Luis Antonio Bittar Venturi (organizador)
OS AUTORES: M ARIA A LICE VENTURI M ARIA LÚCIA CEREDA G OMIDE M ÁRIO DE BIASI M ARISA DE SOUTO M ATOS FIERZ M AURO LUIZ PERON NELY ROBLES R EIS BACELLAR NÍDIA NACIB PONTUSCHKA PATRÍCIA A LBANO M AIA R EGINA A RAÚJO DE A LMEIDA R EINALDO PAUL PÉREZ M ACHADO RÚBIA G OMES MORATO SAMUEL FERNANDO A DAMI SÉRGIO R ICARDO FIORI SUELI A NGELO FURLAN TARIK R EZENDE DE A ZEVEDO VANDERLI CUSTÓDIO WALDIRENE R IBEIRO DO CARMO
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ISBN 978-85-99018-94-1
Práticas de Campo, Laboratório e Sala de Aula
A DILSON AVANSI DE A BREU A ILTON LUCHIARI A LFREDO PEREIRA DE QUEIROZ FILHO BIANCA CARVALHO VIEIRA CARLA CRISTINA R EINALDO GIMENES DE SENA CLEIDE RODRIGUES DÉBORAH DE OLIVEIRA EDUARDO FÉLIX JUSTINIANO EMERSON GALVANI FERNANDO SHINJI K AWAKUBO GLÓRIA DA A NUNCIAÇÃO A LVES H ÉLIO GARCIA PAES JORGE GUSTAVO DA GRAÇA R AFFO JOSÉ BUENO CONTI JURANDYR LUCIANO SANCHES ROSS LÍGIA VIZEU BARROZO LUIS A NTONIO BITTAR VENTURI M ARCELLO M ARTINELLI
GEOGRAFIA
GEOGRAFIA
O livro Geografia: Práticas de Campo, Laboratório e Sala de Aula reúne informações técnicas e conceituais da pesquisa científica produzidas por 35 professores reconhecidos por sua atuação acadêmica e docente. Apresenta fatos, conceitos e procedimentos fundamentais para a compreensão e a produção do conhecimento geográfico que auxiliarão alunos e profissionais de Geografia, Biologia, Ciências Ambientais, Ecologia e, inclusive, História e Ciências Sociais a construir instrumentos próprios de estudo e investigação sobre a sociedade e a natureza. A obra interessa também aos professores do Ensino Fundamental e Médio, pois traz subsídios para desenvolverem em sala de aula um trabalho articulado entre as teorias da Geografia e as práticas de ensino e aprendizagem dessa disciplina.
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Práticas de Campo, Laboratório e Sala de Aula
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Geografia: práticas de campo, laboratório e sala de aula Copyright © 2011 Luis Antonio Bittar Venturi (Organizador) Direção editorial Francisco Azevedo de Arruda Sampaio Rita Marte Arruda Sampaio Aloma Fernandes de Carvalho Revisão técnica Eduardo Justiniano Preparação e revisão de texto Izabel Bueno Maria Rita Camarini Helena Botelho Gomes Produção e edição de imagem Eduardo Justiniano Rafael Sato Diagramação Daniela Fujiwara Capa FAAS / Brasil Foto Capa (fotografia) Eduardo Justiniano Administração e apoio Ana Maria P. C. Mello Ana Paula de Menezes Carolina Oliveira Cremonesi Lhuan Gameiro Eldo Francisco da Silva (Pixinguinha) Paulo Robson do Nascimento Lopes
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Geografia : práticas de campo, laboratório e sala de aula / Luis Antonio Bittar Venturi, (organizador). — São Paulo : Editora Sarandi, 2011. — (Coleção Praticando) Vários autores. ISBN 978-85-99018-94-1 1. Geografia – Estudo e ensino I. Venturi, Luis Antonio Bittar. II. Série. 11-06484
CDD-910.7 Índices para catálogo sistemático: 1. Geografia : Estudo e ensino 910.7
Projeto gráfico Estúdio Bogari Jogo de Amarelinha
Todos os direitos reservados. Editora Sarandi Av. Brigadeiro Faria Lima, 1912 – Conjunto 208 B – Pinheiros – São Paulo – SP Tel. (11) 3097-9040 http://www.editorasarandi.com.br e-mail: editora@editorasarandi.com.br
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CARO(A) LEITOR(A), O objetivo desta obra foi reunir o maior número possível de informações técnicas e conceituais que podem subsidiar pesquisas científicas, assim como orientar o trabalho do professor. Dirigido aos alunos de graduação dos cursos de Geografia, Geologia, Biologia e mesmo Ciências Sociais e História, o livro também conversa com o professor do Ensino Médio, sobretudo na seção “Na sala de aula”, presente nos capítulos. O livro abrange, então, um público que muitas vezes é representado pelo mesmo sujeito, já que frequentemente os alunos universitários são professores da rede escolar pública e privada. A grande variedade de assuntos tratados impossibilita-nos de atribuir uma única orientação teórica principal. Este é o preço que a Geografia paga por se ocupar de um vasto e rico temário. Geotecnologias, técnicas de hidrografia, de análise de solos, estágio em sala de aula, aplicação de questionários, pesquisas históricas, entre muitos outros assuntos aqui tratados, apresentam, cada qual, suas especificidades teórico-conceituais, ainda que os grandes conceitos – como paisagem, região, espaço – sejam contemplados. Metodologicamente, contudo, o livro propõe procedimentos comuns que serão encontrados em todos os capítulos. O primeiro refere-se à articulação entre os conteúdos. Constantemente o leitor irá se deparar com sugestões de atividades, muitas das quais trazem grande potencial integrador entre áreas, como, por exemplo, Cartografia Temática, Geomorfologia, Fotografia, Biogeografia e Estatística. Outro procedimento metodológico proposto é a aproximação dos conteúdos à realidade do aluno e da escola, de modo que as informações lhe façam mais sentido. Assim, se o capítulo pro-
põe certa atividade, ela deve referir-se ao contexto geográfico no qual a escola se insere. Por exemplo, ao se praticar a construção de mapas temáticos, deve-se usar dados relativos à região na qual a escola se situa (população rural, urbana etc.). Ao se praticar a identificação de áreas de risco, deve-se buscar indicadores na paisagem na qual a escola se localiza. Finalmente, o livro busca superar a perspectiva tradicional do campo enquanto aula ao “ar livre”, na qual os alunos seguem um professor e tentam, apressadamente e nem sempre em condições favoráveis, anotar e gravar tudo o que se ouve e se fala. Embora isso ainda possa e deva ser feito em alguns casos, o livro transfere para o aluno uma boa dose de protagonismo, pela forma como os conteúdos e as atividades são estruturados. O aluno será mais ativo entrevistando, fotografando, cavando trincheiras, medindo vazão de rios ou condições atmosféricas. Enfim, o aluno irá compartilhar a experiência de campo que se tornará, assim, muito mais atraente, auxiliando o processo de ensino-aprendizagem. Ainda que algumas áreas não estejam nominalmente referenciadas em capítulos específicos, seus conteúdos são contemplados em um ou mais capítulos. É o caso, por exemplo, da Geografia da População que, embora não seja objeto de um capítulo específico, está contemplada tanto nos capítulos dedicados à Cartografia Temática e Geografia da Saúde e, em menor grau, naquele que aborda as Técnicas de Interlocução. Assim, conferiu-se ao ensino e à aprendizagem da Geografia um “sopro de vida” tornando esses processos mais vivos, articulados, interativos e atualizados. LUIS ANTONIO BITTAR VENTURI
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SUMÁRIO
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Praticando a Geografia: o papel da práxis entre a res cogitans e a res extensa
Capítulo 7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171 Técnicas de Cartografia ALFREDO PEREIRA DE QUEIROZ FILHO MÁRIO DE BIASI
ADILSON AVANSI DE ABREU
Capítulo 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 A Técnica e a Observação na Pesquisa
Capítulo 8 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203 Técnicas de Cartografia Temática MARCELLO MARTINELLI
LUIS ANTONIO BITTAR VENTURI
Capítulo 9 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231 Técnicas de Sensoriamento Remoto Capítulo 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 Técnicas de Geomorfologia JURANDYR LUCIANO SANCHES ROSS MARISA DE SOUTO MATOS FIERZ BIANCA CARVALHO VIEIRA
Capítulo 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Técnicas de Hidrografia
AILTON LUCHIARI FERNANDO SHINJI KAWAKUBO RÚBIA GOMES MORATO
Capítulo 10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255 Técnicas de Localização e Georreferenciamento JORGE GUSTAVO DA GRAÇA RAFFO
CLEIDE RODRIGUES SAMUEL FERNANDO ADAMI
Capítulo 11 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271 Sistema de Informação Geográfica Capítulo 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 Técnicas de Pedologia DÉBORAH DE OLIVEIRA
Capítulo 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 Técnicas de Climatologia TARIK REZENDE DE AZEVEDO EMERSON GALVANI
Capítulo 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 Técnicas de Biogeografia SUELI ANGELO FURLAN
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FERNANDO SHINJI KAWAKUBO RÚBIA GOMES MORATO REINALDO PAUL PÉREZ MACHADO
Capítulo 12 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287 Técnicas de Geografia da Saúde LÍGIA VIZEU BARROZO
Capítulo 13 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 309 Técnicas de Pesquisa Histórica NELY ROBLES REIS BACELLAR PATRÍCIA ALBANO MAIA
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Capítulo 14 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 321 Uso e Registro de Fontes Bibliográficas
Capítulo 21 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 447 Técnicas de Interlocução LUIS ANTONIO BITTAR VENTURI
GLÓRIA DA ANUNCIAÇÃO ALVES VANDERLI CUSTÓDIO
Capítulo 15 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 333 A Escola como Laboratório Vivo
Capítulo 22 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 469 Estatística Descritiva em Sala de Aula EMERSON GALVANI
NÍDIA NACIB PONTUSCHKA
Capítulo 16 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 355 Técnicas Inclusivas de Ensino de Geografia REGINA ARAÚJO DE ALMEIDA WALDIRENE RIBEIRO DO CARMO CARLA CRISTINA REINALDO GIMENES DE SENA
Capítulo 17 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 381 Técnicas de Desenho e Elaboração de Perfis SÉRGIO RICARDO FIORI
Capítulo 23 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 483 A Redação do Trabalho de Campo MARIA ALICE VENTURI
Capítulo 24 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 495 Profissão: Geógrafo HÉLIO GARCIA PAES LUIS ANTONIO BITTAR VENTURI
Capítulo 25 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 519 Contos de Campo JOSÉ BUENO CONTI
Capítulo 18 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 403 Técnicas de Ilustração Botânica MARIA LÚCIA CEREDA GOMIDE
Capítulo 19 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 411 Técnicas de Fotografia EDUARDO FÉLIX JUSTINIANO
Capítulo 20 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 435 Técnicas de Vídeo MAURO LUIZ PERON
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Viajou a palavra auman, que significa em siríaco: o que fabrica, o que faz, o criador, o proficiente, o inteligente, o experiente, o inventor; viajou esta palavra com os sírios para todas as regiões da Europa, depois da junção da partícula de definição fenícia ha, ficando assim ha+auman, originando a palavra humano. “História da Antiga Civilização Síria”, DAUD, AHMED
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Introdução ADILSON AVANSI DE ABREU
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PRATICANDO A GEOGRAFIA: O PAPEL DA PRÁXIS ENTRE A RES COGITANS E A RES EXTENSA
O conhecimento geográfico tem motivado a publicação de um grande número de livros. A maioria ocupa-se com a divulgação de resultados de pesquisas. Um número menor volta-se para as discussões de natureza teórico-conceitual, frequentemente com viés analítico-histórico e pano de fundo político-ideológico. Poucos são os livros editados que se ocupam com a apresentação e a discussão de procedimentos de observação e análise dos objetos materiais ou imateriais que interessam ao campo da Geografia. Nesse panorama, a publicação de um livro com o título Geografia: práticas de campo, laboratório e sala de aula é digna de ser positivamente recebida, particularmente porque se volta para um público que, em geral, encontra poucas referências dessa natureza. Este livro cumprirá, portanto, um papel relevante no processo de formação acadêmica e pedagógica nos diferentes níveis em que a Geografia é ensinada. Será importante para os alunos do Ensino Médio, de graduação e pós-graduação, bem como para o corpo docente envolvido nesse ambiente. Igualmente será útil para os geógrafos que, como profissionais, atuam em institutos de pesquisa ou em órgãos da administração pública ou da iniciativa privada, ocupados com temas que objetivem resolver questões emergentes nos processos de organização do espaço em suas diferentes formas e escalas de manifestação. A análise dos títulos e conteúdos deste livro evidencia a importância que se dá ao verbo praticar e ao substantivo técnica empregados nos seus diferentes capítulos. Em alguns, a discussão amplia-se, abordando também método (mais frequente) e teoria (menos frequente). A tônica da obra é, assim, indiscutivelmente prático-técnica, com o mérito de deixar que os procedimentos possam dar margem a uma práxis que articule o objeto conceitual ou teórico
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(res cogitans) com o objeto material ou empírico (res extensa) da Geografia, de acordo com as convicções pessoais de cada pesquisador. Nesse contexto emerge uma importante questão para reflexão. As técnicas ou procedimentos farão a mediação entre a teoria, o pesquisador e o objeto da pesquisa, e essa mediação será pautada pela compreensão e linguagem que o indivíduo mobiliza, a partir do conteúdo teórico que lhe serve de referência para identificar e analisar o que ele julga ser o objeto da Geografia. A decomposição, a análise e a apreensão do objeto empírico da investigação serão referenciadas, portanto, pelos conceitos teóricos que o geógrafo, progressivamente, construiu em sua visão da ciência, em seu processo de formação cultural, científica e política. Nesse sentido, a res extensa será abordada por meio de um recorte arbitrário, fruto da res cogitans do observador. A res cogitans fornecerá a cada pesquisador as possibilidades para sua aproximação da res extensa para observação e análise. O que emergir desse processo será um conjunto de resultados que poderá expressar, com maior ou menor fidelidade, o objeto observado. O resultado da observação comporá, portanto, um quadro que reflete apenas parcialmente o objeto, na medida em que ele foi recortado pelo observador, com o descarte de alguns aspectos e a sobrevalorização de outros, pois esse processo decorre de um juízo do que é e do que não é importante, sendo esse julgamento feito a partir das convicções e imagens mentais prévias que pautam a práxis do pesquisador. Apresenta-se aqui um problema fundamental: se a observação e a experimentação só podem ser realizadas a partir da teoria, como conduzir a práxis de maneira a articular o objeto pensado (res cogitans) e o objeto empírico (res extensa), sem
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perder a possibilidade de crítica a respeito da dificuldade de aprender a totalidade dos fenômenos e manter a faculdade de deixar-se surpreender por um dado não previsto na teoria? Na práxis o pesquisador depara-se com o dilema de como se aproximar do empírico, pautado por processos cognitivos expressos em uma semântica que já recorta a realidade arbitrariamente, de acordo com suas convicções e conveniências. Essa situação não é um apanágio da Geografia. Ela opera em todos os ramos do conhecimento e é importante fonte de erros, uma vez que a valorização subjetiva do observador e o estado do conhecimento da própria ciência introduzem um viés que o distancia de muitas questões que ele desconsidera, ou o aproximam dos aspectos que ele sobrevaloriza. O observador sempre corre o risco de apenas reiterar sua visão prévia do problema, se não estiver alerta e aberto para fatos que escapem de sua concepção e eventualmente colidam com a concepção teórica que o moveu. Por pertencer também ao objeto da Geografia, na qual pretende articular o espaço e o tempo em suas análises, a condição do geógrafo encontra paralelo com a do historiador. Isso permite uma aproximação com as análises de Paul Ricoeur, quando discute a operação historiográfica no plano epistemológico, que passa por três momentos: do arquivo, da explicação/ compreensão e da representação histórica (RICOEUR, 2007). Essa aproximação é pertinente porque o geógrafo, embora pretenda ocupar-se primordialmente do espaço, aborda também o tempo, mas em uma espessura ou duração diferente da do historiador. Dependendo da natureza de seu objeto material, essa espessura temporal pode
ser longa, aproximando o geógrafo das últimas etapas da Geologia; outras vezes pode ser mais curta, mas ainda referente a milhares de anos, aproximando-o da Arqueologia e da pré-história; ou, ainda, poderá durar apenas séculos ou estar relacionada à duração de décadas ou mesmo anos, aproximando-o da Antropologia, da Sociologia, da Política, da Economia e da História em suas análises contemporâneas. Dessa forma, o geógrafo estará, particularmente nesses últimos casos, envolvido diretamente com os processos que analisa. Nessa situação, sua condição aproxima-se muito à do historiador. Sobre isso, Paul Ricoeur registra: Por condição entendo duas coisas: de um lado, uma situação na qual cada um se encontra cada vez mais implicado, Pascal diria “fechado”; de outro, uma condicionalidade, no sentido de condição de possibilidade de ordem ontológica, ou, como acabamos de dizer, existencial em relação mesmo às categorias da hermenêutica crítica. Fazemos a história, e fazemos história, porque somos históricos. […] A coerência do empreendimento repousa, portanto, na necessidade da dupla passagem do saber histórico à hermenêutica crítica, e desta à hermenêutica ontológica. Essa necessidade não pode ser demonstrada a priori: só surge se for posta em prática, o que equivale a ser posta à prova. Até o fim, a articulação presumida permanecerá uma hipótese de trabalho.1
O geógrafo encontra-se, portanto, diante de uma questão fundamental: como pode se certificar de que as representações conceituais com as quais ele se aproxima do objeto da investigação são as mais adequadas? Será que ele não está descartando aspectos relevantes?
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RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.
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A história da Ciência, em geral, e da Geografia, em particular, está repleta de exemplos de teorias que demoraram muito a serem superadas, porque a pesquisa continuava a ser feita pelos cânones da teoria adotada, havendo pouca ou nenhuma predisposição dos pesquisadores em identificar fatos que contrariassem suas convicções. A lembrança da geomorfologia davisiana é paradigmática. Por outro lado, não são fatos que revogam as teorias, mas sim outras teorias. Enquanto apenas se acumulam fatos que não se conformam com determinada teoria, ela é mantida, ainda que em situação cada vez mais desconfortável. Apenas quando os fatos discordantes se transformam em conceitos, proposições e princípios gerais surge a possibilidade de emergir uma teoria alternativa, que progressivamente se aperfeiçoa e supera a teoria até então dominante, que pode, por algum tempo, permanecer de forma residual. Nesse processo, parte da teoria que é refutada pode também ser incorporada na que emerge. A transformação processa-se, portanto, pela aceitação de uma nova ideologia que, sob certos aspectos, revoga a ideologia anterior2. Quantas vezes, desde o início do século XX, isso aconteceu com a Geografia? Nesse processo, inúmeras transformações conceituais e teóricas foram registradas, tendo sido a práxis, em boa parte, o motor das mudanças que acabaram conduzindo, inclusive, à ressignificação do objeto material da disciplina. Por esse motivo, Geografia: práticas de campo, laboratório e sala de aula deve ser saudado como referência oportuna e contribuição relevante na formação do pensamento geográfico.
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SOBRE O AUTOR Adilson Avansi de Abreu é geógrafo, professor titular, com área de investigação relacionada à gênese e à dinâmica da paisagem, compreendida como resultante da interação das forças da natureza e da sociedade. A geomorfologia, como elemento estruturador temporal e espacial da paisagem, no contexto da Geografia Física, recebe particular atenção. A percepção da paisagem na perspectiva da herança cultural e patrimonial, no contexto das ciências humanas, é o outro eixo estruturador das pesquisas que orienta, podendo contribuir também para os objetivos do planejamento territorial. Foi diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo, além de presidente do Condephaat.
PIRES, Eginardo. A teoria da produção dos conhecimentos. In: Epistemologia e Teoria da Ciência. Petrópolis: Editora Vozes, 1971.
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Introdução, 12 As dimensões humanas da técnica, 13
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A Técnica e a Observação na Pesquisa
O gabinete, o campo e o laboratório, 19 A observação como técnica primordial, 22
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Na sala de aula, 25 Considerações finais, 27 Referências de apoio, 28 Sobre o autor, 28
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INTRODUÇÃO Neste capítulo, discutem-se alguns aspectos gerais da técnica, úteis à leitura dos capítulos subsequentes que trazem as especificidades de cada área. Entre os aspectos tratados estão: a técnica como prerrogativa humana, suas dimensões artística, produtiva e científica, com ênfase nesta última, quando ela é considerada como apoio operacional à pesquisa; o mito da técnica e os critérios de escolha e uso, entre outros. Em um segundo momento, diferencia-se o gabinete, o campo e o laboratório enquanto três instâncias da pesquisa, caracterizando -se cada uma delas e enfatizando -se sua complementaridade. Em seguida, discute-se a observação enquanto técnica primordial, a sistematização, a subjetividade e as derivações (inferências) decorrentes da experiência acumulada. Finalmente, propõem -se atividades de fixação conceitual e de prática de observação.
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AS DIMENSÕES HUMANAS DA TÉCNICA As técnicas e os instrumentos desenvolvidos pelo ser humano representam a extensão e o aprimoramento de todos os seus sentidos e habilidades permitindo-lhe enxergar o invisível, alcançar o que era antes inatingível, comunicar-se a distâncias e velocidades não imaginadas. Permitem-lhe ainda expressar sua sensibilidade através da arte, orientada por valores estéticos que mudam no decorrer do tempo. Possibilitam ao ser humano aumentar a produtividade de todos os bens econômicos, assim como intensificar a apropriação e a transformação dos recursos naturais da Terra. Finalmente, ajudam-no a prever o que seria imprevisível e medir com precisão o que os sentidos e a mente humana percebem apenas de forma fluida e subjetiva. Observe a seguinte definição de técnica:
Contudo, a submissão dessa dimensão da técnica a uma análise lógico-científica pode ser pouco profícua, já que a arte não tem vínculos necessários com materialidades e pode transcender facilmente o tempo e o espaço, tão fundamentais para a análise geográfica. Na Figura 1.1, é possível contemplar a técnica vinculada à arte. Qual é a materialidade desta expressão artística? Como se situa no tempo e no espaço? Qual o objetivo de se chegar a esse resultado? Tentando responder a essas questões talvez se destrua o propósito do “conjunto de processos de uma arte”. Sob outra perspectiva, analisando a técnica pela dimensão produtiva, mais uma vez estaríamos reforçando-a como prerrogativa humana.
“[…] em termos precisos, é o conhecimento sobre como fazer ou fabricar algo […]. O conhecimento racional, proRobin Utrecht/ANP Press–Grupo Keystone
fi ssional, das regras de procedimento envolvidas em fazer ou fabricar algo. Inclui-se sob este rótulo uma variedade de ciências e artes” (GILES, 1993, p. 150, grifo nosso).
Pelo exposto, podemos identificar, pelo menos, três principais dimensões da técnica: artística, produtiva e científica, sobre as quais discorreremos brevemente, com maior ênfase na dimensão científica. A relação entre técnica e arte já aparece na origem do termo, em diversas definições, a exemplo da técnica enquanto “conjunto de processos de uma arte”1. Considerando-se a arte como forma de expressão permeada por valores estéticos num universo simbólico, esta acepção torna a técnica uma prerrogativa exclusiva do ser humano, da criação humana. É, “no sentido mais geral, qualquer coisa criada propositalmente por seres humanos, em contraste com aquilo que resulta da obra da natureza”2.
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Cunha (1981, p. 759). Ibidem.
Figura 1.1. Cirque du Soleil.
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Apenas o ser humano pode desenvolver técnicas. O que os animais são capazes de fazer (teias, formigueiros, ninhos, represamentos…) seria apenas o resultado mecânico de características previstas em seus códigos genéticos em processo de adaptação ao meio. Sob a análise geográfica, as “ações” dos animais estariam estanques no tempo e no espaço e, por isso, o que uma colônia de cupins era capaz de fazer muitos séculos atrás é praticamente a mesma coisa que faz hoje, salvo algumas adaptações ao ambiente, pois não haveria transmissão de conhecimento no tempo e no espaço, a não ser geneticamente3. Repare na Figura 1.2. Submeter esta imagem aos recursos analíticos da Geografia também seria pouco profícuo, pois o tempo (quando) e o espaço (onde) em que a técnica mostrada foi empregada fazem pouco sentido. Poderia ser há um milênio ou ontem; no Brasil ou em diversos outros lugares. No entanto, concebendo-se a técnica como atributo humano relacionado à dimensão produtiva, sentimo-nos mais à vontade, pois temos preservados todos os nossos referenciais conceituais e analíticos. Nessa perspectiva, a técnica concebe-se como meio de apropriação e transformação da natureza para alimentar o ciclo produtivo. Preservam-se aí todos os referenciais da análise geográfica, como o tempo, o espaço, a sociedade e a natureza. Há um contexto socio-econômico definido, um conjunto de técnicas viabilizadas por esse contexto, ideais norteadores (por exemplo, autossuficiência, soberania), além de uma base físico-territorial que favorece essa atividade produtiva. Há pressupostos históricos para explicar esse contexto, como também
é possível considerar as perspectivas ou desdobramentos econômicos, sociais, ambientais etc. A relação tempo -espaço se fortalece, pois os objetos técnicos que se acumulam no espaço ajudam a contar sua história4. Mas, quando a técnica, na dimensão produtiva, caracteriza-se pelo trabalho alienado, ela pode voltar, em escala de detalhe, a ser estancada no tempo e no espaço. Veja a Figura 1.3. Outras vezes, porém, o trabalho alienado é operacionalizado por um conjunto denso de objetos técnicos que facilitam sua recontextualização no tempo e no espaço, como mostra a Figura 1.4, que ilustra o setor industrial britânico em meados do século XX. Neste capítulo, contudo, daremos mais ênfase à dimensão científica da técnica enquanto apoio operacional às pesquisas geográficas e ciências afins. Especialmente para as ciências que trabalham com os mais diferentes aspectos do mundo real,
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Esta assertiva, porém, pode gerar discordância em meio aos cientistas que estudam o comportamento animal. A evolução das ciências pode identificar algumas características nos animais relativas à transmissão de conhecimento e indícios de teleologia, que exijam revisão conceitual ou a incorporação de novos critérios de definição de técnica.
Figura 1.2. Macaco -prego usando “técnica” em que articula martelo (fragmento de rocha) e bigorna (rocha-base) para quebrar coquinhos.
Milton Santos torna a técnica uma categoria de análise quando afirma que “as técnicas, de um lado, dão-nos a possibilidade de empiricização do tempo e, de outro lado, a possibilidade de uma qualificação precisa da materialidade sobre a qual as sociedades humanas trabalham. […] É por intermédio das técnicas que o homem, no trabalho, realiza essa união entre tempo e espaço” (SANTOS, 1997, p. 44).
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Figura 1.3. Cortador de cana. Repare na dificuldade de se datar e situar esta imagem. Poderia ser do contexto nordestino do século XIX ou paulista do século XXI. Neste caso, a técnica não facilitaria a empirização do tempo e seria necessário, para isso, situar-se em uma escala mais generalizante, em que apareceriam outros objetos, como estradas, usinas e treminhões.
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como a Geografia, a Biologia, a Geologia, a Física e a Sociologia, entre muitas outras, as técnicas exercem um importante papel no processo de produção científica, auxiliando o pesquisador na obtenção e sistematização de informações que irão subsidiar os argumentos, fornecendo -lhes evidências empíricas, atribuindo-lhes consistência e objetividade. Em outras palavras, a aplicação das técnicas possibilita a geração de dados da realidade que irão fornecer lastros empíricos aos caminhos percorridos pelo método. Se o método, dispondo de fundamentação teórica, auxilia o pesquisador na organização do raciocínio, as técnicas, por sua vez, auxiliam-no na organização
Figura 1.4. Cena do filme Tempos Modernos, de Charlie Chaplin.
capítulo 1 – a técnica e a observação na pesquisa
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Acervo do Museu Geológico de São Paulo Valdemar Lefèbvre
das informações que lhe darão subsídio. Se, por um lado, a teoria e o método são processos desenvolvidos no plano do pensar, por outro, a técnica desenvolve-se no plano do fazer. Obviamente, não se trata (e a definição exposta anteriormente nos mostrou isso) de um fazer sem pensar, automático, mas sim, permeado pela razão. No domínio humano, o pensar e o fazer andam juntos, são complementares e estimulam-se mutuamente, o que é reforçado pela afirmação de Anaxágoras (século V a.C.) de que “o homem pensa porque tem mãos”. Teorias, métodos, técnicas e instrumentos constituem diferentes aspectos de um mesmo processo (científico), ainda que em alguns momentos os separemos analiticamente para compreender melhor cada uma de suas características e funções dentro do processo. A criação de dicotomias, por exemplo, entre teoria e técnica (em que a primeira seria reveladora e a segunda alienadora) é maniqueísta e cega para complementaridades. Um falso problema como este poderia, eventualmente, remir alguns paradigmas teóricos que ajudaram a legitimar as contradições sociais (malthusianismos, determinismos eurocentristas) e, ao mesmo tempo, desvalorizar o apoio técnico-instrumental às pesquisas científicas (inclusive auxiliando na comprovação ou refutação de teorias), além dos institutos e órgãos técnicos (IBGE, por exemplo) que produzem e sistematizam dados sobre os quais refletimos; que fornecem “água para nosso monjolo analítico”. Sem dúvida, a reflexão reveste-se de um status mais alto na pesquisa, uma vez que é por meio dela que se promovem explicações. Mas, por outro lado, não há como compreender a realidade sem dados, nem transformá-la apenas refletindo sobre ela. Finalmente, embora haja, de fato, uma hierarquia, pois em um projeto de pesquisa a teoria e o método orientam a prática (o homem pensa e concebe antes de agir), esta ordem seria mais operacional, pois não haveria como estabelecer níveis de importância para instâncias que têm diferentes funções no mesmo processo.
Figura 1.5. Aplicação de técnica para fins de pesquisa científica. Na foto, membros da Comissão Geográfica e Geológica, em levantamento em Salto dos Patos, no rio Grande (SP/MG), em 1910.
Caso o fazer promovido pelas técnicas tenha um fim em si, ou seja, esteja desvinculado de um processo de pesquisa científica, caracteriza-se como um trabalho técnico. Por outro lado, se este fazer vincula-se a um processo de pesquisa conduzido por um método, evidencia-se um trabalho científico. Vale ressaltar que, num trabalho científico, a obtenção de dados não é aleatória, mas sistemática, estando sempre vinculada a um objetivo, a uma hipótese dentro de uma problemática preestabelecida5. Essa é a condição básica para que os dados possam atribuir objetividade ao trabalho científico, já que eles não o fazem por si só. E a decisão sobre a qualidade e a quantidade dos dados, embora seja tomada pelo pesquisador, ou seja, pelo sujeito, será menos subjetiva se estiver atrelada a uma problemática. De qualquer for-
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Embora a observação aleatória também possa contribuir para o trabalho científico, como se verá adiante.
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ma, o trabalho do pesquisador que faz uso das técnicas produzirá um conhecimento revestido de caráter empírico, baseado, em grande parte, na observação dos fatos, no uso dos sentidos, na prática e na vivência de situações reais. O pesquisador, enquanto cientista, diferentemente do técnico, nunca poderá abrir mão do método como processo mental que organiza seu raciocínio, mas poderá fazê-lo, em certa medida, em relação à técnica. É possível que não domine o uso de técnicas, terceirizando-as, o que o tornará mais dependente de recursos e serviços para resolver as questões relacionadas à busca e sistematização de dados. Entretanto, é importante considerar que a falta de tal domínio pode incorrer na perda de espaço no mercado de trabalho fora do meio acadêmico. Por outro lado, o domínio da técnica, não necessariamente instrumental, pode assegurar ao pesquisador maior confiabilidade e maior controle sobre os dados que irão subsidiar seus argumentos. Esse domínio aprimora-se quase que exclusivamente no plano da prática, ou seja, no próprio uso da técnica, sobretudo daquelas que empregam instrumentação específica. As técnicas, diferentemente do método, cujo desenvolvimento vincula-se às questões teóricas e à própria evolução do pensamento humano, evoluem segundo necessidades (práticas, produtivas, artísticas e científicas) que vão surgindo ao longo da história da humanidade, num percurso contínuo, embora não necessariamente linear. Quanto mais complexidades do mundo real o ser humano consegue desvendar por meio dos avanços técnicos e instrumentais, mais ele se depara com novas complexidades. Quando o telescópio Hubble foi construído para resolver determinadas questões acerca do cosmos, não era possível imaginar quantas novas complexidades ele traria aos olhos dos cientistas. Muitos mistérios foram revelados e muitos outros vieram à tona quando os sonares passaram a ser usados para estudos de batimetria oceânica, além de terem possibilitado a confirmação de teorias que necessitavam de evidências
empíricas para serem aceitas pela comunidade científica, como a Teoria da Tectônica de Placas. Na lógica do mercado, no entanto, muitos instrumentos, especialmente os mais variados softwares, satélites e técnicas a eles associadas, desenvolvem-se com espantosa rapidez. A tecnologia, em uma de suas acepções possíveis, caracteriza -se pelo conhecimento técnico-científico aplicado a diversos fins6. Pode voltar-se para a lógica do mercado, aumentando a produtividade e o lucro, ao atender demandas reais ou artificiais (telefones celulares com jogos, TV, MP3, filmadoras, GPS e computadores acoplados etc.). Por outro lado, a tecnologia pode gerar muitos benefícios para a humanidade em diversas áreas, como medicina, comunicação e circulação de informações, exploração de recursos naturais, mapeamentos e monitoramentos ambientais on-line, entre muitos outros. Ainda que haja, atualmente, o discurso da massificação da tecnologia, paradoxalmente, o acesso a ela não é universal, já que o poder aquisitivo ainda é fortemente desigual. A incorporação de valores e necessidades pelo ser humano impulsiona o desenvolvimento das técnicas (e instrumentos) ininterruptamente e com tamanha rapidez que se criam mitos em torno delas, como o mito da tecnologia, do pragmatismo. Em outras palavras e aprofundando-se na questão, cria-se um paradoxo em que a razão é obscurecida por ela mesma, pela mitificação da técnica. Por isso, torna-se necessário que o pesquisador seja muito criterioso na escolha das técnicas que utilizará e que seus critérios não se esvaeçam diante da sedução do novo. Impulsionado pelo mercado, o desenvolvimento das técnicas antecipa-se às necessidades, criando-as e recriando-as. Isso induz o usuário menos criterioso a mover-se em direção às “novidades” sem antes sentir necessidade delas, tornando-as uma necessidade em si. Novas técnicas e instrumentos
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A Ciência estaria voltada para a compreensão e a tecnologia para a aplicação. Ver o Glossário.
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são buscados sem que os já existentes tenham sido suficientemente conhecidos e utilizados. Desse fato, decorre o risco de uma inversão hierárquica no processo de produção científica: a técnica, como meio de obtenção de dados, torna-se um fim em si mesma e, não raro, assume o papel do método. Em casos mais extremos, os instrumentos (softwares, imagens de satélite etc.) assumem esse papel. Por isso, há que se reafirmar que o saber técnico existe para exercer determinadas tarefas com maior eficiência possível, mas não resulta em explicações. A explicação de um fato ou fenômeno é produto de um saber científico estruturado por argumentos7. A evolução da taxa de fecundidade, de escolaridade e do poder aquisitivo, por exemplo, representam um conjunto de fatos revelados pela técnica que coletou e sistematizou esses dados. Mas é a razão que irá estabelecer conexões entre eles, podendo gerar explicações na forma de argumentos científicos. Se o uso de instrumentos estiver desvinculado das teorias e métodos que regem o processo científico, estará atendendo a outros fins e os instrumentos poderão tornar-se meras mercadorias.
Critérios de escolha da técnica No processo de pesquisa, a escolha das técnicas está, primeiramente, relacionada à natureza do objeto de estudo e sua adequação a ele. Ao se estudar Climatologia, por exemplo, não há como escapar das técnicas e do uso de instrumentos (por mais digitais que estejam) como as medições de temperatura por termômetros ou da pluviosidade por pluviômetros (ver Capítulo 5 – Técnicas de Climatologia). Do mesmo modo, ao se estudar um tema em que a relação sujeito -objeto envolve intersubjetividade, há que se lançar mão das técnicas de aplicação de
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Uma discussão sobre as diferenças entre o saber técnico e o saber científico pode ser encontrada no segundo capítulo de Granger (1994).
questionários ou entrevistas, entre outras (ver Capítulo 21 – Técnicas de Interlocução). Em seguida, a escolha da técnica deve levar em consideração a relação custo-benefício. Nada impede que a técnica mais adequada seja a mais moderna, contanto que a relação custo-benefício seja favorável. E não haveria razão para adquirir um caro GPS de última geração para conseguir alguns poucos dados de georreferenciamento que poderiam ser obtidos de forma mais simples, até com uma bússola e um mapa. Deve-se também considerar a viabilidade e a acessibilidade na escolha da técnica. Ainda que ela possa ser adequada ao objeto e apresentar uma boa relação custo-benefício, o acesso a ela pode ser um obstáculo, seja pelo seu valor, seja por sua disponibilidade. É o que ocorreu durante muito tempo com as imagens de satélite como instrumento básico das técnicas de interpretação de imagens. Hoje, no Brasil, este instrumental é bem mais acessível. Uma vez desvinculada a adequação da técnica do grau de modernidade que incorpora, pode-se fazer ainda algumas outras considerações. Os instrumentos mais simples e tradicionais tendem a ter uma vida útil muito maior. Uma bússola, um heliógrafo ou uma biruta funcionarão indefinidamente, enquanto a Terra girar, o Sol brilhar e o vento “soprar”. Funcionam sem fontes artificiais de energia e dificilmente algum componente terá de ser substituído. Nesse sentido, os instrumentos eletrônicos, ainda que ofereçam precisão e rapidez na obtenção dos dados, tendem a ser mais frágeis e dependem de baterias, sinais de satélites, além de apresentarem, pela sua complexidade, maior chance de sofrer algum problema de funcionamento. Outro aspecto positivo dos instrumentos tradicionais ilustra-se pelo fato de que eles forçam o observador a prestar mais atenção na dinâmica da natureza, favorecendo sua compreensão. Um exemplo extremo dessa consideração pode ser dado pela comparação de um relógio digital e um relógio de Sol. No primeiro caso, o leitor obtém automaticamente a hora em números
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sem nenhum esforço mental, e, se o dado estiver impreciso, ele dificilmente saberá. No caso do relógio de Sol, ele terá de “lembrar” que a Terra gira no sentido oeste-leste, que o Sol “nasce” a leste, além de ter que considerar qual é a estação do ano e em qual hemisfério está. Observando-se comparativamente o funcionamento de outros instrumentos, por exemplo, uma bússola clássica e um GPS, uma balança digital e uma tradicional, com pesos e contrapesos, é fácil perceber que os instrumentos mais simples exigem mais habilidades do observador e “mostram” como os fenômenos funcionam, enquanto os mais sofisticados oferecem resultados imediatos, mas camuflam o funcionamento dos fenômenos. A valorização de técnicas e instrumentos mais simples ou tradicionais não ocorre aqui (e isso deve estar claro) em detrimento do moderno, do sofisticado; da mesma forma que o contrário não seria aceitável. Os instrumentos mais modernos tendem a apresentar maior alcance, rapidez e precisão (ainda que a questão da precisão não seja prerrogativa exclusiva dos instrumentos digitais), características que podem ser absolutamente necessárias ao estudo. Há, também, certos instrumentos sofisticados de pesquisa que são insubstituíveis pelo que proporcionam. É o caso, por exemplo, de imagens de radar ou satélite (ver Capítulo 9 – Técnicas de Sensoriamento Remoto). Ainda que não promovam a integração in loco do observador com a natureza, proporcionam uma inigualável visão de conjunto, abstraindo e revelando aspectos ocultos, favorecendo enormemente a compreensão de diversos fenômenos, como a evolução de áreas urbanas, desmatamentos, fenômenos climáticos, entre muitos outros. É interessante considerar ainda que muitas técnicas e instrumentos que nos são apresentados como novos são, na verdade, roupagens tecnológicas de ideias já existentes ou de lógicas há muito conhecidas. Os alunos normalmente se surpreendem quando descobrem que dentro de um pluviômetro eletrônico (ver Capítulo 5 – Técnicas de Climatologia) há uma pequena báscula (um tipo de monjolo), engenho cuja invenção se perde nos
séculos da História. A única diferença consiste em um ímã que, a cada vez que o mecanismo abaixa com o peso da água que recolhe, envia sinais elétricos que equivalem a uma determinada quantidade de chuva. A criação de instrumentos e técnicas também se inspira na observação direta de fenômenos da natureza. A observação do sistema de locomoção dos morcegos inspirou a invenção do radar, assim como a observação das aves inspirou o desenvolvimento da aviação. Finalmente, o bom-senso na escolha da técnica e a criatividade para adaptações e usos são aspectos que devem ser considerados com a devida seriedade. Essas características favorecem melhor adaptação às condições materiais do ambiente de trabalho e ao contexto socioeconômico do lugar onde se vive, possibilitando ao cientista alcançar, mais rapidamente, as soluções requeridas. Por essa razão, também é importante conhecer o máximo de técnicas possível, como forma de ampliar as possibilidades de uso e adaptações em diversas circunstâncias.
O GABINETE, O CAMPO E O LABORATÓRIO O uso da técnica dentro do processo de pesquisa pode, em muitos casos, ser dividido em três momentos ou espaços de trabalho: o gabinete, o campo e o laboratório. O laboratório (do latim, laboratorium, lugar de trabalhar, de labore, trabalhar) está sendo aqui considerado exatamente como um lugar de labor, de trabalho, seja equipado com instrumental específico ou não. Assim, o gabinete incorpora-se nesta acepção. De modo geral, a divisão entre gabinete e laboratório ocorre claramente em especialidades que requerem instrumentos mais específicos, como a Pedologia e a Climatologia, entre outras. O gabinete é utilizado para o planejamento e a preparação do trabalho de campo e o laboratório, stricto senso, para o trabalho de sistematização das informa-
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ções recolhidas em campo. Nas pesquisas voltadas para temáticas sociais, não raro o laboratório e o gabinete fundem-se em um mesmo espaço físico de trabalho, já que essas temáticas requerem menor uso de instrumentação específica. Embora se desenvolvam de forma mais independente dos aparatos técnicos, tais pesquisas lançam mão de boa parte das técnicas tratadas neste livro, como a aplicação de questionários e entrevistas (ver Capítulo 21 – Técnicas de Interlocução), de tratamento estatístico (ver Capítulo 22 – Estatística Descritiva em Sala de Aula), registros fotográficos e videográficos (ver Capítulo 19 – Técnicas de Fotografia e Capítulo 20 – Técnicas de Vídeo) e leitura de imagens, entre outras. Em princípio, o trabalho de gabinete auxilia no preparo do trabalho de campo, isto é, no planejamento de ações baseado em um conhecimento prévio da área de estudo. Essas ações podem envolver providências mais científicas, como o levantamento cartográfico e bibliográfico da área de estudo, a definição de pontos de observação segundo a temática e os objetivos da pesquisa, e também ações mais logísticas, como o estabelecimento de contatos com interlocutores, marcação de encontros para entrevistas, verificação das condições de segurança dos pontos de parada, consulta às previsões meteorológicas, obtenção de autorizações para entradas em Unidades de Conservação, travessia de balsas, hospedagem, além de muitas outras, sempre atreladas aos objetivos do trabalho. O momento do trabalho de campo representa o contato direto com a realidade, seja como extensão da sala de aula (aula de campo) seja para a realização de pesquisa científica. Esse contato pode ser de observação imediata ou intermediado pelo uso de técnicas e instrumentalização. Em aulas de campo, que podem ocorrer em qualquer ambiente (natural, urbano, rural e até no oceano, a depender da temática envolvida) os alunos praticam a observação orientada por conceitos apreendidos em aula (erosão, monocultura de exportação, densidade populacional etc.), além de usar algumas técnicas e manu-
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sear instrumentos. Mas, sobretudo, no campo, os alunos devem praticar a análise integrada, articulando e relacionando os fatos observados. Em pesquisas científicas, o campo é onde são gerados dados primários e confirmam-se ou ajustam-se os secundários, isto é, dados que podem corroborar ou não hipóteses de trabalho e conceitos científicos. Nesse caso, a observação em campo é mais sistemática e menos aleatória, embora o contato com a realidade quase sempre gere novas ideias que serão incorporadas como novas variáveis à análise geográfica. Isso quer dizer que, embora o contato com a realidade seja direto e sistematizado, não se tem controle assegurado sobre os processos, como se pode ter em laboratório. No campo, o pesquisador está submetido às dinâmicas da realidade que elegeu estudar. Pode haver um deslizamento de encosta ou um protesto bloqueando a estrada, uma tempestade, um apagão, uma greve. Ou seja, a dinâmica do mundo real pode nos reservar muitas surpresas, de modo que é comum que o que foi planejado no gabinete não ocorra em campo exatamente como se esperava8. Isso significa que o planejamento do trabalho de campo, como o da pesquisa, requer certa flexibilidade do pesquisador e a possibilidade de um plano B. A tecnologia incorporada cada vez mais aos instrumentos utilizados por determinadas técnicas (como imagens de satélite de alta resolução, por exemplo) pode diminuir a necessidade de campo, já que fornece informações cada vez mais precisas da realidade. Sendo uma das funções do trabalho de campo conferir as informações obtidas por outros meios, o aumento da precisão das informações pode tender a confinar o pesquisador no laboratório. Mas ele deve ter consciência do risco que existe em transformar seu trabalho no chamado “trabalho de gabinete” e, sobretudo,
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Lembro-me que, em 1988, programei um trabalho de campo para a pesquisa de mestrado, no Parque Nacional das Emas (GO), mas um incêndio de grandes proporções impossibilitou o trabalho de campo. Assim uma nova variável, relacionada à vulnerabilidade, foi incorporada à análise.
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ter clareza de que o campo e as informações que ali podem ser obtidas são insubstituíveis. Em termos gerais, o trabalho de campo é uma técnica ampla que incorpora outras mais específicas (atreladas aos diferentes objetos de estudo) e, de tão fundamental para a análise geográfica, é considerada por alguns como método, assim como o é para os antropólogos9. Esta é uma discussão que, certamente, não se esgotará aqui. O valor do trabalho de campo para os geógrafos atravessou séculos, fortalecendo-se com os naturalistas, resistindo às revoluções científicas que reformularam a Geografia e chegando ao século XXI com seu status inabalado, representando talvez o maior consenso entre os geógrafos das mais diversas tendências e formações. O trabalho de campo é, segundo Wooldridge, “fonte primária de inspiração e ideias e inspira uma grande parte tanto do problema quanto do método de nossa área de estudo” (1948:2, apud STODDARD & ADAMS, 2004, p. 53). O campo é onde a complexidade da realidade é revelada e conduzida à compreensão do geógrafo, munido de seus principais conceitos, como paisagem, espaço, região e lugar, por exemplo, os quais se materializam na realidade, dão sentido a ela e dela obtêm sentido. É onde as fronteiras acadêmicas das disciplinas deixam de fazer sentido e são substituídas por inúmeras conexões entre os fatos observados, num processo de reconstrução conceitual. No campo, a visão do geógrafo é simultaneamente multiescalar, capaz de observar desde o detalhe a seu lado até o conjunto da paisagem, multiplicando-se as possibilidades de conexões verticais (entre escalas de diferentes grandezas) e horizontais (entre os fatos simultaneamente observados). Portanto, o trabalho de campo é uma experiência insubstituível.
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Um dos métodos científicos da Antropologia refere-se à pesquisa participante, em que o pesquisador passa longo tempo nas comunidades que estuda. Ver mais informações no Capítulo 21 – Técnicas de Interlocução.
O campo também ajuda a socializar os geógrafos e os alunos, enriquecendo a vivência acadêmica e escolar, tornando o aprendizado da Geografia muito mais atraente e a pesquisa geográfica cientificamente mais legítima. O trabalho em laboratório, por sua vez, envolve o tratamento dos dados obtidos no campo, transformando-os em informações. As amostras de solo serão analisadas mais precisamente e classificadas, os questionários serão tabulados, as entrevistas serão transcritas, as fotografias serão melhoradas e os vídeos editados, os produtos cartográficos serão eventualmente corrigidos em função do que se observou no campo. Enfim, as informações devem ser sistematizadas de modo que possam ser incorporadas como base empírica da pesquisa. O laboratório ainda tem outra função acadêmico -científica. É onde também podem ser feitas simulações de fenômenos, cujo controle é mais eficiente do que em campo10; simulações que podem, por analogia, promover maior compreensão do real, a exemplo de testes de porosidade e permeabilidade de solos, simulações de balanço hídrico, simulações de entrevistas, teste de modelos (climatológicos, geomorfológicos etc.). Finalmente, o laboratório também exerce uma função mais didática, tanto em escolas como em universidades, pois é o espaço em que se promovem estágios, cuja função é, entre outras, a aquisição de determinadas habilidades e o aprendizado do uso de determinadas técnicas e instrumentos (confecção de mapas, por exemplo). Lembremos ainda que, nos estágios de ensino, a própria sala de aula é um laboratório11. Em suma, o laboratório promove um contato controlado entre o pesquisador e o tema estudado, muitas vezes intermediado por instrumentos.
10 Experimentos também são empreendidos em campo, em Geomorfologia, Climatologia, Biogeografia etc., mas exigem uma estratégia de controle mais complexa que envolve a proteção dos instrumentos, instalações, a coleta periódica das informações etc. 11 Ver Capítulo 15 – A Escola como Laboratório Vivo.
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A OBSERVAÇÃO COMO TÉCNICA PRIMORDIAL Talvez esta seja a técnica mais antiga e inata ao ser humano, já que ele passa a vida observando. Aqui, estamos considerando dois tipos de observação: aleatória e sistemática. A primeira é descomprometida de resultados; é mais contemplativa e seu nível de detalhe, velocidade, hierarquia dos fatos dependerá apenas da atenção e do interesse subjetivo do observador. Embora ela não seja metódica, contribui para o conhecimento científico, na medida em que pode gerar ideias, insights, de forma mais ou menos espontânea, não raro favorecida pelo próprio estado de relaxamento mental12. Mas como a pesquisa não pode depender do surgimento de insights, é necessário empreender uma observação mais controlada, mais heurética. A observação sistemática será dirigida ou focada em alguns alvos previamente determinados pelos objetivos da pesquisa, precisamente pelas hipóteses levantadas ou pelas variáveis analíticas selecionadas13. Quando se vai a campo observar fatos que se relacionam a um objetivo de pesquisa, o observador torna-se um sujeito e o fato observado transforma-se num objeto de estudo. Este tipo de observação pode ser considerada como uma técnica orientada pelo método analítico descritivo e, enquanto técnica, não produzirá explicações, mas lhes fornecerá as bases necessárias. Só é possível explicar o que se conhece, portanto, a observação descritiva deve ser valorizada como uma etapa primordial da pesquisa, ou o primeiro momento de qualquer conhecimento científico (ou o segundo, se considerarmos que antes de sairmos observando temos que ter uma problemática ou temas predefinidos). Mesmo em uma simples aula de campo ou em estudo do meio (que aqui não estão sendo diferenciados), é
12 É comum os alunos voltarem dos feriados e das férias com ideias novas de pesquisa. 13 Diferença que se define apenas pela forma de abordagem, ou seja, do método adotado.
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útil que o professor defina alguns temas-alvo para que a atenção dos alunos não se disperse muito. Ao diminuir a aleatoriedade da observação, é necessário preservar a visão de conjunto, tão essencial à análise geográfica integrada. A sistematização não deve ser um fator restritivo, como uma viseira limitante do campo de visão. Apenas fará com que o observador, ou melhor, o sujeito, preste mais atenção aos fatos relevados por aquela pesquisa, naquele momento, otimizando suas observações. Caso contrário, ele fica à deriva no oceano dos fatos14. A observação sistemática poderá ser operacionalizada por uma diversa gama de instrumentos. Os instrumentos óticos, como binóculos, lunetas, lupas, lentes e microscópios, atendem a diferentes objetos de estudo das diversas ciências, como a Geografia, a Biologia, a Geologia e a Astronomia. Entre tais instrumentos ainda existem aqueles que possibilitam o registro da observação, como câmeras fotográficas (ver Capítulo 19 – Técnicas de Fotografia) e câmeras de vídeo (ver Capítulo 20 – Técnicas de Vídeo). Há ainda os instrumentos métricos, como o clinômetro, com o qual se obtém a inclinação de vertentes (ver Capítulo 2 – Técnicas de Geomorfologia), o termômetro, o heliógrafo, para medir a radiação solar (ver Capítulo 5 – Técnicas de Climatologia) e muitos outros, que serão apresentados neste livro. Finalmente, existem os instrumentos de georreferenciamento que nos dão a posição geográfica e a orientação espacial dos fatos observados, como a bússola, o GPS (ver Capítulo 7 – Técnicas de Cartografia e Capítulo 10 – Técnicas de Localização e Georreferenciamento) e o próprio mapa. É conveniente ressaltar que não existe o observador ideal, capaz de realizar observações isentas de subjetividade. Não se observa para depois interpretar; a observação e a interpretação fazem parte de um mesmo processo, sendo que a segunda poderá ser refinada a posteriori. A
14 Consulte também Venturi (2008).
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observação científica, portanto, nunca será totalmente objetiva, pois sempre sofre interferências do sujeito da observação. O que será observado, em que ordem, em qual nível de detalhamento, o que será omitido ou negligenciado, tudo isso será impregnado, num bom sentido, pelo sujeito, sua história, seus valores, seu conhecimento prévio. Segundo Hanson (1992), observar é ter uma experiência que sofre interferências das experiências anteriores. A experiência acumulada apareceria na interpretação daquilo que se vê, alterando a experiência da observação. Para ilustrar essa ideia, imaginemos um geógrafo com seu filho de cinco anos passeando no centro de uma metrópole. Embora possam estar observando sensorialmente os mesmo objetos, estão tendo experiências de observação muito distintas. As diferenças da experiência da observação não existem apenas entre os sujeitos, mas em um mesmo sujeito ao longo do tempo. A observação do garoto de cinco anos mudará ao longo de sua vida, à medida que suas experiências e seus conhecimentos possibilitem a realização de novas leituras. A observação ainda envolveria outros órgãos sensoriais além da visão. Num país estrangeiro, por exemplo, uma palavra só terá algum significado caso se tenha acumulado alguma experiência linguística daquele povo, embora se possa ouvir os mesmos sons vocalizados. A linguagem usada para fazer a descrição do fato observado também será impregnada. Assim, dez observadores fariam dez diferentes relatos de observação de um mesmo fato, mesmo que tivessem os mesmos objetivos de pesquisa e a mesma formação acadêmica. São os sujeitos que observam e não os pares de olhos. Apesar dessas pluralidades, há algumas tendências comuns. Não raro, os observadores iniciarão sua observação pelo que mais chama a sua atenção, por exemplo, um edifício mais alto, um pico pontiagudo. Essa parece ser uma tendência daqueles que se iniciam na observação científica. Mas o sujeito observador deve tomar alguns cuidados. O primeiro deles refere-se à importância daquele
fato de destaque, lembrando que os fatos não têm importância científica a priori, mas são relevados pelos objetivos da pesquisa. Sendo assim, aquele edifício alto pode ter pouca importância explicativa, enquanto fatos mais sutis seriam mais relevantes. Em segundo lugar, deve-se considerar que, quase sempre, são os fatos mais comuns que ajudam a explicar a realidade e não as exceções. Certa vez, durante o percurso de um trabalho de campo, em 2007, paramos à beira da rodovia Carvalho Pinto (no estado de São Paulo) para realizarmos um exercício de observação. Havia diante de nós uma grande extensão territorial caracterizada por colinas suaves, recobertas de campos com algum cultivo e alguma pecuária em pequenas propriedades. Porém, ao fundo, víamos as escarpas continentais da Serra do Mar que “saltavam” no horizonte, fato que foi relatado com grande destaque pelos alunos. A visão dos alunos ultrapassou toda a paisagem predominante (entre o grupo e a serra) e foi atraída pelo relevo destacado ao fundo, ainda que este não fosse representativo do conjunto e nem ajudava a explicar o contexto predominante. Em outra parada, já num ambiente serrano, um pico mereceu destaque em meio a um modelado de topos convexizados. Mais uma vez, destacou-se uma exceção e tornaram-se secundárias as características predominantes da paisagem, muito mais explicativas dos processos de esculturação do relevo. Isso configura uma observação, de certa forma, passiva, como se a paisagem “ditasse” ao observador o que descrever. Enfim, existiria uma ordem para se observar os fatos da realidade? Sim, não e talvez. Sim, caso se tenha um objetivo específico, hipóteses ou variáveis já selecionadas, o que, como visto, orientaria a observação para determinados fatos. Não, caso se esteja realizando exercícios de observação descritiva, inventariando fatos que não estão necessariamente relacionados a um objetivo de pesquisa. Observações dessa natureza são exercícios úteis para praticar a linguagem adequada, o uso de conceitos, a homogeneização do nível de detalhe etc. Finalmente, talvez,
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pois há algumas sugestões em diferentes fontes, que podem ser acatadas ou não. Na perspectiva da Geografia Regional “clássica”, sugere-se iniciar as observações a partir dos aspectos físico-territoriais, para então proceder à observação das formas de ocupação e uso. Esse procedimento pode ser adequado em muitos casos, já que os tipos de uso sempre sofrem influência das características do ambiente. Há alguns autores, ainda, que estabelecem ordem de fatos observáveis. Nagel & Spencer (2000, p. 14 -18) propõem que, em áreas urbanas, por exemplo, a observação deveria ocorrer na seguinte ordem: ¾¾linhas de comunicação (ruas, estradas, aeroportos); ¾¾tipos de uso (residencial, industrial, comercial) com caracterizações internas (classe média, indústria de tecnologia, comércio de eletrônicos); ¾¾diferenciação entre áreas novas e antigas; ¾¾outros tipos de uso (terrenos baldios, espaços verdes etc.). Já as diferentes áreas de estudo da Geografia, como Biogeografia, Geomorfologia, Pedologia etc., por suas peculiaridades, trazem orientações sobre a ordem de observação dos fatos, como será visto nos capítulos subsequentes. Seja qual for o caminho da observação, uma ordem escalar deve ser considerada. É sempre conveniente iniciar a observação a partir de uma visão mais geral para, gradativamente, se chegar a detalhes, os quais farão mais sentido dentro de um contexto mais amplo. Se um fato é uma abstração momentânea de um todo, ele será mais bem compreendido tendo esse todo como referência, daí a necessidade de contextualizá-lo em conjunturas mais amplas. Além disso, o “conjunto” tem maior importância para o geógrafo, dado que seus principais conceitos (paisagem, espaço, região, lugar, território) referem-se a territorialidades mapeáveis. Os detalhes podem auxiliar na caracterização dos conjuntos. Também fazem parte da observação fatos que estão fora do alcance direto da visão, ou
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seja, que são inferíveis. Reflita sobre esta definição de observação: “A conclusão ou juízo baseado em elementos objetivos da realidade. Estes podem fundamentar-se na percepção dos sensíveis, de elementos da realidade que, embora não sejam observáveis em princípio ou de fato, no entanto, têm efeitos observáveis, como os prótons, por exemplo” (GILES, 1993, p. 112-113).
Assim, à medida que o geógrafo interioriza alguns conceitos, como o de paisagem enquanto resultado da relação entre seus componentes, mais correlações e inferências poderá fazer, ou seja, mais fatos “ocultos” poderá desvendar. Quanto mais conhecer as dinâmicas dos componentes da paisagem e do espaço, mais desvendará essências dissimuladas pelas aparências. No entanto, é preciso deixar claro, no relato da observação15, o que de fato se viu e o que foi inferido. Quando, à noite, num retorno de campo, passamos pela transição entre uma bacia sedimentar e um cinturão orogênico, vários alunos relataram ter observado essa transição estrutural. Ora, eles apenas sabiam que essa transição ocorria aproximadamente naquela área e poderiam até ter inferido esse fato pela sinuosidade que passou a caracterizar a estrada ou por alguma outra evidência ou efeito. Mas não observaram de fato, e isso tinha de ficar claro, pois as inferências são derivações interpretativas da observação e, por isso, sujeita a erros. Para apoiar as observações diretas e as inferências, o sujeito pode fazer uso de um “instrumento” muito especial: a teoria científica, composta de conceitos e leis que estabelecem relações explicativas entre os fatos e nos ajudam a tornar a realidade mais inteligível. Mas esse assunto fica para outro momento.
15 Para reforçar a ideia da descrição como relato da observação, leia o Capítulo 23 – A Redação do Trabalho de Campo.
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NA SALA DE AULA Propõe-se agora a realização de duas atividades de fixação conceitual e treino de observação.
Atividade 1 Peça aos alunos, diante de uma mesma paisagem, que a descrevam. Padronize o tempo de observação (cerca de 20 minutos16) e a extensão da descrição (uma página). É interessante que a paisagem seja rica em elementos naturais e antrópicos, pois se for muito homogênea o exercício perderá sentido. Caso não haja possibilidade de realizar este exercício fora da sala de aula ou da escola, exponha uma imagem diante dos alunos. Após o tempo previsto, peça para que cada um leia em voz alta a descrição que elaborou. Neste momento, os alunos terão consciência das influências subjetivas na observação do objeto. Discuta com eles os seguintes pontos: ¾¾Por que as observações são tão diferentes, já que a paisagem é a mesma e os alunos estão no mesmo nível escolar? ¾¾Quantos iniciaram a descrição pelos aspectos mais marcantes, e por que isso teria ocorrido? ¾¾Há aspectos da paisagem que, por serem mais sutis, foram negligenciados? ¾¾Que aspectos predominam na paisagem descrita? É mais urbana? Mais rural? Apresenta regularidade na ocupação ou é do tipo “desordenada”? ¾¾Há elementos novos e antigos coexistindo?
Atividade 2 Em sala de aula, exponha aos alunos uma imagem ou, em campo, pare diante de uma paisagem. A Figura 1.6 é um exemplo possível. a) Quais são os elementos de fato observáveis, relacionados às moradias, a aspectos naturais como vegetação, relevo etc.? b) Quais seriam os elementos inferíveis? Com auxílio das informações do Capítulo 2 deste livro (Técnicas de Geomorfologia), analise se haveria risco de deslizamento. Quais aspectos indicam isso? Veja que foi preciso acumular certo conhecimento para se poder inferir algo, para enriquecer a experiência da observação/interpretação. c) Que outros fatores poderiam ser inferidos (exclusão social, degradação ambiental etc.) e por quais indícios? Repita esta atividade, agora usando uma imagem bem diferente, como a Figura 1.7, por exemplo.
16 O tempo da observação é muito variável e quase sempre demanda mais tempo do que imaginamos, pois é útil observar a paisagem por um tempo antes de começar a descrevê-la. Os 20 minutos foram propostos apenas para viabilizar o exercício em sala de aula.
capítulo 1 – a técnica e a observação na pesquisa
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Eduardo Justiniano Eduardo Justiniano
Figura 1.6. Ocupação irregular em área de mananciais no município de São Paulo (SP), em 2006.
Figura 1.7. Agronegócio de soja. Distrito Federal, 2006.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, procurou-se argumentar em favor da técnica enquanto uma instância do processo de pesquisa, ressaltando suas características, funções, alertando para o risco de sua mitificação e, ao mesmo tempo, para possíveis preconceitos remanescentes de épocas passadas. Se, por um lado, deve-se ser criterioso com a escolha e o uso das técnicas, por outro, apenas a prática consolida seu domínio. Mesmo a observação, enquanto técnica investigativa primordial e base para a compreensão da realidade, deve ser praticada. O conhecimento enriquecerá a experiência da observação, permitindo inferências cada vez mais seguras e, assim, mais científicas. Com base nos aspectos aqui relevados, expõem-se nos capítulos subsequentes uma ampla gama de técnicas utilizadas pela Geografia e ciências afins, das quais os alunos e professores poderão fazer uso, de acordo com suas necessidades e interesses.
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REFERÊNCIAS DE APOIO Glossário
Bibliografia
Heurético: (do grego heuretikós = inventivo) diz-se do método pedagógico pelo qual se leva o aluno a descobrir por si mesmo a verdade que se lhe quer inculcar17. Inferência: 1 – conclusão deduzida por raciocínio (CUNHA, 1981, p. 435); 2 – o processo lógico ou conceitual que consiste em derivar uma proposição de outra ou de outras proposições (GILES, 1993, p. 81); 3 – admissão da verdade de uma proposição, que não é conhecida diretamente, em virtude da ligação dela com outras proposições já admitidas como verdadeiras18. Interpretação: 1 – operação pela qual o espírito passa do signo para a coisa significada ou, preferivelmente, para a ideia significada19. Subentende -se, nesta acepção, que a interpretação necessita de conhecimento. 2 – Explicação do sentido de algo […] 20. Observação: percepção atenta. A observação é a pesquisa das características diferenciadoras de uma coisa e, nessa qualidade, o primeiro momento de qualquer conhecimento científico. […] Diferencia-se a observação natural, que consiste simplesmente em perceber as coisas […] da observação científica, que consiste em ler-se instrumentos de mensura (termômetro, barômetro etc.) e que implica num certo interesse e em certos conhecimentos: a observação nunca é passiva e só notamos as coisas ou características em função de nossas disposições mentais e de nossos conhecimentos21. Tecnologia: conjunto de conhecimentos, especialmente princípios científicos, que se aplicam a um determinado ramo de atividade22 .
CUNHA, A. G. Dicionário etimológico da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. GILES, T. R. Dicionário de Filosofia – termos e filósofos. São Paulo: EPU, 1993. GRANGER, G. G. A Ciência e as ciências. São Paulo: Editora da Unesp, 1994. HANSON, N. R. Observação e interpretação. In: MORGENBESSER, S. (Org.). Filosofia da Ciência. São Paulo: Cultrix, 1992. LACOSTE, Y. Pesquisa e trabalho de campo. In: Seleção de textos, n. 11 (Série Teoria e Método). São Paulo: AGB, 1985, pp. 1-23. LENON, B. & CLEVES, P. Fieldwork techniques and projects in Geography. Londres: Collins Educational, 1996. NAGLE, G. & SPENCER, K. Geographical enquiries – skills and techniques for Geography. Londres: Nelson Thornes, 2000. SANTOS, M. A natureza do espaço – técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1997. VENTURI, L. A. B. Ensaios geográficos. São Paulo: Humanitas, 2008.
17 Novo Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 721. 18 Ibidem. 19 GOBLOT, Edmond. Le vocabulaire philosophique. Paris: Arnand Colin, 1927, p. 311. 20 JUPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário de Filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996, p. 146. 21 JULIA, Didier. Dicionário da Filosofia. Trad.: José Américo da Motta Pessanha. Rio de Janeiro: Larousse do Brasil, 1969, p. 231. 22 Idem nota 19 e 20, p. 1 360.
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SOBRE O AUTOR Luis Antonio Bittar Venturi é mestre (1993) e doutor (2001) em Ciências (Geografia Física) pela Universidade de São Paulo (USP), onde também graduou-se (1986) e licenciou-se. Atualmente, é professor doutor (RDIDP) da USP na graduação e na pós-graduação do Departamento de Geografia, orientando pesquisas de mestrado e doutorado. Atua nas áreas de Geografia dos Recursos Naturais, Teoria, Método e Técnicas de Campo e Laboratório de Pesquisa em Geografia, temas sobre os quais tem publicado artigos, livros e proferido palestras. É avaliador ad hoc pelo MEC e parecerista de instituições de fomento à pesquisa e de publicações especializadas.
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Luis Antonio Bittar Venturi (organizador)
OS AUTORES: M ARIA A LICE VENTURI M ARIA LÚCIA CEREDA G OMIDE M ÁRIO DE BIASI M ARISA DE SOUTO M ATOS FIERZ M AURO LUIZ PERON NELY ROBLES R EIS BACELLAR NÍDIA NACIB PONTUSCHKA PATRÍCIA A LBANO M AIA R EGINA A RAÚJO DE A LMEIDA R EINALDO PAUL PÉREZ M ACHADO RÚBIA G OMES MORATO SAMUEL FERNANDO A DAMI SÉRGIO R ICARDO FIORI SUELI A NGELO FURLAN TARIK R EZENDE DE A ZEVEDO VANDERLI CUSTÓDIO WALDIRENE R IBEIRO DO CARMO
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GEOGRAFIA
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O livro Geografia: Práticas de Campo, Laboratório e Sala de Aula reúne informações técnicas e conceituais da pesquisa científica produzidas por 35 professores reconhecidos por sua atuação acadêmica e docente. Apresenta fatos, conceitos e procedimentos fundamentais para a compreensão e a produção do conhecimento geográfico que auxiliarão alunos e profissionais de Geografia, Biologia, Ciências Ambientais, Ecologia e, inclusive, História e Ciências Sociais a construir instrumentos próprios de estudo e investigação sobre a sociedade e a natureza. A obra interessa também aos professores do Ensino Fundamental e Médio, pois traz subsídios para desenvolverem em sala de aula um trabalho articulado entre as teorias da Geografia e as práticas de ensino e aprendizagem dessa disciplina.
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22/06/2011 17:10:02