografía de lo sensible: poéticas de cuerpos en acción Galería Fedro | Salta, Argentina Cartografía de lo sensible: poéticas de cuerpos en acción Fundación Cu4rto Nivel Arte Contemporáneo | Bogotá, Colômbia
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2008
Laboratório de Performance: O polo da delicadeza Museu da República | Brasília, Brasil 2007
Prática de deriva urbana | InterUrbanos | Centro Cultural Banco do Nordeste | Fortaleza, Brasil Mapeando a cidade de Vitória: ações e intervenções urbanas | EREA Leste | Vitória, Brasil Mapeando a cidade de São Luís: ações e intervenções urbanas | X ENEARTE | São Luís, Brasil
FORTUNA CRÍTICA (PRINCIPAIS TEXTOS) FREY, Tales. Ascender: Considerações sobre a vida e a obra de Marcus Vinícius. In: Performatus, Ano I, n.2, Janeiro de 2013. Porto (Portugal), 2013. 186
GONZAGA, Ricardo Maurício. Descobrindo as ilhas da pólvora. Texto publicado no folder da exposição “Ilha da Pólvora”. Vitória: Galeria Virgínia Tamanini, 2007. XAVIER, Danilo Moreira. Marcus Vinícius e o percurso do acúmulo ao corpo injeto: Entre o objeto do desejo e a obra de arte. In: Palíndromo, n. 13, Jan-Jul 2015, p. 101-124. Florianópolis: UDESC, 2015.
Sobre Marcus VinĂcius
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Fotografia de (photo by) Jimmy Rangel
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Fotografia de (photo by) Jimmy Rangel
ENGLISH VERSION
INTRODUCTION Soul that keeps walking beneath the light
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My works start from the observation and interpretation of the space around me, from facing the ethical and aesthetic clashes from thinking these spaces and the narratives of intimacy. They defend the silence, the poetic and the invisibility. Following this approach to places, I intervene w ith/on my body in performances that establish a dialogue between the real and the imagined . Leaning, thus, through the experiential, the experiences of daily inhabited places. I want to be connected and explore the relationship between the self and its surroundings in a world torn apart by urban and mediatic transformations, creating actions that express transience and instability. Attempts to make a world to survive... and live my obsessions. Understanding the quotidian not only as a social space, but as landscape. A search for transcendence of my limits and bond with the totality, with the idealized nature, with my symbolic universe. My works outline a personal psychic map that expresses who I am. However, they are not just about me or to me. They are both deeply personal and archetypical. They deal with the unknown dark desire. It is a search for a poetics of everyday life that sees on the threshold the exceptional, the transfiguration, the sublime, but I know that these are just moments stored in drawings, installations, photographies and videos. Because of having lived limit moments of such intensity, this man, character, being, proceeds walking, does not languish; and, howsoever long he walks, looks, lives, suffers, he is an ordinary man. After all, everything is so simple... and, in one way or another, is autobiographical. Marcus Vinícius Buenos Aires, January 2012
Neusa Mendes Coordinator of Visual Arts / UFES There is no other way of starting this text, but, thanking. In fact, it is an “almost nothing” before the generous gesture from Marcus Vinícius’s family (especially his mother, Kelsia, and his sister, Erika) and the personal and historical importance of the artist’s collection. This collection, donated by the family to the Galeria de Arte Espaço Universitário, an agency of the Department of Culture / Ufes, constitutes the entire artistic estate of the artist, and can, here, be recognized as a writing of MV, as he was known by his friends. The book Marcus Vinícius: A presença do mundo em mim (Marcus Vinícius: the presence of the world in me), organized by Erly Vieira Jr, who authored most of the texts, and the exhibit, curated by Julio Martins, present an instigating production of contemporary art and bring a pioneering reflection to the environments responsible for the preservation of works of art and culture in the field of art history, memory and the digital age. In relation to data in digital media (which makes up most of the artist’s collection), it is a new world in the management of references for museums and archives, which begins to emerge with the advancement of the possibilities of new information of structures and knowledge, proposing new techniques of seeing, studying and storing. These techniques can help improve things in the coming and going by geographies and diverse landscapes, in this coming and going by diverse times, considering that the
main feature of Marcus Vinícius’s is the transdisciplinarity. The artist developed a hybrid and powerful research, in view of the dialogue between objects, videos, photographs, site specific, land art and performance. All of Marcus Vinícius’s estate, still awaiting to be inventoried, is an important artistic and scientific heritage, and is under the direction of the Coordination of Plastic Arts of the Secretariat of Culture for perpetuation of this relevant collection to society, its importance, meaning and identity of visual arts in the capixaba and national scene. It’s part of the collection of the Galeria de Arte Espaço Universitário, which is today the largest collection of contemporary art of the state, with around sixteen hundred works - located in the Archives and Collections Section, whose purpose is to identify, document, sanitize, register, analytically describe and make available the sources preserved from the Ufes’ collection. As a convergence space, the Galeria de Arte Espaço Universitário is in the service of art, knowledge and citizenship. Fully attuned to contemporary movements, aims to promote reflection on the preservation of the critical memory of contemporary plastic and visual production, opening a qualified dialogue among researchers, scholars, teachers, students, technicians, scientists, professionals and the public in general. I met once with MV, at the exhibit Transcendências, in 2010. He was tall, thin, had a quiet and lucid voice, always looking for the right words, which jarred the appearance we find in his works. His career was abruptly interrupted at age 27 in September 2012 in Turkey when he was on a business trip to Europe and Asia. MV has an enviable résumé, from
exhibitions in major Brazilian cities, the Americas, in addition to the continents already listed above, as well as participation in salons, biennials and international festivals. I can’t describe how impavid I felt while searching the artist’s file before the memorial power of the strength of his poetics. You can confirm and ratify the evocative power of this poetics in the descriptive memorial made by Marcus Vinícius in mid-2007 and sent to apply for a doctorate degree in the Argentine city of La Plata, in which the artist details his training and his artistic career so far. The first-person narration is subjective because it deals with the historiography of Marcus Vinícius and is also an inventory of his works. The function of the memorial is guaranteed by the identity of a young man, aged 22, lit by a soul that keeps walking beneath the light, whose magical sign and its referent are paradoxically identified. Marcus Vinícius was extremely organized. Part of what he logged in his files was not registered at random. The documents were put into folders, envelopes, lists, correspondence, diaries, travel schedules, meetings. All that was considered important reference for his work (objects, photographs, official documents, works completed, future projects in various hard drives and files) favored him as a guide. Glued on record schedules that resemble diaries, the collection is filled by documents that the artist stored. Marcus Vinícius did not fail to point them, which facilitates certain order or sequence, just as history teaches us to read clues left in works of art. There is a bit of his daily reveries. It is a side-work.
an individual phenomenon, my memories and those of others - are the experienced individual impressions and temporal continuity of each of us, past, present and future, that we name identity, and memory is an inner experience. The matter becomes, then, the heart of the life of some individuals who engage in elaborating ways to gain immortality, even if unconsciously. Marcus Vinícius operated in the manner of an archivist, systemic, always concerned about posterity, even in the possibility of preserving the transitory. The surprise of silence. Silence is petrified. The silence of waiting. I felt a very strong energy exchange with the place […] walking by the desert looking for a place to performing, I find a golden branch fallen on the ground between stones and flowers. I feel a force shine intensely, look around and see that I’m surrounded by Golden Trees. […]. These golden plants born in the entire desert, not grows more than 50 cm and should never be removed from the land because the trees are the protection of families living here. […] Definitely, this was the place where I would perform. […] The performance located me in a space where the visible converge and the unconscious in an exploratory approach of my physical and psychological vulnerability, as an attempt to understand my way of acting or living. I believe that a sense of melancholy dies under every moving art experience: […] The art projects […] the ideal of beauty that touch momentarily the eternal.1 Reviewing and reviving become, thus, one same thing for the artist. 1 Excerpt from the catalogue MONGOLIA 360 2nd Land Art
Organizing life is a process. It’s an inside look that characterizes memory as
Biennial, 2012, published by the Mongolia National Modern Art Gallery
It is true that the vocabulary found in MV files add it all up and what interested the artist was life as a stimulus. At the same time, there is the construction of analogies (metaphors) and spillovers (metonymy) of what was in his power, which already belonged to him and that only art was able to ravage. The work of Marcus Vinícius reveals what we, invariably, are: matter, body, flesh, fluidity and nature, and that, for the journey of the future, we only take what dresses the soul.
The multiple strategies of the body according to Marcus Vinícius Erly Vieira Jr 191
A young man, standing at the top of a waterfall, in the middle of the woods, positioned less than two meters away from the fall, his back towards the fall: his slender silhouette, seen from afar, remains silent for nearly three hours, tied to the flexible branches of vegetation by two fragile strips of fabric, as if at that moment he could also be rock traversed by the current. It is this same body, moreover, that runs in hasty march the streets of Bogota and Buenos Aires, covered by small speakers that emit high pitched sounds and cause strangeness in passersby amidst the urban sensory chaos; and that, covered from head to toe with a tape reading “fragile”, walks slowly by the the streets of Ipanema in Rio de Janeiro, as if it were an alien and hypnotic presence in the evening on a promenade by the sea. Blindfolded, it apprehends the sounds, voices, smells and textures of a still unknown
ancient city: St. Petersburg. Amid the solitude of a lacustrine island in Patagonia, surrounded by the Andes mountain range, it slowly slides into another space-time, where the very desire and the process of self-discovery allow itself to blend with the serenity of the landscape. Nestled in a nest itself dug in the Gobi Desert in Mongolia, where the only companions are the golden branched bushes and rare animals of the area, it remains for long hours experiencing perceptual and emotional states that confuse the conscious, the unconscious and lethargy, as well as the self and its surroundings - and from there out to an unpredictable ride, from which it will return as golden as the stems of vegetation.
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A body that is born of an explosion on the Pólvora Island, and that during the next five years, will be put to the test in different situations, testing its limits, its powers, opening itself up to possible meetings and to temporality and affections of the most diverse rituals - including dialoguing, in the poetic force of its own scars and tattoos, with the ribbed layout of disfigured walls, in the various abandoned buildings by which, recurrently, it wanders in his loneliness. Sovereign in the Bataillean sense, that is to say, in spending itself without restraint and without serving anyone but itself - that body, although aware of its fragile presence, allows itself to be trespassed by the irrefutable realization of the presence of the world in itself. And states, with some mystery and delicious irony: “It’s in my eyes that the world decreases”. Marcus Vinícius (Vitória, 1985 Istanbul, 2012) made his body the main object and means of his art. During five years of a career as fleeting as luminous, the performer, who
split his residence between Vitória (Espírito Santo, Brazil) and Buenos Aires (Argentina), toured the world with his performances, videos and photos, always reinventing his own body through the most diverse experiences. His works were presented (in person or in the form of videos and live stream broadcasts) in events in 22 countries2 - including three tours held in Europe, two in 2010 and one in 2011, and participation in the 2nd Land Art Biennial in Ulan Bator in Mongolia, where he presented his last work, called The visible and the unconscious. Also participated in several artistic residencies, such as PAiN - Performance Art in Norbotten (in the border towns of Haparanda in Sweden and Tornio in Finland in 2011), the project Interacciones Florestales en Red (Victoria Island, Patagonia, Argentina 20112), and the V::E::R 2011 – Encontro de Arte Viva, held in Terra Una (Liberdade, Minas Gerais, Brazil), in which he was also one of the organizers. Exploring the physical and mental limits of his being, bore the pain, fatigue, silence and danger in the quest for emotional and spiritual transformation, in long-term performances. Graduated in Visual Arts (2007) from the Federal University of Espirito Santo (UFES), Marcus Vinícius attended PhD in Contemporary Latin American Art at the National University of La Plata (UNLP), between 2008 and 2012, passing away shortly before the completion of 2 Brazil, England, Argentina, Colombia, Mexico, Bolivia, United States, Poland, Portugal, Spain, Italy, Russia, Finland, Sweden, Estonia, Latvia, Norway, France, Philippines, Palestine, Mongolia and Peru. Including, still, a posthumous tribute held during the 1st Venice Art Performance Week (Venice, 2012).
the course . He published several texts in magazines specialized in contemporary art, like the Chilean Escáner Cultural (where he contributed between 2009 and 2012) and the Brazilian Reticências... crítica de arte e Tatuí. Marcus also had an important role as articulator in the field of performance and Brazilian urban intervention, ahead of LAP! (Laboratory of Performance Acting). He was organizer and curator, with the artist Rubiane Maia, of the Trampolim_ Plataforma de encontro com a arte da performance, an event that brought together more than 50 Brazilian and foreign artists in its ten editions held between October 2010 and March 2011 - six of them in Vitória and another four in itinerant form, in the cities of Belo Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro and Bogotá (Colombia). Before that, with the collective Entretantos (in which was a member between 2004 and 2007), held two editions of Multiplicidade (2006 and 2007), an event that sought to integrate an forthcoming and fertile network of diverse Brazilian artists and collectives centered in urban intervention actions, prompting ample questioning about the possible uses and appropriations of public spaces. Faced with a set of such prolific and multifaceted actions, several could be the approaches made by this book to try to understand the main lines of force that moved Marcus Vinícius’ career. However, we chose to focus on in his artistic production, specifically in the field of performance, photography and video - areas in which he made his body object and mean at the same time. If, in this case, separating art and activism is almost impossible, we want to emphasize a quite intense aesthetic research: the collection, donated in 2015, by his family to
GAEU-Ufes, which has 170 works, including performances, videos and photos, almost all with the artist as protagonist - and a series of drawings made from gunpowder burning. There are also nine projects designed and unrealized, whose texts are inpart of this collection - seven performances, a video performances project, and one for curation, the last two approved by notices of Secult-ES in 2012, but interrupted, still at early stage, because of his sudden departure. Although sometimes this artistic production may have been eclipsed in favor of intense Marcus’ activism as articulator or even cultural entrepreneur, its importance is undeniable - so that this collection is waiting for new dives, new cuttings that can be put suck works back into circulation (as well as his photographic and audiovisual records) and rekindle the debate about the contributions that the work of Marcus Vinícius brought to the field of performance. This debate is urgent, since he was one of the most important names in the visual arts of Espírito Santo emerged in the last fifteen years and that, at the time his career was suddenly interrupted, he was beginning to establish himself as a relevant voice in the generation of Brazilian performers to which it belonged having trodden even the early stages of a promising international career. This book, therefore, aims to make a reading of the work of Marcus Vinícius from some issues and elements that seem most recurrent in this body of work, referring to the status he gives to his own body and his presence in the performative act. The course is divided into eight chapters, including photographic records of performances and video frames, plus some epigraphs collected
in their descriptive memorials, texts authored by Marcus himself reflecting on his artistic production and occasional critical texts about his work, in order to contextualize and expand the possible readings of the works included, without holding on to the chronology of events - but operating by blocks of affinity, albeit sometimes intuitive. Accompanied by short texts of my own, seeking to evidence or at least suggest the parameters that tailor these sections, which are named as: The Foundation of a Body, Limits and Erasures, El Cuerpo Extraño, El Cuerpo-Paisaje, Other Contacts, Passage Journals, The Horizon’s Edge and The Reverie, Here and Now. There is also a ninth chapter entitled Presences, which brings together the descriptive memorials of three of the unpublished works of Marcus, and that along with the previous chapter, invite the reader to glimpse some of the possible directions that his work would be taking from the past months of his production. Marcus had named, the collection of works between 2007 and 2011, Estratégias do Corpo. In a statement (a kind of letter of intent summarizing his artistic proposal), widely used during this period 3, he stated: “My strategies operate as a small device that awakens the sensitivity from the most intimate, the small gesture, using simple and everyday resources, creating casual encounters of a possible furtive poetic adventur.” As previously mentioned, Marcus’s works explored the limits of the body, often casting it in extreme situations that caused him pain, wounds or lead 3 This statement would be replaced in 2012 by a new text, which is reproduced in the opening pages of this book, reaffirming some central points of the research undertaken by the artist and showing a more mature look at his own work.
him to total physical exhaustion. It is curious to notice that the sensation transmitted to the viewer is rarely associated with suffering. On the contrary, words such as lightness and subtlety (the same as he used to describe the work of the artists in his research Cartografía de lo sensible) are often mentioned in the testimonies of people who watched his performances (in person or through videos). Instead of shock and violence, implied, for example, in the contact with hot wax from candles or explosions with gunpowder and fireworks, or the fatigue involved in actions in waterfalls, deserts or even a 28-day journey in a forest reserve in Patagonia, we have the delicate whisper, the restrained gesture, without excesses: sometimes intuitive, other times well calculated – a feeling reinforced by the silent presence of the body ritualized to establish the performative act. Tales Frey, in his article “A(s)Cender: Considerações sobre a vida e a obra de Marcus Vinícius.” (published in the Perfomatus magazine, No 2, 2013), regards the resources used in these works as similar to rituals loaded with religiousness but without preaching any heightened spirituality, which may bring us closer to the “ceremonies without beliefs” mentioned by Jorge Glusberg in the book A arte da performance. However, it is clear the confessed desire to flirt, even quite idiosyncratically, with some spiritual experience, or at least clairvoyant, in the last works of the artist (and even mentioned in the descriptive memorandum thereof ). Examples of this desire are found in the performances When the dreams die ...?, Fragmentos de pequeños pensamientos (both from 2011), The visible and the Unconscious (2012) and the video Everything imaginable can be dreamed (2012), in which the spheres of dream and imagery are
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conceived as possibilities of access, even if unconscious, to a primordial spiritual dimension. However, as the focus of much of Marcus Vinícius’ work is in the mundane / sensitive dimension that promotes the daily meetings, constantly reinterpreted by the artist, this similarity with the ritualistic reported by Frey is shown quite clearly – to the point of his affirming, regarding Everything imaginable can be dreamed, that “the codes exposed sound ambiguous: mundane and transcendent at once.”
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Tales Frey also rescues in his article, the stretch of the famous words of Marina Abramovi (“The artist is a warrior”), which Marcus had tattooed on his forearm (in this case with the opportune suppression of the article), to remember that the craft of the artist-warrior, according to the Serbian performer, is not only the conquest of new territories, but also on himself and his own weaknesses. This search for self-knowledge and recognition of their own fragility and ephemerality, a widely present reflection on the goals of emotional/affective transformation linked to the performance of Marcus Vinícius, has in everyday life (and in the ownership/reinterpretation of its elements) one of its paramount starting points. In “Cotidiano: reflexões atuais e (in)oportunas”, published by the artist in the magazineTatuí (n.8, 2010), describes the everyday as “fertile ground for reflection, perception and imagination of modes and real experiences,” since it reminds us of the “prodigious diversity of daily and ordinary life”, acting as the “measure of all things, of understanding, or rather misunderstanding of social relations and the use of lived time”. No wonder, most Marcus Vinícius’ works start from situations and
ordinary objects, appropriating of the banality of these signs to reinvent them under the sensitive eye of his restlessness. Thus, trying to give density to that body that performs silently, made into a sort of gravitational center of the given situation, an agent sharing a sensitive experience with the expectations that arise in the public who witness the action. This brings us to another excerpt from Glusberg book, carefully highlighted in the original which belonged to the artist: “The performer measures his own time, his conscious time, through the sensitivity of the human body. Through this time of consciousness, you can reach the other.” Hence also the interest of Marcus to investigate every new city he visited, the rhythms and everyday gestures and spaces traveled by people in their daily lives. Carefully feel their idiorrhytmias with his own body, to propose, then another interpretation of gestures and rhythms, often reinforcing the aspect of transience and precariousness of this presence. In fact, although the term “tour” may evoke a certain pop star glamour when it is used by the artist to refer to his frequent trips to present his work at various events and festivals around the world, we should remember that we are referring to an often minimalist mise-en-scène, based on sparse financial resources, often in self-financed actions, in a kind material mirroring of the artist’s self consciousness about his precariousness in the world. It is noted, however, an extreme concern in documenting his works and make them circulate shows, audiovisual festivals and video and photo platforms on the internet (channels on Youtube and Facebook pages that favored the posting of horizontally laid
out pictures, free access online portfolios and even the applicant’s participation in performative festivals based on live streaming). Such dissemination procedures of this production are also widely used by many performers of his generation, who often act in independent production schemes, self-funding and occasional sponsorships via public notices. While that allows these works to circulate among the wider audience in a global context, it also explain the awareness of their condition of spectacularization (to evoke the term proposed by Guy Debord) inherent in the contemporary economics of images - even though, in case of Marcus, the usual sensationalist mechanics that leaves the viewer awestruck by the exuberance of the event is reversed, spectacularizing, instead, the lightness, silence, the precarious presence not only of the body that triggers the situation, but also of te own traces with which the world itself is present in the artist’s body, be in its concreteness, be it in its symbolic sphere. Several elements are often recurring in the poetics of Marcus Vinícius. The very idea of body risk is present since the early works, as in the performance series Território Expandido (2007), in which his body was placed in tracks and circles drawn with gunpowder, often suffering directly on the skin the impact of explosions. Several records of these actions have been brought together in late 2007 for the artist’s first solo exhibition, called Ilha da Pólvora held at the Virginia Tamanini Gallery in Vitória (ES). To this kind of founding myth of a body - later renovated in the project O imprevisível, o acaso e o que não se sabe (2010), conducted in partnership with the photographer Yury Aires and videomaker Monica Nitz – followed
several developments, truly exercices of exploration of limits and the potential of this body. Apply here, for example, from the calculated risk of suffocation in Plastic bags can be dangerous I and II (2008), the recording of the skin effects of lactose intolerance, in the video (in)tolerance (2008), passing by the ingestion of excessive amounts of originally harmless substances like flowers juice or gelatin - respectively, in Nem tudo são flores [suco], from 2009, and Através da essência do devaneio (2010), a part of the CONTAGION_project series, presented during first European tour, which took place in the first half of 2010. The resistance limits continue to be tested in long-term tests, such as the nearly three hours of the aforementioned experiment the waterfall’s edge (Espera, 2011), or for even longer periods (The visible and the unconscious, in the Gobi desert, in 2012), reaching the duration of 24 hours in Before the dawn... that be endless (2011), work that dialogued directly with the idea of “days without night” during the summer in the northernmost regions of the planet. The exploratory desire also takes place through a series of maps made by the artist. This practice starts in college, with practical exercises of urban drift, influenced by reading texts of the Situationists (again Debord) in long wanderings, recorded in videos and photographs, in the Great Vitória, and in the cities visited during student conferences or urban intervention events in which he participated as a member of the Collective Entretantos. Then came the discovery of abandoned architectural spaces, about to be “mapped”, ie experienced throughout the body (often naked), as the ruins of the Ilha da Pólvora and of the Edifício das Fundações (both in Vitória, for the series Território Expandido) or
the abandoned houses of São Luiz, scenarios for the photographic work Cicatrizes (2010). We can think, as a poetic extension of this desire for mapping, of the collected works for the second (and last) solo artist exhibition, Un ciel pour moi, held in 2008, in La Plata. In it, the records of the performance Escalera: an act of repeatedly climbing an outdoor mounted ladder to hold for long moments in its last steps and admire the sky, were presented. Along, were presented the photos of the series Silencio y nubes video that names the exhibition, both depicting the slow flow of clouds “without boundary or limits”, described, in the exhibition presentation text as a diversion for the eyes, which is never interrupteds continue: They continue flying... to me. This cartographic impetus, a constant in Marcus’s work (including in spaces away from the urban area, such as Isla Victoria or Terra Una), is present, for much of the artist’s career, as a kind of counterpart to mapping the powers of the body itself in performances that tested its limits - and also found in the series Cartografias do corpo (2008-2009) a fertile metaphor of these endeavours. There is, still, a whole series of works started from autobiographical elements to resignify this body, as the actions of the project Casi (9 acciones para volar), held in the artistic residency that took place in early 2009 at Casa Meloni, at a time when the artist was still adapting to life in a foreign country, far from his hometown - which can be seen, for example in the first version of the performance Frágil, presented in the streets of Córdoba. Frágil is one of several proposals to navigate the urban space, allowing for a meeting of passers-by with a
prosthetically modified body, promoting a shock that affects both sides. This also occurred in several editions of Cuerpo extraño, with its small speakers garment, emiting several high pitched noises - project originally conceived in partnership with the artist Marcelo Gandhi and that received honorable mention in the Prêmio Abraham Palatnik, in the II Salão Nacional de Artes Visuais, held in 2008 in Natal (Rio Grande do Norte). Beyond (2011), in which the artist invites people to water a potted plant tied to his head, proposing a meeting marked by a delicate request - as well as several postcards with wishes and messages to Marcus, sent by friends to the address in Madrid, where the performance Viagem sentimental (2010) would be held – the postcards would be glued to each other, ensembling, thus, a kind of costume to affectively cover the performer’s body. To the architectural mappings, also opposes a desire to be architecture (best detailed by the artist in his text “O corpo entre a performance e a arqutetura”, 2010, reprinted in this volume), evidenced in photo-performatic series Ocupação Experimental Urbana I and II ( 2007). These are the initial milestones of Marcus Vinícius’ career as a performer, made a few months before the works of the series Território expandido. After the aforementioned act in Ilha da Pólvora, which opens his performative body, and as this new body is tensioned and put to the test in endurance performances, such spontaneous and ephemeral integrations to architectural elements will increasingly expand to a desire to blend into the landscape and its flows. There is, for example, the series of photographs Estudos de contemplação (2009-2010), in which the artist
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appears with his back to the camera, silently staring at the waters of rivers, lakes and seas - and, for the viewer, the artist’s own body becomes part of the landscape which he is permitted to behold. There is also a series of photographic works in which Marcus seeks an apparent invisibility or at least integration of its figure into the environment: be it in a room where cleaning equipment is kept, in Domestic Reactions, the library shelf in The Horizon’s Edge, or the departments of a decoration megastore like IKEA, in Behind, all carried out in 2011. In other cases, it values the strangeness of his presence, as in Acciones invasivas (clandestine intervention during the ArteBA fair 2009) or in the video Las orillas sin rio (2011), which translates reflects the idea of isolation from a quiet look on a motionless body, before the waters separating Sweden and Finland. It is in the encounter with nature, especially in the times spent in Isla Victoria and Terra Una, that there are the jobs that best exploit the amalgam between body and natural landscape as the series Cuerpo-Paisaje, Extensiones, Deseos and Bicho do mato (all from 2011)4, culminating with the sliding path of the illuminated boat 4 This integration between body and nature can be seen in greater detail in the set of 61 performing actions that took place during the 28-day residence in the Nahuel Huapi National Park, in Isla Victoria (in the Argentinian Patagonia), articulating the cartographic/exploratory desire of the unknown space and the trial of its vestiges, with a series of exercices of inserting the artist’s body in the landscape. Precisely for this reason, the photographic series Deseos, which includes more than 250 images, which appears in this book with some of his most iconic moments, is one of the cores of the section named El Cuerpo-Paisaje.
in the Patagonian night in El ultimo deseo (2011) and in the almost pictorial presence, recorded in purposeful low resolution, the groveling artist’s body, taken by a kind of becoming-animal, in the long shot of the video Landscape (2011), as if this amalgam reaches perhaps a kind of ghostly presence across the landscape5. There is a whole series of works that explore the desire of a becoming-animal, especially in the section of the book titled Other contacts. Works such as Contato (2009), Cervo, Untitled and Bicho do Mato (all made in 2011) are often not content to only incorporate postures, gestures and animal behaviors, but also to try some bones as if they were ritual masks or combat armor. Countless are the masks that Marcus Vinícius made use at different times of his work to create characters6, both in playful innocence works like the photographic series Os outros (2008), and to build a mashup face, hybrid of male and female, put together from clippings of magazines and advertising leaflets (as in No one, action performed five times between 2010 and 2011) and from chewing gum consumed 5 Part of these works, as well as some works cited in the next paragraph, had been selected by Marcus Vinícius to compose what would be his third solo exhibition, called Los paisajes que hice míos, whose proposal had been drawn up in early 2012, and that should have taken place in that year.
6 Perhaps this is a legacy of a family life within the universe of the samba schools, in which Marcus occasionally paraded as featured (including having worked as a costume designer for the Comissão de Frente of the Novo Império samba school), or his flirtations with the aesthetics of transvestites and drag queens fascinated him during adolescence.
by people around (Se não houvesse a diferença, 2011). We also mention the branches collected during the mapping-walk through a stretch woods in Força-bruta (2011), renewing the aforementioned idea of armor, which also reappears in an ironic way in the solitary melancholy of Frágil. There is also the resignif ication of the mask in several works of the CONTAGION_project, whose premise starts from the contact between bodies (artist and public) as a possibility for mutual activation, conversion or threat - illustrated, for instance, by the imaginary disease materialized in the black spots stickers on the face (see the photo that was used as a teaser to advertise the project), or on the face covered by white flour, as if exposed to ephemeral contamination affects triggered at the end of the short performances Nas nuvens and Corpóreo no próprio ocultar-se (both from 2010). We can also include in this list, expanding the meaning of the mask idea, the use of props that cover the vision, as an invitation to see the world through different ways, beyond the sensible materiality - a process that was intensified in every new job in the final two years of the artist’s career: the piece of moss which resambles at the same time, an eye patch and a geographic element in face-map photograph in É no meu olho que o mundo diminui; the hair-mask made of plastic tapes, which calls for an intense “hair-whip” in the video Everything imaginable can be dreamed. It is also suitbale here the molding of melted candle wax on the face, in A presença do mundo em mim (parts I and II), which may assume the same character of initiatory and primal rite of fluids (honey, milk, eggs) in which the artist dips his face in the series Not only series in this world - with
the following breath after immersing in these substances sounds like the breath of a body renewed in a new delivery, of metaphoric and transcendental character7. Blindfolded in Imensidão íntima (2010), the artist invites to partaking, if the performer can only hear and feel the landscape around him, it is for the people with whom he interacts in his way the mission to photographically record the surroundings of this meeting. Blindness, although temporary, is also a transcendent possibility in look that fixes, obsessively, on the intense spotlight, the body in meditative position, in one of the variations of Distant Closeness (2011-2012). It is also with eyes covered that he concludes the performance Fragmentos de pequeños pensamentos, while a pile of stones covers the artist’s face, lying on the floor, at the beginning of When the dreams die ...?, two inebreating rites, from which emanates, of the artist’s body, a high intensity energy discharge. Experiments like these take possible variations of what Marcus wrote about the project Not only in this world, about the need to, while searching for answers to our existential questions, not only we see with the eyes, but also through dreams, beyond the sensible limitations of the physical world. After mapping the possibilities the body offers and becoming aware of their own precariousness to resignify it as power, I believe that this set of works (especially those made in the 7 Or, in the words of Daniel Moreira Xavier, in his article “Marcus Vinícius e o percurso do acúmulo ao corpo injeto”, published in the magazine Palíndromo (n.13, 2015): “Taking the head from that matter - in the limit that your body tolerates to stay alive - is like the first breath that opens his lungs (detaching them), bringing him closer to birth.”
last fifteen months of his career) invite us to a mysterious incantation whose lethargic power allows us to glimpse, albeit briefly, a dive in the unconsciousness of our own bodies, beyond its own concreteness. A dive able to bring us close to almost untranslatable sensations, like that described in the synopsis of the video Las orillas sín rio: Another side: the other side of the river without banks, banks without the river, the impossible totality, reversed. And so be it
to experiencing incursions in film and literature. She participated in several meetings, festivals and residencies in Latin America and Europe and, in 2015, she was one of the selected artists to participate in the exhibit Terra Comunal – Marina Abramovi + MAI, in São Paulo, one of the largest retrospective ever made on the career of the Serbian artist. The exhibit illustrates some of the changes experienced in the scene of performance in recent years, mainly in regards to the dissemination and circulation of this art.
FROM A TRAMPOLINE LEAP
Unlike Rubiane, Marcus did not get to see this transformation happen. From Trampolim on, a lot has changed. In a leap.
Text: Aline Alves Interview: Aline Alves and Leonardo Vais February 2011, Rio de Janeiro. After fasting for 24 hours, Rubiane Maia enters the room quietly and casts on the floor a glass vase containing several red roses - the same color as the clothes she wears. Upon the scattered shards, she pulls off the petals from each of these flowers. Then collects them with her mouth. Chews. Swallows. À flor da pele was the first individual performance Rubiane held during one of the traveling editions of the festival Trampolim - Plataforma de Encontro com a Arte da Performance. Marcus Vinícius pushed this leap. The relationship between the duo was marked by artistic experiences. While Rubiane was still discovering the performance, Marcus shared his experiences and encouraged his friend. Similarly, he shared with her ideas and desires. They were partners, as in a society, or marriage. They found safety in each other. Rubiane is now one of the exponents of performance in Brazil, in addition
How did you meet Marcus Vinícius? We met each other at UFES. I think when I was finishing the course in Arts, he was beginning it. I finished in 2004, he was beggining. We first met by running into each other on the hallway, saying hi, but we did not really have contact until much later. In 2006, 2007, he made Multiplicidade. In 2006, I went to watch the work of others and, in 2007, I signed up an intervention work. That’s when we got closer. But we spent years without seeing each other and, in early 2010, I was taking a master’s degree and would offer an extension course in the field of performance and intervention. In the proposal of the course there was a part, a personal desire to invite people who worked in the area to talk about their own work to the class. Marcus was living in Argentina and, coincidentally, he was coming here. I wrote him an e-mail asking if he would like to talk a little about his work process, and he replied very affectionately, saying yes
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and that he was very happy with the invitation. He went, gave a beautiful, very careful, talk about the process of creating performances. From that day we never disconnected. I had a research that was more theoretical than practical at the time because I was not producing. I had done one or two performance works and Marcus had an entire career. He was very excited about this extension course proposal and went on to attend every week. He contributed a lot with his knowledge. We got closer and, shortly after, he already had the idea of the Trampolim festival. He also had a residency out of Brazil and, before he went back there, we talked and said: ‘Oh, I have a project that is a dream and I wanted to make and I wanted to share this project with you’ . From this moment, we got completely connected and a very deep friendship was born. 198
Was this the Trampolim project? It was the Trampolim. At that time he traveled, he wrote the project during the trip and sent me. We would exchange e-mail, Facebook messages... When he returned from the residency, he began to develop the project with me. He was approved in the microprojects notice of the Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo, which provided a very small budget to make the Trampolim the way we wanted, but it happened anyway. From the second half of 2010, the Trampolim happened, in six monthly editions here in Vitoria. In each edition we had the presence of eight artists, many international artists came here. These artists afforded their own trips and we helped with joint hosting in my house, at his house, at friends’, in yours, even (laughs). And we helped with food too. Today, I would say we
had a very amateur spirit, but I think that amateur spirit was essential for this project to be very affectionate. We had a huge team of friends who helped with everything. Production, photography, video, hosting, people to pick up the artists. We had a great team, but nobody got anything, it was done with the heart. In a way, the Trampolim joined two things: our desire to exchange and build together this process, and united, I think, a need of the city itself, where events like this had never happened. Perhaps the closest was Marcus’s own event in 2007, Multiplicidade, which brought a lot of people over here too. There was a strong desire and we had a very fertile ground to do what we did. Did you have a reference from other events? Marcus had the reference of the festivals he participated as an artist in various places of the world. But I think he had never made an event like Trampolim was made, a very big event, with many people, with monthly editions. Finished an issue, we were already thinking of the next one. Those were six very intense months of constant work. I had never attended a festival, and this opportunity was a huge learning experience. Learning about relationships, artistic learning. An event with almost 50 artists from around the world, you see performances from Europe, Latin America, Brazil... I think it’s a very large study of performance and contemporary art. To me, the Trampolim was a huge learning experience. And so it was to Marcus because attending a festival and organizing a festival are very different things. Marcus was always very focused, he created a goal and worked on it in a very focused way. And I
think I did too. We had a meeting, a wedding that was very fruitful and we were a little startled with it, you know? Because it was very surprising to find someone I could exchange so much and be at a level to work and exchange information, to mix friendship and work in a way I had never had with another person. But did you perform at Trampolim at some point? In addition to the six editions that happened here in Vitoria, we created the Trampolim Itinerante, which was a result of the fact that we had many foreign artists coming to Brazil. The idea of a Trampolim Itinerante started from the thought that if a foreign artist comes here, it is interesting for him to be able to meet other cities. In Trampolim Itinerante, Marcus made some contacts with other artists and institutions from other places, and also in a more independent way than the Trampolim here, we offered the project to anyone who was interested in organizing it in their city. The festival also took place in other four sites: Belo Horizonte, Bogota, and later in Rio de Janeiro and Fortaleza. At the first one, none of us were present, we had the presence of Shima, who was also one of the organizers, along with Marcus, mostly in curation. Then, Marcus went to Bogotá to a residency or to attend a festival, and he joined both. And then, in Rio de Janeiro, we both performed, along with other artists, mostly foreign. The last one was in Fortaleza, which was held at the Centro Cultural Banco do Nordeste, and we had financial support, a support we had not had in any other.
These costs were for each place that would host the Trampolim Itinerante, right? What about here in Vitoria? How much was this budget? Yes. I do not remember whether it was eight thousand... (laughs). But I think it was not more than ten thousand. It’s crazy to think of that today. That’s the good part of dreaming and do not have much sense of how difficult things can be. For, if this meeting took place today, I think none of us would do it. We would not have the courage to do it. How do you see the importance of the Trampolim as a performance event and for Brazil? I see that Trampolim was very important. It was very surprising, and has been, finding Trampolim in this story. Last year I attended a festival in São Paulo, a meeting which brought together organizers of independent festivals in Brazil and in South America. And in that meeting I was able to have a very interesting perspective of the Trampolim placement in the history of performance in Brazil. We are living a moment in which performance has been widely discussed on the way of institutionalization, beginning to circulate very strongly through independent festivals. And creating such a thing here in Vitoria was quite shocking to the city. But at the same time, in Brazil and other places, similar events were taking place. One of the Trampolim’s differential ended up being the possibility of the presence of many foreign artists. As an independent event, it was one of the largest in Brazil, in terms of participating artists and artists from overseas.
Have you thought about making a new edition of the Trampolim? I don’t know. I’ve thought about it a few times. In fact, Marcus came to drafted a continuation of the Trampolim project and I have this project with me. However, after his passing, there is the need of some time. I have the desire to resume some things, especially now that Marcus’s work is being stirred for this book, for a solo exhibit... We are living a very important moment of retrieval of who Marcus Vinícius was. Just as the Trampolim was not recognized in Espírito Santo, Marcus was not an artist recognized here either. He was much more spoken, quoted, seen in other places than here. It is a very important time for the artist Marcus Vinícius, it is also important to think about performance, living the combination of these things and bring out processes that were very strong, not only in the individual sense, but to open up paths for who’s coming to discuss that in the universities, to talk more about experiences, contemporary art, the importance of festivals ... Sometimes I think that the Trampolim is out there. It is currently in the moment of not happening. But it is a project that worked very well and has everything to be able to be resumed, without necessarily being in the same format. There is enough maturity to look at the strengths of Trampolim and think about it. I have a great desire to do so. But today, for instance, I think the Trampolim can happen in an even more collective organization. Still about the Trampolim: How was the process of curating the participating artists? Half of the artists were invited. They were people who had a relationship
with Marcus, a relationship of having already participated in the same festival, a relationship of affection... he made a list and invited these people. We also had an international call and we selected artists who submitted projects. Shima, Marcus and I selected the other half. An invitation letter was sent so they could try to get funding to come to Vitoria. Were there many applications? We selected 25 or so, but we had over a hundred entries. There were 48 participating artists. In each edition, we invited some local artist to participate, but that time was very hard, people were just beginning to make performance here. How do you see Marcus Vinícius as curator? I feel that what motivated Marcus to put himself in a curator’s position was affection. He had a very large knowledge of the field, combined with a theoretical knowledge, curiosity - not only in relation to his own research, but to the works of others. I think he ended up finding in curating a way to reconcile the desire to show people a little of what he was looking at. I feel that there was a degree of great affection. Affection towards being affected and an affective relationship with the curation, with the function, which he did in Trampolim and other events. It was much more for being this way than by the desire to professionalize as a curator. Did you do other works together? No, but we always helped each other.
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I left Vitoria a few times to be able to watch Marcus’s performances - in Rio, for example. I was there the whole time helping with what he needed to do the performance - and the same thing happened in relation to me, in a residency I did in Buenos Aires at the time he lived there and he gave me support. It has always been this exchange in a very spontaneous way. It was living together. Even though physically far away, we were always very connected. Marcus would give me many projects to read, we constantly had these conversations about these conflicts of art, of life, and how to handle all these things, how to deal with this professional path that is this puzzling... you do not know right where to put all the pieces, because it’s all very mixed up. I had it in Marcus and he ended up having it in me. It was mutual. Marcus was very intense. If I had to choose words to describe our friendship, would be these: intensity and reciprocity. How do you see his presence in your construction as performer? It was very important. I think, using the word, his intensity dragged me into the abyss (laughs). Because after that, everything changed. He really changed my life. And it’s funny, because several artists who were in the Trampolim already told me that the event also stirred their lives. It’s a chain reaction. I had very little experience with work, but I had written down ideas. And Marcus had no fear of putting his ideas into practice. He took risks, launched himself. His presence brought, quite significantly, this deconstruction of insecurity and fear in my life. Thinking that it does not matter if it worked or went wrong, everything is process. He believed a
lot in my work, believed in me as a person. Having someone on your side, continually working with you and with absolute confidence in you, it is always something very transformative. The other places confidence in you in a way that you don’t do it yourself. From the meeting with Marcus and the work of others I took courage and said that was what I wanted to do. The first performance I did alone was at the Trampolim Itinerante in Rio de Janeiro. I had several ideas, and the desire to do. It was a very productive time for me, also because of the master’s degree. When the Trampolim Itinerante came up I wasn’t sure whether I would participate or not as an artist and when I realized Marcus had already listed my name in the schedule. I had day, time and place to perform (laughs). And how was the work? It was the performance À flor da pele, in which I was completely dressed in red holding a vase of red roses. I broke this vase on the floor, pulled off the petals over the broken glass and began to eat the roses that were mixed with the glass without touching with my hands, only with my mouth, trying to separate the petals. When Marcus watched it, he almost killed me (laughs)! One thing that I find interesting, looking at the work of Marcus Vinícius and your work is that, while they have the sharp and tense element, they also delicacy, affection, sensitivity. Do you think your work converses with each other? It’s hard to answer that question, because I think that in the performative
action, our conversation was always much quieter. We comprehended each other in this place and could access each other’s need. Every once in a while someone asks: why do you do that? I think there is a great necessity of doing that, and I think Marcus felt a great need to do that. There comes a time in people’s lives that is this need that will dictate your path. In a way, our complicity has always been in this place. We deeply understood each other’s needs. Of course this goes in a place of protection, care... which is very beautiful and happens with art and with the overall performance. Between performance artists, the tendency is always to take care of each other, because we understand it. And it is not that the public does not see, but the public takes a little longer to understand... Ah, she is eating glass!, she is chewing and cutting her mouth... for the performance artist, who puts himself in place of risk, he will understand that that is very serious and he is ready to protect and intervene when needed. We are like hunting for border areas. This delicacy that my work raises and that Marcus works also raised, are in this place of partnership and at the border. Often, the delicacy is only possible in this way. The place of risk is precisely what will bring the activation of this process. What made me, for example, create this delicate body that was eating the roses on the floor, was the need to deal with the glass. The fact of the roses mixed with glass and glass powder is what made me have the most delicate body possible so that the glass did not cut me so much. So I do not know if I can say it, but Marcus’s work had some of that. I think he was more extreme than I, but maybe he only found the cracks in this place, this place that was very hard at times, the place of pain. The
place of pain I think was very close to the place of the dream.
Inside one there is the other
Where do you think he would be today?
Text Leonardo Vais Interview Aline Alves e Leonardo Vais
Difficult. I think he would be producing wildly. He did not live to see several things, several projects happen. From 2014 and 2015, the performance has been very present, has greatly expanded the possibilities, it has circulated much more. He would be in a process of greater recognition of his work – in the sense of expansion. I do not know what he would think of it all, I can not imagine (laughs). He would have seen a huge transformation. It was all very fast... and still is. And how do you see the importance of Marcus Vinícius to the performance? I am very pleased with this retrieval of his work. Nowadays, many young artists follow the path of performance, and that’s amazing, wonderful. Everyone who falls in performance is dissident from something, suffered some kind of rupture, something prior to that. And I think Marcus was one of the artists who began to open paths in this place and his work needs to move more. He circled a lot while he was alive, his work is still alive, remains strong, with ability to be circulated that has not been recognized and it is necessary to bring it up. Marcus Vinícius is an important reference here in the state, as an artist and articulator. A person who was in many countries, an artist who produced very much, produced intensely. His work is a very lively work.
The artist Shima has his birth record in São Paulo, residence in Minas Gerais and both feet on the road. As an active performer, built ties and landings in various parts of the world through 12 individual exhibits and numerous collective works in Spain, Italy, Chile and the United States - and also several Brazilian cities. Shima is an active user of social networks. It was that way, in the extinct Orkut, that he met Marcus Vinícius. He, taking the first steps as an artist and MV, as Marcus was known for his network of friends, as a cultural mastermind.. It was the Internet that fed and cemented their friendship, even before the first meeting in loco, three years after many exchanges of messages and texts in a festival in Poland. Although they have not prepared any work together, the partnership that was established from the outset meant that each of their individual projects had much of the presence of the other. How did you meet Marcus Vinícius? I met MV by email, at the time he had a Hotmail: MVRockstar (laughs). He was in Vitoria developing a research and was looking for performers, asking for portfolios. Which year was that? 2007, maybe. In that time I was
traveling, I lived in São Paulo. Perhaps it may have been before, in 2006, when he contacted me. Didn’t you know him then? I knew nothing. Nobody. Neither him, nor of performance. Which work did you do in that time? I worked as a photographer in the cultural area. At that time, I lived in Recife and I was making the transition from photography to performance. I was running with three performance works between 2006 / 2007. I earned a scholarship and was researching a group that was doing performance in Brazil. MV had done the work “Ilha da Pólvora” his most talked about one.
In the contact by e-mail did he want to know more about your work? He wanted to know what I was doing, see my portfolio. There was only Orkut in that time. We became friends and met people from performance. In 2009, he made a curatorial work for the (gallery) Homero Massena, with an exhibit about loneliness and the sea, I participated with a video. But we only met in person in 2010, in Poland. What was there in Poland? An International Performance Festival in which I had participated in the previous year, in 2009, and the following year he was invited and I was there. Then I told him I was close - in Brussels - and we met. Only the video
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of the exhibit that I participated under his curatorship. Do you remember the name of your work? Resgate (Rescue). It was an exhibit about loneliness and the sea, I do not remember the whole name. After 2010, there were other projects. Trampolim was one of them. We also met in Terra Una. I do not remember if it was before or after the Trampolim. Did you do any work together? No (pause). No… But did you participate in works in common? 202
We participated in several exhibits. Both as artist, or him as a curator. Or, even, I indicated his work. But never did any work together. We thought a lot about working together. But because we are good friends, we had the feeling that we realized we were working through different lines. The poetics were different, I guess. We were more connected to the personal myth, the idea of personal myth, to develop very personal works, very much within each poetics, building the image of the artist who works with specific things. I think we it helped each other a lot in the process of reflection, thinking difficulties, the challenge of the other. Sometimes it was even a technical difficulty, to solve in the work. And there were also these differences, as to how Marcus solved the work. His will to do was greater than the concern for himself. He launched himself. And I lauched myself too, but I like to think a lot before
and predict what might happen, the implications, security issues. Marcus was always like doing and then dealing with it. He handled the hangover and I always prevented the hangover. From what I notice, your friendship extended from life to the creative process, in which Marcus seemed to be much more intuitive, and you, rational. Was it really so? Marcus’s process was guided more by desire. I want to do this, and he performed. He looked at the situation and already wanted to do everything. He spoke superficially about the work. I’ll be there tied up. I want something that changes color when wet. So the work itself was a charade. Drip wax on his face. Getting tied up in a waterfall. He was about to do it. What will you be tied up with? With gauze! Two meters away from a ten meters high waterfall that’s does not have a well, only stones. I think he pursued the image, the shape, the presentation. I often pulled his ear. But it was his way, the way of each one. There is no right way.
Why do you think he launched himself so much? Was he always seeking the limit in his work? There were things in his life that invaded the work. He had an emergency with time, he had issues with time, this time with life. The youth itself was a matter for him. He loved to make longer works, spending hours and hours running the performances. I realize it has to do with this... I would say use of time, but I was going to talk about life itself, this passing time of life. That time is
relative and during the performance it can be too long or too short. The issues that passed by him, and I think they went into his work. The “Ilha da Pólvora” may bring some of that: that body which is surrounded by smoke, which dissolves into the air and transmutes. I’m reminding this work that deals more with time. If Marcus were here, maybe I would talk about other things. For example, I would be able to speak of things I think he did not work with: gender issues, sexuality. He remained with more abstract topics such as time, space, body. It was not a body discussing gender, it was a body discussing existence. I always I say that the artist leaves clues, as if opening the pages of a maze. If the we can unveil the artist, can unveil some of the universe that has the do with the humanity, passes by humanity, passes by one humanity. I see his works and the feeling is that he was leaving the clues of his own life. Is there any work that has marked you? This work in which he writes time on the floor was the first I saw and marked me from the outset. He was dressed in overalls, like a worker. There was another in Terra Una, in which stood backwards to a waterfall, tied with two strips of gauze. It wasn’t a very strong current, the water was by his shins and there was no risk of had no risk waterspout. But, anyway, he stood for almost three hours, according to official records. But it was a risk. What it the gauze breaks, an unforeseen happens...
The gauze was just a garnish. With gauze or a rope I think it would not make much difference, because he was very close to the fall and it was a high fall, but he stood there, still. I think the human supported the artist. I want to do a documentary about him prior to his death, with cell phone recordings, audio, the nonsense, the antics... because for me this is the greatest artist. I see no difference between the Marcus from the gallery presenting work and the Marcus dancing the samba on (street) Sete. This history of Marcus Vinícius going towards the limit, both at work and in life... Was it not an intuition of the finite? I think so. He left very strong work, which had to do with resistance, persistence. He never dealt with death in the work he did, but time is already that, it runs over and never returns. It’s already the announced death. In a way, he was a performance rockstar. He opened doors in several places, he was the first Brazilian artist Brazilian to step into several international festivals. Before he died, he was in Nepal. I do not know any Brazilian artist who went to Nepal. He was also in Russia and in most of America. He lived this time. When he started traveling, it was a great tour (in Marcus Vinicus’s records, professional trips are identified as “tour”). He was a rock artist in performance. As I said the of the personal myth, he became a myth too. MV had an almost antagonistic relationship between fragility and strength, because he was a very frail figure. Who was in bed, fainted,had some breakdowns, and, at the same time, was doing a thousand things.
You participated in two works in which Marcus Vinícius was the curator (at Homero Massena Gallery and the Trampolim). What was Marcus like as a cultural producer? He did things in a way I would like to do. A more open way, freer, more anarchic. Invite people and host them in his friends was the given condition, it was not exactly as he wanted, but it was the way he could do it and it did not become a problem. He did it in a very generous way, wanting to build something. He liked to offer, provide, embrace - so much so that he invited very different artists and opened, thus, a very heterogeneous picture for the event. He offered something that was very common in the festivals he attended. The performance is not in the list of the most valued artistic techniques. It is still very marginal. MV was one of the few curators I saw it including himself in the curatorial process and this changed the way I think, because the way he thought of it and how he did it was not opportunistic. It was coherent to be part of what he was proposing because it was not taken off of it. He was able to show he was part of that, not being bigger or smaller than anyone else. Looking chronologically at Marcus’s work, the impression is that these curations were extensions of the work he performed. Perhaps, that is why it seems natural to include his own works in the exhibits. At the same time, he connected with other artists who dialogued with his thought.
The Trampolim was the event in which the two of you worked together, you as artist and him as curator. What is your analysis of the event? In my view, the Trampolim was the first major international performance festival in Brazil. Artists from around the world were in Vitoria. And Marcus, as a curator, never said no. I think he managed to propose a different format. Each thing was in a box with a number of protocols. It operated in accordance with the demands of each artist and the structure we had. His strength as a political and cultural figure, of reaching out and inviting artists, offering food, friendly lodging and love. And then he brings a couple from Venezuela, another from Venice. All artists who came to the city were people who had a lot of guts to come. Everyone who participated in the project had find their own way to get here. And MV achieved all that with merit. What do you attribute the interest of artists in participating in the Trampolim to? I think there are several factors. First, we had never had an event of this size in Brazil. There are other festivals, but not with this anarchy in this sense of openness that Marcus proposed. One thing is an event within a commercial art gallery, one of the largest in São Paulo, for example. The site does not offer you anything but the space and people slap each other to participate. Another thing is you come to Vitoria, in a non-commercial gallery, which did not promote anything with this kind proposal. But the event fed a network of artists who care for art and performance. I believe that both
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the platform and the figure of Marcus, who was was well known in the field resulted in a performance festival with so many editions. Only the Trampolim had a monthly format. And this was the milestone: the artists had fun, met the city, took a little of this place. You were a person who witnessed live performances of Marcus Vinícius. What were the feelings that crossed you and what was the reaction of the audience that, in most cases, did not know when the performances would end?
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I was lucky to see a short cut of his work in the Festival in Poland, because the time was defined. The feeling was of a feedback loop and a metaphor of the moment, the thing talking about itself, and of contemplation, of watching it. It has always crossed me this way, in the sense of contemplating what he was doing, observing, not with the need for meaning, but to watch the landscape and let the things come to mind. It has been one of my addiction the want to give meaning to everything. And Marcus’s work does not walk that path. Watching the performances on video, it is not noticeable a sensation of pain or tiredness, taking into account the limit situations in which Marcus Vinícius placed himself. For you who witnessed some of these performances, how was it? The sense of suffering? Did not exist. In the performance in Terra Una – in which he stood in the waterfall - for example, he did not express
these feelings during the process, but the whole thing around us made us afraid. That’s why I talk about this discrepancy between his fragility and the strength to do it. I think there’s a message within the works he performed: we go, we can, we don’t give up, we do it. Making a projection exercise: where do you think the artist Marcus Vinícius would be today? Perhaps he would have already made a major solo exhibit. Other artists from his generation showed some projection and he could be together. At the same time I think he could be doing the same things, doing world tours (laughs). He tattooed The artist is warrior and that’s what he was, a big warrior until the end. Marcus was the figure of the warrior, of the artist braving seas, braving lands, going to inhospitable places, going to unknown places, leaving flags. And we keep reading his apotheotic passage and trying to unveil it.
THE FOUNDATION OF A BODY A territory that expands by means of an explosion. The fire that devours the gunpowder drawings, in which the graphics become imaginary maps on the twisted surface of the paper, and the body positioned too close to the sparks, to the point of often ending up singed: at times sitting in meditative position, at times crouching as if romping, at other times standing in a solemn contemplative attitude. The minucious act of coursing and investigating the spaces, feeling the emotions emanating from the ruins, opening the boxes with gunpowder cartriges
and drawing tracks and circles of all sizes, extends for long minutes, sometimes hours - in contrast to the little instant in which combustion happens and everything is consumed to vanish in smoke. The actions Território Expandido I [Ilha da Pólvora] and Território Expandido II [Edifício das Fundações] are offshoots of previous research: on the use of gunpowder as an artistic intervention agent in the paper (in the series Territórios) and storage of burned waste, in small bottles, in the work Territórios (im)permanentes. Among the artistic references with which Marcus Vinícius admittedly dialogues, we have interventions with paper and gunpowder by the Chinese Cai Guo-Qiang and the gaucho Marlon de Azambuja, the instalations of the Sino-Brazilian Chang Chi Chai, and objects with matchsticks of the carioca Felipe Barbosa. The symbolism of combustion as transfiguration of suffering and ignition of a body capable of withstanding the pain is also reflected in the choice of where the performances happen and what each place evokes. One of them is the Hospital do Isolamento Oswaldo Monteiro, located in the Ilha da Pólvora, in the surroundings of Vitória (incidentally, also an island), where 19 actions were held using gunpowder as activating agent. Founded in 1925 and deactivated in the early 1990s, it was for decades a leprosy and tuberculosis treatment site - reinforcing an imaginary which refers to the idea of isolation, death and purification. “From there, the city of Vitória is seen through the cracks: everything is turned away, overlooking the sea, casting itself away. The light passes through the upper floors, leaving those spaces even more openly exposed. In
the midst of urban chaos, I go to the island in search of moments of reflection, production and introspection”, says the artist in his text “Dos mapas à ilha: novas descobertas e possíveis descobrimentos” (2007). Having been observed by Marcus from a distance, for years, from the balcony of his house, on top of a nearby hill, the hospital, now in ruins, is still only accessible by water, in small boats departing from the Seaplane Pier, as did the souls with days to live in search of a cure often impossible. In Marcus’ words, the performance appears as a proposal/moment of meeting, meeting with the other, with life, with death, ephemeral spark, search for other subjectivity processes. In that space where once there was a hospital, only remained the old building crumbled by the abandonment, tensions of emptyness, the traces of destruction undertaken by time and by surrounding residents that day after day transformed the place and the sad memory of the bodies burned there waiting for healing, a new destination. The Edifício das Fundações Professora Georgina Ramalho, where the second investigation was carried out, was built in the 1970s in the heart of downtown Vitória - more precisely, in the vicinity of the buildings where the State Government headquarters, the Forum and former Legislative Assembly are. For three decades, it housed various agencies and government departments, including the studios of public station TV Educativa, being almost totally disabled and in ruins for about fifteen years - with the exception of the Homero Massena Gallery, exhibition space that works in the first floor, keeping a small annex on the first floor. The building had already been explored by the Coletivo Maruípe,
an artistic intervention carried out in 2004, which even brought part of the debris scattered on the upper floors inside the gallery as part of a video installation. This prompted Marcus to map the building in early 2007, in order to, at the end of the year, undertake the second intervention of the project Território expandido, in which 17 combustion actions were held: I ran all the building floors, again armed with the small box bringing gunpowder and matches. I walked naked and barefoot by the devastated floors. There I stepped on broken glass and animal feces. I dodged remains of pigeons invading this place inhabited by them, before death. I saw and felt nothing. Cuts and bruises were not felt. I only felt the pulsing energy of the place and the warmth of the gunpowder next to my body. We’re already facing a new body, still in development, increasing the potency of resistance and subjection to the risk that will be the keynote of much of the artist’s career. In July 2010, moved by a desire to return and renewal of the forces of this body that the artist himself defined as marked by “open wounds from swimming alone and without net”, we have a new raid in the Ilha da Pólvora, this time in partnership with the artists Yury Aires (photography) and Monica Nitz (video). From it, resulted the videos O desejo é o rastro and O acaso, o imprevisível e o que não se sabe (accompanied by their respective photographic series) and the photographic works A propósito da pele and É no meu olho que o mundo diminui.In the latter, highlighting the image of the moss taking over the artist’s body, as if aggregating new landforms to the map already marked by so many and so intense performances, their residues and scars during the three years between this and the first undertake. Summarising this experience, Marcus concludes:
Body that burns, stings and feels the blast of gunpowder next to it. Burning that acts silently in a void that widens and constricts itself. Intimate darkness, pitch. (...) On the island of Gunpowder, time does not pass. Freezes. We live the Other, the other time! Erly Vieira Jr DISCOVERING THE GUNPOWDER ISLANDS Risks, residue, remnants “Living is very dangerous” 8 said Rosa through Riobaldo’s mouth, the Tatarana, quick on the trigger as his creator was in the verbal invention. So is doing art. And very risky. Because IF it’s not art, it’s nothing: smoke blown away by the wind, dive in the empty that, to the initial abysmal vertigo, will follow the frustrating encounter with the hard floor of predictability. Like discovering gunpowder: realizing the obvious, that sense in which, according to Barthes, “come forward”9 and, discovered land, is already there waiting for us. Marcus Vinícius, as Marco Polo, accepts the challenge of this dangerous adventure. Between trance and play, risk and fall, invites the chance to dance, play with fire and make art with it. In the series of drawings, the glowing gunpowder, coautoral, uncontrollable and unpredictable, unveils, uncovers the cartography of new worlds: islands, peninsulas, gulfs, coves and 8 ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964. 9 BARTHES, Roland. O terceiro sentido. In: O óbvio e o obtuso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
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bays, landforms that devour the paper, licking its skin with a fiery tongue and revealing indentations and protrusions, residue and remnants of the original virgin land – the blank sheet for fascination and delight, I think, of the discoverer, MV, in this unique moment, of revelation, of the creation process. From the maps to the island They are first drafts, though, these maps, that prepare the great adventure of discovering that will follow. Risky adventure: the conquest of Ilha da Pólvora (Gunpowder Island).
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Isola. Isla. Island. Hoping for an uncertain cure, if not, in most cases, impossible, that’s what leprosy and consumptive - or more bluntly: lepers and tuberculosis patients - found on the island, since it was destined to receive them: isolation. Aboard a small boat and armed only with a small box that will gradually reveal its true powers, Marcus Vinícius comes to the island. Does not know yet, but there he will face the volatile but dangerous spiritual Calibans, the resident geniuses (“people do not die. They are enchanted”10), relying solely on the support of his small work team. There, John and Mar y, guided only by intuition and sensitivity, will outline a path set point to point by small circles drawn with gunpowder in specific places. If the drawings, figuratively, anticipatied the surprises of discovery and invention, on the island, MV was exposed to the vicissitudes of fate and accidents he was commited to deal with. 10 ROSA, Guimarães, discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, 16 de novembro de 1967.
Bare body and soul, vulnerable as an undisguised Diadorim, will experience the explosive experience of creation: as atolls of incandescent corals, these, made of gunpowder, rings waiting for ravening saturns, will summon the wounds and suffocation of the ancient inhabitants of the island, setting itself on fire to free them perhaps – what do we know? – from their chains of perennial suffering. On the verge of a trance MV falls: an especially strong and unexpected explosion knocks him to the ground, leaving marked on his skin, residues of the risk he lived. Aims at the pier in ruins, the old landing portal remnant, to make a final combustion. There, he would tell me later, showing me the pictures, saw the resulting smoke returning to the island: “anything that did not belong to the island would come out of there,” he told me, wanting, however, to say otherwise: “anything that belonged the island would come out of there.” Mistake, meaningful, to my point of view. Even more, revealing: seems to point to the difficult position of the art and the artist in relation to these other “islands”: to what extent does the Einfühlung that drwas us to them may confuse us with and even lead us to get lost and imprisoned in them? From the trance to the game, is it needed to get out of oneself to receive the Other? No: to the islands the things that are the islands’. It is necessary to stand up and be in oneself to accept the Other without getting lost in it. Prosperos, free Ariel and understand the tempests. May the fumes of past, present and future isolations dissipate. May we
launch bridges, draw islands and archipelagos closer, but that we may always return safe and sound to our continent: the art. Always planning new dicoveries. Even if it is very dangerous. As Life. And risky. As art. Ricardo Maurício Gonzaga 19 de Novembro de 200711
11 Coincidentally - believe me - or synchronicity, forty years of birth (pardon mistake: decease) of Guimarães Rosa.
LIMITS AND ERASURES Once the ritual inauguration is over, Marcus develops, especially in the immediately following years (2008 and 2009), a series of studies investigating the limits and powers of this new body. An initial cartographic desire is manifest by the literal metaphor of the act of drawing lines in his own skin with dermatological pencil (O mapa do meu corpo and the series Cartografias do corpo I, II and III, all made in 2008). To Marcus Vinícius, the line does not pre-exist, it is necessary to draw it, draw endless routes - those in which, in future works, he will venture to go in a more concrete and visceral way, giving, thus, a premonitiry character or that of a letter of intentions to a work still somewhat innocent in its playfulness. This same playful aspect is retaken in the daintiness of the video A place for the heart shine (2010), in which an adhesive beads design marks a heart
imagined for the metaphorical tin man who never returns unscathed from so many physically and emotionally grueling experiences – later, the intervention would be permanently incorporated as a tattoo on the artist’s chest. Other less innocent games, are successively experienced: from the provocative Play Me (2010), in which the body backwards, framed by the synthetic halo of the lights from a video arcade, is offered to whoever wants to “play it” erotically, to the clandestinity of Acciones Invasivas (2009), in which the artist makes sure to inset his figure as an alien element (potentialized by wearing his garment inside out) before works of established artists (such as duo Andy Warhol/Maria Minujín), exposed in large art fair in Buenos Aires. The most recurrent undertaking in this set of works is to take body risk, in a gradation that begins with the ironic images of asphyxiation in the series of videos and photographs Plastic bags can be dangerous (2008/2009) or the deliberate provocation of an allergic reaction by ingesting milk in (in) tolerância (2008), up to the waterfall challenge, in Espera (2011) and the works with melted candle wax on the body immobilized by a Gordian knot (Nudo, 2012), materializing, drop by drop, a kind of wing unable to give the body the possibility of flight – and the drawings of Josefina Muslera, made during the execution of the performance, which extend the harsh poetry of this condition. Even a seemingly harmless work can lead to extreme physical reactions, such as the exercise of renewed de/ reterritorialization of places coursed during his transits and trips, proposed by Nem tudo são flores [suco], from 2008. In it, the artist incorporates the
affective memory acquired in each new city, by drinking a juice himself prepares from the collection of native flowers of the region, whose difficult digestion can lead to vomiting and other severe allergic reactions. In the series of photographs Cicatrizes (2010), the artist’s nude body, with its graphic tattoos, seeks dialogue with cracks, holes and debris of “abandoned houses that are now disfigured bodies”: in the artist’s own words, we have a communion between the marks of time in buildings and those left on the skin, after numerous performances, now without the ephemerality of drawing with dermatologic pencil. Residue of a body that is put into circulation in the world, without fear of dialoguing with the becoming of life itself. In the text “O tempo sem horas”, which recounts the experience of the artistic residency held in Terra Una, Marcus Vinícius writes, regarding the performance Espera: “The river runs, passes me through, cuts me. I’m afraid, but at the same time I find myself safe. I do not think of the possibility of falling. Backwards, I see everything fall. In fact, I feel. But do I really not see? My gaze is intense, fleeting, tearful. I cried. Yes, I see”.
live a character. So, it has moved to a heteronympseudonym (...). Fontoura notices someone under a tree in the distance. - Are you alone? I’m going up the hill, do you want to come with me? What’s your name? – Fontoura asked. - Marcus Vinícius. - What are you doing here? - I came to perform a work that is in process ... a very intense process, very free. It’s named Espera. Talks about flow, fluid. Of everything that slips away. - The flow always interests me! - The work speaks of me and everything around me. People are part of this flow which is my life. I take my body throughout the world and my passage by Terra Una is a transformation. I feel transformed in a way I don’t know how. I am the world and I’m experiencing the world: like water flowing in the river. I feel like water.
Erly Vieira Jr
- You are a flow within a flow.
A CONCEPTUAL CHARACTER
- There is an attempt to retain the flow, but it is not possible: it is like water! What do I expect from this flow? I don’t know.
Kenny Neoob When he reached the age of worrying about freedom of thought, the author quit his city, his urban habits and went up the mountain toward Terra Una, a place where nature reigns: waterfalls, rivers, forests and human beings with their passions. Just inventing characters was not enough, the author wanted to
- What drives you to do this job? - Insists Fontoura. - I’ve always had an affectionate relationship with the water, contemplative. I am extension of water. The flow makes me think ... the water ... is a life
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transforming agent. Everything I do, I call strategies of the body. - I am flow too, a flow that updates itself in the body - says Fontoura. The two embrace. Silence. Fontoura continues his walk, leaving the slender figure under the tree canopy. Excerpt from the text Fontoura: um personagem conceitual, authored by Kenny Neoob, made from the recorded conversation between Marcus Vinícius and heteronym of the author. Full text published in the catalog VER 2011: Encontro de Arte Viva, Terra Una. January 2011 SCARS
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My scars are like lines that reveal places through imprecise outlines, as if the memory could be printed on the skin of whom carries it. Are drawings that life does: some fade, others remain the same.
staged that of the reconstruction of a lost body, of the blurred identity, the clouded memory. The space and the transience expanded in the body. In my forays through the city mazes, unique houses, featuring transpositions of common meaning, isolated from their duties, become bodies devoid of life, punctuating relations between the dark inside and the invisible outside. The reverse of the body is revealed by some crevice that allows a glimpse of the dust of the soul, traces and memories of those who once lived there. We are looked by this past and this loss and referred to the words of DidiHuberman (1998): “We should close our eyes to see when the act of seeing leads us, opens us to an emptiness that looks at us, concerns us and, in a sense, makes us. “ Marcus Vinícius
My scars are like abandoned houses, blind and mute, that are now disfigured bodies. Silently keeping something that no longer exists, except in those memories that remained imprinted on the deconstructions.
References
The city is my study, my place of action and place of reflection in which my body acts as an object of registry and memory. Much more than a working tool, its developments advance in multiplied images, temporary records of an infinite action, of a more philosophical than physical character, the result of my flâneur condition.
DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 34, 1998.
Maybe it’s the art of phantasmagoria, building from the immateriality of things through the materiality of the desire, as Agamben (2007). The poetic
AGAMBEN, Giorgio. Estâncias: a palavra e o fantasma na cultura ocidental. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
EL CUERPO EXTRAÑO (THE STRANGE BODY) When referring to his project A presença do mundo em mim, Marcus Vinícius stated that the body is never perfectly integrated either in the community, or in its own individuality.
Hence, in some works, thinking of a body taken by a number of prosthesis, which problematize the idea of contact and otherness and toss it hopelessly into the everyday sphere. In the aforementioned article in the Tatuí magazine, Marcus recognizes, in the everyday sphere, a land filled with microscopic knowledge that allow for discerning social, cultural and political trends - before this latent wealth, why not try the meetings from these new corporealities? Conducted between 2008 and 2010, the project Corpo estranho/Cuerpo extraño (and here it is impossible not to think of the double meaning of the word in Spanish, which also refers to the nostalgia for something that is missing), which was the use of a garment/sound equipment sound consisting of a set of fifteen speakers attached to the performer, making strident noises as he bent corners, traversed squares, crossed bridges. A body that invaded, in race walking the apparent daily lull, to break the urban individual isolation. Another invasion occurs in Frágil (2009-2011), whose tape garment leaves marks not only on the skin but also through puzzled looks from some passersby, which persist in the artist’s memory many hours after the action had been concluded. If, on the one hand, the sayings printed on the tape asked for care, support and perhaps affection, th garment scares and pushes away, turning the performer’s body into a kind of alien, whose slow walk through the streets potentiates prolonged contact with people whose faces he hardly sees, does not recognize the touch or even know the names, in one of the most intense and difficult emotional experiences provided by his work.
The CONTAGION_project (2010) focuses on the artist’s body conceived as a zone of desires contamination. Undertaken during the first European tour, in the first half of 2010 (Poland, Portugal, Spain and Italy), consisted of a set of “virus-actions”, making use of personal and everyday references, containing and exposing notions of humor, game, pain, absurd, absence and fragmentation. Sobre o tempo, for example, begins with Marcus wearing gloves and white overalls, filtering the water that drips from perforated buckets, hanging from the ceiling, towards the tubs scattered on the floor. Then, the patient observation of this dripping, the slow enjoyment of its metallic noise, when suddenly the artist abandons his aseptic posture and starts licking gelatin powder spread on the ground, forming the word “time”, evidenced by the color that changes as the substance comes into contact with saliva. In Através da essência do devaneio, again white clothes and rubber gloves, this time for the performer to fill a round glass jar with water and dissolve gelatin powder before an attentive audience gathered outdoors. Sitting two meters from the bottle, he sips the red liquid through a long thin plastic tube, to exhaustion, to then get up and light a maritime flare in his pocket, creating a cloud of red smoke, to cover his entire body. Corpóreo no próprio ocultar-se brings Marcus, dressed in the same clothes sitting at a table, in which we see a small mound of white flour. After observing the viewer for ten minutes, across the room, with great care, he suddnely shoves his face in the flour and pulls out a small clock that was concealed during all this time. Finally, Action Painting (without canvas) is a video record of the artist, again in his white jumpsuit, painting a wall of
his own room with white paint, an act of scoffed prophylaxis, pumped by the beats of Just dance, megahit of the pop singer Lady Gaga, gay culture icon, then at the highest of her popularity. The humorous and ironic aspect of many of these works acquires another meaning when we remember that their realization takes place during the H1N1 flu pandemic, which also brought back to the mediatic imaginary the panic of contamination from global migrational flows. Remember that this is an artist who began traveling in Argentina, one of the countries affected by the outbreak. This gives another sense, including to the description he made of his project: CONTAGION_project deals with our wounds and our damages, our neurosis and our fears, our bodies and our affections, but, above all, of our pleasures and our desires . It features a body modified, threatened or transformed by the presence or absence of the other. Points out the many ways in which the contagion, as a metaphor and strategy, opens up the possibility of new interventions, methodologies, forms of sociability and political praxis. The desire to be in movement, not to stop. There are also developments that will think the borders and global transits through other possible encounters, as in the “virus-action” Viagem sentimental, which invited friends and acquaintances from all over the world to send postcards to the address in Madrid, where the performance would be held. These, as well as the various wishes and congratulations written on them, would be glued to each other, forming a kind of armor molded directly on the artist’s body. About this work, Marcus wrote: I believe that the boundaries between body and city become
confounded as we move and get contaminated not only by landscapes but also rhythms, smiles, loves, flavors. Of looks, gestures and desires to be beyond an other territory. Of wills that expand outwards the body, leaving the skin, the pores and getting lost the air to incarnate in uncertain and unknown places. The skin, the last and first frontier, is the one we cannot traverse. It is the largest border that can exist because we absolutely cannot cross it. The skin contains us in such a way that it is from it that we begin to exist. It is what denotes and outlines us. And it is through this border of flesh and hair that the performance Viagem sentimental will be developed. During the second European tour (Russia and Finland), held less than three months later, the project Ninguém is born. The apparently laid-back proposal, was to build a multi-faceted face on the face of the performer from fragments of others: cut, silently, eyes, noses, mouths and ears and glue them to the face slowly, as if it was one of the aesthetic treatments used in spas and beauty clinics. At the end of the process, it concretizes a hybrid, cyborg and mediatic body, drawn from the appropriation of advertising and/or photographic images, mixing masculine and feminine elements. The excess elements, however, does not refer to the modernist idea of Frankenstein, but discusses the constant and unstable reinvention of identities in contemporary times, lending the body to build distinct personas, or none at all. In addition to the first presentation at the VIII International Festival of Experimental Arts, in St. Petersburg, the performance was held, in the following months, at the Spa of Arts ‘10 (Recife), at the Festival Performance Arte Brasil (MAM-RJ) and at the
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Centro Cultural Banco do Nordeste (Fortaleza). In the fifth (and last) project execution during the Performa Paço – Ações Extremas (Paço das Artes, São Paulo, 2011), Marcus Vinícius, amid his third European tour, could not be present. The work was then preformed by Mavi Veloso, at the invitation of Marcus himself - who started from the physical resemblance and a series of coincidences between them (as they have the same first Christening name and the same age), as well as the awareness of the different body constructions that guide the work of each of the two artists. This flirtation with the idea of the double inspires Marcus to design a project called MV/Mavi: As fronteiras do eu, which, despite not being realized, provided that Mavi would conduct a series of remakes of the CONTAGION_project performances (for example, Corpóreo no próprio ocultar-se, Através da essência do devaneio and Resistance), as well as the work Plastic bags can be dangerous. On the other hand, works as the photographic series contemplation spaces (2009-2010) and the curatorial project Sobre as águas, a solidão, o olhar offered moments of breathing and reflection, seeking in the loneliness a counterpoint to so many grueling meetings. In them, we also realize emergence of a desire to be in the picture, to be landscape, that will unfold in the works that are presented in the next section of this book called El CuerpoPaisaje (The body- landscape). Erly Vieira Jr IT LEFT MARKS ON YOUR SKIN Yesterday (Thursday, November 17) was one of those days in which I am
absolutely aware of the importance of living. Some smile at me, others stare at me with hostility. A man offered me a smile. I think it was over at that moment when I looked him in his eyes and thanked him. Not being able to speak, choked on myself, I thought of the need to make such a harrowing effort. But the silence is so right, so truthful. Along this way, I go. I am alone and I walk. No, I’m not alone. Someone - perhaps many – is/are by my side. People I do not know, people with different realities and which I should not care, given its invisible nature. But I still believe in the faces and in the sensitivity of the looks. I stand: I give you, I am you. Faces on all sides. Weirdness. My eyes sought the way out of those faces. Faces that looked at a mobile spectacle, variable and fast, that reordered and crossed the imagination and the desires to walk with me. Faces that, amid so many speeds and intensities, sometimes fail to stop at this diversion. A few moments before, I looked in the mirror and was afraid. After a long time, the process of “fragilization” of my body. I could not see my skin. From head to toe, everything was fragile. All this distresses me because it is now inexplicable. My feet, memory, eyes, arms and even the mirror I looked at myself a moment ago hurt. “It left marks on your skin,” said Lucas after touching my wounds with extreme softness, coloring my silence and giving us time to discover, rediscover, as he kissed me on the lips. To say that I am a masochist does not solve anything. If joy in suffering is not possible, then may I do the possible and the impossible to face the city. For years I’ve been creating from my daily life, in performances, videos,
conversations and writings. My life is interesting, full of emotions, passions and adventures. In fact, I only live while I suffer - this is my way of living. But something in me does not want to suffer. Something wants to observe and silence. Sometimes my life gives me vertigo. I see myself in the past, imagine myself in the future, and everything starts spinning, everything is too big, it can not be spanned. My life is too big to me. I think about that face. A face which I do not remember, that is no longer in my memory. Confusing summer spring afternoon. I gave him everything I had at that time. I gave everything the years did not take from me, what I have, what I have always had. Life. I went next to that face I can’t find, that I no longer remember. Now it’s too late to walk again invaded by a silent presence. I keep this face carved on me. Inside me there is a void. Or pain. And there is also life. Marcus Vinícius (Buenos Aires, 2011, after performing the performance Frágil) MEMORY GESTURES: INVISIBLE AND SILENT, EPHEMERAL To Juan Manuel Sogo, who shares with me the flow of life and whom I love deeply. I. In a way, I’m back. These images bring me to the place I first met, the place where I started to exercise the craft of
living, learning, creating, loving, forgetting... Although I want, could not follow up with the formality of introductions here, because there is a direct connection to my own biography. In this case, these images - whether or not landscapes, movements from one place to another, from one situation to another, from one time to another – translate the change from the symbolic order to the actual order experienced in just over a year of working with the artists gathered here. The project, which went through several stages of expansion and adjustments, evokes the condition of those who inhabit the instability and, from it, grow and manifest, creating intimate, poetic and collaborative processes. When the idea for the curatorial project Sobre as águas, a solidão e o olhar arose, I went back to the place of my childhood. During the past few years I have traveled a lot, known other skies, but I always return ... And when people ask me where I am from, I delay the response. And this is a common situation in our lives, nomadic artists. With experiences in São Paulo, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Córdoba, Bogotá and Recife, in moments that shape our own growth, it is difficult to clearly establish a place of belonging. These notes respond to the traveling spirit, seen as a metaphor of the writing: the text as a memory fabric or, as Proust wanted, “a fabric of forgetting”. A trip without return that transcribes a nostalgic look at everything that has been lived. This exhibition is a fabric that entangles and plots stories. A collaborative project designed from the coincidence of interests in nature, the landscape and the territory of artists who move and live in space and time, offering the viewer new perspectives to look
at, from the poetic possibilities of the artist body12 relationship with the water, with the sea, river, rain, dream or desire. This is linked with the trip and the choice of a residence: the place of life, mores, values. And the traffic: the migration, the movement, the constant flow, the escape. II. I was born on the island of Vitória, capital of the State of Espírito Santo. I have always lived near the sea. My thirst for water has always been intense, constant and critical. I met waters of rivers, seas, waterfalls, lakes and pools. Oh, I loved the plastic pools with waves in shades of blue! My relationship with the sea has always been of contemplation and curiosity to know what was in the depths of Yemanja waters. I felt charmed when I sat in front of the immensity to admire the late afternoon soaked in salty air. Still young I amused myself during the long vacations in the city of Linhares, north of Espírito Santo, and then, teenager, admired the choppy waters that bathe the village of Regência. I also remember grandmother’s words, who wanted her grandson to become the mythical figure of the sailor, fearless and lonely. Grew up my boy’s body, as grew my admiration for the sea. Almost two years ago, I decided to sail to distant waters and went to live in the city of La Plata, Argentina. 12 Christine Greiner, professor / researcher at PUC-SP, says that “the body changes its state each time it perceives the world. And the artist body is the one in which what occurs occasionally as destabilizing of all other bodies (triggering the limbic system) will last. (...) A destabilizing of certainties that makes us feel alive.” (GREINER, Christine. O corpo: pistas para estudos indisciplinares. São Paulo:. Annablume, 2005.)
There, I walk by the immense Rio de La Plata, which sails between Uruguay and Argentina. Unfortunately, “the river is not for fish” and the pollution prevents the dives that those silvery waters could provide. What is left is the nostalgia and contemplation. I sit for hours admiring and filling the heart of memories, dreams and desires. Behold those silvery waters with the feeling of the deepest look at the most secret of myself; and I smile, because I had never dreamed so pure, so big, so beautiful! And everything is mine, is within me, there is no reality outside my body. When I felt alone and abandoned in the sea front, I thought about what would the solitude of the waters, in the nights, and the loneliness of the night in the endless universe be. It would be like a duo of a dreamer with the world, making the world and myself, two joint creatures paradoxically united in the dialogue of solitude. I sleep peacefully. In La Plata, I feel a country boy for whom the sea, and the sky is a vague and unattainable blue vastness with whom I dialogue in thought. I stop, then, for a moment, feeling uncomfortable with the sudden comfort I enjoy on Sunday afternoons. I absorb and reach the intricacies of a universe that surrounds me. Here, in my imagination, I flood myself in this illusionary sea. I live in an invented immersion. Walk within a fluid matter, luminous, dense, which is the seawater, the memories of seawater. Silence, solitude, everything is transformed. The world is large, but in us it is deep as the sea.” (Rilke) Marcus Vinícius, Vitória, La Plata, Bogotá e São Paulo, 2009
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(Excerpt from the presentation text for the exhibit Sobre as águas, a solidão e o olhar, curated by Marcus Vinícius, held in 2009 at the Gallery Homero Massena, in Vitória, Espírito Santo, Brazil)
EL CUERPO-PAISAJE (THE BODY LANSCAPE) The world-nature connection begins to gain strength in the production of Marcus Vinícius in 2009, especially in a series of actions that promote the inclusion of that body in natural landscapes, from the desire to integrate with them and let them through by their rhythms, sounds and beats. In this list, they include works such as Habitar, Fronteras, Flor, Força-bruta and more extensive photographic series, as Cuerpo-Paisaje, Extensiones e Deseos. 212
The culmination of this process takes place in the first half of 2011, with the participation in artistic residency projects V :: E :: R 2011 – Encontr de arte viva (Terra Una, Liberdade, Minas Gerais) and Interacciones Florestales en Red (Isla Victoria, Patagonia, Argentina): two immersions considerable breath (12 and 28 days, respectively) in the rhythms and becomings of spaces still afar from urbanity. The first consists of some initial investigations in forest streams, although solitude is not its tonic - on the contrary, it emphasizes the community dimension provided by the exchange between the participants. The second embodies the very coveted lonely and quiet dive in the pristine nature: in this residency, only three artists took part, each in their own very personal project - in addition to Marcus, were the Colombians Katherine Patiño Miranda and Jimmy Rangel Acosta. Jimmy, by the way, was the author of most photographic
and videographic records of the 61 actions undertaken by Marcus Vinícius throughout the enterprise. When presenting his project to the Centro Rural de Arte, the Argentine institution that promoted the project Interacciones Florestales en Red, the artist describes his investigative intentions: Dare to accumulate the desire. Hold the breath and look around without expecting anything. Lack, excess, protection, search, fear. Loneliness in the purest and most real sense. (...) My body and my time are the true protagonists of the project, which wanders between the friction feelings generated by the peculiarities of working away from urban centers and the desire to discover what is to come. The project feeds from nearby landscape images by the placing desire at the starting point of an inner feeling represented by the same world, by what is seen from the perspective of absence. Feeling treated on the most personal side of being an artist, accentuating the very sight of the desire as a concept, of the verb desire as a needed boost and of my desire as an indispensable engine. The residence in Isla Victoria ends with the performance O último desejo: a boat lighted with candles, floating on the placid waters of Lake Nahuel Huapi, with the Andes in the background as the night falls. For Marcus, it is essential to bathe the darkness that devours him, to finally know the depth of his own desire. Erly Vieira Jr THE LAST DESIRE “The darkness is needed to find yourself, to find what you want” (Fabiana Wielewick) Each desire has been a journey. A trip with my eyes closed. To every new
desire, a fear. Because I knew I would travel again, and would be alone in a world that hurts and rejects. My character has no blame on this, but has to go on. My wishes do not come from nowhere. And it’s not madness. Now, I know I’m in the twilight and I feed from the very and vital darkness. My darkness is a maggot that may contain a moth. Everything is so dark that I am blind. And living makes me tremble. Tonight, I will disappear in the darkness from which I emerged. Pulsing darkness, wet volcano lava in raging fire. Darkness full of worms and moths, cats and stars. I bathe in every devouring darkness, I long to know the depth of my desire. I want to know all my feelings. I have to try this accursed force that makes me someone else. Here, hidden within me, there is a dark corner. My secret is the life. And I do not tell anyone I’m alive. The silence invades all the interstices of my darkness. And what if there is no risk? The night defined itself under the sky and the height of the constellations. The littleness and transience of man craving for the stars. The southern bend is a light garden. The heart feels the pain that takes things beyond the measure of the ordinary. The stars shall die to give way to novae and supernovae… Prodigious Patagonian night, which makes us march under the wings of time. Marcus Vinícius
OTHER CONTACTS In Contato (2009), photographic series held in Lezama, Argentina, in the midst of horses and ox bones, we have the first of several works in which Marcus, beyond the physical immersion in the landscape, flirts with the possibility of experiencing a becoming-animal, this “desire to be animal”, even for a moment: in the pictures, he interacts with the bones, hides in holes dug in the ground, improvises masks, mimicks movements and gestures cattle and horses. About this experience he says: The animals moved quietly, being since very early under that winter sun. And each brought its beauty. I could see them closely, moving through the vegetation. A quiet walk. Some did it at increasingly slow intervals, while the first of them ate corn by my side. We inhabited the same space. (...) The search for the contact with the entirety, with nature - an idealized nature - is always present in my work, both in performance and in the photographic record. This section brings together some developments of this flirtation with animality, sometimes spontaneous and intuitive, as described above, sometimes in an openly fetishist way. Rounding out the group, some of the work performed during the year 2011, both in artistic residencies in the field and forest, as in Bicho do mato and Cervo series, as well as in isolated raids as Untitled, videographic and photographic project in which, amid the cattle, the artist hides for a while, posing as a stone or any other obstacle, to emerge suddenly in an outburst that surprises the flock.
We also have the video Landscape, whose low definition of the video image plays a fundamental role, as redimensioning body and landscape in a kind of painting in motion, in which the visible pixels are inaccurate strokes, parts of the same matter under a single becoming. In Marcus’s words, the video leads us to this landscape at a slow pace, in order to focus on the body and the senses of the audience and the experience of interaction between performer and environment, building a poetic language of images, gestures and spaces that invite the audience to a silent dialogue. Erly Vieira Jr
PASSAGE JOURNALS “The space has always made me silent”: the quote from Jules Vallès, taken by Gaston Bachelard in his The poetics of space, has always been a kind of beacon for the strategies with which Marcus Vinícius performatively elaborated his body. A body always in transit, but able to enjoy the silence and murmurs of every environment, in every new city visited: from the fiery desire to be “architecture” that guides his first acts as a performer (in the series Ocupação Experimental Urbana, 2007) up to the proposals for emotional exchanges with passers-by, guided by kindness, as in Beyond (2011), held in a small Estonian town. Here, unlike the foreign body in friction with the urban rites and rhythms, so common in previous works, we also have a foreign body, but now offering itself, with all its lightness, without the intent to cause fear or revulsion to the passerby. Asking to be watered, shared, prepared for a future harvest, whose fruits are still unknown.
The reading of the chapter Intimate immensity, in the book of Bachelard, would inspire the homonymous work, carried out in 2010 in the city of St. Petersburg, Russia. When responding to the provocation launched nearly two hundred years ago by the Romantic artist Caspar David Friedrich, which proposed first, shutting the bodily eye so that we could see through the spiritual eye, Marcus travels, blindfolded, the streets of the imposing former capital of the Russian empire, with its tricentennial its architecture. When visiting blindly places he’d never been before, he finds people who describe, in their own words, what is unfolding before them. Finally, they produce what Marcus calls “blind landscapes”: photographs of what the artist can not contemplate with the eyes, but hear and feel, allowing himself to be traversed by his various affections, including the sound of the words spoken in Russian, which meaning also is unknown to him. Resuming Bachelard, the work whispers: “The immensity is within us.” Erly Vieira Jr THE BODY: BETWEEN THE PERFORMANCE AND THE ARCHITECTURE Four years ago, while performing an everyday journey through the city of Vitória, Espírito Santo, I was surprised by a considerable desire to be architecture. I decided to carry out such action and think of new possibilities of relationship with space from such unexpected experience. I lived silences unfolded in the invisibility of my body. The challenge of a body that wins a little span. Lyrical lightness opposed to dramatic weight.
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What occurred to me that afternoon of June 200713 on Beira-Mar Avenue, while almost naked, silent and in a fetal position for 44 minutes were my first experiences with the limits of the body and of relationship with space, with my everyday paths and my practices in the city. Since then, actions, improvisations, speeches, appropriation, exploitation of urban space, their flows and senses are prominent in my poetic production, which attempts to resignify them. This process was later called Estratégias do corpo 14. In it, my body has been the subject and medium. Exploring my physical and mental limits, I try to (re) signify the daily practices, the look and the ways inscribed in and throughout the cities where I transit.
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We live in times when the practice of urban space defines and redefines the social, historical and geopolitical space of the cities. The avenues, streets, sidewalks and markets sustain a movement of people, goods and incomparable official and alternative codes incomparable to the expectations of modern urban planning. New subjects are part of the contemporary urban scene, interacting with the city’s architecture and official speeches and reconfiguring the policies of cities. Art moves from indoors to outdoors. Leaving behind the expressive and individualistic tone of previous decades, finding new artistic productivity pathways in confrontation with the places of everyday life and people. The artists discover the public sphere as productive space, as the ground of debate, analysis and construction. So, we critically take over the spaces covered by the artistic look, of the subjective and objective apprehension producing records, notes, maps, texts and subsequently proposing new relationships with these places, redesigning the artist’s
posture in the face of the complexity of the reality of space. I begin to reflect and scrutinize the subtleties of each of these fields of expression of the human being and pointing out the obvious difference, which may be expressed in an almost tautological way, by saying that performance is performance and architecture is architecture. On the other hand, when looking more carefully at the issues currently raised by the performance and the architecture, I realize that there are clear signs of a convergence or might even say, an overlap between the areas of the two activities. This is noticeable when I observe that professionals from both areas begin to use the same terms and the same strategies to deal with the body, its his existence in space and its relationship with time. In fact, we can say that the body, space and time have always been central topics in the development of performance and architecture and it is not difficult to raise a number of similarities between the two fields. Immediately comes to mind the fact that both performance and architecture, deal with the body in space, or to be more precise, also deal with the image of this body that moves through space. One issue that worried me was the degree of freedom given to the inhabitant, user of spaces that prescribe uses and modes of behavior. I still do not have an answer, but I believe in the use of indetermination as opening to the possibility of creation. This also seems to be a key issue for the performance - the relation between the predetermination of a space and the freedom of invention in the time of the action, adding the participation of the audience. The consideration of
this tension between a previous design and the action actually points to a consideration of time as something irreversible (the arrow of time, as Ilya Prigogine reminds us), bringing in itself the possibility of creation. Given the irreversibility of time, the body becomes key part of the architecture as the agent that articulates the time and space in performance, in a growing relationship with indetermination. If in the early twentieth century, Le Corbusier, one of the exponents of modern architecture, proposed the “architectural walk” as a major innovation, in which the local would unveil the architecture as he walked by it, we see today architectures where the body not only reveals the space but actually changes the qualities of space itself when it moves. Here, the body actually begins to “build” the architecture, certainly an architecture that makes and remakes itself in the relationship with the inhabitant. In this participation, in seeing and being seen, is the establishment of a critical distance between the audience and the performer. In fact, the emergence of this dividing line is what distinguished the ritual of other events, such as theater and dance. In this sense, the act of living approached more the ritual than the performance, since in architecture the resident is simultaneously performer and audience, operating a fluid exchange in that function of seeing and being seen. Thus, the act of living would resemble the ritual, while reaffirming a worldview, and the performance while reinstating another vision of world. I think the architecture reaffirms and ensures the place of my body in the world and the performance questions and repurposes the place of this body in the world.
Such irreversibility created a particularly fruitful time with regards to the insertion of the body in the world, our existence as inhabitants beigns of a singular time and space and it seems to signal a broader inclusion of my body in the entirety of the world, including in the entirety of a world that this body reinvents and builds. Marcus Vinícius Buenos Aires, April 2011 (Text originally published on the magazine Reticências… Crítica de Arte, n.3. Fortaleza, 2011)
13 In 2007 I realized two actions of the series Ocupação urbana experimental, the first on Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, popularly known as Beira-Mar, in Vitória; and the second in front of the Paróquia Santo Antônio da Sé, in the city of Diamantina, in Minas Gerais - during the artistic residency at the ACasa project. 14 I’ve been using the term Estratégias do corpo in poetic processes from 2007 until the present day. The term has a strong relationship with the field of science, but my interest are the unlimited strategies launched in the field of art, its new and ongoing opportunities. My strategies operate as a small device that awakens the sensitivity from the most intimate, the small gesture, using simple everyday materials and resources, creating casual encounters and furtive possibility of a poetic adventure.
PASSAGE JOURNAL – RUSSIA “My time is coming. Once again, I’m on the border”. Gonzalo Beladrich Bolivia, p. 124 Yesterday, August 13, 2010, walking aimlessly through the streets of the magnificent city of Saint Petersburg, It
finally dawned on me. After ten days in the city, surviving on my average English, I realized I’m really in Russia. Yes, in Russia! Another continent, another hemisphere, another reality. Being here, I could feel that the boy who dreamed of flying, took wings. And flew! Yes, I got it. I’m far away, but not only by the geographical distance between my current country of residence and the place where I am. But I say this because now I can see (and feel) the proportion that my work took on soon after so many years of creation, projects, experience. As in a movie, I walked the Bolsheokhtinskly Bridge and remembered nostalgically of all places, people and landscapes I met. Being in Russia is like a dream, something never imagined. But it’s been a while since I learned that “life is better than dream.” So come on... I follow my way... learning, smiling, wishing, searching and finding. Getting here was not easy, not only by the 16-hour trip. Coming here, meeting with Marcus Vinícius, it was not easy. So much had to happen. Many were the tears shed from my eyes (and not only mine) many hugs were shared, many beers were drunk. Besides, many hours sitting in front of my old fellow writing and creating poetry that makes me happy... the art that makes me pursue my nomadic horizon daily. Yesterday, I heard the voice of my heart saying at small voice that it was time to share. In a state of euphoria, I came home grinning like a boy on Children’s Day and connected the good old Skype and gradually I called those special beings in my life. And listening to those voices, those smiles surprised to hear from so far ... Oh, this is priceless. Hearing the cry of my great friend Soledad Velazquez,
the euphoria of Verónica Meloni, interrupting a meeting of Carol Veiga, breaking the silence of Juan Manuel Sogo, the strips of humor Julio Pitek, the gracious (and beautiful) Mexican surprise of my dear Miguel, the silly questions of my little sister Thais, the surprise of my dear mother Kelsia and many other reactions that I heard tonight, made me see how much life has been good to me. Some could not answer my call, I did not have the numbers of others, but feel yourselves very loved and remembered. Where I walked, I met joy, love, gratitude. To friends and loved ones, thank you for being part of my life and also for being part of the way I traveled to get here. The funniest thing of all was to hear from almost all of you, “Marcus, you’re crazy!”. Yes, I’m crazy for life. Crazy for art. Mad to live life intensely, always looking for the bright side of things. I know we have very little time here, and everything goes so fast... and here comes that wise saying: “Damned if you do, damned if you don’t”. So... Days ago, I gave an interview to the newspaper Сahkt Петербургские ведомости - one of the main newspapers of the city of Saint Petersburg and in a moment the journalist asked what, for me, doing a performance meant. I silenced. And soon after, I repliedt that for me, doing a performance is simply living. It is to be connected with the world, with the other, with space, with time. And it’s that simple. Here in Saint Petersburg I’m doing the project A imensidão íntima, in the VIII International Festival of Experimental Arts. This project was born while in the city of La Plata, more precisely on the afternoon of June 14, 2009, when I went up to the “la terraza” of that house where I was so happy and I realized that I could break the silence of the landscape and cause
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thuds that could reverberate on other looks. The project A imensidão íntima, extracted from title of the book The Poetics of Space, by the French philosopher Gaston Bachelard, deals with the man’s daily life and building of himself in a permanent and natural relationship of affection with his own body, its surroundings, the nature, places, things. The idea was to cross city paths, visiting places, landscapes, meeting people, sharing experiences, producing meetings, gathering and recording views and buildings of this being and its bonds. At one point, I silence and an Other seals my eyes with a black cloth that completely prevents my vision. This other grants me his hand and together we walked through the city for an indefinite time. That path is the encounter with my intimate immensity. 216
“Close your fleshly eye to see the image first with the eye of spirit; then bring to light what you saw in darkness so that the image generated may exist above the others from the outside in.”(Caspar David Friedrich). In many instances, I get emotional. I can not hold back the tears. And I insist, for me, it is a huge thrill to be here. The act of getting into my personal memory and setting up a close look inside becomes a movement of resistance against the apathy and amnesia generated by an overwhelming panorama of external surpluses. The intimate immensity speaks of desire. Desire as a place of transformation of our being, even if it is only for a few seconds to open a universe that unifies past and future, when we create an intermediate zone (timeless), when we can be whatever we want. Furthermore, allow me to say that the desire is put into the body. The body,
as the locus of the desire, producer of senses, becomes power itself: A vibrating body, political, without necessarily being violent, which is not subject to detention or to being domesticated, escaping the mechanisms of domination and control. In my intimate immensity, the body is the place of inflection of reality. And the immensity is in us.
so many beautiful people. Everything here is so great! The whole time, I walk looking up. The unique beauty of the old buildings, the traffic chaos, the white skins that seem to jump out of a painting, green eyes that multiply, the female elegance, the elder arrogance inherited from the former Soviet Union, the extreme male beauty. It’s all here, saved in my memory.
I greatly appreciate my family that, by leaps and bounds, will always be by my side. Because they learned to trust me and are now my main motivators. Thank you for everything you have done and are still doing for me. And love is something that is priceless.
And no explanation is required, if the heart beats strong and burns...
Now I’m here, alone, on the 6th floor of an old building in the center of Saint Petersburg. It is the studio of the divine local artist Maria Casan, who still believes in the strength of painting and beautifully practices such exercise. Through a small window, I see a lot of bars, wires and cables. Everything here is so dry, so hard, so rough. I remember many of the amazing days when I was in Poland, that immensely beautiful country and full of history to tell; but with a sadness rooted in the heart. Saint Petersburg may also be so. Issues of this history, right. I remember having learned in geography lessons that Russia was a cold country, just the thought of it was chilling. And here, stepping on these lands, I realized I was wrong all this time; because hell is here. Can anyone imagine a temperature of 40ºC in Russia? No. Neither did I, until the time I lived this experience. Saint Petersburg 40 ° C, city of beauty and chaos. But I tell you one thing: this city is immensely beautiful! And it is of an inexplicable magnitude. My eyes have seen so many beautiful things,
Marcus Vinícius St. Petersburg, August 14, 2010 THE LANDSCAPES I MADE MINE OR WHERE I BROKE THE SILENCE OF THE HORIZON AND PROVOKED RUMOURS THAT RESONATED IN OTHER POINTS OF VIEW “The trip is always a search and gives the ilusion of looking at the life, to find something that is enough; perhaps the ilusion of searching for yurself. The trip here is presented as the ‘interpreter’ of an animistic geography, an inner landscape, instead of a physcal one.” (Daniel Capano, El errático juego de la imaginación: La poética de Antonio Tabucchi) Now I’m in a city, another city, a little alien, hot, a city where no one knows me. I’m here to wander. Visiting a generous friend, a friend who is always inviting me to come. I speak of me, the art that I know very well that is, of love, of the complexity of feelings. My parents are out, I think of my sister who is near and far following me in memory, which is always nostalgic, as well as my friends who insist on asking when I will return.
Everything is intense as the sea and of the waves. And I wonder: how long? Until forever. I wander through its streets, turn around corners, cross squares, I find pieces of myself in that city, far from my other pieces that are scattered, far apart from each ther. Is that why I see myself expanded, growing in size, taking the form of landscapes I walk to gather my pieces? Sometimes I do not recognize myself, I need to get away from me, fly, glide low over the territory I occupy. From that point I see myself and so I found myself on Friday, fragmented into a strange, gray city, reconnecting with my pieces, which are essential to support the full heart that is never complete. These small pieces from running my scars with their look: where else have we met? Today I remember the cities of the past, and together we draw the outline of the journey and then think about the future in silence. Marcus Vinícius (Text prepared in 2012 for the photo exhibition Los paisajes que hice mios, unrealized)
THE HORIZON’S EDGE Here, we gathered works dealing with what Marcus Vinícius said to be a confused consciousness of being in the world, the recognition of precariousness. I always get lost in the silence that my body makes me listen, and in which I listen to myself, the artist wrote, referring to the work A presença do mundo em mim. This is a set of works carried out during the third European tour (2011), which began in the artistic residency that took place in the neighboring towns of Haparanda (Sweden)
and Tornio (Finland). Besides these two countries, the tour traveled cities of Estonia, Norway, Latvia and southern France. We start the course by the photographic series Domestic Reactions involving micro-interventions conducted a house-studio in Tornio. In common, we have a quirky sense of humor throughout the set of images and the look of homemade work, taking advantage of the ease and spontaneity that a private space can provide, in a dialogue that, according to the artist, involves several moments of the history of art of the twentieth century (Surrealism, Dada, Fluxus, Conceptual art, Minimalism and artists such as Bruce Nauman, Oskar Schlemmer, Alexander Calder and Fischli & Weiss), and the elements of collective imaginary and pop culture. The series Behind applies part of this imaginary in an action held within an IKEA store (Scandinavian megastore for decoration and houseware), in the city of Haparanda. In both works, the very idea of mask, often present in the universe of Marcus’ actions, is also subverted - less as a process of individuation of affections condensed in the artist’s body and face during the performative act and more as part of a chameleonic game aware of its spontaneity, its fugitive character. In The Horizon’s Edge, another exercise of camouflage, this time executed with the precision of a ritual (the choice of a library space has, here, an essential symbolism), has as its epigraph a magnification desire, anticipating the resistance works and spiritual enhancement that will be held as from this season: Free to grow, mature and search my own borders. Another new world to rise up above the unlimited horizons of my experiences. But the use of candles
(including as masks) in the series A presença do mundo em mim – partes I e II is assumed as part of an initiatory rite of the exploration of of such limits, inaugurating a series of interventions in which overcoming the flesh itself is a starting point for an intense emotional and spiritual transformation. No wonder, one of the following works is Before the dawn... that be endless, a 24-hour marathon in a day without night in the Swedish summer, a process of self-knowledge necessary to build a world where the artist can appease his own obsessions. In Marcus’s words: I grope the darkness to find myself. (...) There is a slight shake and it is inaudible, but I can hear the trepidation with the body. (...) For 24 hours, shut myself up. Transport a damp gleam in my eyes.In the isolation of my world, without looking back. The glow of wax. In that cubicle covered with plastic, I present a piece of me and my emptiness. Silence. Now, scars. Minor burns. Pain throughout the whole body. However, the desire to do everything for the night shines... it is the poetry. And before dawn, that be endless. Nowhere is the absolute silence of light, the black opacity of the world: this is the incantation that engenders Distant Closeness. In this work, it challenges the risk of one’s physical blindness when obssessively confronting with the light and warmth of intense spotlights lit around the bare and lonely body of the performer. bright lights that invade his body, injuring his eyes and skin, but also opening to other perceptual possibilities unleashed by these extreme sensations. The arrangement of the reflectors (in three variations made, were used, respectively, six, one and fifteen of them) before the motionless sitting body, seen by the viewer as sculptural form, that intends to produce at the same time,
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visual fascination and aversion (once that activates the sensory image memory of the viewer regarding the heat and the amount of light). The focus is the body itself, as a means through which we perceive and are perceived, situation taken to the extreme when it allows the public to glimpse the slow and gradual artist body wear out, subjected to prolonged contact with such high temperatures. Unlimited clarity, inexhaustible transparency of the world, of the being. Clarity, transparency - for oneself, only for oneself, says the text in which Marcus verbalizes the impressions resulting from this experience.
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When Las orillas sín rio also leads us to ideas of isolation and motionless contemplation, When the dreams die...? Is a project defined by the artist as “an attempt to cross a border, the desperate need to cancel something, in order to rebuild it.” A ritual that starts from a face covered by dozens of stones, an initial blindness able to trigger a desiring flow - after all, it is with these same stones that he builds, as in a trance, the suit-armor that will assist him in this crossing of the boundaries of his own conscience, and perhaps experience what lies beyond sense. Erly Vieira Jr THE PRESENCE OF THE WORLD IN ME (PART I) Looking from the inside out. And also looking from the outside in: that’s how I change. I am my own mirror. I always get lost in the silence that my body makes me listen, and in which I listen to myslef. Haunts me the depth of this emptiness that demands the presence of the other and that surprises me, but which is an ongoing process of filling up yourself.
Before that fogged the mirror I see the internal movements of my body, the rhythm of my blood, viscera, all this life indelebly carved into my penumbral consciousness of what I am, marks of a being missing at every instant, and yet, always myself. Now the body has something of indomitable, ungraspable. The world as it exists outside of me is not in itself untouchable, it is always, in a paramount way, in the order of the sensible: the visible, audible, tangible. Awakes in me this confused consciousness of being in the world, confused consciousness, prior to my affections, my thoughts, and that is like an impurity overloading the pure thought... that, in my human condition, is imposed on my body. Body without limits, beyond which extends a properly impenetrable individuation zone. The side of the discovery, adventure, the necessarily unfinished aspect, incomplete, as of all pleasure. The body is never perfectly integrated neither in the group, nor in me. Loses itself. It remains alien to the consciousness of feeling. This is the environment where I develop myself. The body facts are never given neither as a feeling, nor as a memory; however, I have not but my body to manifest them. Every presence is precarious, threatened. My own presence to me is as threatened as the presence of the world in me, and my presence in the world.
THE REVERIE, HERE AND NOW The answers to our existential questions may not be limited to the physical world we perceive. Not only do we see the world through the eyes, but also with dreams. With these words Marcus Vinícius describes the triad of performances of the project Not only in this world (2011), but that could also sound like a motto for much of the work of the final phase of his career. The attempts to transpose the body’s borders, so frequent in the course of the artist’s career, will unfold in so many and such different layers of meaning that they reach the point of transmuting into a hopeless desire to taste his own unconsciousness. After challenging the possibility of physical blindness, what is left, besides opening himself to the unpredictable powers of clairvoyance and immateriality? Fragmentos de pequeños pensamentos (2011), which evokes the becoming-animal of the humanity conceived by Antonin Artaud is an invitation to experience the reverie. Whereas d.olor (2011) proposes to purge the body while exhaling pain, carved in the trunk of the aromatic tree. You must change your life, performance inspired by the last stanza of a poem by Rainer Maria Rilke on Apollo’s torso, speaks of a sculpture without head, which seems to look at us with rigor and strength, even though its eyes are not there, thanks to the glow that it seems to emanate, as much as his petrified body is, at first, solid and opaque.
Marcus Vinícius Everything imaginable can be dreamed (2012) is a video inspired by Hypatia, one of the Invisible Cities by Italo Calvino (1990, p. 47), described as: “Of all the language changes the traveler must face in distant lands
none compares to that expected in the city of Hypatia, because it does not refer to words, but to things.” It is a place marked by a language whose signs we do not understand, since its objects and situations also present in the banality of our everyday world, reappear in this locality in ways that do not sound whatsoever familiar. The artist’s desire to seek an invented place, prepared in accordance to truly idiosyncratic rules, finally achieved after such long and strenuous journey, also has as strong reference the book Espèces d’espace, portrait of the writer’s, Georges Perec, wanderings in Paris in the 1970s - and that was a strong reference to the urban drift exercises in the early days of Marcus Vinícius career while still a student at the college of Visual Arts.
period, the golden dyed skin from rare shrubs that grow in the region, to then undertake his journey through the bounds of reason, as in the encounter with the unsayable, often spoken about by the philosopher Georges Bataille in his book Inner experience. And, once exhausted the physical body and un-limited the conscience, one may experience the feeling that it is not only the desert that moves. And, who knows, fondle other sands not yet-imagined.
obsession, a body without organs. An intuition about other corporeality, which is also another experience of being, that one thought by Foucault or Deleuze.
Erly Vieira Jr
It does not cease to be.
O visível e o inconsciente (2012), starts from a stretch of the journals of the Argentine poet Alejandra Pizarnik, particularly from the following passage, dated December 18, 1960: “What can a castaway dream, but that caresses the sands of the beach?” This image of absolute solitude and some reverie is echoed in the image proposed by the original version (and non-realized) project, where the performer, buried to the chest, remains motionless in the center of a room taken by the desert sands. Marcus described this image as a “hallucinatory landscape, located on a map of dreams”: a dialogue between interior and exterior, natural world and artificial, which, in my view, takes us to a personal and sensitive phantasmagoric desire. Transposing the room boundaries to the vastness of the Gobi Desert, where the performance was effectively held, Marcus patiently builds, a kind of nest (or would it be a bed?) with stones gathered in the vicinity. In it, his body rests feverish under the sun for a long
And there is a nostalgia not only to order the thinkable, but also to think about the lived and live the thought. I want to live the real presence, not its representation. Everything is becoming. Movements without concessions. I repeat with a new impetus the experience: this strange flow of life that is born in the center - mysterious void that can not be stopped by my writing.
FRAGMENTS OF SMALL THOUGHTS Regress.
Noise. Here, everything is oblique, everything is cloudy. The paradoxical way of what found without search is confirmed in the performnace Fragmentos de pequenos pensamentos, in which reveal the living animal, “the intelligent animal that seeks, but does not seek the search”, as Antonin Artaud said. The human animal that who senses the space. The space in which the infinity operates. And the experience of this rambling and inexhaustible power needs another body. With insight and
My saying is only motif of haunting motif and fun; or, of course, of indifference. My call to transformation is not heard. This sibyline voice is not heard, nor it this reinvented body, without organs. And that lowers among many turnmoils.
Marcus Vinícius (November 2011) THE VISIBLE AND THE UNCONSCIOUS Marcus Vinícius When I arrive in the Gobi Desert, the surprise of silence. Silence is petrified. The silence of waiting. I felt a very strong energy exchange with the place and I think in the challenge is to be in Mongolia and to face the emergence of subjects, energies and informations exploding all around and that would oblige me to open more than eyes, ears and mind. Open body. Body handed over to the desert. Magically, walking by the desert looking for a place to performing, I find a golden branch fallen on the ground between stones and flowers. I feel a force shine intensely, look around and see that I’m surrounded by Golden Trees (Altan Hargana). These golden plants born in the entire desert, not grows more than 50 cm and should never be removed from the land because the trees are the protection of
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families living here. Definitely, this was the place where I would perform. In the desert we don’t see any trees except the Golden Trees and I wish to be a tree for a moment spiritual and poetical. I remember the Brazilian author Manoel de Barros saying that “there’s in the detached trees a higher assimilation of horizons. So, there I was, alone. The performance located me in a space where the visible converge and the unconscious in an exploratory approach of my physical and psychological vulnerability, as an attempt to understand my way of acting or living. I believe that a sense of melancholy dies under every moving art experience: despite the temporality of immaterial beauty. The art projects an ideal 220
unachievable, the ideal of beauty that touch momentarily the eternal. The stones that I placed around the hole are pictures and brands of steps. The landscape that surrounds my body reflects its possible action on it. The stones articulate the force of the land around my body. The movement, equilibrium and scale feel unconsciously through the body as tensions. Numerous body and spiritual sensations was lived during the process of this work. The Argentine author Jorge Luis Borges said that “the imminence of a revelation that cannot occur is, perhaps, made aesthetic”. In this performance I realizes an absorbing sense of imminence, the motion, as if to be static, however impressive and eternal it may seem, was about to break as if it were an instant freeze intense of inert things.
Is not just the desert that moves. The performance The visible and the unconscious results in a path through the interior spaces noisy but full of sentient life, combining her charms at a dance illusion of beauty unmoved and lonely. The artist is warrior. And the war never ends. Marcus Vinícius August 2012 (Text originally published in English in the catalogue Mongolia 360º - 2nd Land Art Biennial)
PRESENCES (Not-realized projects by Marcus Vinícius) NOBODY WILL KNOW, NOT EVEN ME (Performance 2011) Materials: White bathtub or glass box 10 servings of artemias The artemias are restless beings by nature, small, they never stop moving. They have a short life span of about two and a half months. The performer will remain in the tub for an indefinite time. The tub can be replaced by a glass box 220 cm x 100 cm with a wooden base. The performance Ninguém saberá, nem sequer eu arises from the idea of a diffuse body, that loses definition in its
actions. I imagine a body of imprecise or inaccurate boundaries for which the intention of its trigger is vague and almost meaningless. I want to question the way through which this body expresses itself, and abandon its collection of gestures and learned skills. Immerse and submerge in another world. ORDER (Performance 2011) The clock used as brick, is the lowest common denominator in a multidimensional dialogue in the performance Ordem: the symbolism of the wall, the architectural transformation, the building of the society, the urbanization and the mass production techniques. These ideas are thrown into the performer’s body in this performance, in which he fills the space of a door with hundreds of watches and ends when he destroys all of them. The door is opened. The performer lies down on the floor and watches are then unloaded from a large box. With the clocks, a wall is built on the legs of the performer, at the ankles. The watches set the pace at the same time emphasizing the temporary nature of the wall itself. Time lapse. Not only, since its inception, the wall maintains its own destruction: the freedom of the body is not complete when you reach the consciousness of time - it also implies its recurrence. It is necessary to wait the arrival of the audience who will collectively build the wall, watch by watch. Examined closely, the body-clockbrick range searches an untied
temporality, beyond mere progression, linking it to a subjective experience of time. The obsessive movement collides with the bricks-clocks to free the body lying on the ground. In the end, everything is reduced to rubble. Ordem speaks of a symbolic repetition, anarchy, the continued engendering of the work in the temporal plan and within the deformation of the existing orders. Materials 100 small Chinese watches A room with a door Duration One hour (approximately)
The line of flight, an alternative exit for the man (the schizoid flight) exceeded a certain existential dimension. According to Deleuze & Guattari, the “becoming animal” is a steady and in the same place trip, which oneself can only live and understand as an overcoming of the intensity threshold, hence the relevance of the statement of Kaf ka: “I I live here only to exist within a small word that loses inflection for a moment, my worthless head (...) “what I feel is similar to the fish”. There is similarity or analogy between the behavior of a man and an animal: for Deleuze, there is neither man nor animal, since each of the two deterritorializes a conjunction of flows, an irreversible continuum of intensities.
LINES OF FLIGHT
Description
(Performance-instalation, 2011)
The performer enters a dark room carrying 22 pounds of fish. In the center of the room are a chair and next to it a medium size plant. The performer sits on the chair and starts to drill all the fish and sew them to his body, slowly. When all the fish are tailored to his body, the performer gets up and heads to the tree, removes it from the vessel and places his head in it, covering it with earth. When the performance ends, the performer cuts the line that holds the fish to his body and leaves the room.
The performance-installation shows the similarities between humans and animals as a search for freedom, in the light of Deleuze’s concept of becoming and the short stories Metamorphosis by Franz Kaf ka and Meu tio o uncle iauretê by Guimarães Rosa. The performance should be held at the exhibition opening. Throughout the exhibition, a video recording of the performance will be presented in addition to the materials used in it. At f irst, everything in my world seems sad, and I walk alone in the dark. However, the enchantment and the suspension characterize the performance. Everything is empty, the fish are windows, houses are streets.
Materials 01 body, 01 chair, 01 small tree, 22 pounds of fish, 01 fishing needle, 50 m of nylon 50m 6m x 2.20m Duration One hour
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Danilo Moreira Xavier
Maria Bethânia
Denise Alves-Rodrigues
Maria Fedorova
Diego Stickar
Mariana Alvarez
Érika de Souza
Domix Garrido
Mario Páez (MarioKissMe)
Jimmy Rangel
Elaine Pinheiro
Mariusz Marchewa
Kelsia Sátiro de Souza
Elina Rodriguez
Marne Lucas
Larissa Caus Delbone
Fabricio Coradello
Mary Telles
Lucia Caus
Federico Feliziani
Maurílio Mendonça
Neusa Mendes
Felipe Mattar
Mónica Luisa Garcia
Rubiane Maia
Filipe Dell’Antonio
Monica Nitz
Shima
Fran de Oliveira
Monique Mossefin
Verónica Meloni
Gabriel Menotti
Rafael Massena
Waldir Segundo
Gabriel Perroni
Renan Andrade
Gabriela Santos Alves
Ricardo Maurício Gonzaga
Ghustavo Távora
Sandra Baziz
Heleni Novaes Vieira
Santy Gasquet
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
AGRADECIMENTOS
Johannes Blomqvist
Selma de Jesus Da Vitória
Al Paldrok
Josefina Muslera
Tales Frey
Amanda Freitas
Joyce Castello
Tete Rocha
Ana Cecília Soares
Julio Callado
Thaís Oliveira
Andrea Cristina dos Santos
Julio Martins
Tzitzi Barrantes
Annika Kronqvist
Junior Pimenta
Ursula Dart
Bernadette Rubim
Kenny Neoob
Valeria Cotaimich
Catarina Linhales
Kimmo Hokkanen
Ville Karel
Claire
Luara Monteiro
Yury Aires
Cleonisse Ribeiro da Silva
Marcelo Pelissier
Livro impresso utilizando os papéis Offset 180g/m2 e Avena 90g/m2 para o miolo, Colorplus Milano para o guardo e Couchê Fosco para a capa.
As fontes utilizadas foram Bitter Bold para os títulos e Bembo para o corpo de texto.
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
V658m
Marcus Vinícius: a presença do mundo em mim / Erly Vieira Jr, organizador. - Vitória, ES: Pedregulho, 2016. 210 p. ; 24cm.
ISBN: 978-85-67678-18-4
1. Arte contemporânea - século XXI. 2. Arte da performance. 3. Fotografia. 4. Vídeo. I. Título. I. Vieira Jr, Erly. II. Vinícius, Marcus
CDU: 7.038.5 ,
EDITORAPEDREGULHO.COM
ISBN 978-85-67678-18-4