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Conto: Covid

COVID 19

Eu nunca pensei que veria o mundo parar Achei que Jesus antes disso iria voltar Mas, por que não veria? Sim, Ele nos guarda na Infantaria Com milícias de anjos nos protege todos os dias. Ainda que fôssemos atingidos Temos a esperança de um novo dia Novo céu, nova Terra com Cristo para sempre Por toda a eternidade.

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Heroína?! Missão nossa de cada dia...

A humanidade diariamente enfrenta um combate, e agora se depara contra o novo Coronavírus. E nessa missão estou na linha de frente. Sou enfermeira do físico e da alma, agente de transformação, zelo pela obra-prima da criação, o corpo, a morada de Deus. Enfermagem, arte e ciência do cuidar, um dom divino...

Eu não tive isolamento social; pelo contrário, trabalhei todos os dias para que você pudesse estar seguro em sua casa. Para muitos, fi car dentro de casa foi um tédio, e não um despojar da vida corrida e um ótimo tempo para o autoconhecimento e para reforçar laços afetivos. Então o que ocorreu? Emoção muito afl orada, angústia e depressão. O medo do amanhã, e os profi ssionais que foram trabalhar, será que voltarão? Todos os dias eram uma incógnita. Mas estar em sua residência foi a melhor terapia não farmacológica contra o ardiloso Corona-

vírus. Sua transmissão ocorre por gotículas e contato; sendo assim, higienizar as mãos com água e sabão ou solução alcoólica a 70% salva vidas, além de outros cuidados com a limpeza, etiqueta da tosse e o uso correto da máscara como um mecanismo de barreira.

Estar na linha de frente não é fácil, não. Face marcada, machucada pelo equipamento de proteção, além de toda paramentação, cansaço físico e mental. O que vi todos os dias foi a síndrome respiratória aguda grave: preparar, organizar todo o ambiente para a intubação, saturação caindo, instabilidade hemodinâmica, noradrenalina, bombas e mais bombas de infusão, ECG, “e o pulso, ainda pulsa”; cada segundo fazendo a diferença entre a vida e a morte, cuidados intensivos, essa é uma pequena amostra da rotina de um CTI (Centro de Terapia Intensiva). Ver amigos, vizinhos, colegas de trabalho tendo suas vidas ceifadas. Tamanha era a dor, porém uma alegria era ver aqueles que conseguiram vencer e renascer. Ambiente de terror, corpos e mais corpos, estatísticas crescentes e alarmantes... mais um óbito. E, paradoxalmente, foi a vez do outro lutar por sua vida, pois havia uma fila aguardando uma vaga. O que se foi era o amor de alguém. Só quem viveu na pele pode, de fato, compreender. Fomos ovacionados e chamados de heróis, todos aqueles que atuam na área da saúde. Mas fazemos isso todos os dias, afinal é a nossa missão.

Eu gostaria de contar algo que vai além da ciência e da segurança do Equipamento de Proteção Individual, é sobrenatural, é a fé, é depositar a confiança naquele que é digno de confiança. Não pude me isolar dos meus pais, estes já idosos, e minha mãe imunodeprimida devido uma doença autoimune. Tenho uma irmã deficiente auditiva e que possui transtorno bipolar. Eu não pude me afastar, mas tomei alguns cuidados, mantive a distância, usava máscara, atitudes responsáveis para resguardar a vida dos que tanto amo. Contudo, em algum momento isso poderia falhar. Sabe o que fiz? Cri! Orei, clamei e declarei que havia sangue nos umbrais da minha porta, pois o mesmo Deus que guardou seu povo contra a praga do Egito é o mesmo Deus que continua realizando milagres. Pois a fé vai além da razão; ainda que seja pequena, esta remove até montanhas e nos blinda contra o Coronavírus.

Eu orava e cantava: “Tem sangue nos umbrais das portas, aqui o mal não vai entrar, minha casa está firmada na Rocha, nenhum mal me sucederá... Mesmo assim pedirei, sara esta nação da qual tu És o Rei…”

Agradeço de todo o coração a você que reservou um tempinho para orar por aqueles que atuam na linha de frente. Ainda que perdas tenham acontecido, vamos ressignificar e superar, mudar conceitos e dar valor à vida, amar mais e melhor.

A vida é como uma chama de vela, onde o sopro apaga. Mas não perca a esperança, mesmo que uma lágrima caia do teu olhar. “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Apocalipse 21:4).

Renata Vasconcelos é escritora na Upbooks. Sigam no Instagram: @re.vasconceloss

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