0652L21612 - A Moreninha

A moreninha

Roteiro e Adaptação Maria Sonia Barbosa Ilustrações Sebastião Seabra

Joaquim Manuel de Macedo

A moreninha

Joaquim Manuel de Macedo

Roteiro e adaptação Maria Sonia Barbosa Ilustrações Sebastião Seabra

CNPJ 19.893.722/0001 40

DECLARAÇÃO

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Copyright © Livraria La Fontaine, 2021

Direção editorial Wagner Bocianoski Joaquim Edição Denis Antonio Edição de arte Estúdio Caraminhoca Roteiro e adaptação Maria Sonia Barbosa Ilustrações Sebastião Seabra Revisão Miriam de Carvalho Abões e Estúdio Caraminhoca Material digital do professor Patrícia Montezano Produção gráfica Lais Dantas

É permitida a alteração da tipografia, tamanho e cor da fonte da ficha catalográfica de modo a corresponder com a obra em que ela será utilizada. Outras alterações relacionadas com a formatação da ficha catalográfica também são permitidas, desde que os parágrafos e pontuações sejam mantidos. O cabeçalho e o rodapé deverão ser mantidos inalterados. Alterações de cunho técnico documental não estão autorizadas. Para isto, entre em contato conosco

Vídeos tutoriais Organização: Wagner Bocianoski Joaquim Produção: Equipe M10

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

Barbosa, Maria Sonia B238m A moreninha / Joaquim Manoel de Macedo; roteiro e adaptação Maria Sonia Barbosa; ilustrações Sebastião Seabra Lajes, SC: La Fontaine, 2021 80 p. : il. ; 20,5 x 27,5 cm

ISBN 978 65 89734 00 0 (Aluno) ISBN 978 65 89734 01 7 (Professor)

1. Ficção brasileira. 2. História em quadrinhos. I. Macedo, Joaquim Manuel de, 1820 1882 II. Seabra, Sebastião. III. Título. CDD 741.5

Elaborado por Maurício Amormino Júnior CRB6/2422

1ª- edição – 2021

Direitos reservados.

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Impressão e acabamento

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Tel.: (011) 4446-7000

“Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras obtidas de árvores de florestas plantadas, com origem certificada.”

Adágio:

Carraspana:

PRECISAREI MELHOR O MEU PROGRAMA SENTIMENTAL; LÁ VAI: AFIRMO QUE MEU PENSAMENTO NUNCA SE OCUPOU, NÃO SE OCUPA, NEM SE HÁ DE OCUPAR DE UMA MESMA MOÇA DURANTE QUINZE DIAS.

SOU FELIZ NA MINHA INCONSTÂNCIA, PORQUE, APAIXONANDO-ME TANTAS VEZES, NÃO CHEGO NUNCA

A AMAR UMA VEZ…

NÃO; PORÉM TORNO A AFIRMAR QUE TU AMARÁS UMA DE MINHAS PRIMAS DURANTE TODO O TEMPO QUE FOR DA VONTADE DELA.

“No dia 20 de julho de 18... na sala parlamentar da casa nº... da rua de... sendo testemunhas os estudantes Fabrício e Leopoldo, acordaram Filipe e Augusto, também estudantes, que, se até o dia 20 de agosto do corrente ano, o segundo acordante tiver amado a uma só mulher durante quinze dias ou mais, será obrigado a escrever um romance em que tal acontecimento confesse: e no caso contrário, igual pena sofrerá o primeiro acordante. Sala parlamentar, 20 de julho de 18... Salva a redação.”

“Augusto. Demorei o Rafael, porque era longo o que tenho de escrever-te. Melhor seria que eu te falasse, porém bem viste a impertinência de Filipe e Leopoldo. Felizmente, acabam de deixar-me. Que macistas!”

“Principio por dizer-te que te vou pedir um favor, do qual dependerá o meu prazer e sossego na ilha. Conto com a tua amizade, tanto mais que foram os teus princípios a respeito do amor romântico que me levaram aos apuros em que ora me vejo.

Eis o caso.”

QUE PAPEL DE IMPORTÂNCIA TERIA FABRÍCIO A MANDAR?

Beleguim: agente policial. Macistas: cansativos, enfadonhos.

E AMANHÃ VOU À CASA DA AVÓ DE FILIPE.

“QUATRO DIAS DEPOIS.”

DEZ HORAS; OS SINOS TOCARAM A RECOLHER E RAFAEL AINDA NA RUA!

E ESSE MOLEQUE! SE CAI NA MÃO DE ALGUM BELEGUIM, NÃO É DECERTO O SR. FABRÍCIO QUEM HÁ DE PAGAR AS DESPESAS DA CASA DE CORREÇÃO…

VÁ LOGO PREPARAR O CHÁ.

“PARA REMATAR O QUADRO DAS DESGRAÇAS, D. JOANA MOSTRA AMAR-ME COM EXTREMO, E NO MEIO DE SEUS CAPRICHOS DE MENINA, DÁ-ME PROVA DE MAIS CONSTANTE E DESVELADO AMOR.”

Desenxabimento: falta de graça. Languidez: fragilidade, delicadeza.

“MALDITOS ROMÂNTICOS, QUE TÊM TROCADO OS NOMES QUE MELHOR EXPRIMEM AS IDEIAS!… O QUE EM UMA MOÇA ERA DESENXABIMENTO, HOJE É AO CONTRÁRIO: SUBLIME LANGUIDEZ! JÁ NÃO HÁ MAIS MENINAS IMPORTUNAS E VAIDOSAS. AS QUE FOREM, CHAMAM-SE AGORA ESPIRITUOSAS!”

“EIS AQUI, MEU AUGUSTO, O LAMENTÁVEL ESTADO EM QUE ME ACHO; PORTANTO, NÃO SÓ POR AMIZADE, COMO POR DEVER, CONTO QUE ME AJUDARÁS NO QUE TE VOU PROPOR.”

FORTE E ELOQUENTE CONTRA A INCONSTÂNCIA E VOLUBILIDADE DAS MULHERES, E DOU-ME POR DESPEDIDO DE MEUS AMORES. FABRÍCIO.”

“AO LADO DA SRA. D. ANA, ESTAVAM AS PRIMAS DE FILIPE: D. QUINQUINA E D. JOANINHA, AMBAS BONITINHAS.”

“TODA A DIFICULDADE ESTÁ EM PINTAR AQUELA MOCINHA QUE ACABA DE SENTAR-SE PELA SEXTA VEZ, DEPOIS QUE AUGUSTO ENTROU NA SALA: É A IRMÃ DE FILIPE. QUE BEIJA-FLOR! TRAVESSA, INCONSEQUENTE E ÀS VEZES ENGRAÇADA; VIVA, CURIOSA…”

“FILIPE RECEBE AUGUSTO COM TODAS AS DEMONSTRAÇÕES DE SINCERO PRAZER.”

DEPOIS DE AMANHÃ

AH! EU CREIO QUE D. QUINQUINA TERÁ FINALMENTE COMPREENDIDO.

PREFERIREI NÃO VER, NÃO OUVIR E NÃO CHEIRAR COISA ALGUMA, A VER OS OLHOS PARDOS E ENCOVADOS ALI DO MEU AMIGO LEOPOLDO, A OUVIR… VOCÊ

CERTAMENTE

O QUE PODERIA TAMBÉM SUCEDER ERA QUE, COMO ALGUMAS COSTUMAM FAZER, EU FINGISSE NÃO COMPREENDÊ-LO LOGO.

MENINA!

MINHA SENHORA, CONSINTA QUE ELA CONTINUE A GRACEJAR, ALÉM DE DAR-ME A HONRA DE TOMAR-ME POR OBJETO DE SEUS GRACEJOS, DÁ-ME TAMBÉM O PRAZER DE APRECIAR E ADMIRAR SEU ESPÍRITO E AGUDEZA.

EU, APESAR DE AMIGO DE AUGUSTO, NÃO POSSO DEIXAR DE LASTIMAR A SRA. D. JOAQUINA, PELA TRISTE CONQUISTA QUE ACABA DE FAZER.

MAS, SE ME FOSSE DADO CONHECER A DITOSA MORTAL QUE CONSEGUIU GANHAR OS PENSAMENTOS E O CORAÇÃO

Pétrea:

BRAVO! FABRÍCIO ESTÁ HOJE ROMÂNTICO!

APOIADÍSSIMO! PEÇO A PALAVRA! DUAS PALAVRAS, MINHAS SENHORAS.

A MINHA INCONSTÂNCIA

É NATURAL, JUSTA E, SEM DÚVIDA, ESTIMÁVEL.

EU VEJO UMA SENHORA BELA: AMO-A, NÃO PORQUE ELA É SENHORA… MAS PORQUE É BELA; LOGO, EU AMO A BELEZA. QUANDO ENCONTRO ESSE ATRIBUTO EM OUTRA, SERIA INJUSTIÇA QUE DESPREZASSE NESTA AQUILO MESMO QUE EU TANTO AMEI NA PRIMEIRA.

EIS POIS, PORQUE SOU INCONSTANTE; É O RESPEITO QUE TRIBUTO AO MERECIMENTO DE TODAS.

SOU FIRME AMANTE DE UM SÓ OBJETO QUE NÃO TEM EXISTÊNCIA REAL: TODAS AS SENHORAS RESUMIDAS NUM SÓ IDEAL.

BRAVO! VIVA O RACIOCÍNIO!

O MAR. ENTRAVA-SE POR UMA ABERTURA ALTA E LARGA, COMO QUALQUER PORTA ORDINÁRIA. AO LADO DIREITO HAVIA UM BANCO DE RELVA, EM QUE PODERIAM SENTAR-SE A GOSTO TRÊS PESSOAS; NO FUNDO VIA-SE UMA PEQUENA BACIA DE PEDRA ONDE CAÍA, GOTA A GOTA, LÍMPIDA E FRESCA, ÁGUA QUE DO ALTO DO ROCHEDO DESTILAVA; PRESO POR UMA CORRENTE À BACIA DE PEDRA, ESTAVA UM COPO DE PRATA, PARA SERVIR A QUEM QUISESSE PROVAR DA BOA ÁGUA DO ROCHEDO.”

“ISTO FOI HÁ SETE ANOS. TINHA EU ENTÃO TREZE ANOS DE IDADE E, BRINCANDO EM UMA DAS BELAS PRAIAS DO RIO DE JANEIRO, VI UMA MENINA QUE NÃO PODERIA TER AINDA OITO, COM O SORRIR DOS ANJOS COM A GRAÇA DIVINA EM TODA ELA.”

TOMAI ESTE BREVE, CUJA COR EXPRIME A CANDURA DA ALMA DAQUELA MENINA. ELE CONTÉM O VOSSO CAMAFEU: SE TENDES BASTANTE FORÇA PARA SER CONSTANTE E AMAR PARA SEMPRE AQUELE BELO ANJO, DAI-LHO, A FIM DE QUE ELA O GUARDE COM DESVELO.

ENGANEI-ME,

SRA.

LÁ VEJO

NETA,

SOUBE QUE O VELHO MORRERA NO DIA SEGUINTE. MEU PAI FEZ TODAS AS DESPESAS DO ENTERRO DO VELHO E SOCORREU A SUA DESGRAÇADA FAMÍLIA.

TEMO QUE ESSE BREVE TIRE O JUÍZO ÀQUELE MENINO: TALVEZ QUE NOS SEJA PRECISO CASÁ-LO CEDO.

A PRIMEIRA QUE AMEI FOI UMA BELA MORENINHA DE DEZESSEIS ANOS. FIZ-LHE

A MINHA DECLARAÇÃO, NO FIM DE TRÊS DIAS RECEBI UMA RESPOSTA

ABRASADORA. OITO DIAS BEM CONTADINHOS, DEPOIS DESSA RESPOSTA

HAVER

“ERA NO TEMPO QUE AINDA OS PORTUGUESES NÃO HAVIAM SIDO POR UMA TEMPESTADE EMPURRADOS PARA A TERRA DE SANTA CRUZ. UMA JOVEM TAMOIA, LINDA E SENSÍVEL, TINHA POR HABITAÇÃO ESTA RUDE GRUTA, ONDE AINDA NÃO SE VIA A FONTE QUE HOJE VEMOS.”

ALGUNS HOMENS ZOMBARIAM DE DOZE DE NÓS A UM TEMPO. SEGUE

“SENHOR: - UMA MOÇA, QUE NEM É BONITA NEM NAMORADA, MAS QUE QUER INTERESSAR-SE POR VÓS, ENTENDE DEVER PREVENIR-VOS QUE NO BANCO DE RELVA DA GRUTA NÃO ACHAREIS AO AMANHECER UMA INCÓGNITA, PORÉM QUATRO CONHECIDAS, QUE PRETENDEM ZOMBAR DE VÓS, PORQUE ESTA MESMA NOITE JURASTES AMAR A CADA UMA DELAS EM PARTICULAR. NÃO PROCUREIS ADIVINHAR QUEM VOS ESCREVE, PORQUE APESAR DE VOSSA AMIGA SERÁ POR AGORA – UMA INCÓGNITA.”

MUITO BONITO! ESTOU EXATAMENTE REPRESENTANDO UM PAPEL DE ROMANCE!

SENHOR;

QUE QUEREIS MUITO, QUANDO ORDENAIS A UM ESTUDANTE QUE VOS ESCREVA QUATRO VEZES POR SEMANA, QUE PASSE DEFRONTE DE VOSSA CASA QUATRO VEZES POR DIA…

Joaquim Manuel de Macedo

(Itaboraí/RJ - 1820 - Rio de Janeiro/RJ - 1882)

Embora tenha se formado em medicina, não a exerceu. Dedicou-se a outras profis sões: romancista, dramaturgo, poeta, jornalista, político e professor. A moreninha, seu primeiro romance publicado em 1844, teve enorme sucesso. Talvez por isso, o autor tenha escrito mais dezessete romances. Como jornalista participou de inúmeras pu blicações, dentre elas a revista Guanabara – feita em parceria com os poetas Gonçalves Dias (1823-1864) e Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) –, o jornal A Nação, e a Revista Popular. Além de lecionar História e Geografia do Brasil no prestigiado Colégio Pedro II por 30 anos, foi professor dos filhos da princesa Isabel (1846-1921).

Romance

OBRAS

A Moreninha (1844)

O Moço Loiro (1845)

Os Dois Amores (1848) Rosa (1849)

Vicentina (1853)

A Carteira do Meu Tio (1855)

O Forasteiro (1856)

O Culto do Dever (1865)

Comédia

O Fantasma Branco (1856)

O Primo da Califórnia (1858)

Luxo e Vaidade (1860)

Cincinato Quebra-Louças (1873)

O Macaco da Vizinha (1885)

Memórias de um Sobrinho do Meu Tio (1868) Rio do Quarto (1869)

Vítimas Algozes (1869)

A Luneta Mágica (1869) Nina (1869)

A Namoradeira (1870)

As Mulheres de Mantilha (1870)

Um Noivo e Duas Noivas (1871)

A Misteriosa (1872)

A Baronesa do Amor (1876)

Crônica

Os Romances da Semana (1861)

Teatro

O Cego (1845) Cobé (1849)

Poesia

A Nebulosa (1857)

O Sacrifício de Isaac (1859) Lusbela (1863)

O Novo Otelo (1863)

A Torre em Concurso (1863) Remissão de Pecados (1870) Antonica da Silva (1873) Vingança por Vingança (1877)

Um Passeio pela Cidade do Rio de Janeiro (1862)

Memórias da Rua do Ouvidor (1878)

A moreninha

A história em quadrinhos deste livro inspira-se em A moreninha, livro publicado pela primeira vez em 1844. Considerado nosso primeiro romance romântico, foi um tremen do sucesso desde seu lançamento. Joaquim Manuel de Macedo publicou-o juntamente com sua tese de doutorado para a faculdade de medicina. O sucesso do romance foi tão estrondoso que seu autor decidiu deixar a medicina de lado e dedicar-se à carreira de escritor. E o autor parece ter feito mesmo uma boa escolha porque sua obra foi bem variada e extensa, só romances escreveu mais dezessete!

Claro que não é possível saber qual é a “receita do sucesso” de uma obra. Entretan to, é possível seguir algumas pistas que nos levam a compreender o gosto do público de uma época. Por exemplo, quando A moreninha foi lançado, os escritores brasileiros seguiam os caminhos artísticos dos europeus. No caso de Macedo, sua obra inspirou-se diretamente nos romances do escocês Walter Scott (1771-1832), e dos franceses Ale xandre Dumas (1802-1870) e Eugène Sue (1804-1857). As obras desses autores eram de sabor novelesco, isto é, cheias de peripécias, reviravoltas, histórias de amor impossí vel etc., e tinham um público leitor fiel e cada vez mais numeroso.

Em A Moreninha, Macedo emprega alguns desses efeitos novelescos como o tema do namoro difícil (o encontro de Augusto e Carolina), e as brincadeiras de estudantes (a aposta feita pelo grupo de amigos logo no início da narrativa). Entretanto o que dá o “tom brasileiro”, e original, a seus livros é o modo como descreve as famílias abastadas cariocas. No caso de seu primeiro romance, acompanhamos de perto os hábitos, os costumes, os valores, bem como seus rituais, como o ritual do casamento, por exemplo, que exige o preâmbulo do namoro. Nessa história seguimos, portanto, os primeiros encontros e desencontros amorosos entre a brejeira Carolina e o descom prometido Augusto, em um ambiente acolhedor, íntimo e tranquilo. Pelo menos era assim que o olhar do românti co Joaquim Manuel de Macedo via a atmosfera familiar da elite carioca no século XIX.

Quando se trata da transposição de obras clássicas da cultura, historiográfica ou lite rária, como é o caso do texto original deste livro, os quadrinhos são, geralmente, um alia do no sentido de proporcionar um primeiro contato com alguns aspectos dessas obras. Sem dúvida, sua linguagem facilita muito a aproxi mação do aluno, sobretudo, porque não há nenhum tipo de estranhamento comunicati vo, pois é familiar ao universo dos jovens de um modo geral. Além disso, na atualidade, a produção cultural tem sido cada vez mais marcada por suportes para onde convergem e convivem diferentes linguagens – vide a internet, por exemplo.

Maria Sonia Barbosa, a

adaptadora e roteirista

Formada em Letras pela Unesp-Araraquara com Especialização em Linguística, na área de Análise do Discurso, Maria Sonia Barbosa é professora de língua e literatura brasileira nos níveis Fundamental e Médio.

O interesse pela análise dos discursos que circulam dentro da escola sempre norteou seus trabalhos, tanto na Universidade, quanto na Educação. Já na graduação, estudou as adaptações de textos clássicos para o público infantojuvenil; os gregos, principalmente: Ilíada e Odisseia de Homero.

Como roteirista, seu primeiro trabalho foi a adaptação de Memórias póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis. Adaptar um texto literário nunca é fácil. Mas, a atuação em sala de aula possibilitou um conhecimento privilegiado do público-alvo. Assim, consi derando a função didático-pedagógica do texto, foi suprimida a maior parte das descri ções, deixando às imagens a função de ambientar o leitor, uma das especificidades da linguagem em quadrinhos. Do que foi eleito como sendo essencial, conservou-se o texto original, com pequenos ajustes ou deslocamentos que serviram apenas para restabelecer a conexão entre as partes. Isso, para que o público conheça os elementos do enredo, propriamente dito, e para que o professor tenha em mãos um material que facilite a apresentação dos paradigmas da literatura do romantismo brasileiro.

Com a mesma diretriz, foram introduzidas algumas notas de rodapé; apenas o im prescindível para a compreensão – expressões da época, um ou outro termo específico, ou em desuso. Mas, a maior parte do vocabulário, que cause estranhamento, pode ter seu significado inferido do próprio contexto.

A adaptação tem um caráter lúdico, mas é antes de tudo uma estratégia para estímulo à leitura que possibilita ao jovem o trânsito por diversas linguagens. No centro dessas preocupações, está a literatura enquanto discurso privilegiado para a formação dos alu nos, capaz de proporcionar-lhes uma experiência enriquecedora para a sensibilização e compreensão do humano, por meio de textos que preservam as marcas linguísticas que constituem o estilo dos autores.

Sebastião Seabra, o ilustrador

Minha carreira começou em 1974, no jornal Folha de S. Paulo, com a publicação de uma HQ de sátira de filmes. Durante os cinco anos seguintes, escrevi e desenhei três tiras diárias para o jornal Notícias Populares. Logo depois, teve início minha via cru cis, colaborando para diversas editoras de histórias em quadrinhos, didáticas, jornais e agências de publicidade.

Em 1978, escrevi e desenhei o personagem O Zorro, para a EBAL do Rio de Janeiro. Em seguida, publiquei HQs na editora Grafipar, de Curitiba. Já em 1989, publiquei na Europa, via uma agência belga distribuidora de quadrinhos. Ganhei o Troféu Ângelo Agostini como melhor desenhista em 1996 e, dois anos depois, como mestre do qua drinho nacional.

Em 1983, voltei para minha terra natal, Araraquara, interior de São Paulo, onde editei uma página sobre livros, quadrinhos e filmes; e também desenvolvi um curso de desenho e comecei a lecionar. Atualmente, com a internet, edito apostilas sobre desenho e anatomia e também ministro um curso sobre o tema à distancia.

Nos últimos anos, venho me dedican do ainda mais a quadrinização de obras da literatura nacional.

Neste livro, captar o clima folhetines co e romântico da obra de Joaquim Ma nuel de Macedo foi um desafio e tanto… A maior dificuldade foi colocar todos seus personagens dentro de quadros e animar conversas intermináveis, isso porque o bate papo é antitético às histórias em qua drinhos; uma linguagem onde impera a narrativa ligeira e o ritmo das cenas de ação. Mas certas obras não sobrevivem ao tempo por mero acaso, e a cada sequência de A Moreninha o leitor descobre o porquê.

Para saber mais...

“Quando se ama deveras e se está com o objeto do amor, não se recorda, não se deseja, não se quer mais nada!... ”.

A moreninha. Joaquim Manuel de Macedo.

Em algum momento de sua vida você certamente já ouviu (ou quem sabe até já pronunciou) a seguinte expressão: “Determinada pessoa é MUITO ROMÂNTICA.”. Afinal, o que exatamente isso significa? Como é, ao certo, uma pessoa romântica? Será que usamos corretamente esse termo?

Neste momento você já deve estar pensando que as respostas a essas per guntas são muito fáceis, pois todos sabemos que pessoas românticas são aquelas que conduzem suas relações fundamentadas em forte sentimentalismo. Se você pensou dessa maneira, não pensou errado. Porém, será somente isso? E mais, onde e por que teria surgido esse termo que ainda hoje é tão utilizado?

Para entender a que esse termo se refere (e quem sabe entender-se a si ou a uma pessoa romântica que você conheça), é necessário entender que tudo tem origem em um movimento artístico literário chamado Romantismo, que surgiu no final do século XVIII entre a França, a Alemanha e a Inglaterra, e que chegou aqui no Brasil já em meados do século seguinte. Movimentos literários são tendências de época. Por algum motivo, em de terminados momentos da história, todos os artistas do mundo se movimentam em uma mesma direção criativa, daí o nome “Movimento.”. Note, por exemplo, que nas duas primeiras décadas do século XXI, incentivados sobretudo pelas mídias virtuais, muitos são os artistas produzindo arte em formatos que podem ser con sumidos no mundo virtual, como memes, charges, e vídeos curtos que condizem com a realidade dinâmica de nosso contexto.

A língua portuguesa, tal qual a conhecemos, surgiu provavelmente no final do século XII, ainda como galego-português, e veio se modificando até chegar ao que temos hoje, esse formato que você está lendo nesse momento. Lá na Idade Média, devido aos poucos recursos e com uma realidade extremamente limitada,

surgiram as cantigas medievais, que em sua maioria contavam sobre decepções amorosas e sofrimentos dos chamados trovadores, homens que escreviam textos curtos que se encaixavam em suas melodias que eram cantadas em jornadas cava leirescas. A essa tendência chamaram Trovadorismo, e assim tínhamos o primeiro movimento literário da literatura de língua portuguesa.

A ele se seguiram tantos outros, que adquiriam suas intitulações justamen te devido às características próprias de cada um. O Humanismo do século XV, tal qual o Renascentismo Camoniano do século XVI, se caracterizaram por textos mais racionais e clássicos; o Barroco do século XVII, por estar bastante ligado à religio sidade e às conturbações emocionais daquele momento; o Arcadismo do século XVIII, fez jus aos ideais iluministas e filosóficos difundidos por todo o mundo no chamado século das luzes; e finalmente, no século XIX de forma mais consistente, o Romantismo supracitado trouxe a carga sentimental a que nos referimos.

Resgatando a carga emotiva praticamente abandonada lá na Idade Média, o Romantismo é um movimento literário que surge nas mãos da burguesia que se fazia ascendente naquele momento em todo o mundo, e que tem sua representa tividade máxima na Revolução Francesa de 1789.

Embalados por ideais liberalistas, recém saídos dos burgos, e fortificados em sua economia, sobretudo também com o impulso das Revoluções industriais, os burgueses buscavam se tornar uma liderança política e assim passarem a de cidir seus próprios caminhos, derrubando regimes monárquicos totalitários que impediam seu avanço. Assim foi ao redor do mundo, e essa massa popular, que agora se fazia classe dominante, desenvolveu sua própria arte, buscando um dis tanciamento máximo do pensamento clássico tão venerado pela monarquia.

Em Portugal, tomados por um espírito nacionalista que muito se encaixa va em seus ideários transformadores de uma pátria ideal como um local de sua identidade, os artistas burgueses buscaram suas influências justamente na Idade Média, no momento de formação do estado portucalense, e com as ovações pa trióticas vieram os cantares de amor, a religiosidade e as temáticas sentimentalistas que dialogavam com uma realidade popular do atual contexto.

É verdade que no Brasil o Movimento só chegou onze anos depois de ter surgido oficialmente em terras lusitanas. Em 1836, com a publicação de Suspiros poéticos e saudades, obra de Gonçalves de Magalhães, tinha início em território

brasileiro o movimento artístico literário mais marcante dessa nação. É fato que, impulsionado por uma recém independência decretada (1822) e também pelos resquícios por aqui deixados com a vinda da família real portuguesa em 1808, como uma imprensa escrita por exemplo, o romantismo teve terreno fértil para aqui se propagar.

Muito mais que textos poéticos, geralmente preenchidos de lirismos, me trificações e uma linguagem figurativa que dificulta o fácil entendimento de boa parte dos leitores, o Romance, enquanto texto em prosa típico do gênero narrati vo, acabou se tornando mais popular em nossa elite à época. Também se popula rizou por aqui a Novela, texto também de gênero narrativo que era publicado em capítulos de folhetins diários semanais, os primórdios das novelas televisivas, hoje tão populares em nosso país.

E aconteceu em 1844 a publicação do primeiro romance romântico brasi leiro. De autoria do recém formado em medicina, Joaquim Manuel de Macedo, A moreninha foi um sucesso tão estrondoso já em seu lançamento que fez, inclusive, com que o autor desistisse de sua formação médica e se tornasse um escritor pro fissional, vindo depois a publicar dezenas de textos em diversos gêneros, se tor nando assim um dos maiores nomes de todos os tempos da Literatura brasileira.

Joaquim Manuel de Macedo nasceu em 1820 em Itaboraí-RJ, época em que o Brasil sequer era independente de Portugal, muito embora já tivesse seus portos abertos para a chegada de navegações estrangeiras, e embora também já existisse por aqui uma Imprensa Nacional, privilégios finalmente adquiridos com a chegada da Família Real, que transpôs para as terras tupiniquins o comando administrativo de sua Coroa, fugindo das guerras napoleônicas.

É ainda neste mesmo ano de 1820 que ocorre em terras lusitanas a Re volução do Porto, que exigia a volta de Dom João XVI, príncipe-regente e poste riormente Rei de Portugal, debaixo de críticas de abandono de seu país que sofria a miséria e as mazelas deixadas pela invasão francesa. Dom João XVI, ao partir, deixou por aqui seu filho, Dom Pedro I, que assumiu o trono brasileiro e gritou a independência do país em 1822.

Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim é o nome completo desse que gritou a libertação do Brasil da condição de colônia portuguesa quando tinha

apenas 24 anos. E se você acha que sua idade era pouca para tamanho feito, se assustará então ao saber que sua mãe, Carlota Joaquina, se casou com Dom João VI, seu pai, quando ela tinha apenas 10 anos de idade e ele 18, tudo isso no ano de 1785.

Dessa maneira, chamamos sua atenção, caro leitor, à extrema importância que é a consideração do contexto, e dos eventos todos que o regem, no momento da leitura de uma obra de arte. Quantos serão os espantos de leitores do ano 2200 ao lerem nossas obras publicadas atualmente, no início dos anos 2000? Eventos que hoje nos soam como normais, certamente não o serão daqui a alguns séculos.

Entender os contextos retratados nas obras de ficção é justamente um dos maiores fatores de apreciação de uma obra clássica da literatura, inclusive para que as utilizemos como objeto de reflexão e tomada de atitudes de transformações da nossa atual realidade.

Ora, em 1844, quando Joaquim Manuel de Macedo publica, aos 24 anos, seu primeiro romance, A moreninha, apesar de ser o Brasil um país independente e que começava a caminhar rumo a algum progresso enquanto nação descoloni zada, o chamado Segundo Reinado (1840 - 1889) registrava uma expectativa de vida que girava em torno dos 33 anos de idade, dados esses tomados como base dos primeiros censos demográficos brasileiros que, segundo o IBGE, tiveram iní cio, oficialmente, nos anos 70 do século XIX. Em 2020, esta mesma estatística gira em torno de 76 anos.

Tais números nos ajudam a entender os contextos de época, como por exemplo casamentos que se davam entre uma menina de 10 anos e um garoto de 18, e que não causavam grande alarde, como seria hoje, época essa nossa em que um acontecimento como esse geraria implicações inclusive criminais. Casava-se com 10 anos, como Carlota Joaquina, gritava-se Independência como Imperador de um país com 24, assumia-se um trono com 14 anos, como Dom Pedro II no Segundo Reinado brasileiro, porque se esperava viver somente até os 33, ao me nos pela expectativa geral de vida.

Soma-se a isso o sistema social e a cultura da época já citada acima. A par tir da leitura de uma sociedade machista e patriarcal burguesa, entendia-se o casa mento praticamente como um negócio, absolutamente atrelado ao poder político, social e também material. A própria Carlota Joaquina, por exemplo, viu-se casada

ainda criança por uma obrigação política, já que ela era filha do rei da Espanha, Dom Carlos IV, e existia naquele momento um interesse de aproximação entre os dois reinos em questão.

No entanto, muito se engana quem pensa que em uma sociedade com tal perfil não existe espaço para o amor, afinal, como cantou Carlos Drummond de Andrade, considerado poeta maior de nossa pátria e nome dos mais significativos da literatura mundial no século XX:

“Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo bastante ou de mais a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.”

(Andrade, Carlos Drummond de. As sem-razões do amor. In Corpo, Ed. Cia das Letras, 2015)

Ao se deparar com a marcante história de amor entre Carolina, a more ninha, uma jovem de 14 anos e Augusto, um jovem estudante de medicina que se acerca dos vinte anos de idade, todas essas variáveis acima refletidas devem entrar em condição de análise contextual, cultural e comportamental, para que assim a obra seja de fato compreendida.

Essa história envolvente que dá início a uma das maiores tendências literárias de todos os tempos no Brasil, o Romance Romântico, serve de base e inspiração para essa adaptação em quadrinhos que traz, de maneira mais lúdica, contemporânea e moderna, um tema imortal de nossa existência enquanto indi víduos e enquanto seres sociais, o Amor.

É evidente que, para que ocorra um processo de transformação de gêneros textuais, muitas modificações são necessárias, mas elas são próprias de um campo muito mais próprios de uma condição estrutural do que temática.

Por exemplo, originalmente, para que seja entendido como um texto narrativo, o livro de Joaquim Manuel de Macedo, em sua primeira edição possui, obrigatoriamente, um Narrador, que nesse caso está em terceira pessoa e sabe tudo o que vivem e pensam as Personagens, ou seja, ele é onisciente, e vai des crevendo o Espaço em que tudo ocorre, o Tempo em que a história acontece e a Ação (Enredo) que nos faz adentrar à narrativa. São os termos em negrito elementos fundamentais ao gênero narrativo.

No entanto, no momento de transposição dessa história a este outro gê nero, História em Quadrinhos, muito do que é então descrito no Romance se torna imagem, se torna pintura, e o texto não verbal acaba se fazendo elemento fundamental a esse tipo de leitura, já que, somado aos diálogos dentro dos “ba lões de fala” (textos verbais), desenvolvem e apresentam os elementos antes nar rados, como o espaço, o tempo e o próprio enredo em si. Como afirma Sebastião Seabra sobre a ilustração de A moreninha:

Neste livro, captar o clima folhetinesco e romântico da obra de Joaquim Manuel de Macedo foi um desafio e tanto… A maior di ficuldade foi colocar todos seus personagens dentro de quadros e animar conversas intermináveis, isso porque o bate papo é anti tético às histórias em quadrinhos; uma linguagem onde impera a narrativa ligeira e o ritmo das cenas de ação. Mas certas obras não sobrevivem ao tempo por mero acaso, e a cada sequência de A Moreninha o leitor descobre o porquê.

(Seabra, Sebastião., in A moreninha – HQ. Escala Educacional, 2013)

E então, caro leitor, está disposto a adentrar nesse universo envolvente do amor em A moreninha e descobrir que mistérios guardam essa improvável relação entre um jovem estudante de medicina e uma garota órfã, ambos da alta sociedade carioca do século XIX, que há tanto tempo emociona leitores do mundo inteiro?

Boa leitura e, como diria o já citado poeta máximo Carlos Drummond de Andrade: “que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?”.

Augusto, estudante de medicina, viaja para celebrar o dia de Sant’Ana na casa da avó de um amigo, onde se reúnem belas moças e família. Galanteador, aceita uma aposta com seu amigo

Filipe: não se apaixonar por ninguém até o final da festança. O que ele não contava é que em seu caminho haveria uma moreninha e um mistério que o acompanha desde a infância.