Gizamundo - leia um trecho

“A minha escola ensina que embaixo dos medos habitam os desejos.

Que fazer de conta é tão importante quanto fazer conta.

A minha escola ensina que eu sou o que sempre quis ser: sonhadora profissional.”

Gizamundo apoio

Auro Danny Lescher e Demis Menéndez Sánchez textos Otavio Fabro (Ota) ilustrações

2011

Categoria Formação de Educadores para o Trabalho

Programa Projeto Formação Quixote para o Mundo do Trabalho Associação de apoio ao projeto quixote

São Paulo - SP

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Gizamundo

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Copyright@ 2013 Projeto Quixote Equipe Projeto Quixote Graziela Bedoian editora Auro Danny Lescher e Demis Menéndez Sánchez textos Otavio Fabro (Ota) ilustrações Vinicius Magnun colaboração Equipe Peirópolis Renata Farhat Borges, Susana Ventura e Silvia Amstalden editores Silvia Amstalden projeto gráfico e diagramação Alexandra Abdala produção gráfica Impressão Yangraf Editado conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990.

1ª edição, 2013

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Lescher, Auro Danny Gizamundo / Auro Danny Lescher, Demis Menéndez Sánchez; ilustrado por Otavio Fabro (Ota). São Paulo: Peirópolis, 2013. il., color.

Projeto Quixote ISBN: 978-85-7596-322-7 1. Literatura infantojuvenil I. Título II. Sánchez, Demis Menéndez III. Fabro, Otavio IV. Projeto Quixote 13-0608 CDD 028.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura infantojuvenil

Editora Peirópolis Ltda.

Rua Girassol, 128 - Vila Madalena 05433-000 São Paulo, SP, Brasil Tel. 55 11 3816-0699 e fax 55 11 3816-6718 vendas@editorapeiropolis.com.br www.editorapeiropolis.com.br

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Projeto Quixote Av. Eng. Luís Gomes Cardim Sangirardi, 789 - Vila Mariana 04112-080 São Paulo, SP, Brasil Tel. 55 11 5083-0449 | +55 11 5572-8433 www.projetoquixote.org.br

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Um só mundo Gizamundo, inspirado nos percursos, angústias, desafios e alegrias de uma personagem real, desenha a complexa circulação entre dois mundos bem diferentes.

Giza lembra suas origens, o peso de morar na periferia, ter a casa alagada, a louça para lavar, os irmãos para olhar, e ao mesmo tempo sente as exigências do trabalho, suas regras, etiquetas e o futuro promissor.

Foxy, cachecol companheiro, aconchega e aconselha nos momentos em que esses dois mundos se chocam.

No trânsito, Giza faz suas descobertas. Ser menina-mulher, profissional, ter emprego-trabalho, escolher. Dois universos vão se cruzando na leitura, em prosa e em verso. Na sobrecapa, um mapa-pôster afetivo, um breve registro de todas essas vivências.

Em Giza, todos nós, e todos os nós de ser jovem, brasileira e sonhadora profissional.

Uma só Giza, um só mundo, tudo junto, Gizamundo.

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Giza sai de casa às pressas. Pega seu cachecol-raposa e os livros da escola. Corre até o ponto e chega junto com o lotação, sentido centro. Passa o bilhete e gira a catraca. Nos fones de ouvido, entre bandas estrangeiras e sertanejo universitário, ela segue alguma letra, arrisca e canta. Quem diria que seu apego por sapatos a levaria até uma loja do Brás? Depois de carregar caixas e limpar o chão, vai ao banheiro, põe um pouco de rímel e coloca o avental de vendedora. Tem vezes que é bom e vezes que não a tratam bem.

Mas ela gosta é de ver todos os modelos de calçado, sentir as texturas, perceber os saltos, olhar os desenhos. “Coisa de menina, viu?”, falou o seu cachecol-raposa, e Giza prendendo com a mão o focinho dele: “Foxy, vão te escutar!”. Voltava só o pó para casa, dormindo na condução até o ponto final. A rua estava silenciosa; pelo horário, a novela estava para acabar. Na frente dela, só sua sombra caminhava. E Giza lhe sorriu.

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No dia em que Giza se demitiu da lojinha de sapatos, uma nova alegria colocou-se entre seus lábios. Havia trabalhado aos finais de semana e de tarde. Tinha acreditado nos cursos. Inacreditável era não ter abandonado a escola nem as festas dos colegas de sala.

Quando pela primeira vez olhou pelas imensas janelas da empresa e viu a cidade aos seus pés, não sentiu medo. “Eu mereço isto.” Era sua vontade. Importante para ela viver em silêncio, solitariamente, seu novo despertar. Era o começo do seu futuro, e Giza o segurava com consciência, como se soubesse que cada sonho seu poderia se tornar real.

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Nuvens apareceram sobre os prédios e fizeram sombra nos vidros foscos, escurecendo a cidade. Respingou nas janelas. Uma, duas, várias vezes. Um relâmpago silencioso iluminou o rosto nervosíssimo, fechado, de Giza. Ninguém ao seu redor preocupava-se com a chuva, e ouviu até uma colega dizer “ainda bem que é agora, e não no final de semana!”. Enviou uma mensagem para a mãe e não recebeu resposta. Todo verão era igual: chuva caindo, rio transbordando, enchente subindo, casa alagando. Dessa trágica poesia já conhecia cada verso. “Hoje teremos uma péssima noite, amiga”, lhe disse Foxy, enquanto Giza trocava sapatos por chinelos antes de sair do prédio onde trabalhava.

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