Ano 9 | Nº 94 |
www.revistafundacoes.com.br ISSN 2178-0668 | R$ 27,00
MACMAT® TRAZ SUSTENTABILIDADE, ALTO DESEMPENHO E DURABILIDADE Geogrelhas COMO ELEMENTO DE REFORÇO
Sesc AVENIDA PAULISTA É REFORMADO
Engenheiros SEM FRONTEIRAS
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CONSELHO EDITORIAL São Paulo • Paulo José Rocha de Albuquerque • Roberto Kochen • Álvaro Rodrigues dos Santos • George Teles • Paulo César Lodi • José Orlando Avesani Neto • Eraldo L. Pastore • Sussumu Niyama Minas Gerais • Sérgio C. Paraíso • Ivan Libanio Vianna • Jean Rodrigo Garcia Pernambuco • Stela Fucale Sukar Bahia • Moacyr Schwab de Souza Menezes • Luis Edmundo Prado de Campos Rio de Janeiro • Bernadete Ragoni Danziger • Paulo Henrique Vieira Dias • Mauricio Ehrlich • Alberto Sayão • Marcio Fernandes Leão Distrito Federal • Gregório Luís Silva Araújo • Renato Pinto da Cunha • Carlos Medeiros Silva • Ennio Marques Palmeira Rio Grande do Sul • Miguel Augusto Zydan Sória • Marcos Strauss Rio Grande do Norte • Osvaldo de Freitas Neto • Carina Maia Lins Costa • Yuri Costa Espírito Santo • Uberescilas Fernandes Polido Associações que apoiam a revista
ARTIGO 1 Giancarlo Domingues giancarlo@maccaferri.com.br Marciano Maccarini maccarini.m@ufsc.br Adailton Antonio dos Santos coronaengenharia@hotmail.com ARTIGO 2 Matheus Gonçalves Bazan matheus-bazan@outlook.com Mauricio Coelho Alves mauriciocalves@gmail.com
ARTIGO 3 Leonardo Paiva Ferreira leonardo@triferro.net Cleber de Freitas Floriano cleber@souzafloriano.com COLUNA DO CONSELHO Álvaro Rodrigues dos Santos santosalvaro@uol.com.br www.arsgeologia.com.br
Fundador e idealizador: Francisjones Marino Lemes (in memoriam) Coordenação editorial e marketing: Jenniffer Lemes (jenni@revistafundacoes.com.br) Publicidade: Daniele Joanoni (publicidade@revistafundacoes.com.br) Colaboradores: Gléssia Veras (Edição); Tatiana Duarte, Dellana Wolney e João Paulo Monteiro (Texto); Rosemary Costa (Revisão); Agência Bud (Diagramação/Arte) Contatos Pautas: glessia@revistafundacoes.com.br Assinaturas: assinatura@revistafundacoes.com.br Publicidade: publicidade@revistafundacoes.com.br Financeiro: financeiro@revistafundacoes.com.br Foto de capa: Arquivo Maccaferri Impressão: Gráfica Elyon Importante • A revista Fundações & Obras Geotécnicas é uma publicação técnica mensal, distribuída em todo o território nacional e direcionada a profissionais da engenharia civil. Todos os direitos reservados à Editora Rudder. Nenhuma parte de seu conteúdo pode ser reproduzida por qualquer meio sem a devida autorização, por escrito, dos editores. • A publicação segue o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. • Esta publicação é avaliada pela QUALIS, conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e encontra-se atualmente com classificação B4. • As seções “Coluna do Conselho”, “Artigo”, “Espaço Aberto”, “Opinião”, “Riscos Geológicos e Geotécnicos” e “Memória de Cálculo” são seções autorais, ou seja, têm o conteúdo (de texto e fotos) produzido pelos autores, que ao publicarem na revista assumem a responsabilidade sobre a veracidade do que for exposto e o devido crédito às fontes utilizadas.
NOTAS Nota 1 CBT (Comitê Brasileiro de Túneis) www.tuneis.com.br Nota 2 CCR AutoBAn www.autoban.com.br/
GEOTECNIA AMBIENTAL Engenheiros sem Fronteiras http://esf-brasil.org REPORTAGEM Maccaferri do Brasil www.maccaferri.com/br/
NOTÍCIA Danilo Santos de Miranda e Amilcar João Gáy Filho https://www.sescsp.org.br/unidades/9_ AVENIDA+PAULISTA Gianfranco Vannucchi www.kvarch.com/
Fundações e Obras Geotécnicas
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EDITORIAL UM BREVE ADEUS Esse é o texto de editorial que nenhum editor deseja escrever. Como profissional da área, posso falar com certa propriedade que os temores dentro de uma redação se resumem a poucos medos: erros em matérias, processos judiciais em decorrência de conteúdos publicados, declínio do conteúdo editorial e, por fim, o fechamento de um título. E é sobre esse último que venho falar hoje. Infelizmente, a edição de número 94 será a última publicação impressa da revista Fundações & Obras Geotécnicas. O periódico no formato que conhecemos hoje deixará de existir devido a baixíssima receita publicitária alcançada. Desde 2014 a revista vem enfrentando uma forte crise financeira que influenciou em mudanças na quantidade de páginas, na redução do quadro de funcionários e até mesmo na tiragem e distribuição. A situação atual da revista ocorre principalmente devido a dois fatores: crise econômica no País – que afetou fortemente as empresas de engenharia civil – reduzindo drasticamente a receita publicitária do veículo e as recentes transformações nos meios de comunicação que estão migrando para as plataformas digitais em razão da preferência dos leitores por estes meios em detrimento às mídias segmentadas em formato impresso. Não vou me alongar aqui sobre os problemas enfrentados pela nossa revista para que tivéssemos que “fechar as portas” e encerrar parte de nossas atividades, e nem mesmo sobre as questões práticas sobre assinaturas pendentes e outros vínculos, pois estes serão detalhadamente explicados no informativo que estamos publicando nessa mesma edição. Então, dessa forma, quero utilizar essa última oportunidade, neste espaço onde tenho a liberdade de escrever em primeira pessoa e falar diretamente com os nossos leitores, colaboradores e apoiadores sobre a minha gratidão por essa passagem tão significativa em minha carreira. Entrei para trabalhar na editora em 2012, quando a revista já estava na sua edição de número 24. Vinha de outras passagens, em anos anteriores, por veículos de comunicação que me permitiram uma bagagem em au-
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Fundações e Obras Geotécnicas
diovisual e impresso e, posteriormente, no editorial antes de iniciar a minha história aqui. Assumi a reportagem da revista na edição 24 como já disse anteriormente, mas foi apenas na edição de número 30 que assumi o projeto editorial. De lá para cá das 70 edições que participei, 64 tiveram a minha assinatura editorial e foram cuidadosamente trabalhadas e modificadas para que a revista pudesse evoluir ao longo do tempo e atender cada vez mais o público da área. Não vou me autointitular bem-sucedida nessa empreitada, pois se tratando de uma publicação, essa avaliação só cabe aos leitores, porque somente eles podem afirmar se todas essas mudanças foram favoráveis (ou não) para quem lê. Mesmo assim, enquanto editora me sinto realizada pelo trabalho que tive a oportunidade de produzir aqui, pelo aprendizado que conquistei e pelos desafios que superamos. Quero deixar o meu mais profundo agradecimento a todos os que trabalharam comigo no decorrer dessa jornada, mas em especialmente a todos os nossos leitores, colaboradores e apoiadores que tanto me ajudaram nesses anos para que a revista se tornasse um veículo de qualidade e credibilidade. Obrigada a todos e até breve! Gléssia Veras Editora-chefe
mídias sociais www.facebook.com/revistafundacoes twitter.com/fundacoes_news https://goo.gl/yTD2o1 https://goo.gl/1s5oE6 www.linkedin.com/company/editora-rudder soundcloud.com/revista-fundacoes issuu.com/editorarudder
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NESTA EDIÇÃO 10 REPORTAGEM
MacMat® traz sustentabilidade, alto desempenho e durabilidade
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NOTÍCIA SESC Avenida Paulista é reformado visando a sustentabilidade
22 ARTIGO
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Utilização de geogrelhas como elemento de reforço nas contenções de viaduto do Lote 28 da duplicação da BR-101 em SC
30 ARTIGO
Análise dos métodos de cálculo de recalques em estacas do tipo hélice contínua
36 ARTIGO
Metodologia para estimativa do tempo de cravação de peças metálicas esbeltas com o uso de um martelo vibratório
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AMBIENTAL ONG promove o desenvolvimento humano e sustentável por meio da engenharia
SEÇÕES
06 Jogo Rápido 07 Informativo 08 Coluna do Conselho 50 Notas
Fundações e Obras Geotécnicas
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Jogo Rápido
por Gléssia Veras
Semana Acadêmica da UFRJ Com o intuito de gerar debates que fomentem a inovação na engenharia e atrair alunos de outras áreas do conhecimento para os temas mais atuais da construção civil, a Poli-UFRJ (Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro) promoveu entre os dias 27 e 31 de agosto a XIII Semana da Engenharia Civil, que teve como tema “Engenharia do Futuro”. O evento foi realizado no CT (Centro de Tecnologia), na Ilha do Fundão. A programação – elaborada por alunos de graduação em engenharia civil – contou com uma abordagem multidisciplinar nas propostas de técnicas construtivas e focou no surgimento de novas vertentes e áreas estratégicas a serem exploradas pelo setor nos próximos anos e, sobretudo, analisou o papel do profissional de engenharia nessa transição.
Divulgação / Instituto Água Sustentável
Coletânea gratuita
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No dia 8 de agosto de 2018 foi lançado durante o Fórum de Recursos Hídricos e a sua Legislação a Coletânea da Legislação das Águas Subterrâneas do Brasil, dos autores Everton de Oliveira e Luciana Cordeiro. A coletânea possui mais de 1.500 páginas em cinco volumes que abrangem as diferentes regiões do Brasil, sendo estes: Volume 1: Região Sudeste, Volume 2: Região Sul, Volume 3: Região CentroOeste, Volume 4: Região Nordeste e Volume 5: Região Norte. Esta obra objetiva auxiliar profissionais técnicos, jurídicos e pesquisadores, apresentando a legislação brasileira e contribuindo para agilidade na pesquisa. Referência indispensável e gratuita que pode ser baixada na Editora Água Sustentável por meio do link: http://download.aguasustentavel. org.br/coletanea.
Fundações e Obras Geotécnicas
Congresso Brasileiro de Geologia A 49ª edição do Congresso Brasileiro de Geologia aconteceu entre os dias 20 a 24 de agosto de 2018 no Centro de Convenções SulAmérica no Rio de Janeiro (RJ) e teve como mote conceitual “Geologia: Conhecer o Passado para Construir o Futuro”, o evento recebeu 2.175 trabalhos técnicos e científicos. Especialistas brasileiros e também dos Estados Unidos, Portugal, Argentina, Austrália, Noruega e Alemanha fizeram palestras temáticas. O evento contou ainda com exposição, concurso de fotografia, lançamentos de livros, além de excursões a pontos de interesse geológico do Rio e 20 minicursos, realizados na UniRio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) e UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Nessa edição, 23 empresas e instituições apresentaram novidades tecnológicas na ExpoGeo, o salão de exposições do evento. Estandes como o da CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais) trouxe para o evento alguns mapas interativos, e da Petrobras, que promoveu ativações com participantes.
INFORMATIVO CARTA AOS LEITORES Prezados (as) leitores(as) da revista Fundações & Obras Geotécnicas, A partir do mês de outubro de 2018 a revista Fundações & Obras Geotécnicas será descontinuada pela Editora Rudder. O periódico terá a edição de número 94 como última e que corresponderá aos meses de agosto/2018 e setembro/2018.
O QUE SIGNIFICA UM TÍTULO DESCONTINUADO? Significa que a revista deixa de ser produzida e publicada por um período indeterminado, mas que em algum momento (também indeterminado), ela pode voltar a circular, pois a Editora Rudder é detentora dos direitos do título Fundações & Obras Geotécnicas e pode retomá-lo a qualquer momento.
POR QUE A REVISTA SERÁ DESCONTINUADA? A economia no País vem demonstrando um enfraquecimento nos últimos quatro anos e isso reflete em todos os setores no Brasil. Dessa forma, nos últimos dois anos, a receita publicitária do título sofreu uma queda muito grande que impossibilita o custeio básico dos gastos mínimos para a sua produção e distribuição. A editora já fez diversos cortes desde o número de páginas na revista, tiragem e distribuição até mesmo um corte drástico no quadro de funcionários.
AOS ASSINANTES Sou assinante: como ficará a entrega dos exemplares que já paguei? Os assinantes cujo pagamento já foi realizado em sua totalidade e que o período de vigência da assinatura ainda contemple números a receber terão algumas opções: 1) optar pelo recebimento de outros exemplares antigos que ainda não possuam e quem desejem para completar a sua coleção de temas – assim o assinante receberá a quantidade de exemplares que ainda lhe restam do valor já pago pela revista Fundações & Obras Geotécnicas;
2) receber um (ou mais) livro (s) disponível na loja da editora no valor restante ao correspondente à sua assinatura – a editora possui uma loja com a seleção de títulos de livros da área de engenharia civil, alguns são publicações próprias e também de outras de editoras. A lista de títulos disponíveis para troca deve ser solicitada por e-mail; 3) optar pelo estorno do valor restante já pago. Qualquer uma das opções deve ser informada pelo assinante por meio de uma mensagem para o e-mail: jenni@revistafundacoes.com.br
AOS COLABORADORES Sou autor/entrevistado: como ficará o material que tenho programado para entrar? Aos autores de artigos e materiais para qualquer seção, assim como profissionais que já foram entrevistados para matérias que estavam programadas para entrar a editora apresenta duas opções: 1) Todos os materiais que estavam programados para entrar em seções da revista serão publicados em nosso site (que será agora nossa plataforma) de trabalho. Os autores/ entrevistados que mantiverem interesse na publicação não precisam se manifestar por e-mail, pois terão seus conteúdos automaticamente considerados para esse novo formato. 2) Os autores/entrevistados que não tiverem interesse nesse formato devem enviar um e-mail para glessia@ revistafundacoes.com.br informando que não possuem mais interesse na publicação. A Editora Rudder lamenta a perda momentânea desse título em seu catálogo, mas enfatiza que continuará trabalhando em suas plataformas digitais: site, canal e redes sociais. A essência de nossa empresa é a busca constante por avanços e crescimento, mas além disso temos como marca a persistência e coragem de não desistir. Contamos com você para os nossos novos passos! Atenciosamente, Editora Rudder Contato para outras informações: Jenniffer Lemes E-mail: jenni@revistafundacoes.com.br
Fundações e Obras Geotécnicas
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Coluna do Conselho
O MÉDICO CLÍNICO GERAL E A GEOTECNIA BRASILEIRA
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Lembro-me com imensa saudade de meu querido pai, Dr. Brasílio, médico clínico geral e cirurgião na pequena Batatais, região da Alta Mogiana, Estado de São Paulo. Exímio cirurgião, mas sua notoriedade maior, entre pacientes e colegas médicos de toda a região, era sua fantástica capacidade de fazer e acertar diagnósticos. Seus colegas de outras cidades muitas vezes lhes traziam seus pacientes unicamente para ter dele uma opinião quanto ao diagnóstico do mal com que lidavam. Essa capacidade veio-lhe por mérito de sua abordagem clínica, ao entender que o organismo humano é composto de partes indissoluvelmente conectadas e interligadas, pelo que uma insuficiência renal inequivocamente iria também se manifestar na serosidade da pele, nas pálpebras dos olhos... À época estavam entrando em moda os exames laboratoriais, e meu velho já adiantava seu veredicto sobre esse recurso médico: ótimos, mas somente como apoio à investigação das hipóteses iniciais de diagnóstico produzidas a partir do exame clínico. Enfim, o grande ensinamento: antes de qualquer decisão, a certeza de se contar com o mais completo diagnóstico do problema enfrentado. Decisões sobre a melhor conduta médica só poderiam ser tomadas a partir desse diagnóstico, do contrário graves consequências adviriam por certo para o paciente. Premiado por desfrutar como filho dessa linha de conduta profissional, nada mais natural que eu percebesse seu exato sentido também nos campos técnico-científicos a
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Fundações e Obras Geotécnicas
que me dediquei à geologia de engenharia e à geotecnia. Pelo que me preocupa sobremaneira a percepção da falta de importância, já um tanto generalizada, que a geotecnia brasileira vem dedicando a elaboração de seguros diagnósticos, entendidos esses como a atividade primeira no enfrentamento dos problemas que nos são apresentados. Frente a um problema geotécnico qualquer, o primeiro impulso vem mais comumente se constituindo na eleição da solução a ser dada, do que decorre a enorme frequência com que todos vimos testemunhando situações de total desencontro entre o real fenômeno geológico-geotécnico em curso e a solução aventada para estabilizá-lo. Já não é mais o problema que busca a solução, mas sim a solução prêt-à-porter (“pronta para usar”) que comercialmente busca problemas, sejam esses quais forem, para oferecer-se como desejada panaceia tecnológica. Como o caricato “médico de bula”, já habita entre nós o “geotécnico de catálogo”. Claro, sem dúvida alguma o aperfeiçoamento de nosso leque de soluções técnicas é necessário e bem-vindo, por disponibilizar continuamente novas e eficazes ferramentas para o trato de novos e velhos problemas geotécnicos. A questão apontada não está na qualidade das soluções disponibilizadas, mas no risco em se abordar um problema geotécnico com a predisposição de utilizar-se essa ou aquela solução. Donde a profusão de situações de total insucesso técnico das consolidações geotécnicas pretendidas. Casos de mesma natureza são as situações de insucesso
Arquivo pessoal
financeiro, em que a solução adotada, ainda que possa ter sofrivelmente resolvido o problema, tenha resultado um preço exorbitante, muito maior daquele que seria naturalmente decorrente de uma solução fenomenologicamente correta.
Uma desejada reversão dessa disfunção de abordagem técnica passa pela disposição da geotecnia brasileira, geólogos de engenharia e engenheiros geotécnicos, em retomar em sua plenitude as rédeas de seu exercício profissional, recuperando em teoria
e prática a velha e sábia verdade de ordem metodológica: a execução de serviços geotécnicos, de qualquer natureza, inicia-se, indispensavelmente, pela exata compreensão qualitativa e quantitativa do fenômeno geológicogeotécnico que se está enfrentando.
>ÁLVARO RODRIGUES DOS SANTOS é geólogo, ex-diretor de Planejamento e Gestão do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para elaboração e Uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”. Também atua como consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente.
Reportagem
MacMat® traz sustentabilidade, alto desempenho e durabilidade Linha conta com soluções inovadoras e ambientalmente sustentáveis, pois desempenham seu papel de faceamento e proteção de taludes, encostas e estabilizações em solo grampeado por Dellana Wolney
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Bem mais do que um termo, sustentabilidade significa “suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas”. Representa o consumo consciente de recursos naturais e engloba em seu conceito três principais aspectos, que são: economia, sociedade e meio ambiente. Na área da construção civil muito tem se falado sobre sustentabilidade, já que este segmento ainda é um dos que mais gera resíduos no meio urbano e, por consequência, causa impactos ambientais ao depositá-los na natureza, mas o que é preciso para que um produto, técnica ou obra se encaixe no que se chama hoje de sustentável? Ser sustentável na construção civil exige que uma obra seja economicamente viável, socialmente aceita e ambientalmente correta. Atualmente, muitas empresas têm investido na sustentabilidade, inserindo progressivamente técnicas construtivas mais sustentáveis e dando
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Fundações e Obras Geotécnicas
Exemplos de aplicação do MacMat® R1
prioridade ao uso de materiais ecoeficientes. Assim como o Terramesh® Verde, lançado há alguns anos, a empresa Maccaferri traz para o Brasil mais uma solução sustentável que permite recuperar rapidamente o ambiente natural: as Geomantas MacMat®, geossintéticos de matriz tridimensional, que apresentam
Fotos: Divulgação Maccaferri
mais de 90% de vazios e são fabricadas a partir de filamentos grossos de polipropileno fundidos nos pontos de contato. A solução se destaca por sua flexibilidade e praticidade, pois começa a trabalhar imediatamente após ser instalada.
ESPECIFICAÇÕES O engenheiro civil e coordenador de marketing América Latina da Maccaferri, Paulo Ferretti explica de forma detalhada que o entrelaçamento de filamentos poliméricos da geomanta tridimensional MacMat® tem como
finalidade proteger a superfície de taludes e encostas. “Em sua versão simples, denominada L, (Light) não há a presença de reforços, mas as versões R, (Reinforced) e HS (High Strength) passam a ser geocompostos, pois associam malha Fundações e Obras Geotécnicas
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Reportagem
Solo Grampeado com concreto projetado
polimérica de aço em dupla torção e cabos de aço para aumentar a resistência à tração, de acordo com os níveis de solicitação de cada projeto”, esclarece. Vale ressaltar que existem diferentes variações do MacMat®, uma vez que as solicitações de resistências à tração podem variar de acordo com a geometria, material do talude e condição de instabilidade. A primeira malha desenvolvida foi o MacMat® R1, cuja aplicação é indicada para taludes de solo com inclinações máximas de 75º. “Com a evolução da solução foi necessário desenvolver, nesta mesma linha, elementos mais reforçados e capazes de oferecer resistência elevada para situações que demandam maior inclinação ou que a heterogeneidade do material sugere maior resistência”, revela a engenheira da Maccaferri Brasil, Andrea Pellizoni. Na linha das geomantas, o primeiro produto listado é o MacMat®R3, destinado a proteger a superfície do talude contra os efeitos de processos erosivos provocados pelas ações da água de chuva e em muitos casos pelos 12
Fundações e Obras Geotécnicas
Solo Grampeado Verde
Outras obras que utilizaram o MacMat®: • Recuperação de áreas após desastres naturais na Região Serrana do Rio de Janeiro e Angra do Reis, no Estado do Rio de Janeiro (2012-2013); • Obra da Marinha do Brasil, no Estado do Rio de Janeiro (2017); • BR 393 – Rodovia do Aço (2014); • Estrada de Ferro Vitória a Minas (2016). • As geomantas e os geocompostos MacMat® são soluções inovadoras de caráter sustentável ambiental, pois desempenham seu papel de faceamento e proteção de taludes, encostas e estabilizações em solo grampeado. Aliando baixo impacto visual e ambiental, a solução ainda permite a integração e recuperação ambiental, diferentemente de outras técnicas convencionais que utilizam o concreto armado e/ou projetado.
efeitos do vento ou outros fatores e condições ambientais. Paralelamente ao MacMat®R3 foi desenvolvido o MacMat® R1, como citado anteriormente. Essa combinação de geomanta com a malha de dupla torção oferece um mínimo de resistência de 50kN/m.
HISTÓRIA Importado da Europa, o MacMat® foi introduzido no mercado brasileiro na década de 1990, quando também passou a ser comercializado. Nos anos 2000 a Maccaferri trouxe a primeira linha de produção de alta tecnologia do MacMat®, considerada a primeira
linha do geossintético TRM (TurfReinforcementMat) do Brasil, um produto com filamentos de polipropileno tridimensional, cuja função é a de proteção superficial do solo contra os efeitos da erosão hidráulica e eólica. Já inserido no mercado, o MacMat® evoluiu, melhorando suas propriedades e polímero base, que atualmente é constituído por PE (Polietileno). Esta evolução permitiu melhorar as suas propriedades funcionais como a flexibilidade de aplicação. Posteriormente, novos produtos foram desenvolvidos pela área de P&D da Maccaferri, dentre eles o
MacMat®R3 com grelha sintética de reforço para aumento da resistência à tração e o MacMat® R1, que conta com a resistência e durabilidade das malhas de dupla torção, permitindo sua aplicação no faceamento de solos grampeados. Além disso, para aliar a funcionalidade e desempenho, juntamente a estética exigida por órgãos e clientes, a Maccaferri desenvolveu outra tecnologia para a coloração das geomantas, permitindo que sejam verdes. Tudo isso sem alterar o desempenho e a durabilidade às intempéries, tornando-se assim uma das melhores soluções para essa aplicação na engenharia.
CARACTERÍSTICAS DO MACMAT® R1 Indicado principalmente para Solo Grampeado Verde, as principais características técnicas do MacMat® R1 são: excelente desempenho no controle do processo erosivo, alta resistência, durabilidade e fácil execução. Em relação à resistência, Andrea Pellizoni diz que a linha MacMat® se caracteriza
Revestimento de talude com MacMat® R1
por resistência ao puncionamento variando de 82 a 125 kN/m e resistência à tração de 50 a 118 kN/m. Já em relação à durabilidade, Ferretti menciona as novas tecnologias de revestimento metálico como o GalMac® 4R que é quatro vezes mais resistente que a zincagem pesada. A resistência tem como parâmetro o ensaio teste de névoa salina, e o mais
novo advento de desempenho para as soluções Maccaferri, o PoliMac® que apresenta alta resistência à abrasão e está apto a suportar as condições mais severas de aplicação em ambientes extremamente agressivos, quimicamente contaminados e com elevada exposição à raios UV (Ultravioletas). “O PoliMac® revolucionou a área de revestimento de arames e malhas, pois além da alta resistência aos raios ultravioletas, ele alcança níveis que impressionam, cerca de dez vezes mais resistência à abrasão comparando-se aos revestimentos poliméricos tradicionais e resistência a substâncias diluídas em meio aquoso com pH de 1 a 14. De forma geral, ele é uma excelente alternativa de revestimento para meios quimicamente agressivos (ácidos ou alcalinos)”, reforça Ferretti.
FUNCIONALIDADE Revestimento de Solo Grampeado Verde com MacMat® R1
A gerente de desenvolvimento de mercado da Maccaferri, Monique Fundações e Obras Geotécnicas
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Reportagem
Sobral conta que a principal função do MacMat® é o controle de erosão que pode ser provocada pelo efeito de chuvas (hidráulica) ou do vento (eólica). “A implicação hidráulica mais comum e agressiva ocorre muitas vezes quando a chuva ocasiona o efeito splash, ação mecânica do impacto das gotas de chuva no solo que provoca a locomoção de partículas ou desfragmentação, iniciando o processo erosivo de transporte de finos”. Ela ainda reforça que sua função é também facilitar o crescimento da vegetação, pois retém os insumos utilizados tais como: corretivos, fertilizantes, sementes e condicionadores de solo, pois em declividades superiores a 10 graus o carreamento destes materiais ocorre devido ao escoamento superficial. O MacMat® ao ser combinado com uma malha de dupla torção, na versão R1é capaz de oferecer resistência suficiente para evitar rupturas pequenas ou localizadas na superfície
Principais funções do MacMat® • Proteger a superfície contra a erosão causada pela chuva e vento, assim como pelos danos causados pelo efeito splash; • Reduzir a velocidade da água sobre a superfície do terreno, aumentando sua rugosidade; • Evitar o carreamento de partículas de solo da superfície protegida; • Prevenir a formação de ravinas nos taludes; • Permitir a passagem da vegetação por entre seus filamentos; • “Atuar” como reforço para as raízes da vegetação; • Criar um ambiente propício ao crescimento da vegetação, diminuindo a radiação solar.
do talude, ao mesmo tempo em que oferece um ambiente propício para o desenvolvimento da vegetação na área aplicada. Ainda, uma das funcionalidades principais do MacMat® é o reforço das raízes da vegetação, que acontece em virtude do seu arranjo tridimensional, capaz de possibilitar que as raízes “se entrelacem e acomodem” até ficarem ancoradas, tornando-se um sistema de proteção extremamente eficaz e criando um ambiente propício para
o crescimento e desenvolvimento da vegetação, uma vez que protege as sementes durante sua germinação, principalmente nos períodos de chuva. A aplicação do MacMat® é multidisciplinar e pode ser utilizada em obras de proteção superficial para o controle de erosão; proteção superficial para a estabilização, por meio da técnica de solo grampeado verde e revestimento cortical ou superficial de taludes mistos (rochas e solo), que predomina blocos em matriz de solo e geralmente demanda maior resistência à tração proporcionada pela malha.
EXECUÇÃO
Revestimento de talude e de face de Solo Grampeado Verde com MacMat® R1
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Fundações e Obras Geotécnicas
Andrea Pellizoni explica que para a correta aplicação do MacMat® é necessário seguir alguns passos: 1) Antes de tudo são realizadas investigações geotécnicas de campo e laboratório para um estudo adequado da solução aplicada, assim como o levantamento topográfico e a caracterização do perfil de solo. Os estudos preliminares e a investigação serão fundamentais para obter uma aplicação adequada dos
sistemas MacMat®; 2) Limpeza da área, onde eventualmente serão retiradas a vegetação e os arbustos presentes; 3) Regularização do terreno, visando nivelar o máximo possível de irregularidades na superfície, o que permitirá melhor aderência entre o MacMat® e a superfície, garantindo melhor desempenho da solução; 4) Aplicação do coquetel de sementes e nutrientes por meio da hidrossemeadura, aplicação de hidromantas ou mesmo plantio por coveamento. Em alguns casos, é importante fazer o coveamento antes da aplicação da hidrossemeadura, especialmente em geometrias muito inclinadas, cuja fixação do composto pode ser mais complexa; 5) G eralmente, o MacMat® é aplicado na técnica do solo grampeado verde. Nesse caso, o passo seguinte seria a execução dos grampos: perfuração, instalação e injeção da calda de cimento; 6) Em seguida acontece a instalação propriamente da malha, começando pelas ancoragens de crista, onde a malha será “ancorada” com ajuda de um cabo longitudinal no topo do talude. Após esta ancoragem, a malha será desenrolada e acomodada sobre a superfície do talude, acompanhando a morfologia da sua superfície. Este cobrimento da malha torna-se o passo mais importante da instalação, uma vez que é fundamental o contato
Revestimento de Solo Grampeado Verde com MacMat® R1
total da malha e a superfície, no intuito de evitar vazios entre a malha e o terreno; 7) Na etapa final é realizada a colocação das placas de ancoragens do sistema MacMat® em cada um dos grampos definidos em projeto, imediatamente a porca que fará a conexão final entre o elemento de ancoragem e o sistema MacMat® também será instalada. “No último ponto é importante destacar que o adequado aperto da porca é necessário para conectar os sistemas e dar garantia ao ponto, porém não é necessário o pré-tensionamento do sistema, uma vez que são grampos, elementos passivos que trabalham a partir da mobilização dos esforços no terreno. A conexão entre a porca, a placa e a malha deverá ter resistência suficiente para resistir aos esforços na conexão, que geralmente são baixos”,
exemplifica a engenheira da Maccaferri, Andrea Pellizoni.
DIFERENCIAIS O MacMat® possui relevantes diferenciais comparando-se a geomantas similares e um dos principais, é que no seu processo de fabricação os filamentos se entrelaçam de maneira aleatória, promovendo uma eficaz manta 3D (Tridimensional). Esse efeito é somente obtido com as geomantas MacMat®. Outro diferencial é o seu polímero, cuja base é aditivada com negro de fumo, o que aumenta a resistência da solução às intempéries, permitindo ainda que o MacMat® garanta as seguintes características: • Maior resistência à tração; • Durabilidade e proteção contra a corrosão; • Melhor desempenho no desenvolvimento da vegetação; • Maior durabilidade e efetividaFundações e Obras Geotécnicas
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Fotos:Arquivo Vinicius Benjamim
Reportagem
Aplicação do MacMat®na bacia de amortecimento de um condomínio residencial
de em relação a outros tipos de revestimentos utilizados; • Flexibilidade e maleabilidade que facilitam a instalação do sistema; • Excelente desempenho como elemento de proteção superficial; • Diminuição do impacto visual e ambiental, sendo uma solução inegavelmente sustentável. Além de todos esses diferenciais, o engenheiro civil Paulo Ferretti ainda revela uma peculiaridade da solução: “O MacMat®R1 é o único geocomposto anti-erosivo utilizado para essa finalidade, uma vez que combina uma manta densa e o reforço em ma16
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lha metálica em um único produto. Além disso, as novas tecnologias de revestimento metálico e polimérico como o PoliMac®, proporcionam ao MacMat®R1 melhor durabilidade e desempenho a longo prazo.
CASOS DE OBRA Desde que chegou ao Brasil, o Mac-Mat® foi utilizado em diversas obras, desde a proteção até a recuperação de áreas após desastres ambientais entre outras tantas aplicações. O engenheiro civil e diretor-técnico da empresa Eng consultoria, Vinícius Benjamim encontrou no MacMat®
a solução mais viável para a obra de uma bacia de amortecimento de um condomínio residencial. “Nesta obra, a utilização das placas de grama não foi boa. Desta forma, surgiu a necessidade de uma solução que permitisse o crescimento da vegetação adequadamente a longo prazo e que também pudesse proteger o talude de forma eficiente durante este período de desenvolvimento da vegetação. Neste caso, a solução indicada foi o MacMat®”, destaca Benjamim. Já o engenheiro civil e gerente-técnico comercial da empresa Progeo
Engenharia, Luiz Antonio Naresi conta que o MacMat® também foi utilizado com êxito em obras de estabilização e recuperação de áreas degradadas ao longo da malha ferroviária da MRS, no Estado de São Paulo. “Optamos por essa tecnologia, principalmente pelo apelo ecológico, já que o MacMat® cria uma solução de engenharia integrada com a natureza. A experiência de utilizá-lo foi muito positiva e atendeu todas as expectativas da obra, levando em consideração especialmente a facilidade construtiva que resultou em muito mais agilidade e rapidez”, relata Naresi.
Linha de produtos MacMat® Especialmente desenvolvida para o controle da erosão em taludes e cursos d’água, a linha MacMat® possui diferentes geomantas para cada tipo de aplicação: MacMat® 10.1 Revestimento de canais ou canaletas de drenagem (verdes) de águas pluviais. MacMat® R1 Revestimento de face para solo grampeado. MacMat® R3 Revestimento de taludes sobre muros ou de inclinações variáveis. MacMat® HS Revestimento de encostas com inclinações variáveis em solo ou rocha, que necessitem de alta resistência à tração da geomanta reforçada.
Fundações e Obras Geotécnicas
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Notícia
SESC AVENIDA PAULISTA É REFORMADO VISANDO A SUSTENTABILIDADE Impactos na área urbana reduzidos marcam a reforma da unidade que propõe maior interação das pessoas com a cidade por João Paulo Monteiro
U
Um edifício de 17 pavimentos e dois subsolos, localizado na avenida Paulista, em São Paulo, abriga a mais nova unidade do Sesc (Serviço Social do Comércio). Com expectativa de receber cerca de 18 mil pessoas por semana em seus 12 mil m2 de área construída, o Sesc Avenida Paulista abriu as portas recentemente ao público e conta com salas de exposição e espetáculo, de tecnologias e artes, espaço para práticas corporais e esportivas, clínica odontológica, espaço para crianças, biblioteca e uma lanchonete. O diretor regional do Sesc, Danilo Santos de Miranda, destaca as características especiais da localização da nova unidade. “Falamos do centro novo, na avenida que é ícone da cidade – senão do Brasil – como polo econômico, sede de escritórios, de grandes empresas do setor de comércio e serviços, com prédios altos e imponentes e que atualmente tem se transformado também num grande hub cultural, com a abertura para os pedestres aos domingos e pela presença de uma série de importantes instituições do setor
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Fundações e Obras Geotécnicas
cultural, em particular, ligadas ao caráter social e simbólico da cidade, assim como o Sesc”. No passado, o espaço abrigou a administração central da instituição em São Paulo. Isso até 2005. Na sequência, até 2010 funcionou como Unidade Provisória. Após isso, a construção da década de 1970 passou por um complexo trabalho de retrofit, preservando-se a maior parte da estrutura de concreto original com trabalhos de recuperação, além de reforços, inclusive para as fundações, devido ao acréscimo de área construída. No total, o custo da reforma foi de 100 milhões de reais, além de mais 20 milhões de reais destinados a equipamentos, mobiliário e outros itens. Quem fornece mais detalhes do processo é o engenheiro civil e gerente de engenharia e infraestrutura do Sesc São Paulo, Amilcar João Gáy Filho. “As instalações foram modernizadas, incorporando-se tecnologias avançadas e sistema de automação, contribuindo para uma operação sustentável do edifício”, resume.
Dentre os trabalhos de engenharia civil empregados na reforma, o engenheiro destaca alguns como a demolição de lajes entre os pavimentos destinados a apresentações e exposições, o que criou aberturas interna entre os andares, com ganho em altura. “Com isso, aumentamos a possibilidade das atividades em seu interior”, argumenta. As adequações para acessibilidade e o reaproveitamento total do granito existente no revestimento da fachada da face voltada para a Casa das Rosas, com restauro de peças e recuperação da estrutura metálica de fixação, são também lembrados pelo gerente. Devido a proximidade dos edifícios vizinhos e a circulação de pessoas na avenida Paulista durante a reforma, diversas medidas de segurança foram tomadas como a implantação de andaime fachadeiro, o laudo de vizinhança com monitoramento constante, o plano de comunicação com moradores das redondezas e o controle de níveis de ruído e geração de poeira para redução de incômodos. Desse modo, Amilcar João Gáy Filho reforça a sustentabilidade do processo de reestruturação do edifício, desde o início do projeto, visando redução de impacto ambiental na área urbana. Para isso, foram adotadas medidas em sintonia com os preceitos de edificações verdes ou sustentáveis. Um dos exemplos apresentados pelo engenheiro civil é o projeto levar em consideração os requisitos para obtenção da certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e a classificação PROCEL (Programa Nacional de Conservação
Divulgação SESC/Pedro Vannucchi
EDIFICAÇÃO VERDE
de Energia Elétrica), que atestam o comprometimento da instituição com os princípios de eficiência energética e sustentabilidade da edificação. “O sistema de iluminação em LED (Light Emitting Diode) é automatizado, com desligamento através de sensores que ligam e desligam as luzes de acordo com a luminosidade, em conjunto com o funcionamento de persianas”, ilustra.
Localizada na avenida Paulista, a nova unidade do Sesc possui 17 pavimentos e dois subsolos
Fundações e Obras Geotécnicas
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Divulgação SESC/Pedro Vannucchi
Notícia
Demolição de lajes entre os pavimentos criou aberturas entre os andares e ampliou a possibilidade das atividades
Neste sentido, os equipamentos do sistema de ar-condicionado foram modernizados, dotando o prédio de melhor conforto ambiental e eficiência energética. Ainda, as janelas possuem vedação eficiente para evitar a perda do ar refrigerado e os vidros de proteção solar que reduzem a entrada de calor no interior do ambiente. Além disso, escadas rolantes e elevadores inteligentes, com regeneração de energia; sistema digital para controle de iluminação; placas solares para aquecimento da água dos chuveiros; reuso de água de chuva e dispositivos restritores de vazão, temporizadores 20
Fundações e Obras Geotécnicas
em torneiras e chuveiros, além degerenciamento de resíduos, exemplificam o discurso do gerente quanto a sustentabilidade da unidade.
CONCEITO O projeto da reforma, de fato, propôs grandes modificações internas e externas ao edifício, gerando uma nova identidade visual. A renovação pode ser vista na fachada voltada para a rua Leôncio de Carvalho, a qual recebeu uma grande lâmina de vidro transparente, instalado por meio do sistema Spider, proporcionando maior aproveitamento da luz natural.
Um dos destaques do novo prédio é o mirante, o qual proporciona uma vista panorâmica da cidade de São Paulo
O projeto arquitetônico desenvolvido para a unidade foi assinado pelo escritório Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados. Segundo o arquiteto responsável pelo projeto, Gianfranco Vannucchi, o trabalho propõe o espaço como uma extensão da própria avenida, se estabelecendo como um território livre a ser apropriado pelo público. Entre as características estruturais adotadas pelos arquitetos, o conceito
se desenvolve nos grandes acessos e nas diversas áreas de convivência, incluindo praças internas. E também rasgos horizontais nas fachadas permitem aos usuários do Sesc um olhar diferenciado sobre a cidade, ao mesmo tempo em que o prédio rompe com a tipologia típica dos edifícios de escritório da avenida. E por fim, o ponto alto, literalmente, fica com o mirante, o qual proporciona uma vista panorâmica da cidade de São Paulo. Divulgação SESC/Roberto Assem
“Além do efeito estético, a lâmina tem a função de antecâmara acústica e térmica, sempre ladeando o terraço interno ventilado naturalmente, que funciona como um anteparo aos ambientes refrigerados”, conta o diretor regional do Sesc, Danilo Santos de Miranda. Ele ainda completa: “estes têm suas vedações com o corredor definidas a partir da quantidade de luz desejada, em vidro com controle solar por meio de persianas”.
Fundações e Obras Geotécnicas
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Artigo
Utilização de geogrelhas como elemento de reforço nas contenções de viaduto do Lote 28 da duplicação da BR-101 em SC Giancarlo Domingues, engenheiro civil e gerente de unidade na Maccaferri do Brasil giancarlo@maccaferri.com.br Marciano Maccarini, engenheiro civil, PhD, professortitular na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) maccarini.m@ufsc.br Adailton Antonio dos Santos, engenheiro civil, Msc docente da Esucri (Escola Superior de Criciúma), Diretor-técnico na Corona Engenharia Ltda. coronaengenharia@hotmail.com
RESUMO A duplicação da BR-101 foi uma obra de grande complexidade e com muitos desafios geotécnicos. No lote 28 desta obra foram construídas três passagens inferiores cujos aterros foram contidos com muros de solo reforçado de paramento semirrígido. O objetivo deste trabalho é apresentar um estudo de caso que relatará a revisão dos conceitos e necessidades do projeto assim como os ensaios de laboratório, informações do aterro e o acompanhamento 22
Fundações e Obras Geotécnicas
da obra, apresentando como se deu a elaboração e desenvolvimento de uma solução geotécnica em meio à execução da obra e toda a complexidade envolvida no processo. Concluindo-se que as soluções de solo reforçado com paramento semirrígidas são plenamente aplicáveis à contenção de aterros de encontro de pontes e viadutos, inclusive como estruturas portantes. Palavras-chave: Solo Reforçado; Terramesh; Geogrelhas; Geossintéticos.
INTRODUÇÃO A rodovia BR-101 é a principal rodovia federal do Estado de Santa Catarina, cortando todo seu litoral, ligando aos Estados do Paraná e Rio Grande do Sul, além de acessar seus
Figura1 – Localização do Lote 28 Fonte: Acervo pessoal
importantes portos. Entre os anos de 2005 e 2015 o trecho entre as cidades de Palhoça (SC) e Osório (RS) foi duplicado e dividido em 13 lotes, devido a sua complexidade. O Lote 28 encontrava-se entre os municípios de Criciúma e Araranguá conforme Figura 1. Em três pontos, km 5+200, km 11+900 e km 15+100 foram adotados no projeto original, como solução de contenção para as passagens inferiores, muros de solo reforçado por geogrelhas com paramento semirrígido. Nos km 11+900 e 15+100 estes muros eram portantes. No decorrer da obra surgiu a necessidade de revisão e detalhamento destes projetos. Para a realização, o consórcio responsável pela execução do Lote 28
contratou uma empresa de consultoria para redimensionar e detalhar os muros de solo reforçado levando em consideração às modificações na geometria, os materiais disponíveis para serem utilizados como aterro estrutural e a topografia do terreno natural. O objetivo deste artigo é descrever este processo de revisão do projeto, bem como a execução destas obras. Para isto, tomou-se como exemplo o Terramesh System do km 15+100.
1 PROJETO DA PI DO KM 15+100 Para a passagem inferior do km 15+100, que contempla um viaduto de 28 m, foi adotado como solução de contenção do aterro um muro de solo reforçado por geogrelhas com face semirrígida. Esta solução se caracteriza por um paramento de gabiões, cuja a própria malha serve de reforço secundário e pela inclusão de geogrelhas como reforço primário. Neste caso, o projeto previa que o aterro seria portante, ou seja, as longarinas do viaduto da PI (Passagem Inferior) do km 15+100 seriam apoiadas no aterro reforçado, sobre um berço de concreto armado. Sendo assim, na região do apoio se previu além dos reforços em malha metálica, reforços principais com geogrelhas de resistência de 400 e 800 kN/m. As geogrelhas de 400 kN/m, com 8 m de comprimento, eram previstas como reforços principais na seção longitudinal (Figura 3), enquanto na seção transversal (Figura 2) foram previstas além das geogrelhas de 400 kN/m, geogrelhas de 800 kN/m, ambas com 8 m de comprimento.
Figura 2 – Seção transversal Fonte: Corona Engenharia
Figura 3 – Seção longitudinal Fonte: Corona Engenharia
Quadro 1 – Dados da obra Tipo de obra
Rodovias
Início da obra
2006
Conclusão da obra
2010
Local
Maracajá (SC)
Solução
Muro de solo reforçado
Geossintético utilizado
Geogrelha soldada
Função do geossintético
Reforço
Vantagem do geossintético
Econômica / Executiva
Fundações e Obras Geotécnicas
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Artigo
No projeto definiu-se como material de aterro um solo residual de diabásio (Formação Serra Geral), cujos parâmetros físicos, mecânicos e de resistência ao cisalhamento encontram-se nas Tabelas 1 e 2, respectivamente. Os referidos parâmetros foram determinados através de ensaios realizados no Laboratório de Mecânica dos Solos da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
2 REVISÃO DO PROJETO No decorrer da obra constatou-se que não haveria quantidade suficiente de solo da Jazida 4 para a execução dos aterros e, portanto, definiu-se como fonte deste recurso a Jazida 9, que se encontrava localizada no km 16+540 – LD – Lote 28 da BR 101 Sul. O material da referida jazida é uma areia pouco siltosa, avermelhada, cujos parâmetros físicos, mecânicos e de resistência ao cisalhamento encontram-se nas Tabelas 3 e 4, respectivamente. Os referidos parâmetros foram determinados através de ensaios realizados no Laboratório de Mecânica dos Solos da Universidade Federal de Santa Catarina. A análise dos dados das Tabelas 2 e 4 demonstram a redução significativa dos parâmetros c’ e ϕ’ do material da Jazida 9, em relação aos do material da Jazida 4. Devido a redução da resistência ao cisalhamento do novo material de aterro fez-se necessária uma revisão dos cálculos, com o objetivo de verificar se a estrutura do km 15+100 poderia permanecer como foi definida na primeira revisão, ou se haveria necessidade de reforçá-la, 24
Fundações e Obras Geotécnicas
Tabela 1 – Parâmetros físicos e mecânicos do solo do aterro – UFSC (2006) Origem
HRB
γs máx (kN/m³)
Hótima (%)
Expansão (%)
Jazida 04
A7-6
14,00
27,1
0,4
Tabela 2 – Parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo do aterro – UFSC (2006) Origem
γs máx (kN/m³)
γs máx (kN/m³) (kN/m3)
c’ (kPa)
ϕ’ (º)
Jazida 04
14,00
17,8
7,0
36
Tabela 3 – Parâmetros físicos e mecânicos do solo do aterro – UFSC (2007) Origem
HRB
γs máx (kN/m³)
Hótima (%)
Expansão (%)
Jazida 9
A2-4
18,00
12,2
0
Tabela 4 – Parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo do aterro – UFSC (2007) Origem
γs máx (kN/m³)
γs máx (kN/m³) (kN/m3)
c’ (kPa)
ϕ’ (º)
Jazida 9
18,00
20,0
0
33
de forma a garantir o coeficiente de segurança mínimo de 1,4, estabelecido em projeto para a estabilidade interna e global. Além do problema de redução dos parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo de aterro surgiu também uma dificuldade de se adquirir as geogrelhas de 800 kN, pelo fato deste material ser importado e o cronograma da obra não permitir uma espera de mais de 70 dias. Logo, o consórcio construtor solicitou que a verificação de estabilidade das contenções com o novo material de aterro incluísse também uma substituição das geogrelhas de 800 kN/m por 400 kN/m, estas últimas com disponibilidade para a entrega dentro do prazo aceitável pelo consórcio
2.1 ANÁLISE DE ESTABILIDADE Para as análises de estabilidade utilizou-se um software, cujo modelo de dimensionamento é por equilíbrio limite e do tipo slope stability (PERALTA, 2007), usando variações de Bishop e Janbu (DURAN e SANTOS, 2005). Se fez a modelagem das estruturas e verificação dos FS (Fatores de Segurança), referentes às proposições de alterações de materiais do aterro estrutural e/ ou adequações do projeto, como a substituição da geogrelha de 800 kN/m pela de 400 kN/m. Com base nas sondagens fornecidas pela empresa projetista do Lote 28 e pelo consórcio construtor, além das informações das cargas fornecidas pela empresa calculista dos viadutos, mode-
lou-se a estrutura seguindo a definição geométrica de projeto alterando-se o material do aterro estrutural. Num primeiro momento, manteve-se os reforços em malha metálica (gabião) com 4 m de comprimento e reforços adicionais com geogrelhas de 400 kN/m e de 800 kN/m e num segundo momento substituiu-se as geogrelhas de 800 kN/m pela de 400 kN/m com comprimentos de 8 m.
2.2 PERFIL DO SOLO DE FUNDAÇÃO A determinação do perfil do subsolo (Figura 4) foi realizada com base na análise do laudo de SM (Sondagem Mista) já existentes e disponibilizados pela contratante. A sondagem adotada na análise foi a SM-07 executada no km 15+100.
de profundidade até cerca de 15 m a sondagem mostrava a ocorrência de camadas intercaladas de argila mole e areia com SPT (Standard Penetration Test) variando entre 3 a 5 até encontrar uma camada de seixo.
2.3 SOBRECARGAS Como no presente, caso o aterro é portante, isto é, servirá de apoio para as longarinas da obra de arte especial, obteve-se da memória de cálculo da empresa calculista os valores das reações de apoio do viaduto, com base nos quais adotou-se uma carga de 250 kN/m² distribuídas num berço de concreto armado de 2 m de largura (Figura 5). No restante da seção adotou-se uma sobrecarga de trabalho de 60 kN/m², referente ao tráfego de veículos e ao
acréscimo de aterro sobre a placa de transição.
2.4 SEÇÕES DE ANÁLISE Com as informações de projeto e dos dados dos itens 3.1 e 3.2, elaborou-se os modelos de análise representados pelas seções longitudinal (Figura 6) e transversal (Figura 7) do encontro portante.
2.5 VERIFICAÇÃO Nesta verificação modelou-se a estrutura seguindo a definição geométrica de projeto, mantendo-se as malhas do gabião com 4 m de comprimento e reforços principais com geogrelhas Macgrid S 400, com 8 m de comprimento, atendendo à solicitação do consórcio construtor e adotando-se como material do aterro estrutural
Figura 4 – Perfil estratigráfico do solo de fundação Fonte: Corona Engenharia
A Figura 4 ilustra o perfil referente à sondagem SM-07 realizada quando da elaboração do projeto básico de duplicação. Nesta observa-se uma camada inicial de aproximadamente 4 m descrita como areia, pois como é de praxe em obras rodoviárias houve substituição das camadas superficiais de solo mole. Dos 5 m a 6 m
Figura 5 – Seção do berço de concreto
Fundações e Obras Geotécnicas
25
Artigo
Figura 7 – Modelagem da Seção Transversal
Figura 6 – Modelagem da Seção Longitudinal
Tabela 5 – Parâmetros geotécnicos. Inputs na verificação Solo
γ máx (kN/m³)
c’ (kPa)
ϕ’ (º)
Origem
Areia*
20,0
0
33
Ensaio CD
Areia**
18,0
0
31
Correlação
Argila
16,5
30,0
0
Correlação
Argila**
17,0
40
0
Correlação
Seixo**
20,0
0
45
Correlação
Folhelho**
18,0
24
34
Correlação
Gabião***
21,0
20
40
Correlação
Arenosa**
Tabela 6 – Resultados das verificações do km 15+100 Seção Análise
26
Longitudinal (FS)
Transversal (FS)
Tombamento
5,42
7,17
Deslizamento
11,73
3,36
Tensão na Fundação
1,48
3,79
Interna (Crítica)
2,32
2,32
Global
1,69
1,33
Fundações e Obras Geotécnicas
areia pouco siltosa da Jazida 9. Em função da diferenciação de esforços solicitantes, determinou-se uma distribuição das geogrelhas de forma diferenciada para cada trecho do aterro, sendo que a região sobre influência direta da sobrecarga do viaduto ficou mais reforçada. A Tabela 5 apresenta os parâmetros geotécnicos dos solos que constituem as seções de análise (Figura 5) e a Tabela 6 apresenta o resumo dos Fatores de Segurança obtidos na verificação. A análise dos resultados tabela acima, concluiu-se que: a) A seção longitudinal da contenção da PI pode ser implantada com o material da Jazida 09 e com geogrelhas de 400 kN/m, com 8 m de comprimento, sem nenhum problema, uma vez que todos os fatores segurança foram atendidos; b) A seção transversal da contenção da PI, não pode ser implantada com o material da Jazida 9 e com geogrelhas de 400 kN/m, com 8 m de comprimento, uma vez que ele apresenta um FSmín de 1,33 quanto a estabilidade global, valor este, menor
que o FS estabelecido em projeto que é de 1,4.
3 SOLUÇÃO Para atender ao FS estabelecido em projeto, quanto a estabilidade global, modelou-se a estrutura (seção Transversal) seguindo a definição geométrica de projeto, mantendo-se material do aterro estrutural da Jazida 09, as malhas dos gabiões com 4 m de comprimento e os reforços principais com as geogrelhas de 400 kN/m, no entanto, aumentou-se o comprimento das mesmas de 8 m para 12 m de comprimento. Os parâmetros geotécnicos dos solos que constituem as seções de análise (Figura 5) são os mesmos da Tabela 5. A Tabela 7 apresenta o resumo dos Fatores de Segurança obtidos na verificação. A análise dos resultados na tabela acima deixa claro que o aumento do comprimento das geogrelhas de 8 m para 12 m de comprimento na seção transversal é suficiente para atender o FS estabelecido em projeto.
4 SUBSTITUIÇÃO DA GEOGRELHAS SOLDADA POR GEOGRELHAS TECIDA Após a revisão do projeto e o reinício das obras constatou-se a que a disponibilidade da geogrelhas soldada era insuficiente para atender a necessidade da obra. Desta forma fez-se uma substituição para uma geogrelhas tecida. Como o fator de redução global (Creep + Danos de Instalação + Danos ambientais) da geogrelhas soldada é
Tabela 7 – Resultados das verificações do km 15+100 Análise
Transversal (FS)
Tombamento
>7,7
Deslizamento
>3,36
Ruptura na Fundação
>3,79
Interna (Crítica)
2,32
Global
1,43
menor do que o da geogrelha tecida foi necessária uma adequação no valor da resistência nominal da nova geogrelha. A resistência de projeto era 250 kN/m, e, portanto, para um fator de redução total de 1,83, foi necessária uma geogrelha de 460 kN/m de resistência nominal.
5 DESEMPENHO DA OBRA Apesar desta obra não ter sido instrumentada e não haver uma quantificação de suas deformações, pôde-se observar cerca de oito anos após a sua construção que o nível de assentamento da obra de arte foi mínimo, sensível ao usuário da rodovia tanto quanto em outras PIs que tiveram outras soluções de aterro, contenção ou fundações. As deformações da face existem, porém foram observadas deformações pontuais, de abaulamento das caixas de gabiões e não necessariamente deformações do maciço de solo reforçado, conforme figura 15.
CONCLUSÕES As estruturas de solo reforçado com geossintéticos são em geral as opções
de contenções mais econômicas para obras de média a grande altura. Este case mostra que podemos utilizar soluções de paramento em gabiões, inclusive apoiando grandes estruturas em seu aterro reforçado. Um outro ponto interessante é a influência dos parâmetros geotécnicos e flexibilidade de dimensionamento da solução, uma vez que esta não especifica um tipo de solo específico para seu aterro estrutural, permitindo que utilizemos materiais coesivos e aproveitemos os benefícios deste parâmetro nos cálculos de estabilidade. Além disso, pode-se comprovar nesta obra a versatilidade dos geossintéticos como materiais de reforço, uma vez que alterada uma condição determinante na estabilidade, pôde-se facilmente readequar o dimensionamento da estrutura sem grandes impactos. Foi possível também observar que a capacidade de customização dos geossintéticos possibilitou um ganho no prazo de execução da obra, uma vez que se pode lançar mão de um material nacional em detrimento de um importado, mesmo que com uma resistência customizada. Fundações e Obras Geotécnicas
27
Artigo
6 FOTOS DA OBRA
Figura 8 – Obra em execução
Figura 9 – Obra em execução
Figura 11 – Obra em execução
Figura 12 – Obra em execução
Figura 13 – Obra concluída
Figura 14 – Obra concluída
Figura 10 – Detalhe da geogrelha
Figura 15 – Obra concluída
REFERÊNCIAS DOMINGUES, Giancarlo.; SANTOS, Adailton A.; MACCARINI, Marciano; BORGES JR, Adrolado. Passagens Inferiores com Apoios e Aterros Contidos por Solos Reforçados de Paramento Flexível do Lote 28 da Duplicação da BR-101 Sul : Caso de Obra. Anais do VII Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental e VI Simpósio Brasileiro de Geossintéticos, Belo Horizonte, 2011. MACCARINI e SANTOS. Relatório de revisão dos projetos dos encontros dos viadutos – km5+200, km 11+900 e km 15+100 (Lote 28 da BR-101-SC), Relatório Técnico da obra, 2007. VERTEMATTI, José Carlos. Coordenador – Manual Brasileiro de Geossintéticos, São Paulo, Editora Blücher, 2004. DURAN, Jaime; Santos, Petrucio. Estruturas de solo reforçado com sistema terramesh – Encarte Técnico – Maccaferri do Brasil – 2005. PERALTA, Freddy N. G. Comparação de métodos de projeto para muros de solo reforçado com geossintéticos – Dissertação (Mestrado em engenharia civil) – PUC-Rio – 2007.
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Fundações e Obras Geotécnicas
)sarrabonoM setnariT ( sarraB ed setnariT
)sahlaodroC( sahlaodroC
Ferramenta de perfuração (INCO Haste) Estaca Helicoidal
sievátejniotuA setnariT
Enfilagem (Tubos p/ Enfilagens Convencional) Estaca Raiz (Tubos de Revestimento para Estaca Raiz)
Artigo
Análise dos métodos de cálculo de recalques em estacas do tipo hélice contínua Matheus Gonçalves Bazan, discente em engenharia civil – Faculdade Estácio de Belém – Belém (PA) matheus-bazan@outlook.com Dr. Mauricio Coelho Alves, docente em engenharia civil – Faculdade Estácio de Belém – Belém (PA) mauriciocalves@gmail.com
RESUMO Neste trabalho são analisados resultados de deslocamento para estaca do tipo hélice contínua, estimados a partir dos métodos de Poulos & Davis (1968) e Aoki e Lopes (1975), comparando-os com os valores de deslocamentos obtidos por meio de ensaios de prova de carga estática. Para tal, apresentam-se dois ensaios com carregamento do tipo lento em estaca hélice contínua com 40 cm e 60 cm de diâmetro e comprimento variando entre 12 a 20 metros em relação ao nível do solo. A partir de dados obtidos através das provas de carga estática desenvolveu-se uma planilha na interface excel alimentando-se as equações do método de Poulos & Davis (1968) e no método Aoki e 30
Fundações e Obras Geotécnicas
Lopes (1975) foi utilizado um software denominado Cálculo do Recalque de Estacas, conduzindo a resultados de recalques estimados. Dessa forma, criam-se gráficos observando-se a proximidade dos resultados. Para as estacas analisadas, o método de Aoki e Lopes (1975) mostrou melhores resultados para a estimava de recalques, quando comparado aos resultados de recalque obtidos nas provas de carga.
a aplicabilidade destes métodos de previsão de recalque para este tipo de estaca. É necessário, ainda, verificar a utilização de ferramentas numéricas para determinação dos parâmetros de recalque em estacas hélice contínua, a partir da retroanálise de prova de carga (MAGALHÃES, 2005, p. 3).
Palavras-chave: Estaca Hélice Contínua; Geotecnia; Recalque, Fundações Profundas, Provas de Carga Estática.
Alguns autores desenvolveram métodos semiempíricos de cálculo na tentativa de prever o quanto um elemento de fundação profunda irá recalcar, a partir da interação solo-estrutura, levando em consideração as propriedades do solo no contato com o elemento de fundação, bem como algumas peculiaridades inerentes à metodologia executiva das estacas.
INTRODUÇÃO Atualmente, as previsões de recalque nas estacas para um projeto são resultantes de métodos de cálculo semiempíricos baseados em ensaios de campo realizados em diversos solos no território brasileiro. Para a determinação do recalque de estacas hélice contínua são utilizados principalmente os métodos baseados na teoria da elasticidade (métodos elásticos) e métodos numéricos, os quais são utilizados para estacas em geral. Pelo fato do distinto processo executivo utilizado para estacas hélice contínua monitorada faz-se necessário verificar
1 MÉTODOS PARA ESTIMATIVA DE RECALQUE
1.1 MÉTODO DE POULOS & DAVIS (1968) Poulos & Davis desenvolveram para o cálculo de recalque um processo numérico, baseando-se na solução de Mindlin (1936) para calcular a ação da estaca sobre o solo. Nesse método, a estaca é dividida em elementos uniformemente carregados e os esforços atuam na superfície dos elementos
das estacas. Os deslocamentos que ocorrem no solo são obtidos por meio da equação de Mindlin. Através dessas considerações, Poulos & Davis (1968) chegaram à equação para recalques de base, isto é, aquela que a estaca está apoiada em uma camada resistente do solo.
onde ρρ é o deslocamento, P é a carga aplicada na estaca, Es é o módulo de deformabilidade do solo, D é o diâmetro da estaca, Io é o fator de influência para deformações, Rk é o fator de correção para a compressibilidade da estaca, Rh é a espessura finita do solo compressível e Ru é a correção para o coeficiente de Poisson do solo. Esse método leva em consideração alguns fatores como: espessura da camada do solo, o comprimento da estaca, coeficiente de Poisson, compressibilidade da estaca e o módulo de deformação do solo, fazendo com que esses tenham influência na determinação dos valores de Io, Rk, Rh e Rv, sendo obtidos através de ábacos propostos pelos autores.
1.2 MÉTODO AOKI E LOPES (1975) 1.2.1 ENCURTAMENTO ELÁSTICO Para o encurtamento elástico (ρe), levou-se em consideração a capacidade de carga admissível e o esforço normal sobre a estaca, seguindo algumas hipóteses, a saber: a carga vertical P, aplicada no topo da estaca deve ser superior à resistência lateral,
isto é, um valor intermediário entre a resistência lateral e a capacidade de carga, todo o atrito lateral esteja mobilizado e a reação mobilizada na ponta, que é inferior à resistência de ponta na ruptura, seja o suficiente para o equilíbrio de forças. Obtendo-se os valores de esforço normal na estaca e aplicando-se a Lei de Hooke, o encurtamento da estaca pode ser obtido por meio da equação:
onde Ec é o encurtamento elástico, A é a área da seção transversal do fuste da estaca, Pi é o módulo de deformabilidade do concreto, Li é o esforço normal médio da camada “i”, é o comprimento da camada “i”.
1.2.2 RECALQUE DO SOLO Pelo princípio da ação e reação, a estaca aplica cargas ao solo ao longo do contato com o fuste e transmite a carga ao solo situado junto à sua base. Devido a esse carregamento, as camadas situadas entre a base da estaca e a superfície do indeslocável sofrem deformações que resultam no recalque do solo, e, portanto, da base da estaca. Primeiro, consideremos a força P, vertical para baixo, aplicada ao solo, provocando um acréscimo de tensões numa camada subjacente qualquer, de espessura H, e que h seja a distância vertical do ponto de aplicação da força ao topo dessa camada, supondo a propagação de tensões 1:2, o acréscimo de tensões na linha média dessa camada é dado pela equação:
onde Δσp é o acréscimo de tensões, D é o diâmetro da estaca, Pp é a reação de ponta, H é a espessura da camada subjacente, h é a distância entre o topo de aplicação da carga até o topo da camada “H”. De maneira análoga, as reações às parcelas de resistência lateral constituem forças aplicadas pela estaca ao solo, verticais para baixo, as quais também provocam acréscimo de tensões naquela mesma camada. Nessas condições, tem-se que o acréscimo de tensões devido as reações às parcelas de resistência lateral através da equação:
onde Δσp é o acréscimo de tensões, D é o diâmetro da estaca, RLi é a resistência de atrito lateral, H é a espessura da camada subjacente, h é a distância entre o topo de aplicação da carga até o topo da camada “H”. Finalmente, o recalque devido ao solo pode ser estimado pela Teoria da Elasticidade Linear, pela seguinte equação:
aonde ρs é o recalque devido ao solo, H é o comprimento da camada subjacente, Es é o módulo de deformabilidade da camada de solo, Δσ é o somatório das tensões devido as Fundações e Obras Geotécnicas
31
Artigo
parcelas de atrito lateral e reação de ponta.
2 CARACTERIZAÇÃO GEOLOGIA GEOTÉCNICA Localizados no Estado do Pará, foram coletados dois ensaios de provas de carga estática em estacas instrumentadas com o carregamento do tipo lento, porém os ensaios considerados para a análise neste trabalho serão referentes somente a duas estacas, considerando uma estaca em cada ensaio de prova de carga distinto, sendo elas: ET01 e ET02.
2.1 PARÂMETROS GEOMECÂNICOS Para elaboração dos métodos propostos acima são necessárias algumas propriedades do solo e/ou da estaca que devem ser estimados por meio de equações e de acordo com a experiência adquirida pela prática. Nesse sentido, para obtenção das pro-
priedades necessárias para cálculo, fez-se obrigatório o uso de tabelas e correlações dos resultados do ensaio SPT (Standard Penetration Test) feito no local dos ensaios das provas de carga estática, com intuito de estimar valores aproximados às propriedades mecânicas deste material. Com o resultado das sondagens SPT, foi realizada uma avaliação tátil visual nas amostras de solos e notou-se que pela nomenclatura, os solos mais presentes nas amostras foram silte e areia, acompanhados por uma pequena parcela de argila e, quando associado com o índice de penetração, atingiu um grau de compacidade variando entre pouco compacto e compacto, e a argila atingiu um grau de média, ambos sendo avaliados pela NBR 6.484-2001. O banco de dados das provas de carga estática foi fornecido pela empresa Geofort Fundações Ltda. São adotados dados para processar as estimativas no software que segue a
metodologia de Aoki e Lopes (1975), tais como: Cintra & Aoki (2010) comentam que os valores de Ec variam conforme o tipo de estaca e sugerem, para EHC, o valor de 21 Gpa, o expoente “n”, variável conforme o tipo de solo, será tomado como 0,5 para solos granulares e 0,0 para argilas duras. Os fatores F1 e F2 assumiram os valores de F1=2 e F2=4 para EHC, conforme relatam Cintra & Aoki (2010), a profundidade do nível de água não foi encontrada em ambas sondagens, então adotou-se o próximo metro abaixo da base das estacas, os valores de K e “a” são gerados automaticamente no software. Para estimativa do valor do módulo de deformabilidade da estaca foi utilizada a norma NBR 6.118 (ABNT, 2014).
3 RESULTADOS ESPERADOS Neste tópico, apresentam-se os resultados obtidos por meio dos ensaios Carga (tf)
0,00
0
12
24
36
Deslocamento (mm)
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
7,00
Figura 1 – Curva Carga versus Deslocamento PCE01 – ET01
32
Fundações e Obras Geotécnicas
48
60
72
84
96
108
Os valores de deslocamento devido a carga aplicada na estaca no ensaio de PCE estão demonstrados na Figura 1. Através da curva representada na Figura 1, é possível analisar que o deslocamento para a carga máxima aplicada (108tf ) no ensaio foi de aproximadamente 6,29 mm. Na Tabela 1, estão apresentados os valores de deslocamento estimados por meio dos métodos propostos anteriormente, assim como o valor de deslocamento obtido no ensaio de prova de carga PCE01, para a carga de utilização de 108tf.
3.2 ESTACA ET02 (COMPRIMENTO = 19,80 METROS; DIÂMETRO = 60 CENTÍMETROS) Os valores de deslocamento devido a carga aplicada na estaca no ensaio de PCE estão demonstrados na Figura 2. Por meio da curva representada na Figura 2, é possível analisar que o deslocamento para a carga máxima aplicada (207tf ) no ensaio foi de
Método
Deslocamento (mm)
Poulos & Davis (1968)
5,07
Aoki e Lopes (1975)
6,10
Prova de carga
6,29
Carga (tf) 0,00
Deslocamento (mm)
3.1 ESTACA ET01 (COMPRIMENTO = 12,05 METROS; DIÂMETRO = 40 CENTÍMETROS)
Tabela 1 – Valores de deslocamento – ET01 (Carga: 108tf)
0
23
46
69
92
115
138
161
184
207
0,50
1,00
1,50
2,00
Figura 2 – Curva Carga versus Deslocamento PCE02 – ET02
Tabela 2 – Valores de deslocamento – ET02 (Carga: 207tf) Método
Deslocamento (mm)
Poulos & Davis (1968)
5,70
Aoki e Lopes (1975)
4,37
Prova de carga
1,66
7 Deslocamento (mm)
de prova de carga estática nas estacas escolhidas, como curva de transferência de carga em profundidade, curva de transferência de carga versus deslocamento, obtidos por meio do ensaio de PCE (Prova de Carga Estática), assim como os resultados de deslocamento estimados através dos métodos de previsão de recalque propostos anteriormente.
6 5 4 3 2 1 0
PCE
Poulos & Davis (1968)
Aoki e Lopes (1975)
Figura 3 – Valores de deslocamento para a estaca – ET01
Fundações e Obras Geotécnicas
33
Artigo
presença de areia, silte nas camadas que compreendem a maior parte do comprimento das estacas.
Deslocamento (mm)
6 5 4
CONCLUSÃO
3
Diante das análises realizadas neste trabalho e do contexto avaliado, os resultados permitem concluir que ao se empregar métodos empíricos para estimativa de recalque, as características do solo estudado devem ser cuidadosamente avaliadas, principalmente nos casos em que os parâmetros empregados por estes são obtidos por meio de correlações semiempíricas. Tendo em vista que nos casos analisados os resultados próximos do recalque resultante do ensaio de prova de carga estática foram obtidos pelos métodos de Aoki e Lopes (1975). As variações dos resultados analisados neste trabalho podem ser atribuídas ao fato de terem sido obtidos por correlações em função dos resultados do ensaio SPT. O método de Aoki e Lopes (1975) mostrou-se mais eficiente por conta dos parâmetros de entrada utilizados. Contudo, é comprovada a influência que uma análise de previsão de recalque pode-se trazer em uma fundação. Isto é, para o dimensionamento geotécnico, dependendo do método utilizado para estimativa de previsão de recalque ou dos parâmetros levados em consideração, o projetista pode superestimar as características geométricas de uma fundação, ou então comprometer a integridade, funcionamento e estabilidade de uma estrutura.
2 1 0
PCE
Poulos & Davis Aoki e Lopes (1975) (1968)
Figura 4 – Valores de deslocamento para a estaca – ET02
aproximadamente 1,66 mm. Na Tabela 2, estão apresentados os valores de deslocamento estimados atráves dos métodos propostos anteriormente, assim como o valor de deslocamento obtido no ensaio de prova de carga PCE02, para a carga de utilização de 207tf.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS Com próposito de comparação, criaram-se dois gráficos (Figuras 3 e 4), um para cada estaca analisada, demonstrando os resultados de previsão de recalque dos métodos propostos e o resultado do ensaio de prova de carga estática. Analisando as figuras 3 e 4 pode-se notar que todas as provas de carga estáticas avaliadas tiveram uma boa previsão de recalque pelos métodos estudados. Verifica-se que tanto o método de Poulos & Davis (1968) quanto o de Aoki e Lopes (1975) previu recalques bem semelhantes aos medidos nos ensaios de prova de carga estática. 34
Fundações e Obras Geotécnicas
Na Figura 3, nota-se que o método que resultou um valor próximo daquele obtido na prova de carga estática foi o de Aoki e Lopes (1975), mesmo apresentando um valor de recalque menor, sendo esta diferença na ordem de 0,19 mm. O método de Poulos & Davis (1968), resultou em uma diferença para com a prova de carga estática de 1,22 mm, ficando mais distante do resultado evidenciado pela PCE. Para a Figura 4, contempla-se uma maior precisão do método de Aoki e Lopes (1975), atingindo a previsão de recalque mais próximo daquele obtido em prova de carga estática, porém apresentando uma diferença na ordem de 2,71 mm. O método de Poulos & Davis (1968) resultou em uma diferença para com a prova de carga estática de 4,04 mm, ficando mais distante do evidenciado pela PCE. De maneira geral, as estacas em questão foram executadas em solos com características geológicas e geo-técnicas semelhantes, registrando a
REFERÊNCIAS ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6484: solo – Sondagem de simples reconhecimento com SPT – Método de ensaio. Rio de Janeiro, ABNT, 2001. ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 6118: Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, ABNT, 2003. ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 6122:Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro, ABNT, 1996. ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 12131: Estacas – Prova de carga estática – Método de ensaio. Rio de Janeiro, ABNT 2006. CINTRA, J. C. A; AOKI, N. Fundações por estacas: projeto geotécnico, 1. Ed, São Paulo, Oficina de textos, 2010, 96p. MAGALHÃES, P. H. L. (2005). Avaliação dos Métodos de Capacidade de Carga e Recalque de Estacas Hélice Contínua via Provas de Carga. Dissertação de Mestrado, Publicação G.DM-141/05, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 243p. POULOS, H. G.; DAVIS, E. H. Pile foundation analysis and designer. 1. Ed, Sydney, T. William Lambe et. al, 1980, 387p.
Artigo
Metodologia para estimativa do tempo de cravação de peças metálicas esbeltas com o uso de um martelo vibratório Engº Leonardo Paiva Ferreira, Engenheiro Civil, Porto Alegre (RS). Diretor técnico na empresa Triferro Comércio de Trilhos e Estacas Ltda. leonardo@triferro.net MSc. Cleber de Freitas Floriano, docente na Instituição de Ensino PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) – Porto Alegre (RS). Diretor na empresa Souza Floriano Engenharia e Projetos cleber@souzafloriano.com
RESUMO A introdução da tecnologia do martelo vibratório vem ganhando amplitude nas obras brasileiras. O presente trabalho teve o objetivo de estabelecer uma correlação entre o tempo de cravação e o índice de penetração do ensaio SPT (Standart Penetration Test), obtendo assim uma forma de estabelecer o tempo de cravação de peças metálicas por meio do uso de 36
Fundações e Obras Geotécnicas
um martelo vibratório específico. Para o desenvolvimento dessa correlação foi feito um acompanhamento do tempo de cravação das peças metálicas em quatro obras recentes que antecederam investigação do tipo SPT. A partir dos dados coletados, formatou-se um ábaco [tempo/área lateral] versus ∑NSPT (número de golpes acumulado do ensaio SPT), bem como o [tempo/ área lateral] x tempo. Os resultados apresentaram boa convergência na correlação proposta.
Palavras-chave: Martelo Vibratório; Estaca-Prancha; Ensaios de Campo; Rendimento de Cravação.
INTRODUÇÃO A cravação por impacto vem sendo largamente utilizada como ferramenta de cravação desde a introdução de peças metálicas nas obras de fundações, uma vez que os equipamentos convencionais de cravação acabam gerando muita vibração e ruído, proporcionando desconforto e problemas com a vizinhança, especialmente no
meio urbano. A introdução da tecnologia do Martelo Vibratório, portanto, vem ganhando amplitude nas obras brasileiras. É importante notar que existem diversos tipos de martelos vibratórios, que são classificados pelo seu tamanho (massa do martelo) e frequência de vibração, de forma a atender as múltiplas necessidades de cravação. A versatilidade desses equipamentos abrange a cravação de estacas metálicas, estacas-prancha, tubos metálicos, entre outras peças pré-fabricadas metálicas ou não metálicas. No que tange a prática executiva, normalmente a estimativa de tempo de cravação com o uso do martelo vibratório fica à mercê da sensibilidade profissional, sem que se tenha um critério técnico quantitativo para justificar o uso contínuo do equipamento na obra, dificultando assim racionalizar orçamento e cronograma de obra. Na maioria das vezes, o proprietário relaciona qualitativamente o tempo de cravação de seu equipamento a partir de experiências anteriores, sem que se tenha uma previsão quantitativa entre o tipo de peça a ser cravada e o solo
1 CARACTERÍSTICAS DO MARTELO VIBRATÓRIO
1.1 FUNCIONAMENTO DO MARTELO VIBRATÓRIO O funcionamento do martelo vibratório consiste em vencer o atrito lateral das peças com o solo na cravação por meio da vibração. Por conta disso, ele atua por meio do princípio de eixos excêntricos pesados: esses eixos são girados através de um motor hidráulico em direções opostas. Esse motor hidráulico tem seu funcionamento a partir de uma escavadeira onde o martelo é acoplado. A partir da rotação desses eixos excêntricos, anula-se a força horizontal e gera-se força vertical que, por sua vez é transmitida em forma de frequentes impactos para a estaca. Em vibração, a estaca acaba quebrando a estrutura do solo, conseguindo assim penetrar nas camadas adjacentes. Na Figura 1, nota-se uma representação da penetração da estaca no solo a partir da ação da vibração (FALCONI, SELDERS, 2015).
ABI Group
a ser enfrentado durante a cravação – isso fica ainda mais acentuado para obras de grande porte. Fundamentado na justificativa supracitada, para a elaboração deste trabalho inicialmente foi criando um modelo de Boletim de Acompanhamento de Cravação contabilizando o tempo discretizado de cravação e fazendo correspondência ao tipo de solo previamente investigado. Neste contexto, foram admitidas apenas peças de estaca-prancha metálica do perfil tipo TRI-U para assim obter o tempo de cravação nos variados tipos de subsolo em que esses perfis foram cravados. Sendo assim, o presente trabalho teve o objetivo de estabelecer uma correlação entre o tempo de cravação e o índice de penetração do ensaio SPT, de modo a obter o rendimento de cravação de peças metálicas por meio do uso de um martelo vibratório específico. Para o desenvolvimento dessa correlação foi feito um acompanhamento do tempo de cravação das peças metálicas em quatro obras recentes antecedidas de investigação do tipo SPT. A partir dos dados coletados, formatou-se um ábaco [tempo/área lateral] versus ∑NSPT (número de golpes acumulado do ensaio SPT), bem como o [tempo/área lateral] x tempo. Para essa amostragem inicial de quatro obras, demostra-se que tal relação pode ser uma potencial forma de estimativa do tempo de cravação utilizando simplesmente as investigações geotécnicas prévias.
Figura 1 – Ilustração da estaca metálica penetrando no solo por vibração
1.2 PARÂMETROS TÉCNICOS DE MARTELOS VIBRATÓRIOS O funcionamento do martelo vi-
bratório é definido por diversos parâmetros. Os principais são o momento excêntrico e as revoluções máximas por minuto. O momento excêntrico é uma medida de desequilíbrio entre as massas que giram em eixos com pesos definidos dentro do martelo. Esse parâmetro é constante e não dependente do solo, da estaca ou da aplicação. Os eixos do vibrador são locomovidos por motores hidráulicos, o que define o parâmetro de revoluções máximas por minuto (rpm). Esse parâmetro vai depender do tipo de solo ou da estaca, já que quando houver maior resistência, o martelo não conseguirá manter o rpm constante (FALCONI, SELDERS, 2015). Outros parâmetros que geram o funcionamento do martelo são amplitude, massa dinâmica e força centrífuga. A amplitude é o curso vertical percorrido durante uma revolução completa da massa excêntrica – esta, por sua vez é diretamente influenciada pelo momento excêntrico e é uma medida de desempenho do vibrador, sendo que tal medida determina a capacidade de romper e superar o atrito entre estaca e solo. A massa dinâmica do martelo vibratório é a parte que emite vibração, acoplada à parte estática do vibrador por coxins (elastômeros). Nesse mecanismo, a força centrífuga é diretamente influenciada pelo momento excêntrico e pelas rotações do martelo vibratório (FALCONI, 2014). Os demais parâmetros do martelo vibratório dependem de qual tipo de escavadeira será acoplada. Esses parâmetros são vazão hidráulica v (l/min) e pressão hidráulica (bar). Destaca-se Fundações e Obras Geotécnicas
37
Artigo
38
que é desejável ter, no mínimo, 2 kW para cada 10 kN de força centrífuga (FALCONI, SELDERS, 2015). O martelo hidráulico utilizado na presente pesquisa foi do fabricante Abi modelo HRV-60Z, com as seguintes características: peso dinâmico 920 kg; peso total 1260 kg; momento elástico 6,0 kgm; amplitude 13 mm; força centrífuga 400 kN; força máxima de extração 40 kN; pressão máxima de 320 bar; revoluções máximas por minuto 2.460; capacidade máxima de carga 1.000 kg. Esse equipamento é acoplado numa escavadeira CAT 320 ou similar que opere com pressão hidráulica de 290 bar a 320 bar.
Tabela 1 – Quadro dos estados de compacidade e de consistência
2 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA
Fonte: reprodução da tabela da norma técnica NBR 6.484/2001
As obras que envolvem solos requerem não só a utilização das técnicas de projeto e execução, mas também um adequado controle tecnológico dos serviços executados para garantir qualidade e segurança. Nesse estudo, para a obtenção dos parâmetros geotécnicos do solo, foram realizados ensaios de campo do tipo Standard Penetration Test. O SPT é o ensaio de campo mais utilizado e conhecido no Brasil. Esse método de investigação permite a identificação da consistência e da compacidade de solos. Esse tipo de sondagem obtém índices de resistência à penetração, reconhecimento dos tipos de solos e respectivas espessuras de camadas do terreno (SCHNAID, 2000). O valor de NSPT é o número de golpes necessários para fazer o amostrador penetrar 300 mm, após a cra-
vação inicial de 150 mm. A Tabela 1 mostra o que a NBR 6.484/2001 estabelece sobre os estados de compacidade e de consistência. Para a realização dos projetos geotécnicos é vital conhecer e determinar as propriedades dos solos de forma a prever o seu comportamento. Para o martelo vibratório ter o conhecimento do tipo de solo em que a estaca metálica será cravada passa a ser uma informação necessária para que não sobrecarregue e danifique o equipamento de cravação. Geralmente, o martelo vibratório se comporta melhor em alguns tipos de solos como saibro e areia com grãos arredondados, bem como solos moles com baixa plasticidade. Já alguns tipos de solos, como saibro ou areia de grãos com arestas e angulosos, solos argilosos duros,
Fundações e Obras Geotécnicas
Solo
Índice de Resistência à penetração N
Designação1
Areias e siltes arenosos
<4
Fofa (o)
5a8
Pouco Compacta (o)
9 a 18
Medianamente Compacta (o)
19 a 40
Compacta (o)
> 40
Muito Compacta (o)
<2
Muito mole
3a5
Mole
6 a 10
Média
11 a 19
Rija
> 19
Dura
Areias e siltes argilosos
areias finas e argilas rijas não saturadas, a cravação é dificultada, pois esses absorvem a energia da vibração (FALCONI, SELDERS, 2015).
3 METODOLOGIA Inicialmente foram coletados dados de ensaios SPT para fazer uma correlação com os diversos tipos de materiais investigados. Concomitante, foram coletados dados para correlacionar o tempo de cravação das estacas metálicas com o tipo de solo,
3.1 DADOS DE LEVANTAMENTO Para registrar os dados de cravação foi criado um modelo de Boletim de Acompanhamento de Cravação. A partir disso, foi possível contabilizar o tempo discretizado de cravação, fazendo uma correspondência ao tipo de solo previamente investigado.
Crédito da imagem: o autor
Para o levantamento do tempo de cravação, é necessário conhecer previamente o solo para um comparativo entre o tempo de cravação e o tipo de solo enfrentado. Nesse estudo, obteve-se os índices de cravação com os ensaios de campo do
tipo SPT segundo a norma NBR 6.484/2001. Previamente, por meio do uso de um marcador industrial, destacaram-se linhas na horizontal a cada 0,50 m nas estacas-prancha. Com isso, foi possível acompanhar
a evolução da cravação da estaca. Auxiliado por um cronômetro digital, foram contabilizados os tempos parciais a cada 0,50 m de cravação da peça no solo. Na marcação dos tempos parciais, não houve grandes interrupções, ou seja, não foi considerado o relaxamento do solo entre essas marcações. Na Figura 2, uma foto registra o acompanhamento da cravação das estacas metálicas. Observa-se que na Figura 2 mostra as marcações realizada para o acompanhamento da cravação.
3.1.1 BOLETIM DE ACOMPANHAMENTO DE CRAVAÇÃO
Figura 2 – Cravação da estaca-prancha metálica
No modelo de Boletim de Acompanhamento de Cravação foram adotadas as seguintes variáveis de leitura: horário, tempo parcial, tipo de solo atravessado, pressão de cravação, tempo do equipamento ligado e tempo do equipamento cravando. A marcação do horário em que está sendo cravado foi uma variável importante, pois é comum que a estaca que está sendo cravada tenha a cravação interrompida. A pressão de cravação corresponde àquela em que o martelo vibratório está operando. O tempo do equipamento ligado corresponde ao tempo acumulado da operação. Por outro lado, o tempo do equipamento cravando corresponde ao tempo total da estaca sendo cravada, ou seja, a soma de todos os tempos cronometrados a cada 0,50 m de leitura. A Figura 3 mostra o modelo de boletim de acompanhamento de cravação que foi utilizado para o acompanhamento da cravação das estacas metálicas. Fundações e Obras Geotécnicas
39
Crédito da imagem: o autor
Artigo
3.1.2 ESTACA METÁLICA UTILIZADA Foram analisados neste trabalho dois tipos de estacas-prancha com as mesmas propriedades geométricas e mecânicas, diferenciando-as apenas nos seus comprimentos. As estacas-prancha de referência foram TRI-U6 e TRI-U8, as quais são peças utilizadas para serviços de contenção provisória. Essas estacas abrangem uma largura útil de 40 centímetros por unidade com espessura de 6,3 milímetros. A diferença entre os modelos é que a estaca TRI-U6 é produzida com comprimento de 6 metros enquanto a estaca TRI-U8 com 8 metros. Na Figura 4, representa-se as dimensões das estacas-prancha TRI-U6 e TRI-U8, já na Tabela 2, estão indicadas as propriedades geométricas e mecânicas dessas peças.
Crédito da imagem: o autor
Figura 3 – Boletim de Acompanhamento de Cravação
3.2 OBRAS ACOMPANHADAS Figura 4 – Dimensões das estacas prancha TRI-U6 e TRI-U8, unidade das medidas em milímetros
Tabela 2 - Propriedades das estacas-prancha Propriedades Perfil TRI-U6 e TRI-U8 Momento de inércia Área
Perímetro
165,3 mm
5.206 mm2
Eixo X
Eixo Y
1,85 x 108 mm4
1,001 x 108 mm4
Propriedades do Aço ASTM A-36 Fy 0,25 kN/mm
Fu 2
G
E
77 kN/mm2
200 kN/mm2
Fonte: o autor
40
0,40 kN/mm2
Fundações e Obras Geotécnicas
O presente trabalho teve um acompanhamento de quatro obras. As empresas que executaram esse serviço solicitaram para não divulgar suas razões sociais, permitindo apenas que fossem informadas as suas cidades de atuação. Nesse contexto, foram separadas as obras com as seguintes nomenclaturas: Obra A, Obra B, Obra C e Obra D. Suas características estão apresentadas na Tabela 3 e na Tabela 4. Em todas foram executadas previamente sondagens do tipo SPT. A partir dessa investigação buscou-se preencher os boletins de acompanhamento de cravação para as estacas mais próximas de um ensaio, de forma a tornar correlacionáveis os valores de NSPT.
Tabela 3 - Características das obras em estudo Obra
Cidade/Estado
Profundidade da escavação
A
Gravataí (RS)
4 metros
B
Bombinhas (SC)
2 metros
C
Porto Alegre (RS)
3 metros
D
Itapema (SC)
3 metros
Tabela 4 - Características do solo das obras em estudo Obra
Tipo de solo atravessado
A
Silte-arenoso, medianamente compacto
B
Areia fina, cinza, medianamente compacta a compacta
C
Argila siltosa, pouco arenosa, consistência de muito mole à rija
D
Areia grossa marrom-claro pouco a mediamente compacta
Fonte: o autor
3.3 RENDIMENTO DE CRAVAÇÃO
4 RESULTADOS Os resultados foram obtidos conforme a metodologia supracitada. Inicialmente, os resultados foram separados por obra. Nessas obras foram desconsiderados os primeiros 0,50 m
Crédito da imagem: o autor
Crédito da imagem: o autor
Para obter uma análise mais confiável foi estabelecido um mínimo de três levantamentos de dados para cada obra, conforme o Boletim de Acompanhamento de Cravação. Com esses dados foi realizada uma média do tempo parcial e do tempo do equipamento cravando, bem como
foi construído um gráfico da média desses dados levantados. Para admitir as propriedades das peças metálicas foi adicionada ao boletim a seguinte relação: [perímetro x profundidade cravada], assim obteve-se uma área lateral conforme a profundidade cravada. Por outro lado, para obter uma relação com o tempo, foi admitida a seguinte
relação: [tempo acumulado/ (perímetro x profundidade cravada)]. Assim sendo, foram tomadas as medidas acumuladas dessa equação. A Figura 5 mostra o Boletim de Acompanhamento de Cravação com os parâmetros admitindo propriedades das peças metálicas, considerando a média de resultados de uma mesma obra. A partir dos dados supracitados foi construído um gráfico, onde o eixo X corresponde ao [tempo acumulado/ área lateral] (s/m²), com valores acumulados. Já no eixo Y principal corresponde ao SPT acumulado (∑NSPT), enquanto que no eixo Y secundário refere-se ao tempo acumulado (s). O SPT acumulado corresponde ao ∑NSPT na cota de cravação. A exemplo, na Figura 6 mostra-se o modelo do gráfico utilizado.
Figura 5 – Boletim de Acompanhamento de Cravação com os parâmetros das peças metálicas
Figura 6 – Modelo gráfico utilizado
Fundações e Obras Geotécnicas
41
Artigo
Onde: Ta: Tempo acumulado (s). Al: Área lateral acumulada (m²). ∑NSPT: Número de golpes acumulados. 42
Fundações e Obras Geotécnicas
Onde: Ta: Tempo acumulado(s) Al: Área lateral acumulada (m²) Crédito da imagem: o autor
A segunda linha de tendência foi obtida para: [tempo/área lateral] (s/m) x tempo acumulado(s) valores acumulados no eixo X e Y – nesse caso, obteve um R²=0,96 e a equação linear equivalente (2).
Figura 7 – Gráfico A com os dados em conjunto de todas as obras Crédito da imagem: o autor
de cravação. Foi observado que houve dificuldade na cravação dos primeiros 0,50 m, tornando o processo lento por necessitar de ajuste da estaca no prumo, embora este tempo também seja importante ser anotado. As obras em estudos foram acompanhadas conforme o Boletim de Acompanhamento de Cravação com, no mínimo, três cravações de estacas a uma distância máxima de 10 metros do local do ensaio SPT. Com isso, foi feito uma média desses tempos de cravação. A partir de tais informações, foi construído o gráfico como o modelo da Figura 6 para cada obra representada. A partir dos resultados brutos, transformou-se em um único gráfico de modo a combinar os dados de todas as obras em estudo. Assim, pode-se estabelecer um ábaco. Na Figura 7, apresenta-se os resultados gerados de todas as obras com os parâmetros da metodologia supracitada. Com esses dados, foi obtida uma linha de tendência para cada relação. A primeira linha de tendência teve a seguinte relação: [tempo/área lateral] (s/m²) x SPT (NSPT). Com valores acumulados no eixo X e Y, obteve um R²=0,98 e a equação linear equivalente (1).
Figura 8 – Gráfico eficiência de cravação com linha de tendência
Na Figura 8, observa-se a construção do ábaco para determinação do tempo de cravação para estacas do tipo TRI-U6 e TRI-U8 a partir da linha de tendência linear com todos os dados das obras em estudo. A título de exemplificação, um acumulado de 110 golpes do SPT incide em um tempo acumulado de cravação de aproximadamente 35 segundos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS A busca de métodos que reduzam o tempo de execução da obra, que causem menores danos às estacas e que também aliviem os impactos ao meio ambiente já não são mais um desafio. A introdução da tecnologia do martelo de impacto vibratório vem ganhando amplitude nas obras brasileiras e sua utilização vem sendo cada vez mais importante, atendendo tais objetivos. A mobilização do martelo vibratório para uma obra atualmente fica à mercê da sensibilidade profissional.
Por isso, o presente trabalho buscou obter o rendimento de cravação de estacas-prancha metálicas. Admitidas suas particulares propriedades geométricas, pode-se encontrar um ábaco que defina o tempo de cravação para peças e o conjunto de equipamentos equivalentes. A pesquisa se deteve ao acompanhamento de quatro obras de cravação e apenas um tipo de peça metálica. Mesmo sendo uma gama de valores ainda muito pequena para a validação do método, o estudo se mostra com grande potencialidade de uso na possibilidade de retroalimentação dos dados. A partir dos resultados obtidos, foram estabelecidas duas relações: [tempo/área lateral] (s/m²) x SPT (Nspt) e [tempo/área lateral] (s/m) x tempo acumulado (s). Com essas relações foi construído um ábaco para poder prever o tempo de cravação com utilização do martelo vibratório, as quais obtiveram R² de 0,96 e 0,98, respectivamente. Para essa população
de dados, houve forte convergência de resultados entre o acumulado de número de golpes do SPT e o tempo de cravação. Por fim, o trabalho preconiza uma metodologia de estimativa de tempo de cravação dessas peças, com intenção secundária para a melhor estimativa do tempo de execução das obras e, por conseguinte, aferição de valores estimados para obras provisórias – como é o caso da maioria das obras com uso de estacas-prancha metálicas. O trabalho conclui que se trata de uma metodologia que pode ser aplicada e adaptada para cada realidade regional (tipo de martelo, tipo de estaca, mecanismos e perfis de cravação). Por isso, o trabalho ainda sugere obter o uso continuado da correlação, buscando a mais ampla gama de solos, formatando um ábaco do rendimento de cravação primeiramente para esse específico tipo de martelo, fazendo também correspondência ao tipo de peça cravada, de forma a retroalimentar a população de dados.
REFERÊNCIAS ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6484. Solo – Sondagens de simples reconhecimento com SPT. ABNT. 2001. FALCONI, F. F; SELDERS, J. Dimensionamento de martelos vibratórios para instalação de estacas metálicas, Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e Geotécnica, 2015. FALCONI, F; MASET, V; SILVA, H. Cravação de estacas metálicas com martelo hidráulico e instalação com martelo vibratório – comparação de resultados de provas de carga estáticas. COBRAMSEG, 2014. SCHNAID, F. Ensaios de Campo: e suas aplicações a engenharia de fundações. São Paulo, Oficina de Textos, 2000.
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Divulgação/ Núcleo ESF Joinville
Geotecnia Ambiental
ONG PROMOVE O DESENVOLVIMENTO HUMANO E SUSTENTÁVEL POR MEIO DA ENGENHARIA Engenheiros Sem Fronteiras atuam de forma voluntária em prol de comunidades vulneráveis, escolas e ao encontro das metas da agenda 2030 da ONU por Tatiana Duarte
Jovens em ação no projeto Escola Eficiente, em Joinville (SC)
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Fundações e Obras Geotécnicas
COMUNIDADE ENVOLVIDA Trabalhar junto às comunidades escolares também é uma constante para os voluntários. “Escola Eficiente” foi o nome dado a um ciclo de três anos de atuação que o núcleo teve na instituição municipal Júlio Machado da Luz, no bairro de Nova Brasília, em Joinville (SC). Os voluntários executaram uma horta comunitária e uma composteira para tratamento dos resíduos orgânicos e intervenções para diminuir o consumo de água e energia elétrica. “O projeto teve o objetivo de reduzir o consumo de água potável em 30% através da instalação de um sistema de captação de água da chuva, troca de componentes hidráulicos e palestras para os estudantes e funcionários da escola sobre o uso racional. O consumo médio mensal da escola no período de junho de 2016 a maio de 2017 foi de 65,6 mil litros de água; portanto, o projeto tem a pretensão de economizar 19,7 mil litros de água por mês, ou seja, mais de 200 mil litros por ano”, explica Bianca Particheli. Para a economia de energia, o ESF trabalhou em parceria com o Rotaract (clube para jovens de até 30 anos do Rotary International), a empresa ECOA Energias Renováveis e a General Motors na instalação de painéis fotovoltaicos. Foram instaladas 20 placas de 255 Watts, proporcionando um sistema de Crislaine Purgato
E
Engenharia, educação, sustenta- não inesperados e nem imprevisíveis bilidade e voluntariado. Estes são os –, que afetou negativamente mais quatro pilares dos ESF (Engenheiros de 1,5 milhão de pessoas, tornou-se Sem Fronteiras), organização não- inadmissível para nós, técnicos volun-governamental criada na França nos tários, não pensarmos em uma forma anos 1980 e presente no Brasil desde de vincular a engenharia humanitária 2010 em 61 núcleos espalhados pelo oferecida pela ONG (Organização País, com cerca de 1.500 voluntários. Não-Governamental) com as comu“O ESF desenvolve seus projetos dentro da engenharia humanitária, pois busca promover o bem-estar das comunidades através da aplicação do conhecimento científico, fomentando o desenvolvimento humano e sustentável por meio da engenharia. Portanto, participar do ESF é usar do conhecimento adquirido dentro da universidade e na vida profissional em prol de uma causa muito nobre e de forma voluntária”, diz a graduanda em engenheira civil na Universidade do Estado de Santa Catarina e diretora do núcleo ESF Joinville no ano de 2017, Bianca Particheli. O núcleo da cidade caVoluntária e engenheira civil, Mariana Motta na tarinense, assim como os montagem de biodigestor no ESF Rio de Janeiro (RJ) demais, procura alinhar seus projetos com as 17 metas para o de- nidades vulneráveis que, na maioria senvolvimento sustentável da ONU das vezes, são as mais afetadas pelos (Organização das Nações Unidas), em desastres e as que menos informações que os objetivos para o planeta e as e percepções possuem sobre os perigos pessoas andam de mãos dadas. “Após que correm ao ocuparem áreas de os tristes deslizamentos e enchentes risco geológico-geotécnico”, diz a que assolaram Santa Catarina em engenheira civil e mestre em infraes2008, caracterizando este conjunto trutura e geotecnia, Lucianna Herbst, de eventos como um dos maiores atual diretora de projetos do núcleo desastres naturais brasileiros – mas ESF Joinville.
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Divulgação/ Núcleo ESF Porto Alegre
Geotecnia Ambiental
Mutirão realizado pelo núcleo Porto Alegre (RS)
5kWp com geração de 6.087,17 kWh de energia. Particheli lembra que além da melhora na infraestrutura, a participação da comunidade é um ponto crucial do projeto. “A escola Júlio Machado da Luz é muito especial, pois leva bem a sério o cuidado com o meio ambiente e questões de sustentabilidade. Todos são envolvidos desde os colaboradores até os professores e alunos. As crianças desde as séries iniciais vão à horta e participam dos projetos realizados e, com a ajuda dos professores, são abordados temas que vão do lixo zero até o controle de quantidade de kWh gerado pelas placas solares instaladas. Um exemplo disso é o medidor de kWh que fica dentro de 46
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uma sala onde os professores têm acesso e podem levar os alunos para fazer leituras e em cima disso desenvolver trabalhos escolares”, diz.
ATUAÇÃO CONSTANTE Em 2018, um dos principais projetos em Joinville é um sistema de tratamento de esgoto na comunidade Caminho Curto, região carente localizada na área rural da cidade. “No local, o esgoto das moradias é atualmente despejado em valas a céu aberto, nas laterais das vias internas e das casas e, infelizmente, em áreas de circulação e lazer das crianças que lá residem. O projeto encontra-se na fase de plane-
jamento e estruturação de ações em conjunto com outras organizações sociais da cidade e também junto à concessionária municipal de água e esgoto”, explica a engenheira civil e mestre em Infraestrutura e Geotecnia, Lucianna Herbst. “Outro grande projeto do núcleo iniciado em 2018, Unibairro, tem por objetivo mapear macro áreas vulneráveis de Joinville e selecionar uma delas para possibilitar a transformação da realidade da comunidade carente por meio de múltiplas ações simultâneas na infraestrutura, meio ambiente e desenvolvimento humano. Este projeto visa promover um sentimento de equidade social
Divulgação/ Núcleo ESF São Paulo
Voluntários do núcleo São Paulo (SP) na construção do sistema de captação de água da chuva na Escola Desembargador Amorim Lima
minha sobras de materiais de obras de construção civil para projetos sociais e se dispôs a oferecer os insumos necessários para um dos projetos do núcleo. Temos buscado constantemente mais empresas que queiram contribuir destas formas para a ONG”, diz Vinter.
Divulgação/ Núcleo ESF Santa Maria
nos moradores e zelo pelas melhorias oriundas destas ações”, diz. Uma das dificuldades para a realização dos trabalhos é justamente em relação aos recursos financeiros. Não há contribuições fixas mensais, portanto os próprios voluntários promovem ações para captar doações diretas de pessoas físicas e jurídicas. “Em 2018 estruturamos uma equipe exclusivamente para captação de recursos”, explica o engenheiro civil e especialista em Gerenciamento de Projetos Leopoldo Vinter, atual presidente do ESF Joinville. Parcerias locais são sempre bem-vindas. “Até o momento tivemos adesão de uma empresa da área da construção civil e incorporação de Joinville e recentemente uma empresa especializada em projetos e serviços técnicos de engenharia civil optou por doar trabalhos profissionais com equipamentos de topografia em vez de contribuição financeira. Também nos alegra a parceria com um negócio de impacto social da cidade que reenca-
Atuar como voluntários traz aos jovens engenheiros experiências pessoais e profissionais
FORMAÇÃO NA PRÁTICA Além de entregar para a comunidade uma colaboração voluntária que preza pelo bem-estar social e ambiental, o trabalho no ESF gera ganhos para os próprios membros, em forma de experiência não apenas pessoal, mas também profissional. “A maioria dos voluntários dos Engenheiros Sem Fronteiras no Brasil é jovem, geralmente universitários ou recém-formados, na faixa dos 19 aos 30 anos. A organização, portanto, atua na complementação da formação desses jovens ao apresentar problemas reais, complexos e urgentes, que geralmente não são abordados de maneira integrada em sala de aula e até mesmo no início de sua prática profissional”, diz a engenheira ambiental Natalia D’Alessandro, atual presidente nacional do ESF. “O trabalho em prol da comunidade, um de nossos pilares, é um fator fundamental Fundações e Obras Geotécnicas
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Por todo o Brasil, os voluntários trabalham em prol de crianças, idosos e comunidades
Divulgação/ Núcleo ESF Santa Maria
na complementação dessa formação, que muitas vezes carece de uma análise profunda do âmbito social e ambiental no desenvolvimento das soluções e na tomada de decisão. Acreditamos que o contato com a comunidade é vital para que as soluções sejam criadas em conjunto e que o conhecimento e a tecnologia se torne cada vez mais acessível e sustentável em longo prazo”, completa. A ONG não é restrita a engenheiros e profissionais de outras áreas podem se juntar ao grupo. “Outros aspectos do trabalho na organização também influenciam em uma formação mais ampla, como a possibilidade de in-
Divulgação/ Núcleo ESF Santa Maria
Geotecnia Ambiental
Voluntários de Santa Maria (RS) na criação de uma horta
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teragir com equipes diversas e com colegas de outras cidades do Brasil e do mundo, que possuem objetivos e visões compartilhadas, e a necessidade de entrar em contato com assuntos não tão abordados na graduação, mas de importância na aplicação de projetos, como a gestão financeira, de pessoas, criação de campanhas, indicadores e mensuração de resultados”, diz Natalia Herbst. Bianca Particheli, que esteve à frente do núcleo Joinville mesmo ainda cursando a graduação, concorda. “Pessoalmente, o que mais me enriqueceu ao participar do ESF foi a oportunidade de gerir não apenas projetos, mas também pessoas. Poder trocar conhecimento técnico e experiências profissionais com uma equipe excelente de engenheiros que participam do núcleo e também com os nossos parceiros foi algo incrível que a ONG me proporcionou”, conclui. Quem se interessar em participar pode procurar pelo núcleo mais próximo no site esf-brasil.org.
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Notas
Fotos: Gléssia Veras / Editora Rudder
por Gléssia Veras
CBT realiza curso sobre os aspectos práticos para construção de túneis Evento buscou proporcionar aos profissionais de obras subterrâneas uma atualização de seus conhecimentos Nos dias 2 e 3 de agosto, o CBT(Comitê Brasileiro de Túneis) promoveu o curso Aspectos Práticos da Construção de Túneis Convencionais (NATM) e Mecanizados. O evento foi realizado no Auditório Villa Lobos Office Park, em São Paulo (SP). Com auditório lotado, o curso abordou aspectos práticos desde a implantação de canteiro, planejamento, escavação, suporte de escavação e entrega de grandes túneis, tanto pelo processo convencional como utilizando-se de TBM (Tunnel Boring Machine). O curso que teve como objetivo proporcionar aos
CCR AutoBAn realiza obra de recuperação de talude na Via Anhanguera
Os trabalhos foram executados na região do quilômetro 44, em Cajamar (SP) A CCR AutoBAn, concessionária que administra o Sistema Anhanguera-Bandeirantes e que integra o Programa de Concessões Rodoviárias do Estado de São Paulo, realizou os trabalhos de recuperação de talude localizado no quilômetro 44 da Via Anhanguera, em Cajamar (SP). O talude foi totalmente remodelado com a realização de recortes de forma a permitir a recuperação de uma ruptura que aconteceu no último período de chuvas. “Assim que identificamos o início da ruptura, ainda durante o momento chuvoso, nós tomamos medidas paliativas com o objetivo de aliviar a ação da água sobre o local. Agora, na estiagem, 50
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profissionais de obras subterrâneas uma atualização de seus conhecimentos na área foi ministrado pelos engenheiros Julio Claudio Di Dio Pierri, especializado em obras metroviárias, e Sérgio Luiz Martins, que tem ampla experiência na execução de túneis. realizamos o reparo definitivo a partir da reconfiguração do talude”, destaca o gestor de Engenharia Rodoviária da Concessionária, Guilherme Baldassari. “Embora seja necessário a movimentação de um grande volume de terra, trata-se de obra que acontece sem fechamento de faixas, não causando impactos aos usuários”, lembra Baldassari. O período de seca – que acontece entre os meses de abril e outubro – é o momento ideal para a realização de diversas atividades de conservação rodoviária, com o objetivo, principalmente, de garantir que estruturas de drenagem e também para que os taludes estejam operacionais e dentro dos coeficientes de segurança exigidos pelas normas técnicas. De acordo com Baldassari, a Concessionária aproveita esta época do ano para recuperar taludes, e também para intensificar a limpeza das redes e galerias de drenagem das rodovias. “Em conjunto com a equipe de conservação rodoviária, nós visitamos todas as estruturas de drenagem e intensificamos as ações de limpeza e manutenção, a partir de diversas técnicas, como o hidrojato, que consiste na aplicação de um jato de alta pressão para a remoção de materiais que possam obstruir as tubulações”, diz.
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