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Relatos de uma conselheira


Gerente editorial Roger Conovalov Diagramação Juliana Blanco Revisão Frank de Oliveira Capa Lura Editorial

Todos os direitos desta edição são reservados à Elizete Santos. Primeira Edição

Lura Editorial - 2018. Rua Rafael Sampaio Vidal, 291 São Caetano do Sul, SP – CEP 05550-170 Tel: (11) 4221-8215 Site: www. luraeditorial.com.br

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Catalogação na Fonte do Departamento Nacional do Livro (Fundação Biblioteca Nacional, Brasil) Relatos de uma conselheira / Elizete Santos. Lura Editorial – 1a Edição – São Paulo, 2018.

ISBN: 978-85-5849-156-3 I. Título. CDD: 869.3 atendimento@luraeditorial.com.br www.luraeditorial.com.br


Pra. Elizete Santos

Relatos de uma conselheira



DEDICATĂ“RIA

A

o doce e meigo EspĂ­rito Santo, que, cooperou comigo, concedendo-me sabedoria e discernimento para ouvir e aconselhar.

Aos meus filhos, Felipe e Any Caroline, meus tesouros, e ao meu esposo Roque Pita, pelo apoio e amor.

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PREFÁCIO

S

ou grata a Deus pela oportunidade que Ele me deu de conhecer você Elizete Santos.

Conheci a Elizete em uns dos momentos delicados de sua vida, quando ela chegou até a mim em busca de um conselho para o momento conflitante em que passava. Lembro-me de ter a ouvido e momentaneamente fui sentindo empatia pela sua dor. Decidi no meu coração ajuda-lá com os dons e talentos que Deus havia me dado, e como Deus é Bom e Maravilhoso nela havia o desejo e a necessidade de ser ajudada (o que colabora muito em qualquer tratamento quando há um dispor da pessoa em querer se ajudar). Facilitou muito e juntas fomos mudando a sua forma de ver as coisas. A cada novo dia de aconselhamento podíamos ver a Palavra de Deus se cumprindo sobre a sua vida e as misericórdias do Senhor alcançando a sua casa. Nos dois cursos de aconselhamento no qual ela participou foi notório o seu desempenho em querer aprender cada vez mais, por esse motivo os cursos fez tão bem a ela que Sempre mergulhou de alma e corpo pois sempre acreditou no perfeito chamado de Deus em sua vida para ser conselheira na vida das pessoas a qual Deus colocaria em seus caminho. 7


Creio que o aconselhamento é o seu chamado ministerial e por essa razão será sempre provada e aprovada pelos princípios colocados nesse livro. Ouvir, aconselhar, desafiar as pessoas a buscarem restauração, cura e libertação será algumas das marcas do ministério de Elizete Santos, porque isso tudo nasceu de um sonho e de um desafio plantado em seu coração. “Vinde, e ouvi, todos os que temeis a Deus, e eu contarei o que Ele tem feito á minha alma. A Ele clamei com minha boca, e Ele foi exaltado pela minha língua. Mas na verdade, Deus me ouviu: atendeu á voz da minha oração.” Salmos 66: 16,17,19 ... Em questão da alma, a oração tem voz! Deus te abençoe! Pastora e Psicoterapeuta Teresinha Braga

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PREFÁCIO II

S

e, em uma frase apenas eu pudesse resumir este prefácio, verbalizaria que o valor deste trabalho vai além do que recomenda o livro. Os relatos aqui apresentados pela minha amiga, irmã Elizete Santos, nos convida a refletir que nunca estamos sós, existe uma força maior que nos move mas só na experiência da dor entenderemos o real significado da nossa existência. Aproveito o ensejo para agradecer e registrar a beleza da alma dessa mulher virtuosa que neste livro deixa impresso legitimidades de fatos que nos ajudará a sermos luz e não trevas na vida do nosso próximo. A travessia fica mais leve quando temos consciência que precisamos um do outro. Gratidão Elizete, pela amizade e, pelos ensinamentos, mesmo agora estando distantes fisicamente, trago em mim, muito de ti, é uma honra ser sua amiga e poder, ser aconselhada por ti, seus ensinamentos nos leva a verdadeira conexão com o universo da fé. Juliana de Azevedo Graduada em Serviço Social Gerontóloga Estudante de Psicanálise 9



“Os conselhos são importantes para quem quiser fazer planos, e quem sai à guerra precisa de orientação” (Provérbios 20:15).



INTRODUÇÃO

O

conselheiro é alguém que é chamado para ajudar com seu dom embasado na ética com a finalidade de animar, encorajar, confrontar, trazer esperança de que a mudança é possível. Desde muito cedo, minha escuta foi aguçada, as pessoas em geral falavam-me dos seus problemas cotidianos. Era inexplicável, mas eu as ouvia atentamente e dava meu conselho sempre. Foi aos 15 anos de idade que de fato percebi que tinha um chamado para aconselhar, pois é na prática que descobrimos o valor das coisas. Eu precisei de um conselheiro e não encontrei, então eu mesma aconselhei a adolescente de alma aflita que estava em mim. Sou a quarta filha de um total de onze, tive o privilégio de fazer parte de uma grande família, além de numerosa, conservadora. Meus pais eram agricultores comerciantes em pequena escala. Foi no começo dos anos 80 que mudei da zona rural para a urbana para realizar o meu sonho de consumo: estudar. Deixei minha grande família por um espaço na casa dos meus tios e foi um divisor de águas para mim. Troquei o certo pelo incerto, a simplicidade por regras, o verde do cam13


po por ruas pavimentadas, a plantação por livros e salas de aulas. Em meio a essa mudança brusca e sonhada, conheci um rapaz que era primo das minhas primas e para minha alegria não era meu primo. Foi amor à primeira vista, e, como bom moço que era, foi logo ter com meus pais e pediu-lhes permissão para namorar comigo. Um puro e lindo relacionamento, que, à medida que o tempo passava, mais sólido ficava. E já fazíamos planos para um futuro juntos. Ele era lindo, alto, cabelo negros, corpo atlético, jogador de futebol num clube local, vascaíno de carteirinha, trabalhador, romântico incorrigível, educado, inteligente e religioso ao extremo. Também pertencia a uma família numerosa e bem-conceituada. Era perfeito para mim. Um belo sábado, na casa dos avós dele, houve um encontro de família. E, como a família era imensa, qualquer ajuntamento virava festa. Essa festa aconteceu há alguns quilômetros de distância da cidadezinha na qual eu morava. Não me recordo o motivo, mas não fui à festa. No final da noite de sábado, minha prima, que era minha melhor amiga (in memoriam), um tanto constrangida, falou-me do desfecho da festa, mais precisamente do meu namorado e da sua tia adotiva, que também tinha basicamente a minha idade, como ela se portara com ele, seduzindo-o e aproveitando do quanto ela já havia bebido. Ela o tirou para dançar e o beijou publicamente. Todos sabiam do nosso relacionamento e assistiram de perto à tia atacar o sobrinho sem piedade nem timidez. Eu ouvi minha prima atentamente e lhe agradeci pela consideração. Embora eu estivesse triste mantive a sanidade 14


e esperei o dia seguinte. Todos os domingos, às 8 horas da manhã, meu namorado vinha me buscar para juntos irmos à igreja. Ele chegou no horário habitual e nos cumprimentamos como sempre. Saímos de mãos dadas a caminho da igreja, que ficava perto de casa, como tudo na cidadezinha do interior, quando subitamente apareceu sua tia adotiva, aquela mesma que o beijara na noite anterior e se colocou ao lado dele, de modo que ele ficou no meio de nós duas. E assim caminhamos em trio até nos aproximarmos do nosso destino. Eu estava calma, silenciosa, até ouvir meu primeiro conselho, que foi: fala para ele escolher com quem deseja entrar na igreja porque na porta não passam três. Eu ouvi e obedeci àquela voz interior, pois sabia que o que ele respondesse seria o melhor. Se ele optasse por entrar comigo, me faria feliz, mostraria o meu valor para ele e o quanto ela estava sobrando. Se de toda forma ele a escolhesse, estaria revelando quem de fato era, um ser desprezível e enganador. Assim, ele e aquela situação não mereceriam mais importância do que eu já havia lhes dado, pois ambos se mereciam. Para minha surpresa ele olhou bem nos meus olhos e falou: – Mas é claro que é com você que eu vou entrar, você é minha namorada. E assim fizemos. Quanto à tia dele, deu meia-volta, foi embora e nunca mais nos atrapalhou. Eu amei o meu conselho, pois sempre observava as adolescentes da minha idade e via o quanto elas eram egocêntricas, mexeriqueiras, briguentas, disputando rapazes e ferindo-se mutualmente. Agiam no calor das suas emoções e perdiam o amor próprio. 15


Do início dos anos 80 até os anos 90, fui estagiária na escola da vida na área do aconselhamento. Foi nesse período que convivi intensa e diariamente com sete primas da mesma faixa etária. Eu sabia das suas vidas nos seus pormenores, não por ser curiosa, mas porque todas, sem exceção, falavam-me dos seus medos, sentimentos e do que as afligia. E eu as ouvia atentamente, embora guardasse para mim seus conflitos. Nunca fui imparcial ou indiferente, e o mais impressionante é que, embora eu ouvisse a todas, uma não sabia da vida da outra por mim. (Eu já sabia ouvir.) Nesse período, percebi que Deus tinha algo a realizar por meio de mim. Embora ainda tudo parecesse prematuro, eu já sabia que a minha postura e a minha alegria eram uma dádiva de Deus. Foi no dia 31 de julho de 1988 que minha vida mudou para sempre. Tive um encontro pessoal com o autor da minha vida, e as respostas para todas as minhas perguntas. Era um relacionamento extraordinário e, quanto mais eu o conhecia, mais feliz Ele me fazia. Nessa época de amor forte e intimidade com Deus, meu coração queimava de amor por Jesus e pelas pessoas em geral. Então, consegui um carro grande com o prefeito da cidadezinha, juntei os irmãos disponíveis e o pastor da igrejinha Assembleia de Deus e fomos fazer o culto em uma zona rural a cerca de 18 quilômetros da cidade. O ajuntamento aconteceu na casa dos meus pais, que tinham um espaço ideal para comportar os vizinhos e irmãos. Tudo correu maravilhosamente bem, minha mãe e meus irmãos receberam Jesus no coração. E, assim, com a mesma alegria com que fomos retornamos para a cidade. No meio da viagem, eu e algumas jovens cantávamos felizes o hino do grupo Voz da verdade: 16


“Fala, Senhor, que teu servo ouve. Fala, Senhor, quero ouvir tua voz”. De repente, fomos interrompidas pelo presbítero da igreja, segundo o qual estávamos com chocarrice e entristecendo a Deus. Perplexas e tristes, nos calamos, pois em hipótese alguma queríamos entristecer a Deus. Quando cheguei em casa, já na cidade, fui falar com Deus e, chorando, disse-lhe que não foi por mal que o entristeci e que por favor Ele mudasse meu jeito de ser. Eu havia aprendido que, aberta, a Bíblia era a boca de Deus falando. Então, abri a Bíblia e pedi-lhe que falasse comigo naquele momento. Abri a Bíblia aleatoriamente e li onde estava meu dedo a segurar as páginas. Hebreus 1:9 (“porque Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais que a teus companheiros”). Meu coração saltou de alegria e, no dia seguinte, fui à igrejinha para o culto como de costume e encontrei o presbítero que nos repreendeu. Apressadamente, o convidei a ler Hebreus 1:9 e falei que Deus tinha me ungido, por isso eu era alegre. Desde então, ele passou a me ver com bons olhos. O apóstolo Paulo sustenta em Romanos 15:16 que todos os que estão maduros e equipados são competentes para aconselhar. O aconselhamento bíblico é também universal. É aquele que o povo de Deus faz na qualidade de amigos espirituais, e que os pastores fazem como médicos da alma e os conselheiros como cuidadores. O aconselhamento é universal no sentido de que molda a nossa visão de universo revelada pelo criador do universo. Todos os conselheiros aconselham com base em alguma cosmovisão. A Bíblia da a cosmovisão, com base na qual os conselheiros cristãos ministram. Isso significa uma conversa 17


espiritual singular, personalizada, com foco na situação, e que flui naturalmente, ou seja, o compartilhar adequado e relevante de uma investigação bíblica construída sobre uma visão abrangente (Efésios 4:29). E assim os anos foram passando. Aos 22 anos de idade, eu já era independente financeiramente e morava em São Paulo, a maior cidade da América Latina. Minha paixão por Deus e pela sua extraordinária criação aumentava em grande escala dentro de mim. Parecia que eu tinha um ímã: atraía pessoas de todas as idades e etnias, sempre em situações inusitadas. Eu me sentia honrada por aquelas pessoas me confiarem suas histórias e mazelas, e aproveitava a deixa para as levar a conhecer a Deus, pois tinha convicção de que existia uma missão e uma razão de elas virem a mim. Acreditava que não era por acaso, era plano divino. Então, eu as ouvia, orientava, exortava, e sobretudo as amava, levando-as a conhecerem Deus como Pai. Com amor, Pra. Elizete Santos

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SUMÁRIO 1. O Batismo e o Casamento ............... 21 2. O Pudim e o Anel ............................. 25 3. Os Recém-casados .......................... 29 4. O Casal e a Cenoura ....................... 33 5. O Homem e o Pufe ........................... 37 6. A Desconfiada .................................. 41 7. A Abandonada ................................ 45 8. Incesto e Pedofilia ............................. 51 9. A Fera Ferida e o Menino Perdido ............................. 55 10. A Menina e o Lobo ......................... 61 11. O Corredor do Hospital ................... 65 12. O Casal no Supermercado .............. 69 13. Drogas e Dízimos .............................. 73 14. A Pastora e a Traficante................... 77 15. A Bela e o Urso .................................. 83 16. Conclusão ........................................101 19



CAPÍTULO

O BATISMO E O CASAMENTO

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R

ecebi no escritório pastoral uma esposa, nova convertida. Ela havia abraçado a fé de todo o coração e, embora estivesse maravilhada com sua nova vida com Deus, enfrentava um grave problema em seu casamento pela mudança radical de religião. Eu a convidei a sentar-se e a deixei à vontade. – Pastora – disse ela –, estou desesperada. Acredita que fui convidar meu esposo para meu batismo no próximo sábado e ele foi muito rude comigo? – O que ele falou? – Ele simplesmente não aceita meu batismo. – Fale-me exatamente o que ele disse. – “Não me diga que nada mais tem valor para você. Mudou de religião e, como se não bastasse, quer se batizar novamente.” E com raiva ainda me perguntou se o nosso casamento estava valendo ou se eu iria desistir também. – Qual foi sua reação? – Não sabia o que falar, fiquei triste e me calei. – Agiu sabiamente. – Sério? – Sim, não fique triste, tente compreender que tudo é novo para você e para ele mais ainda. – O que eu faço? Por um lado, quero me batizar. Por outro, não quero conflitos em casa. – Para começar, trate seu esposo com amor e carinho, pois eu sei que vocês se amam. Com jeito, fale a verdade para ele. Diga-lhe que, quando seus pais a batizaram, você era apenas um bebê e não sabia de nada. Recentemente, por meio da Bíblia sagrada, você descobriu que o batismo é para o pecador arrependido. E que pecado tem uma criancinha? Quanto ao 22


casamento, fale para ele não se preocupar, pois, quando você o conheceu, ambos eram adultos. Você se apaixonou por ele e por isso o escolheu para ser seu companheiro. Vocês se casaram e prometeram viver juntos até que a morte os separe. Ela, com os olhos úmidos, me disse: – Incrível, eu não havia pensado dessa forma. – Deus vai honrar você e cumprir a promessa: “Crê no Senhor Jesus e será salvo tu e tua casa”. – Amém – concordou ela confiante. Após o batismo, ela me procurou para falar que o esposo ficara muito feliz com o esclarecimento dela, que não somente aceitara o batismo como passara a frequentar os cultos com ela e as filhas. Toda glória e honra seja para Deus.

REFLEXÃO “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Provérbios 15:1).

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CAPÍTULO

O PUDIM E O ANEL

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T

odas as terças-feiras, eu e uma pastora muito querida fazíamos o trabalho social e o apoio espiritual nas residências agendado pela comunidade cristã da qual fazíamos parte. Um dia, após o término do nosso trabalho, ela pediu para compartilhar comigo algo que lhe ocorrera recentemente. Confesso que, de fato não esperava, pois ela era admirada por todos, tanto pelos seus dons e talentos, como pela sua generosidade e boa disposição em servir o rebanho do Senhor a qualquer hora do dia ou da noite. Tanto ela quanto o pastor eram e são exemplos de amor, união, cumplicidade e companheirismo. – Claro, pastora, o que houve? – perguntei-lhe. – Faz alguns dias – disse-me ela –, tenho observado uma senhora aparentemente jovem, que começou a frequentar os cultos. Sempre no final das reuniões, ela vai imediatamente falar com meu esposo, o que é normal por ele ser pastor. Mas observei que ela gesticula muito, chorando enquanto fala. Penso que esteja passando por algum problema grave, mas todas as vezes em que me aproximei deles, ela se calou. Não sei o porquê, parece que minha presença a incomoda. E o mas intrigante é que ela trouxe um pudim para meu esposo. O que acha? Enquanto ela relatava o seu problema, eu orava a Deus para o Santo Espírito revelar-me o que falar para essa mulher ungida e aflita. Para minha surpresa, foi extraordinário e descomplicado o que veio ao meu coração para transmitir-lhe. Olhei bem dentro dos seus olhos arregalados à espera de algo e disse-lhe com todo o respeito e entendimento. Ore no pu-

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dim e o coma com sua família se assim o desejar ou jogue-o fora. Isso é com você. – Comer? – perguntou ela? – Melhor não. – Entendo, o mais importante é que seja você pessoalmente a devolver a vasilha e que, além de agradecer a gentileza, lhe peça a receita do pudim. Esse gesto e nossas orações criarão uma ponte entre vocês. Uma semana depois, numa terça-feira, a pastora estava extremamente feliz com o resultado positivo da nossa conversa. Ela me disse: – Fiz tal qual combinamos e fiquei surpresa com a atitude da irmã, pois, acredite, além de passar a receita do pudim, ainda me presenteou com este lindo anel. – Deus é fiel. – E o mais importante – acrescentou a pastora –, aquela senhora confessou que sempre me admirara, mas tinha receio de se aproximar de mim, visto que eu era elegante e popular. Receava a rejeição. Acredita nisso? – Sim, é possível, pois somos humanos e propensos a julgamentos e achismos. Graças a Deus, a situação deu origem ao começo de uma amizade promissora. – Sim – confirmou ela, ainda a sorrir, apreciando seu lindo anel.

REFLEXÃO “Abstende-vos de toda a aparência do mal” (1Tessalonicenses 5:1). 27



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CAPÍTULO

OS RECÉM-CASADOS

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R

ecebi uma jovem recém-casada, com uns 23 anos de idade. Muito jovem, bonita, de corpinho esbelto, ela trabalhava doze horas por dia na produção e acabamento do controle de qualidade gráfica. Precisava ajudar o esposo com as despesas.

Embora demonstrasse cansaço físico, esse não era o motivo do seu descontentamento. Ela abriu seu coração me falou: – Meu marido é muito folgado, trabalho o dia inteiro em pé e, quando chego em casa, vou preparar o jantar e logo depois ele se senta-se em frente à TV, enquanto eu tenho de lavar a louça sozinha. Fico triste porque quando vou me deitar ele quer sexo e eu estou exausta.– Já falou com ele sobre isso? – perguntei – Não, porque acredito que meu cansaço é visível e ele é inteligente. – Entendo, mas com os homens em geral não funciona assim. Ou você o chama com a voz ou o chama com o corpo. – Como assim? – perguntou-me curiosa. – Após o jantar, coloque sua menor lingerie e um salto alto, e comece a recolher as louças de maneira que passe em frente do alvo várias vezes. Seja charmosa e sedutora e, quando ele partir para o ataque, mostre-lhe as louças e o convide para ajudá-la. Aproveite e diga a ele o quanto seu apetite sexual aumentou por ele auxiliá-la nessas tarefas. Quando voltamos a falar, ela estava sorridente e disse-me:– Funcionou. Meu esposo, além de me ajudar nos afazeres de casa, está mais carinhoso e apaixonado. – Parabéns! Todos temos a linguagem própria do amor. Você não só identificou a sua como adestrou o seu amado. 30


REFLEXÃO “Apaziguem a sua ira antes que o sol se ponha” (Efésios 4:26).

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CAPÍTULO

O CASAL E A CENOURA

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E

m um dado momento da minha vida, parei de pastorear a igreja e de trabalhar em tempo integral para o ministério. Nesse período, mudei de cidade e fui trabalhar como todo ser humano normal. Na empresa em que eu estava trabalhando, aproximou-se de mim uma jovem senhora de uns 35 anos, bonita, lutadora, sorridente, amiga, generosa e muito direta. – Sabia que as pessoas perguntam se somos parentes? – perguntou-me. – Sério? – Sim, eu fiquei curiosa para falar com você, porque também é cristã. – Sim, eu sou. – Estou afastada da igreja e sem forças para voltar à comunhão. Tenho graves problemas em casa com meu marido. – Vou orar por você. Quanto à igreja, não se preocupe. Apenas volte e peça a Deus forcas para servi-lo em Espírito e em verdade. – Está difícil – afirmou ela, pensativa. – O meu marido bebe e usa drogas sempre. Eu chego em casa, faço todo o serviço da casa, deixo o jantar quentinho e, quando ele chega bêbado, de madrugada, brigando, ainda sou agredida quando vou reclamar. – Ele bate em você? – Sim, e eu também bato nele. Mas na última briga ele me chutou a ponto de eu ficar roxa. – Você deu queixa na polícia? – Não, fui embora de casa, mudei para casa da minha mãe, no mesmo prédio. Passou uns dias, passou a raiva, ele veio me buscar e pediu perdão. – E você o ama? 34


– Sim – disse-me ela. – Você consegue viver sem ele? – Não. – O que você deseja que Deus faça por você? – Eu gostaria que meu marido mudasse. – Então, em primeiro lugar, você precisa mudar – afirmei sem excitar. – Como? – perguntou-me assustada. – Fechando a boca, pois a Bíblia diz que a mulher sábia ganha o marido calada (1Pedro 3:1). Quando o seu marido chegar bêbado em casa, finja que está dormindo e o deixe falar sozinho. No dia seguinte, trate-o bem e peça a ele para voltar para casa sóbrio, pois você está com saudades dele. Lembre-o de que o álcool só é bom no carro, não no dono. Ela abriu um largo sorriso e perguntou-me – Será que funciona? – Tente. O não você já tem. Porém, enquanto isso, entre na sala da justiça de Deus e o busque de todo o coração. Fale para Deus abertamente e peça a Ele para orientá-la e ajudá-la nessa batalha, pois seu marido a maltrata, mas seu amor é maior que a dor física, seu desejo de um casamento reconstruído é mais forte que seu amor-próprio. – Meu marido é só a misericórdia! Você acredita que, um dia, ele estava limpo, sem álcool, sem drogas, parecia outra pessoa, estávamos nas preliminares e ele me pediu para colocar um preservativo na cenoura e introduzir no ânus dele.– E você o fez? – A princípio, achei divertido e fiz, mas quando vi ele gemer e gozar me enojei e parei. O que você acha? 35


– De fato, é estranho e no mínimo duvidoso um homem gostar de tal prática, quando tem ao seu lado uma bela mulher para lhe oferecer prazer pelas vias normais. Ao que parece, seu marido não sabe ainda o que quer. Não posso dizer o que você deve ou não fazer, pois é seu marido e se você não se sente defraudada para viver suas fantasias... – O que me aconselha? – Primeiramente colocar limites. Se isso vai contra seus princípios, não o faça. Se ele aceitar, certamente valerá a pena lutar por ele como marido. Alguns dias depois, ela estava maravilhada com o quanto já havia mudado desde que tínhamos conversado, e como essa mudança estava se refletindo na transformação inicial do seu esposo. Nós nos tornamos sócias de oração.

REFLEXÃO “toda mudança começa em você” Lucas 6.31.

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CAPÍTULO

O HOMEM E O PUFE

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F

ui chamada para um atendimento a domicílio por uma mãe extremamente preocupada. Era um domingo ensolarado e bonito, o Céu nos convidava a apreciar a beleza do criador. Foi nesse êxtase de beleza que eu e minhas três companheiras chegamos ao destino e nos deparamos com a cena que nos impactou. Em um cantinho da casa próximo à mesa de jantar, embaixo estava um homem coberto pela tristeza, oprimido pelo abandono da esposa, fechado num mundo que pertencia apenas às vítimas. Ele tinha o olhar fixo no teto da casa onde aparentemente assistia a algo que passava em uma TV minúscula de 9 polegadas. Minhas companheiras ficaram paralisadas com o que viram. A mãe, percebendo tudo ao seu redor, apressou-se a falar: – Então, este é o meu filho, preciso ajudá-lo, e por isso as convidei. Já não sei o que fazer, ele está nesse estado e passa a maior parte do tempo desse jeito. – O que o deixou assim? – perguntei. – A esposa dele foi embora para outra cidade e levou a filha também. Houve um silêncio… Então, eu me aproximei do moribundo e perguntei: – Como se chama? – Antônio – respondeu-me com os olhos fixo na pequena TV e afundando-se em um pufe que deveria ser de sua filha de tão pequeno que era. Sua roupa amarrotada, a barba crescendo, os cabelos em total desleixo. O quadro era de fato depressivo. 38


Eu fiquei de pé à sua frente e pedi-lhe que olhasse para mim. Assustado e em silêncio, ele me obedeceu. Eu disse-lhe: – Não tenho dó de você, pois ainda é jovem, tem apoio da sua mãe, e não precisa da compaixão de ninguém. É hora de mudar, levantar-se desse pufe e parar de ver os outros serem felizes nessa TV minúscula. Deseja sua família de volta? – perguntei-lhe em tom grave. – Sim – sussurrou ele –, mas minha esposa não me aceita. – Lógico – acrescentei. – Nenhuma mulher gosta nem quer um homem se dê por derrotado, vivendo pelos cantos, desleixado, triste, chorando. Tenha vergonha nessa cara e tome uma atitude hoje. Com mais volume na voz e olhos fixo em mim, perguntou-me: – O que eu faço? – Levante-se! Agora, siga esses três passos: comece com um bom e demorado banho, faça a barba, vista-se com sua melhor roupa, use o melhor perfume; trace uma meta, faça planos, crie uma estratégia para todas as áreas da sua vida; e, a mais importante das lições, coloque Deus em primeiro plano e vá à luta buscar a sua família de volta. Não tenha medo nem vergonha, pois você já tem o não. Vá buscar o sim. Jamais desista sem lutar. Houve mais um silêncio… – Que acha de orar? – sugeri, quebrando o silêncio. – Vamos colocar toda essa situação em Deus. Você fará sua parte e Deus fará o que você não pode fazer, acredite nisso.

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Ele e todos concordaram. Então, oramos e repreendemos toda ação do maligno e declaramos toda sorte de bênçãos na vida daquele jovem homem. No carro de volta a nossas casas, minhas companheiras questionaram minha atitude dura para com aquele pobre homem. Eu lhes disse: – Eu o tratei como gostaria de ser tratada. Se agirmos por Deus, logo veremos os frutos, pois confesso que seria mais fácil calar-me e vê-lo como coitadinho a confrontá-lo.Uma semana depois, a mãe do Antônio, entrou em contato com a missionária que nos convidou e disse-lhe que, tão logo saímos da sua casa, ele aprontou-se e foi atrás da sua família. A mãe estava radiante, pois o casal tinha se reconciliado e gostariam que voltássemos na sua casa para juntos agradecermos a Deus, não só pelo regresso da família, mas pela restituição da alegria e força de viver do seu filho.

REFLEXÃO “Confie em Deus e troque o medo pela paz” (João 14:27).

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CAPÍTULO

A DESCONFIADA

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E

la chegou mostrando um sorriso que disfarçava a alma aflita. Era notável a sua tristeza, o seu olhar falava vagueando sem sossego enquanto ela sentava ao meu lado. – O que houve? – perguntei-lhe enquanto juntava nossas cadeiras. – Casei já madura. Tanto eu como meu esposo somos cristãos. – Ótimo, quanto ao maduro, acredito que se aprecia mais a fruta. – Sim, o amor é racional visto por esse raciocínio. Mas estou angustiada com algo que vem acontecendo comigo. Tenho notado uma certa distância no comportamento do meu esposo para comigo. – Por que chegou a essa conclusão? – Trabalhamos no mesmo local, somos proprietários de um comércio. Temos uma cliente que sempre vem ao nosso estabelecimento. Ela é linda, simpática e veste-se com muita sensualidade: ora mostra os seios, ora mostra as pernas. Ela e meu esposo ficam por horas conversando e sorrindo. Quando estamos a sós em casa, ele parece indiferente a mim. – Você já falou com ele sobre isso? – Não, porque não gostaria de parecer desconfiada, insegura. – Entendo. Como você é em sua casa e como se veste para seu esposo? – Normal, chego em casa vou fazer a comida, organizar a casa, lavar a roupa. A rotina de sempre. – E seu esposo a ajuda nos afazeres? 42


– Não, ele apenas vai à padaria, assiste à TV, gosta de ler. – Aí está o xis da questão: o homem escuta pelos olhos, é o que ele vê que o desperta. E você está mais para mãe do que para esposa. – Sério? E o que faço? – Comece mudando de postura. Vista-se para você e para seu amado. Hoje, após o banho, ainda de toalha, entre no quarto. Após certificar-se de que o alvo esteja olhando seus movimentos, deixe a toalha cair no chão e com sensualidade passe suavemente o creme hidratante no corpo, sem pressa, massageando as pernas. Vista uma calcinha fio-dental com charme e deixe-o apreciar a comissão de trás. Volte na próxima semana para falar o quanto seu marido gostou. Dias depois… – Olá, parece muito bem. – Tudo ótimo! – Fico feliz em saber. – Fui uma tola. Acredita que o meu marido, sem imaginar a minha insegurança, comentou o quanto achava inadequada a maneira de a cliente vestir-se, visto que a mesma dizia ser cristã e casada. – De fato, a roupa diz muito sobre nós. – Eu que o diga. Aquela noite e as seguintes foram maravilhosas. Meu esposo está atencioso, carinhoso, estamos em sintonia. Obrigada pelos conselhos. – Foi um prazer poder orientá-la. Continue buscando a Deus com seu esposo e lembre-se: casamento é como conta

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corrente só saca quem deposita.– Prometo não esquecer – disse ela abraçando-me

REFLEXÃO “O amor é paciente, o amor é bondoso, não inveja, não vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade” (1Coríntios 13:4-6).

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CAPÍTULO

A ABANDONADA

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E

ra sexta-feira. Habitualmente, eu permanecia na igreja das 8 às 16 horas para atender tanto os irmãos como as pessoas em geral. Foi então que recebi uma mulher aflita. Ela era bonita, educada, mas tinha o semblante abatido e os olhos fixos em mim, esperando algo que humanamente era impossível lhe dar: “paz”. – Olá, pode me atender? – perguntou ela. – Sim, claro – respondi-lhe, já a convidando para entrar e sentar. Então, ela começou a falar:

– Estou desesperada. Sou casada, tenho uma filha adolescente e uma ainda criança. Estava tudo bem comigo e minha família, estávamos construindo nosso sonho da casa própria, vamos à igreja, somos católicos. – Sim. – Meu esposo é um homem bom e trabalhador, ele é carteiro. E foi no seu trabalho que ele conheceu uma colega e de repente foi embora de casa. Parece que dormi e tive um sonho ruim, em que ele esqueceu nosso amor, sonhos, filhos e foi viver com uma desconhecida. – Vocês brigaram? – perguntei-lhe, enquanto lhe entregava um lenço para enxugar suas lágrimas inevitáveis. – Não, como falei anteriormente, estávamos bem e sonhando juntos. – E o que você quer sinceramente? – perguntei-lhe com carinho e clareza. – Que ele volte para casa – disse ela, sem hesitar. – Eu preciso que você seja sincera comigo e com você mesma. Porque deseja seu marido de volta? Para reclamar e 46


lançar em seu rosto a traição? Ou para amá-lo ainda mais e fazer valer a pena o seu regresso sendo uma esposa ainda mais amorosa? Ela ficou em silêncio e pensativa por alguns minutos. Depois, respondeu determinada: – Eu o quero de volta para amá-lo e ser a esposa que ele merece. – Então, preciso que você convide Jesus para ser seu único e suficiente salvador e para que Ele escreva seu nome no livro da vida. Em seguida, peço que juntas façamos a oração da concordância. É uma oração simples e eficaz. Eu oro e você concorda. Essa oração esta escrita na Bíblia sagrada no evangelho de Mateus 18:19. “O que duas pessoas concordarem na terra será concordado no céu e vice-versa”. Pronta? – Pronta. – Então, com todo carinho e respeito pelo seu momento difícil e pela graça de Deus nas nossas vidas, comecei a nossa oração: “Pai querido e Deus Santo, não sabemos onde e como esse esposo está nem o motivo que o levou a abandonar sua família, mas os teus olhos o veem nesse momento e Tu, Pai, sabes tudo a seu respeito nos pormenores, por isso unimos a nossa fé e usamos a tua palavra e ordenamos em nome de Jesus que todo o demônio que fez esse homem deixar sua família dessa forma o solte e bata em retirada agora. Nós desligamos toda e qualquer amarração e obra maligna de encantamento em nome de Jesus. Espírito Santo, nós te pedimos: inquieta esse homem de tal forma que ele não consiga ter paz, nem comer, nem dormir e que nada esteja bom para ele, até que decida voltar para sua família. 47


– Amém! – concordou ela. – Como se sente? – perguntei-lhe – Leve, em paz, confiante. – Amém, se você crer verá a glória de Deus e o seu poder agindo ao seu favor. Não duvide, pois Ele é fiel para cumprir a sua palavra. – Eu creio. – Que você acredite é tudo o que Deus precisa para agir em sua vida. Nós nos despedimos com um abraço. Como eu não tinha seu contato, não sabia o quanto Deus já havia feito em sua vida. Foi em uma manhã, quando fui levar minha filha à escola, que ouvi alguém chamar meu nome. Sim, era ela! E estava com um lindo sorriso que iluminava seu rosto. – Olá amada, como está? – Precisava mesmo vê-la. Gostaria que soubesse que meu marido voltou para casa, estamos felizes e continuamos de onde paramos. Quero agradecer a você. – Fico feliz, pois sua alegria é também a minha. Jamais esqueça que foi sua fé depositada em Deus que o trouxe de volta. – Sim, eu sei – disse-me ela. – Mas sua ajuda foi muito importante para mim. Quando fui falar com você, estava completamente desorientada. – Sim, de fato era uma situação difícil para nós que somos limitados. – O mais impressionante acrescentou ela, foi o meu marido falar para mim que não tinha paz, nada estava bom, não 48


conseguia dormir, não conseguia comer e tudo o que vinha à sua mente era voltar para casa, de onde nunca deveria ter saído. – Amém! Deus mostrou para você o poder da sua palavra e da oração da concordância feita com fé em nome de Jesus. Agora, ame-o e o conquiste em todos os dias da sua vida. E vivam o melhor de Deus. – Com certeza, obrigada – disse-me ela, abraçando-me com gratidão.

REFLEXÃO “Os que confiam no Senhor serão como o monte de Sião, que não se abalam, mas permanecem para sempre” (Salmos 125:1).

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8

CAPÍTULO

INCESTO E PEDOFILIA

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I

ncesto é a relação sexual ou marital entre parentes próximos ou alguma forma de restrição sexual dentro de determinada sociedade. É um tabu em quase todas as culturas humanas. Em alguns casos, é punido como crime, em outros considerado pecado. São tidas como incestuosas geralmente as relações sexuais entre pais e filhos, irmãos e irmãs ou meio irmãos e entre tios e sobrinhos. Pedofilia é uma forma doentia de satisfação sexual. Trata-se de uma perversão, um desvio sexual que leva um indivíduo adulto a se sentir sexualmente atraído por crianças. Apesar da divergência conceitual entre médicos e psicanalistas, tendo como base a classificação internacional de doença da organização mundial de saúde, que, no item F65.4, define pedofilia como preferência sexual por crianças de ambos os sexos, em geral pré-púberes ou no início da puberdade. Todavia, no âmbito estritamente jurídico, a pedofilia é comumente conceituada como abuso sexual de crianças e adolescentes, ensejando inúmeros crimes previstos tanto no Estatuto da Criança e do Adolescente quanto no Código Penal. Fundamentada no que diz respeito à palavra de Deus, a pedofilia é uma maldição que assola a humanidade desde os tempos remotos. Foi implantada pelo Diabo para ridicularizar e insultar o Criador, que instituiu tudo na perfeição. Podemos observar que após a queda de Lúcifer e a desobediência de Adão e Eva, todos os seres humanos permaneceram inclinados ao pecado.

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REFLEXÃO Toda perversão é abominação diante de Deus. Ainda mais quando o pervertido ofende aos que seguem um estado de inocência, como no caso das crianças. (Referências bíblicas: Gênesis: 2:1-7; Mateus 21:16 e Apocalipse 21:8.)

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9

CAPÍTULO

A FERA FERIDA E O MENINO PERDIDO

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E

la veio à minha procura determinada a jogar para fora algo que estava roubando sua paz. Vestia-se com esmero, tinha um corpo bem definido e suas curvas eram visíveis por causa das roupas marcantes que usava. Embora aparentasse beleza e sensualidade, não foi esse o motivo que a trouxe a mim. Tão logo me viu, ela já foi falando: – A senhora não me conhece, mas sei que é pastora e preciso desabafar. – Sim, claro. O que houve? – Meu esposo, aquele vagabundo, foi embora de casa com uma prostituta. – Como está lidando com isso? – Mal. E o pior é que temos um filho adolescente de treze anos, que está com um comportamento muito estranho. – Entendo que o momento é difícil, mas com a sua ajuda e a ajuda de Deus essa tempestade vai acalmar. – Pastora, a senhora não imagina o que meu filho fez esta semana! – O que aconteceu? – Assustado desde que o pai foi embora, ele acha que tem de cuidar de mim, ser o homem da casa. – Veja pelo lado bom: ele está amadurecendo, criando responsabilidade. Cabe a você estabelecer o limite.

– Fiquei muito assustada com algo que vi meu filho fazendo. Eu não sei o que ele estava vendo na TV, mas foi horrível vê-lo cheirando minha roupa íntima de dormir. E ele parecia excitado. – O que você fez? 56


– Eu? Fiquei em choque, peguei minha roupa e falei para ele não voltar a fazer isso.– Qual foi a reação dele? – Ficou assustado, aparentava estar envergonhado comigo pela forma brusca como peguei minhas roupas – De fato, foi uma situação inesperada para ambos. – Eu achava que sim, mas, à noite, eu estava dormindo, quando ele entrou no meu quarto. Acordei com o barulho da porta e logo o vi chorando, estava com o pênis ereto e pediu para fazer sexo comigo. – E você o que fez? – Fiquei em choque. Apavorada, o abracei para acalmá-lo. Nesse abraço, houve o toque e algo despertou em mim, não consegui evitar e transamos. Naquele momento, eu era uma mulher, e ele um homem desesperado por mim. Depois dessa noite, nós dois não paramos mais. Eu gosto muito de estar com ele. O que devo fazer? – Sabe que cometeu dois crimes? – Sim. – Deseja mudar? – Preciso de ajuda. – Então, primeiramente arrependa-se de todo o mal que fez a si mesma e a seu filho. Esse ato não só é crime previsto pelo Estatuto da Criança e e do Adolescente quanto pelo Código Penal. Sem esquecer que é abominável para Deus. Está escrito na Bíblia, em Salmos 127:3, que os filhos são herança do Senhor. Em Apocalipse 21:8, é dito que serão condenados os imorais e os que seprostituem. – Fiquei desorientada, não pensei nas consequências. 57


– Entendo. Quem nunca pecou que atire a primeira pedra. Se, de fato, deseja redimir e salvar seu filho perdido no meio dessa guerra de adultos, procure um psicólogo para os dois, ambos precisam de ajuda especializada. Depois, leve seu filho para ficar com os avós o tempo preciso para o tratamento. Você não tem capacidade nem direito de morar com ele. Quando decidiu abusar de um menor, passou de mãe a ré. Ser mãe dele não a exime de nada. Pelo contrário, complica tudo. – Mas ele quis. – Nada justifica, esse adolescente é vítima de abandono, incesto e abuso sexual. Ele perdeu a referência de família e já não tem em quem confiar. O pai deixou sua família por uma prostituta e a mãe desistiu da maternidade para ser sua amante. – Tudo isso só aconteceu por culpa do meu marido, que me traiu. – Entendo sua revolta, sua carência ou solidão. Mas não compreendo por que, com tantos homens no mundo, você foi capaz de fazer mal a seu próprio filho. – Foi sem pensar. – Não estou aqui para julgá-la, mas devo conscientizá-la da gravidade desse seu ato. – Obrigada. – Conte com minhas orações e eu conto com a sua mudança de postura. Volte a se amar e automaticamente amará seu filho como tal. – Eu peço que não deixe de me atender –pediu-me enquanto levantava-se. 58


– Quanto a isso, não se preocupe. Um mês depois... – Olá, pastora – disse-me ela. – Olá, como você estão? – Estava ansiosa para falar para a senhora que já estou mudando. – Fico feliz em saber. E o seu filho? – Estamos mais controlados, o sexo, que antes fazíamos todos os dias, agora passamos a fazer só três vezes por semana. – Lamento informar: os crimes e o pecado são os mesmos, independentemente da quantidade. – O que devo fazer? – Coloque-se no lugar de uma criança e trate seu filho como gostaria que seu pai lhe tratasse. – Eu tenho compromisso – disse ela, olhando as horas no seu lindo relógio. Levantou-se e despediu-se apressadamente e saiu como quem estava a fugir de uma guerra. – Claro, fique à vontade. Nunca mais voltou.

REFLEXÃO “Quanto aos perversos, são suas próprias iniquidades que o amarram e o fazem prisioneiro das cordas do seu pecado” (Provérbios 5:22).

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10 CAPÍTULO

A MENINA E O LOBO

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E

la mancava de um dos pés por causa de um acidente que havia sofrido no passado. Aparentava ser adulta, mas não tinha mais que quinze anos de idade. Era muito educada, com um olhar distante e profundo que não sufocava a beleza do seu rosto, embora deixasse evidentes as marcas do sofrimento. Entrou em minha sala em busca de solução para o sofrimento de sua alma, e não de seu corpo. Convidei-a para sentar e contar sua história. – Preciso de ajuda. Quero muito perdoar meu pai. – O que houve? – Quando eu tinha oito anos de idade, meu pai já era aposentado. Tomava conta de mim e dos meus irmãos enquanto minha mãe passavao dia fora trabalhando. Todos os dias – continuou –, meu pai mandava meus irmãos irem brincar na rua e me trancava dentro de casa com ele. Era terrível, ele tirava minha roupa, depois a dele, acariciava meu corpo nas partes íntimas e colocava o seu pênis em mim. – E o que você fazia? – Eu não queria. Ele me obrigava. Ameaçava matar minha mãe e meus irmãos. – Seus irmãos não desconfiavam? – Perguntavam o porquê de o meu pai não me deixar brincar com eles. – O que você respondia? – Que ele não me deixava ir porque eu não podia ir para a rua. Um dia, meu irmão me viu triste e perguntou o que eu tinha. Eu disse-lhe tudo e pedi que não contasse aninguém. Quando minha mãe chegou, ele contou tudo a ela, foi horrível. 62


– O que ela fez. – Juntou os filhos e fomos todos para a casa da minha tia. Denunciou o caso à polícia e me levou ao médico para fazer exames. A justiça determinou que meu pai estava proibido de se aproximar de nós. Voltamos para a nossa casa e seguimos com a nossa vida. Tempos depois, meu pai, já de idade avançada e alegando que não tinha para onde ir, convenceu minha mãe a deixá-lo voltar a morar conosco na casa superior. – Sério? Por quê? – Acho que ela teve compaixão. E também o amava. Descobri que eles se relacionavam às escondidas, e isso me deixou revoltada com minha mãe. – Como assim?– Às vezes, pelas atitudes dela, eu percebia que ela tinha ciúmes de mim, como se eu tivesse alguma culpa do que ocorreu entre mim e meu pai. Eu ficava revoltada por ver que meu pai me via como uma mulher qualquer e minha mãe me via como uma rival, traidora. – Entendo. E hoje, como você está? – Os anos se passaram e eles se separaram definitivamente. Ele vive com outra mulher, mas continua morando no mesmo lugar. Eu comecei a frequentar a igreja e participar da escola bíblica dominical, e agora meu desejo é perdoar meus pais e viver minha vida. – É muito nobre e inteligente a sua atitude. O que você acha de fazer terapia semanalmente? – Ótimo! – Na primeira semana, trabalhamos a sua identidade. Na segunda, o perdão. Na terceira, como lidar com o passado sem atrapalhar o futuro. Na quarta, a libertação dos traumas 63


na dimensão espiritual. Na quinta, a reconciliação com você própria, com Deus e com seus pais. Na sexta, a sua meta, os seus sonhos e projetos. Eu a acompanhei por muito tempo e nos tornamos amigas. Uma espécie de relação de mãe e filha. Apesar de ter vivido momentos dos mais horríveis que se possa imaginar, o incômodo de manter relações quebradas em algum momento tornou-se maior do que o sofrimento. A violência emocional fazia com que ela levasse um fardo pesado para o futuro. Sua iniciativa e seu esforço em buscar a Deus com terapia intensiva permitiram uma nova leitura de si mesma de maneira libertadora e ímpar. As marcas nunca serão esquecidas, porém, agora, principalmente meio do gesto de perdão, aquela jovem, agora mulher, é capaz de vencer os fantasmas de sua infância com uma mente liberta e o espírito renovado. Ela superou o passado, perdoou seus pais e a si mesma. Tornou-se dona de si, conquistou trabalho e estabilidade financeira. Casou-se, é mãe. Uma vencedora!

REFLEXÃO O passado sempre será contado como história e experiência. Não sabemos se o amanhã vai chegar, porém o hoje é real. É uma dádiva divina – até por isso se chama presente. Devemos amar hoje, perdoar hoje, viver hoje, pois o amanhã é incerto, talvez não chegue. Devemos perdoar como Jesus ensinou: setenta vezes sete (Referência bíblica: Mateus 18:22).

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11 CAPÍTULO

O CORREDOR DO HOSPITAL

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P

arecia tudo normal. Amanhecera e eu, como sempre, estava grata por ter recebido do Criador a oportunidade de viver e ser melhor do que havia sido no dia anterior. Foi em meio à alegria de viver que recebi um chamado para comparecer ao hospital para atender uma senhora com pouco menos de cinquenta anos. Ela precisava de atendimento pastoral, estava hospitalizada havia alguns dias e sofria muito. Estava na fase terminal de uma doença. Quando fui ao seu encontro, ela me agradeceu, e me pediu para conversar andando no corredor do hospital com ela apoiada em mim. Carinhosamente aceitei, embora surpresa devido à sua fragilidade. Enquanto andávamos limitadamente, apoiadas pelo elo do amor de Deus, ela abriu seu coração angustiado. – Eu pedi que viesse ter comigo porque preciso muito confessar algo que guardo há muito tempo. Preciso me livrar desse peso. – Fique à vontade para falar – disse-lhe enquanto segurava sua mão, já que o braço estava apoiado em mim. – Sempre fui uma pessoa íntegra, espiritual, e tive uma vida de santidade com Deus. Mas isso mudou quando conheci meu esposo. Apesar de sermos os dois cristãos, não tivemos um namoro santo como deveria ser e como eu desejava que fosse. – Entendo, mas vocês se casaram? – Sim, mas nunca falei para ninguém que tive um namoro com carícias, toques e sem santidade. – Falou com Deus sobre isso?

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– Sim, muitas vezes, e me arrependi muito. – Essa atitude é o que de fato importa. – Mas mesmo assim eu ficava arrasada quando as pessoas me elogiavam por eu ser uma jovem santa e por ter casado virgem e ser um exemplo para elas. Na verdade, casei virgem no que diz respeito ao ato sexual em si, porém, não às carícias picantes. Isso me roubava a paz. – Com relação às pessoas, não se preocupe com elas. Todos falham, cometem pecados, e ninguém fala nada para você. Eu a convidei para orarmos juntas, quebrarmos todo jugo de Satanás, toda culpa que ele lançou sobre ela. Para que o doce Espírito Santo inundasse seu coração com cura, paz, alegria e amor. – Obrigada – disse ela, sentindo-se aliviada. Foi nesse momento que pude ver pela primeira vez seu lindo sorriso. Nó nos abraçamos e a partir daquele dia nos tornamos sócias de oração.

REFLEXÃO Pecado confessado é pecado perdoado. (Referência bíblica: 1João 1.19) As condições para se obter perdão de Deus são justas e razoáveis. O Senhor não requer de nós cometamos atos penosos a fim de alcançarmos sua misericórdia. Não precisamos cumprir longas e cansativas peregrinações afim de encomendar nossas almas a Deus para eliminar nossas transgressões. 67


“Quem confessa [suas transgressões] e deixa alcança misericórdia” (Provérbios 28:13b). A confissão verdadeira é entre você e Deus, e deve ter sempre caráter específico, ser bem definida e sem rodeios, reconhecendo justamente os pecados dos quais somos culpados.

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12 CAPÍTULO

O CASAL NO SUPERMERCADO

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N

a Igrejinha em que eu tive a honra e o privilégio de o Senhor me confiar o mais precioso dos seus rebanhos, havia uma evangelista muito ungida, dona de um coração puro, fiel e cheio de fé. Bem casada, mãe exemplar, ela compartilhava absolutamente tudo com o marido. Ela me procurou porque precisava desabafar algo que havia acontecido e a estava incomodando muito, em especial quando deitava à noite. – Estou triste com meu esposo – disse ela. –E às vezes foge-me o sono quando penso no que ele fez. – O que houve? – Fomos ao supermercado como fazemos todos os meses e subitamente fomos abordados por uma senhora. Ela era distinta, bem vestida, fina e muito educada. Disse-nos que estava vivendo um momento difícil financeiramente e que naquela manhã orara a Deus pedindo que lhe enviasse alguém no supermercado para ajudá-la e que quando nos viu Deus lhe disse que éramos nós. – Ela tem filhos? O que vocês fizeram? – Tinha filhos e os havia deixado em casa esperando a providência de Deus. Meu esposo não hesitou, falou imediatamente para aquela senhora pegar o que precisava que ele pagaria. – Sim – Quando ela voltou com as compras, o carrinho estava cheio de guloseimas, havia queijos, salames, petiscos, carnes… nada de básico ou essencial para matar a fome. O valor foi exorbitante, como era de esperar, pois naquele carrinho de compras havia coisas que nem eu nem meus filhos consumimos.– O que te incomodou? Eu te conheço e sei o quanto vocês são generosos e gostam de ajudar. 70


– Sim, Deus me conhece. Eu fiquei triste pelo fato de o meu esposo ter tomado essa decisão sozinho, embora eu estivesse junto, como sempre fizemos. Tive a sensação de que estávamos sendo enganados. – Entendo o seu desapontamento. Acredito que foi impulsionado por Deus que seu esposo agiu dessa maneira, do contrário não teria sentido fazer assim, visto que vocês estavam juntos. – Não sei, mas não consigo parar de pensar nessa atitude do meu marido. – Falou com ele sobre isso? – Não. Queria antes uma resposta de Deus. – Então, eu proponho colocarmos tudo isso em oração, porque se foi Deus que realmente enviou essa senhora para que vocês a ajudassem, o próprio Deus vai lhes restituir de alguma forma. E você saberá. Mas se de tudo não acontecer, você deverá falar como se sente com relação a esse episódio para seu marido e pedir-lhe para não agir mais dessa forma. Dias depois, ela me procurou. Estava radiante. Eles haviam recebido uma carta da seguradora de um carro que havia tempos tinham quitado informando que eles tinham um valor significativo para receber devido a um ajuste que não fora feito no ato da quitação do carro. – Então, o que vocês receberam foi superior às compras da distinta senhora?– Sim, algumas vezes mais. Vamos agradecer a Deus. Ele responde lindamente. É importante que você fale com seu esposo sobre tudo isso. – Sim, estou feliz. 71


REFLEXÃO “Aquele que ajuda ao necessitado empresta a Deus” (Provérbios 19:17). Feliz é o homem que tem crédito com Deus.

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13 CAPÍTULO

DROGAS E DÍZIMOS

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DROGAS Droga, segundo Organização Mundial da Saúde (OMS), é qualquer substância que, introduzida no organismo, interfere no seu funcionamento. Tanto é droga a maconha quanto o álcool, a cocaína, o crack, o lança-perfume, o cigarro, a aspirina, o antibiótico, os remédios de tarja preta (controlados) e o cafezinho. O que varia é como a droga atua no organismo de cada indivíduo, bem como sua finalidade, pois quando usada para fins terapêuticos, a droga é chamada de medicamento. Em geral, as drogas proibidas (maconha, cocaína, crack etc.) possuem elevada capacidade de causar dependência química e psicológica no indivíduo, e a probabilidade de levá-lo a morte, seja a curto ou a longo prazo, é inevitável, como no caso de consumo excessivo, a chamada overdose “A droga é uma droga.” Não é novidade para ninguém a prisão de pessoas por tráfico de drogas (organização inteligente de crimes), bem como de outros crimes associados a ele, como furtos, latrocínios, homicídios, dentre outros. Os furtos praticados pelos usuários, em especial os que se utilizam do crack, começam quando seu salário não basta para sustentar seus vícios. Eles partem então para os furtos de pequenos objetos. Em seguida, vem o latrocínio (roubo seguido de morte) e o homicídio, na maioria das vezes acertos de contas por territórios de quadrilha especializadas e por valores irrisórios. O que mais assusta a nossa sociedade é o fato de muitas pessoas conhecidas no tráfico como “mulas” não tem cons74


ciência das consequências de seus atos, pois pensam que ratificar drogas é igual a vender bebidas ou cigarros. Na verdade, a diferença é gigantesca, tendo em vista as consequências maléficas não só em termos materiais, como, especialmente, de degradação humana e inclusão social. Portanto, ambos são igualmente responsáveis, tanto o traficante quanto o usuário de drogas, que compra apenas para seu consumo próprio, não dando o devido valor ao próximo, sem querer saber se este vai ou não sofrer com sua compra egoísta e criminosa, ainda que parcialmente.

DÍZIMOS Na tradição judaico-cristã, a palavra dízimo tem origem no latim (decimus), que significa a décima parte de um determinado valor. Era um tributo pago no Antigo Testamento, espécie de imposto religioso instituído por Deus, uma prática imprescindível, sendo que seus sonegadores e maus gestores eram cobrados por quebra de lei divina estatal e perdiam a blindagem conferida contra o destruidor da nação, família e indivíduo. Pois entendia-se que antes de sonegar o dízimo vinha a avareza, o amor ao dinheiro e a quebra de compromisso do pacto entre os filhos e Deus Pai. Hoje, a igreja não é estatal como ocorria sob a legislação mosaica, o dízimo deixou de ser um ato compulsório e sujeito à ingerência do Estado. A igreja como uma instituição é umainiciativa privada. Portanto, ninguém em absoluto gostaria de manter funcionando uma instituição de caráter religioso inchada que 75


apenas produz ferrugem em vez de atitudes de amor ao próximo e de fé em Deus. Somos corpo de Cristo. Como igreja desfrutamos dos benefícios e malefícios advindos da nossa participação ou omissão, sejam de ordem material ou espiritual, conforme o livre arbítrio (Romanos 2:6).

REFLEXÃO “Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza nem por constrangimento, porque Deus ama ao que dá com alegria” (2Coríntios 9:7).

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14 CAPÍTULO

A PASTORA E A TRAFICANTE

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E

la chegou à igreja. Escondia sua beleza por trás de sua timidez. Apesar de contida, olhava com um olhar perdido em minha direção, como se estivesse em seu próprio mundo, desconhecido para mim até então.

Fomos apresentadas por sua mãe, que havia nos visitado na semana anterior. Eu as convidei a entrar e participar conosco do culto e ela aceitou. No final da celebração, ela pediu oração, reconciliou-se com Deus e agendou uma visita pastoral em sua casa na terça-feira, às 9 horas. Combinado, respondi alegremente. – Pastora, já agora quero que saiba que sou traficante de drogas e vivo disso. – Não tem problema – respondi-lhe, pois Jesus veio para todos e você é tão importante e bem-vinda quanto qualquer um de nós.– Obrigada, pastora, assim fico mais segura. No dia e hora combinados, eu e mais duas obreiras estávamos a bater em sua porta. – Entre por favor – disse com um sorriso e olhos sonolentos. Com todos já acomodados, ela chamou os familiares, pai, mãe, irmão, filhos e namorado para estarmos juntos. Ali falamos do plano maravilhoso de Deus e do quanto o Senhor Jesus fez e fará pelos que acreditarem em seu nome e seguirem sua palavra. Todos receberam de bom grado Jesus e se comprometeram de à noite se juntarem a nós, para adorarmos a Deus no culto. E assim o fizeram, para nossa alegria. Ela era assídua e por vezes suas atitudes eram dignas de quem desejava contribuir financeiramente para o bem geral da obra social realizada com os menos favorecidos. Embora 78


tudo estivesse caminhando bem para uma grande obra, sabíamos que era um processo difícil. Dois meses depois… – Pastora – disse-me ela. – Já faz um tempinho que estou aqui, sinto-me feliz e abençoada, hoje trouxe meu dízimo. – Amém, fico feliz que você esteja feliz. – Então eu posso dizimar? – Qual é sua dúvida? – Como a senhora sabe, eu sou traficante de drogas e como desde que estou frequentando essa igreja minhas vendas aumentaram e os negócios correm muito bem, quero dizimar. Olhei dentro dos seus olhos e, com muito carinho e respeito, falei: – Amada, saiba que para Deus você é a maior e melhor oferta que existe. Não se preocupe com dinheiro. – Por quê? – questionou ela. Vejo todos entregarem o dízimo aqui. – Sim, tem razão – respondi-lhe. – Porém, eles contribuem porque desejam ajudar na manutenção da casa de Deus. Mas são voluntários para fazer isso e ofertam do seu trabalho. – Eu também – me disse ela. – Todas as noites, faça calor ou frio, eu me arrisco, pois tanto posso ser pega pela polícia quanto pela concorrência, não imagina como é complicado.

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– Entendo tudo isso, e lamento, mas tenho de ser sincera com você. A igreja não compactua com seu “trabalho” porque é uma prática criminosa. Você ganha dinheiro e os consumidores são destruídos gradativamente ou ate subitamente como no caso do jovem que foi brutalmente exterminado em plena luz do dia enquanto jogava futebol, diante dos torcedores e colegas de time. – Esse caso foi um acerto de contas. Eu lhe garanto que tentei impedir, mas não consegui. Esse mundo é assim mesmo. Então? Eu posso ou não entregar meu dízimo? – insistiu ela. – Não – falei brandamente e com convicção. – Por quê? – perguntou ela, já com voz trêmula e semblante triste. – Amada – respondi –, Deus é dono do ouro e da prata e não precisa de dinheiro, antes ele precisa do seu coração, da sua renúncia e adoração.– Então, por que vejo os outros entregarem dízimos e ofertas? – Porque, antes de dar o dízimo e a oferta, eles entregaram suas vidas a Deus, e o que eles faziam de errado deixaram de fazer, e do que conseguem com o trabalho digno e honesto eles contribuem louvando a Deus. Mas se de toda forma você deseja mesmo contribuir, pode fazê-lo desde que deixe o tráfico de drogas, e do dinheiro limpo o faça. Não importa o valor. Deus ficará feliz pela sua obediência. Acredito mesmo que você tem bom coração. A prova disso é sua presença aqui, mas entenda que para Deus e para mim, como pastora, as pessoas estão acima do dinheiro, e sua salvação acima de qualquer coisa. 80


Ela guardou o envelope com o dinheiro, frustrada, disse-me tudo bem, vou entrar. Uma semana depois… – Como ela não voltou a igreja, resolvi visita-la pois, já conhecia seu endereço e como era de imaginar ela estava distante e com cara de poucos amigos, mas mesmo assim abriu a porta e nos convidou a entrar e foi categórica ao falar. – Eu gosto muito da senhora pastora, mas não voltarei a frequentar a igreja, porque não vou abandonar meus negócios do dia para a noite, não sei fazer outra coisa, além do mais sou ex presidiária, quem me daria emprego? Como vou sustentar minha família? – Amada, você não estará sozinha nessa nova caminhada – assegurei-lhe vamos encontrar uma solução, existe o micro -empreendedor é uma oportunidade de ter seu próprio negocio. E, quanto ao Processo judicial, temos amigos pastores Que também são advogados nos ajudarão. Acredite, não podemos resolver seus problemas, mas, uma coisa tenha certeza no que depender de nos vocês não passará sozinha. – Vamos a isso então, disse ela ainda incrédula e desconfiada. – No dia seguinte fomos ao advogado e juntos estudamos a possibilidade de ajuda-la. Mas, era visível na sua fisionomia que, mediante a tanta burocracia, ela não iria trocar as mordomias da velha vida, mesmo que essa escolha a distanciasse de Deus e do seu imensurável amor. E assim como o inverno chega trazendo consigo o frio cómodo, chegou o dia em que ela esfriou-se para com Deus.

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Embora ela nos recebesse sempre em sua casa, não queria mais frequentar a igreja. Nós lamentamos imenso sua decisão e com tristeza no coração respeitamos seu livre arbítrio. Embora ela desconhecesse ainda nos restou o ultimo recurso para ajuda-la” A oração”.

REFLEXÃO Se Jesus é o Senhor de nossas vidas, então devemos renunciar nossa própria vontade e fazer a vontade do Pai (Mateus 7.21).

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15 CAPÍTULO

A BELA E O URSO

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ecebi a Bela no escritório. Aparentava ter 38 anos, era elegante, bonita, delicada. Embora servisse a Deus como obreira na sua igreja, não tentava esconder um pedido de ajuda. – Sente-se, esteja a vontade. – Obrigada. – O que houve? – Sou divorciada há dois anos. Meus filhos, percebendo que eu sempre estava sozinha, me inscreveram em um site de relacionamentos para cristãos. Tudo era novo para mim, até mesmo a internet, mas fui tentar, já que o incentivo veio dos próprios filhos. – Ótimo! – Recebi uma mensagem de um homem que gostava de ser chamado por Urso. – Sério? Por quê?– Ele era um charme: 44 anos, 1 metro e 95 de altura, 110 quilos, olhos verdes, cabelos e cavanhaque grisalhos, descendente de alemães. – Entendi – Fomos nos falando pelo chat e depois trocamos os números de telefone. Em pouco tempo, marcamos um encontro no centro comercial, mais precisamente em uma loja de calçados masculinos em que ele supostamente precisava trocar uns sapatos. Apesar da noite linda e propícia para o momento, relutei em avançar para o desconhecido. Por fim, e por causa do telefone que não parava de tocar com ele informando que já estava à minha espera, venci a mim mesma. – É natural – Quando o vi em frente à loja, meu coração disparou: minhas mãos transpiravam, eu sentia meu rosto corar, pois era tal e qual as fotos e o nome Urso lhe fazia jus. 84


– Olá – disse ele aproximando-se de mim. – Olá – respondi timidamente. Sentia uma mistura de vergonha com timidez. Ele, percebendo minha reação, adiantou-se. – Desculpe eu ser tão espontâneo. Vamos fazer assim: minha casa fica a cinco minutos daqui. Levamos essas coisas lá e em seguida vamos a uma ótima pizzaria. O que acha? – Tudo bem, mas devo lembrar que preciso voltar cedo para casa. – Prometo. – Realmente, a casa era de fato próxima, e em menos de cinco minutos conheci bastante da vida do Urso, como o carro com logotipo grande da sua empresa escrito nas portas: “ALFA E OMEGA”, casa, cachorro, seu time de futebol. E uma exposição fotográfica da falecida esposa. – Intenso. – Sim, tudo parecia incrível, um sonho bom. Fomos à pizzaria e ele se portou como um cavalheiro. Depois, convidou-me para ver a cidade de cima, do mirante. A noite estava linda, as estrelas iluminavam à meia-luz e o vento frio nos convidava para o abraço. Eu me senti hipnotizada pelo belo par de olhos verdes a penetrar na janela da minha alma, foi num piscar de olhos que despertei e quebrei o clima, com o convite para voltar para casa. Desapontado, mas sem perder o charme, concordou comigo. – Já em frente à minha casa, ele abriu a porta do carro para mim e me disse: – Obrigado pela noite agradável. O que você gostaria de fazer antes de terminar o ano? Esticou a mão para me entregar um pedaço de pizza. 85


– Estamos em dezembro, deixe-me ver… Gostaria de conhecer a Suíça brasileira, ou seja, Campos do Jordão. Quanto a pizza eu agradeço, mas não quero. Leve para seu cão. E nos despedimos. – Por que não aceitou a pizza? – Sei lá, parecia que eu não tinha o que comer. – Claro que não, ele estava tentando ser gentil, possivelmente percebeu que você tinha comido pouco. – Pode ser, mas achei brega. Nessa mesma noite, nos falamos por telefone e ele me convidou para conhecer Campos do Jordão no domingo seguinte. Eu aceitei. No dia e hora marcados, ele estava na porta da minha casa, lindo, loiro, de óculos escuros, dentro do Alfa e Omega, ao som da banda Fogo no Pé. Foi impactante! – De fato. – Bom dia, Bela – disse ele, abrindo a porta do carro para mim. – Como foi a viagem? – Deliciosa, ao som de música gospel e na presença de Deus. O Alfa e Omega parecia mesmo um santuário de adoração. Era maravilhoso estar perto dele. Seu olhar penetrante, sua alegria e simplicidade, seu carinho, sua beleza sedutora contida pelo respeito. Foi nesse clima encantador que conheci o Museu de História, o centro comercial, andei de teleférico até o morro do elefante, ganhei uma camiseta. Tudo parecia um sonho. Com a mesma alegria que fomos, retornamos. – Incrível mesmo.

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– Sim, ele fotografou tudo e, quando chegamos à minha casa, tamanha foi minha surpresa quando ele me pediu para passar as fotos para o meu computador. – Qual foi sua reação? – Pedi desculpas e disse que não poderia ser. Ele, muito educado e um tanto surpreso, aproximou-se de mim e me beijou com um beijo de cinema daqueles com sabor de quero mais. Foi embora e eu fiquei sonhando com um urso na minha vida. No dia seguinte, mandou mensagem de bom dia. E me fez três convites: conhecer sua igreja; almoçar na sua casa; passar o Natal com sua família, que morava numa cidade vizinha. – Você aceitou? – Sim, fui com ele à igreja e fui apresentada. Foi uma bênção. Quanto ao almoço, foi uma surpresa, pois ele era ótimo anfitrião e também cozinhava muito bem. Seus amigos eram simpáticos, amáveis, um casal jovem e bonito. Estávamos a degustar a saborosa comida, quando, de repente, o Urso pede licença e faz um pedido de casamento para mim. – Ele realmente sabe surpreender. – Sim, eu aceitei. Parece loucura, mas pensa comigo. Ele preenchia todos os meus requisitos e queria casar. Além do mais, eu estava apaixonadíssima por ele. – Sim. E o Natal? – Dois dias antes do Natal, ele me convidou para ir à casa da sua mãe levar as compras para os preparativos do Natal. Fui apresentada à futura sogra e muito bem-recebida por ela. Era uma senhora simpática, de baixa estatura,

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prática, autoritária, tinha um vocabulário impróprio para alguém da sua idade. Parecia que havia saído de um desenho animado. Nós nos despedimos da sua mãe, e, de volta para casa, ele me convidou para tomar um sorvete em sua casa. Eu aceitei. Era um domingo quente e o Urso já havia conquistado minha confiança. – De fato. – Então, compramos o sorvete e fomos degustá-lo e apreciar um pouco mais da alegria de estarmos juntos. O sorvete estava gelado, mas não o suficiente para esfriar os nossos hormônios. Aconteceram alguns beijos e já estávamos deitados no espaçoso sofá, olho no olho e aquele homem lindo declarando seu desejo e sentimentos por mim, prometendo me fazer feliz. Meu corpo desejava o dele e eu estava ficando rendida ao romantismo e ao ataque predador. – O que aconteceu? – Melhor dizer o que não aconteceu. Sempre que combinava de sair com ele, eu pedia a Deus que me livrasse de todo mal, e assim foi. De súbito, eu me lembrei do sorvete e pedi-lhe um pouco mais. Enquanto ele foi a cozinha, voltei à razão, coloquei-me de pé, calcei os sapatos e recebi o sorvete. Engoli apressadamente e o mais rápido que pude peguei minha bolsa e fui em direção à porta. Foi quando ele se aproximou de mim a fim de atacar a presa novamente. – Bela, pensei que passaríamos a tarde aqui só nos dois. – Desculpe, tenho mesmo e ir, mas fique você, descanse e na terça-feira, na véspera de Natal, nos encontramos. Frustrado e ainda investindo todo charme de um urso sedutor, ele tentava me convencer a ficar. 88


– Peço imensas desculpas, mas tenho compromisso logo mais, vou à cantata de Natal. – Tudo bem. Posso pelo menos te levar para casa? – Não quero incomodá-lo. – Está decidido. Eu a levarei. – Acabei por aceitar e já dentro do Alfa e Ômega, ele quebrou o silêncio. Falou que estranhou meu comportamento infantil e lembrou que éramos adultos. Olhei bem dentro daqueles lindos olhos verdes e disse-lhe: – O problema aqui é só um: somos cristãos e, como tais, sabemos que o sexo antes do casamento entristece a Deus. Fiquei chocada com ele, visto que se dizia diácono. – Não venha me julgar. Meu pastor disse que não tem nada a ver – falou ele, ficando vermelho. – Entendo e respeito sua opinião, pois a vida é sua. Quanto a mim, quero que saiba que, ainda que meu corpo deseje o seu e que meus hormônios gritem por sexo, eu não farei com você. – Por que não? – Eu amo e pratico a palavra de Deus. E, ainda que você tenha despertado meus sentimentos e eu tenha me apaixonado por você como uma adolescente, eu prometo a Deus, a mim mesma e a você que não teremos momentos íntimos. Eu busco um casamento, e, se sua busca é sexo, não precisa perder seu tempo comigo. – Claro que não, desculpe, posso te pegar à noite para irmos a cantata juntos? – Sim, mas nada mudará. 89


– Ele voltou? – Sim, pontualmente. Foi uma belíssima apresentação, tudo estava perfeito até a volta para casa. O clima estava tenso e cheirava a mudança, apesar de estarmos juntos e longe ao mesmo tempo. Ele estava calado, frio, e nos despedimos com um beijo seco.O natal chegou e com ele trouxe o Urso à minha porta para, juntos, passarmos com sua família, conforme o combinado. Ele estava apressado e, embora eu o presenteasse com uma caixa de chocolates e uma xícara personalizada, ele não só veio de mãos vazias como foi sincero e indiscreto ao falar que não tinha hábito de presentear naquela altura do ano. Fiquei desapontada, pois havia feito tudo com carinho. Nesse clima tenso, chegamos à casa da sua mãe. Todos sem exceção me receberam bem, mas eu me sentia fora do contexto, eles contavam piadas, riam às gargalhadas, jogavam e falavam em rodas. Eu pensava: nada é perfeito. Essa família será a minha família. A festa acabou e, antes de irmos embora, a mãe dele pediu para voltarmos no dia seguinte para o almoço. – E você? – Não prometi, mas ela insistiu tanto que aceitei. Durante a volta para minha casa, ele se limitou a falar da sua família Buscapé e do quanto eles tinham gostado de mim. Reforçou o convite e nos despedimos. No dia seguinte, estávamos lá outra vez e, para minha surpresa, a minha futura sogra me convidou para ir com ela ao lar de idosos onde estava sua mãe, que sofria de Alzheimer, para convidá-la a passar o dia conosco. Sua mãe era uma senhora, branca como a neve, olhos verdes, franzina, de baixa estatura, cabelos brancos acinzentados, com um lindo corte Chanel e sem um centímetro de memória. 90


Ela comia bastante e reclamava que estava sendo maltratada e que passava fome. Eu pensava: essa será minha família. Nós nos despedimos e voltamos para casa. A frieza do Urso era visível. Quando chegamos em minha casa, eu lhe falei que iria viajar para passar três dias com minha irmã. – Posso te levar à rodoviária? – Se não for incômodo, amanhã às sete horas. – Será um prazer. – Obrigada. No dia seguinte, eu havia preparado café da manhã para os dois. Ele chegou pontualmente, mas não quis o café. Partimos sem mais delongas, pegamos no caminho uma amiga que iria comigo e assim fomos os três felizes para o destino. Nós nos despedimos dele, que disse já estar com saudades de mim. – Impressionante. E como foi com sua irmã? – Uma festa. Ela é minha melhor amiga, e ficou radiante com tudo o que lhe falei sobre o meu encantador urso. Era visível minha alegria a cada ligação que ele me fazia. Um dia antes do meu regresso para casa, ele ligou novamente, mas dessa vez sua voz estava embargada e ele se mostrava um tanto estranho. Disse-me que havia feito faxina na sua casa e por isso vira muita coisa da sua esposa recentemente falecida, o que o deixara perturbado, confuso. E que precisa mesmo de mim, estava contando os minutos para me ver. – Entendo, esse é o período difícil do luto. – Apesar de assustada, contive-me e me limitei a dizer o entendia e que ia passar. 91


– De fato, o luto depende de como cada pessoa o encara. Geralmente, leva tempo quando a pessoa não tem um bom acompanhamento. Existem casos que merecem cuidado especial e é preciso tratar os sentimentos como solidão, saudades, culpa, remorsos, revolta. Na verdade, não choramos porque perdemos um ente querido, choramos porque aquela pessoa que sempre estava lá para nós já não mais voltará. – Isso é egoísmo. – Também. – Pois foi em meio a um suspense que voltamos para casa. Tão logo cheguei, liguei para avisá-lo. Sua voz parecia triste, percebi um suspense. Orei e coloquei em Deus toda essa situação. – Fez bem.– Era domingo de manha, véspera de ano novo quando ele me ligou. Estava aflito e ansioso para me ver e falar algo comigo e queria saber se podia ir à minha casa. Respondi que sim, e em menos de dez minutos ele chegou e estacionou o Alfa e Ômega em frente à minha porta. Deixou um amigo no carro. – Olá, Bela, desculpe vir assim. É que preciso olhar nos seus olhos e falar como me sinto. – Não faz mal. Entre e fique à vontade. Ele entrou, sentou, pegou minhas mãos, olhou-me com aqueles lindos olhos de forma penetrante e disse-me:– Não sou a pessoa que você pensa, tenho feito muitas coisas erradas das quais não me orgulho. Não sou digno de você. – Ninguém é perfeito – interrompi.

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– A verdade é que não sou sincero com você. Preciso consertar minha vida com Deus. Bela, você é especial, eu vejo Deus em sua vida e não te mereço. Hoje, vim te pedir perdão e terminar o namoro. – Como você reagiu? – Firme por fora. Por dentro, meu coração estava em erupção, pronto a explodir. – Imagino. – Como coração é terra em que ninguém anda, eu contive diante dele a dimensão daquela vasta destruição interna. Educadamente, olhando pela última vez aquele animal gigantesco em cujos abraços de urso sonhara viver presa, apreciando seus belíssimos olhos verdes que pareciam duas esmeraldas raras, eu lhe disse: – Não há nada a perdoar, eu é que agradeço os momentos bons que passamos juntos e tudo que, em tão pouco tempo você fez por mim. Ele colocou-se em pé e perguntou se poderia fazer uma oração. – Sério? Como você reagiu? – Aceitei, já agora queria ver aonde aquilo iria chegar. – Obrigado – disse ele, já começando a orar. – Como exatamente ele orou? – Agradeceu a Deus por minha vida, me exaltou e se diminuiu a si mesmo. Em seguida, me abraçou e foi embora livre, leve e solto, em busca da próxima vítima. – Como você tem lidado com tudo isso? – Não está fácil. Por isso vim pedir sua ajuda. 93


– Conte comigo sempre – eu disse, entregando-lhe um lenço para enxugar suas lágrimas teimosas. – Obrigada. Quando ele saiu, eu chorei muito, não por ele, mas por mim porque me expus a um total desconhecido e permiti que ele despertasse todos os sentimentos adormecidos desde o divórcio e me levasse ao desespero de ter meus sonhos desfeitos. – Acredite, é natural que de alguma forma você coloque para fora a sua dor. A culpa não é sua, todos nós temos princípios e valores e, quando estes são postos à prova, alguém sai perdendo. E garanto que não somos nós. Entenda que você é a protagonista de sua própria história no teatro da sua vida. Você é única nesse mundo real, sem precisar representar nem mascarar a brilhante pessoa que é. – Sim – concordou ela, mas tente convencer meu destroçado coração. Acredita que o Urso ainda teve o desplante de me ligar para saber como eu estava e me desejar um Feliz Ano Novo? – Isso é típico dos predadores. Primeiro conquistam e depois verificam sutilmente se a presa está vulnerável. – Foi o que pareceu. Quando atendi, confesso que cogitei a possibilidade de uma reconciliação, mas me limitei a ouvi-lo e, em seguida, com o máximo de naturalidade e esforço, agradeci e lhe desejei o mesmo. Desliguei o telefone o mais rápido que pude. Chorei mais um tanto, pois desejava muito passar a virada do ano com ele. Questionei a Deus o porquê de ele permitir dois grandes extremos em minha vida, encontrar alguém e perdê-lo com a mesma velocidade que o conheci. O céu parecia de bronze, as cores deixaram de existir, eu 94


enxergava tudo cinza. E o meu urso um selvagem devorador de coração. O que faço? Respondi-lhe com dez conselhos, listados a seguir. 1. Não desista de orar, a resposta virá a seu tempo. 2. Levante-se! Reaja. Vá à luta. 3. Nunca peça a Deus para trazê-lo de volta. Todos usufruímos do livre arbítrio e Deus reserva sempre o melhor para os que nele confiam. 4. Não mantenha amizade com ele. Dessa forma, ele não saberá o quanto ainda o quer. 5. Ocupe seu tempo, sua mente ao máximo. Faça coisas novas, frequente cursos, vá ao cinema com as amigas, pratique um esporte. 6. Não tenha receio de falar com quem confia sobre suas decepções amorosas e seus medos. Além de isso lhe trazer alívio, você ficará surpresa em saber que não foi a única a passar por isso. 7. Conheça novos candidatos. Agora, você tem mais experiência e saberá se proteger dos possíveis predadores como lobos e ursos. 8. Escreva cinco coisas boas que o Urso fez por você nesse curto e intenso espaço de tempo. 9. Perdoe o Urso e em seguida perdoe a si mesma por perdoá-lo. Do contrário, você ficara presa a ele para sempre. 95


10. Nunca desista do amor, jamais abra mão de ser feliz e dos seus valores. Acredite que, assim como você existe, também existe em algum lugar alguém digno e disposto a amar e ser amado. – Amém – Espero você na próxima semana com a lista, combinado? – Combinado. Uma semana depois… – Olá, tudo bem? – Sim, estou bem melhor e trouxe a lista. – Ótimo, vamos a isso. 1. Conheci um urso na pele de um homem com uma enorme bagagem, que incluía casa, família, igreja, carro, estilo musical, cidades e culturas diferentes. 2. Ele me proporcionou um Natal em família, visto que a minha estava muito distante. 3. Presenteou-me com um CD da banda Fogo no Pé. 4. Levou-me para conhecer a Suíça brasileira, mostrou o meu valor como mulher pelo muito que investiu para me conquistar. 5. Fui beijada, abraçada, mimada… e acima de tudo os meus princípios estão intatos.

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– Muito bom! Já agora, se me permite, quanto tempo durou esse relacionamento? – Um mês aproximadamente – disse ela, ainda saboreando os bons momentos com a fera. – Posso lhe falar a leitura que faço desse relacionamento.? – Sim, por favor. – Daria um belo livro de romance ou uma curta-metragem, pois temos três cenários, três cidades, três culturas, figurantes, plateia, festas, encontros, desencontros, desejos, fé, religião, mentiras, verdades e um casal iguais nas diferenças, pois tudo o que os separou foi o fato de ambos estarem convictos do que queriam. – Vendo por esse ângulo, parece mesmo. Mas na verdade estou destroçada, tenho sentimentos. E tomei uma decisão. – Entendo. O que pretende fazer? – Vou embora, morar perto da minha irmã. – Não é uma fuga? – Jamais fugiria – afirmou ela. Preciso me afastar, curar as feridas, me levantar e recomeçar minha vida. Mudar de trabalho e receber o carinho da minha irmã. – Sim, de fato, viver próximo de quem ama é um ótimo remédio. Mas o único caminho para uma libertação dessa proporção é o perdão tanto para os que nos magoaram quanto para nós mesmos. – Como faço isso se ainda dói tanto? – Comece com uma oração, abra seu coração para Deus e peça-lhe que a ajude, leia o Pai-Nosso meditando em cada

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palavra e levante sua voz liberando o perdão para ele e depois para si mesma por tê-lo perdoado. Alguns meses depois… Já instalada na nova cidade, trabalhando, desfrutando do apoio e do carinho da irmã, Bela entrou em contato comigo para falar as novidades. – Eu estava voltando trabalho – disse ela – e resolvi fazer o percurso a pé. Comecei a falar com Deus e, chorando a céu aberto, pedi a Ele que me perdoasse por ter acreditado demasiadamente em um ser humano quando sua palavra nos adverte das consequências desse ato. E, assim, em meio às lagrimas, levantei minha voz, liberei o perdão e abençoei a vida do Urso.– Só os inteligentes perdoam. Dias depois… Por meio das redes sociais, Bela ficou sabendo que o Urso acabara de falecer. Seu chão sumiu e a tristeza invadiu seu sensível coração. Pior foi saber a causa da sua prematura morte, que a deixou perplexa e ao mesmo tempo grata a Deus por tamanho livramento e cuidado consigo. O Urso era soropositivo (portador de HIV), passara por uma intervenção cirúrgica por conta de uma simples hérnia, tivera pneumonia dupla e morrera.

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REFLEXÃO No currículo cristão, experiência não conta tanto quanto o amor e o perdão. No amor a Jesus está a base para a superação de qualquer fragilidade.

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CONCLUSÃO

Q

uer sejam assuntos pessoais ou espirituais, sentimentais, da vida cotidiana, bem como emoções profundas, o ensinamento que você aprendeu mudará significativamente a sua forma de lidar com determinados problemas. “Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; Ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria” (Colossenses 3:16). “O orgulho só gera discussões, mas a sabedoria está nos que tomam conselhos” (Provérbios 13:10). “Moisés aceitou o conselho de Jetro e fez tudo como ele tinha sugerido” (Êxodo 18:24). Rute foi obediente ao conselho de Noemi e por isso tornou-se bisavó do rei Davi (Referência bíblica: Rute 3:5 e 4:13). Para você que leu este livro e precisa de ajuda, aconselho a fazer esta autoavaliação com muita seriedade. Guardar e ler após seis meses.

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QUEM SOU EU? _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________

NOME: ___________________________________________ DATA: ____/_____/_____

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PROCIM PROJETO CIRENEU MISSIONÁRIO Fundei o Procim para ajudar as pessoas, em especial as menos favorecidas, a levar o peso da sua cruz e a lidar com ela, ou seja, com suas dificuldades, como desemprego, tristezas, fome, nudez, divórcio, doenças, vícios, depressão, solidão, abandono e conflitos em geral. Somos um grupo de amigos independentes, unidos pela finalidade de levar a mensagem da cruz com atitude, como fez Simão, o Cireneu, no livro de Mateus 27:32. Não prometemos solucionar os problemas, mas nos comprometemos a enfrentá-los juntos, dando suporte, orientando e buscando uma solução. Existem três formas de ser um Cireneu: 1. Amar e orar pelo projeto e pelos necessitados. 2. Contribuir com suas qualificações ou finanças. 3. Ir ao campo missionário, atender os necessitados, fazer visitas aos doentes hospitalizados e gerir os recursos para o bem geral. Pra. Elizete Santos Presidente fundadora do Procim Procim2009@hotmail.com 104


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