No entanto, por trás de sua aparência feroz os monstros sempre escondem algumas fraquezas que podem derrotá-los. King Kong tinha o coração mole, Drácula temia o sol... e o Yark tem o estômago sensível. Só tolera carne de meninos e meninas ajuizados – mas esse é um artigo raro nos dias de hoje, e ele tem que se virar para matar a fome. Até que um dia ele conhece Madeleine... Acompanhe as desventuras desse adorável ogro, numa leitura ágil, cativante e muito engraçada! Um livro especial, premiado e publicado em diversos países.
o yark
Entre todos os tipos de monstros que pululam sobre a terra, o homem é a espécie mais disseminada. Existe outra, porém, mais rara e menos conhecida. É o Yark. Ogro de seis metros, com dentes enormes e muito fortes, o Yark adora crianças: gosta de sentir os ossinhos delas estalando sob sua mordida e de sugar aqueles olhos tenros que se desmancham na boca como bombons.
bertrand santini & Laurent Gapaillard
ELE ADORA CRIANÇAS!
bertrand santini Laurent Gapaillard
Bertrand Santini Laurent Gapaillard Tradução: Joana Angélica d’Avila Melo
Agradecimentos: Nathalie Palméro, Julien Messemackers, François Tessier & Valéria Vanguelov.
Título original: Le Yark Copyright © 2011, Editions Grasset & Fasquelle Copyright da edição brasileira © 2015: Jorge Zahar Editor Ltda. rua Marquês de S. Vicente 99 – 1o 22451-041 Rio de Janeiro, RJ tel (21) 2529-4750 | fax (21) 2529-4787 editora@zahar.com.br | www.zahar.com.br
Cet ouvrage, publié dans le cadre du Programme d’Aide à la Publication 2015 Carlos Drummond de Andrade, a bénéficié du soutien de l’Ambassade de France au Brésil. | Este livro, publicado no âmbito do Programa de Apoio à Publicação 2015 Carlos Drummond de Andrade, contou com o apoio da Embaixada da França no Brasil.
Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98) Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Conselho editorial: Ana Cristina Zahar, Ana Paula Rocha, Ana Paula Tavares, Dolores Prades, Mariana Zahar e Rodrigo Lacerda Tradução: Joana Angélica d’Avila Melo Preparação: Geísa Pimentel Duque Estrada Revisão: Tamara Sender, Isadora Torres Projeto gráfico: Carolina Falcão
Cet ouvrage a bénéficié du soutien du Programme d’Aide à la Publication de l’Institut Français | Este livro contou com o apoio do Programa de auxílio a publicação do Institut Français.
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ Santini, Bertrand S227y O Yark/Bertrand Santini, Laurent Gapaillard; tradução Joana Angélica D’Avila Melo. – 1.ed. – Rio de Janeiro: Pequena Zahar, 2015. il. Tradução de: Le Yark ISBN 978-85-66642-42-1 1. Ficção infantojuvenil francesa. I. Gapaillard, Laurent. II. Melo, Joana Angélica D’Avila. III. Título. 15-24270
CDD: 028.5 CDU: 087.5
“Um fato que observei muitas vezes entre as crianças é que elas tendem a maltratar todas as pobres criaturas em seu poder.” John Locke, 1693
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O Yark
E
ntre todos os tipos de monstros que pululam sobre a terra, o homem é a espécie mais disseminada. Existe outra, porém, mais rara e menos conhecida. É o Yark.
O Yark adora crianças. Ele gosta de sentir os ossinhos delas estalando sob seus dentes e de sugar aqueles olhos tenros que se desmancham na boca como bombons. É louco pelos dedinhos infantis, pelos pezinhos, pelas linguinhas, que ele mastiga com uma folha de hortelã, como se fossem guloseimas doces e maravilhosamente grudentas. Gourmet refinado, também gosta de sorver o cérebro delas – que, parece, tem sabor de marshmallow. 9
Nem um pouco preconceituoso, ele as devora sem discriminação. Sejam negras, amarelas ou brancas, todas as crianças do mundo têm sangue vermelho e coração suculento. Cuidado com a mordida do Yark… Esse ogro de seis metros tem dentes enormes e muito fortes! Ele plana em silêncio sobre as casas adormecidas, e o cheiro da carne fresca o guia como um farol no meio da noite. Atenção! A mão dele gira a maçaneta de sua porta… E, mesmo quando ela está trancada… aquelas unhas enormes servem de chave. Pobre de você! Está sonhando, no maior sossego, e enquanto isso ele se aproxima pé ante pé, evitando os rangidos
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do assoalho. Depois se debruça sobre a cama e fareja seu corpinho apetitoso… Nham! Esse creme cheirosinho que você usa deixa o Yark com água na boca… A presença dele acorda você, que se pergunta: – Já é hora do café da manhã? Esse será seu último pensamento. Você pisca de sono um pouco, depois abre completamente os olhos. Não! Não é um sonho! O monstro imenso está ali! De seus caninos escorre uma baba, quando ele entreabre a bocarra… Pronto. Aconteceu. Sem dor e sem grito. Você acaba de ser triturado sob o olhar impotente e petrificado de seus brinquedos. O Yark também gosta muito dos animais. Só que nunca os come, pois acha que são realmente muito pequenos para serem devorados.
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A fraqueza dos monstros P
or trás de sua aparência feroz, no entanto, os monstros sempre escondem algumas fraquezas que podem derrotá-los. King Kong tinha o coração mole, Drácula temia o sol, o Colosso de que se fala na Bíblia tinha pés de barro… Já o Yark tem o estômago sensível. Sua barriga delicada só tolera carne de meninos e meninas ajuizados – meio como os velhos, que com a idade avançada só conseguem tomar sopa. De fato, vários estudos médicos demonstram que pirraças e bagunças alteram a composição química da criança. Quando ela comete uma travessura, seu coração destila um veneno violento e sua carne se torna mais tóxica que a peçonha de uma cobra. Como só escuta a própria barriga, o Yark às vezes devora meninas ou meninos malcomportados. 15
Mas logo se arrepende da gulodice. Os mentirosos provocam náuseas, os bagunceiros causam furúnculos e os malandros estragam os dentes. Quanto aos pequenos sádicos, estes dão dor de barriga. Lamentável fraqueza digestiva! O Yark preferiria mil vezes se fartar com indisciplinados e maldosos, assim como as cabras, que, enquanto comem, livram o mundo de urtigas e ervas daninhas. Mas os bons sentimentos nunca alimentaram ninguém. E muito menos os monstros. A natureza, que não conhece nenhuma moral, infelizmente não está nem aí para o que é certo ou errado. E, desde a noite dos tempos, é obrigatório constatar que as pessoas mais gentis são sempre as primeiras a ser devoradas.
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As crianças modernas
A
h, que saudade os monstros têm do tempo que passou! Antigamente, as crianças eram ternas e ingênuas. Um sim-
ples disfarce de vovó era suficiente para fazê-las caírem nas garras deles. O consumo regular desses anjinhos cheios de inocência garantia, no verão ou no inverno, uma saúde de ferro. Lamentavelmente, porém, nossa época obriga o Yark a fazer dieta. Os tempos modernos quase já não produzem crianças comestíveis. Em nossos dias, os malandros brotam na terra como ver-
rugas no queixo das feiticeiras. As salas de aula fervilham de um povinho tolo e maldoso, retrato cuspido e escarrado dos pais. 17
Ainda bem pequena, a criança já possui todos os defeitos do adulto. Banca o super-herói, vive se gabando, mas faz xixi nas calças assim que alguém apaga a luz do corredor. Fofoqueiros, gulosos, manhosos, frouxos, desocupados, preguiçosos: para falar a verdade, se não rendessem excelentes ensopados, meninos e meninas não serviriam para nada. Seu cérebro primitivo só lhes permite realizar tarefas elementares. Comer, mentir e aprontar: é com isso que se ocupam o dia inteiro. Se pelo menos fossem divertidos! Mas, avessa aos pensamentos profundos e à poesia, a garotada de hoje só acha graça em histórias de xixi e cocô. Como parece distante aquele tempo abençoado em que o Yark trincava, com todos os dentes, crianças cheias de vita-
minas! Porque nossa época não altera apenas a alma infantil. Empanturrada de produtos industrializados, a criança moderna perdeu a qualidade nutricional de antigamente. Sua carne flácida e mole se constitui, assim, de dois terços de colesterol. Quanto à sua higiene, é deplorável. A criança se tornou um ninho de micróbios, e a prudência impõe cozinhá-la antes de servi-la à mesa. Não, nossa época não é fácil para um ogro de estômago sensível. E, tal como uma espécie vítima da poluição, a falta de amor e boa educação inclui o Yark na categoria dos monstros em extinção.
cabeca
´
peito pata dianteira
orelha paleta lombinho
presunto
costela pernil pata traseira
pe´
No entanto, por trás de sua aparência feroz os monstros sempre escondem algumas fraquezas que podem derrotá-los. King Kong tinha o coração mole, Drácula temia o sol... e o Yark tem o estômago sensível. Só tolera carne de meninos e meninas ajuizados – mas esse é um artigo raro nos dias de hoje, e ele tem que se virar para matar a fome. Até que um dia ele conhece Madeleine... Acompanhe as desventuras desse adorável ogro, numa leitura ágil, cativante e muito engraçada! Um livro especial, premiado e publicado em diversos países.
o yark
Entre todos os tipos de monstros que pululam sobre a terra, o homem é a espécie mais disseminada. Existe outra, porém, mais rara e menos conhecida. É o Yark. Ogro de seis metros, com dentes enormes e muito fortes, o Yark adora crianças: gosta de sentir os ossinhos delas estalando sob sua mordida e de sugar aqueles olhos tenros que se desmancham na boca como bombons.
bertrand santini & Laurent Gapaillard
ELE ADORA CRIANÇAS!
bertrand santini Laurent Gapaillard