Revista Fundações Ed.89

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Ano 8 | Nº 89 | Março de 2018

www.revistafundacoes.com.br ISSN 2178-0668 | R$ 27,00

ATERROS SANITÁRIOS: PROJETO, IMPLANTAÇÃO E CONTROLE Atestado de capacidade técnica da ABEF

Reservatórios DE ÁGUA

TÚNEL FERROVIÁRIO com baixa cobertura sob rodovia



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Telefone: (11) 95996-6391* *Telefone celular com atendimento também por WhatsApp: das 10h às 18h

CONSELHO EDITORIAL São Paulo • Paulo José Rocha de Albuquerque • Roberto Kochen • Álvaro Rodrigues dos Santos • George Teles • Paulo César Lodi • José Orlando Avesani Neto • Eraldo L. Pastore • Sussumu Niyama Minas Gerais • Sérgio C. Paraíso • Ivan Libanio Vianna • Jean Rodrigo Garcia Pernambuco • Stela Fucale Sukar Bahia • Moacyr Schwab de Souza Menezes • Luis Edmundo Prado de Campos Rio de Janeiro • Bernadete Ragoni Danziger • Paulo Henrique Vieira Dias • Mauricio Ehrlich • Alberto Sayão • Marcio Fernandes Leão Distrito Federal • Gregório Luís Silva Araújo • Renato Pinto da Cunha • Carlos Medeiros Silva • Ennio Marques Palmeira Rio Grande do Sul • Miguel Augusto Zydan Sória • Marcos Strauss Rio Grande do Norte • Osvaldo de Freitas Neto • Carina Maia Lins Costa • Yuri Costa Espírito Santo • Uberescilas Fernandes Polido

Associações que apoiam a revista

Fundador e idealizador: Francisjones Marino Lemes (in memoriam) Coordenação editorial e marketing: Jenniffer Lemes (jenni@revistafundacoes.com.br) Colaboradores: Gléssia Veras (Edição e Texto); Dafne Mazaia (Redes Sociais); Rosemary Costa (Revisão); Patricia Maeda (Projeto Gráfico); Agência Bud (Diagramação/Arte); Melchiades Ramalho (Artes Especiais) Contatos Pautas: glessia@revistafundacoes.com.br Assinaturas: assinatura@revistafundacoes.com.br Publicidade: publicidade@revistafundacoes.com.br Financeiro: financeiro@revistafundacoes.com.br Foto de capa: Fral Consultoria Ltda. Impressão: Gráfica Elyon Importante • A revista Fundações & Obras Geotécnicas é uma publicação técnica mensal, distribuída em todo o território nacional e direcionada a profissionais da engenharia civil. Todos os direitos reservados à Editora Rudder. Nenhuma parte de seu conteúdo pode ser reproduzida por qualquer meio sem a devida autorização, por escrito, dos editores. • A publicação segue o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. • Esta publicação é avaliada pela QUALIS, conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e encontra-se atualmente com classificação B4. • As seções “Coluna do Conselho”, “Artigo”, “Espaço Aberto”, “Opinião”, “Riscos Geológicos e Geotécnicos” e “Memória de Cálculo” são seções autorais, ou seja, têm o conteúdo (de texto e fotos) produzido pelos autores, que ao publicarem na revista assumem a responsabilidade sobre a veracidade do que for exposto e o devido crédito às fontes utilizadas.

Fundações e Obras Geotécnicas

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EDITORIAL

Neste ano, a revista Fundações & Obras Geotécnicas iniciará uma nova seção intitulada “Entenda”, que terá como objetivo apresentar uma seleção de temas em formato de infográfico. A escolha por esse formato se deve porque cada vez mais a infografia vem se firmando como um importante recurso da linguagem jornalística, como podemos constatar pela sua utilização expressiva em jornais impressos ou digitais, e revistas. O advento de novas mídias, tais como a televisão e internet, desafiou a linguagem tradicional dos jornais impressos, que tiveram que se reinventar a fim de não perder espaço diante dos novos meios midiáticos e de novas formas de se comunicar. Nesse contexto, ao unificar elementos pictóricos, esquemáticos e texto escrito, a infografia se revela como um importante recurso de linguagem gráfica, adaptável às novas mídias e capaz de fazer frente à demanda de modernização da comunicação. A relevância da utilização da infografia também se revela quando pensamos em fatos e explicações complexos que precisam ser comunicados e contextualizados, como os temas que escolhemos para iniciar esse primeiro ano da seção. Assim, o objetivo da infografia não é apenas tornar a informação mais atrativa, mas auxiliar o leitor a compreender algo que, comunicado de outra maneira pode gerar dúvidas. Conheça a seguir os temas que serão abordados: - Transposição de rios; - Rebaixamento temporário do lençol freático; - Fundações de torre de energia eólica; - Mapeamento de solos; - Pilares de pontes construídas sobre o mar; - Túnel submerso. Entre em contato pelo e-mail glessia@revistafundacoes. com.br e participe da nova seção “Infográfico”.

DA REDAÇÃO

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Fundações e Obras Geotécnicas

PRÊMIO NACIONAL Divulgação/Pacto Comunicação

PARTICIPE DA NOVA SEÇÃO DA REVISTA

A Poli-UFRJ (Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro), representada pela equipe de competição acadêmica de Engenharia Civil – Minerva Civil Poli conquistou o prêmio “I Mão na Massa”, do 7º ENEC (Encontro Nacional dos Estudantes de Engenharia Civil). O evento reuniu mais de 2.300 alunos de todo o País e aconteceu entre os dias 3 e 6 de abril, no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio de Janeiro.

mídias sociais www.facebook.com/revistafundacoes/ twitter.com/fundacoes_news https://goo.gl/yTD2o1 https://goo.gl/1s5oE6 www.linkedin.com/company/editora-rudder soundcloud.com/editora-rudder issuu.com/editorarudder


10 NESTA EDIÇÃO 10

REPORTAGEM Georreforços 2018 apresenta técnicas para o setor e inova no formato

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28 36

NOTÍCIA ABEF emite primeiros atestados de capacidade técnica para empresas do setor

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EM FOCO O que são aterros sanitários?

42 GEOTECNIA

AMBIENTAL Sistema Vetiver como solução de controle erosivo e melhorias na estabilidade de taludes

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ARTIGO Análise de dados de monitoramento da execução de estacas hélice contínua monitorada em Fortaleza (CE)

28 ARTIGO

Túnel ferroviário com baixa cobertura sob rodovia

SEÇÕES

06 Jogo Rápido 08 Coluna do Conselho 50 Notas

42 Fundações e Obras Geotécnicas

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Jogo Rápido

por Gléssia Veras

Obra de duplicação concluída

Hidrelétricas no mar

Tidal Power Lagoon

Um projeto britânico pretende construir a primeira hidrelétrica no mar retirando energia das marés. A obra consiste em erguer um paredão de concreto de 9 quilômetros em forma de “U”, que envolveria parte da Swansea Bay, no País de Gales. Na proposta desenvolvida, 29 turbinas submersas seriam movimentadas pelo fluxo das marés, e a usina poderia gerar 350 megawatts de energia por dia, o suficiente para abastecer 150 mil casas. Diferente das hidrelétricas instaladas em rios, que precisam abrir suas comportas para controlar o fluxo de geração de energia e a vazão do reservatório, a usina no mar seria regulada pelas marés.

No dia 19 de dezembro de 2017, a Arteris, concessionária da rodovia Régis Bittencourt – trecho da BR-116 que liga São Paulo (SP) a Curitiba (PR), liberou os 10 quilômetros da segunda pista da Serra do Cafezal. O projeto nasceu em 2007, mas as primeiras liberações para a instalação do canteiro de obras só ocorreram em 2010. A obra gerou baixo impacto ambiental e favoreceu a regeneração mais acelerada da floresta, beneficiando também o plantio de mais de 400 mil mudas e a criação de 17 programas ambientais monitorados pela Arteris em parceria com universidades. O programa incluiu recuperação de áreas degradadas, proteção da fauna e da flora, instalação de bioindicadores e monitoramento da qualidade da água.

Concreto reciclado Uma das ruas da cidade de Guarulhos (SP) foi a primeira a receber o pavimento asfáltico sobre base de resíduos de concreto, desenvolvido pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo). O pavimento utiliza RCD (Resíduos de Construção Civil e Demolição) como alternativa para a execução de camadas de suporte (estrutura) de vias com baixo ou moderado tráfego de veículos.

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A aplicação ocorreu em setembro do ano passado e o monitoramento da via será feito pelo período de um ano, para que sejam analisadas a resistência e a durabilidade dos agregados. O projeto que foi batizado de “cimento verde” conta com o financiamento de 5 milhões de reais do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e será expandido para outras ruas da Região Metropolitana de São Paulo.



Coluna do Conselho

RESERVATÓRIOS DE ÁGUA: UMA QUESTÃO MULTIDISCIPLINAR

A

As chuvas não são distribuídas homogeneamente ao redor do mundo, conforme a estação climática e o local, e por isso a água não está sempre disponível onde e quando precisamos dela. Algumas partes do planeta sofrem secas severas, tornando a água um bem escasso e precioso, enquanto em outras a água aparece em longos períodos de chuvas intensas, sendo que ambas as situações quase sempre causam devastações e perdas. Por vezes, em um mesmo país podem ocorrer simultaneamente enchentes e secas, como é o caso do Brasil. Para amenizar os efeitos dos déficits ou dos excessos hídricos, a humanidade, há milênios, constrói barragens nos rios para desse modo formar reservatórios de água, que são espaços físicos onde controladamente se acumula água para atravessar os períodos secos ou onde se retém os caudais que ocorrem nos períodos úmidos para atenuar as consequências das enchentes. Esse estratagema todo se resume na “técnica de regularização de vazões naturais”, que visa, portanto, a melhor utilização dos recursos hídricos superficiais, que, hodiernamente, são aproveitados para suprimento de água para consumo (humano, animal e industrial), para irrigação, para geração de energia elétrica, para a já citada mitigação de enchentes e também para outros usos (navegação, piscicultura, recreação etc.). Assim, a utilização de tais recursos hídricos, por ser múltipla, requer, como consequência, um processo decisório multidisciplinar, com a participação dos vários interessados. Para tanto, a CIGB-ICOLD (Comissão Internacional de Grandes Barragens) defende que as

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bacias fluviais constituem-se nas unidades mais adequadas para analisar os fluxos das águas superficiais, para assim realizar uma gestão integrada dos recursos hídricos disponíveis, propiciando dessa maneira uma tomada de decisões mais racional e abrangente. Essa visão é corroborada na Lei nº 4.983, de 08/01/1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos no Brasil. Nesse contexto, tomamos conhecimento da reportagem publicada no jornal O Globo de 02/01/2018, sob o título “Fase de grandes hidrelétricas chega ao fim”, na qual é enfatizado que “Com a privatização da Eletrobras e restrição ambiental, pequenas usinas, energia eólica e solar ganham espaço (sic)”. O texto menciona o PDE (Plano Decenal e Expansão de Energia), traz declarações de autoridades do Ministério de Minas e Energia e da EPE (Empresa de Pesquisas Energéticas) sobre as restrições apresentadas pela sociedade para a construção de hidrelétricas na Região Amazônica, apontando que esses projetos enfrentam resistências de ambientalistas e de indígenas. A reportagem, em seu sentido stricto, não suscita maiores dúvidas, a não ser pela falta de uma definição clara e objetiva por parte dos entrevistados no que consiste exatamente a “sociedade” que rejeita os citados projetos. De que forma essa posição da “sociedade” foi obtida e validada? Os mencionados planos energéticos correspondem a uma política de estado? Não são as fontes eólica e solar ainda intermitentes? Eis aí o que nos parecem relevantes aspectos, aos quais os jornalistas poderiam se dedicar a esclarecer ao público em geral.


de acordo com a Lei nº 4.983. Não seria então a hora de se “desenergizar” a discussão sobre o aproveitamento de nossos recursos hídricos e assim ouvir os demais setores responsáveis por outros potenciais usos dos reservatórios de água, seus critérios, diagnósticos, prognósticos, visões e planos? Quais são as obras que

Arquivo pessoal

No entanto, o que mais chama a atenção na matéria citada é a falta de um sentido mais amplo, que corresponda à importância e à complexidade da gestão dos recursos hídricos e sua inextrincável multidisciplinariedade. Para o leitor leigo, pode a matéria dar a entender que a “palavra final” sobre o aproveitamento de nossos rios pertence tão somente aos responsáveis pelo setor energético, o que absolutamente não corresponde à realidade, pois conforme visto acima, a geração de energia elétrica trata-se de um dos usos possíveis de um reservatório e que historicamente foi o mais tardio e que nem prioritário é quando eventualmente houver escassez de água,

necessitamos construir: para abastecer de água nossas cidades, o campo e as indústrias? Para mitigar as enchentes que nos assolam periodicamente? Para viabilizar a navegação fluvial etc.? E nesses reservatórios construídos e a construir não poderíamos eventualmente também gerar energia elétrica? Eis aí um convite para um debate.

> MIGUEL SÓRIA é engenheiro civil. Trabalhou 28 anos na Itaipu Binacional e, entre outras publicações, é autor de livro sobre a história do empreendimento. Representa o CBDB (Comitê Brasileiro de Barragens) no Comitê Técnico de Conscientização do Público e Educação da ICOLD (International Commission On Large Dams – Comissão Internacional de Grandes Barragens).


Reportagem

Georreforços 2018 apresenta técnicas para o setor e inova no formato Em sua quinta edição, o evento contou com a presença de profissionais que discutiram importantes casos de obras do Brasil

O

por Gléssia Veras

O Georreforços – Workshop de Geossintéticos, realizado pela empresa Huesker Brasil chegou à sua quinta edição em 2018. O evento ocorreu no dia 9 de março na cidade de São José dos Campos (SP) e contou com a presença de profissionais que discutiram importantes casos de obras nacionais e internacionais, além de apresentarem pesquisas e tendências tecnológicas. A ideia de criar um evento com esse formato surgiu a partir de um seminário técnico realizado no ano de 2008 como parte das comemorações pelos dez anos da empresa Huesker no Brasil, com o intuito de proporcionar à comunidade geotécnica brasileira uma oportunidade de troca de experiências com especialistas brasileiros e internacionais. Dessa forma, o Georreforços – Workshop de Geossintéticos, iniciou-se em 2009, mantendo uma frequência bianual, trazendo a cada edição uma programação técnica focada nos temas relevantes na época de sua realização, porém com tópicos centrados na discussão dos geossintéticos.

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Fundações e Obras Geotécnicas

Georreforços 2018 – Workshop de Geossintéticos


Abertura do evento em São José dos Campos (SP)

Fotos: Gléssia Veras/Editora Rudder

O workshop já reuniu mais de 1.000 participantes no decorrer das edições já realizadas e trouxe diversos palestrantes de renome no Brasil e no exterior. Entre os importantes especialistas que já se apresentaram no Georreforços estão o professor da Universidade de Delaware (EUA), Dov Leschchinsky; o professor da Universidade Técnica de Munique (Alemanha), Gerhard Bräu; a engenheira do Instituto Deltares da

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Reportagem

Executivo da Huesker no Brasil, Flávio Teixeira Montez

Holanda, Suzanne van Eekelen; o engenheiro e ex-diretor técnico da empresa Husker Synthetic (Alemanha), Dimiter Alexiew, dentre tantos outros. “Não há dúvida de que a trajetória da Huesker Brasil nestes 20 anos é de sucesso. A empresa cresceu em todos os aspectos. Multiplicou por dez o número de funcionários desde os anos iniciais de sua operação, ampliou

sua infraestrutura e o faturamento. Participou de diversos projetos que contribuíram para o crescimento da engenharia brasileira e, talvez o mais importante, se consolidou com uma das principais referências em geossintéticos no Brasil e em diversos outros países da América do Sul. O Georreforços foi realizado em sua 5ª edição este ano. De fato, já é um

Diretor-executivo da Geosistemas Ltda., Rafael Lopez

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CEO Huesker Group Diretor, F. Hans Gradin

evento técnico consolidado na agenda de seminários do setor de geotecnia no Brasil. Assim, como nas edições anteriores, teve uma procura grande e alcançou um número significativo de participantes, superior a 250, número que correspondia à capacidade do auditório”, diz o diretor de desenvolvimento de mercado da Huesker, André Estevão.

Diretor da Vecttor Projetos, Luiz de Mello


Gerente de aplicações da Huesker Synthetic na Alemanha, Markus Wilke

INOVAÇÃO NO FORMATO O evento inovou nessa edição, pois utilizou 2 palcos com palestras simultâneas sobre diferentes tópicos, montados em um mesmo ambiente. Assim, o áudio das apresentações foi disponibilizado em fones de ouvido individuais e cada participante pôde optar, na hora, por qual palestra acompanhar.

Consultor de geotecnia da Planave S.A, Hélio Vronsky

“Já conhecíamos este formato de palestras simultâneas, apesar de ainda ser um formato inovador. Em eventos de engenharia, por exemplo, dificilmente se vê este formato sendo adotado, mas sabíamos dos possíveis benefícios que este formato poderia aportar ao evento e um deles seria a possibilidade de programar um número maior de palestras. A ideia foi,

Diretor-técnico da Huesker Itália, Luis Eduardo Russo

então, criar dois palcos com temáticas distintas e não concorrentes entre si, conseguindo desta forma direcionar o Georreforços deste ano para um público mais eclético. A infraestrutura necessária para este formato precisaria de pouca adaptação se adotássemos o formato tradicional, pois o uso de fones de ouvido já seria necessário em função das traduções simultâneas sem-

Coordenador de engenharia da Egis Engenharia e Consultoria, David Gurion Tiago

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Reportagem

Engenheiro geotécnico da Engecorps, Regis Eduardo Geroto

pre contempladas no Georreforços. E é certo que o fato de o Georreforços 2018 ser parte dos eventos comemorativos dos 20 anos da empresa impulsionou a ideia de inovar. A inovação é um dos valores da empresa e, por isto, está muito presente nas nossas iniciativas”, explica André Estêvão. Segundo o diretor de desenvolvimento de mercado da Huesker, a escolha dos temas é sempre feita sobre dois critérios principais: “Sempre buscamos abordar tópicos atuais, que possam realmente aportar conhecimento e novas contribuições aos participantes, bem como que tenham coerência e alguma inter-relação entre si, para que o programa do seminário para atender, ou mesmo superar a expectativa dos profissionais que se deslocam de todos os cantos do País (e até do exterior) para atender ao Georreforços”.

PALESTRAS Professor-titular da UnB (Universidade de Brasília), Ennio Palmeira

Diretor da Brugger Engenharia, Paulo José Brugger

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A programação técnica do Georreforços contemplou dez palestras técnicas proferidas por especialistas. Após a abertura oficial da programação no Palco 1 os participantes assistiram a palestra “Aplicação de Tubos Geotêxteis em Núcleo de Molhes de Proteção – Caso ‘Praia Artificial El Salitre’, Tocopilla”, realizada pelo diretor-executivo da empresa Geosistemas Ltda. do Chile, Rafael Lopez; enquanto no Palco 2 ocorria a palestra “Duplicação do Trecho Inicial da Rodovia dos Tamoios – Introdução Pioneira do Ringtrac® no Brasil”, proferida pelo diretor da empresa Vecttor Projetos, Luiz Guilherme de Mello. Na sequência os participantes


Professor da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), Marcos Futai

puderam acompanhar no Palco 1 a apresentação “Aplicações de Fôrmas Têxteis para Dessecagem de Lamas Industriais como Solução para Problemas de Grande Escala ao Redor do Mundo”, ministrada pelo gerente de aplicações da empresa Huesker Synthetic na Alemanha, Markus Wilke; e no Palco 2 acontecia a palestra “A utilização de geogrelhas de elevada rigidez como solução de engenharia na estrada do COMPERJ”, apresentada pelo consultor de geotecnia da empresa Planave S.A., Hélio Vronsky. Ainda no período da manhã ocorreu no Palco 1 a palestra sobre o tema “Estabilidade da Camada de

Painel “Geossintéticos no Brasil: desenvolvimentos, práticas e futuro”

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Reportagem

Cobertura de Taludes Impermeabilizados – Método de Cálculo e Teste em Escala Real”, realizada pelo diretor-técnico Huesker Itália, Luis Eduardo Russo; concomitantemente ao tema “Desafios vencidos na duplicação da Estrada de Ferro Carajás”, no Palco 2, exposta pelo coordenador de engenharia da empresa Egis Engenharia e Consultoria, David Gurion Tiago. Já durante o período da tarde no Palco 1 ocorreu a apresentação do “Projeto de um Muro em Solo Reforçado com 25m de altura – Implantação da Praça de Pedágio do km 60 da Rodovia dos Tamoios” pelo engenheiro geotécnico empresa Engecorps Engenharia, Regis Eduardo Geroto; ao mesmo tempo no Palco 2 os participantes assistiram à palestra “Acurácia e Precisão de Métodos Analíticos para Projetos de Aterros Estaqueados Reforçados com Geossintéticos”, proferida pelo professor da UnB (Universidade de Brasília), Ennio Marques Palmeira. Logo depois no Palco 1 ocorreu a palestra “Muros de Contenção Portantes em Solo Reforçado com Geogrelhas: Sistemas Muros Terrae e Quadratum”, com apresentação do diretor da empresa Brugger Engenharia, Paulo José Brugger; e no Palco 2 foi abordada a questão dos “Aterros Reforçados sobre Solos Moles (com ou sem uso de PVD): Efeitos Práticos da Interação Solo-Reforço” pelo professor da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), Marcos Massao Futai. Encerrando o Georreforços 2018, 16

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O diretor de desenvolvimento de mercado da Huesker, André Estevão

Professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Maria das Graças de Almeida

o evento ainda contou com o painel “Geossintéticos no Brasil: desenvolvimentos, práticas e futuro” que teve como mediador o diretor de desenvolvimento de mercado da Huesker,

André Estêvão Silva e como debatedores: o diretor da Eng Consultoria, Carlos Vinícius Benjamin; a professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Maria das Graças de


Professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Paulo Albuquerque

Diretor da Eng Consultoria, Carlos Vinícius Benjamin

Professora do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Delma Vidal

Almeida; o professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Paulo Albuquerque; e a professora do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Delma Vidal. “A nossa avaliação sobre o evento é a melhor possível. Consideramos, após o término do evento, que efetivamente alcançamos todos os objetivos que havíamos traçado. Conseguimos atrair o público desejado, em perfil e em número, pudemos oferecer, através dos temas escolhidos e palestrantes convidados, apresentações muito relevantes com conteúdo de elevado nível técnico e atual, a inovação proposta pelo formato de palestras simultâneas funcionou muito bem. Por parte do público presente, a avaliação, de forma geral, também foi muito satisfatória. O evento foi um sucesso, mas algo que também nos gerou muita satisfação foi a mobilização de todos na empresa, bem como das empresas parceiras que nos ajudaram na realização desta edição para que o evento se realizasse. O desafio foi grande, mas o trabalho de equipe feito com coordenação, dedicação e entusiasmo de todos, garantiu total sucesso do Georreforços 2018”, conclui o diretor de desenvolvimento de mercado da Huesker, André Estevão. Essa edição contou com o apoio da ABLP (Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública), da ABMS/NRSP (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica / Núcleo Regional São Paulo) e da IGS Brasil (Associação Brasileira de Geossintéticos). Fundações e Obras Geotécnicas

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Notícia

ABEF emite primeiros atestados de capacidade técnica para empresas do setor Documento marca um importante passo para uma maior regulamentação do trabalho no segmento das companhias que o conquistarem por Gléssia Veras colaboração de material: Michele Castro (ABEF)

N

No dia 23 de janeiro, a ABEF (Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia) reuniu uma comissão julgadora formada por representantes da própria associação, membros da ABEG (Associação Brasileira de Empresas de Projeto e Consultoria em Engenharia Geotécnica) e da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) para a emissão do Atestado de Capacidade Técnica da ABEF. O trabalho da comissão constituiu na análise e discussão dos processos de atestação das primeiras empresas que requereram o documento, com base no regulamento aprovado em reunião de empresas associadas, da diretoria e do conselho delibera-

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Fundações e Obras Geotécnicas

tivo, divulgados pela ABEF desde de 2017. A parceria com as associações ABEG e ABMS, na conferência de cumprimento dos critérios, demonstra a total isenção e imparcialidade dos julgamentos, que são públicos, realizados mensalmente, na sede da ABEF. Para chegar ao parecer de cada empresa a comissão fez uma apreciação minuciosa de todos os documentos apresentados, levando em consideração a aplicação do Manual de Execução de Fundações – Práticas Recomendadas [Saiba mais no box], o Estatuto e o Código de Ética da associação, a legislação vigente, as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e as normas regulamentadoras do Ministérios do Trabalho, além dos


Fotos: Gléssia Veras / Editora Rudder

Comissão julgadora formada por representantes ABEF, membros da ABEG e da ABMS

acervos técnicos com um quantitativo mínimo de produção por serviço. “Para nós é fundamental a existência de uma certificação desse tipo, pois uma das grandes dificuldades que nós temos é fazer com que os clientes contratem empresas qualificadas para os trabalhos de suas necessidades. Esse atestado é um grande benefício para nós, enquanto representantes dos projetistas, pois de nada adiantaria um bom projeto que futuramente será executado por uma empresa que não está gabaritada para fazê-lo”, afirma o presidente da ABEG, Ilan Gotlieb. O representante da ABMS na comissão, o engenheiro Fabian Corgnier concorda com as questões apontadas por Gotlieb e acrescenta: “O mercado de engenharia civil dispõe hoje de uma vasta gama de certificados, porém ainda não tínhamos até então um atestado específico para a área de fundações, que é tão importante, prin-

ATESTADOS EMITIDOS – ABEF EMPRESA

PRODUTO

BIANCO

ESTACA HÉLICE

ENBRAGEO

ESTACA RAIZ / TIRANTES

GEOFIX

ESTACA RAIZ / ESTACA HÉLICE / ESTACA ESCAVADA / TIRANTES / PAREDE-DIAFRAGMA

GNG

ESTACA METÁLICA

SEEL

SOLO GRAMPEADO

SOLOTRAT

ESTACA RAIZ / TIRANTES / SOLO GRAMPEADO

SONDOSOLO

ESTACA RAIZ / ESTACA HÉLICE / TIRANTES / SOLO GRAMPEADO

As empresas DESTACA, ESTAQ, GNG e SEEL encontram-se em avançado processo de julgamento e aguardam a emissão de novos atestados.

cipalmente no que tange às questões de segurança da obra”.

REGULAMENTO O regulamento para obtenção do atestado foi desenvolvido pela diretoria e pelo conselho deliberativo da ABEF, com a aprovação de suas empresas associadas em outubro de 2017. Em seu

texto oficial afirma que: “Uma vez que as empresas associadas da ABEF atuam com execução de serviços de engenharia de fundações e geotecnia, e sendo um dos principais objetivos estatutários desta associação a otimização desta tecnologia, nada mais legítimo que instituir o presente regulamento para emissão do Atestado de Capacidade Técnica, o qual Fundações e Obras Geotécnicas

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Notícia

Presidente da ABEF, Gilberto Manzalli

Diretor de eventos da ABEF, Daniel Iorio

Diretor-financeiro da ABEF, Gustavo Nahas

Engenheira consultora da ABEF, Fernanda Nabão

Presidente da ABEG, Ilan Gotlieb

Representante da ABMS, Fabian Corgnier

vem sendo concebido desde 2010”. A versão completa do documento pode ser acessada em: https://goo.gl/omRfGb ​A empresa Solotrat Engenharia Geotécnica recebeu os atestados para os produtos Estaca Raiz, Tirantes e Solo Grampeado. Já a empresa Son20

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dosolo Geotecnia e Engenharia foi atestada para Estaca Raiz e Tirantes. O presidente da ABEF, Gilberto Manzalli ressalta que a busca pelo atestado será tangente dentre as empresas de fundações que têm uma consciência da importância em esta-

rem validadas. “As empresas do setor que são comprometidas, aquelas que cumprem a legislação já entendem a necessidade de estarem certificadas e o quão importante esse atestado será para a validação dos seus trabalhos perante as outras empresas do seg-


o documento para seus produtos, sempre com a participação efetiva dos representantes das três associações. As empresas associadas podem solicitar o Atestado de Capacidade Técnica a qualquer momento. Todas as informações encontram-se disponíveis no site da ABEF: www.abef.org.br Divulgação ABEF

mento, assim como para a realização de suas funções de forma responsável nos projetos de engenharia”. Os próximos trabalhos de avaliação para obtenção do atestado ocorrerão nos próximos meses para considerar os documentos das demais empresas que solicitaram ou vierem a requerer

Manual de Execução de Fundações

A ABEF recomenda este Manual de Execução de Fundações como referencial para suas empresas associadas, para o meio acadêmico e para todo o setor da construção civil, como empreendedores e empresas construtoras.

(Acrescentam-se resumidíssimos comentários de reconhecidos professores): (Exemplos): Nordeste: Prof. Eng. Alexandre Gusmão: “Indico este Manual xxxxxxx” Sudeste: Prof. Eng. José Luiz de Paula Eduardo: “Indico este Manual xxxxxxx”

Práticas Recomendadas

A Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia – ABEF foi fundada em 1980. Reunindo as mais importantes empresas brasileiras do setor, consolidou-se como eminente entidade de classe, sem fins lucrativos. A otimização da tecnologia de engenharia de fundações e geotecnia é um de seus principais objetivos. Nesse sentido, a ABEF desenvolveu, atualiza e amplia, constantemente, este Manual de Execução de Fundações, obra científica de referência nas universidades, faculdades e esferas profissionais. Cada capítulo discorre, detalhadamente, sobre determinado produto, abrangendo fundações profundas, contenções e serviços especiais. Mediante padronização de procedimentos executivos e utilização de avançadas técnicas de engenharia, de elementos e equipamentos apropriados, conforme indicações consignadas neste manual, executam-se, com administração de custos e segurança de pessoal, obras de fundação de alta qualidade, observadas as normas da ABNT e do Ministério do Trabalho.

Manual de Execução de Fundações

Práticas Recomendadas

Manual de Execução de Fundações Práticas Recomendadas

Sul: Prof. Eng. Jarbas Milititsky: “Indico este Manual xxxxxxx”

08.2557 MEFG

Manual de Execução de Fundações – Práticas Recomendadas Autora: Fernanda Nabão Editora: ABEF (Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia) Ano: 2016 A ABEF (Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia) lançou em 2016 o Manual de Execução de Fundações – Práticas Recomendadas, obra voltada exclusivamente para obras de fundações e organizada há alguns anos. Composto por mais de 300 páginas, o livro é dividido em três grupos e constitui um compilado com objetivo de orientar as ações e materiais adequados para esse tipo de obra. A primeira parte apresenta as fundações profundas e destaca os mais diversos tipos de estacas existentes, como as metálicas, as pré-moldadas de concreto, as Strauss, as escavadas, as de hélice contínua monitoradas, entre outras. Além disso, a publicação mostra as principais normas correlatas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e do Ministério do Trabalho. A segunda fase da publicação explica mais sobre contenções, como: parede-diafragma com uso de fluido estabilizante; concreto projetado; tirantes; chumbadores e cortinas de estacas secantes. Além disso, a obra contém capítulos dedicados aos serviços considerados especiais, como os DHPs (Drenos Sub-horizontais Profundos), além de detalhes sobre o uso de Jet Grouting e estacas de areia e brita compactada, ou argamassa para melhoria do solo. O livro apresenta aos leitores o passo a passo a ser realizado, com o propósito de fazer o profissional alcançar o sucesso nesses tipos de obras.

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Artigo

ANÁLISE DE DADOS DE MONITORAMENTO DA EXECUÇÃO DE ESTACAS HÉLICE CONTÍNUA MONITORADA EM FORTALEZA (CE) Marcos Fábio Porto de Aguiar – Instituto Federal do Ceará, Fortaleza (CE) marcosporto@ifce.edu.br Tiago Melo Monteiro – Universidade de Fortaleza, Fortaleza (CE) tiagomelomont@gmail.com Israel Lima Dias – Universidade de Fortaleza, Fortaleza (CE) israel-arq@hotmail.com Francisco Heber Lacerda de Oliveira – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza (CE) heberoliveiracivil@hotmail.com Luiz AntonioNaresi Junior – Comercial da Progeo Engenharia Ltda., Belo Horizonte (MG) naresi@progeo.com.br

RESUMO Este trabalho apresenta uma análise dos dados de monitoramento de fundações assim como a verificação da eficiência de métodos semi-empíricos na determinação da capacidade de carga em estacas Hélice Contínua Monitorada. Para isso, realizou-se um estudo com base em dados de cinco obras, contendo 11 estacas, na cidade de Fortaleza (CE). A partir dos relatórios de monitoramento da execução das estacas tipo hélice, 22

Fundações e Obras Geotécnicas

foram verificadas as relações com os índices de resistência à penetração (NSPT) de sondagens próximas, metro a metro, assim como a relação da ordem de grandeza das pressões hidráulicas finais (últimos 3 metros) com a capacidade de carga das estacas, considerando os resultados de prova de carga. Palavras-chave: Fundações; Estacas; Sondagens; Prova de Carga Estática.

INTRODUÇÃO Estudos dos parâmetros de controle de execução de estacas e relações com investigações e definições de projeto são de grande relevância na engenharia de fundações, pois podem representar impactos técnicos e econômicos significantes. Em estacas de deslocamento ou cravadas, existe o controle da capacidade de carga do solo através da nega, que é o deslocamento permanente da estaca para dez golpes do martelo com a mesma altura de queda. No entanto, para as estacas escavadas, como a hélice contínua, o controle da capacidade de carga fica restrito aos resultados de prova de carga, que são realizados em uma quantidade mínima de estacas. Por isso, seria de uma importante contribuição a implementação de uma metodologia simples, como a da nega, para o controle da capacidade de carga em campo de estacas hélice contínua. São importantes os estudos que tenham como objetivo melhorar o controle executivo de estacas escavadas, especificamente, estacas tipo hélice contínua, devido a necessidade de confirmar ou identificar equívocos


nas investigações preliminares, normalmente realizadas com sondagens à percussão tipo SPT (Standard Penetration Test), ou ainda variações localizadas de comportamento do subsolo, isto porque a maior parte dos projetos de fundações utiliza o índice de resistência à penetração (NSPT) para dimensionamentos dos elementos que transmitirão as cargas ao subsolo.

1 METODOLOGIA O trabalho foi iniciado com a pesquisa de dados de monitoramento de estacas hélice contínua (HCM), sondagens à percussão e resultados de ensaios de prova de carga, junto a empresas que executam fundações e construtoras. Com estes dados foram estudadas, inicialmente, possíveis correlações entre pressão hidráulica (torque) do equipamento e o NSPT obtido nas sondagens nas mesmas cotas do subsolo. Foram analisados também resultados de capacidade de carga por

meio de métodos semi-empíricos e comparados com resultados obtidos de provas de carga, a fim de verificar qual dos métodos semi-empíricos que mais se aproximaram da carga última indicada pela prova de carga. Além disso, foram realizadas análises de valores de pressão hidráulica nas cotas de assentamento das estacas que comprovaram, de acordo com os ensaios de prova de carga, comportamentos mecânicos satisfatórios, considerando as capacidades de carga de projeto.

2 RESULTADOS E DISCUSSÕES Para análise dos dados de monitoramento de estacas hélice contínua, foram coletados dados de 11 estacas em cinco obras distintas dentro da cidade de Fortaleza (CE). Os dados foram obtidos de empresas executoras de estacas HCM e construtoras, sendo estes: sondagens SPT, relatórios de monitoramento de execução das

estacas e provas de carga estática. Para cada obra foram desenvolvidos os cálculos para previsão de capacidade de carga das estacas através dos métodos de Aoki-Velloso (1975), DecourtQuaresma (1978) e Antunes e Cabral (1996). Para isto, foram utilizados os dados de perfis de sondagens realizadas nos locais de execução das estacas. Em relação às provas de carga, a extrapolação das curvas carga-recalque foi feita pelos métodos de Van Der Veen (1953) e Chin (1970). De posse destes resultados, os valores das capacidades de carga previstos foram comparados com os resultados extrapolados das curvas carga-recalque, possibilitando assim verificar a eficiência dos métodos utilizados, conforme Tabela 1. Para cada estaca, também foi calculada a variação da capacidade de carga em relação à obtida em prova de carga estática, sendo os resultados negativos, característicos de valores superiores às mesmas.

Tabela 01 – Comparativo entre os métodos semi-empíricos

Estacas

OBRA 1

OBRA 2 OBRA 3 OBRA 4 OBRA 5

Diâmetro (mm)

Comprimento (m)

Carga de Trabalho (kN)

Carga de Ruptura (kN)

Aoki e Velloso (1975)

Décourt e Quaresma (1978)

Antunes e Cabral (1996)

R (kN)

Var Rpce

R (kN)

Var Rpce

R (kN)

Var Rpce

E42A

400

12

750

2315

2003

13%

1506

35%

2175

6%

E64A

500

12

1050

3315

2799

16%

2029

39%

2875

13%

E42B

400

10

750

2365

1986

16%

1264

47%

1752

26%

E64B

500

10

1050

2562

2867

-12%

1762

31%

2348

8%

TESTE

600

12

1500

3450

3383

2%

2267

34%

2895

16%

E01

600

12

1500

3350

1945

42%

1908

43%

2392

29%

E49

600

21

1500

3430

3132

9%

2587

25%

3551

-4%

E441

600

21

1500

3350

3132

7%

2587

23%

3551

-6%

E104

600

12

1400

3210

2723

15%

1325

59%

3311

-3%

E162

600

11

1400

3320

2938

11%

2827

15%

3449

-4%

EE1

500

15

1100

2850

3665

-29%

2789

2%

3337

-17%

Fundações e Obras Geotécnicas

23


Artigo

Tabela 02 – Relação entre carga de ruptura e pressão hidráulica mínima

OBRA 1

OBRA 2

OBRA 3

OBRA 4 OBRA 5

Estacas

Diâmetro (mm)

Comprimento (m)

Solo nos últimos 3 metros

Carga de Ruptura PCE (kN)

Carga de Ruptura Antunes e Cabral (1996) (kN)

Pressão Hidráulica Mínima (bar)

E42A

400

12

Arenoso

2315

2175

140

E64A

500

12

Arenoso

3315

2875

116

E42B

400

10

Arenoso

2365

1752

126

E64B

500

10

Arenoso

2562

2348

128

TESTE

600

12

Arenoso

3450

2895

198

E01

600

12

Arenoso

3350

2392

167

E49

600

21

Argiloso

3430

3551

219

E441

600

21

Argiloso

3350

3551

149

E104

600

12

Argiloso

3210

3311

151

E162

600

11

Argiloso

3320

3449

218

EE1

500

15

Arenoso

2850

3337

174

Tabela 03 – Equações do NSPT em função da pressão hidráulica para solos arenosos

OBRA 1

OBRA 2

OBRA 3

OBRA 4 OBRA 5

Estacas

Equação

E42A

y = 0.0513e0.0447x

0.3935

E64A

y = 0.0026e0.0729x

0.6007

E42B

y = 1.2095e0.0193x

0.1448

E64B

y = 0.5811e0.0249x

0.3964

TESTE

y = 12.824e0.0048x

0.3541

E01

y = 3.66e0.0136x

0.5614

E49

y = 3.1712e0.008x

0.3147

E441

y = 1.9923e0.0158x

0.1945

E104

y = 0.3036e0.0287x

0.9972

E162

y = 1.3675e0.0127x

0.7402

EE1

y = 0.8054e0.0154x

0.5069

Tabela 04 – Equações do NSPT em função da pressão hidráulica para solos argilosos

OBRA 3

OBRA 4

24

Estacas

Equação

E49

y = 26.067e-0.003x

0.0245

E441

y = 27.913e-0.004x

0.0338

E104

y = 35.972e-0.001x

0.0174

E162

y = 4.3781e0.0094x

0.3689

Fundações e Obras Geotécnicas

Para cada estaca também foi calculada a média das pressões hidráulicas nos últimos 3 metros, com intuito de chegar a um valor mínimo de pressão hidráulica que possa ser utilizado como parâmetro de confirmação da profundidade de projeto. Esses valores de pressão hidráulica foram comparados com os valores de carga de ruptura obtidos nas provas de carga estática e pelo método de Antunes e Cabral (1996), para verificar a relação da ordem de grandeza entre os mesmos, conforme Tabela 2. Foi realizado estudo comparativo entre os relatórios de execução das estacas HCM e das sondagens, analisando os valores de pressão hidráulica na perfuratriz e o NSPT a cada metro. Foi adotado como critério para esta análise a utilização apenas de valores inteiros de NSPT, sendo os valores extrapolados excluídos da análise. Como resultado foram elaboradas equações com o intuito de obter o NSPT a partir


dos valores de pressão hidráulica, para solos arenosos e argilosos, conforme Tabelas 3 e 4. A seguir, encontram-se alguns dos

Figura 01 – Pressão Hidráulica x NSPT (E104)

gráficos gerados para obtenção das equações do NSPTem função da pressão hidráulica, Figuras 1 a 5. Em virtude da quantidade de gráficos gerados, buscou-

se expor os mesmos de acordo com valores representativos de R² encontrados.

CONCLUSÕES O método que mais se aproximou dos resultados obtidos nas provas de carga estática, para estacas tipo HCM na situação em estudo foi o de Antunes e Cabral (1996). Os métodos semi-empíricos para determinação de capacidade de carga em estacas possuem certa variabilidade, portanto cada caso deve ser avaliado individualmente para que seja utilizado o modelo que mais se aproxime da situação real. Os resultados de capacidade de carga obtidos através das provas de carga estáticas, indicam que as profundidades executadas podem ser

Figura 02 – Pressão Hidráulica x NSPT (E01)

Figura 03 – Pressão Hidráulica x NSPT (E49)

Figura 04 – Pressão Hidráulica x NSPT (E162)

Figura 05 – Pressão Hidráulica x NSPT (E49)

Fundações e Obras Geotécnicas

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otimizadas, pois em todos os casos foram verificados resultados superiores ao dobro da carga de trabalho. Os valores de pressão hidráulica mínima obtidos são de grande relevância para o uso na prática, pois é comum a perfuração além da cota de projeto, devido a pressões hidráulicas consideradas baixas. Com isso, os valores de pressão hidráulica mínima, apresentadas nesta pesquisa, podem servir de referência para confirmação das profundidades das estacas, caso atingidas as cotas de assentamento definidas no projeto. Notou-se que as equações para obtenção do NSPT em função da pressão hidráulica apresentaram divergências entre si. Para os solos arenosos, foi possível obter correlações razoáveis para algumas estacas. Já para os solos argilosos, as correlações não são representativas, pois foram poucos os valores analisados de sondagem que apresentaram solos argilosos. Foi possível verificar uma relação de comportamento qualitativa, ou seja, a pressão hidráulica tende a aumentar

com a resistência do solo, porém, uma correlação numérica ainda não é clara de acordo com esse estudo. No geral, dois fatores podem ter causado divergências nas equações. Primeiro, é possível que hajam diferenças entre as cotas utilizadas nas sondagens e as cotas fornecidas nos relatórios de monitoramento das estacas HCM. Segundo, os valores de pressão hidráulica podem apresentar inconsistências, devido à calibração ou até mesmo problemas nos transdutores de pressão da máquina. Pesquisas que procurem parâmetros de controle e estimativa de capacidade de cargas em estacas tipo hélice contínua são relevantes, porém as sondagens à percussão, para obtenção dos índices de resistência à penetração, ainda podem ser consideradas imprescindíveis para as definições de projeto de fundações, portanto recomenda-se atenção a esta etapa, com contratação de empresa confiável, acompanhamento dos serviços e análise crítica dos relatórios.

REFERÊNCIAS AOKI, N.; VELLOSO, D., A., An Approximate method to estimate the bearing capacity of piles. In: Panamerican Conference on Soil Mechanics and Foundations Engineering, 5. 1975, Buenos Aires. Anais... Buenos Aires, 1975. v. 1. p. 367-376. ANTUNES, W.R. & CABRAL, D.A. Capacidade de Carga de Estacas Hélice Contínua. 3º Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e Geotecnia, São Paulo, 1996, 2: 105 – 109. CHIN, F. K. Estimation of the Ultimate Load of Piles from Tests Not Carried to Failure, Proc. 2nd Southeast Conf. on Soil Engrg. 1970. DÉCOURT, L.; QUARESMA, A. R. Capacidade de carga de estacas a partir de valores de SPT. In: Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, 6., 1978, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, 1978. V. 1. P. 45-54. VAN DER VEEN, C. The Bearing Capacity of a Pile. Proc. Third International Conference Soil Mechanics Foundation Engineering, Zurich, 1953, vol. II.

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Fundações e Obras Geotécnicas



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TÚNEL FERROVIÁRIO COM BAIXA COBERTURA SOB RODOVIA MSc. Engª Danielle Fernanda Morais de Melo, engenheira civil GeoCompany – Tecnologia, Engenharia e Meio Ambiente MSc. Engª Izabel Gomes Bastos, gerente de projetos GeoCompany – Tecnologia, Engenharia e Meio Ambiente Engº Thomaz Henrique Leite de Jesus, gerente de geotecnia GeoCompany – Tecnologia, Engenharia e Meio Ambiente Engº Habib Georges Jarrouge Neto, gerente de projetos GeoCompany – Tecnologia, Engenharia e Meio Ambiente Prof. Dr. Roberto Kochen, presidente e diretor-técnico GeoCompany – Tecnologia, Engenharia e Meio Ambiente

RESUMO O artigo apresenta a descrição do projeto e a atuação do ATO (Acompanhamento Técnico de Obra) da empresa GeoCompany na escavação de um túnel sob a Rodovia Castelo

Figura 1 – Perfil longitudinal da escavação

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Fundações e Obras Geotécnicas

Branco, SP-280. O túnel foi escavado para a duplicação de um trecho da ferrovia pertencente à ALL – América Latina Logística. A obra apresentou características ímpares, sendo a mais relevante delas, a baixa cobertura. A

execução do túnel foi realizada com segurança, seguindo as mais modernas técnicas de escavação, suporte e contenção disponíveis para obras deste porte. A atuação do ATO permitiu a escavação em segurança, com ganho de tempo e economia. A obra foi executada no período de oito meses, destacando-se que neste período todas as escavações a fogo foram coordenadas com a concessionária da rodovia, para evitar riscos com o tráfego de veículos. Palavras-chave: Túnel Ferroviário; Túnel em Rocha; Túnel sob Rodovia; Túnel com Baixa Cobertura.

INTRODUÇÃO Este artigo apresenta os aspectos construtivos do túnel executado sob a Rodovia Castelo Branco, na região


Figura 2 – Perfil geológico-geotécnico

do km 79+500, com a finalidade de duplicar a ferrovia para a ALL – América Latina Logística. Trata-se de obra complexa e de elevada responsabilidade técnica, que foi a duplicação de um túnel ferroviário, pelo método NATM (New Austrian Tunneling Method), no trecho Boa Vista – Canguera (Botuxim – Dona Catarina). O túnel apresenta extensão total de 113 m, sendo 45m escavados sob as pistas da Rodovia Castelo Branco. Foi construído ao lado de um túnel similar já existente, o período de construção foi de oito meses. Por transpor a rodovia, a obra envolvia terceiros, como a CCR e a Polícia Militar Rodoviária, de modo que a escavação teve que ser realizada de forma controlada. Por exigência da CCR durante todas as etapas de escavação a fogo sob as pistas da rodovia houve a paralização do tráfego na rodovia, de modo a não haver riscos aos usuários por eventual queda de fragmentos de rocha. O perfil transversal do túnel (ver Figura 1) construído seguiu o do túnel existente no local, a escavação se iniciou com baixa cobertura, de 4m do Emboque Norte e de 3,6 m no Emboque Sul. Quando a escava-

ção do túnel passou sob a rodovia, a cobertura ainda era inferior a 1 diâmetro, caracterizando um túnel de baixa cobertura.

1 GEOLOGIA LOCAL O perfil geológico-geotécnico do local da implantação do túnel é constituído, segundo os resultados das sondagens executadas no local, por uma camada superficial de silte arenoso pouco argiloso com fragmentos de rocha (solo residual), com índices de penetração variando de 8 a 40 golpes. A seguir tem-se um granito fanerítico, leucocrático muito coerente, são fraturado a pouco fraturado. O túnel foi escavado nesta camada. Não foi detectado o nível d’água do lençol freático nos furos de sondagens. A Figura 2 apresenta o perfil geológico-geotécnico atravessado pelo túnel.

2 DADOS DO PROJETO EXECUTIVO O projeto executivo apresentou túnel com seção de escavação de 60,40 m² e diâmetro equivalente de 8,80 m. A espessura do revestimento de concreto projetado é de 26 cm, armado com cambota treliçada, com um cobrimento de armadura de 5 cm. O concreto projetado foi espe-

cificado com resistência característica à compressão de 25 MPa. A Figura 3 ilustra a seção transversal do túnel. O avanço da escavação ocorreu com duas frentes de ataque, denominadas por Emboque Norte e Emboque Sul, e foi realizado em calota e bancada. O passo de avanço previsto em projeto foi de 1,20 m com a instalação de cambotas a cada 0,80m. O projeto previu o desmonte da rocha através de plano de fogo cuidadoso, de modo a evitar-se danos à rodovia.

2.1 TRATAMENTO DO MACIÇO O tratamento previsto em projeto é composto por enfilagens formadas por tubos de aço SCH-80 de 2 1/2” de diâmetro, espaçadas de 40 cm, instalados em perfurações de 4” de diâmetro. A escavação do túnel foi realizada por duas frentes de ataque denominadas de Emboque Norte e Emboque Sul, sendo as enfilagens executadas em quatro lances, sendo dois lances sob cada pista e com comprimentos entre 15 m e 20 m. O cobrimento mínimo de solo acima da calota do túnel é 3,60 m e ocorre nos emboques, sendo que o cobrimento mínimo sob a Fundações e Obras Geotécnicas

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3 CONSTRUÇÃO DO TÚNEL 3.1 PRINCIPAIS DESAFIOS Dentre os principais riscos à execução da obra podemos listar: • Baixa cobertura local; • Seção geológica de escavação mista; • Ocorrência de rocha fraturada; • Taludes junto ao emboque de elevada altura, em material de baixa coesão e sem sistema de drenagem/estabilização adequados; • Tráfego contínuo de trens de carga no túnel paralelo à escavação; com possibilidade de vibração transmitida ao maciço de solo e rocha.

3.2 COBERTURA Figura 3 – Seção transversal do túnel

rodovia é menor que 1 diâmetro. Devido a baixa cobertura e da característica de não haver condição de interrupção de tráfego na rodovia é de fundamental importância que se garanta uma estabilidade total, tanto da abóbada como da frente de escavação, durante toda a construção do túnel. A fim de se garantir uma superfície de escavação da abóbada, sem que ocorra uma sobre-escavação (“over break”) que venha reduzir ainda mais a espessura de cobrimento, as enfilagens internas foram executadas a partir de nichos escavados na abóbada para permitir a acomodação da perfuratriz e a realização de perfurações praticamente coincidentes com a superfície de escavação a ser realizada. 30

Fundações e Obras Geotécnicas

O preenchimento das enfilagens foi realizado por meio de injeção de calda de cimento, por dentro dos tubos e até a surgência da mesma na boca, sempre sob pressões baixas e controladas para se evitar qualquer dano ao pavimento da rodovia.

2.2 INSTRUMENTAÇÃO A instrumentação externa ao túnel, prevista em projeto, era de quatro seções compostas por sete pinos de recalque instalados na superfície do terreno nas laterais das pistas da Rodovia Castelo Branco, para monitoramento dos recalques superficiais. O projeto previa os limites de 2 cm como limite de atenção e 3,6 cm como limite de alerta para o recalque superficial.

Túneis com baixa cobertura são aqueles escavados com cobertura de solo inferior ao seu diâmetro. Na escavação de túneis em NATM, o maciço ao redor da escavação contribui significadamente com a estabilidade, através da redistribuição das tensões geradas pela formação do arqueamento do maciço circundante à escavação. Para o túnel em questão, cuja cobertura inicial era da ordem de 4m, durante a construção o revestimento é mais solicitado nas primeiras horas, até que, com o processo de cura, o concreto atinja a resistência adequada para atender aos esforços solicitantes. Nesse tempo inicial, a cambota atua como capacidade de suporte imediata.

3.3 ESCAVAÇÃO A maior parte da escavação foi realizada ao longo de um maciço rochoso classe III segundo o método


Figura 4 – Detalhe da escavação em saprólito, na frente de escavação sul

de Bieniawski. Entretanto, cerca de 20% da parte superior da escavação avançou em saprólito, o que limitava a velocidade de avanço da escavação. Esta condição de ocorrência de saprólito, em algum grau, se estendeu pelos primeiros 20,4m de túnel, até a “subida” do topo rochoso, desde o Emboque Norte. Quanto ao Sul, esta ocorrência avançou até cerca de 44,20m desde este emboque. A Figura 4 apresenta uma imagem da escavação em saprólito. Como medida de segurança, o ATO recomendou a utilização de cambotas a cada 40cm nesse trecho inicial da escavação para a passagem sob a rodovia. Na região de escavação do emboque foi utilizado um abafamento, através da cobertura com 2 m a 3m de solo, para reduzir o risco de haver queda de blocos sobre a linha férrea. Após esse início em seção mista ou com presença de saprólito, o restante da escavação, com cerca de 48 m foi desenvolvida em maciço uniforme de granito fraturado, considerado classe III através da utilização da metodologia de Bieniawski.

Devido a melhor condição de estabilidade do maciço, este trecho final de escavação pôde ser escavado de modo mais dinâmico, com avanço médio de duas cambotas, com 80 cm de espaçamento, cada, de modo a possibilitar dobrar a produtividade média dos meses anteriores, para o Emboque Sul, por exemplo. Um dos maiores desafios durante a escavação do maciço, em termos de segurança de escavação, são as famílias de fraturas, suas direções e mergulhos em relação à frente de escavação. Devido ao maior grau de fraturamento, com preenchimento brando em alguns casos, havia risco de isolamento de capelas no teto e de blocos na frente de escavação. Estas ocorrências, que poderiam colocar em risco as regiões lindeiras, como a rodovia, foram controladas pelo ATO durante todo o processo de escavação, sendo tomadas medidas de segurança como a redução do passo de avanço da escavação, alterações nas cambotas e nos tratamentos de projeto. Tendo em vista os riscos associados à escavação com detonação, foi recomendada a ainda a existência de contingenciamento de materiais para a execução de chumbadores eventuais com resina de pega rápida. Tais chumbadores seriam utilizados no caso de identificação de região de risco de isolamento de blocos. A seção de projeto do túnel é uma estrutura circular/ovalada, o projeto foi desenvolvido com base nesta modelagem. Quando ocorriam overbreaks ou sobre-escavação de modo a desconfigurar a seção de projeto, o ATO exigia o reforço de imediato,

realizando uma análise técnica do grau de risco de uma condição diferente da condição de projeto. Para tal análise eram levados em conta os fatores geológicos e geotécnicos locais e regionais, bem como as condições atuais do maciço e seu histórico de comportamento. Para tanto, foram necessários dados de campo e demais dados de apoio, como instrumentação, esforços solicitantes, sondagens etc.

3.4 TALUDES Junto ao local do emboque existem taludes, do lado direito do emboque, o talude estava protegido com camada de concreto projetado e do lado esquerdo o talude estava descoberto, como pode ser observado na Figura 5. Ao longo das obras de escavação da região dos emboques o ATO identificou regiões de instabilidade nos taludes, principalmente no Emboque Norte, governadas pelo fraturamento desfavorável e seção mista de solo/ saprólito e maciço rochoso fraturado, graduado de brando a pouco decomposto e são.

Figura 5 – Taludes no Emboque Norte, no início das escavações

Fundações e Obras Geotécnicas

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Artigo

Ao longo da evolução da obra, o ATO advertiu sobre o risco dos taludes arenosos expostos em processo de erosão. Já nos meses finais da obra, constatou-se uma cunha de ruptura ativa e trincas na berma de equilíbrio deste talude. Como medida de contenção e estabilização deste trecho adicional foi realizada a ampliação da solução do projeto original de estabilização do talude, sendo executado um sistema de contenção em solo grampeado capaz de eliminar os riscos observados na obra. A Figura 6 apresenta uma vista da contenção em solo grampeado na fase final de execução.

mento do maciço e aumentando os esforços no revestimento do túnel, o que levou à necessidade de cambotas mais pesadas neste trecho. Foi verificada a possibilidade de modificação do projeto do rebaixo e arco invertido. De modo que, o projeto inicial do rebaixo do túnel e arco invertido, conforme apresentado anteriormente na Figura 3, foi modificado, pela projetista, para um sistema de escavação instalando pés tipo treliça metálica verticais para o rebaixo e a execução ou não do arco invertido, em função da ocorrência de embutimento em rocha. Esta orientação foi projetada para quando a escavação fosse embutida em rocha, onde foram executados pés verticais das cambotas, solidarizados adicionalmente por 2 linhas de chumbadores, além de uma linha de chumbadores preliminar à escavação do rebaixo. Posteriormente, foi

aplicada uma tela metálica e executado o concreto projetado conforme o projeto. Esta solução de melhoramento de projeto, em função do cenário geológico-geotécnico observado ao longo da escavação da calota do túnel, viabilizou um ganho significativo de tempo e economia, uma vez que reduziu a escavação em rocha para o arco invertido ao longo do túnel, com consequente consumo de concreto projetado e tela metálica. A Figura 7 apresenta a seção final aprovada pela projetista para a escavação embutida em rocha. O ponto de encontro das frentes foi definido em função da região de melhor capacidade de suporte do maciço, e de menor risco à rodovia. Esta região foi o canteiro central da rodovia, a Figura 8 apresenta uma imagem do encontro das frentes de escavação.

Figura 6 – Evolução do solo grampeado, na fase final de execução

3.5 MÉTODO CONSTRUTIVO A Geocompany verificou o projeto e recomendou a utilização de cambotas mais robustas para as 17 primeiras cambotas do túnel, emboque sentido interior da rodovia, para aumentar a segurança do empreendimento. Isto porque neste trecho a cobertura de rocha é baixa e assimétrica, reduzindo o arquea32

Fundações e Obras Geotécnicas

Figura 7 – Seção de escavação para trecho em rocha


Figura 8 – Frente de encontro da escavação

Neste local, a escavação pelo Emboque Sul já apresentava seção plena em um maciço rochoso classe III, de maior capacidade de suporte. Essa região era também a de maior cobrimento da escavação. O procedimento do encontro das frentes foi monitorado pelo ATO, tendo sido realizado com sucesso.

3.6 TRATAMENTO DO MACIÇO Durante a execução das enfilagens o ATO recomendou a permanência de um profissional na parte superior do talude, de modo a monitorar, durante a injeção, os taludes e a rodovia, para o caso de haver alguma anomalia durante a injeção, que não foi o caso da obra em questão. O projeto original de enfilagens previa quatro lances de enfilagens com comprimento de 15m a 20m, executadas a partir de nichos executados no teto da escavação. Tal projeto foi revisado, de modo a instalar enfilagens

ao longo de todo o comprimento do túnel, para maior segurança. A execução de enfilagens mais curtas, reduziu o efeito de abatimento potencial ao longo de seu comprimento, viabilizando sua instalação sem a necessidade de execução de nichos, que teriam cerca de 5 m de comprimento ao longo de uma seção do túnel, o que oneraria a obra, além de reduzir sua velocidade devido a necessidade de execução dos nichos e da maior área de execução de concreto projetado e de tela metálica em trecho de maior altura, incrementando potencialmente também seu risco. As enfilagens têm a função de melhorar o confinamento da região acima da escavação, reduzindo os riscos de queda de blocos de rocha e desplacamentos de maior monta de solo no teto do túnel, durante o processo de escavação.

3.7 RESULTADOS DA INSTRUMENTAÇÃO

Em análise das seções de instrumentação apresentadas, por meio de marcos superficiais, observou-se que os valores apresentam variações de pico totais de cerca de 12 mm. A Figura 9 apresenta um detalhe da instalação dos marcos superficiais. De modo geral, não se observou tendência ou anomalia, que pudessem evidenciar risco acima do normal ao empreendimento. Esta verificação foi ainda analisada por meio de comparação ao valor de 36mm de limite de alerta, recomendado pela projetista. Constatou-se também, por meio de inspeções visuais ao longo do túnel e zonas lindeiras, que a obra foi realizada sem danos visuais ao entorno, bem como ao túnel. Foram instaladas ao todo, 20 seções de convergência ao longo do túnel, durante a escavação da calota, que foram perdidas durante a execução do revestimento secundário. Posteriormente, durante a escavação do rebaixo, foram instaladas dez seções adicionais de convergência.

Figura 9 – Detalhe da instalação dos marcos superficiais

Fundações e Obras Geotécnicas

33


Artigo

Analisando as seções de convergência instaladas durante a execução da calota, foram verificados valores de deslocamento médios de 3 mm a 6 mm, com picos de 8mm, durante todo o período de escavação do túnel. Analisando ainda estes dados em conjunto com as inspeções tátil visual diárias realizadas pelo ATO, verificouse que não houve qualquer sinal de anomalia física no túnel até a sua entrega final. A Figura 10 apresenta uma vista geral do Emboque Norte, após a conclusão das obras do túnel e do solo grampeado, sendo possível observar

Figura 10 – Vista geral do Emboque Norte, após a conclusão das obras

as obras de instalação de sistema de drenagem e trilhos.

CONCLUSÕES A execução do túnel sob a Rodovia Castelo Branco foi realizada com segurança, seguindo as mais modernas técnicas de escavação, suporte e contenção disponíveis para obras deste porte. A atuação da GeoCompany viabilizou dinâmicas alterações de projeto, reduzindo o prazo da obra, mantendo seus níveis de segurança e diminuindo prazos de execução. A obra foi realizada ao longo de cerca de oito meses, não havendo nenhum incidente relevante. Quanto ao monitoramento realizado pelo ATO durante toda a obra de escavação do túnel, tanto no interior deste como nas zonas lindeiras, não se observou nenhuma anomalia que interviesse na integridade do túnel até o momento de sua entrega. Tal observação é confirmada pela análise das instrumentações por meio de marcos superficiais e das seções de convergência implantadas no interior do túnel, que não apresentaram sinais de instabilida-

de ao longo do tempo, além dos limites da tolerância dos aparelhos de leitura e/ou parâmetros de atenção e alerta apresentados pela projetista. A GeoCompany participou ativamente durante todo o período de obra, tomando todas as atitudes técnicas necessárias frente aos desafios surgidos ao longo do processo de escavação e tratamento do túnel, de modo a não ter sido observado nenhuma ocorrência anômala que desabone o desempenho do empreendimento, ou a sua segurança.

ENTIDADES PARTICIPANTES DO EMPREENDIMENTO • Proprietária: ALL – América Latina Logística atual RUMO Logística • Projeto: A. H. Teixeira Consultoria e Projetos S/S Ltda. • Construção: VAD Engenharia e Empreendimentos Ltda. • CQP (Controle de Qualidade do Projeto) e ATO (Acompanhamento Técnico de Obra): GeoCompany Tecnologia, Engenharia e Meio Ambiente Ltda.

REFERÊNCIAS RE-2906/14 – Memória de Cálculo Túnel NATM – A.H. Teixeira Consultoria e Projetos S/S Ltda. São Paulo, 13 de fevereiro de 2014. Relatório Técnico – Controle de Instrumentações – VAD Engenharia e Empreendimentos Ltda., 21 de junho de 2014. ALL.1301.ATO.RFO.001.0 – Relatório Final de Obra – Túnel Sob Rodovia Castelo Branco – Região km 70+500 – ATO Acompanhamento Técnico de Obra – GeoCompany Tecnologia Engenharia e Meio Ambiente Ltda., 08 de julho de 2014.

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Fundações e Obras Geotécnicas



Em foco

O QUE SÃO ATERROS SANITÁRIOS?

A

Aterro sanitário é uma forma de destinação de resíduos que, fundamentada em critérios de engenharia e normas operacionais específicas, garante um confinamento seguro em termos de poluição ambiental e proteção à saúde pública. Os aterros podem ser denominados sanitários quando projetados e implantados especialmente para a destinação de resíduos sólidos urbanos. Apresentam-se como a forma de destinação de resíduos mais barata e de tecnologia mais conhecida. Entretanto, deve-se sempre ter em mente que estes aterros não servem para a destinação de todos os tipos de resíduos sólidos gerados no município e regiões próximas, uma vez que os resíduos sólidos de serviços de saúde, assim como resíduos industriais Classe I (perigosos), por exemplo, devem ser pré-tratados e/ou condicionados de forma diferenciada (incineração, inertização, encapsulamento, entre outras técnicas). Aterro sanitário, segundo a norma ABNT NBR 8.419/92 é “Técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos a menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário”. O projeto elaborado para a implantação de um aterro sanitário deve contemplar todas as instalações fundamentais ao bom funcionamento e ao necessário controle sanitário e ambiental durante o período de operação e encerramento do aterro. Para a implantação de aterros sanitários de resíduos não perigosos devem ser observados todos os itens preconizados na norma ABNT NBR 13.896/97 – Aterro

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Fundações e Obras Geotécnicas

de Resíduos Não Perigosos – Critérios para Projeto, Implantação e Operação. A Figura 1 apresenta uma seção típica de aterro sanitário.

Figura 1 – Seção típica de um aterro sanitário (ABLP, 2015)

A técnica de destinação e de controle ambiental em aterros sanitários tem se desenvolvido principalmente na última década e efetivada, fundamentalmente, nas maiores cidades, onde a considerável demanda de resíduos amortiza por si só os custos inerentes. A evolução tecnológica dos aterros tem procurado reduzir significativamente os riscos de danos ambientais, podendo-se afirmar atualmente que os aterros tecnicamente bem implantados e operados, não constituem em um equipamento de risco ao meio ambiente, mas sim em um equipamento urbano imprescindível a fim de evitar e mitigar disposições inadequadas e, sobretudo, clandestinas dos resíduos. Ressalta-se ainda que todo aterro sanitário, antes de ser implementado, deve obter as licenças exigidas pelos órgãos ambientais, municipais, estaduais ou federal.


ATIVIDADES DE ENGENHARIA EM PROJETO DE ATERROS SANITÁRIOS

no entorno; e reduzir outros tipos de impactos sociais e econômicos (Boscov, 2008). Zanon (2016) apresenta ainda os principais fatores e critérios a serem considerados na seleção de áreas para a implantação de aterros sanitários, baseados em critérios ambientais, econômicos, legais, sociais e técnicos estabelecidos em normas e legislações, na literatura técnica e práticas empregadas no meio técnico.

O projeto de um aterro sanitário deve considerar basicamente a especificação técnica bem como o planejamento de execução das seguintes atividades: • Limpeza e Escavação do Terreno; • Aterro de Regularização e Impermeabilização de Base.

Foto 1 – Execução de serviços de terraplenagem

Foto 2 – Execução de serviços de terraplenagem

Foto 3 – Instalação do sistema de impermeabilização

Fotos: (Fral Consultoria Ltda.)

Com relação à seleção de área, os principais objetivos da escolha de um local para destinação de resíduos são: garantir a segurança estrutural e ambiental do depósito em longo prazo; impedir a contaminação do ar, águas superficiais, águas subterrâneas, subsolo, fauna e flora locais; reduzir custos de transporte de resíduos a partir dos pontos de coleta, de desapropriação de terrenos e de desvalorização de propriedades

Foto 4 – Instalação do sistema de impermeabilização

Foto 6 – Execução de solda em geomembrana de PEAD

Foto 5 – Execução de solda em geomembrana de PEAD (Polietileno de Alta Densidade)

Foto 7 – Execução de teste em solda de geomembrana de PEAD

Fundações e Obras Geotécnicas

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Em foco

• Sistema de Drenagem de Gases e Líquidos Percolados

Foto 8 – Execução do sistema de drenagem de base

• Sistema de Drenagem Superficial

Foto 11 – Aterro sanitário em operação

Foto 9 – Execução do sistema de drenagem superficial (descida d’água em geocélula)

Foto 10 – Execução do sistema de drenagem superficial (instalação de canaletas de berma e cobertura vegetal)

• Plano de Monitoramento Geotécnico e Ambiental; • Plano de Operação e Manutenção; 38

Fundações e Obras Geotécnicas

•P lano de Emergência. Ressalta-se que todos os estudos e projetos devem ser realizados tendo em vista a garantia do atendimento às normas e regulamentações ambientais vigentes e, também a garantia dos critérios de estabilidade e desempenho dos maciços de resíduos. Ainda de acordo com a norma ABNT NBR 13.896/97, por ocasião do encerramento das atividades de operação do aterro sanitário, devem ser elaborados o plano de encerramento, no qual devem ser descritas todas as medidas de forma a: • Reduzir a necessidade de manutenção futura. • Reduzir ou evitar liberação de líquidos lixiviados e/ou gases para as águas subterrâneas, para

os corpos d’água superficiais ou para a atmosfera.

PROBLEMÁTICAS E DESAFIOS ACERCA DO TEMA: ATERROS SANITÁRIOS E A GESTÃO DOS RESÍDUOS Nos últimos 30 anos relevantes marcos regulatórios foram implementados no Brasil, tais como: Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981); Lei Federal dos Consórcios Públicos (Lei nº 11.107/2005); Lei Federal de Saneamento Básico (Lei nº 11.445/2007) e a PNRS (Nova Política Nacional de Resíduos Sólidos) – Lei nº 12.305/2010. Dados do Panorama dos Resíduos


Sólidos no Brasil de 2016, da ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), indicam que a coleta de RSU (Resíduos Sólidos Urbanos) tem uma abrangência bastante relevante e pode ser considerada um serviço universalizado, pois atinge mais de 90% de cobertura. Em dados gerais, em 2016 foram geradas 78,3 milhões de toneladas de Resíduos Sólidos Urbanos, das quais 71,3 milhões de toneladas foram coletadas. Ao analisarmos esses números, verifica-se que a geração e a coleta de RSU no Brasil estão em níveis similares aos das nações classificadas como de renda média-alta (PIB – Produto Interno Bruto, per capita em torno de 10 mil dólares por ano). Enquanto nos países de renda média-alta a coleta atinge mais de 90% do que é gerado e a geração de Resíduos Sólidos Urbanos) fica em torno de 1,00 a 1,10 kg/pessoa/ dia, a destinação adequada também atinge patamares próximos da totalidade (média de 96% do total). É justamente nesse último ponto que o Brasil ainda está bastante atrasado, pois encaminha cerca de 30 milhões de toneladas/ano (41,6% do total coletado) para locais inadequados (lixões e aterros controlados), equiparando-se aos países com renda bem inferior a nossa (PIB per capita inferior a 1 mil de dólares por ano). O desafio apresentado ainda é bastante considerável, uma vez que, apesar das determinações da PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), Lei Federal 12.305/2010

e de outras leis ambientais, mais de 3.300 municípios ainda fazem uso de unidades irregulares para destinação dos resíduos coletados (Panorama ABRELPE, 2015). O custo da inação na gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos impacta diretamente na saúde pública e no meio ambiente. No mundo, os gastos com a manutenção dos lixões existentes, tratamentos de saúde e degradação ambiental, ocasionados pela falta de coleta e pela destinação e disposição inadequadas, excedem de cinco a dez vezes o valor necessário para resolver o problema de gestão dos resíduos. No Brasil, esta equação é de mais ou menos o dobro do valor. De acordo com estimativas da ABRELPE, seriam necessários investimentos de mais ou menos 7 bilhões de reais até 2023 para universalizar a destinação adequada dos resíduos sólidos no País, montante que representa a metade dos 14 bilhões de reais que o governo precisará desembolsar para remediar os problemas decorrentes da má gestão dos RSU. A conta é bastante simples: fica muito mais barato e eficiente investir em infraestrutura para solucionar o problema do que desperdiçar quase o dobro de recursos com tratamentos de saúde e remediações ambientais por conta, especialmente, da permanência dos lixões, que, apesar de proibidos há mais de três décadas, ainda são uma realidade em todas as regiões do país. Outro fator relevante a ser melhor avaliado é que na maioria dos países desenvolvidos o saneamento, incluindo a gestão dos Resíduos

Sólidos Urbanos, está gerido pela área de saúde compartilhando, assim políticas, estratégias e gestão econômico-financeira nos três níveis de administração: federal, estadual e municipal, como inclusive preconiza a nossa PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei Federal nº 12.305/2010), mas que de fato fica isolada na gestão municipal com pouquíssimas ações conjuntas dos demais níveis. Os instrumentos de política para apoiar a gestão dos resíduos também só terão êxito se os resíduos forem identificados como uma prioridade pelo governo e pelo setor privado, o que até o presente momento não tem sido feito pela maioria dos países da América Latina e do mundo. Em agosto de 2017, a PNRS, Lei Federal nº 12.305/2010 completou sete anos de vigência, porém ainda está longe de sair do papel, por basicamente três motivos principais: 1. Falta de capacidade técnica e pessoal dedicado para implementar um sistema de gestão integrada de resíduos nos municípios; 2. Ausência de recursos financeiros e de instrumentos econômicos legais suficientes para custear os processos e sistemas de gestão determinados pela lei; 3. Omissão do setor produtivo, que não tem assumido as responsabilidades legais para a implantação dos sistemas de logística reversa. A efetiva participação do poder público em todas as instâncias, em parceria com os segmentos sociais é imprescindível para a indução e apoio de políticas diferenciadas que atenFundações e Obras Geotécnicas

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Em foco

dam às premissas da política nacional, alinhando as variáveis de cada localidade, para garantir a abrangência da coleta seletiva, a redução dos custos, a mudança de comportamento dos

consumidores e do setor produtivo e a elevação do resíduo ao status de bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania em todos os níveis sociais.

REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS – ABRELPE (2015). Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. São Paulo/SP. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LIMPEZA PÚBLICA – ABLP (2015). Curso: Aterros Sanitários – Licenças, Projetos e Operação. São Paulo/SP. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13.896: Aterros de Resíduos Não Perigosos. Critérios para Projeto, Implantação e Operação Rio de Janeiro: ABNT, 1997. ______.NBR 8.419 – Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. BOSCOV GIMENEZ, M. E. (2008). Geotecnia Ambiental. São Paulo. Oficina de Textos. ZANON, T. V. B. (2016). Fatores e Critérios a serem observados na seleção de áreas para aterros sanitários. Revista Limpeza Pública.

FRANCISCO JOSÉ PEREIRA DE OLIVEIRA é engenheiro civil graduado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1977). Atualmente, é engenheiro consultor para projetos sanitários e ambientais, principalmente na área de aterros sanitários e tratamento de áreas contaminadas e limpeza urbana. Como diretor-técnico da FRAL CONSULTORIA LTDA., desenvolve vários trabalhos por todo o país, como projetos de sistema de limpeza urbana, planos de gestão de resíduos, tratamento e destinação de resíduos, monitoramento geotécnico e ambiental de aterros sanitários. Executou Due Diligence para Novo Gramacho no Aterro Metropolitano de Gramacho/RJ, para a Serquip no Aterro de Resíduos Industriais de Rio Negrinhos (SC) e Aterro Sanitário de Cachoeira Paulista (SP), encerramento e monitoramento de aterro de resíduos perigosos (SOLVAY INDUPA) e estudos geotécnicos para exploração de biogás: Aterro São João (SP) e Aterro Metropolitano de Gramacho (RJ).

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Fundações e Obras Geotécnicas

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

> THELMA SUMIE MAGGI MARISA KAMIJI é engenheira civil graduada pela Escola de Engenharia de São Carlos (2003) e mestre em Geotecnia (2006) pela mesma escola. Desde 2012 é engenheira consultora para projetos geotécnicos e ambientais, em especial na área de aterros sanitários, recuperação de áreas contaminadas e gestão de limpeza urbana na FRAL CONSULTORIA LTDA. Atualmente, desenvolve projetos para tratamento e destinação adequada de resíduos e disposição final de rejeitos, além do monitoramento geotécnico e ambiental de aterros sanitários.


Participação na matéria Manifestações de interesse em participar com conteúdo, entrevistas ou fotos devem ser enviadas para glessia@revistafundacoes.com.br (Os interessados em participar nas matérias de cada edição receberão posteriormente por e-mail as orientações da redação da revista)

Pautas

2018

Junho edição 92

Edifícios

Participação com anúncio especial na edição Manifestações de interesse em participar com anúncio especial na edição devem ser enviadas para publicidade@revistafundacoes.com.br Revista Fundações & Obras Geotécnicas Tels: (11) 4116-5867 / (11) 95996-6391* *Atendimento das 10h às 18h

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Calendário Anual da revista Fundações & Obras Geotécnicas

Edição 93 Ferrovias Julho Edição 94 Portos Agosto Edição de aniversário Setembro Edição 95 Hidrovias Edição 96 Túnel Outubro Geologia de Novembro Edição 97 Engenharia Dezembro Edição 98 Aeroportos


Geotecnia Ambiental

SISTEMA VETIVER COMO SOLUÇÃO DE CONTROLE EROSIVO E MELHORIAS NA ESTABILIDADE DE TALUDES

A

A utilização de técnicas de bioengenharia, que combinam elementos vegetais com materiais inertes, está ganhando cada vez mais destaque na elaboração de projetos geotécnicos de estabilização de taludes e controle de erosões. A utilização da vegetação como elemento fundamental dos projetos possui diversas vantagens, principalmente em relação aos custos da obra e na facilidade de execução. Entretanto, o conhecimento dos processos de interação entre a planta e o solo é de suma importância para que seja realizada a seleção das espécies vegetais mais apropriadas a cada caso, bem como no correto dimensionamento da quantidade de plantas, geometria de plantio e na combinação com técnicas tradicionais de engenharia, como muros de gabiões ou mesmo telas metálicas e chumbadores. Um dos precursores da bioengenharia no Brasil e autor do livro Como Selecionar Plantas Para Áreas Degradadas e Controle de Erosão, editora FAPI (2008), e diretor-executivo da Deflor Bioengenharia, Aloísio Rodrigues,ressalta que a importância do conhecimento que o engenheiro deve possuir ao escolher determinada espécie de vegetação para um projeto. Por ser um elemento vivo está sujeita aos fatores naturais, o que lhe confere a característica de estar em constante mudança. O clima, o solo, a umidade e os objetivos que se pretendem alcançar com o projeto devem ser bem definidos, de modo que a escolha da espécie vegetal seja criteriosa promovendo assim os melhores resultados na sua aplicação. Um dos grandes desafios de geotécnicos que optam pelo uso da bioengenharia é mensurar a

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Fundações e Obras Geotécnicas

real contribuição da vegetação na estabilidade de taludes de solo. Apesar de ser consenso que a ausência desta expõe o solo às intempéries tornando-o mais suscetível aos processos erosivos, como a erosão por impacto das gotas de chuva e o escoamento superficial. Os efeitos da vegetação nos projetos geotécnicos podem ser divididos basicamente em duas partes: i. A parte aérea, como folhas e caules, que são essenciais para o combate à erosão, principalmente por funcionarem como barreiras hidráulicas, reduzindo a velocidade do fluxo superficial, e “filtrando” sólidos em suspensão, diminuindo muitas vezes de forma significativa a perda de solo por carreamento. ii. O sistema de raízes compõe a parte enterrada da planta, e a sua contribuição ocorre essencialmente nos ganhos de resistência do solo, devido às interações entre solo e raiz. Os ganhos de resistência são associados ao aumento da chamada coesão aparente, contribuindo assim para melhoria da estabilização do solo.

O USO DO VETIVER NA BIOENGENHARIA O vetiver, “Chrysopogonzizanioides (L.) Roberty”, uma planta de origem asiática, do grupo das gramíneas, destaca-se dentre as espécies vegetais mais utilizadas no mundo para projetos de bioengenharia de taludes, principalmente quando aplicado ao


controle de processos erosivos e de estabilização de taludes de solo. Suas características únicas lhe conferem a capacidade de ser adaptável a diversos ambientes, suportando variações de

temperaturas extremas, desde -50º até 40º graus célsius, índices pluviométricos extremamente baixos como em países como Kuwait, até grandes períodos chuvosos como as

Figura 01 – Talude de aterro protegido com fileiras de Vetiver espaçadas de 1 metro em rodovia no Vietnã Fonte: Vane Truong 2015

monções do sul da Ásia, onde em países como o Vietnã é amplamente aplicada em taludes rodoviários tabela 01 e figura 01. De acordo com Aloísio Rodrigues (2008), o uso do Vetiver como planta para a estabilização de solos iniciou-se na Ásia, principalmente na Índia, há aproximadamente três mil anos. Suas primeiras aplicações em geotecnia eram em taludes cultivados que apresentavam perdas de solo por erosão e as barreiras de Vetiver auxiliavam na redução de perda de solo. Além de sua aplicação como barreira de proteção para o solo o Vetiver também é utilizado na biorremediação de água e solo, como fixador de nutrientes, aromatizantes, perfumes finos e planta medicinal.

Tabela 01 Vantagens

Características

Eficiência em projetos

Forma uma cobertura densa, protege o solo contra a erosão pelo impacto das gotas de chuva

Contribui para melhoria da estabilidade do talude

O sistema de raízes fibroso do Vetiver forma um emaranhado que se adere ao solo contribuindo para o aumento da coesão aparente

Custos de projeto

A manutenção do Vetiver exige poucos investimentos

Ambientalmente amigável

O Vetiver não produz rizomas ou estolões, sendo estéril, não se torna uma espécie invasora

Resistência da planta

A coroa do Vetiver permanece abaixo da superfície do solo, o que proporciona proteção contra incêndios e congelamento

Ambientalmente amigável

Possui resistência a muitas doenças

Eficiência em projetos

Por ser uma planta xerófita, suporta climas áridos e até mesmo regiões salinas

Eficiência em projetos

Por ser também uma planta hidrófita, suporta longos períodos embaixo d’água ou mesmo permanentemente com parte da planta submersa

Ambientalmente amigável

A planta funciona como fixador de nitrogênio sendo utilizada para recuperação de áreas degradadas auxiliando outras plantas a se desenvolverem

Custos de projeto

Sua facilidade de propagação e baixa manutenção permite ser utilizada em projetos de engenharia, contribuindo para a redução de custo

Eficiência em projetos

O Vetiver cresce em praticamente todos os tipos de solos, independentemente da fertilidade, pH ou salinidade, o que inclui solos arenosos, xistosos, cascalhosos e até mesmo solos com toxidade em alumínio

Eficiência em projetos

Suporta climas variados em um range de temperatura que varia de -9º C até 45º C, além de variações de precipitação que podem ir de 200 mm anuais até 6.000 mm como no caso de taludes no Vietnã

Fundações e Obras Geotécnicas

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Geotecnia Ambiental

O pioneirismo no desenvolvimento do Vetiver como ferramenta de proteção de taludes se deu com John Greenfield, da Nova Zelândia, e o norte-americano Richard Grimshaw, cujo apoio do Banco Mundial foi primordial para o desenvolvimento da tecnologia em outros países. Nesse aspecto, o australiano Paul Truong trouxe muitas contribuições importantes, estudando as características dessa planta na criação de barreiras vivas e outros usos na conservação dos solos (Figura 02).

Figura 02 –Raízes de Vetiver podem crescer até 3 metros de profundidade a depender dos tipos de solo Fonte: Truong, Van e Pinners 2008

VETIVER E A INTERAÇÃO SOLO-RAIZ A capacidade do Vetiver em contribuir para a estabilidade de taludes de solo está relacionada ao desenvolvimento do seu sistema de raízes, que se destaca como a principal vantagem da planta em projetos de bioengenharia. De acordo com Teerawattanasuket al. (2014), os efeitos do reforço das raízes no solo dependem das características morfológicas do sistema de raízes, da tensão de resistência das raízes e da distribuição espacial das plantas no solo. As raízes do Vetiver se desenvolvem de forma vertical, provendo a ancoragem da planta no solo, enquanto que o desenvolvimento lateral promove a estabilização do solo ao redor da planta. As raízes mais finas são como pregagens nos taludes, reforçando o solo no mesmo sentido que o concreto é firmado com barras de aço. Essa característica da contribuição das raízes no reforço do solo resulta no aumento da coesão do solo, que pode ser tida como uma coesão aparente 44

Fundações e Obras Geotécnicas

Figura 03 – Forças atuantes na ruptura do solo com sistema de raízes no plano de ruptura Fonte: Teixeira 2017 (Modificado de Holsworth, 2014)

adicional. Como as raízes agem no reforço ao cisalhamento durante um processo de ruptura em um talude, este reforço será maior no caso das raízes interceptarem a superfície de ruptura provendo uma maior contribuição para a estabilidade do talude (Figura 03). Entretanto apesar dos bons resultados que o vetiver vem apresentando nas obras civis, principalmente na estabilização de taludes e na redução de processos erosivos em encostas, sejam elas naturais ou artificiais é

preciso quantificar os ganhos que a sua aplicação pode trazer e como o fator de segurança se comporta contribuindo na efetiva redução de processos de movimentação de solos. No Brasil pesquisas recentes, tais como as de Teixeira (2017) e Barbosa (2012), desenvolvidas em trabalhos de mestrado e doutorado no NUGEO (Núcleo de Geotecnia Aplicada) da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), demonstraram que o sistema solo-raiz do Vetiver possui relação com o reforço da resistência do solo


ao cisalhamento. De acordo com os autores, os resultados das pesquisas comprovaram a capacidade da planta em contribuir na prevenção de escorregamentos rasos em taludes de solo. Os estudos consistiram na realização de ensaios de cisalhamento direto in situ em amostras de solo com a presença de raízes de Vetiver e em solos sem raízes de modo a comparar a diferença nos parâmetros geotécnicos do solo como coesão (c) e ângulo de atrito (ф).Apesar de muitos autores afirmarem que as raízes do Vetiver podem alcançar até 3 metros de profundidade, a depender do tipo de solo e condições de umidade, a contribuição efetiva para a maioria dos problemas de escorregamentos rasos ocorre entre 1m e 1,5 m de profundidade. Teixeira (2017) explica que o trabalho consistiu em uma etapa de campo, onde foram identificadas plantas com idade adulta, aproximadamente cinco anos, localizadas em taludes que tenham sido plantadas de forma controlada a partir de projetos de estabilização. Após a escolha da planta

Figura 04 – Mecanismo de estabilização de taludes contra escorregamentos rasos pelas raízes de vetiver Fonte: Teixeira 2017, (Adaptado de Hengchaovanich e Freudenberger, 2003)

Figuras 05 – (a) Abertura da trincheira para a coleta das amostras indeformadas e corte da folhagem; (b) Moldagem da amostra com instrumentos apropriados evitando-se danos à estrutura do solo Fonte: Autor

Figura 06 – Sequência de coleta de amostras indeformadas com raízes de Vetiver na idade de cinco anos: (a) Abertura da trincheira; (b) Molde do corpo de amostras abaixo da planta de Vetiver; (c) Proteção com talagarça e (d) Acondicionamento na caixa de madeira

Fundações e Obras Geotécnicas

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Geotecnia Ambiental

procedeu-se a escavação do entorno da base do Vetiver, preservando-se ao máximo o sistema de raízes e a base. O solo foi moldado em dimensão de 30 cm x 30 cm formando uma base quadrada abaixo da coroa do Vetiver com comprimento de 1,20 m, profundidade total do sistema de raízes identificado na amostragem (Figuras 05 e 06). Os ensaios de cisalhamento direto foram realizados em cinco amostras

indeformadas diferentes, sendo uma delas sem a presença de raiz de Vetiver e outras quatro com a presença de raiz, variando-se a profundidade em que cada uma delas foi coletada. De cada uma das amostras foram retirados quatro corpos prova para ensaios de cisalhamento direto com diferentes tensões normais aplicadas de 25 a 200 KPa, ou seja, no total 20 ensaios tiveram seus resultados compilados para análise (Figura 08).

Figura 07 – Preparação do corpo de prova para o ensaio de cisalhamento direto com a presença de raízes

Pelo critério de ruptura de MohrCoulomb foi determinado o valor da resistência ao cisalhamento do solo sem raiz e do solo com a presença das raízes para cada uma das profundidades. O objetivo era obter um parâmetro de incremento da coesão do solo devido a presença das raízes e sua variação com a profundidade no solo. De acordo com Teixeira (2017), os resultados evidenciaram um aumento da coesão aparente em profundidades mais próximas a base da planta, devido ao aumento da densidade de raízes. O pesquisador diz que essa variação na coesão do solo refletiu diretamente na resistência ao cisalhamento, ou seja, o que se observa é um comportamento diferente para cada profundidade em que a raiz do Vetiver atua. Esse fato deve ser considerado pelos projetistas que recomendam o uso da bioengenharia, uma vez que não se terá os efeitos esperados simultaneamente ao longo do sistema de raízes, a planta irá desempenhar a sua contribuição a medida que se desenvolve. A tabela 02 abaixo evidencia os resultados dos ensaios de cisalhamento direto, com os valores de tensão de pico para cada uma das amostras. A medida que as análises alcançaram profundidades próximas do limite de

Tabela 02 Tensão normal aplicada

Amostra sem raiz

σ (KPa)

46

(KPa)

T

Amostra com raiz (Prof. 0,0 a 0,30 m) T

(KPa)

Amostra com raiz Prof. (0,30 a 0,60 m) (KPa)

T

Amostra com raiz (Prof. 0,60 a 0,90 m) (KPa)

T

Amostra com raiz (Prof. 0,90 a 1,20 m) (KPa)

T

25

33,31

71,75

74,31

54,18

32,58

50

55,91

120,25

100,33

86,55

58,68

100

100,32

146,51

124,27

126,38

100,72

200

189,62

225,02

204,53

198,07

174,65

Fundações e Obras Geotécnicas


atuação das raízes os valores de resistência de pico ao cisalhamento se igualam com as amostras de solo sem raiz. A versatilidade do Vetiver permite que a planta se adapte a diversos tipos de ambientes, e que sua aplicação quando combinada com outros mate-

Figura 08 – Antes

Figura 09 – Depois

riais como biomantasanti-erosivas têm seu desenvolvimento potencializado. Há ainda a possibilidade de se combinar o uso do Vetiver com materiais tradicionais da geotecnia de taludes como as telas metálicas de dupla torção e até mesmo tirantes, formando

as chamadas “cortinas verdes”. Um dos casos de aplicação do sistema Vetiver ocorreu na contenção de processos erosivos em um talude de praia. A erosão costeira avançava progressivamente em direção aos condomínios, podendo causar sérios danos a suas estruturas, reduzindo a área real dos imóveis além de comprometer o turismo local. Solução com capim Vetiver aliou a resistência à salinidade com o padrão estético desejado. A capacidade de enraizamento da planta criou uma barreira natural contra a força das marés e as folhas contribuíram reduzir o transporte de sedimentos pelo vento. Como resultado preservou-se os solos orgânicos nas áreas dos condomínios e a manutenção pouco onerosa para os moradores se limita a realização de podas que realçam o efeito estético da planta. Muitos projetos de recuperação de áreas degradadas, principalmente em taludes utilizam a bioengenharia como solução. Em um desses casos utilizou-se a combinação de barreiras retentoras, conhecidas como “bermalongas” e biomantasanti-erosivas para auxiliar na redução de transporte de sedimentos e fixar o solo até o desenvolvimento da planta. O vetiver foi aplicadoem linhas paralelas que seguindo as curvas de nível, transversal ao fluxo de água. A aplicação de biomantas garantiu o sucesso da implantação de vegetação, melhorando as propriedades do solo em favor das plantas ao mesmo tempo que é anulado o potencial erosivo da encosta. Em dos casos mais complexos, principalmente devido às proporções Fundações e Obras Geotécnicas

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Geotecnia Ambiental

Figura 10 – Antes

Figura 12 – Antes

Figura 13 – Antes

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Fundações e Obras Geotécnicas

Figura 11 – Depois

do projeto as margens de talude um de aterro ferroviário, a solução do sistema Vetiver possibilitou a empresa reduzir os custos e garantir a eficiência da solução reduzindo o risco de movimentação de massa, comprometendo a estabilidade e integridade da via. O solo com baixa porcentagem de matéria orgânica é difícil implantação com o uso de plantas e sistema de drenagem danificado. A combinação da solução com linhas de Bermalongado tipo D40® reduziram sensivelmente o carreamento de partículas de solo e aumentaram a resistência do aterro pela profundidade das raízes. Um dos efeitos imediatos e a melhoriada drenagem do talude com a redução da velocidade do escoamento e mesmo em período chuvoso a integridade dos taludes foi preservada. As pesquisas desenvolvidas mostram que as propriedades de resistência à tração do Vetiver e suas características morfológicas conferem a planta um comportamento único na bioengenharia de taludes. A capaci-


dade de contribuir para a redução de processos erosivos e melhoria do FS em taludes de solo são condições essenciais para projetos geotécnicos que buscam unificar soluções de menor

custo e que sejam compatíveis com o meio ambiente. É preciso continuar as pesquisas, principalmente no que se refere aos parâmetros quantitativos da relação solo-raiz.

> THIAGO MARQUES BAPTISTA TEIXEIRA é geólogo formado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), especialista em Mining Projects pela Fundação Gorceix, da UFOP, e mestre em engenharia geotécnica pela UFOP. Possui experiência em projetos multidisciplinares de geotecnia e hidrogeologia em várias regiões do Brasil. Atualmente é especialista de hidrogeologia e geotecnia na Fundação Renova. > ALOÍSIO RODRIGUES PEREIRA é graduado em engenharia florestal, engenharia ambiental, engenharia civil e engenharia química. Mestre em economia e doutor em solos. Diretor-executivo da empresa Deflor Bioengenharia desde 1984, atuando nas áreas de contenção, controle de erosão e sedimentos e bioengenharia de solos. Autor do livro “Como Selecionar Plantas para Áreas Degradadas e Controle de Erosão”.

COORDENADOR DA SEÇÃO “GEOTECNIA AMBIENTAL”: > MARCIO FERNANDES LEÃO é geólogo pela UFRJ, possui MBA (Master of Business Administration) em Gerenciamento de Projetos pela USP (Universidade de São Paulo), É mestre em Geotecnia pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), mestre e doutorando em Geologia de Engenharia e Ambiental, pela UFRJ. Atualmente é pesquisador do LEMETRO (Laboratório de Experimentos em Mecânica e Tecnologia de Rochas) da UFRJ.

REFERÊNCIAS BARBOSA, M. R. Estudo da aplicação do vetiver na melhoria dos parâmetros de resistência ao cisalhamento de solos em taludes. 2012. 147f. Tese (Doutorado em Geotecnia – Universidade Federal de Ouro Preto, Núcleo de Geotecnia Aplicada, Ouro Preto, 2012. HENGCHAOVANICH, D.; FREUDENBERGER, K. S. Vetiver victorious: the systematic use of vetiver to save Madagascar’s FCE Railway. TechnicalBulletin, PRVN-ORDPB, n. 2, 2003. HOLSWORTH, L. Numerical analysis of vegetation effects on slope stability. 2014. 72f. Dissertação (Mestrado em Geotécnica) – University of Natural Resources and Life Sciences, Vienna, 2014. PEREIRA, A. R. Como selecionar plantas para áreas degradadas e controle de erosão. Belo Horizonte: FAPI, 2008. 239p. PEREIRA, A. R. Uso do vetiver na estabilização de taludes e encostas: barreiras vivas de vetiver em taludes. Boletim Técnico, v. 1, n. 3, p. 1-20, 2006. TEERAWATTANASUK, C. et al. Root strengths measurements of vetiver and Ruzi grasses. Lowland Technology International, v. 16, n. 2, p. 71-80, 2014. TEIXEIRA, T. M. B. Análise da influência das raízes de vetiver nos parâmetros de resistência dos solos com a profundidade. 2017. 217f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Geotécnica)– Universidade Federal de Ouro Preto, Núcleo de Geotecnia Aplicada, Ouro Preto, 2017. TRUONG, P.; VAN, T. T.; PINNERS, E. Vetiver system applications: technical reference manual. 2. ed. Vietnam: The Vetiver Network International, 2008c. 127p. VAN, T. T.; TRUONG, P. Vetiver system for infrastructure protection in Vietnam: A review after fifteen years of application on the Ho Chi Minh Highway (2000- 2014). In: INTERNATIONAL VETIVER CONFERENCE, 6., 2015. ICV6 Complete Conference Procedures – Papers and Presentations. Vietnam: TVNI, 2015. 15 p.

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Notas

por Gléssia Veras

Nova atuação da empresa dará selo de qualidade para estudos de pré-viabilidade, projetos e obras O grupo Bureau Veritas, que atua na área de TIC (Teste, Inspeção e Certificação), ampliou sua atuação no setor de infraestrutura no Brasil. A empresa passará a realizar a Inspeção Acreditada de projetos e obras de infraestrutura, que por meio de requisitos técnicos, apontará a conformidade de estudos de pré-viabilidade, dos projetos de engenharia, além dos processos de execução das obras nos empreendimentos.

A regulamentação de inspeção de projetos e obras de infraestrutura é um projeto da SSPI (Secretaria Especial do programa de Parcerias de Investimentos), órgão ligado ao Governo Federal, e as empresas certificadoras terão sua atuação acreditadas pelo Inmetro. Além de contribuir para assegurar que os projetos tenham qualidade técnica, fiquem dentro do prazo e sem elevação de custos, a inspeção acreditada também tem como finalidade tornar mais eficientes os processos de avaliação e aprovação dos projetos do PPI pelo Governo. “A Inspeção Acreditada é uma forma de resgatar a confiança no mercado de construção e infraestrutura, além de melhorar a qualidade dos serviços prestados. Inicialmente, o mecanismo é facultativo, mas pode ser tornar regra futuramente”, avalia o vice-presidente de Construção & Infraestrutura do grupo Bureau Veritas para América Latina, Luiz Buff. Divulgação Veolia Water Technologies

Bureau Veritas amplia sua atuação no setor de infraestrutura

Empreendimentos investem em tecnologia de tratamento de esgoto A solução com base em biodiscos possui tanques reforçados que podem ser enterrados sem a necessidade de proteção em concreto O Ecodisk®, da empresa Veolia Water Technologies, é uma estação de tratamento de efluentes residuais domésticos projetada para atender hotéis, prédios residenciais, acampamentos, hospitais, residências, universidades, shoppings, entre outras. Além de aplicações domésticas, o Ecodisk® também pode ser adaptado para o tratamento de efluentes sanitários gerados em indústrias. Ecologicamente amigável, a solução, com base em biodiscos, é montada em skids modulares e possui tanques reforçados que podem ser enterrados sem a necessidade de proteção em concreto. “Em relação ao lado operacional, não é necessário ser um especialista em tratamento de 50

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água para operar as unidades de tratamento Ecodisk®. Uma simples verificação visual semanal é suficiente para garantir uma boa operação. Além disso, uma das maiores vantagens do processo é a ausência de odores”, comenta o coordenador de vendas da Veolia Water Technologies, Luiz Felipe Guimarães. As linhas de tratamento Ecodisk® tratam a poluição por carbono e nitrogênio e consomem baixos níveis de energia. “Em comparação com outras tecnologias, as soluções Ecodisk® são fáceis de operar porque não há concentração de lodo ou regulação de O2, além de não precisarem realizar a recirculação do efluente, a menos que a desnitrificação esteja planejada”, completa Guimarães.



Viva o Progresso.

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