A mão e a luva em quadrinhos

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MACHADO DE ASSIS (1839 – 1908) nasceu no

ALEX MIR nasceu em São Bernardo do Campo,­

ALEX GENARO nasceu no Rio de Janeiro. É i­lustrador dos livros de RPG Maytréia e Rebe­ lião – ascensão e queda (editora Daemon) junto com seus suplementos, e colaborador da revista Coquetel da Ediouro Publicações. Já teve trabalhos publicados em revistas independentes como Escribas do inferno, Impacto, Tem­ pestade cerebral e Lorde Kramus. Participou, junto com Alex Mir, da coletânea ­Imaginários HQ, lançada pela editora Draco. Gosta de desenhar enquanto ouve músicas sem ­letra e curte ­filmes de terror B.

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por ALEX MIR & ALEX GENARO

São Paulo. É escritor, roteirista e editor. Seus primeiros trabalhos foram os independentes Defensores da pátria e Tempestade cerebral, nos quais atuou como editor e roteirista. Entre outros trabalhos nos quadrinhos, é responsável pelo roteiro dos álbuns O mistério da mula sem cabeça e Orixás – do Orum ao Ayê. Este último integra a lista do PNBE 2013. É vencedor do Prêmio HQMix 2010 como roteirista revelação. Como escritor, tem contos publicados em livros como Asgard: a saga dos nove reinos, Tratado secreto de magia, Moedas para o barqueiro, O Grimoire dos vampiros e Histó­ rias liliputianas. Vive em Mauá, São Paulo, com ­esposa e filha.

Uma moça de personalidade forte, três pretendentes à sua mão, uma madrinha amorosa e uma governanta inglesa que imagina saber o que é melhor para todos. Estes são os personagens de A mão e a luva, a marcante obra de tons românticos escrita por Machado de Assis e adaptada para os quadrinhos pelos talentosos Alex Mir e Alex Genaro.

A MÃO E A LUVA EM QUADRINHOS

Rio de Janeiro ainda no período da escravidão. Filho de mãe escrava, é considerado, pelo crítico literário Harold Bloom, um verdadeiro milagre das letras brasileiras. Até alcançar o respeito de seus pares, Machado trabalhou como tipógrafo e, mais tarde, como revisor. Em 1873, entrou para o Ministério da Agricultura, onde trabalhou até a aposentadoria, poucos anos antes da sua morte. Cultivou quase todos os gêneros literários, destacando-se como ficcionista. Alguns de seus romances mais conhecidos, como A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878) foram lançados inicialmente no formato de folhetim. Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), também surgido como folhetim, é considerado o marco inicial do realismo brasileiro. Sua obra mais conhecida é Dom Casmurro.

A mão e a luva foi publicado originalmente em capítulos diários, em 1874, no então popular formato de folhetim, pelo jornal O Globo. Precursor das novelas de rádio e televisão, o romance de folhetim era apresentado em capítulos que geralmente acabavam em suspense, deixando um “gancho” para forçar o leitor a comprar a próxima edição do periódico de maneira a descobrir os acontecimentos seguintes da trama. Influenciado pelo movimento romântico da literatura, tão em voga à época, A mão e a luva traz um estilo um tanto diferente daquele que marcaria a obra de Machado de Assis. Porém, os críticos e estudiosos do autor notam que uma de suas características mais marcantes, o sarcasmo, já se fazia presente. A obra também se destaca pela apresentação de personagens femininas complexas e bem delineadas. Afilhada órfã de uma rica baronesa, a astuta e decidida Guiomar, de 17 anos, é disputada por três pretendentes que, a rigor, não parecem merecedores de uma personalidade tão forte quanto ela. A tônica da trama é a ambição e o desejo de ascensão social no rigoroso estatuto social burguês da época. O enredo cheio de meandros e reviravoltas conquista com facilidade o leitor, que desejará saber quem será o escolhido de Guiomar, aquele que lhe cabe na mão como luva. Em meio a uma batalha de palavras, intrigas, ­sentimentos e ressentimentos, também tem papel importante a ardilosa governanta inglesa Mrs. Oswald, que tenta influenciar o desfecho da história e os destinos de todos. Com rara sensibilidade, o roteirista Alex Mir e o desenhista Alex Genaro, fãs da obra machadiana, utilizam os vastos recursos das histórias em quadrinhos para transpor A mão e a luva para uma mídia que guarda muitas semelhanças, em suas origens, com o próprio folhetim. Entre esses recursos, estão a divisão desta adaptação em dezenove capítulos que recriam a estrutura da obra original e uma apurada recriação visual do Rio de Janeiro no período do Império, elementos que trazem à vida de maneira inédita um dos livros mais apaixonantes de Machado de Assis.

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Uma história entre o Romantismo e Machado de Assis Entrar em contato pela primeira vez com um grande clássico pode ser uma aventura perigosa. Um texto que já possui uma reputação inquestionável normalmente coloca o leitor frente à tarefa de desvendar o que faz aquela obra tão importante dentro do panorama da literatura. A despeito de qualquer imagem que se possa ter a respeito do grande bruxo do Cosme Velho, como ficou conhecido Machado de Assis ao final de sua carreira, A mão e a luva é uma história simples, comovente e que carrega uma grata surpresa a cada página que se descobre. A protagonista Guiomar, moça forte e decidida, criada pela madrinha, precisa escolher com qual dos pretendentes deve se casar. Apresentada como uma mulher enigmática e misteriosa, como a maioria das personagens femininas do autor, o verdadeiro desejo de Guiomar é mantido em segredo até o último momento. O livro convida o leitor a desvendar o que ela realmente sente, e quais os mistérios de sua história pregressa que a impedem de simplesmente seguir seu coração. Publicado pela primeira vez em 1874, A mão e a luva é o segundo romance de Machado de Assis. Ainda iniciante e inexperiente, o autor propõe uma interessante discussão acerca da condição feminina no Brasil de D. Pedro II, muito antes desse assunto se tornar pauta obrigatória na vida em sociedade. Machado, que, tendo sido pobre e mulato, sofreu todo o tipo de preconceito e discriminação em uma época de decadência da economia cafeeira e do tráfico negreiro, cria uma protagonista que pode ser, em vários aspectos, uma versão feminina do próprio autor, que deveu muito do que se tornou ao apoio da madrinha, que o introduziu na sociedade letrada. A roupagem dos quadrinhos torna essa aventura mais convidativa e aconche­gante. A bela adaptação de Alex Genaro e Alex Mir nos coloca em contato direto com as reflexões de um jovem Machado de Assis, que retrata o Rio de Janeiro de maneira tão peculiar, apresentando uma visão que já contrariava o modelo idealizado dos romances românticos do período, mesmo ainda não correspondendo àquilo que conhecemos do Machado realista ensinado nas escolas. Ler um clássico nunca é realmente simples, mas presenciar o encontro entre dois talentosos quadrinistas e o imortal autor carioca, na empreitada de apresentar um Machado de Assis que poucos conhecem – emoldurado por desenhos coloridos e atraentes –, com certeza impulsionará o leitor a uma descoberta que tem tudo para ser mais uma experiência transformadora. MAURÍCIO SOARES FILHO

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Capítulo I

Rua da Constituição. 1853.

O fim da carta

“Morrer? Que ideia. Deixate disso, Estêvão. Não se morre por tão pouco...”

“Mas que pretendes fazer agora?” “Morre-se.”

“Morrer.”

Quem não padece estas dores não as pode avaliar. O golpe foi profundo e o meu coração é pusilânime.

Por mais aborrecível que pareça a ideia da morte, pior, muito pior do que ela, é a de viver. Ah! Tu não sabes o que isto é?

Sei. Um namoro gorado...

Luís!

Pois sim. Convenho em que deves morrer, mas há de ser amanhã. Cede da tua parte e vem passar a noite comigo.

Nestas últimas horas que tens de viver na Terra dar-me-ás uma lição de amor, que eu te pagarei com outra de filosofia.

Mamãe, há de fazer-me o favor de mandar o chá ao meu quarto.

...e se em cada caso de namoro gorado morresse um homem, tinha já diminuído muito o gênero humano e Malthus perderia o latim. Anda, sobe.

O Estêvão passa a noite comigo.

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Amei Guiomar desde a primeira vez que a vi, há seis meses, e senti-me preso a ela até a morte desde então.

Alguns olhares ternos, meia dúzia de apertos de mão significativos, embora a largos intervalos, davam a entender que o coração de Guiomar não era surdo à paixão do acadêmico. Mas, fora disso, nada mais ou pouco mais. O pouco mais foi uma flor, não colhida do pé em toda a original frescura, mas já murcha e sem cheiro, e não dada, senão pedida.

Estêvão recebeu-a com igual contentamento ao que teria se lhe antecipassem o seu quinhão de céu.

Guiomar, faz-me um favor? Além da flor, e para suprir as cartas, que não havia, nada mais obtivera Estêvão durante aqueles seis compridos meses...

...a não ser os tais olhares, que afinal são olhares e vão-se com os olhos donde vieram. Era aquilo amor, capricho, passatempo ou que outra coisa era?

Esta flor está murcha e, naturalmente, vai deitá-la fora ao despentear-se. Eu desejava que ma desse.

Naquela tarde, a tarde fatal, estando ambos a sós, o que era raro e difícil, disse-lhe:

Estarei em breve retornando a São Paulo.

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Levarei comigo sua imagem. Poderia, ao menos uma vez, escrever-me?

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Esqueça-se disso.

Pois quanto a mim, obedecia-lhe pontualmente. Esquecia-me disso e ia curar-me em cima dos compêndios: direito romano e filosofia. Não conheço remédio melhor para tais achaques.

Sei que tudo isto há de parecer-te ridículo, mas que queres tu?

Eu vivia na persuasão de que era amado e era-o talvez. Por isso mesmo não entendo o que se passou hoje. Ou o que supunha ser amor não passava talvez de passatempo ou zombaria. Talvez, talvez...

Não, não é possível. Tu não a conheces. É uma grave e nobre criatura, incapaz de conceber um sentimento desses, que seria vulgar e cruel.

Já pensei se aquilo de hoje não seria uma maneira de experimentar-me, de ver até que ponto eu lhe queria...

Eu nada afirmo. Digo que pode ser. Não admira que ela fizesse esse cálculo.

Escusas de rir-te, Luís.

A dor de Estêvão era uma espécie de tosse moral, que aplacava e reaparecia, intensa às vezes, às vezes mais fraca, mas sempre infalível.

Só adormeceram quando a aurora já começava a apagar as estrelas.

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Estêvão almoçou nesse dia, como nos anteriores, bastando dizer em seu abono que, se não o fez com lágrimas, também não o fez alegre.

Dá tempo ao tempo e ainda te hás de rir dos teus planos de ontem. Sobretudo, agradece ao destino o haveres escapado tão depressa. E queres um conselho?

Dize.

O amor é uma carta, mais ou menos longa, escrita em papel velino, corte dourado, muito cheiroso e catita.

Duas vezes viu Estêvão a formosa Guiomar antes de seguir para São Paulo. Da primeira, sentiu-se ainda abalado, porque a ferida não cicatrizara de todo.

Carta de parabéns quando se lê, carta de pêsames quando se termina de ler. Tu, que chegaste ao fim, põe a epístola no fundo da gaveta e não te lembre de ir ver se ela tem um postscriptum.

Bela metáfora, Luís!

Da segunda, pode encará-la sem perturbação.

Ele foi do Rio para São Paulo com os olhos enxutos, distraindo-se dos tédios da viagem com alguma pilhéria de rapaz. Rapaz outra vez, como dantes.

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Capítulo II

Um roupão Teatro Municipal do Rio de Janeiro Apresentação da peça “Otelo”. Dois anos depois.

Ah! És tu, Luís! Quando chegaste?

Larga o pinto, que é das almas.

Hoje mesmo. Venho sequioso de música. Vassouras não tem Lagrua1 nem Otelo.

Vieste lavar a alma da poeira do caminho. Fizeste bem.

Algum namoro?

Não, uma vizinha.

Não te perdoaria se preferisses a outra, a lambisgoia, que aqui nos querem impingir por grande coisa e que não chega aos calcanhares do buço.

Luís e Estêvão saíram e foram dali cear a um hotel, seguindo depois para Botafogo, onde morava Luís Alves.

1. “Lagrua” é referência à cantora lírica italiana Emma (ou Emília) Lagrua, muito famosa à época pelo talento e pelo buço, penugem que algumas mulheres têm sobre o lábio superior

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“Será a vizinha que Luís cumprimentou no teatro?”

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Capテュtulo III

Ao pテゥ da cerca

guiomar?

Ahhhh!

Estテ。 perdoado. Perdoe-me! Foi uma centelha do passado que estava debaixo da cinza. Apagou-se de todo.

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Há dois anos que não nos vemos, creio eu? Já está formado, não? Lembra-me ter lido o seu nome...

Morreu há cerca de um ano.

Estou formado. Sabe que era o desejo maior de minha tia...

Não a vejo há muito tempo. Eu saí do Colégio logo depois que o senhor seguiu para São Paulo. Saí a convite da baronesa, minha madrinha, que lá foi buscar-me um dia, alegando que eu já não tinha que aprender e que não me convinha ensinar. Decerto. minha tia é que não deixou nem podia deixar de ensinar. Acabou no ofício.

Acabou?

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Era uma boa criatura. Muito carinhosa e muito prendada. Devo-lhe o que aprendi.

O senhor fez-me perder muito tempo. Há talvez uma hora que estamos aqui a conversar. Era natural, depois de dois anos. Dois anos! Mas o que não era natural era atrever-me a falar com um estranho neste déshabillê2 tão pouco elegante.

Elegantíssimo, pelo contrário.

O senhor tem sempre um cumprimento de reserva. Vejo que não perdeu o tempo na academia. Vou-me embora. São horas da baronesa dar o seu passeio pela chácara.

2. Déshabillé, termo francês para roupa simples, para ser usada em casa.

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Será aquela senhora que ali está no alto da escada?

É ela mesma. Está à espera que lhe vá dar o braço.

Passe bem, senhor doutor. Estimei em vê-lo.

“Entro num drama ou saio de uma comédia?”

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Parece-me muito tarde, Guiomar.

Capítulo IV

E é, madrinha. Demorei-me hoje mais do que costumo por causa de um encontro que tive aqui na chácara.

Latet anguis

Um encontro?

Um homem. Algum ladrão? Não senhora. Não era ladrão. A minha mestra de colégio... sabe que morreu? Quem disse isso?

O sobrinho, o tal sujeito que encontrei aqui hoje.

Você está zombando comigo! Um homem na chácara?

Não era bem na chácara, mas no jardim do Dr. Luís Alves. Estava encostado à cerca. Trocamos algumas palavras.

Mas, menina, isso não é bonito. Que diriam se os vissem? Eu não diria nada, porque conheço o que você vale e sei a discrição que Deus lhe deu. Mas as aparências... que qualidade de homem é esse sobrinho?

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São nove horas! Pensei que hoje não queriam voltar para casa. O calor está forte e a senhora baronesa sabe que não é conveniente expor-se aos ardores do sol, sobretudo neste tempo de epidemias.

Por que me não mandou chamar?

Tem razão, Mrs. Oswald, mas Guiomar tardou hoje tanto em ir buscar-ma, que o passeio começou tarde.

Estava talvez a dormir, ou entretida com o seu Walter Scott...3

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Milton, esta manhã foi dedicada a Milton. Que imenso poeta, D. Guiomar!

Tamanho como este calor. Apertemos o passo e lá dentro a ouviremos com melhor disposição.

3. Sir Walter Scott (1771-1832), escritor escocês considerado o criador do romance histórico. 4. John Milton (1608-1674), poeta e escritor inglês, autor de obras clássicas como o poema épico “Paraíso Perdido”.

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Chegue-se mais perto. Preciso falar-lhe a sós.

Mas por que desespera? Tenha ânimo e tudo se há de arranjar. Pela minha parte, oxalá pudesse contribuir para a completa felicidade desta família, a quem devo tantos e tamanhos benefícios.

Mrs. Oswald, parece estar escrito que não serei completamente feliz. Nenhum sonho me falhou nunca. Este, porém, não passará de sonho e era o mais belo de minha velhice.

Benefícios?

E que outra coisa são os seus carinhos, a proteção que me tem dado, a confiança...

Está bom, está bom. Falemos de outra coisa.

Dela, não é? Diz-me o coração que com alguma paciência tudo se alcançará. Todos os meios se hão de tentar. E todos eles são bons se se trata de fazer a felicidade sua e dela. Bem está o que bem acaba, disse um poeta nosso, homem de juízo. Por enquanto, só vejo um obstáculo: a pouca disposição...

Só esse? Que outro mais?

Talvez outro. Pode ser que não, mas tão infeliz sou neste meu desejo, que há de vir a ser obstáculo, talvez. Mas que é? Um homem, um moço, não sei quem, sobrinho da mestra que foi de Guiomar... Ela mesma contou-me tudo há pouco.

Tudo o quê?

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Não sei se tudo, mas enfim, disse-me que, estando a passear na chácara, vira o tal sobrinho da mestra, junto à cerca do Dr. Luís Alves, e ficara a conversar com ele. Que será isto, Mrs. Oswald? Algum amor que continua ou recomeça agora que ela já não é a simples herdeira da pobreza de seus pais, mas a minha filha, a filha do meu coração.

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