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Ruínas e Redenção

M. C. Martins

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É... Aquele mundo em que eu vivia acabou. Fora de mim e dentro de mim. Era um mundo de certezas e agora é um mundo de espanto e perplexidades. Eu tinha um emprego, mas não tenho mais. Eu era otimista e agora careço de esperanças... Eu andava nas ruas e via sorrisos, mas os sorrisos todos viraram máscaras. Eu tinha mil planos, mas foram modifi cados... Eu nunca pensava na morte, no entanto, ando pensando. Eu só vivia a vida, mas ando mais pensando do que vivendo...

Sou um escritor. De fi cção científi ca. E agora me sinto dentro de uma estória estranha e enigmática. Aqui dentro do apartamento, quase o tempo todo. Sem ninguém, da sala pro quarto e do quarto pra cozinha ou banheiro... Uma janela com grade, onde vejo o mundo, debruçado no mármore, quando anoitece, depois de escrever algumas horas durante a tarde... Pela manhã, bebo quatro ou cinco xícaras de café. Faço uma curta oração, por costume e tradição. Vejo o noticiário, com um sentimento de angústia pelo que ocorre. Estatísticas de corpos sem vida. E discussões ideológicas sobre um vírus sinistro.

Na TV, um dia desses, vi um fi lme sobre juízo divino, punindo a humanidade pecadora. Em seguida vi outro fi lme, onde uma elite global planejava o despovoamento do planeta, através de um governo único controlado por forças extraterrestres. Fiquei pensativo o resto da noite... Desliguei a TV, depois de cochilar no sofá e andei pela sala, em círculo, com uma sensação de solidão cósmica. Até que lembrei de uma amiga que sempre me dizia para não pensar muito no impensável. Fui tomar um banho quente pra esquecer da vida...

No primeiro instante de tudo isso, eu estava trabalhando como professor de literatura. Mas fui mandado embora, por excesso de atrasos. Uma pena. Lamento o fi m daquelas aulas onde eu lia trechos de Homero, Dante, Shakespeare, Dostoiévsky, Kafk a, Jane Austen, C.S.Lewis, Lima Barreto, Dorothy Sayers, Stephen King... amava os olhos fi tos em mim e as mentes em ebulição. Que normalidade sublime. Até que o inesperado e sombrio inverno

“Lamento o fi m daquelas aulas onde eu lia trechos de

Homero, Dante, Shakespeare,

Dostoiévsky, Kafk a, Jane

Austen, C.S.Lewis, Lima

Barreto, Dorothy Sayers,

Stephen King... amava os olhos fi tos em mim e as mentes em ebulição.”

chegou. Senti-me sugado para dentro de um vazio existencial. Meu pequeno universo de sentido pessoal perdeu parte de seu sentido e o planeta sucumbiu diante de meus olhos.

Entretanto, fi z um cálculo, olhando as ruas vazias e o medo das pessoas. Gastar o mínimo. Viver o máximo. Escrever sem parar. Dançar dentro de casa, comigo mesmo. Olhar todos os dias, o anoitecer. Telefonar para amigos fi éis. Lembrar que Deus existe. Dormir um bom sono. Ouvir as vozes das crianças do andar de baixo. Acordar com o sol batendo no meu rosto. Fazer planos ainda que não houvesse futuro e sorrir diante do espelho. Escrevi em um caderno com a capa da praia de Copacabana e assinei.

Um dia. Já não me lembro se foi um sábado ou domingo, acordei de madrugada. Fui para a janela e vi estrelas lindas no céu... Um senso de extraordinária paz interior me alcançou, diante da beleza que observava. A ideia de um Criador bom e criativo fez sentido como nunca antes fi zera. Pensei: Ele criou cores, formas, estações, pássaros, o vento, estrelas e o seres humanos... Fixei meu olhar no infi nito e perguntei dentro de mim o porquê da existência de tudo e o porquê da minha existência... Só perguntei... Não esperei nenhuma resposta no estrondo de um trovão ou no clarão de um relâmpago. O silêncio suave foi a resposta que eu quis. Eu tinha consciência de ser o fi nito diante do infi nito. Mas uma atmosfera sublime Fui para a janela e vi estrelas lindas no céu... Um “ senso de extraordinária paz interior me alcançou, diante da beleza que observava. A ideia de um Criador bom e criativo fez sentido como nunca antes fi zera.” impregnou o meu ser de amor. Da ideia do amor. Como se um sussurro sutil estivesse me dizendo que tudo foi feito por causa do amor... Encostei a testa no vidro da janela. Uma lágrima rolou do lado esquerdo do meu rosto. Às vezes é bom chorar... Senti -me reconciliado com o mistério da vida. Deus me pareceu, naquela noite, tão real, como minha própria existência... Houve uma mudança em mim. Eu não ia mais olhar Deus como o que a razão explica, mas iria olhar a própria razão explicada, por causa de Deus. Isto fi cou claro, muito claro... Foi a noite imprescindível da minha vida... A paz perfeita. Sem drogas, sem bebidas, sem gozos profanos... O que veio depois foi um sono feliz.

Acordei, quando amanheceu, sem tensões opressoras na alma. Peguei uma Bíblia e li um dos Evangelhos, o de Marcos. Em cada milagre sentia um impacto da realidade que a presença de Deus entre nós pode propiciar. É fascinante. Achei tudo tão puro.

Notei que minha interioridade humana pulsava, enquanto a mente reproduzia as palavras do Texto Sagrado. Olhei a chuva fi na lá fora e imaginei ser bem possível que mãos invisíveis estivessem moldando um novo ser dentro do meu ser. Confessei meus pecados... Não achei absurdo fazer isto... Era quase onze da manhã. Levantei e olhei a rua quase deserta. Calçadas sujas. Uma padaria. Uma banca de jornal. E dois gatos debaixo de um banco velho de madeira. Dei meia-volta e pus sobre a mesa uma caneta azul e umas folhas em branco, para qualquer momento de inspiração fi ccional-teológica...

O dia voou. Já anoiteceu. Estou quieto. Enrolado no lençol, no sofá velho. Já são oito horas e faz frio. Preparei, minutos depois, um sanduíche com ovo e presunto. Escovei os dentes e voltei a deitar. Dormi quase quarenta minutos. Tornei a levantar e avaliei o trabalho do prefácio para a editora Voz da África. Um livro de contos escrito por adolescentes afro-brasileiros, das comunidades proletárias de São Paulo. Gostei das histórias... com paixão, força, sangue, esperança, mistério, indignação e sensibilidade... Depois pedi uma pizza

“Tempo de quarentenas, choros, dúvidas, sepultamentos, solidão, suicídios e inquietações psíquicas. O velho mundo pré-pandemia desmoronou.

Para muitos, o que restou são ruínas e horizontes apocalípticos... Mas não desisto.

com salaminho, cebola e queijo ralado. Pintei duas telas pequenas, com imagens de folhas sendo carregadas pelo vento, em uma estrada sem fi m... Liguei a televisão e vi que o assunto ainda era o mesmo: pandemia, cadáveres, conspiração, crises, pessimismo religioso e expectativas científi cas... Desliguei em seguida. Relâmpagos fortes cortaram o céu... Gosto de chuvas, mas me assustei... Encostei o ouvido na parede, para ver se ouvia o velho Virgílio murmurando contra a vida... Nada. Acho que ele já dormiu, como sempre...

Escrevi no meu diário, que já se passou um tempo interminável. Tempo de quarentenas, choros, dúvidas, sepultamentos, solidão, suicídios e inquietações psíquicas. O velho mundo pré-pandemia desmoronou. Para muitos, o que restou são ruínas e horizontes apocalípticos... Mas não desisto. E escrevi essa frase com letras maiúsculas. Pois sinto que a fé me potencializa, agora, mais do que nunca, com os mais nobres sentimentos do universo. Estou imbuído de uma profunda certeza de propósitos em cada palavra que escrevo, cada pensamento pensado e cada sentimento construído. Existe um Deus lá fora e aqui na minha consciência mais profunda. Isto é que é um milagre. Não somente o que Deus faz, mas a convicção minuciosa de que Ele é o absoluto da existência, ou seja, a razão de ser de tudo que é ou poderia ter sido... Adormeci, sob o impacto da grandeza de Deus.

Essa noite, sonhei... Vi uma cidade, que brilhava, como se o sol estivesse dentro dela... Eu caminhava em sua direção. Era um caminho bem estreito, cercado, em

“Respirei fundo e pensei no sonho... Falei pra mim mesmo que eu tinha visitado a eternidade... Levantei e preparei um chá de hortelã. Acendi uma luz fraca, que fi cava sobre a estante. Sentei e fui escrever um pouco...

ambos os lados, por fl ores de todas as cores imagináveis. Borboletas azuis bailavam entre as fl ores... Às vezes, coelhos, tigres, leões e tatus atravessavam de um lado para o outro e desapareciam no meio das fl ores... Eu tinha a emoção de quem voltava para casa, depois de uma longa e cansativa viagem... Olhei para o alto e vi que o céu era dourado, suavemente dourado. E uma brisa suave tocava meu rosto... Fui me aproximando da cidade. Seus muros eram altos e formosos... Apressei meus passos. E parei diante de um imenso portal, que se abriu suavemente... Ouvi um som de violino. Meigo som. Eu não poderia descrever a beleza daquela canção... Atravessei o portal e olhei para trás. Um cenário de árvores gigantescas, montanhas e pássaros incríveis, em harmonia perfeita... Virei para ver o mundo interior da cidade e acordei... estava agora na escuridão da minha sala. Respirei fundo e pensei no sonho... Falei pra mim mesmo que eu tinha visitado a eternidade... Levantei e preparei um chá de hortelã. Acendi uma luz fraca, que fi cava sobre a estante. Sentei e fui escrever um pouco... estourou uma guerra envolvendo o Egito, o Irã, a Síria e Israel, com a interferência da Rússia e dos EUA. Em Paris, explodiram bombas em dois prédios do governo, com grande número de mortos e feridos. E na China foi detectado o surgimento de outro vírus letal... Abaixei minha cabeça sobre as pernas e orei pela humanidade por alguns minutos... Levantei-me do sofá e vi que era bem cedo. Troquei de roupa e saí... Passei no restaurante popular e fi z seis quentinhas. Fui para a praça dos Apóstolos e reuni seis desvalidos. Distribuí a comida e contei sobre Jesus... Afastei-me dez minutos depois. Acenei para eles e senti que de fato tinha amor dentro de mim pelas pessoas. Então, é verdade mesmo... Quase chorei, atravessando uma rua... Olhei as pessoas, embora ninguém olhasse pra mim. Parei em esquinas... Sentei em um banco, ao lado de um chafariz com a estátua de um anjo. Tirei por um momento a máscara, percebendo que não havia ninguém próximo. Estiquei as pernas. Cruzei os braços. E disse para Deus: Seja feita a tua vontade... Olhei ao redor e senti que eram muitas as ruínas, mas sempre haverá redenção...

Moisés Martins é ministro Batista, Bacharel em Teologia, Licenciado em História, Pós-Graduado em História Moderna e Filosofi a, e Mestre e Doutorando em Ciência da Religião. É escritor na Upbooks.

NEUROPSICOLOGIA DA CONJUGALIDADE 3 NOITES DE IMERSÃO PSICOLÓGICA EM CONJUGALIDADE

Período de 23 a 27 de março de 2022. Palestrante: Psi Frank Ribeiro (CRP-03/7397).

Roteiro programado:

1 - Transfer (ida e volta) do aeroporto de Porto Alegre para Gramado. 2 - Hospedagem no hotel Serra Azul em Gramado com café e jantar. 3 - City tour pelos principais pontos turísticos de Gramado e Canela. 4 - Visitação a uma fábrica de chocolate. 5 - Visitação ao mini-mundo. 6 - Passeio no trem Maria Fumaça e Epopeia Italiana, saindo de Carlos Barbosa para Bento Gonçalves. 7 - Visitação a uma vinícola. 8 - Duas Palestras. 9 - Um exemplar dos dois livros que tematizam as palestras, por casal, a ser entregue no Check-in no hotel. 10 - Dinâmicas e sorteios. 11 - Análise diagnóstica da manutenção conjugal. 12 - 50% de desconto sobre o KIT 1 da Série Conjugalidade (até 6 meses após o evento) – veja o KIT 1 SÉRIE CONJUGALIDADE. 13 - Cerimônia de celebração da renovação das alianças. 14 - Um Feedback Conjugal pós-evento, com agendamento prévio, a ser realizado online numa plataforma de vídeo chamada.

Obs.: todos os ingressos aos locais de visitação estão inclusos.

O MELHOR É: Tudo isso por apenas R$ 4.870,00 por casal Em 13 parcelas de R$ 374,62 de 02/2021 a 02/2022. Formas de pagamento: Boleto bancário ou no cartão de crédito.

Obs.: NÃO ESTÃO INCLUSOS NO PACOTE AS PASSAGENS AÉREAS, OS ALMOÇOS E AS BEBIDAS.

Contato: (86)9.9814-6099 - Ana Maria Agencia: Atalaia Tur Faça já a sua reserva!!!!

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