Para ganhar a guerra: as 25 melhores táticas de todos os tempos by Zahar

Rob Johnson, Michael Whitby, John France

Para ganhar a guerra As 25 melhores táticas de todos os tempos

Tradução:

Alexandre Martins

Este livro é dedicado ao tenente S.K. Horn, do Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos, ao tenente H. Levy, da Força Aérea dos Estados Unidos, e a todos os seus camaradas das Forças Armadas.

Título original: How to Win on the Battlefield (The 25 Key Tactics of All Time) Tradução autorizada da primeira edição inglesa, publicada em 200 por Thames & Hudson, de Londres, Inglaterra Copyright © 200 Thames & Hudson Ltd., Londres Copyright da edição brasileira © 202: Jorge Zahar Editor Ltda. rua Marquês de São Vicente 99 – o | 2245-04 Rio de Janeiro, rj tel (2) 2529-4750 | fax (2) 2529-4787 editora@zahar.com.br | www.zahar.com.br Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.60/98) Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Preparação: Diogo Henriques | Revisão: édio Pullig, Tamara Sender Indexação: Geísa Pimentel Duque Estrada Projeto gráfico: Carolina Falcão e Mari Taboada| Capa: Jussara Fino Fotos da capa: © Imperial War Museum, Londres; Bibliothèque Municipale, Amiens cip -Brasil. Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, rj Johnson, Robert, 967 J65c Para ganhar a guerra: as 25 melhores táticas de todos os tempos / Rob Johnson, Michael Whitby, John France; tradução Alexandre Martins. – Rio de Janeiro: Zahar, 202. il. Tradução de: How to win on the battlefield: the 25 key tactics of all time isbn 978-85-378-0905- . Tática. 2. Ciência militar – História. I. Whitby, Michael. II. France, John. III. Título. cdd: 355.02 2-4783 cdu: 355.0

Sumário

Prefácio Vencer no campo de batalha: os objetivos e princípios da guerra

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. O ataque ao centro de gravidade El Alamein, 942 Análise

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2. Contra-ataque Cambrai, 97 Análise

3. Ataque surpresa e emboscada Floresta de Teutoburgo, 9 d.C. A Guerra dos Seis Dias, 967 Análise

4. Cerco e duplo cerco Walaja, 633 Operação Uranus, 943 Análise

5. Flanqueamento Bouvines, 24 Chancellorsville, 863 Análise

6. Domínio do terreno e utilização do ambiente Horice, 423 Leuthen, 757 Análise

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9  23 24 30 33 34 40 43 44 45 52 55 56 58 63 65 67 70 73 75 78 80 84

7. Ataque escalonado Leuctra, 37 a.C. Análise

8. Comprometimento da reserva Estrasburgo, 357 Austerlitz, 805 Análise

9. Blitzkrieg Khalkin Gol, 939 Operação Tempestade de Agosto, Campanha da Manchúria, 945 Análise

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0. Concentração de poder de fogo Carrhae, 53 a.C. Omdurman, 898 Análise

. Ação de choque Arsuf, 9 Balaclava, 854 Análise

2. Coordenação de fogo e deslocamento Cerignola, 503 A Linha Hindenburg, 98 Análise

3. Concentração e auge de força Jagdgeschwader, frente ocidental, 96-7 Midway, 942 Análise

4. Tomar e manter a iniciativa Eben Emael, 940 Ponte Pegasus, 944 Análise

87 88 9 93 94 96 0 03 06 09 0 3 5 7 2 23 24 28 32 35 36 37 44 47 48 53 57 59 62 65 67

5. Desequilibrar e conter Trafalgar, 805 Análise

6. Massa A Campanha Overland, 864-65 Análise

7. Defesa em profundidade Alésia, 52 a.C. Kursk, 943 Análise

8. Ataque estratégico e defesa tática Panipat, 526 Yom Kippur, 973 Análise

9. Atrair o inimigo Hattin, 87 Napoleão na Rússia, 82 Análise

20. Dissimulação e fingimento Kurikara, 83 Q-Ships, 95-7 Análise

2. Terrorismo e guerra psicológica Tebas, 335 a.C. Terrorismo palestino, 950-99 Análise

22. Atrito e aniquilação Verdun, 96 Análise

69 7 76 79 80 86 89 9 94 96 99 200 203 207 209 20 25 27 29 22 223 226 229 230 233 236 239 24o 247

23. Coleta de informações e reconhecimento A Batalha do Atlântico, 94-45 Cabo Matapan, 94 North Cape, 943 Análise

24. Insurgência e guerra de guerrilha China, 934-49 Vietnã, 956-75 Análise

25. Contrainsurgência Malásia, 948-60 Análise

Conclusão: Para vencer no campo de batalha Notas Outras leituras Créditos das ilustrações Índice remissivo

249 250 253 256 258 26 262 264 267 269 270 275 277 283 294 303 305

Prefácio

Ao longo da história, líderes militares enfrentaram o dilema de formular o plano tático correto para conseguir a vitória no campo de batalha. Muito depende da preparação para esse momento: ter as estruturas de força e o poderio corretos, níveis adequados de treinamento e moral ou ocupação das posições mais vantajosas. Contudo, quando a luta começa, os comandantes devem buscar usar as forças à sua disposição de forma decisiva. Neste livro nós examinamos e depois analisamos, em uma série de estudos de caso, 25 das táticas mais importantes empregadas em terra, mar e ar. Elas são ilustradas com exemplos de todo o planeta e ao longo da história, de modo a demonstrar o valor duradouro de cada uma delas. Embora grande parte do atual debate intelectual sobre a guerra se concentre no que é novo, ou mesmo “pós-moderno”, estamos ansiosos para mostrar que – a despeito de mudanças óbvias em armamento, tecnologia e mobilidade – certas técnicas e certos princípios decisivos aplicados com sucesso nos confrontos militares do passado ainda hoje são relevantes. Como muitas obras de história militar se concentram de forma limitada no Ocidente, selecionamos exemplos de espectro o mais amplo possível e tentamos chamar atenção para algumas batalhas menos conhecidas. Nossa intenção é destacar a função de cada conceito tático em seu contexto histórico. 9

Para ganhar a guerra

Como autores, combinamos nossas áreas de conhecimento e pesquisa acadêmica, de modo que Rob Johnson escreveu os segmentos sobre guerra na Idade Moderna, Michael Whitby ofereceu contrastes e comparações com exemplos do período antigo e John France se concentrou em batalhas da Era Medieval. Rob Johnson, Michael Whitby e John France

Vencer no campo de batalha: os objetivos e princípios da guerra

Quais são as táticas de guerra mais bem-sucedidas empregadas no campo de batalha ao longo das eras? E o que podemos aprender com elas hoje? Táticas são as técnicas e os planos de curto prazo utilizados para superar o inimigo, normalmente quando em contato próximo, incluindo as habilidades e manobras que melhor utilizam as próprias forças. Táticas fazem parte do quadro de uma estratégia, que é o plano de longo prazo ou ideia condutora, envolvendo a administração e a manobra de forças e ativos em uma campanha bélica, com o objetivo de ter sucesso. Este livro estuda o conceito de tática por intermédio de uma série de análises de casos. A história militar não pode oferecer fórmulas de sucesso garantido na guerra moderna, mas um exame das técnicas e manobras de comandantes do passado revela padrões e princípios que podem ser instrutivos. Um estudo atento dos grandes teóricos da guerra também pode ser esclarecedor. Talvez o mais antigo deles seja o estrategista chinês Sun Tzu, considerado o autor do influente e ainda amplamente lido A arte da guerra, embora sua época – e mesmo sua existência – seja incerta. Dois dos mais famosos teóricos da guerra estiveram ligados, de formas diferentes, a Napoleão. Antoine-Henry, depois barão de Jomini (779-869), lutou nos exércitos napoleônicos e esteve presente na Bata11

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lha de Austerlitz. O prussiano Carl von Clausewitz (780-83), cuja obra mais famosa foi traduzida como Da guerra, serviu durante as guerras revolucionárias e napoleônicas e foi profundamente influenciado pela experiência de combater Napoleão.

Os princípios da guerra O barão de Jomini de fato sugeriu que não era possível uma teoria da estratégia e que, para obter a vitória no campo de batalha, as decisões dos comandantes tinham de se basear em uma combinação de intuição, experiência e compreensão dos princípios da guerra.¹ Os preceitos mais comuns, no campo de batalha ou fora dele, podem ser resumidos assim: O objetivo. Uma política ou meta clara e coerente é a primeira prioridade. Isso também demanda uma correlação de objetivos e meios de modo a que uma vitória militar coincida com a conquista de um objetivo político. Ofensiva. A vitória depende de tomar e manter a iniciativa por intermédio da ação ofensiva, mas também demanda uma clara identificação do centro de gravidade do inimigo e sua derrota ali (ver ). Mesmo quando obrigado a uma postura defensiva, deve-se buscar todas as oportunidades de desequilibrar o inimigo e retomar a iniciativa, já que é muito difícil conseguir a vitória com uma postura puramente reativa. Alexandre o Grande compreendia que todas as manobras deviam ser executadas com disposição ousada; isso e sua motivação pessoal garantiram a ele um dos maiores impérios do mundo.

Iluminura de um manuscrito do final do século XIV sobre a Batalha de Bouvines: os ousados ataques aos flancos e a ação disciplinada da cavalaria francesa deram a vitória a Filipe Augusto.

Cooperação. A coordenação de aliados e objetivos, armas e logística é um componente fundamental do sucesso. Concentração de força. Clausewitz, talvez o estrategista ocidental mais conhecido, argumentou que a concentração de força era, isoladamente, o princípio de guerra mais importante, já que garante a superioridade local em um ponto geográfico crítico (ver 3). Num plano mais amplo, isso também implica que combater mais de um inimigo de cada vez é algo a ser evitado, devendo-se buscar dividir as forças inimigas. Economia de força. A distribuição eficaz dos recursos exige boa administração, mas isso é especialmente importante se um comandante pretende conseguir a vitória em um conflito breve e decisivo em vez de arriscar uma longa e desgastante guerra de atrito. A exceção a isso é a estratégia do insurgente, que demanda preservação de pessoal, enquanto o inimigo é esgotado em um período prolongado. Manobra, surpresa e dissimulação. Para Sun Tzu a mais elevada arte da guerra consistia em produzir uma vitória sem recorrer absolutamente às armas, e isso podia ser conseguido com uma combinação de manobra, dissimulação e boa coleta de informações. A manobra para a posição certa torna possível todos os outros princípios.

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Segurança. A boa segurança é fundamental de modo a evitar ser enganado, mas também é imperativo ser capaz de avaliar as forças e fraquezas do inimigo, seus movimentos e até mesmo suas prováveis intenções. Conflitos entre Estados são inevitáveis em função de interesses opostos, mas num plano mais amplo algumas guerras ou batalhas podem ser evitadas recorrendo-se a segurança, diplomacia, dissimulação, dissuasão e manobra. Simplicidade. Considerando-se a complexidade dos conflitos e a necessidade de reagir a – bem como iniciar – operações, planos simples têm maior chance de sucesso.

Clausewitz: Da guerra Um guia pragmático mas refletido de operações de campo de batalha pode ser encontrado nos escritos de Carl von Clausewitz.² Sua obra, publicada postumamente, é complexa e pode algumas vezes parecer contraditória. Contudo, é claro que Clausewitz estava ansioso para analisar a guerra em um nível bem mais profundo do que as táticas e manobras simples de sua própria época. Ele argumentava que a guerra era fundamentalmente violência sem limites naturais, e, consequentemente, seu único propósito era produzir combates. A guerra, observou ele, é uma extensão da vontade política com a utilização de outros meios, e afirmar a disposição de um exército é o objetivo de uma campanha. Postergação, dissimulação e ardis com frequência podem ser perda de tempo, já que não produzem conclusões decisivas. Em seus escritos, Carl von Clausewitz capturou a essência da guerra em sua época, mas suas ideias ainda ecoam hoje.

Napoleão em campanha em 1814: suas vitórias foram resultado não apenas de sua capacidade de avaliação e rapidez de manobra, mas também da habilidade em compreender o que motivava os homens na guerra e na paz.

Clausewitz tinha consciência de que, a despeito desses elementos básicos simples, a guerra ainda pertence ao reino do acaso. Sendo a guerra um conflito de vontades, ela raramente é decidida em um único golpe. Sempre ocorre em um ambiente de “atrito” ou em uma “névoa”, de modo que planos cuidadosamente elaborados podem ser prejudicados por mudanças nas decisões e ações do inimigo, pelo clima ou mesmo por acasos. Mas também havia padrões mais previsíveis. Sem dúvida pensando na desastrosa invasão e retirada da Rússia por Napoleão em 82 (ver p.25), Clausewitz postulou que o ataque enfraquece à medida que penetra mais fundo em território inimigo e, não sendo detido de alguma forma, atinge um ponto culminante em que é reduzido à mesma força do defensor. Contudo, identificar esse momento é extremamente difícil, e exige a avaliação de um general brilhante. Clausewitz certamente tinha consciência de que líderes excepcionais podiam ter uma influência decisiva na guerra. Ele considerava Napoleão um gênio militar e achava que,

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embora não fosse possível “ensinar” a outros os atributos que ele possuía, estes podiam ser encorajados e desenvolvidos. Por outro lado, reconhecia que todos os homens têm seus limites – seu moral pode afetar uma campanha ou batalha, e eles com frequência estão sujeitos a fadiga, medo e fracasso. Também reconhecia a dificuldade específica enfrentada por soldados regulares profissionais durante o combate a uma insurgência. Clausewitz via a guerra como uma “marcante trindade”, uma correlação de violência, acaso e objetivo racional, intelectual e político. O mais fascinante em Clausewitz é sua capacidade de articular essa combinação com tanta eficácia. Ele não ofereceu um guia para a vitória, mas esclareceu o objetivo da guerra: “desarmar” o inimigo e torná-lo politicamente desamparado e militarmente impotente por intermédio do combate. Destacou que os líderes devem avaliar em que tipo de conflito estão envolvidos e, portanto, quais recursos devem ser dedicados a ele. Também achava que os generais deviam ter liberdade de ação a partir do início da guerra, sem interferência política. Defendeu o estabelecimento de uma ampla coalizão e o treinamento e a preparação das tropas antes do início dos combates. Acima de tudo, insistiu na necessidade de que a determinação de vencer fosse inculcada em todos. Tal determinação garante que as forças estejam dispostas a sofrer baixas e ainda assim lutar para atingir os objetivos estabelecidos. Afirmou que, caso tenham mais determinação e recursos, devem avançar e usar a força máxima disponível no início para conseguir a vitória no tempo mais curto. Esse resultado é mais provável, argumentou ele, destruindo em batalha o exército inimigo – o centro de gravidade. A abordagem de Clausewitz para a vitória no campo de batalha é acompanhada atentamente neste livro. Seus princípios fundamentais de ataque, concentração e continuidade, o valor de reconhecer o atrito da guerra, ainda assim planejando com flexibilidade, bem como suas outras ideias, sustentam o que é apresentado aqui. Contudo, embora reconhecendo suas críticas a alguns dos aspectos periféricos da guerra – como suas dúvidas quanto à utilidade de manobra, dissimulação e coleta de informações –, essas táticas são incorporadas porque também se mostraram decisivas.

Vencer no campo de batalha

A utilidade da experiência Clausewitz observou que nem todas as guerras são iguais, e há riscos inerentes em tentar fazer comparações em períodos históricos amplos. Mas há algum mérito em ser capaz de relacionar ideias teóricas dessa forma, de modo a testar sua validade e demonstrar sua universalidade. O objetivo aqui não é comparar as batalhas, mas o conceito. Poderíamos ter incluído muito mais técnicas, mas as 25 táticas estudadas aqui foram escolhidas por sua importância e variedade. As primeiras cinco lidam com ataque e contra-ataque, ou manobras especificamente associadas a isso. Os exemplos históricos mostram como alguns desses conceitos operacionais foram desenvolvidos após muita reflexão, como no caso da Batalha de El Alamein, de Montgomery (942), enquanto outros, como a ousada marcha pelos flancos de Robert E. Lee em Chancellorsville (863), surgiram de inspiração apressada, porém brilhante. A tática 6 reconhece como o ambiente pode desempenhar um papel na vitória quando usado como uma vantagem, enquanto os conceitos 7, 8 e 9 exemplificam como usar os ativos com efeito máximo. O ponto central em 0 a 3 é a manobra, ao passo que 4 e 5 dizem respeito à psicologia de tomar a iniciativa e desequilibrar o inimigo. A tática 6 destaca o valor de peso e número, enquanto 7, 8 e 9 oferecem indícios de como uma defesa tática pode ser conduzida para produzir vitórias, ou pelo menos as oportunidades para elas. Em 20 e 2 retornamos à questão da psicologia, lidando especificamente com dissimulações e terror. O atrito como ferramenta de vitória é analisado em 22, e 23 resume a contribuição que pode ser dada pela coleta de informações. Os dois últimos conceitos trazem o livro ao presente, com insurgência e contrainsurgência. Há em uma obra como esta, claro, o risco de uma ênfase exagerada em manobras no campo de batalha, quando as guerras com frequência são decididas por outros meios. Cercos e campanhas navais, por exemplo, produziram reiteradas vitórias estratégicas sem o drama das batalhas. Alianças e coalizões sempre foram importantes para o resultado de um conflito, mas histórias nacionais isoladas têm a tendência a reduzir ou

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mesmo ignorar esse aspecto decisivo. Acima de tudo, todas as operações apresentadas neste livro, embora tendo alguns princípios comuns e pontos de comparação, foram conduzidas em condições enormemente diferentes, e seria enganoso dar a impressão de que batalhas sempre foram os únicos árbitros da vitória. Os conceitos táticos escolhidos para análise aqui são aqueles que permaneceram importantes, a despeito de mudanças evidentes na tecnologia ao longo da história. Sempre é fácil subestimar o impacto da tecnologia como determinante para a vitória. Depois da Primeira Guerra Mundial

O Scharnhorst, epítome tecnológico do navio de guerra de seu tempo, ainda assim era vulnerável a aeronaves transportadas por porta-aviões e torpedos.

Vencer no campo de batalha

acreditava-se que o poder aéreo, sozinho, permitiria aos Estados submeter e, portanto, dominar as cidades de seus inimigos, e talvez derrubar seu moral por intermédio de bombardeios.³ Mas a utilização do poder aéreo não se provou uma estratégia de sucesso – é necessária uma combinação de forças terrestres e navais. O general de divisão J.F.C. Fuller, oficial de blindados da Primeira Guerra Mundial e historiador militar, desenvolveu no entreguerras a primeira doutrina blindada, abraçada entusiasmadamente pelo exército alemão, mas ele acreditava que os blindados ainda tinham de ser usados em concerto com as outras armas. De fato, a Segunda Guerra Mundial indicou que todas as novas tecnologias têm de ser criadas no contexto de operações combinadas de modo a alcançarem sucesso. Nenhuma Wunderwaffe (“arma maravilhosa”) isolada oferece a garantia de vitória. Após os anos 940 imaginou-se que as armas nucleares, considerandose seus efeitos devastadores, tinham valor estratégico “absoluto”. Contudo, as potências que delas dispunham não ficaram imunes a guerras, embora provavelmente tenham sido protegidas de uma guerra total. Um estudo do impacto da tecnologia na guerra pode produzir momentos de mudança convincentes, mas um exame mais atento dos exemplos históricos sugere que a confiança em uma nova tecnologia por si só não foi suficiente para produzir uma vitória, e isso vale para os mais devastadores sistemas bélicos. Dito isso, um cenário inteiramente distinto seria criado por atores que não Estados, como por exemplo terroristas, usando armas nucleares ou outras armas radioativas, químicas ou biológicas de destruição em massa.⁴ O uso estratégico inteligente de uma arma assim tornaria impossível um contra-ataque nuclear. Deixando de lado as implicações morais de tal ataque, do ponto de vista militar isso simplesmente reflete a necessidade que qualquer beligerante tem de descobrir e explorar as fraquezas de seu inimigo. Isso destaca de forma mais geral o problema enfrentado por especialistas táticos que lidam com conflitos assimétricos – isto é, aqueles em que poderosas forças convencionais são consumidas pelas táticas de desgaste de um oponente mais fraco. A questão fundamental aqui é a

Para ganhar a guerra

A nuvem em cogumelo de um teste nuclear chinês, 1964. Armas nucleares não impediram guerras mais convencionais, mas talvez tenham evitado a deflagração de uma guerra total entre superpotências.

dificuldade de usar o poder de forças convencionais contra um inimigo que opera em meio à população civil, cuja destruição seria politicamente inaceitável no cenário internacional. Mao Tsé-Tung na China e o general Vo Nguyen Giap no Vietnã compreenderam a necessidade de circular no meio do povo e conquistá-lo para sua causa em uma insurgência ou

Vencer no campo de batalha

guerra civil.⁵ Em contraste, os Estados Unidos no Vietnã e a União Soviética no Afeganistão foram frustrados em suas tentativas de construir um sistema político à sua imagem, a despeito de sua superioridade militar. No Vietnã os americanos venceram praticamente todos os encontros no campo de batalha, mas isso não produziu a vitória na guerra. Eles não foram capazes de relacionar objetivos e meios, o cálculo racional da guerra. Fuller preveniu seus pares americanos de que a campanha de bombardeio no Vietnã não derrotaria o comunismo, porque “a Segunda Guerra Mundial deveria ter ensinado a eles que ideias não podem ser desalojadas com TNT”.⁶ A despeito de uma “revolução em questões militares” (a enorme aceleração na evolução de comunicações, vigilância, poder de fogo e mobilidade no final do século XX), que deu aos Estados Unidos vantagem tecnológica e domínio em quase todos os aspectos da guerra – desde operações em terra até o ambiente de guerra de informações/cibernética –, e embora distância e topografia não sejam mais barreiras às suas forças, houve sérias dificuldades em assegurar a vitória após a invasão do Afeganistão em 200 e do Iraque em 2003. Esses exemplos nos lembram de que a superioridade no campo de batalha pode ser ilusória e que princípios táticos identificados ao longo da história ainda se aplicarão, mesmo que as estruturas de força que os implementam mudem radicalmente ao longo do tempo. Historicamente, a capacidade de conservar a flexibilidade, aprender com os erros e desenvolver tendências ou ideias de como abordar a guerra no futuro (em vez de tentar “lutar a última guerra”) foi fundamental. Esperamos que, no mínimo por isso, este livro ofereça algumas ideias interessantes merecedoras de maior reflexão.

Um tanque britĂ˘nico avanĂ§a durante a Batalha de El Alamein. Blindados, combinados com uma infantaria tenaz, artilharia e ataques aĂŠreos, deram impulso ofensivo aos aliados.