T
odas as noites, quando o sol se põe sobre Bagdá, um senhor de barbas brancas conta a seus hóspedes, sentados diante de um jantar suntuoso, as viagens de sua juventude. Ele se chama Simbá e viveu aventuras
impressionantes pelos sete mares e os cinco continentes. Você quer conhecê-las?
Então, faça silêncio. Aproxime-se na ponta dos pés, sente-se perto dele e escute.
Primeira viagem Eu mal tinha completado dezoito anos quando meus pais morreram. Herdei muitos bens, mas logo me apressei a gastá-los. Fiquei sem um tostão no bolso. Entre a pobreza e a aventura, escolhi a aventura, e depois de vender minha casa e os móveis que tinha dentro, decidi começar uma vida nova no mar. Fui ao porto de Basrah, onde embarquei em um navio que partia para as Índias Orientais. Coloquei várias mercadorias na minha bagagem — sobretudo tecidos —, pois pretendia negociá-las em terras distantes. Depois de algumas semanas navegando, avistamos no horizonte uma ilha acolhedora. Como precisávamos de água doce e frutas frescas, o capitão jogou a âncora, e os passageiros desembarcaram. Enquanto a tripulação se reabastecia, meus companheiros acenderam uma fogueira na praia. Corremos para passar uma noite sossegada debaixo da aconchegante claridade das estrelas. De repente, o chão começou a tremer.
A ilha parecia viva, agitada por terríveis tremores. Estávamos, na verdade, acampados sobre uma imensa baleia. O calor do fogo a despertara e, por causa das queimaduras que nossa fogueira havia provocado, ela se debatia. Gritando de terror, nos lançamos ao mar e nadamos em direção ao navio. O animal corcoveava na água, formando grandes ondas. Alguns colegas não resistiram ao turbilhão mortal. Com medo do naufrágio, o capitão içou a vela e navegou para longe antes que eu chegasse a bordo. Fiquei então à deriva, agarrado num tronco de árvore. As ondas me jogaram em uma pequena enseada, cercada de penhascos. Avistei a entrada de uma gruta e fui explorá-la. Logo que entrei, vi meia dúzia de homens. Eram os cavalariços do rei Mirhage. Eles levavam as éguas do estábulo real ao Cavalo do Mar, um animal mítico que tinha o costume de devorar suas parceiras após o acasalamento. Os cavalariços tinham a missão de assustá-lo para que isso não acontecesse. Eles dividiram comigo sua comida e me pediram ajuda. Na manhã seguinte, os acasalamentos aconteceram sem problemas, e nós levamos de volta as éguas prenhas ao rei Mirhage, que gostou muito de mim e me convidou para ficar na corte o tempo que eu quisesse. Enquanto estive lá, criei o hábito de passear pelo porto, até que um dia fui surpreendido ao ver o navio onde eu iniciara minha viagem atracar. O capitão logo me reconheceu e, jogando-se aos meus pés, pediu mil desculpas por ter me abandonado. Ele tinha vendido minhas mercadorias, contou-me, por um preço muito bom, e se apressou em me pagar. Voltei a Bagdá mais rico do que quando parti.
Segunda viagem Eu tinha decidido me sustentar com minhas economias, calmo e sereno, quando o demônio da aventura voltou a me tentar. Então embarquei de novo, carregado de mercadorias como da primeira vez. A travessia foi muito bem até chegarmos a uma ilha deserta. Quando meus companheiros foram explorá-la, deitei-me perto de um riacho e, ninado pelo barulhinho das águas, dormi. Quando acordei, horas depois, o navio havia partido… Desesperado, embrenhei-me na ilha com a esperança de encontrar um sinal de vida. Avistei colinas estranhas, lisas e arredondadas. Fiquei intrigado. Eram, na verdade, ovos gigantescos. Enquanto os examinava, perguntando-me que tipo de monstro colocava ovos assim tão grandes, o céu escureceu subitamente.
dinheiro, o jovem Simbá embarca em um navio mercante que está partindo de Basrah. Ele vai viajar pelos sete mares e viver aventuras maravilhosas! Terríveis canibais, ciclopes de dar medo, cobras gigantes, pássaros fantásticos… Essas são as incríveis histórias de Simbá, o Marujo!
Quentin Gréban e Gudule Simba, o Marujo
Curioso para conhecer o mundo e ganhar algum
Simba, o Marujo
Quentin Gréban Adaptação de texto:
Gudule
Tradução: Ricardo Lísias
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